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Teoria elementar da demanda e o processo de escolha do consumidor José Tadeu de Almeida Introdução Discutiremos nesta aula alguns dos principais elementos relacionados à formação das cur- vas de demanda no mercado de bens. Definiremos como elas afetam o processo de escolha do consumidor e a sua satisfação pessoal, expressa através do conceito de Utilidade. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • entender os fatores formadores da demanda. 1 Demanda Quais os critérios que você usa ao efetuar suas compras? Você pensa primeiro nos preços? Na Teoria do Consumidor, as escolhas ocorrem a partir da relação entre preços, quantidades e preferências dos consumidores. Juntas, estas variáveis determinam os níveis gerais de produtos e preços dos bens a serem absorvidos pelos consumidores. Devemos, porém, assumir certas hipóteses que ajudarão a compreender o processo de esco- lha do consumidor, dentro do modelo conhecido como concorrência perfeita. São elas, segundo Varian (2015): • a demanda dos bens é determinada dentro de seu respectivo mercado; • a demanda é controlada pelos consumidores que absorverão estes bens; • não há interferência do Estado; • o mercado deve ser competitivo, ou seja, há muitos consumidores e nenhum deles, individualmente, tem o poder de influenciar os preços dos produtos. Nenhum dos inte- grantes do mercado, portanto, é capaz de controlar os preços sozinho; • os produtos são homogêneos entre si, isto é, não se diferenciam em função de marca, cor, sabor, dentre outros fatores. SAIBA MAIS! Outras referências a respeito da organização do modelo de concorrência perfeita e das relações de produção podem ser encontradas no artigo de Jacques Kerstenetzky, “Organização empresarial em Alfred Marshall”. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/ee/v34n2/v34n2a06.pdf>. A dinâmica da demanda está descrita pela seguinte equação: Qd = Qd (P) Através desta equação, você percebe que a quantidade demandada também está diretamente relacionada ao preço do bem, porém, em uma inclinação descendente: quanto mais o preço de um bem diminui, mais os consumidores estarão dispostos a comprá-lo (PINDYCK; RUBINFELD, 2013). A demanda também está associada à utilidade, ou seja, à satisfação que os consumidores obtêm adquirindo uma certa quantidade de bens, que formam a chamada cesta de mercado, a um determinado nível de preços. Por definição, os consumidores sempre querem consumir a maior quantidade de bens possível, pois sua demanda é sempre insaciável. EXEMPLO Um consumidor médio costuma consumir cervejas e antiácidos de maneira sin- cronizada. Estes bens formam a sua cesta de mercado. Suas preferências são in- controláveis: quanto mais cerveja e antiácido ele puder adquirir, melhor será para a sua utilidade. Ele ficará cada vez mais satisfeito quanto mais puder consumir quantidades desses dois bens. O que limita e determina qual o volume de bens um consumidor poderá adquirir é a sua renda, também definida como restrição orçamentária. Observe: Figura 1 – Curvas de indiferença e restrição orçamentária Unidades de cerveja 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0 5 10 15 20 25 30 35 Un id ad es d e an tiá ci do U1 2 U2 U3 3 4 1 A B C D E F G Fonte: elaborada pelo autor, 2016. O gráfico mostra para você um mapa de indiferença, ou seja, uma combinação de curvas de indiferença que demonstram as possibilidades de consumo por parte dos agentes econômicos. As curvas de indiferença são determinadas pela utilidade dos consumidores ao demandar uma certa combinação de bens, denominada cesta de mercado, como uma que seja formada por cer- vejas e antiácidos. A reta AG que cruza o gráfico configura a renda do consumidor ou a sua restrição orçamen- tária. Ele está limitado a consumir bens de acordo com a sua renda, ou seja, qualquer combinação de bens que esteja abaixo da reta ou sobre ela poderá ser consumida por ele. Como o consumidor deseja sempre maximizar a sua utilidade, ele consumirá até o limite de sua renda. Veja que, na figura “Curvas de indiferença e restrição orçamentária”, a curva de indiferença que resume essa situação é a U2. A curva de indiferença que tangencia a reta de restrição orçamentária em um ponto (no caso, o ponto 1, referente à cesta de mercado D) determina as quantidades de bens que serão efetiva- mente demandadas pelo consumidor, pois, nesse ponto, sua utilidade, sua satisfação com a aqui- sição desses bens está maximizada. Cabe ainda verificar as situações alternativas: no ponto 2, há renda para a aquisição da cesta, mas a utilidade da curva U1 não é máxima do ponto de vista do consumidor – há opções melhores, como a curva U2, na qual o ponto 3 não pode ser alcançado, pois o consumo geraria a mesma utili- dade ao consumidor, mas a sua renda é insuficiente para isso. Já a curva U3, que contém o ponto 4, resume uma utilidade ainda maior ao consumidor, mas sua renda também não é compatível com esse consumo. Deste modo, mudanças na renda do consumidor têm capacidade de deslocar a sua reta de restrição orçamentária para patamares superiores. Na mesma imagem, veja que a curva U3, que antes não podia ser “aproveitada”, torna-se um ponto de maximização de utilidade, se a renda do consumidor for reajustada de modo a abranger a curva U3 (PINDYCK; RUBINFELD, 2013). EXEMPLO Suponha o caso de uma função de demanda dada por Qd = 500 – 2p. Neste caso, a renda do consumidor é de $ 500. O gráfico de demanda estará dado como se segue: Figura 2 – Curva de demanda Qd = 500 – 2p P Q250 500 Fonte: elaborada pelo autor, 2016. Perceba que, para cada alteração de preços, haverá uma mudança de quantidades demandadas ao longo da curva. O consumidor pode, com sua renda, demandar até 250 unidades desse bem. Contudo, se o preço aumentar, haverá uma queda corres- pondente de consumo. Suponha que o preço do bem seja de $ 4. Neste caso, ele poderá demandar até 125 unidades deste produto. Observe que a mudança de preços gera deslocamentos ao longo da curva de demanda. Por outro lado, note que mudanças na renda formam novas curvas de demanda, de acordo com o conceito abordado anteriormente de restrição orçamentária. 