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Autores: Profa. Angélica Segóvia de Araujo Prof. Jorge Alexandre da Silva Colaboradores: Profa. Vanessa Santhiago Prof. Mário André Sigoli Ginástica Artística Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Professores conteudistas: Angélica Segóvia de Araujo/Jorge Alexandre da Silva Angélica Segóvia de Araujo Graduada em Educação Física pela Fefisa (1984); Pós‑graduada em Ginástica Artística pela USP (1985); Docente da Universidade Paulista (UNIP) desde 2011; Professora de Ginástica Artística do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo desde 1989; Árbitra Estadual de Ginástica Artística; Coordenadora da Liga Escolar de Ginástica Artística de São Paulo desde 2010. Jorge Alexandre da Silva Graduado em Educação Física pela Osec (1989); Pós‑graduado em Treinamento Desportivo pela Universidade Gama Filho (2007); Docente da Universidade Paulista (UNIP) desde 2006; funcionário público concursado da Prefeitura Municipal de Barueri desde 1998, atuando nas funções de treinador de Ginástica Artística de 1998 a 2009, Gerente Esportivo de 2009 a 2015 e Diretor de Esportes em 2015. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) A663g Araújo, Angélica Segóvia de. Ginástica Artística. / Angélica Segóvia de Araújo Jorge Alexandre da Silva. – São Paulo: Editora Sol, 2017. 120 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIII, n. 2‑033/17, ISSN 1517‑9230. 1. Ginástica artística. 2. Código de pontuação. 3. Metodologia de ensino. I. Silva, Jorge Alexandre da. II. Título. CDU 796.412.2 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice‑Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice‑Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice‑Reitor de Pós‑Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice‑Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Vitor Andrade Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Sumário Ginástica Artística APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 ORIGENS DA GINÁSTICA ARTÍSTICA ........................................................................................................ 11 1.1 Definindo conceitos ............................................................................................................................ 11 1.2 A ginástica desde a Antiguidade .................................................................................................... 12 1.3 A ginástica artística na atualidade................................................................................................ 13 1.3.1 A Federação Internacional de Ginástica e suas afiliadas ........................................................ 13 1.3.2 A ginástica artística pelo mundo ..................................................................................................... 15 1.3.3 A evolução técnica da ginástica artística brasileira .................................................................. 16 1.3.4 A distribuição da ginástica artística pelo Brasil ......................................................................... 18 2 HISTÓRIA DA GINÁSTICA ARTÍSTICA ....................................................................................................... 20 2.1 Aspectos históricos da ginástica artística no Brasil ............................................................... 25 2.2 Aspectos históricos da Federação Internacional de Ginástica (FIG) ................................ 27 2.3 A ginástica artística nas olimpíadas ............................................................................................. 28 3 APARELHOS E PROVAS DA GINÁSTICA ARTÍSTICA............................................................................. 30 3.1 Prova de exercícios de solo............................................................................................................... 30 3.1.1 A prova de solo masculino ................................................................................................................. 32 3.1.2 A prova de solo feminino .................................................................................................................... 32 3.1.3 Origem da prova de solo ...................................................................................................................... 33 3.2 Prova de salto sobre a mesa ............................................................................................................ 33 3.2.1 Origem da prova de salto .................................................................................................................... 36 3.3 As barras paralelas simétricas ......................................................................................................... 38 3.3.1 Origem das paralelas ............................................................................................................................. 39 3.4 A prova de cavalo com alças ........................................................................................................... 39 3.4.1 A origem do cavalo com alças ........................................................................................................... 40 3.5 A prova de argolas ............................................................................................................................... 40 3.5.1 A origem das argolas ............................................................................................................................. 41 3.6 A prova de barra fixa ........................................................................................................................... 