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Cálculo Aplicado AULA 6 Prof. Ernani João Silva 2 CONVERSA INICIAL Olá! Seja bem-vindo à nossa última aula sobre modelagem matemática aplicada a finanças. Hoje vamos completar nossos estudos abordando os temas: 1. Processo inflacionário e índices de preços; 2. Taxa de juros aparente e taxa real; 3. Desvalorização: Valores monetários e taxas; 4. Mensuração estatística: esperanças e riscos; 5. Elementos básicos da análise de títulos de renda fixa. Nosso objetivo com esses temas é trazer-lhes compreensão sobre qual é o impacto da inflação no valor do capital e, também, quais são os postos-chaves que precisam ser abordados em análises financeiras sobre os riscos operacionais e sobre a rentabilidade de títulos de renda fixa. Então, vamos trabalhar! CONTEXTUALIZANDO Dois erros muito comuns nas decisões financeiras são: (a) confundir ganho nominal com ganho real; (b) não ponderar os riscos presentes na operação que é realizada. No primeiro caso, um investido despreparado confunde o simples aumento de numerário com aumento no poder de compra. Um aumento no poder de compra somente se concretiza quando o aumento do volume do capital supera a elevação generalizada dos preços da Economia. Ou seja, quando o ganho de capital vence a inflação. Assim, é de suma importância saber “onde e como” se obtém os valores das taxas inflacionárias, bem como quais informações essas taxas podem fornecer sobre a real rentabilidade de um investimento. Quanto ao segundo item, temos que o risco é uma condição que orbita a Esperança estatística dos valores de um fluxo de caixa. E quando esse horizonte de eventos é negligenciado, pode surgir cenários onde a percepção extremamente pessimista ou otimista sobre o fluxo de caixa desqualifica qualquer análise financeira que possa ser feita. Portanto, vamos, agora, busca o conhecimento que nos distancie desses erros. 3 TEMA 1 – PROCESSO INFLACIONÁRIO E OS ÍNDICES DE PREÇO Durante as aulas anteriores, trabalhamos com o conceito de que um capital é emprestado mediante uma recompensa, a qual é mensurada pelo valor da taxa de juro (também conhecida nesses casos como “custo do capital” ou “serviço da dívida”). Esta taxa de juro “i”, como foi visto, seria definida tanto pelo custo de oportunidade como, também, pelo risco incorrido no empréstimo feito. E, tudo isso que foi estudado, acredite, é a mais pura verdade, todavia... não é tudo o que existe sobre esse assunto. Agora, chegou a hora de acrescentarmos mais uma variável importante na análise de um fluxo de caixa: a inflação! Inflação é um conceito econômico que é utilizado para ilustrar que ocorreu em determinada economia, em dado período, um aumento generalizado nos preços dos bens e serviços transacionados. Por exemplo, quando aparece na mídia que a inflação do ano foi de 10%, isto quer dizer que, em geral, os produtos da economia ficaram 10% mais caros em relação ao que custavam no início do ano. Ou seja, nesse cenário tem-se que atualmente uma família, para adquirir os mesmos produtos (nas mesmas quantidades), precisará gastar 10% a mais do que gastou no início do ano. Mas cuidado! A inflação é um conceito sobre um comportamento agregado, isto é, trata-se de uma medição realizada para analisar a variação do valor total de uma cesta de produto. Portanto, nessa cesta, obviamente, poderá ter itens que subiram mais do que a inflação, itens que ficaram estáticos (sem alteração de preço) e itens que abaixaram de preço (obs.: logicamente, pode ocorrer que, em caso extremo, todos os itens de uma cesta aumentem). Reforçando, na medição da inflação, o que importa é o valor final da cesta e, portanto, trata-se de uma medida que considera tanto o valor dos bens/serviços como as quantidades que foram adquiridas destes (quanto maior o consumo, maior o impacto do produto na mensuração da inflação e vice-versa). Existem vários índices sobre o processo inflacionário brasileiro, cada qual referente a um tipo específico de cesta, por exemplo, temos: IPCA (Índice [Nacional] de Preços ao Consumidor Amplo), INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna), IGP- M (Índice Geral de Preços – Mercado) etc. Atualmente, o IPCA é o índice oficial do governo federal para mensuração da inflação brasileira e, por isso, vamos usá-lo como exemplo para as modelagens que serão vistas nesta aula. 4 O IPCA é um produto elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o qual você pode acessar por meio do seguinte link: <https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/precos/inpc_ipca/defaulti npc.shtm>. Acesso em: 19 nov. 2017. Neste endereço você vai encontrar toda a metodologia utilizada para a apuração do índice, como: itens presentes na cesta, cidades pesquisadas, periodicidade da pesquisa etc. Fica a dica: Vale a pena acessar, é muito interessante. Como esta é uma aula da aplicação da matemática nas finanças, vamos focar somente na tabela final que traz as informações sobre a inflação, a qual segue abaixo exemplificada: Tabela 1 – Série Histórica do IPCA Fonte: IBGE, 2016. A tabela anterior é referente ao período entre set/2016 a set/2017. As duas primeiras colunas identificam o ano e o mês da mensuração. A terceira coluna é a do número índice, nesta temos qual seria o valor atual de uma cesta de produtos que mensurada em dezembro de 1993 como tendo o valor de 100 unidades. As cinco colunas restantes são as variações percentuais do valor da cesta (= taxa da inflação), segundo os números índices, entre as datas indicadas, 5 ou seja, em relação aos últimos 3 meses, 6 meses, 12 meses e desde o início do presente ano. Vamos entender como essas taxas são calculadas: Fórmula 1 – Taxa de inflação π = � I t I 0 – 1� . 