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GEN Transcrição e controle da expressão genica

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G
IC
O
I. Introdução
II. Do DNA ao RNA
III. Mecanismos de transcrição
IV. Particularidades da RNAP I e RNAP II
V. Processamento de RNA
VI. Processamento de rRNA
VII. Processamento de tRNA
VIII. A regulação da expressão gênica
IX. Referências
Transcrição e regulação da expressão gênica
Unidade 6
Autor: Elisângela de Paula Silveira Lacerda
#M3U6 I. Introdução
258 Módulo III — Processos de manutenção da vida
No início dos anos 1950, após a descoberta da estrutura do DNA, pôde-se enten-der como a informação hereditária nas células é codifi cada em seqüências de nucleotídeos de DNA. Cinqüenta anos depois, a ciência já dispõe de seqüências 
completas de genomas de muitos organismos, inclusive humanos, ou seja, conhecemos 
a quantidade máxima de informação necessária para produzir um organismo complexo 
como nós mesmos. 
Nesta unidade, você verá como as células decodifi cam e usam a informação de seus 
genomas por meio de quatro diferentes nucleotídeos do DNA. Ainda temos muito a des-
cobrir sobre como a informação armazenada no genoma de um organismo produz desde 
o mais simples organismo unicelular bacteriano, contendo 500 genes, até o desenvolvi-
mento de um ser humano com aproximadamente 30 mil genes. Uma enorme quantidade 
de informações ignoradas persiste; portanto, muitos desafi os fascinantes aguardam as 
próximas gerações de biólogos.
Saiba mais
ADN é a abreviatura 
em português 
para ácido 
desoxirribonucleico 
(em inglês, DNA: 
deoxyribonucleic 
acid).
RNA é a abreviatura 
em inglês ribonucleic 
acid (que em 
português seria ARN: 
ácido ribonucléico).
Figura 1: do DNA à proteína. A informação genética é lida e processada em duas etapas. Primeiro, 
na transcrição, os segmentos de uma seqüência de DNA são usados para guiar a síntese de 
moléculas de RNA. Depois, na tradução, as moléculas de RNA são usadas para guiar a síntese de 
moléculas de proteínas.
Saiba mais
Base é uma 
substância que 
pode aceitar 
um próton 
em solução. 
As purinas e 
pirimidinas do 
DNA e RNA são 
bases orgânicas 
nitrogenadas e 
freqüentemente 
são referidas 
simplesmente 
como bases.
#M3U6 II. Do DNA ao RNA
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O DNA não direciona a síntese protéica diretamente, mas utiliza o RNA como 
uma molécula intermediária. No início do processo de transcrição, a seqüência de nu-
cleotídeos da porção apropriada de uma longa molécula de DNA em um cromossomo é 
primeiramente copiada sob forma de RNA. São essas cópias de RNA de segmentos de 
DNA que são usadas diretamente como moldes para direcionar a síntese da proteína 
(processo denominado de tradução), que será estudado em um próximo módulo. O 
fl uxo de informação genética nas células é, portanto, de DNA para RNA para proteína 
(Figura 1). Todas as células, desde a bactéria até os seres humanos, expressam sua in-
formação genética dessa maneira – um princípio tão fundamental que é denominado o 
Dogma Central da Biologia Molecular.
Nessa etapa, começaremos com o primeiro passo da decodifi cação de um genoma: 
o processo de transcrição pelo qual uma molécula de RNA é produzida, a partir do DNA 
de um gene. Em uma próxima oportunidade, seguiremos então o destino dessa molécula 
de RNA, através da célula, fi nalizando quando a molécula protéica corretamente dobra-
da tiver sido formada.
A transcrição começa com a abertura e a desespiralização de uma pequena porção 
da dupla hélice de DNA, para expor as bases em cada fi ta de DNA. Uma das duas fi tas 
da dupla hélice de DNA age, então, como um molde para a síntese de uma molécula de 
RNA. Assim, como na replicação de DNA, a seqüência de nucleotídeos da cadeia de RNA 
é determinada pela complementaridade do pareamento de bases entre os nucleotídeos a 
serem incorporados e o DNA-molde. Para que tudo isso ocorra, ocorre a ação de algumas 
enzimas, denominadas RNA polimerases. Assim como a DNA polimerase catalisa a re-
plicação do DNA, as RNAs polimerases catalisam a formação de pontes fosfodiéster, que 
ligam os nucleotídeos entre si para formar uma cadeia linear (Figura 2).
Figura 2: a estrutura química do RNA. (A) O RNA contém o açúcar ribose, o qual difere da 
desoxirribose, o açúcar utilizado no DNA pela presença de um agrupamento –OH adicional. (B) 
O RNA contém a base uracila, a qual difere da timina, a base equivalente no DNA, pela ausência 
de um grupo – CH3. (C) Um pequeno fragmento de RNA. A ligação química fosfodiéster entre 
nucleotídeos no RNA é a mesma que ocorre no DNA.
#
M3U6
260 Módulo III — Processos de manutenção da vida
Transcrição e regulação da expressão gênica
A Transcrição é o processo pelo qual uma molécula de RNA é sintetizada a partir 
de um molde de DNA. Através da transcrição, são sintetizados todos os tipos de 
RNAs da célula, ou seja, o RNA mensageiro (mRNA), o RNA ribossômico (rRNA), 
o RNA transportador (tRNA) e outros RNAs menores. Todos os RNAs estão en-
volvidos ativamente na síntese protéica. O mRNA será usado para transferir a 
informação genética do DNA às proteínas, mas os demais RNAs sintetizados têm, 
por si, funções fi nais na célula, tanto estruturais como catalíticas (Tabela 1).
Tabela 1: principais tipos de RNAs produzidos nas células.
Tipo de RNA Função
mRNAs
rRNAs
tRNAs
snRNAs
snoRNAs
Outros RNAs não codificantes
RNAs mensageiros - codificam
proteínas
RNAs ribossomais, - formam a
estrutura básica do ribossomo e
catalisam a síntese protéica.
RNAs transportadores – elementos
essenciais para a síntese protéica,
funcionando como adaptadores
entre o mRNA e os aminoácidos.
Pequenos RNAs nucleares – atuam
em uma série de processos
nucleares, incluindo o splicing do
pré-mRNA.
Pequenos RNAs nucleolares –
utilizados para processar e
modificar quimicamente os rRNAs.
Atuam em diversos processos
celulares, incluindo a síntese de
telômeros, a inativação do
cromossomo X e o transporte de
proteínas para o retículo
endoplasmático (ER).