41 3.6.1 A origem da barra fixa .......................................................................................................................... 42 3.7 A trave de equilíbrio ............................................................................................................................ 42 3.7.1 A origem da trave de equilíbrio ........................................................................................................ 43 3.8 As barras paralelas assimétricas ..................................................................................................... 44 3.8.1 A origem das barras paralelas assimétricas ................................................................................. 45 Re vi sã o: V ito r - D ia gram aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 3.9 Aparelhos auxiliares ............................................................................................................................ 46 3.9.1 Minitrampolim ......................................................................................................................................... 47 3.9.2 Trampolim acrobático (cama elástica) ........................................................................................... 48 3.9.3 Tumbletrack ............................................................................................................................................... 48 3.9.4 Colchões ..................................................................................................................................................... 50 4 SEGURANÇA E AUXÍLIO MANUAL ............................................................................................................ 53 4.1 As formas de auxílio na ginástica artística ................................................................................ 53 4.2 O auxílio manual e o bom ajudante ............................................................................................. 54 4.3 Acidentes na ginástica artística ..................................................................................................... 55 4.4 Definindo prioridades ......................................................................................................................... 58 Unidade II 5 A PRÁTICA DA GINÁSTICA ARTÍSTICA E SEUS BENEFÍCIOS ............................................................ 63 5.1 Ginástica artística – atividade física ............................................................................................. 64 5.1.1 Ginástica artística – atividade física formativa .......................................................................... 64 5.1.2 Ginástica artística – preparação física .......................................................................................... 65 5.1.3 Ginástica artística ao alcance de todos (saúde) ......................................................................... 66 5.2 Ginástica artística – esporte ............................................................................................................ 66 5.2.1 Ginástica artística – iniciação esportiva ....................................................................................... 67 5.2.2 Ginástica artística – nível intermediário ....................................................................................... 68 5.2.3 Ginástica artística – esporte de alto rendimento ...................................................................... 68 5.3 A importância da ginástica artística ............................................................................................ 69 5.3.1 A contribuição da ginástica artística .............................................................................................. 69 6 METODOLOGIAS DE ENSINO ....................................................................................................................... 71 6.1 Terminologias ......................................................................................................................................... 72 6.1.1 As posições básicas do corpo ............................................................................................................. 72 6.1.2 A relação executante‑aparelho ......................................................................................................... 72 6.1.3 O sentido do movimento ..................................................................................................................... 73 6.1.4 Descrição de exercícios ......................................................................................................................... 73 6.1.5 Posicionamento das mãos em suspensão ..................................................................................... 74 6.2 Padrões básicos de movimento ...................................................................................................... 76 6.2.1 Bases mecânicas da ginástica artística .......................................................................................... 83 6.3 As ações motoras (Leguet) ................................................................................................................ 84 6.4 As famílias (Carrasco) ......................................................................................................................... 86 Unidade III 7 A PRÁTICA DA GINÁSTICA ARTÍSTICA E SUAS RELAÇÕES COM O CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO PRATICANTE ......................................................................................................... 93 7.1 Por que os ginastas são baixos? ..................................................................................................... 