100 Onde: • π: taxa de inflação do período entre tempo 0 (zero) e tempo t; • I t: Número índice no tempo “t” (tempo final para o período desejado); • I 0: Número índice no tempo “0” (tempo inicial para o período desejado). Vamos aplicar a fórmula usando como tempo “t” a linha de set/2017, portanto: I t: 4860,83 (tempo final para o período desejado: t = setembro) a. Inflação mensal em setembro/2017: I 0: 4853,07 (tempo inicial para o período desejado: 0 = agosto) π = � 4860,83 4853,07 – 1 � . 100 = (1,0016 – 1) . 100 = 0,0016 . 100 ∴ π = 0,16% b. Inflação trimestral em setembro/2017: I 0 : 4832,27 (tempo inicial para o período desejado: 0 = junho) π = � 4860,83 4832,27 – 1 � . 100 = (1,0059 – 1) . 100 = 0,0059 . 100 ∴ π = 0,59% c. Inflação semestral em setembro/2017: I 0 : 4821,69 (tempo inicial para o período desejado: 0 = março) 6 π = � 4860,83 4821,69 – 1 � . 100 = (1,0081 – 1) . 100 ∴ π = 0,81% d. Inflação no ano em setembro/2017: I 0 : 4775,70 (tempo inicial para o período desejado: 0 = dezembro*) π = � 4860,83 4775,70 – 1 � . 100 = (1,0178 – 1) . 100 = 0,0178 . 100 ∴ π = 1,78% *Obs.: “t” zero é dezembro do ano anterior, pois se fosse janeiro de 2017 perderíamos o valor de inflação desse mês no acumulado do ano. e. Inflação nos últimos 12 meses em setembro/2017: I 0: 4740,53 (tempo inicial para o período desejado: 0 = setembro/2016*) π = � 4860,83 4740,53 – 1 � . 100 = (1,0254 – 1) . 100 = 0,0254 . 100 ∴π = 2,54% Observação: o valor de inflação acumulado nos últimos 12 meses sempre será o mês desejado contra o mesmo mês do ano anterior. Utilizando essa mesma lógica, poderemos obter quaisquer taxas de inflação que desejarmos, por exemplo, bimestral, quadrimestral, últimos dois anos etc. Ou seja, não precisamos ficarlimitados às informações de variação % da tabela. Vamos fazer um teste busca a taxa de inflação bimestral: f. Inflação bimestral em setembro/2017: I 0: 4843,87 (tempo inicial para o período desejado: 0 = julho) π = � 4860,83 4843,87 – 1 � . 100 = (1,0035 – 1) . 100 = 0,0035 . 100 ∴ π = 0,35% Agora que já sabemos calcular a inflação para qualquer período de tempo, vamos ver como usamos esse conhecimento nas análises financeiras. 7 TEMA 2 – TAXA DE JURO APARENTE E TAXA DE JURO REAL A taxa de juro aparente, segundo Castanheira e Macedo (2010), é aquele valor percentual que foi efetivamente utilizado no cálculo financeiro e que “aparentemente” satisfez a intenção de remuneração daquele que emprestou o capital. Por que “aparentemente”? Simples, dependendo do impacto do processo inflacionário a taxa de juro efetiva pode perder sua força, comprometendo seu valor real. Ficou um pouco confuso? Então, acompanhe esse raciocínio... a. Você tem R$1.000,00 no bolso e quer comprar o celular Top-10, porém, ele custa R$ 1.100,00. Por $1.000,00 você poderia até comprar o celular Top-5, mas o que você quer é o modelo Top-10 e não abre mão desse desejo. b. Por isso, você aplica seu dinheiro em um título de renda fixa que remunera efetivamente o capital em 10% ao ano. Ou seja, você vai ficar longe de seus R$ 1.000,00 por ano, vai ficar sem qualquer celular por um ano, tudo para aumentar em 10% seu poder de comprar e, assim, poder comprar o Top-10. c. Passado um ano, você, feliz da vida, saca seus R$ 1.100,00 (R$ 1.000+ R$100 de juro) para comprar o seu tão sonhado Top-10. d. Ao chegar à loja você descobre que o Top-5 e o Top-10 tiveram um reajuste de preço com base no IPCA, o qual foi de 10% no acumulado de 12 meses. O Top-10 passou a ter um preço de $1.210,00 (R$ 1.100 + R$ 110 de ajuste inflacionário) e o Top-5 passou para R$ 1100,00 (R$ 1.000 + R$ 100 de inflação). e. Portanto, você não pode comprar o Top-10, só tem poder de compra para o Top-5. Sendo assim, considerando o efeito inflacionário, o ganho real que você teve na aplicação financeira foi zero. Ou seja, aparentemente você ficou mais rico em 10%, pois seus R$ 1.000,00 viraram R$ 1.100,00, porém, depois de um ano, sua situação econômica real é a mesma. Entendeu? No exemplo anterior, fizemos um exercício com um produto apenas, mas no dia a dia essa lógica é aplicada em relação à nossa cesta de consumo. É, por isso, que a análise com base no índice inflacionário é válida, pois em uma cesta alguns itens podem até subir mais ou menos em relação à inflação oficial, outros 8 podem até cair ou manter seu preço... no final, o que importa é o valor final da cesta e quanto o poder de compra de nosso capital foi alterado com a inflação. Portanto, segundo essa lógica que foi vista, temos que a primeira coisa que precisamos fazer em uma análise financeira sobre o ganho real do capital é... Reajustar a cesta de produto com o índice inflacionário! Somente depois é que devemos calcular qual foi o ganho real. Para nossa sorte, toda essa operação pode ser resumida em uma modelagem matemática bem simples: Fórmula 2 – Cálculo do ganho real r = � 1+ 𝑖𝑖 1+ 𝜋𝜋 – 1� . 