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A demanda e sua relação com os preços dos bens e serviços José Tadeu de Almeida Introdução Nesta aula, traremos conceitos relacionados aos tipos de bem que definem a demanda do consumidor. Verificaremos que nem sempre todos os bens têm as mesmas propriedades do ponto de vista da demanda e também da renda. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • entender a relação entre a quantidade demandada e o preço de outros bens e serviços; • compreender a relação entre a demanda por um bem e a demanda do consumidor. 1 Bens substitutos, complementares e independentes No mercado de bens, os consumidores costumam ordenar sua demanda a partir de uma série de cestas de mercado dispostas em um modelo denominado curva de indiferença. Através dela, os con- sumidores, em geral, estão dispostos a ordenar suas preferências no sentido de optar, mais ou menos, por trocar o consumo de um bem por outro, mediante mudanças, por exemplo, no preço de um bem. FIQUE ATENTO! Um consumidor possui múltiplas curvas de indiferença, sendo cada uma delas as- sociada a certo grau de utilidade, ou seja, ao grau de bem-estar que ele obtém con- sumindo cada um daqueles bens. Os formatos das curvas de indiferença, porém, não são sempre os mesmos. Há, no mercado, diversos produtos pelos quais os consumidores estão mais ou menos dispostos a negociar, isto é, a abrir mão do consumo de um bem em função da alteração de seus preços, preferindo o con- sumo de outro. Isso, em termos da sua demanda em relação à formação da sua cesta de mercado. Pense agora em algum tipo de produto do seu dia a dia do qual você não abre mão de consumir sem demandar outro produto imediatamente. EXEMPLO Muito citado nos estudos de Teoria do Consumidor, que investiga o comportamen- to e as preferências dos consumidores em torno da aquisição de bens em seus mercados, determinando, assim, a demanda por esses bens, é o exemplo dos sa- patos. Sempre que um consumidor adquire um calçado para o pé esquerdo, ele também adquire outro para o pé direito. Mesmo que haja milhares de tipos de cal- çados para o pé direito, ele aceitará trocar todos eles por uma única unidade para o pé esquerdo, que maximiza a sua satisfação. Figura 1 – Escolhas de consumo Fonte: artmin/shutterstock.com O grau de substituição de um produto por outro, que o consumidor está disposto a fazer diante de uma mudança no nível de preços, permite que definamos se determinados bens são melhores substitutos uns dos outros. Neste sentido, dois bens são substitutos perfeitos quando o consumidor é plenamente indi- ferente a consumir mais ou menos uma unidade dos produtos que compõem a sua cesta de mercado. Por exemplo, quando um consumidor é indiferente a consumir refrigerantes do tipo cola ou do tipo tutti-frutti, ele está disposto, sem grandes problemas, a consumir um copo a mais de refrigerante do tipo cola, abrindo mão de um copo de refrigerante tutti-frutti. Você pode analisar as curvas de indiferença entre bens substitutos perfeitos através do gráfico a seguir. Figura 2 – Curvas de indiferença sob bens substitutos perfeitos Qb Qa 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 Fonte: elaborada pelo autor, 2016. Através deste gráfico, você pode analisar o comportamento do consumidor em relação a bens que lhe são substitutos perfeitos – como no caso dos refrigerantes, que mencionamos há pouco. FIQUE ATENTO! Não é necessário que a variação de preços seja de uma unidade monetária; basta que a relação entre a demanda desses bens seja sempre constante ao longo das curvas de indiferença. Por outro lado, há bens cuja demanda por um consumidor está fortemente, ou mesmo total- mente, atrelada ao consumo de outro bem. Trata-se do conceito de bens complementares: dois produtos serão complementares entre si quando um consumidor estiver menos ou não disposto a abrir mão de um bem em troca de outro, quando houver mudanças do nível de preços (PINDYCK; RUBINFELD, 2013). E, ainda, serão complementares perfeitos quando não houver disposição à troca, a mudanças no consumo, como você pode observar a partir do próximo gráfico. Figura 3 – Curva de indiferença sob bens complementares perfeitos Qb Qa 1 2 3 1 2 3 Fonte: elaborada pelo autor, 2016. Neste gráfico, você observa o comportamento da demanda de um consumidor em torno de dois bens que são complementares perfeitos entre si: este consumidor não terá satisfação alguma em adquirir uma unidade adicional de um bem (sapatos de pé esquerdo, por exemplo) em troca de outro. Logo, as curvas de indiferença formam um ângulo reto. Todos os bens que um consumidor possa demandar no momento de formar sua cesta de mercado podem, portanto, possuir algum grau de substituição entre si. Serão as preferências do consumidor que determinarão, diante de mudanças em um dado nível de preços, as quantidades de produtos que ele demandará. Esta análise, por sua vez, considera que há um grau de dependência entre escolhas de bens em um mercado. Porém, há produtos que, em função de uma série de variáveis, como preço, finali- dade de uso (como bens de consumo duráveis ou não duráveis) e grau de diferenciação, por exem- plo, possuem perfis de demanda muito diferentes; em outras palavras, a demanda de um bem em função de mudanças no seu preço não exerce efeito significativo sobre o consumo do outro bem. Neste caso, estamos falando de bens que são independentes. EXEMPLO Suponha uma cesta de mercado composta por televisores com tecnologia 4K e pão. Bem, um