93 7.2 Influências da prática da ginástica artística no desenvolvimento do praticante ...... 94 7.3 Por que a prática da ginástica artística é iniciada muito cedo? ....................................... 95 7.4 Fatores que podem influenciar no crescimento e na maturação dos ginastas .......... 95 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 7.4.1 Iniciação precoce com cargas desproporcionais ........................................................................ 95 7.4.2 Dieta alimentar hipocalórica .............................................................................................................. 96 7.4.3 Treinamento excessivo .......................................................................................................................... 96 7.4.4 Prevenção e cuidados ........................................................................................................................... 97 8 CÓDIGO DE PONTUAÇÃO: PRINCÍPIOS E COMPOSIÇÃO DE SÉRIES ........................................... 98 8.1 Estrutura da ginástica artística em competições ..................................................................100 8.1.1 Composição de uma equipe .............................................................................................................100 8.1.2 Arbitragem ...............................................................................................................................................101 9 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 APRESENTAÇÃO Caro aluno, Seja bem‑vindo ao programa de estudo EaD! Nesta disciplina você vai compreender o conteúdo da ginástica artística com perspectivas pedagógicas de formação do cidadão e transformação social, bem como refletir sobre os aspectos pedagógicos e científicos do treinamento esportivo que possam facilitar e aprimorar o aprendizado. O objetivo deste livro‑texto é inserir os alunos no universo cultural da ginástica artística. Ainda, pretende‑se facilitar o acesso aos conhecimentos básicos necessários para que sejam capazes de desenvolver e aplicar programas de iniciação de ginástica artística, proporcionando a condução da atividade de modo seguro e consciente, adaptando‑a de forma apropriada às diferentes situações, faixas etárias e condições dos praticantes, despertando a consciência crítica aos benefícios que a atividade pode proporcionar aos seus agentes. Tem o intuito de fazer com que o aluno reconheça a ginástica artística como um conteúdo da Educação Física e oferecer conhecimentos técnicos e científicos a respeito da ginástica artística e sua aplicabilidade no mercado de trabalho. Ainda, almeja apresentar seus conceitos afins e a importância de conhecer e utilizar a sua terminologia. Alémde acompanhar as atividades propostas neste livro‑texto, é vital que o aluno consulte as referências bibliográficas indicadas, pois o material estudado não encerra o assunto. INTRODUÇÃO A ginástica artística é uma modalidade competitiva reconhecida pela Federação Internacional de Ginástica (FIG), dividida em gênero masculino e feminino. A ideia deste livro‑texto é demonstrar o percurso e desenvolvimento dessa categoria desde a Antiguidade e seu início na Europa – a partir da escola alemã como a conhecemos hoje. Ainda, situar os alunos historicamente nas ocorrências ao longo dos tempos, as modificações de seu código de pontuação impostas pelas evoluções que a modalidade teve e seus métodos desenvolvidos para aprimoramentos. Como trabalhar com a ginástica artística nas diferentes possibilidades de atuação de um educador físico, em clubes, academias, na iniciação esportiva, como auxiliar outras modalidades esportivas e atividades extracurriculares. Essas são algumas das questões que este livro‑texto visa elucidar. Apresentaremos a origem da ginástica artística, seus conceitos, sua prática desde sua origem e como ela está nos moldes atuais, suas confederações e onde é mais atuante. Destacaremos seus aspectos históricos – da Alemanha até sua chegada ao Brasil – e a origem da FIG. Vamos conhecer os aparelhos e provas que pertencem ao gênero feminino e masculino da ginástica artística. 10 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Abordaremos a prática da ginástica artística e seus benefícios, acentuando a importância de se aprender ginástica artística e o seu valor no desenvolvimento motor da criança. Conheceremos seu desenvolvimento nos aspectos motor, psico‑afetivo e cognitivo. Analisaremos os vários métodos de treinamento, além de abordar um tema que é essencial para a prática dessa modalidade, a segurança. Vamos estudar um tema polêmico para a ginástica artística, o crescimento estatural, assunto muito discutido. Por fim, falaremos sobre seu código de pontuação e suas modificações ao longo dos anos. 11 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 GINÁSTICA ARTÍSTICA Unidade I 1 ORIGENS DA GINÁSTICA ARTÍSTICA 1.1 Definindo conceitos A ginástica artística (GA), também conhecida no Brasil como ginástica olímpica, é uma das modalidades gímnicas de competição reconhecidas pela FIG. É dividida em GAF ou ginástica artística feminina (em inglês WAG) e GAM, ginástica artística masculina (MAG, em inglês), e a FIG considera os gêneros masculino e feminino como modalidades independentes. É um dos mais tradicionais esportes olímpicos, estando presente desde a primeira edição dos jogos da era moderna, 1896. Exige de seus praticantes muita força, flexibilidade, equilíbrio e, principalmente, coordenação motora. É necessária muita coragem e determinação por parte do praticante, pois os desafios são constantes e as exigências da modalidade requerem muitas horas