100 Onde: • i: taxa de real entre tempo 0 (zero) e tempo t; • i: taxa de efetiva (aparente) entre tempo 0 (zero) e tempo t; • π: taxa de inflação do período entre tempo 0 (zero) e tempo t. Vamos entender essa fórmula usando outro exemplo. Você entrou em uma empresa ganhando R$ 1.000,00; após 12 meses de trabalho recebeu um aumento em seu salário no valor de 15%. Sabendo que nesse período a inflação foi de 10%, qual foi seu ganho real com o aumento? Solução Atenção → Você “NÃO PODE” fazer 15% -10% = 5%. Fazer isso é muito errado! Agora, vamos resolver o problema de duas formas: a demorada e a fácil: a. Resolvendo o problema com muito trabalho (forma demorada): Primeiro, devemos ajustar o salário original com o índice inflacionário. VP ajustado = VP original . (1 + π) → VP ajustado = 1000 . (1 + 10% ) VP ajustado = R$1100,00 Depois, devemos calcular o novo valor do salário com o aumento recebido VF = VP original . (1 + i) → VF = 1000 . (1 + 15%) → VF = R$ 1150,00 9 Por fim, vamos encontrar a taxa real entre esses dois valores calculados. VF = VP ajustado . (1 + r) → 1150 = 1100 . (1 + r) → 1+ r = 1150/1100 ∴ r = 1,04545 – 1 → i = 0,04545 ≅ 4,5% (viu? A taxa real não é 5%) b. Resolvendo o problema com menos trabalho (forma fácil): r = � 1+ 15% 1+ 10% – 1� . 100 → r = ( 1,04545 – 1 ) . 100 → r = 4,5% Agora que já você já entendeu o conceito, vamos encerrar esse tópico complicando um pouco as coisas: vamos utilizar dois conceitos em um mesmo problema: “taxa real” e “taxa equivalente”. A loja de veículos “Lata velha Ltda” financia seus veículos com uma taxa de juros de 24% ao ano, capitalização composta mensal e postecipada. Sabendo que a taxa inflacionária da Economia é estimada em 10% ao ano, qual é a taxa real mensal cobrada pela loja? Solução i nominal = 24% ao ano ∴ i efetivo = 24% / 12 meses = 2% ao mês i inflação = π =10% ao ano a. Cálculo da taxa inflação mensal equivalente para 10% ao ano: i q = ( 1 + i t ) q/t – 1 = ( 1 + 10% ) 1 / 12 – 1 = 1,1 1/12 – 1 i q = 1,007974 – 1 = 0,007974 π ≅ 0,7974% ao mês b. Cálculo da taxa real mensal: r = 1 + 𝑖𝑖 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒 1 + 𝜋𝜋 ─ 1 = 1 + 2%1 + 0,7974% ─ 1 = 1,011931 ─ 1 ∴ r = 1,011931 – 1 = 0,011931 ∴ r ≅ 1,19% ao mês 10 Não achou interessante? Todo o conteúdo que estamos estudando, desde a primeira aula, quando usados juntos, ampliam nossa compreensão sobre o significado dos dados financeiros. Por isso, a percepção sistêmica na análise financeira é tão importante. TEMA 3 – O IMPACTO DA INFLAÇÃO: VALORES MONETÁRIOS E TAXAS Se quisermos a entender o comportamento de nossas aplicações financeiras – títulos, estoques, operações comerciais etc. – em nossas análises o impacto da inflação precisa estar presentes nos números gerados. E, para tanto, podemos utilizar os três procedimentos que seguem para isso. 3.1 Taxa de desvalorização da moeda: TDM Segundo Assaf Neto (2016, p. 66): “Enquanto a inflação representa uma elevação nos níveis de preços, a taxa de desvalorização da moeda (TDM) mede a queda no poder de compra da moeda”. Ou seja, a TDM é um valor numérico percentual que representa a perda que o capital sofre dado o processo inflacionário. Nesse sentido, Assaf Neto (2016) exemplifica que se a inflação for, em certo período, igual a 100% (isto é, se ela dobrar os preços), então as famílias dessa economia terão uma redução de 50% no poder de compra (se os preços dobram, então a mesma renda somente compra a metade do que comprava antes). Seguindo essa lógica, tem-se a seguinte modelagem para o cálculo da TDM: Fórmula 3 – Cálculo da TDM TDM = π 1 + 𝜋𝜋 . 100 Onde: • TDM: axa de desvalorização da moeda; • π: taxa de inflação do período entre tempo 0 (zero) e tempo t. Vamos praticar! Sabendo que a taxa inflacionária da Economia é estimada em 10% ao ano, qual é a taxa de desvalorização da moeda para esse período? 11 Solução TDM = 10% 1 + 10% . 100 = 0,11,1 . 100 = 9,09% Ou seja, se os preços subirem 10%, o poder de compra cai 9,09%. 3.2 Análise do comportamento real dos valores monetários Vamos imaginar que uma empresa obteve, ao longo de setes meses, as seguintes receitas: Tabela 2 – Receitas de uma empresa Dezembro R$ 100,00 Janeiro Fevereiro Março Abril Maio JunhoR$ 120,00 R$ 150,00 R$ 198,00 R$ 265,32 R$ 366,14 R$ 512,60 Analisando esses números, informe: a. Quais as taxas mensais de crescimento da receita de janeiro a junho (isto é, para cada mês do primeiro semestre do ano que foi iniciado)? Para atender esse pedido é bem fácil, pois basta dividir a receita de cada mês pela receita do mês anterior e subtrair por 1 e multiplicar o resultado por 100 (a gente fez exatamente isso para achar taxa real mensal, lembrou?) Tabela 3 – Solução Dezembro R$ 100,00 Solução: taxas de crescimento Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho R$ 120,00 R$ 150,00 R$ 198,00 R$ 265,32 R$ 366,14 R$ 512,60 [ (120,00/100,00) -1 ] . 