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É principalmente durante a transcrição que a célula exerce o controle da expres-
são gênica. Os genes não são transcritos indiscriminadamente, pois esse processo 
é regulado por proteínas. Na maioria dos casos, o principal ponto de regulação da 
atividade de um gene é no local onde se inicia ou não a sua transcrição.
Existem muitas semelhanças entre a síntese de DNA e a de RNA. Entretanto, a 
função biológica de cada um desses processos é bastante diferente. A síntese de DNA 
é bastante precisa e uniforme. Esses conceitos se referem ao fato de que, como o DNA 
contém a informação genética para a síntese do ser vivo, caso a nova cópia de DNA não 
fosse uma réplica bastante precisa da original, o novo ser formado provavelmente não 
existiria. É importante que você perceba que, apesar de todos os mecanismos de reparo 
Saiba mais
Duas seqüências 
de ácidos 
nucléicos são ditas 
complementares 
se elas podem 
formar uma 
dupla hélice 
com as bases 
perfeitamente 
pareadas. 
Antiparalelismo 
é a característica 
que descreve a 
orientação relativa 
das duas fi tas 
em uma dupla 
hélice de DNA; a 
polaridade de uma 
fi ta é orientada 
na direção oposta 
da polaridade da 
outra.
que você verá a seguir, a cópia nunca é exata. Sempre ocorrem erros ocasionais, embora 
em freqüência muito baixa. E são esses erros que, conhecidos como mutações, permitem 
a evolução da vida.
Em contradição, a transcrição espelha o estado fi siológico da célula. Ela é extrema-
mente variável, transcrevendo somente um gene ou grupo de genes em particular em um 
dado instante fi siológico. Por outro lado, dependendo da situação metabólica da célula, o 
mesmo gene pode ser transcrito incontáveisvezes até que a demanda seja suprida.
Além da característica temporal da transcrição, esse é um processo extremamente 
seletivo. Essa seletividade acontece em dois níveis: 
somente partes do DNA são transcritas para produzir RNA. Por exemplo, nas 
células da maioria dos mamíferos, somente 1% de toda a seqüência do DNA é 
copiada para formar seqüências de RNA funcional, e algumas partes do DNA 
podem nunca ser transcritas;
somente uma porção ainda menor da seqüência de nucleotídeos do RNA sobre-
vive aos passos de processamento, pelos quais o RNA recém-transcrito passa, 
para se tornar maduro e funcional. Para resumir, a célula restringe a expressão 
de informação genética para a formação de produtos gênicos que terão utilidade 
naquele momento especifi camente.
A transcrição ocorre a partir da informação contida na seqüência de nucleotídeos 
de uma molécula de DNA fi ta dupla, sendo sempre no sentido 5’ → 3’. Apenas uma das 
fi tas do DNA, chamada de fi ta molde, é utilizada durante a síntese, que segue as mesmas 
regras de complementaridade e antiparalelismo, exceto pelo pareamento de uracil (U), 
ao invés de timina (T), com adenina (A). O RNA recém-sintetizado (5’ → 3’) é, portanto, 
complementar à fi ta de DNA, que serviu de molde (3’ → 5’), e idêntico (salvo o apareci-
mento ocasional de uma mutação, como anteriormente explicado) à outra fi ta de DNA do 
duplex (5’ → 3’). Por convenção, entretanto, a seqüência de nucleotídeos de um gene é 
sempre representada na orientação 5’ → 3’, ou seja, a fi ta que não serve de molde.
Atividade complementar 1
Para que você possa entender melhor o termo “sentido 5’ → 3’, faça uma revisão do 
Módulo I, em Estrutura e Função dos ácidos nucléicos. Esse termo está relacionado 
com a posição dos novos nucleotídeos inseridos na nova molécula a ser formada, 
por meio da ligação fosfodiéster (Figura 3). 
Em 1960, foi descoberta uma enzima capaz de, na presença de DNA fi ta dupla e dos 
ribonucleotídeos trifosfatados (ATP, CTP, GTP e UTP), sintetizar RNA. Essa enzima foi 
denominada RNA-polimerase (RNAP). A reação catalisada pelas RNAPs é mecanistica-
mente idêntica à reação catalisada pelas DNA-polimerases (Figura 3).
#
M3U6
#M3U6 III. Mecanismos de transcrição
262 Módulo III — Processos de manutenção da vida
Transcrição e regulação da expressão gênica
Figura 3: o DNA é transcrito pela enzima RNA polimerase. A RNA polimerase (azul claro) move-se 
paulatinamente ao longo do DNA, desespiralando, em seu sítio ativo, a hélice de DNA. Conforme 
avança, a polimerase adiciona nucleotídeos (aqui, pequenos objetos na forma de “T”), um a um, 
à cadeia de RNA, no sítio de polimerização, usando uma fi ta de DNA exposta como molde. O RNA 
transcrito é, conseqüentemente, uma cópia complementar, fi ta simples, de uma das duas fi tas do 
DNA. A polimerase tem uma projeção que desloca o RNA recém-formado, permitindo que as duas 
fi tas de DNA atrás da polimerase voltem a se espiralizar. Uma região curta de hélice DNA/RNA (de 
aproximadamente nove nucleotídeos) é, portanto, formada temporariamente, e uma “janela”da 
hélice DNA/RNA move-se ao longo do DNA, com a polimerase. Os nucleotídeos a serem incorporados 
estão na forma de ribonucleotídeos trifosfatos (ATP, UTP, CTP E GTP), e a energia estocada em vias 
ligações fosfato-fosfato fornece a força necessária para a reação de polimerização.
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As RNAPs desempenham todas as atividades necessárias para a transcrição, pois 
reconhecem e se ligam a seqüências específi cas de DNA. Elas: 
desnaturam o DNA, expondo a seqüência de nucleotídeos a ser copiada;
mantêm as fi tas de DNA separadas na região de síntese;
mantêm estável o duplex DNA:RNA na região de síntese;
restauram o DNA na região imediatamente posterior à da síntese; 
sozinhas, ou com auxílio de proteínas específi cas, terminam a síntese do RNA.