de treinamento e dedicação. É um esporte individual, apesar de haver premiação por equipes nas competições. Na GA o atleta se utiliza de grandes aparelhos fixos como base para a realização de suas rotinas (ou séries), podendo estar apoiado, equilibrado ou suspenso no equipamento. As provas são diferentes para homens e mulheres: • homens: exercícios de solo, cavalo com alças, argolas, salto sobre a mesa, barras paralelas simétricas e barra fixa; • mulheres: salto sobre a mesa, barras paralelas assimétricas, trave de equilíbrio e exercícios de solo. Nas competições organizadas pela Confederação Brasileira de Ginástica, entidade responsável pela ginástica artística em nosso país, é adotada a seguinte divisão por categoria de idade: • feminino: pré‑infantil: 9 e 10 anos; infantil: 11 e 12; juvenil 13 a 15; adulto: 16 em diante; • masculino: pré‑infantil: 9 a 11; infantil: 12 a 14; juvenil 15 a 17; adulto: 18 em diante. A matriz da ginástica artística é atribuída ao pedagogo alemão Johann Friedrich Ludwig Christoph Jahn, ou simplesmente Ludwig Jahn, que desenvolveu um método de treinamento físico visando à formação de jovens soldados, utilizando como referências as mais diversas atividades e equipamentos, alguns já existentes e outros que ele próprio desenvolveu. 12 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Unidade I Saiba mais Muitas informações sobre a ginástica artística podem ser encontradas nos sites das entidades oficiais da modalidade em âmbito regional, nacional e internacional: <www.fig‑gymnastics.com>. <www.cbginastica.com.br>. <http://fpginastica.com.br/>. 1.2 A ginástica desde a Antiguidade A prática de exercícios metodizados visando à melhoria da condição física ou mesmo o entretenimento remonta o início das civilizações humanas. Egípcios, gregos, romanos, chineses, indianos e tantas outras culturas desenvolveram metodologias e termos que até hoje são utilizados em nossas modalidades de ginástica. Nas pirâmides, tumbas e papiros há inscrições e desenhos que nos mostram que os egípcios faziam exercícios acrobáticos muito parecidos com certos movimentos ginásticos da atualidade. Há 5.000 anos equilibrismo e contorcionismo eram utilizados na China para o treinamento de guerreiros e como forma de entretenimento. Gregos e egípcios também realizam números de equilibrismo com bolas, algo muito similar à ginástica rítmica atual. Aliás, os gregos cunharam a palavra ginástica – gymnástiké, que em sentido literal significa “exercitar‑se nu”, que era a forma como eles costumavam se exercitar. Os romanos utilizaram a ginástica para a preparação de soldados, sendo que o cavalo com alças atual e o antigo cavalo de salto são derivações do cavalo de pau usado por esse povo. Exercícios executados em barras já eram feitos por gregos, chineses e até esquimós, que já efetuavam movimentos de rotação em torno delas, os famosos giros gigantes. A partir de 1800 surgem na Europa movimentos que visavam à sistematização dos exercícios físicos para os mais variados fins, são as chamadas escolas europeias de ginástica. Estudiosos da Suécia, França, Inglaterra e Alemanha buscaram, através das atividades gímnicas, o desenvolvimento das raças, a prevenção de doenças, o treinamento de soldados, a manutenção da saúde dos trabalhadores, entre outras atribuições. Foi na escola alemã que se desenvolveu a ginástica artística, idealizada por um de seus mais ilustres e controvertidos expoentes, o pedagogo Johann Friedrich Ludwig Christoph Jahn, pioneiro dessa modalidade olímpica. 13 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 GINÁSTICA ARTÍSTICA Figura 1 – Ludwuig Jahn em três fases de sua vida Ludwig Jahn desenvolveu o seu método de treinamento físico, o turnkunst, nome que cunhou em substituição à palavra ginástica, um termo estrangeiro. Jahn, por ser um nacionalista convicto, não o aceitava. Seu trabalho se tornou a semente da ginástica artística atual. Da Alemanha a ginástica de Jahn se expandiu para o restante do mundo, e hoje é um dos esportes mais praticados e está presente em todos os continentes. 1.3 A ginástica artística na atualidade 1.3.1 A Federação Internacional de Ginástica e suas afiliadas Atualmente a Ginástica Artística é organizada e difundida por diversas entidades esportivas oficiais e não oficiais, seja em âmbito regional, nacional ou mundial. A mais importante delas é a FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE GINÁSTICA, sediada em Lausanne na Suíça. A entidade possui um comitê para cada uma das sete modalidades de ginástica pelas quais responde, a saber: Ginástica para Todos (ou Ginástica Geral), Ginástica Artística Feminina, GinásticaArtística Masculina, Ginástica Rítmica, Ginástica Acrobática, Ginástica de Trampolim e Ginástica Aeróbica Esportiva. Esses comitês são responsáveis pela elaboração e revisão de regras, organização dos eventos, pelos cursos de formação de árbitros e treinadores e demais atividades relacionadas às atividades gímnicas. 