100 = 20% [ (150,00/120,00) -1 ] . 100 = 25% [ (198,00/150,00) -1 ] . 100 = 32% [ (265,32/198,00) -1 ] . 100 = 34% [ (366,14/265,32) -1 ] . 100 = 38% [ (512,60/366,14) -1 ] . 100 = 40% 12 Sabe o que isso significa? Nada, pois se a gente não souber o valor da taxa de inflação desse período, não dá para dizer se a empresa está bem ou mal em suas vendas. Sendo assim, vamos considerar que esses dados são referentes ao ano de 1994 (portanto, antes da moeda real entrar em circulação). Sendo assim, segue o IPCA de 1994, entre janeiro e junho. Tabela 4 – IPCA de 1994, entre janeiro e junho Mês Receita Taxas de crescimento Taxa de Inflação* Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho R$ 120,00 R$ 150,00 R$ 198,00 R$ 265,32 R$ 366,14 R$ 512,60 20% 25% 32% 34% 38% 40% 41,31% 40,27% 42,75% 42,68% 44,03% 47,43% *Observação: Não tem nenhum erro, essas são taxas mensais verdadeiras do IPCA/1994. Agora que temos a taxa de inflação mensal do IPCA, responda: b. Quais as taxas reais de crescimento ao mês da receita de janeiro a junho? Para atender esse pedido é bem fácil, pois basta aplica a fórmula da taxa real de juros (ver Tema 2). Tabela 5 – Taxas reais de crescimento ao mês da receita de janeiro a junho Mês Receita Taxas de crescimento (Nominal) Taxa de Inflação Taxas de crescimento (Real) Jan. Fev. Mar. Abril Mai. Jun. R$120,00 R$150,00 R$198,00 R$265,32 R$366,14 R$512,60 20% 25% 32% 34% 38% 40% 41,31% 40,27% 42,75% 42,68% 44,03% 47,43% [(1+20%)/(1+41,31%) -1].100= -15% [(1+25%)/(1+40,27%) -1].100= -11% [(1+32%)/(1+42,75%) -1].100= -08% [(1+34%)/(1+42,68%) -1].100= -06% [(1+38%)/(1+44,03%) -1].100= -04% [(1+40%)/(1+47,43%) -1].100= -05% Agora sim podemos analisar o comportamento da receita dessa empresa. Nesse sentido, podemos observar que ela teve crescimento real negativo em todos os meses se for considerando IPCA (isto é, a receita real contraiu). 13 Portanto, podemos concluir que esta empresa teve um péssimo primeiro semestre. 3.3 Taxa média de juros: inflação e crescimento Agora vamos encerrar esse tema apresentando como podemos obter tanto a taxa média de crescimento como, também, a taxa média de inflação de um período. Para tanto, vamos começar entendendo qual é o comportamento da taxa de crescimento e de inflação mensal. E, nesse sentido, temos que tanto a taxa de inflação como a taxa de crescimento, na condição mensal, apresentam um comportamento de acréscimo ou decréscimo sucessivo. Sendo assim, as inúmeras taxas presente em dado período podem ser convertidas em uma única taxa média. A qual, dependendo dos dados que dispomos, pode ser obtida por duas formas diferentes: a. Taxa média quando temos os valores monetários Taxa média = ( � 𝑉𝑉𝑉𝑉 𝑉𝑉𝑉𝑉 𝑛𝑛 ─ 1 ).100 Vamos exemplificar! Exemplo 1 Vamos usar a fórmula com os dados da tabela presente no item 3.2. Tabela 6 – Receitas de uma empresa n Mês Receita 0 Dezembro R$ 100,00 1 2 3 4 5 6 Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho R$ 120,00 R$ 150,00 R$ 198,00 R$ 265,32 R$ 366,14 R$ 512,60 Taxa média = ( � 512,60 100 6 ─ 1 ) . 100 = 0,3131 . 100 =31,31% Exemplo 2 14 Vamos usar a fórmula na Tabela IPCA presente no Tema 2. Tabela 7 – Série Histórica do IPCA Taxa média = ( � 4860,83 4775,709 ─ 1 ) . 100 = 0,1965% ao mês (dez/16 → n=0) b. Quando temos somente os valores percentuais Taxa média = ( �∏ xtnt=1n ─ 1) . 100 , sendo: x t = 1 + taxa t Onde: • Π: é o produtório (o produto da multiplicação dos x t ); • x t: é o índice de cada tempo t do período (a partir do item 1). Vamos exemplificar usando a fórmula na Tabela IPCA presente no Tema 2. 15 Tabela 8 – Série Histórica do IPCA Passo 1: vamos encontrar os valore de x t X1=1+0,38% = 1 + 0,0038 = 1,0038 ... X6 = 1 + (-0,23%) = 1 – 0,0023 = 0,9977 ... X9= 1 + 0,16% = 1,0016 Observação: as “...” (reticências) indicam que será feito o mesmo cálculo para os demais xt, ( isto é, para “x2; x3; x4; x5” e “x7; x8”). Passo 2: vamos encontrar o produto dos valores de x t ∏ 𝐱𝐱𝐭𝐭 𝐧𝐧 𝐭𝐭=𝟏𝟏 =1,0038 . 1,0033 . 1,0025 . 1,0014 . 0,0031 . 0,9977 . 1,0024 . 1,0019 .0,0016 = 1,0178269 Passo 3: vamos encontrar a taxa média da inflação mensal: Taxa média = ( √1,0178269 9 ─ 1) . 100 = 0,1965% ao mês Como você pode notar, tanto um modo como outro exige apenas organização e atenção, pois um deslize pode comprometer o resultado final. Todavia, o cálculo não é complexo, quando muito, pode ser dito como 16 trabalhoso. Dito isso, podemos encerrar esse tema e partir para nosso próximo assunto: o risco de um investimento segundo a percepção estatística. TEMA 4 – A ESTATÍSTICA NA MEDIÇÃO DO RISCO E DA ESPERANÇA Antes de começarmos, um alerta semântico! Caso você, meu caro leitor, queira se aprofundar na análise estatística dos riscos, saiba que em seus estudos encontrará certa divergência entre os autores se as modelagens que aqui serão vistas são análises de risco ou de incertezas. Para alguns, é a mesma coisa, para outros, não. Dado esse fato, para evitar confusão, aqui usaremos uma das distinções que se faz presente no artigo de Andrade (2011, p.172), o conceito de Knight sobre risco e incerteza: [...] o risco é considerado como uma probabilidade mensurável, e a incerteza, como uma situação expressa por valores indeterminados e não quantificáveis, isto é, refere-se a uma situação de “probabilidade numericamente imensurável. (Knight, 1921, p. 19) Portanto, nesse penúltimo tema da aula, tendo como base a citação anterior, iremos estudar como um investimento financeiro pode ser analisado segundo seus valores de Esperança (média ponderada por probabilidade estatística) e Risco estatístico (desvio padrão em torno da Esperança). 