Existem, pelo menos, cinco RNAPs diferentes que estão envolvidas na síntese de 
RNAs específi cos: RNAP I, RNAP II, RNAP III, RNAP mitocondrial (mtRNAP) e RNAP 
de cloroplastos. As RNAPs nucleares são abordadas a seguir:
RNAP I, que sintetiza os rRNAs
Essa polimerase catalisa a síntese de apenas um tipo de RNA, precursor dos rRNAs 
18S, 5,8S e 28S. Entretanto, esse é o RNA mais abundante na célula. Esses pré-RNAs são 
bastante longos, variando de 6.000 a 15.000 nucleotídeos. Para responder a essa demanda, 
a célula possui de 100 a 5.000 cópias dos genes para rRNA, uma ao lado da outra, e sua 
síntese ocorre em um ponto especializado no núcleo, o nucléolo. 
Saiba mais
TATA Box é 
a seqüência 
de consenso na 
região promotora 
de vários genes 
eucarióticos, 
que se ligam a 
fatores gerais 
de transcrição 
e, portanto, 
especifi cam a 
posição do início 
da transcrição.
#
M3U6
264 Módulo III — Processos de manutenção da vida
Transcrição e regulação da expressão gênica
RNA polimerase II, que sintetiza mRNA
Todos os pré-mRNAs das células são sintetizados pela RNAP II que, portanto, trans-
creve a maior parte dos RNA heterogêneos nucleares (hnRNA) precursores dos mRNAs. 
RNAP III, que sintetiza os tRNA, rRNA 5S e outros RNAs
Essas polimerases catalisam a síntese de cerca de 10% do RNA da célula, do rRNA 
5S, dos tRNAs e de outros pequenos RNAs. 
Embora consigam sintetizar RNA a partir de nucleotídeos livres, as RNA polime-
rases sempre trabalham em conjunto com proteínas acessórias, chamadas de fatores de 
transcrição, que auxiliam o início da transcrição. São esses fatores que identifi cam ao lon-
go de um gene as seqüências específi cas no DNA, que indicam o local de início da trans-
crição, ou seja, a partir de qual base o gene deve ser copiado em RNA. 
Como a célula “sabe” que está na hora de transcrever seu material genético?
Os promotores para transcrição no DNA são inicialmente reconhecidos por fatores 
de transcrição que, ligados ao DNA, interagem com outros fatores, formando um com-
plexo, a qual as RNAPs se associam. Os promotores são, em geral, seqüências de 100 a 
200 pb. Eles sempre estão próximos ao sítio de início da transcrição e possuem seqüências 
consenso, comuns a todos os promotores, reconhecidas pelos fatores de transcrição. Eles 
são responsáveis por uma transcrição em nível basal – muito baixo.
Os enhancers são seqüências pequenas de DNA, que podem ocorrer na região 5’ do 
gene, antes do promotor ou após o terminador, e ativam a expressão. Podem estar muito dis-
tantes do promotor (até milhares de pb) e ainda assim serem ativados. Alguns desses elemen-
tos de regulação dão a especifi cidade à transcrição, tanto temporal quanto tecido-específi co.
O processo pode ser dividido em três partes: iniciação, alongamento e terminação. Essas 
etapas serão detalhadas para os genes transcritos pela RNAP II, genes que codifi cam proteínas.
Iniciação
O primeiro passo da transcrição requer regiões reguladoras, acoplamento de fato-
res de transcrição e fatores de RNAP II. Embora a organização das regiões reguladoras 
da transcrição por RNAP II varie para os diferentes genes e nos diferentes organismos, 
existem alguns componentes básicos:
elementos que constituem o promotor:
1) sítio de início da transcrição representado pela primeira base a ser transcrita;
2) uma região que inclui uma seqüência conservada TATA Box localizada na re-
gião –25, anterior, portanto, ao sítio de início da síntese. Esse elemento determina onde a 
síntese deve ser iniciada e, normalmente, não afeta os níveis de expressão. É aqui que ocor-
re o reconhecimento inicial do gene a ser transcrito por parte dos fatores de transcrição;
3) uma região regulatória upstream denominada CAAT Box (consenso GGNCAA-
TCT), situada na região –60 a –80.
4) outras seqüências upstream. Aqui e no CAAT Box, ligam-se fatores que aumen-
tam a efi ciênciade reconhecimento do promotor.
enhancers: 
 Esses elementos aumentam a expressão do gene, independentemente da sua 
orientação, localização (a 5’ do promotor ou após o sinal de término da transcrição) e dis-
tância do promotor .
O início da transcrição, em genes que utilizam RNAP II, é complexo e envolve uma 
cascata, na qual vários fatores de transcrição vão se ligando ao DNA. Primeiramente, há 
ligação de um fator ao TATA Box.
Essa ligação sinaliza para que outros fatores se liguem entre si e a outros elementos do 
promotor. Quando todos os fatores já estiverem em seus devidos locais, o complexo estará 
pronto para receber a RNAP II e formar o chamado complexo de iniciação da transcrição. 
A RNAP II é responsável por abrir as fi tas de DNA e colocar a primeira base. Essa 
abertura das cadeias forma a “bolha de transcrição”, estrutura que é característica 
do processo. Para ativar a transcrição, outros fatores ligam-se ao enhancer e intera-
gem com o complexo de iniciação da transcrição.
Alongamento
É o aumento da cadeia de RNA envolvendo outros fatores acessórios que são ne-
cessários. Os fatores utilizados no complexo de iniciação da transcrição são liberados, e a 
RNAP II sofre alterações na sua conformação. A “bolha de transcrição” move-se sobre o 
Saiba mais
Todos esses 
detalhes da 
formação da 
cascata para 
iniciação da 
transcrição pela 
RNA polimerase 
II em célula 
eucariótica, você 
encontrará em 
nossa bibliografi a 
indicada. A fi gura 
4 dará uma idéia 
de toda essa 
complexidade.
Figura 4: iniciação da transcrição pela RNA polimerase II em uma célula eucariótica. O início da 
transcrição in vivo necessita da presença de proteínas ativadoras transcricionais. Essas proteínas se 
ligam a pequenas seqüências específi cas no DNA. Embora somente uma seja apresentada aqui, um 
gene eucariótico típico tem muitas proteínas ativadoras que, juntas, determinam sua taxa de seu 
padrão de transcrição. Às vezes agindo a uma distância de vários milhares de pares de nucleotídeos 
(indicado pela molécula de DNA segmentada), essas proteínas reguladoras de genes auxiliam a RNA 
polimerase, os fatores gerais e o mediador a se associarem no promotor. Além disso, os ativadores 
atraem complexos remodeladores de cromatina dependentes de ATP e acetilases de histonas.