14 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Unidade I Observação A FIG é a mais antiga federação esportiva do mundo (foi criada em 1881), a princípio com o nome de Federação Europeia de Ginástica. Saiba mais PÚBLIO, N. S. Evolução histórica da ginástica olímpica. Guarulhos (SP): Phorte, 1998. Federação Internacional de Ginástica União Panamericana de Ginástica União Europeia de Ginástica União Africana de Ginástica União Asiática de Ginástica Figura 2 – Organograma das entidades continentais subordinadas à FIG e responsáveis pela organização das ginásticas em âmbito continental e pelas federações nacionais FIG – Federação Internacional de Ginástica CBG – Confederação Brasileira de Ginástica Federações estaduais de ginástica UPAG – União Panamericana de Ginástica Entidade responsável pela organização e desenvolvimento das modalidades ginásticas em nível mundial, reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) Entidade responsável pela organização e desenvolvimento das modalidades ginásticas no Brasil, reconhecida pela FIG e pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) Entidades responsáveis pela organização e desenvolvimento das modalidades ginásticas nos estados da federação, reconhecidas pela Confederação Brasileira de Ginástica Entidade responsável pela organização e desenvolvimento das modalidades ginásticas nas américas, reconhecida pela FIG e pelo COI Figura 3 – Hierarquia das entidades – da FIG às federações estaduais brasileiras 15 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 GINÁSTICA ARTÍSTICA No Brasil a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) é a entidade responsável pela regulamentação de todas as competições oficiais das ginásticas competitivas e também dos eventos oficiais de Ginástica para Todos, definindo as normativas e elaborando os calendários dos eventos nacionais, competitivos ou não. A CBG é filiada à FIG desde 1951 e é subordinada ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Hoje a CBG conta com 24 federações estaduais filiadas. A) B) Figura 4 – Logotipos oficiais da Federação Internacional de Ginástica (A) e da Confederação Brasileira de Ginástica (B) Além das entidades oficiais, existem as ligas e federações não oficiais que procuram atender a seguimentos específicos, como federações escolares, ligas regionais e outros. 1.3.2 A ginástica artística pelo mundo Até o início da década de 1990, a ginástica artística ainda era muito concentrada na Europa e na Ásia. Os países da Cortina de Ferro, formada pela extinta União Soviética, e nações do Leste Europeu dominavam o cenário internacional. Na Ásia a já tradicional escola japonesa e a emergente China também apresentavam bons resultados em competições. Com o fim da Guerra Fria e o início de movimentos separatistas – que deram fim à União Soviética e criaram o sistema socialista em alguns países, muitas nações abriram suas economias e suas fronteiras. Então, diversos treinadores e ginastas de países desse antigo bloco puderam migrar para outras terras em busca de melhores oportunidades e condições de vida. Os Estados Unidos receberam muitos desses treinadores. Entre os primeiros a chegar estava Bela Karolyi, técnico da romena Nádia Comaneci, ginasta campeã olímpica em Montreal em 1976 com apenas 14 anos e primeira ginasta a alcançar a nota dez na ginástica. Karolyi foi um dos responsáveis por elevar os EUA ao status de potência olímpica nesse esporte. Formou grandes ginastas: Mary Lou Retton, Betty Okino, Kim Zmeskal, Kristie Phillips e Kerri Strug, medalhistas em olimpíadas e campeonatos mundiais. Esse êxodo de treinadores do bloco soviético, além de promover novos espaços para a prática da modalidade, ajudou a elevar o nível esportivo de muitos países, em especial no continente americano. Os mapas a seguir ilustram bem a evolução da ginástica nas américas após a chegada dos estrangeiros: 16 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Unidade I Campeonato mundial de ginástica artística de 1989 – Distribuição global de medalhas Europa ...........................33 medalhas Ásia ................................... 9 medalhas América do Norte ......... 1 medalha Figura 5 – Fim do século XX: a ginástica artística concentrada na Europa e parte da Ásia Campeonato mundial de ginástica artística de 2013 – Distribuição global de medalhas Europa ........................... 11 medalhas Ásia ................................. 11 medalhas América do Norte .....13 medalhas America do Sul ............... 1 medalha Figura 6 – Grande evolução da ginástica na América e melhor distribuição pela Europa e Ásia Lembrete A Federação Internacional de Ginástica (FIG) é a entidade responsável pelas ginásticas competitivas em nível mundial, e a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) exerce o mesmo papel em nível nacional. 1.3.3 A evolução técnica da ginástica artística brasileira A exemplo do que ocorreu em outras partes do mundo, muitos treinadores estrangeiros aportaram no Brasil após a derrocada do comunismo. Ucranianos, romenos, russos, bielo‑russos e cubanos vieram trabalhar a convite de clubes e até desenvolvendo nossas seleções nacionais. 17 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 GINÁSTICA ARTÍSTICA Entre 2001 e 2008, a seleção brasileira de ginástica artística foi comandada pelo ucraniano Oleg Ostapenko, formador de diversas medalhistas olímpicas e mundiais, como Tatyana Lysenko (dois ouros olímpicos em Barcelona – 1992), Tatiana Gutsu (também dois ouros na mesma olimpíada), Lilia Podkopayeva (vice‑campeã individual geral no Mundial de 1999). No Brasil, ajudou a aprimorar a técnica de ginastas como Daiane dos Santos e Daniele Hypólito, que posteriormente tornaram‑se medalhistas mundiais. Ainda houve uma grande evolução dos resultados por equipe, inicialmente no gênero feminino e mais recentemente no masculino. Essa evolução interferiu nos resultados brasileiros em competições internacionais, trazendo visibilidade à modalidade. Atletas da ginástica se tornaram ídolos nacionais. Os irmãos Daniele e Diego Hypólito, Jade Barbosa, Daiane dos Santos e, atualmente, Arthur Zanetti, com sua inédita conquista olímpica, são inspiração para novos praticantes. Hoje a modalidade é conhecida e praticada em todo o Brasil. O quadro a seguir demonstra a evolução técnica da equipe feminina do Brasil ao longo das duas últimas décadas: Tabela 1 – Evolução dos resultados em ginástica artística feminina do Brasil em campeonatos