4.1 Esperança estatística de um investimento Quando um fluxo de caixa não apresenta um comportamento estável quanto aos valores de encaixes e desencaixes de capital – isto é, quando existe um risco de oscilação desses valores – se faz necessário estabelecer algum critério que permita mitigar o risco da operação realizada. Nesse caso, a primeira etapa a ser feita é definir qual é a Esperança estatística que temos para cada evento do fluxo de caixa da a presença dessa citada oscilação. Ou seja, buscaremos o valor médio para cada momento “t” considerando as possibilidades que acreditamos existirem para ele; para tanto, usamos: Fórmula 4 – Valor médio para cada momento “t” 𝐸𝐸𝑡𝑡 = ∑ 𝑃𝑃 𝑗𝑗 . 𝑉𝑉 𝑗𝑗 𝑚𝑚 𝑗𝑗=1 Onde: • 𝐸𝐸𝑡𝑡: Esperança no momento “t”; 17 • 𝑃𝑃 𝑗𝑗 .𝑉𝑉 𝑗𝑗:Produto entre Probabilidade “P j” e Valor estimado “V j” no momento “t”; • ∑ . 𝑚𝑚 𝑗𝑗=1 : Somatória do produto entre as probabilidades e valores possíveis, desde a primeira possibilidade (j=1) até a última (j=m ou apenas m). Agora que já temos a fórmula base da Esperança, precisamos definir os valores de “P”, para isso, vamos utilizar o desenvolvimento presente em Hirshfeld (2000, p.493, grifo nosso), onde temos que “Apesar de o número de estimativa de cada contribuição do fluxo de não necessitar ser o mesmo para todas as contribuições, adota-se, de forma geral, por simplificação ou sistematização, um número igual para todas elas”. O que Hishfeld quer dizer é que para simplificar o procedimento de análise ou mesmo estabelecer um critério sistêmico, na prática, utiliza-se um mesmo valor probabilístico para cada possível ocorrência. Qual? Bem, isso depende de qual literatura você utilizar, aqui será uma que foi citada pelo próprio Hirshfeld (2000, p. 493): “[...] recebe boa aceitação (principalmente do PERT) é o [número] igual a 3 [possibilidades], onde as probabilidades mais viáveis se situam, respectivamente, ao redor dos valores: 66% (valor mais provável), 17% (valor otimista) e 17% (valor pessimista).”1 Vamos entender o que tudo isso significa praticando. Imagine que queremos comprar uma máquina no valor de R$ 220,31, a qual terá para nós uma serventia operacional de 3 anos, sendo vendida após esse tempo. Para tanto, conversamos com vários especialistas sobre qual será o fluxo de caixa desse investimento, considerando um horizonte de possibilidades: mais provável (66%), otimista (17%) e pessimista (17%). Os resultados obtidos foram: Tabela 6 – Fluxo de caixa desse investimento Possibilidade j P V P j . V j Valor mais provável 1 66% 9,50 6,27 Valor otimista 2 17% 14,05 2,39 Valor pessimista 3 17% 7,90 1,34 Esperança para momento t =1 → 10,00 = 𝐸𝐸𝑡𝑡 = ∑ 𝑃𝑃 𝑗𝑗 . 𝑉𝑉 𝑗𝑗 𝑚𝑚 𝑗𝑗=1 1 PERT significa Program Evaluation and Review Technique, trata-se de um programa elaborado para o gerenciamento de projetos que é praticado desde meados do século passado. 18 Possibilidade j P V P j . V j Valor mais provável 1 66% - 0,90 - 0,59 Valor otimista 2 17% - 0,20 - 0,03 Valor pessimista 3 17% - 2,20 - 0,37 Esperança para momento t =2 → - 1,00 = 𝐸𝐸𝑡𝑡 = ∑ 𝑃𝑃 𝑗𝑗 . 𝑉𝑉 𝑗𝑗 𝑚𝑚 𝑗𝑗=1 Possibilidade j P V P j . V j Valor mais provável 1 66% 212,00 139,92 Valor otimista 2 17% 249,66 42,44 Valor pessimista 3 17% 192,01 32,64 Esperança para momento t =3 → 215,00 = 𝐸𝐸𝑡𝑡 = ∑ 𝑃𝑃 𝑗𝑗 . 𝑉𝑉 𝑗𝑗 𝑚𝑚 𝑗𝑗=1 E, sendo assim, com esses dados de Esperança, o fluxo de caixa que podemos esperar para o investimento que será feito com a compra da máquina é... Figura 1 – Fluxo de caixa Agora que definimos qual é a nossa esperança de fluxo, podemos aplicar todas as modelagens que foram vistas nas aulas anteriores. Todavia, surge uma dúvida: qual o risco que estaríamos correndo com esses dados em nossas análises? Para responder isso, precisamos ver o próximo item. 4.2 Risco estatística de um investimento De forma intuitiva, podemos dizer que o risco estatístico em valores absolutos é definido como sendo o valor médio de variação dos valores que geraram a Esperança (Item 4.1) em torno do valor da Esperança. Quanto maior for esta dispersão em torno da Esperança, maior o risco e, na mesma forma, quanto menor seu valor, menor o risco. Este valor médio da variação em torno da Esperança é denominado de desvio padrão. Também podemos mensurar o risco de forma relativa, para tanto, basta dividirmos o valor do desvio padrão pelo 19 valor da esperança e multiplicar o resultado por 100, este valor obtido é chamado de Coeficiente de variação. Como eles são obtidos? Por meio de três passos bem simples: Passo 1 Precisamos encontrar a variância dos valores, por meio da seguinte fórmula: 𝜎𝜎𝑡𝑡 2 = ∑ ( 𝑉𝑉 𝑗𝑗 − 𝐸𝐸 𝑡𝑡)2. 