Proteína ativadora
TATA
box Início da
transcrição
Ativador
(sítio de ligação
para a proteína
ativadora)
Mediador
INÍCIO DA TRANSCRIÇÃO Acetilase de histona
Complexo
remodelador
de cromatina
Ligação dos fatores gerais de transcrição,
RNA polimerase, mediador, complexos
remodeladores de cromatina
e acetilases de histonas.
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Figura 5: resumo dos passos que levam do gene à proteína em eucariotos e em bactérias. O nível 
fi nal de uma proteína em uma célula depende da efi ciência de cada passo e das taxas de degradação 
das moléculas de RNA e de proteína. (A) Nas células eucarióticas, a molécula de RNA produzida por 
transcrição (às vezes referida como o transcrito primário) pode conter tanto seqüências codifi cantes 
(éxon) como não codifi cantes (íntron). Antes de esse ser traduzido em proteína, as duas extremidades 
do RNA são modifi cadas, os íntrons são removidos por uma reação de RNA splicing catalisada 
enzimaticamente, e o mRNA resultante é transportado do núcleo para o citoplasma. Embora esses 
passos estejam ilustrados como se ocorressem um a um, em uma seqüência, na verdade, eles são 
articulados, e diferentes passos podem ocorrer simultaneamente. Por exemplo, a capa de RNA é 
adicionada, e o splicing caracteristicamente inicia antes que a transcrição tenha sido completada. 
Devido a essa associação, o transcrito primário de RNA completo não existe caracteristicamente na 
célula. (B) Nos procariotos, a produção de moléculas de mRNA é muito mais simples. A extremidade 
de 5’de uma molécula de mRNA é produzida por meio da iniciação da transcrição pela RNA polimerase, 
e a extremidade 3’ é produzida pela terminação da transcrição. Como as células procarióticas não 
possuem núcleo, a transcrição e a tradução ocorrem em um compartimento comum. De fato, a 
tradução de um mRNA bacteriano freqüentemente inicia antes de sua síntese ter sido completada.
#
M3U6
266 Módulo III — Processos de manutenção da vida
Transcrição e regulação da expressão gênica
molde de DNA, abrindo o DNA à frente e fechando atrás de si. Um duplex híbrido DNA-
RNA forma-se dentro da bolha à medida que o RNA é sintetizado. Os erros na seqüência 
da cadeia produzidos nessa etapa são cuidadosamente corrigidos pela RNA polimerase. 
Uma peculiaridade irônica e não freqüente descrita sobre a meticulosidade dessa 
correção é que a RNA polimerase, ao demorar tanto tempo corrigindo seus erros, 
pode até “esquecer” de continuar a transcrição.
Terminação
Muito pouco se conhece sobre o término da transcrição. Sabe-se que todas as três 
RNAPs terminam a síntese em regiões consenso do DNA ricas em T. Essas regiões são “si-
nais” codifi cados pelo DNA, que indicam onde deve ser a extremidade 3’. Esses sinais são 
reconhecidos por enzimas que se ligam ao RNA, clivando-o para formar a extremidade 3’, ou 
seja, o sítio de clivagem precede essa região consenso. Após a clivagem, esses nucleotídeos 
que compunham a região consenso sinalizadora para a clivagem são degradados no núcleo.
A fi gura 5, abaixo, dará uma visão geral dos passos que levam do gene à proteína 
em eucariotos e em bactérias.
#M3U6 IV. Particularidades da RNAP I e RNAP II
 
Assista esta animação do processo de transcrição para melhor entendimento: 
http://jon.visick.faculty.noctrl.edu/images/tnx.mov>
www.
#M3U6 V. Processamento de RNA
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Tanto a RNAP I quanto a RNAP II possuem mecanismos de transcrição semelhan-
tes ao já descrito para RNAP III. Conhece-se, porém, algumas propriedades particulares 
dessas duas enzimas.
Os promotores para RNAP I são geralmente compostos por 2 domínios de ativida-
de: um, localizado entre –45 e +20 (domínio central ou core), e o outro, localizado entre –107 
e –186 (domínio upstream). Essa organização é similar em todos os organismos, embora as 
seqüências específi cas desses promotores sejam variadas. A transcrição necessita de, pelo 
menos, 3 proteínas ou complexos protéicos além da RNAP I. Já os promotores, para RNAP 
III, são bastante diferenciados daqueles até aqui descritos. Existe um tipo de promotor 
localizado a 5’ de +1 que é mais parecido com os envolvidos com a RNAP II. Além desse 
promotor, existem outros 2 elementos que se localizam internamente, após o sítio de início 
de transcrição e dentro da região codifi cadora, sendo denominados regiões controladoras 
internas (ICRs). Os dois tipos de ICRs são promotores de tRNA e de genes RNA 5S.
Os diferentes RNAs sintetizados, no processo de transcrição, são chamados de trans-
critos primários, RNA precursor ou pré-RNA. Na maioria das vezes, esses transcritos pri-
mários não representam uma molécula de RNA madura, ou seja, aquela cuja seqüência e 
estrutura correspondem à forma fi nal do RNA funcional. Nesses casos, esses transcritos 
primários sofrem modifi cações, as quais chamamos de processamento de RNA.
O processamento de RNA inclui alterações do tipo adição, deleção ou modifi cação 
de nucleotídeos, ou mesmo de regiões maiores do transcrito primário.
Processamento de mRNA
A molécula de mRNA recém-sintetizada no núcleo sofre várias alterações bioquí-
micas. Assim, transforma-se no que é chamado de mRNA maduro ou mRNA processa-
do, para, só então, ser transportado ao citoplasma e lá ser traduzido. Esses precursores 
de mRNA são chamados de RNA nuclear heterogêneo (hnRNA – heterogeneous nuclearRNA). O processamento desses hnRNAs envolve modifi cações de nucleotídeos que aca-
bam por aumentar a estabilidade do mRNA e convertê-lo em RNA maduro.
Adição do cap – a primeira modifi cação do hnRNA ocorre em sua extremidade 5’, 
logo após o início do processo de transcrição. Um resíduo de guanina é ligado cova-
lentemente ao primeiro nucleotídeo do hnRNA através de uma ligação fosfato 5’-5’, 
com o resíduo de guanina, estando na posição inversa a dos demais nucleotídeos. 
Essa estrutura é chamada de cap. O cap sofre, então, uma metilação na posição 7 da 
guanina, resultando no nucleotídeo 7-metilguanilato (m7G). Todas essas reações são 
Figura 6: uma comparação das estruturas de moléculas de mRNA procariótico e eucariótico. (A) As 
extremidades 5’e 3’de um mRNA bacteriano são as extremidades não modifi cadas da cadeia sintetizada 
pela RNA polimerase, a qual inicia e termina a transcrição naqueles pontos, respectivamente. As 
extremidades correspondentes de um mRNA eucariótico são formadas pela adição de uma capa na 
extremidade 5’e pela clivagem do transcrito pré-mRNA e adição de uma cauda poli-A, respectivamente. 