2 Curva de demanda A curva de demanda é descrita pelo gráfico a seguir: Figura 3 – Curvas de demanda por bens Preço (P) Quantidade (Q)Q1 D1 D2 P1 P2 Q2 Fonte: elaborada pelo autor, 2016. Conforme você verifica na análise da demanda, o comportamento dos agentes reage ao nível geral de preços, mas também em relação a uma variação dos níveis de renda. Em outras palavras, caso haja uma diminuição nos preços de um bem, haverá um deslocamento dos processos de escolha dos consumidores ao longo da curva D1 – eles consumirão mais unidades. Porém, se houver alguma mudança que interfira na capacidade de compra desses consu- midores – como, por exemplo, um aumento de salários – haverá um deslocamento da curva de demanda, criando-se, então, a curva D2, descrita no gráfico “Curvas de demanda por bens”. FIQUE ATENTO! A curva de demanda pode ser descrita matematicamente através da seguinte ex- pressão: Qd = D (P,Y) Nela, você observa que as quantidades demandadas de produto são função direta do nível de preços e da renda disponível do consumidor (Y), conforme o conceito de restrição orçamentária. Para traçar a curva de demanda, você deve considerar que a renda do consumidor é fixa. Por fim, lembre-se de que “quantidades demandadas” não têm o mesmo significado de “demanda”. Mudanças nos preços impactam quantidades de bens demandadas, não a demanda em si. Esta só é alterada mediante alterações da renda dos agentes. FIQUE ATENTO! A demanda pode ter o seu perfil alterado em função de medidas que alterem as preferências do consumidor.Propagandas e trabalhos de marketing, por exemplo, podem gerar mudanças na demanda, com consumidores demandando maiores quantidades de bens. 3 Curva de demanda do mercado Agora que você já tomou conhecimento do comportamento do processo de escolha do con- sumidor em função de sua demanda individual, compreenderá melhor como estas demandas se traduzem no comportamento do próprio mercado. É importante ressaltar, de uma forma sintética, que a demanda do mercado corresponde às demandas de todos os agentes, ou seja, trata-se de um somatório de suas demandas (PINDYCK; RUBINFELD, 2013). SAIBA MAIS! Como você pode perceber, estamos analisando apenas um tipo de mercado, um tipo de bem. Na vida real, há uma dependência entre produtos, tornando o cálculo bem mais complexo – encontrar o balanceamento entre quantidades e preços de todos os produtos do mercado é o que chamamos de conceito microeconômico de equilíbrio geral. Figura 4 – Curvas de demanda individuais e de mercado Preço Quantidade D1 DD3D2 Fonte: elaborada pelo autor, 2016. No gráfico “Curvas de demanda individuais e de mercado”, você observa, de forma simplifi- cada, a formação da curva de demanda do mercado. A curva D expressa a demanda de um soma- tório de consumidores, representados pelas curvas D1, D2 e D3. Quando se agregam as curvas de demanda de todos os consumidores em um mercado de bens, esse somatório representará a curva de demanda do mercado. FIQUE ATENTO! A discussão proposta no conceito de curva de demanda de mercado está associa- da à noção de um agente representativo: você sabe que os consumidores sempre estarão procurando satisfazer a sua utilidade, dada certa restrição orçamentária – este processo, por sua vez, é efetuado por todos os consumidores. Desta forma, pode-se deduzir que todos os consumidores, sob concorrência perfeita, fazem a mesma escolha. Sendo assim, a demanda de um consumidor individual está ligada à demanda de todo o mercado. Fechamento Você concluiu aqui mais uma aula importante da Teoria do Consumidor associada ao pro- cesso de escolha dos consumidores no mercado e suas implicações. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • verificar que o comportamento da demanda é de tendência descendente em função de oscilações do nível geral de preços; • entender que a maximização da utilidade do consumidor determina as quantidades de bens que virá a demandar; • compreender que a curva de demanda do mercado consiste em um somatório das curvas de demanda individuais. Referências KERSTENETZKY, Jacques. Organização Empresarial em Alfred Marshall. In: Estudos Econômicos. São Paulo, v. 34, n. 2, p. 369-392, abr-jun 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ee/v34n2/ v34n2a06.pdf>. Acesso em: 16 dez. 2016. PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. Pearson: São Paulo, 2013. ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. 21 ed. São Paulo: Atlas, 2016. VARIAN, Hal Ronald. Microeconomia – uma abordagem moderna. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
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