𝑃𝑃 𝑗𝑗 𝑚𝑚 𝑗𝑗=1 Onde: • 𝜎𝜎𝑡𝑡 2: Variância no momento “t”; • 𝑉𝑉 𝑗𝑗: Valor estimado “V j” no momento “t”; • 𝐸𝐸𝑡𝑡: Esperança no momento “t”; • 𝑃𝑃 𝑗𝑗: Probabilidade estimada “P j” no momento “t”. Vamos entender o porquê do valor quadrado. Acontece que se a gente subtrair de cada Vj o valor da Esperança, logicamente, obtemos o valor de variação de cada item... o problema é que, sempre que somarmos esses valores, o resultado será zero, ou seja, assim não conseguiremos fazer a média das variações... Para contornar esse problema, elevamos cada valor de variação ao quadrado, assim, temos como somar os valores ao quadrado (pois todos são positivos) e, desta forma, calcular variação da média “ao quadrado” desses dados em torno da Esperança. Todavia, essa solução exige a realização do próximo passo. Passo 2 Precisamos encontrar o desvio padrão dos valores (risco em valores absolutos). 𝜎𝜎𝑡𝑡 = �𝜎𝜎𝑡𝑡2 2 Onde: • 𝜎𝜎𝑡𝑡: Desvio padrão no momento “t”; • 𝜎𝜎𝑡𝑡 2: Variância no momento “t”. É isso mesmo que você entendeu: o desvio padrão nada mais é que a raiz quadrada da variância (o resultado do passo anterior). Ou seja, o desvio padrão 20 é a variação dos dados em torno da Esperança, agora sem estarem na condição ao quadrado. Além do que, seu resultado é uma variação com +/- (pois é o resultado de uma raiz), ou seja, a variação pode ser para cima ou para baixo em torno da Esperança. Só tem um problema: esse valor obtido é um valor absoluto, sendo assim, caso seja necessário compará-lo com outros valores, teremos o problema das escalas... quando isso acontece, precisamos transformá-los em valores relativos, o terceiro passo. Passo 3 Precisamos encontrar o Coeficiente de variação (= risco em valores relativos), utilizando a seguinte fórmula: CV = σt Et . 100 Onde: 𝐶𝐶𝑉𝑉 : Coeficiente de variação no momento “t” 𝜎𝜎𝑡𝑡 : Desvio padrão no momento “t” 𝐸𝐸𝑡𝑡 : Esperança no momento “t” Se você não multiplicar por 100 o CV nos informa qual é o desvio em torno da Esperança a cada 1 unidade de Esperança. Agora, se você multiplicar por 100, teremos o desvio a cada 100 unidades de Esperança, isto é, o desvio percentual. Vamos praticar! Tabela 7 – Desvio percentual Possibilidade j P V (V – E) 2 . P Valor mais provável 1 66% 9,50 (9,5 - 10)2 . 66% = 0,17 Valor otimista 2 17% 14,05 (14,05 - 10) 2 . 17% = 2,79 Valor pessimista 3 17% 7,90 (7,9 - 10) 2 . 17% = 0,75 Variância do momento t =1 → 3,70 = 𝜎𝜎𝑡𝑡2 Desvio padrão do momento t =1 → 1,92 = 𝜎𝜎𝑡𝑡 Coeficiente de variação do momento t=1 → 19,2% = CV % Possibilidade j P V (V – E) 2 . P Valor mais provável 1 66% - 0,90 (-0,9 - (-1) ) 2 . 66% = 0,01 Valor otimista 2 17% - 0,20 (-0,2 - (-1) ) 2 . 17% = 0,11 Valor pessimista 3 17% - 2,20 (-2,2 - (-1) ) 2 . 17% = 0,24 Variância do momento t =2 → 0,36 = 𝜎𝜎𝑡𝑡2 Desvio padrão do momento t =2 → 0,60 = 𝜎𝜎𝑡𝑡 Coeficiente de variação do momento t=2 → 60,0% = CV % 21 Possibilidade j P V (V – E) 2 . P Valor mais provável 1 66% 212,00 (212 - 215 ) 2 . 66% = 5,94 Valor otimista 2 17% 249,66 (249,66 - 215 ) 2 . 17% = 204,22 Valor pessimista 3 17% 192,01 (192,01 - 215 ) 2 . 17% = 89,85 Variância do momento t =3 → 300,02 = 𝜎𝜎𝑡𝑡2 Desvio padrão do momento t =3 → 17,32 = 𝜎𝜎𝑡𝑡 Coeficiente de variação do momento t=3 → 8,1% = CV % Portanto, com base nos dados mostrados anteriormente,temos que o menor risco em valores absolutos é o do momento t=3, pois em torno da Esperança de valor -1 (Ver item 4.1), temos o desvio de +/- 0,6. Já o maior risco em valor absoluto é o do momento t=3, pois em torno da Esperança de valor 215 (ver item 4.1) o risco é de +/- 17,32. Todavia, o momento t=2 é o que tem maior risco relativo, pois seu coeficiente de variação é de 60%, já o momento t=3 é o que tem menor risco relativos uma vez que seu CV é igual 8%. Convenhamos, é trabalhoso, porém, não é difícil fazer uma análise dessa! Antes de encerrarmos esse tema, é conveniente explicar que existem muito mais artefatos na estatística do que apenas Esperança e Riscos, por exemplo: mediana, moda, quartil, distribuições (z, t, χ2 etc.), teste de hipóteses etc. O que vimos aqui é apenas uma introdução ao tema, dentro das limitações de nossa ementa e do tempo que dispomos. Caso você tenha gostado do assunto, sugiro buscar mais informações em livros e textos da disciplina de estatística aplicada... Acredite, vale a pena! TEMA 5 – INTRODUÇÃO À ANÁLISE DE TÍTULOS DE RENDA FIXA Basicamente, existem dois tipos possíveis de rendas nas operações financeiras: as rendas fixas e as rendas variáveis. As rendas variáveis são aquelas em que não existem garantias sobre o que ocorrerá até a data do resgate/término da operação realizada. Pode ser que ocorra um ganho muito alto, pode ser que haja estagnação do capital e, também, pode ocorrer que o resultado da operação seja prejuízo (redução do capital). Esse é o caso das operações financeiras realizadas no mercado de ações e de mercado futuro. As rendas fixas, por sua vez, segundo Vieira Sobrinho (2004, p.143), são assim denominadas por garantirem “[...] ao aplicador determinado rendimento, fixado no dia da aplicação, isto é, o investidor seguramente receberá no vencimento um valor maior que o desembolsado [...] podem ser [elas] pré e pós-fixadas”. 