mundiais, de 1995 a 2015 Ano País campeão Classificação do Brasil Ginasta brasileira mais bem colocada 1995 Romênia 21º Soraya Carvalho – 37º 1997 Romênia *** *** 1999 Romênia Somente individual Daniele Hypólito – 27º 2001 Romênia 11º Daniele Hypólito – 4º 2003 Estados Unidos 8º Camila Comin – 19º 2006 China 7º Daniele Hypólito – 21º 2007 Estados Unidos 5º Jade Barbosa – 3º 2009 *** (não houve CIV) Bruna Leal – 14º 2010 Rússia 10º Jade Barbosa – 15º 2011 Estados Unidos 14º Daniele Hypólito – 13º 2014 Estados Unidos 16º Daniele Hypólito – 34º 2015 Estados Unidos 9º Flavia Saraiva – 24º Fonte: Gymnasticsresults.com (16 dez. 2016). A ginástica artísticamasculina do Brasil também vem apresentando uma grande evolução, porém um pouco mais tardia que a feminina. Se a ginástica feminina tem conseguido classificar equipes completas para os jogos olímpicos desde 2004, os homens pela primeira vez tiveram uma equipe completa nos jogos do Rio de Janeiro. Foi a ginástica masculina que teve a honra de trazer a primeira medalha olímpica da ginástica brasileira, com o ouro de Arthur Zanetti na prova de argolas dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. 18 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Unidade I Apesar desses relatos, como destaca Schiavon (2013), o bom desempenho técnico de nossas equipes competitivas em eventos internacionais nos últimos anos não reflete a realidade da ginástica brasileira. Observação É importante ressaltar que a evolução da ginástica artística brasileira também é fruto de uma melhor preparação dos treinadores através de intercâmbios, maior participação em eventos internacionais e cursos. 1.3.4 A distribuição da ginástica artística pelo Brasil A ginástica artística se encontra bem difundida pelo Brasil. A região Norte é a que apresenta o menor número de entidades ligadas às federações estaduais. A região Sudeste possui o maior número de entidades federadas, e a Federação Paulista de Ginástica é a que detém o maior número de filiados. AM 3 RR 4 PA 2 MA 8 TO 4 GO 4 MS 6 SP 39 MG 15 ES 9 BA 5 CE 11 RN 18 PB 3 PE 8 AL 5 AL 5 RJ 33PR 11 SC 12 RS 21 DF 9 0 20 40 60 80 100 120 Sul Sudeste Centro‑ ‑Oeste Quantidade de filiados por região Nordeste Norte Figura 7 – Quadro de entidades filiadas às federações estaduais por região Embora haja praticantes de ginástica artística por todo o País, podemos observar uma grande desigualdade entre as regiões se comparadas às condições materiais, de conhecimento técnico, disponibilidade de locais para a prática etc. Mesmo nas regiões mais desenvolvidas do Sul e do Sudeste, 19 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 GINÁSTICA ARTÍSTICA poucos são os locais capazes de abrigar um trabalho de excelência. Como consequência dessa falta de estrutura, há em nossas competições uma grande disparidade de participantes por categorias. Tomemos como exemplo o Campeonato Brasileiro: enquanto nos níveis iniciantes (pré‑infantil e infantil) temos mais competidores e equipes, na categoria “adulto” esse número é muito baixo. Isso ocorre devido a diversos fatores, como a falta de equipamentos adequados para o trabalho de ginastas de alto nível, desconhecimento técnico dos treinadores, mão de obra insuficiente (um mesmo treinador com diversas categorias), escassez de cursos especializados para a formação de treinadores, ausência de políticas públicas para o esporte de rendimento, entre tantos outros. Dessa forma, o trabalho iniciado não segue adiante, e várias gerações de ginastas são perdidas. A tabela a seguir, com dados dos campeonatos brasileiros da modalidade nas categorias infantil e adulto, exemplifica bem essa situação: Tabela 2 – Número de equipes e ginastas participantes do Campeonato Brasileiro de Ginástica Artística, edição 2015, categorias infantil (“A” e “B”) e Adulto Categorias Equipes Total de equipes Atletas Total de atletas Infantil Infantil “A” 5 11 19 45 Infantil “B” 6 26 Adulto Adulto “A” 4 4 20 20 Adulto “B” Não há Não há Fonte: CBG (2016). Schiavon (2013) observa que há a participação quase que exclusiva de ginastas e entidades das regiões Sul e Sudeste em campeonatos nacionais; entre 2003 e 2009, tivemos a presença em campeonatos brasileiros de uma ginasta pré‑infantil do Rio Grande do Norte e três infantis de Brasília em 2004, além de uma ginasta infantil do Pará em 2006. Podemos afirmar que não há na prática ginástica artística de alto rendimento fora do eixo Sul‑Sudeste. Segundo a autora, “os únicos dois centros de treinamento para a ginástica artística são o da Secretaria de Esporte do Estado do Paraná, Curitiba, e o Centro de Treinamento ‘Time Brasil’, inaugurado em 2012 no Rio de Janeiro” (SCHIAVON, 2013). Recentemente, como os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, vários conjuntos completos de equipamentos oficiais importados foram adquiridos pela Confederação Brasileira de Ginástica e Ministério do Esporte e distribuídos pelo País, com o intuito de habilitar outras regiões à formação de ginastas de competição. Contudo, alguns dirigentes e técnicos argumentam que esse tipo de ação só tem efetividade quando associada à formação de treinadores locais que consigam aproveitar bem os dispositivos e que estejam aptos a desenvolver as potencialidades de jovens talentos. Além disso, existe uma série de questionamentos quanto à distribuição do material, uma vez que são voltados à ginástica de alto rendimento e muitos dos centros agraciados não dispõem de ginastas desse gabarito. 20 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Unidade I Observação Apesar dos excelentes resultados alcançados recentemente pela ginástica artística do Brasil, a modalidade ainda é muito carente de centros de treinamento adequados, sobretudo treinadores especializados. Saiba mais GINÁSTICA recebe a maior quantidade de equipamentos em 40 anos. Portal Brasil, 28 ago. 2014. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/esporte/2014/08/ ginastica‑recebe‑maior‑quantidade‑de‑equipamentos‑em‑40‑anos>. Acesso em: 15 dez. 2016. 2 HISTÓRIA DA GINÁSTICA ARTÍSTICA Como vimos, a ginástica artística (GA) iniciou‑se no século XIX na Alemanha. Johann Friedrich Ludwig Christoph Jahn era filho de um pastor protestante, teórico nacionalista e homem político. Nasceu em Lanz, nas cercanias de Lenzen, aldeia de Brandenburgo na atual Alemanha, em 11 de agosto de 1778. Jahn era professor em Berlim, e em 1811 criou o primeiro campo de ginástica ao ar livre, na floresta de Hasenheide. A ginástica artística atual, com seus aparelhos sofisticados, teve muita influência dos métodos e aparelhos, que foram improvisados em árvores e utilizados por Jahn para fins militares. Tudo começou em 1806, quando houve um confronto entre a França e a Prússia na Batalha de Jena. Napoleão rompe acordo com o rei Frederico Guilherme III, invadindo a Prússia. A derrota nessa batalha influenciou as atitudes do professor Jahn, que resolveu promover a prática de exercícios para a preparação física dos jovens prussianos a fim de expulsar o exército invasor. Não houve planejamento adequado das tropas prussianas. Então, houve desordem e confusão, fazendo com que a derrota se transformasse em um verdadeiro desastre. A corte de Berlim não tomou precaução para a possibilidade de uma possível derrota. Jahn resolveu estimular a mocidade prussiana para se preparar fisicamente para expulsar o exército invasor. O trabalho de Jahn foi a célula mater da ginástica olímpica, também chamada de ginástica artística. Ele lecionava num instituto e era o responsável pela saída bissemanal dos alunos. Fazia excursões em dias livres à floresta Hasenheide (parada das lebres), onde realizava batalhas simuladas. Em 19 de junho de 1811, foi inaugurado o primeiro local para a prática de ginástica alemã ao ar livre, denominado Volks Park (parque do povo). 21 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 GINÁSTICA ARTÍSTICA Nas palavras de Jahn (1816): “Caminhar, correr, saltar, lançar, sustentar‑se são exercícios que nada custam, que podem ser praticados em toda parte, gratuitos como o ar. Isso o Estado pode oferecer a todos: para os pobres, para a classe médiae para os ricos, tendo cada um sua necessidade” (NUNOMURA; PICCOLO, 2005). Como afirma Públio (2008): “Ao passear pelo lado oeste do parque, passa‑se pelo Jahn Eiche (o carvalho de Jahn). A história conta que aos galhos dessa árvore, com mais de 400 anos de idade e tombada pelo governo alemão, foram realizados os primeiros ensaios e treinos de ginástica”. Os aparelhos de ginástica eram feitos com recursos próprios pelos ginastas, que também faziam a manutenção e ampliação dos aparelhos utilizados. O interessante é que todos podiam praticar essa atividade física, e, com o tempo, adultos da cidade de Berlim se juntaram aos alunos dos ginásios locais. Neste primeiro ano foram vistas cerca de 300 pessoas, e em 1812 esse número chegava a 500 pessoas exercendo as atividades. Para Jahn, a vestimenta a ser usada para o exercício deveria ser durável e permitir todos os movimentos do corpo. Sugeria que todos os uniformes fossem iguais, casaco e calças de linho cru e cor cinza, para evitar distinção entre pobres e ricos. Ainda considerava que o campo de ginástica deveria estar localizado no meio do verde, longe da cidade e de suas más influências. Na realidade, existiram três campos na floresta de Hasenheide, o primeiro foi de 1811 a 1812; o segundo, de 1812 a 1819/20; e o terceiro de 1844 a 1934. Figura 8 – O primeiro turnplatz (campo de ginástica), de 1811‑1812 Figura 9 – O segundo turnplatz, de 1812‑1819/20 Figura 10 – O terceiro turnplatz, de 1844‑1934 22 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Unidade I Jahn proíbe a palavra gimnasia e a substitui por turnkunst por considerar o caráter nacionalista em seu sistema e por sua origem alemã. As palavras inventadas por Jahn tornaram‑se termos técnicos da ginástica em aparelhos na Alemanha. São elas: turnen – praticar ginástica; turnplatz – local de ginástica; turner – ginasta; voltigieren – balançar, voltear; torner – lutar, brigar; turntag – dia da ginástica; e turnkunst – arte ginástica. Conforme Públio (2008) destaca: “O turnen tinha também o objetivo moral: alcançar autoconfiança, autodisciplina, independência, lealdade e audiência. Essas eram as metas a serem atingidas por meio de atividades completas e informais”. Muitas vezes Jahn afirmou que a ginástica para ele era um elemento vital para a educação popular e deveria “resgatar a regularidade da formação humana, atribuindo importância ao corpo, em contraponto à espiritualização exclusiva, contrabalançando o refinamento através da masculinidade reconquistada, e abranger e envolver o homem como um todo, numa convivência jovial”. Em março de 1813, o rei Frederico Guilherme publicou o manifesto A meu povo, e Jahn, acompanhado de 137 ginastas, participaram ativamente na libertação nacional contra o poderio estrangeiro de Napoleão, sendo Jahn o comandante do terceiro batalhão. Então, o campo de ginástica foi destruído por vândalos. Em 1815 foi reconstruído e ampliado, a paz retornou e os alunos foram divididos em grupos, de acordo com a idade, categoria e capacidade, estabelecendo uma hierarquia. Em 1817 estava tão ampliado que comportava de 1.400 a 1.600 ginastas com condições de praticar as atividades simultaneamente. Em 1816 Jahn, junto com E. B. Eiselen, lança sua grande obra: Die deutsche turnkunst (A arte alemã da ginástica), que nada mais é do que sua experiência dessa prática em Hasenheide, Berlim. Figura 11 – Desenhos da capa do livro Die deutsche turnkunst Jahn introduziu alguns aparelhos já conhecidos e outros da sua página, invenção e adaptação. A barra horizontal, embora conhecida anteriormente, foi direcionada e tornou‑se popular no playground do Jahn. As barras paralelas surgiram lá, mas não se sabe quem as inventou. Esse aparelho foi idealizado para fortalecer os braços e o corpo em exercícios de volteio (giros no cavalo) (PÚBLIO, 2008). 