A fi gura também ilustra outra diferença entre os mRNAs procarióticos e eucarióticos: os mRNAs 
bacterianos podem conter as instruções para várias proteínas diferentes, enquanto que os mRNAs 
eucarióticos praticamente contêm sempre a informação para uma única proteína. (B) A estrutura da 
capa na extremidade 5’de moléculas de mRNA eucariótico. Observe a ligação incomum 5’- a 5’ do 7 
metil G ao restante do RNA. Muitos mRNAs eucarióticos apresentam uma modifi cação adicional: um 
grupamento 2’- hidroxil do segundo açúcar ribose no mRNA, o qual é metilado (não ilustrado).
#
M3U6
268 Módulo III — Processos de manutenção da vida
Transcrição e regulação da expressão gênica
catalisadas por enzimas específi cas de cada reação. O cap protege a extremidade 5’ 
do transcrito da ação de exonucleases. Essas enzimas têm a propriedade de cortar ou 
clivar ácidos nucléicos, conseqüentemente, moléculas de mRNA sem cap são rapi-
damente degradadas. O cap também facilita o splicing do RNA e seu transporte do 
núcleo para o citoplasma. O cap tem também papel importante na síntese protéica.
Adição da cauda de poli A (poliadenilação) – a maioria dos mRNAs possui uma 
seqüência de aproximadamente 200 resíduos de adenina na sua extremidade 3’, 
que é chamada de cauda poli A. Essa cauda poli A não está codifi cada no DNA 
e não existe nos rRNAs e tRNAs. Ela é adicionada aos hnRNAs pela enzima poli 
A-polimerase. Um aspecto comum a todos pré-RNAs mensageiros é a presença da 
seqüência consenso AAUAAA, localizada entre 11-30 nucleotídeos antes do sítio de 
poliadenilação (local onde deve ser adicionado a cauda poli A). Essa seqüência, cha-
mada de seqüência sinal para poliadenilação, é reconhecida por um fator específi co 
que “marca” o local e permite que ocorra a clivagem por uma endonuclease. A adi-
ção da cauda poli A é feita na extremidade 3’ OH gerada pela clivagem. Depois que 
o mRNA poliadenilado chega ao citoplasma, a cauda poli A vai diminuindo, com 
o decorrer do tempo, provavelmente devido à ação de nucleases. A cauda poli A é 
uma parte importante do processamento, pois facilita o transporte do mRNA para o 
citoplasma e, ao ser lentamente degradada, estabiliza a molécula no citoplasma.
Para que você possa visualizar toda essa descrição, acompanhe o esquema das 
fi guras 6 e 7.
Figura 7: as reações que capeiam a extremidade 5’ de cada molécula de RNA sintetizada pela RNA 
polimerase II. A capa fi nal contém uma nova ligação 5’- a 5’entre o resíduo 7 metil G positivamente 
carregado e a extremidade 5’do transcrito de RNA. A letra N representa qualquer um dos quatro 
ribonucleotídeos, embora o nucleotídeo que comece uma cadeia de eRNA seja geralmente uma 
purina (um A ou um G).
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Existe também a possibilidade da cauda poli A estar relacionada com o reconheci-
mento da molécula de mRNA pelo complexo que posteriormente realizará a tradução. Há 
um grupo de mRNAs que é transportado ao citoplasma e que não possui cauda de poli 
A. São os mRNAs de histonas, as proteínas que participam do empacotamento do DNA. 
Mesmo sem poli A, a extremidade 3’ do hnRNA é clivada como descrito anteriormente.
Em geral, a clivagem e a poliadenilação precedem a excisão de íntrons do hnRNA.
Metilação – muitos mRNAs possuem o nitrogênio 6 dos resíduos de adenina me-
tilado. Essa metilação ocorre apenas nos éxons, antes da retirada dos íntrons do hnRNA. 
Provavelmente, o radical metil serve para proteger as porções do transcrito primário que 
precisam ser preservadas.
Excisão de íntrons (splicing) – a maioria dos transcritos primários de mRNA apre-
senta dois tipos de seqüências: os éxons, porção codifi cadora do transcrito primário que 
estão presentes no RNA maduro, e os íntrons, seqüências que não estão presentes no RNA 
maduro, portanto, não codifi cam nenhum aminoácido da proteína a ser sintetizada. Os 
íntrons, ao serem retirados, dão origem a um mRNA funcional (ou tradutível). Assim, 
após a adição do cap, da cauda poli A, e, às vezes, a metilação de adeninas, o hnRNA sofre 
o processo de excisão dos íntrons e junção dos éxons. Esse mecanismo é conhecido como 
splicing do RNA. Para que o splicing ocorra corretamente, existem seqüências consenso 
sempre presentes localizadas nos íntrons dos mRNAs. Essas seqüências sinalizam o local 
Figura 8: a reação de splicing de RNA. (A) No primeiro passo, um nucleotídeo adenina específi co 
na seqüência do íntron (indicado em vermelho) ataca a região 5’de splicing e corta a estrutura de 
açúcar-fosfato do RNA neste ponto. A extremidade 5’ cortada do íntron torna-se covalentemente 
ligada ao nucleotídeo de adenina, como mostrado no detalhe em (B), criando, assim, uma alça na 
molécula de RNA. A extremidade 3’-OH livre e liberada da seqüência do éxon reage com o início da 
seqüência do éxon seguinte, unindo os dois éxons e liberando a seqüência do íntron na forma de 
um laço ou de uma alça. Conseqüentemente, as seqüências dos dois éxons se unem, formando uma 
seqüência codifi cante contínua. A seqüência do íntron liberado é degradada no momento adequado.
#
M3U6
270 Módulo III — Processos de manutenção da vida
Transcrição e regulação da expressão gênica
onde deverá ser efetuado o splicing (chamado de sítio de splice), ou auxiliar na sua localiza-
ção, e têm características importantes: 
os primeiros e os últimos dois nucleotídeos da extremidade 5’ e 3’ dos íntrons são 
GU e AG, respectivamente; 
há uma adenina aproximadamente 18-20 nucleotídeos upstream da extremidade 3’ 
do íntron. Ambas têm um papel importante no processo de splicing. Além dessas 
seqüências consenso, há uma freqüência maior de algumas bases que estão próxi-
mas do sítio de splicing, tanto no éxon como no íntron, e há, também, uma tendên-
cia da região próxima à extremidade 3’ do íntron ser rica em pirimidinas (U e C). 