22 Neste último tópico, iremos trabalhar de forma introdutória as operações de renda fixa, tanto as do grupo de rendas pré-fixadas como, também, as do grupo de rendas pós-fixadas. Nesse sentido, no desenvolvimento deste tema vamos listar alguns dos principais títulos desses dois subgrupos da renda fixa e, também, veremos um exemplo com um título hipotético em cada uma das duas listas geradas. Quanto ao que abordaremos nesses dois exemplos, teremos neles uma demonstração básica sobre alguns itens que devem ser ponderados em uma análise de investimento, sendo esses: a. Valor nominal bruto na data do resgate; b. Valor nominal líquido de tributos e taxas na data do resgate; c. Taxa efetiva líquida de tributos; d. Taxa real líquida de tributos. O valor nominal bruto – VNB – é aquele que, nas aulas anteriores, denominávamos de Valor futuro – VF – ou Montante – M. Ou seja, é o valor original acrescido de juros oriundos do processo de capitalização. O valor nominal líquido – VNL – de tributos e taxas é o valor que realmente receberemos de capital após o período de aplicação devido ao processo tributário – como imposto de renda – IP – e imposto sobre operações financeiras – IOF – e de taxas contratuais – como taxas administrativas, custódia, desempenho etc. Com relação às taxas, temos que a Taxa efetiva líquida (i L) representa a taxa efetiva da operação, segundo a percepção do que fica em nossos bolsos no final. Ou seja, a TEL foi taxa de juro utilizada na Aula 5 para comparar a eficiência da operação frente ao valor da TMA (Taxa Mínima de Atratividade). E, por fim, a Taxa real líquida (i RL) é a análise que realizamos para verificar se nosso poder de compra aumentou, estagnou ou regrediu dado o impacto inflacionário sobre a aplicação realizada. Ou seja, a taxa real é taxa efetiva líquida considerando o efeito da inflação. E, dito tudo isso, vamos trabalhar! 5.1 Renda fixa: pré-fixada a. Conceito Segundo Vieira Sobrinho (2004, p.143), uma renda fixa é tida como “[...] prefixada quando o valor de resgate é conhecido no dia da aplicação”. Ou seja, 23 já no ato contratual, o valor futuro (ou montante) já pode ser projetado com segurança. b. Alguns exemplos de títulos pré-fixados: • CDB: Certificados de Depósitos Bancários; • RDB: Recibos de Depósitos Bancários; • BBC: Bônus do Banco Central; • LTN: Letras do Tesouro Nacional; • Etc. c. Um exemplo numérico com um título hipotético na condição pré-fixada: Vamos calcular o valor de resgate de uma aplicação de R$ 100 mil feita em título X para vencimento em 3 anos, nas seguintes condições: I. Taxa de juros 24% ao ano; II. Capitalização composta mensal; III. 15% de imposto de renda retido na fonte; IV. 0% de taxa de administração; V. 10% de inflação do período. Solução • Valor nominal bruto na data do resgate VNR → VF = VP . (1 + i ) n VNR → VF = VP . (1 + 24%/12meses) 3x12 meses VNR → VF = 100 mil . (1 + 2% ao mês ) 36 meses VNR → VF = 100 mil . 2,039887 ∴ VNR = 203,99 mil • Valor nominal líquido de tributos e taxas na data do resgate VNL = VNR – IR VNL = VNR – (VNR – VP) . IR% VNL = 203,99 mil – (203,99 mil – 100 mil) . 15% VNL = 203,99 mil – 103,99 mil . 15% VNL = 203,99 mil – 15,60 mil ∴ VNL = 188,39 mil 24 • Taxa efetiva líquida de tributos VNL = VP . ( 1 + i L ) n 188,39 mil = 100 mil . ( 1 + i L ) 36 ( 1 + i L ) 36 = 188,39 mil / 100 mil ( 1 + i L ) 36 = 1,8839 1 + i L = √1,883936 i L = 1,017749 – 1 ∴ i L = 1,77% • Taxa real líquida de tributos Primeiro, vamos achar a inflação equivalente mensal: i q = ( 1 + i t )q/t – 1 i q = ( 1 + 10% ) 1 / 12 – 1 ∴ π ≅ 0,7974% ao mês Agora, vamos fazer o cálculo da taxa real mensal: r = 𝟏𝟏 + 𝒊𝒊 𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆𝒊𝒊𝒆𝒆𝒆𝒆 𝟏𝟏 + 𝝅𝝅 ─ 1 r = 1 + 1,77% 1 + 0,7974% ─ 1 ∴ r ≅ 0,97% ao mês Ou seja, a presente aplicação, apesar de ter uma taxa efetiva mensal de 2%, após considerarmos o imposto de renda e a inflação, o que realmente sobra para aumentar nosso poder de compra/riqueza é 0,97% ao mês. 25 5.2 Renda fixa: pós-fixada a. Conceito Segundo Vieira Sobrinho (2004, p.143), uma renda fixa é denominada como pós-fixada quando: [...] esse valor somente é determinado no dia (ou alguns dias antes) do vencimento. As aplicações com renda pós-fixada pagam juros calculados sobre o principal corrigido, ou seja, sobre o valor da aplicação adicionado da correção monetária do período. Ou seja, o título é de renda fixa, pois todas as condições já estão fixadas em contrato (a taxa de juro e o índice de correção monetária), todavia, o valor da correção somente será conhecido a posteriori. b. Alguns exemplos de títulos pós-fixados: • CDB: Certificados de Depósitos Bancários (sim , pode ser pós ou pré) • RDB: Recibos de Depósitos Bancários (sim , pode ser pós ou pré) • NTN: Notas do Tesouro Nacional • Caderneta de poupança • Etc. a) Um exemplo numérico com um título hipotético na condição pós-fixada: Vamos calcular o valor de resgate de uma aplicação de R$ 100 mil feita em título X para vencimento em 1 ano, nas seguintes condições: I. Índice de correção TR anual = 6%; II. Taxa de juros 5% ao ano; III. Capitalização anual; IV. 22,5% de imposto de renda retido na fonte; V. 0% de taxa de administração; VI. 10% de inflação do período. Solução • Valor nominal bruto na data do resgate VNR → VF = VP . (1 + TR) ) n . (1 + i ) n VNR → VF = 100 mil . (1 + 6%) 1 . (1 + 5%) 1 VNR → VF = 100 mil . 