televisor com essa tecnologia ainda é um bem de demanda razoavelmente limitada em função de seu alto custo e tecnologia de geração de conteúdo restrita a poucos canais. Já o pão é um alimento básico da mesa do brasileiro e sua demanda é contínua. Veja que, deste modo, a demanda de televisores 4K não é significativa- mente influenciada pela demanda por pão, caso o pão tenha seus preços alterados. O que devemos enfatizar, por fim, é uma “análise central”, qual seja, uma alteração no nível de preços trará uma mudança nas quantidades demandadas dos bens, pois o chamado equilí- brio de mercado foi alterado, ou seja, as relações entre preços de um bem e quantidades deman- dadas de outro foram modificadas. Em termos de dois bens, A e B, você verifica o impacto nas quantidades demandadas do bem B perante a mudança de preços do bem A. Deste modo, per- ceba que é através da análise das reações dos consumidores perante o consumo dos bens dada a mudança de preços que você pode avaliar se os bens que ele demanda são complementares, substitutos ou independentes. SAIBA MAIS! No limite, ou seja, considerando-se todas as alternativas possíveis, todos os bens têm algum grau de substituição ou complementaridade entre si, ou mesmo são totalmente independentes, excetuando-se os bens que são indesejáveis à sociedade, pois sua demanda é fortemente negativa, como, por exemplo, o lixo nuclear. 2 Bens normais e inferiores Até aqui, você verificou que há uma correlação entre o perfil da demanda pelos produtos em função de suas características para o consumidor que determinará se esses bens serão substitu- tos ou complementares a ele. No entanto, você pode perceber que os diferentes produtos no mercado também estão sujeitos a uma variável que determina a escolha do consumidor, qual seja, a sua renda individual, consideran- do-se constantes todas as outras variáveis. Assim, na formação da demanda, a renda do consumidor torna-se uma variável importante. Pode-se, portanto, classificar os diferentes tipos de bens em relação à disposição do consumidor de consumir mais ou menos quantidades desses bens diante de variações da sua renda. Iniciemos nossa classificação com os chamados bens normais. Um bem normal é aquele cuja demanda varia de maneira proporcional à renda do consumidor. Quando a sua renda aumenta,o consumo cresce, e vice-versa. Um bem inferior, por sua vez, é aquele cuja demanda reage de forma menos intensa a varia- ções na renda do indivíduo. Um exemplo de bem inferior, para alguns consumidores, é o macar- rão instantâneo (lamen): quanto mais a renda do consumidor se elevar, o consumo de macarrão instantâneo tenderá a não aumentar na mesma proporção, ou mesmo diminuir conforme a sua preferência de consumo, pois sua cesta de mercado poderá incluir, agora, novas opções, como massas prontas, macarrão ou lasanha, por exemplo (PINDYCK; RUBINFELD, 2013). Figura 4 – Macarrão instantâneo: normal ou inferior a partir de cada consumidor Fonte: ArtCookStudio/Shutterstock.com FIQUE ATENTO! Bens inferiores não pressupõem má qualidade, que sejam ruins ou que tenham al- guma característica que os depreciem. Tratam-se apenas de bens que não reagem de maneira igualmente proporcional ao aumento da renda do consumidor e a pro- porção em que se dá essa oscilação na demanda é mensurada a partir do próprio consumidor e de suas preferências individuais. Em resumo, como você pôde verificar, a identificação entre os bens normais e inferiores é obtida através da relação entre a renda do consumidor e a quantidade demandada de um bem. Na verdade, consumidores de renda mais baixa tenderão a classificar todos (ou ao menos a maioria) dos bens que consomem como normais, pois alterações pequenas na renda conduzirão a aumen- tos proporcionais do consumo desses bens. Mas, se a renda se elevar de forma mais significativa, alguns desses bens vão deixando de ser normais e passando a ser inferiores, conforme as prefe- rências desse consumidor. SAIBA MAIS! O comportamento da demanda dos agentes no mercado de bens em relação à variação do nível de renda é medido pela curva de Engel, em homenagem a Ernest Engel (1821-1896). Para saber mais sobre o tema, consulte os dois primeiros tópicos do artigo, em espanhol, de Rodrigo Arancibia. Disponível em: <http://ri.conicet.gov.ar/bitstream/handle/11336/6510/CONICET_ Digital_Nro.8720_A.pdf?sequence=2&isAllowed=y>. Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: • estudar o comportamento do consumidor e seu perfil de demanda no mercado de bens em função do tipo de bens e da sua renda individual; • verificar que a demanda do consumidor entre bens de diversas naturezas é influenciada pelo grau de substituição destes bens entre si, através do conceito de bens substitutos, complementares e independentes; • aprender que a renda do consumidor exerce influência sobre a demanda pela quanti- dade de bens demandados de forma mais ou menos proporcional, a partir dos conceitos de bens inferiores e bens normais. Referências ARANCIBIA, Rodrigo García. Sobre las Curvas de Engel. Una breve revisión de suevolución histó- rica. In: Ensayos de Economia. n. 42, jan-jun 2013. Disponível em: <http://ri.conicet.gov.ar/bits- tream/handle/11336/6510/CONICET_Digital_Nro.8720_A.pdf?sequence=2&isAllowed=y>. Acesso em: 15 dez. 2016. PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2013. VARIAN, Hal R. Microeconomia – uma abordagem moderna. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
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