Sem essas seqüências consenso, ocorrem alterações no processo de splicing. 
Como ocorre o processo de splicing na célula?
O processo de splicing envolve a retirada de cada íntron da molécula de hnRNA e a 
união dos éxons, liberando o íntron. A remoção de íntrons envolve a quebra de uma liga-
ção fosfodiéster, na junção éxon com íntron, e a formação de outra, entre as extremidades 
dos éxons. Esse processo pode ocorrer de duas maneiras: mediado por “spliceossomos” e 
auto-splicing. A fi gura 8 mostra a reação de splicing de RNA.
 
Após o estudo teórico, vemos a necessidade de uma interação melhor com 
multimídias disponíveis na internet. 
<http://www.nature.com/nrn/journal/v2/n1/animation/nrn0101_043a_swf_MEDIA1.html>
www.
#M3U6 VI. Processamento de rRNA
#M3U6 VII. Processamento de tRNAConsórcio Setentrional de Ensino a Distância 271
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Atividade complementar 2
Agora chegou o momento de pesquisa e estudo!
Consulte os livros da nossa bibliografi a indicada e veja como ocorre o processo me-
diado por “spliceossomos” e auto-splicing.
E quanto aos processamentos do rRNA e o tRNA, como isso ocorre?
Sabemos, atualmente, que o nucléolo é a região onde acontece o processamento de 
rRNAs e a sua montagem sob a forma de ribossomos. Diferentemente de outras organelas 
na célula, o nucléolo não se encontra delimitado por uma membrana, como foi visto em 
outro módulo; em vez disso, é um grande agregado de macromoléculas, incluindo-se os 
próprios genes rRNA, rRNAs precursores, rRNAs maduros, enzimas processadoras de 
rRNAs, snoRNPs, subunidades protéicas ribossomais e ribossomos parcialmente monta-
dos. A íntima associação de todos esses componentes, presumivelmente, permite que a 
montagem dos ribossomos ocorra rapidamente e sem erros.
O processo de maturação ocorre em várias etapas de clivagem em uma ordem pre-
ferencial, mas não obrigatória, sendo a primeira delas a remoção dos espaçadores trans-
critos externos. Depois, há outras duas clivagens que liberam o RNA 18S maduro. As três 
próximas clivagens liberam o RNA 5,8S e, na maioria dos casos, o 28S maduro, as quais 
já permanecem ligados por pontes de hidrogênio devido à complementaridade de bases 
entre esses rRNAs.
O quarto tipo de rRNA, 5S, é transcrito separadamente. Os genes para RNA 5S 
estão localizados separados dos outros três e são transcritos pela RNA-polimerase III. 
Também se encontram em cópias múltiplas e separadas por espaçadores. A transcrição 
desses genes não é coordenada com a dos outros RNAs e não se sabe por que eles estão 
localizados separadamente.
Após o processamento, os rRNAs participam na formação das subunidades do ri-
bossomo e, só então, deixam o núcleo. O RNA ribossômico sofre, ainda, algumas modifi -
cações pós-transcricionais, entre elas: as metilações. Muitas dessas metilações são extre-
mamente conservadas e algumas delas têm uma função importante no início da síntese de 
proteínas. A modifi cação da base U para Ø (psi) também é comum.
Os genes de tRNA são encontrados em cópias múltiplas. Os transcritos primários 
precisam ser processados para originar o tRNA maduro. Isso envolve a ação de ribonucle-
ases para gerar as extremidades 5’ e 3’ da molécula madura e a retirada do único íntron. O 
Saiba mais
Em 1965, os franceses François Jacob e Jacques Monod, juntamente com Andre Lwoff, 
descreveram esse mecanismo, recebendo por isso o Prêmio Nobel em Medicina. Eles estudaram 
os genes que codifi cam as enzimas responsáveis pela degradação da lactose em E. coli. Este 
modelo se encontra em vários livros, textos, e introduziremos de forma didática um mecanismo 
que é comum a muitos outros microrganismos, observado na regulação de muitos genes.
 Francois Jacob Jaques Monod Andre Lwoff 
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M3U6
#M3U6 VIII. A regulação da expressão gênica
272 Módulo III — Processos de manutenção da vida
Transcrição e regulação da expressão gênica
mecanismo de retirada do íntron de p-trRNA ocorre em duas etapas. Na primeira, ocorre 
clivagem endonucleásica nas extremidades 5’ e 3’ do íntron, liberando-o e dividindo o 
tRNA em duas metades (éxons). As duas metades são mantidas juntas devido ao parea-
mento de bases do tRNA em regiões complementares, apesar de não estarem ainda liga-
das covalentemente. Na segunda etapa, ocorre a ligação dos dois éxons para a formação 
do tRNA maduro. A ligação dos dois éxons é feita por uma RNA-ligase. Aparentemente 
não há seqüências consenso no íntron, essenciais ao processo de splicing. As seqüências 
do éxon e a conseqüente estrutura tridimensional do pré-tRNA são os elementos impor-
tantes para o reconhecimento e para a correta clivagem pelas endonucleases. As molécu-
las de tRNA maduras contêm um grande número de nucleotídeos raros, originados pela 
modifi cação pós-transcricional das bases comuns (A,U,C,G). A maioria das modifi cações 
envolve metilação e/ou tiolação e dependem de cisteína, metionina e treonina, que são as 
fontes dos grupos utilizados na alteração das bases. Outro processamento importante é a 
adição da seqüência CCA na extremidade 3’ por uma enzima específi ca. Todos os tRNA 
têm essa seqüência.
Você já parou para pensar como os organismos procarióticos e eucarióticos conse-
guem ligar e desligar genes, que comandarão a síntese de mRNAs, e, assim, dar origem, 
por fi m, às proteínas necessárias? 
A esse processo chamamos controle da expressão gênica.
Existem vários diferentes mecanismos de controle da expressão gênica, mesmo se 
considerarmos apenas a bactéria E. coli. Dessa forma, iremos centrar nossos esforços na 
análise de um deles, no controle da expressão gênica em procariotos, que tem muita apli-
cação em engenharia genética 
Na década de 1950, as primeiras evidências para a existência de proteínas de regu-
lação gênica, que ligam ou desligam conjuntos específi cos de genes, foram por meio das 
análises genéticas em bactérias.