1,06 . 1,05 26 VNR → VF = 100 mil . 1,1130 ∴ VNR = 111,30 mil Ou seja, primeiroaplicamos o índice e depois o juros. • Valor nominal líquido de tributos e taxas na data do resgate VNL = VNR – IR VNL = VNR – (VNR – VP) . IR% VNL =111,3 mil – (111,3 mil – 100 mil) . 22,5% VNL = 111,3 mil – 11,3 mil . 22,5% VNL = 111,3 mil – 2,54 mil ∴ VNL = 108,76 mil • Taxa efetiva líquida de tributos VNL = VP . ( 1 + i L ) n 108,76 mil = 100 mil . ( 1 + i L ) 1 ( 1 + i L ) 1 = 108,76 mil / 100 mil ( 1 + i L ) 1 = 1,0876 i L = 1,0876 – 1 ∴ i L = 8,76% • Taxa real líquida de tributos r = 1 + 𝑖𝑖 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒 1 + 𝜋𝜋 ─ 1 = 1 + 8,76%1 + 10% ─ 1 = 0,9887 ─ 1 ∴ r = - 0,0113 ∴ r ≅ - 1,13% ao ano Ou seja, a presente aplicação, apesar de ter uma taxa efetiva mensal de 2%, após considerarmos o imposto de renda e a inflação, o que realmente ocorre é que nosso poder diminuiu em um ano em 1,13%. E, assim, com esse último parágrafo, encerramos nosso conteúdo e também, nossa disciplina. Parabéns para você que se manteve firme em seus estudos até esse momento derradeiro. E, dito isso, desejo-lhe sucesso nesse 27 novo mundo que você começou a desbravar a partir dessas aulas... Lembre-se: O conhecimento é um investimento que realizamos para melhorar nosso futuro! TROCANDO IDEIAS Durante os cinco temas que foram vistos nesta aula, analisamos vários conceitos sobre o processo inflacionário. Agora, entre no Fórum da disciplina e, usando este conhecimento geral adquirido, reflita com seus pares sobre a seguinte questão: Será que a população brasileira que se tornou economicamente ativa após o plano real compreende qual é o verdadeiro impacto da inflação no resultado de suas aplicações financeiras? O que vocês observam no comportamento dessas na gestão do próprio capital? NA PRÁTICA a. Leitura do caso Um investidor aplicou R$ 20.000,00 e após um ano obteve como valor montante a quantia de R$ 24.000,00. Sabendo que neste citado período a inflação acumulada foi de 15%, responda: qual foi o ganho real desse investidor em forma de taxa de juros? b. Identificação do que deve ser feito e teoria/conteúdo que resolve o problema Para resolver esse problema precisamos utilizar o conhecimento presente nos temas 1, 2 e 3, pois nestes encontraremos os conceitos básicos sobre o que é a inflação e a essência matemática para o uso da fórmula que fornece a taxa real de juros. c. Apresentação da solução do problema Taxa de juros efetiva aparente = �24 000 / 20 0001 - 1 Taxa de juros efetiva aparente = √1,21 - 1 Taxa de juros efetiva aparente = 20% Taxa de juros real = (1+20%) / (1+15%) – 1 Taxa de juros real = 1,043478 – 1 Taxa de juros real = 4,35% (resposta) 28 FINALIZANDO Nesta aula estudamos, primeiramente, os elementos básicos do processo inflacionário, respondendo implicitamente as seguintes questões ao longo do texto: o que é a inflação, como ela é mensurada, o que são índices de preços, como eles podem ser utilizados etc. Na sequência, nosso foco foi buscar a compreensão sobre o que são riscos estatísticos e que relações apresentam com os valores da Esperança estatística em dados presentes em um fluxo de caixa. Por fim, em nosso último bloco de conteúdo, essas laudas trouxeram alguns elementos básicos na análise de títulos de renda fixa tanto na condição pré-fixada como, também, pós-fixada. 29 REFERÊNCIAS ANDRADE, R. P. de. A construção do conceito de incerteza: uma comparação das contribuições de Knight, Keynes, Shackle e Davidson. Revista Nova Economia, v. 21, n. 2, p. 171-195, 2011. ASSAF NETO, A. Matemática Financeira e Suas Aplicações. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2016 ANDRICH, E. G.; CRUZ, J. A. W. Gestão financeira: uma abordagem prática. Curitiba: InterSaberes, 2013. CASTANHEIRA, N. P; MACEDO, L. R. D. Matemática financeira aplicada. Curitiba: Ibpex, 2010. HIRSHFELD, H. Engenharia econômica e análise de custos. São Paulo: Atlas, 2000, 7. ed. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IPCA. 2016. Disponível em: <https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/precos/inpc_ipca/defaulti npc.shtm>. Acesso em: 19 nov. 2017. KNIGHT, F. Risk, uncertainty and profit. London: Houghton Mifflin, 1921. _____. Risk, uncertainty and profit. 2. ed. London: Houghton Mifflin, 1933. VIEIRA SOBRINHO, J. D. Matemática Financeira. Edição Compacta. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2004. RYBA, A.; LENZI, E. K.; LENZI, M. K. Elementos da Engenharia Econômica. Curitiba: Ibpex, 2011. Conversa inicial Contextualizando *Observação: Não tem nenhum erro, essas são taxas mensais verdadeiras do IPCA/1994. X1=1+0,38% = 1 + 0,0038 = 1,0038 ... X6 = 1 + (-0,23%) = 1 – 0,0023 = 0,9977 ... X9= 1 + 0,16% = 1,0016 Observação: as “...” (reticências) indicam que será feito o mesmo cálculo para os demais xt, ( isto é, para “x2; x3; x4; x5” e “x7; x8”). ,𝐭=𝟏-𝐧-,𝐱-𝐭.. =1,0038 . 1,0033 . 1,0025 . 1,0014 . 0,0031 . 0,9977 . 1,0024 . 1,0019 .0,0016 = 1,0178269 Taxa média = ( ,9-1,0178269 . ─ 1) . 100 = 0,1965% ao mês Trocando ideias Na prática FINALIZANDO REFERÊNCIAS
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