Saiba mais
Os plasmídeos são moléculas circulares de DNA que estão separadas do DNA 
cromossômico. Geralmente ocorrem em bactérias e as vezes em organismos eucarióticos.
Figura 9: distribuição dos genes e módulos de controle do operon lac. O gene i, para o repressor 
lac, expresso constitutivamente, está situado próximo ao conjunto dos genes induzíveis lacZ, lacY e 
lacA, responsáveis pela síntese das proteínas b-galactosidase, permease e transacetilase. O promotor 
plac é controlado pelo operador olac, onde se ligam duas moléculas do repressor.
Saiba mais
Agora é um momento importante de estudar como tudo isso 
ocorre. Para que você possa compreender melhor todo esse 
fenômeno, busque algumas referências para leitura e interagir 
melhor com o assunto: Capítulo 14 do livro: Regulação da 
Transcrição Gênica.
Genética Moderna
Autores: J.F Antohony Griffi ths, 
Jeffrey H. Miller, 
Richard C. Lewontin, 
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Você já ouviu falar no operon lac?
Através de experimentos em genética clássica (empregando mutantes e plasmí-
deos que transportavam genes e sítios reguladores para a bactéria hospedeira, criando 
assim diplóides parciais), Jacob e Monod criaram um modelo no qual o sítio “promotor”, 
associado a um outro sítio chamado “operador”, controlava a expressão de todos os genes 
imediatamente “abaixo”, isto é, 3’, do promotor. Todo esse conjunto de genes foi chamado 
de operon lac, pois os genes que estudavam eram os responsáveis pela síntese das proteí-
nas que degradavam lactose. A fi gura 9 abaixo representa o operon lac esquematizado.
Figura 10: esquema representativo do controle da transcrição dos genes para as enzimas 
responsáveis pelo uso da lactose em E. coli. O repressor, produto do gene i, liga-se ao operador 
(em verdade, duas moléculas), impedindo a ligação da RNApol ao sítio promotor Plac e bloqueando a 
transcrição. A lactose no citosol bacteriano liga-se ao repressor, inativando-o e liberando o promotor 
para ser ligado pela RNApol. O processo de transcrição estará liberado até que a concentração 
citosólica de lactose seja insufi ciente para garantir a inativação das moléculas do repressor. 
#
M3U6
274 Módulo III — Processos de manutenção da vida
Transcrição e regulação da expressão gênica
Lembre-se que:
O sítio operador é uma região do DNA logo abaixo do sítio promotor. Na verdade, 
os dois sítios estão parcialmente imbricados, pois o promotor se estende da base -45 até a 
base +5, enquanto o sítio operador vai da base -8 até a +12. Dessa forma, se tivermos uma 
proteína ligada ao sítio operador, ela vai impedir que esse seja ligado pela RNApol. 
O repressorlac, por sua vez, é o produto de um gene que está próximo ao óperon, 
porém não faz parte integral dele (na verdade, esse gene poderia estar muito distante no 
genoma de E. coli). Na ausência de lactose, as poucas moléculas de repressor presentes no 
citosol da bactéria (menos de 10 por célula!) são sufi cientes para silenciar a expressão do 
óperon, ligando-se ao sítio operador. Na presença de lactose, contudo, o repressor é inati-
vado pela ligação de um produto do metabolismo da lactose: a alolactose. Inicia-se, então, 
a transcrição dos genes lacZ, lacY e lacA, formando-se um mRNA policistrônico. 
Bom! O que você acha? Será que nesse momento o mRNA já foi traduzido?
Esse mRNA é imediatamente traduzido para formar três enzimas da via de degra-
dação da lactose: a b-galactosidase (b-gal), a permease e a transacetilase. A b-gal degrada 
a lactose, até galactose e glicose, e a permease aumenta muitas vezes a permeabilidade da 
célula à lactose. Com isso, a lactose do meio de cultura é rapidamente assimilada e utili-
zada pela célula. Quando a concentração de lactose reduz-se muito, até as moléculas que 
estão ligadas ao repressor acabarão sendo clivadas pela b-gal. A conseqüência disso é a 
ligação dos repressores, agora ativos, ao sítio operador, provocando a parada da transcri-
ção dos genes lacZ, lacY e lacA (Figura 10).
Figura 11: controle do óperon lac pela proteína CAP e pelo repressor lac.
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Esse é o exemplo clássico de um óperon que funciona por repressão. 
Há muitos outros semelhantes, que controlam em geral a síntese de enzimas respon-
sáveis pela degradação de um determinado produto nem sempre disponível no ambiente. 
Há também genes óperons que estão sempre “ligados” e que devem ser silenciados em 
determinadas situações. São, em geral, os genes para biossíntese de algum produto que a 
bactéria pode obter do ambiente. Somente quando falta esse produto no meio de cultura 
é que a bactéria ativa a transcrição dos genes que irão produzir as enzimas necessárias à 
biossíntese do produto em falta.
Além desses dois sistemas, há ainda outros bastante mais complexos, que modu-
lam de forma fi na a expressão de genes nos procariotos. Há mesmo óperons que são con-
trolados por repressão e ativação simultaneamente. Vale ressaltar que o próprio óperon 
lac tem uma particularidade (descoberta muitos anos depois de sua elucidação por Jacob e 
Monod): o controle da sua expressão exercido por uma proteína chamada CAP (catabolite 
gene activator protein), uma proteína dimérica como o repressor lac, com aprox. 45.000 Da. 
Detalhes sobre essa proteína você encontra na literatura indicada.
Esse curioso mecanismo de controle positivo do óperon lac também foi observado 
em diversos outros óperons bacterianos. Qual seu objetivo, afi nal? 
A explicação é simples: quando a bactéria não tem glicose para degradar, ela pas-
sa por um processo de “fome” celular, com conseqüente aumento dos níveis de cAMP 
celulares. Esse cAMP se liga à proteína CAP, permitindo uma expressão aumentada de 
todos os óperons que são responsáveis pela degradação de açúcares e outros produtos 
energéticos. A fi gura a seguir ilustra os dois controles (pelo repressor e pelo complexo 
CAP-cAMP) do óperon lac (Figura 11).
#
M3U6
 Leia mais sobre todo o processo do óperon triptofano (óperon tryp). Lembre-se 
que será necessário correlacionar com os módulos vistos anteriormente, como a 
biossíntese de aminoácidos, no site
<http://paginas.terra.com.br/educacao/biolmol/aula4_controle.htm>
www.
276 Módulo III — Processos de manutenção da vida
Transcrição e regulação da expressão gênica
Diante de tantos detalhes, vem a pergunta! Que importância tem o óperon lac na 
genética molecular? 
Muitos dos vetores de expressão, sejam eles fagos ou plasmídeos, empregados em 
engenharia genética, têm o gene clonado sob o controle de um promotor/operador lac. 
Esse sistema propicia o controle da expressão do gene clonado através da adição de um 
análogo da lactose: o IPTG (isopropiltiogalactosídeo). Este produto é muitas vezes mais 
efetivo que a lactose na indução da expressão do óperon lac, além de não ser degradado. 
Veremos, mais adiante, como podemos tirar vantagem dessas construções artifi ciais de 
genes para a produção de proteínas recombinantes.
Após as leituras complementares, pode-se observar que o mesmo mecanismo des-
crito para o triptofano é empregado em outras vias biossíntéticas de aminoácidos. A razão 
parece ser o alto custo energético dessas vias. 
Esse sistema permite à Natureza discriminar entre “pouco” e “insufi ciente”, contornando 
a forma rudimentar com que o sistema repressor/operador controla a expressão gênica (lembre-
se de que o repressor se desliga ocasionalmente do operador, dando origem ao vazamento, que é 
importante para a expressão gênica, particularmente ao disparo de certos óperons, como o lac).
É possível que se um sistema de repressão simples, como o das bactérias, fosse 
“regulado” para não ser aberto ou fechado, senão em circunstâncias extremas, ele jamais 
funcionaria, fi cando sempre fechado ou sempre aberto, conforme o caso.
Até o momento, o estudo se concentrou no processo de regulação da expressão gê-
nica em bactérias. E quanto às células eucariotas? Você já imaginou como isso ocorre?
A expressão gênica pode ser regulada em muitas das etapas na via que vai do DNA 
para o RNA até a proteína. Se as diferenças entre os vários tipos celulares dependem de genes 
particulares que a célula expressa, em qual nível o controle da expressão gênica é exercido?
De modo geral, os passos pelos quais a expressão gênica eucariótica pode ser con-
trolada estão descritos abaixo.
Como vimos, existem muitos passos no caminho que leva do DNA à proteína, e to-
dos podem, inicialmente, ser regulados. Portanto, uma célula pode controlar as proteínas 
que podem, em princípio, ser reguladas. Portanto, uma célula pode controlar as proteínas 
que produz das seguintes formas (Figura 12):
pelo controle de quando e como um determinado gene é transcrito (controle 
transcricional);
pelo controle de como um transcrito de RNA é submetido a splicing ou processa-
do de alguma outra maneira (controle do processamento de RNA);
pela seleção de quais mRNAs completos no núcleo celular são exportados para 
o citoplasma e quais determinam a sua localização no citoplasma (transporte de 
RNA e controle da localização);
pela seleção de quais mRNAs no citoplasma são traduzidos pelos ribossomos 
(controle traducional);
pela desestabilização seletiva de certas moléculas de mRNA no citoplasma (con-
trole da degradação do mRNA);
pela ativação, desativação, degradação ou compartimentalização seletiva de molé-
culas de proteína específi cas após a sua produção (controle da atividade protéica). 
Figura 12: seis passos pelos quais a expressão gênica eucariótica pode ser controlada. Os 
controles que operam nos passos de 1 a 5 são discutidos neste módulo. O passo 6, a regulação da 
atividade protéica, inclui a ativação e a inativação reversível pela fosforilação das proteínas, assim 
como a inativação irreversível por degradação proteolítica.
Tabela 2: algumas Proteínas de regulação gênica e as seqüências de DNA que elas reconhecem.
NomeOrganismo
Bactéria
Fungo
Drosophila
Mamíferos
lac repressor
CAP
lambda repressor
Gal4
Mat?2
Gcn4
Kruppel
Bicoid
Sp1
Oct-1 Pou domain
GATA-1
MyoD
p53
5? AATTGTGAGCGGATAACAATT
3? TTAACACTCGCCTATTGTTAA
 TGTGAGTTAGCTCACT
 ACACTCAATCGAGTGA
 TATCACCGCCAGAGGTA
 ATAGTGGCGGTCTCCAT
 CGGAGGACTGTCCTCCG
 GCCTCCTGACAGGAGGC
 CATGTAATT
 GTACATTAA
 ATGACTCAT
 TACTGAGTA
 AACGGGTTAA
 TTGCCCAATT
 GGGATTAGA
 CCCTAATCT
 GGGCGG
 CCCGCC
 ATGCAAAT
 ATGCAAAT
 TGATAGACTATC
 CAAATG
 GTTTAC
 GGGCAAGTCT
 CCCGTTCAGA
Recombinação da sequencia de DNA*
* Cada proteína na tabela pode reconhecer um conjunto de seqüências de DNA estreitamente 
relacionadas; por conveniência, somente uma seqüência de reconhecimento, e não de uma 
seqüência consenso, é mostrada para cada proteína.
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A lógica da regulação gênica segue por aí. No entanto, em eucariotos, a regulação 
envolve fatores muito mais complexos, como a integração celular (Tabela 2).
#
M3U6
#M3U6 IX. Referências
278 Módulo III — Processos de manutenção da vida
Transcrição e regulação da expressão gênica
O genoma de uma célula contém na sua seqüência de DNA a informação para fazer 
milhares de diferentes moléculas de proteína e de RNA. Uma célula expressa, tipicamen-
te, somente uma fração de seus genes, e surgem diferentes tipos de células nos organis-
mos multicelulares, porque diferentes conjuntos de genes são expressos. Além disso, as 
células podem alterar o padrão de genes que elas expressam em resposta às mudanças 
no seu ambiente, tais como sinais de outras células.
Embora todas as etapas envolvidas na expressão de um gene possam, em princí-
pio, ser reguladas, para a maioria dos genes, o início da transcrição do RNA é o ponto de 
controle mais importante. Dessa forma, é de grande valia a compreensão do sentido dessa 
regulação e sua importância na manutenção da vida. 
NUSSBAUM, R. L.; MCINNES, R. R.: WILLARD, HUNTINGTON F. Genética Médica. 
6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
STRACHAN, T.; READ, A. P. Genética Molecular Humana. 2 ed. Porto Alegre: ARTMED 
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BROWN, T. A. Genética: Um enfoque molecular. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koo-
gan, 1993.
GRIFFITHS, A. J.F.; MILLER, J. H.; LEWONTIN, R. C.; GELBART, W. G. Genética Mo-
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