23 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 GINÁSTICA ARTÍSTICA Existiam muitos outros aparelhos, como: • um tronco de árvore sobre suportes a 152 cm do chão (precursor da trave de equilíbrio); • pares de postes para salto em altura; • carneiros ou cavalos de voltear (precursores do cavalo com alças); • um mastro de navio com 15 m de altura com barras horizontais no alto, das quais pendiam cordas; • três mastros muito lisos para escalada; • o mastro triplo, compostos de mastros ligados por traves horizontais com corda e uma escalada inclinada; • diversas barras horizontais, em diferentes alturas, para exercícios de suspensão; • pistas para corridas em linha reta e em círculos; • local de arremesso de dardos; • área para lutas livres. A partir de 1814, o ponto alto das atividades era o Festival de Ginástica, feito em comemoração da Batalha de Leipizig, sempre em 18 de outubro, quando milhares de pessoas compareciam para assistir às apresentações. Jahn criou as sociedades de ginástica alemã (turverine), enquanto a Alemanha introduziu as demonstrações de massa, onde participaram 6 mil ginastas no primeiro festival, organizado em Berlim, em 1861. Após a vitória sobre Napoleão, o grande sonho de Ludwig Jahn era a unidade alemã, que foi frustrado no Congresso de Viena, quando se manteve a separação da Prússia em pequenos estados independentes. Um movimento de oposição passa a ser formar entre os jovens. Por sua influência sobre os estudantes e sua clara posição sobre o assunto, Jahn passa a ser perseguido e considerado como revolucionário por incitar os jovens à subversão. Em junho de 1819, acusado de coautor de um assassinato, ele é detido, reclusão que dura até 1825, para depois ser recluso a uma residência forçada. Por conta da conotação política dada à ginástica por Jahn, ocorre o Bloqueio Ginástico, que vigora de 1820 a 1842, quando os turnplatz são fechados e toda terminação contendo o radical turn censurada. E. B. Eiselen, discípulo de Jahn, salvou a ginástica durante essa época difícil. Iniciou a ginástica em salões e estimulou sua prática pelas mulheres. Com isso os turnens (ginastas) passaram a treinar em salas fechadas. Exercícios que dependiam antes de grandes espaços físicos (corridas, arremessos, lançamentos) foram excluídos e os aparelhos adaptados e ampliados para facilitar a execução de novos movimentos. Os artefatos foram modificados para que coubessem em lugares pequenos. A FIG situa nesse momento a origem da ginástica artística, por volta de 1820. 24 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Unidade I Jahn reabilitou‑se em 1825, mas forçado a ficar em sua residência sob vigilância policial, foi proibido de fazer qualquer contato com a população estudantil e também de residir em Berlim ou em qualquer cidade universitária. Em 1840 Jahn é liberado definitivamente e condecorado por Frederico Guilherme IV com a Cruz de Ferro, alta distinção alemã, pela coragem na guerra da independência do país. Em 1842, ao fim do Bloqueio Ginástico, a educação física na Alemanha era feita em ambientes fechados, e a ginástica de Jahn encontra terreno fértil para desenvolver‑se. O bloqueio da ginástica ocorreu no período de 1820 a 1842, o que ocasionou a emigração de diversos ginastas alemães que difundiram a modalidade para o mundo inteiro. Em 1848, toma partido no Parlamento Germânico, que se reuniu em Frankfurt, tornando‑se autoridade como deputado. Em 15 de outubro de 1852, Jahn morre em sua casa em Freyburg. Após sua morte, a partir de 1924, decidiu‑se que a sua casa seria utilizada como albergue da juventude e sede da ginástica, e em 1936 foi inaugurado um museu que ainda existe. O museu expõe a vida de Jahn e a sua importância para o movimento ginástico na Alemanha. E ainda permanecem peçasde suas obras como o famoso cavalo com rabo e também uma maquete (miniatura) de seu primeiro campo de ginástica em Hasenheide. Atualmente, a sua memória é venerada como a de um herói nacional. Lembrete Ludwig Jahn é considerado o pai de ginástica artística, sendo o criador de diversos aparelhos que compõem a ginástica atual. Figura 12 – Cavalo de Janh – interior do Museu de Freyburg 25 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 GINÁSTICA ARTÍSTICA 2.1 Aspectos históricos da ginástica artística no Brasil A ginástica foi introduzida por imigrantes alemães no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, por volta de 1824, durante o Bloqueio Ginástico na Alemanha. Fundaram diversas sociedades ginásticas, que serviam como ponto de reunião e apoio dos imigrantes, passando a desenvolver atividades de lazer, e depois gímnicas. A sociedade mais antiga do Brasil e também da América do Sul é a Sociedade Ginástica de Joinville – Turnverein Joinville, em Santa Catarina de 1858. Figura 13 – Sociedade Ginástica de Joinville, a mais antiga da América do Sul (16 de novembro de 1858) Em 1895 criaram a fundação da Turnerchaft von Rio Grande do Sul (Liga de Ginástica do Rio Grande do Sul), a primeira entidade desportiva em âmbito estadual instituída no Brasil. Seu idioma era o alemão. Hoje corresponde ao Sogipa, considerado o berço da ginástica “olímpica” nacional. Até 1938 os alemães criaram muitas sociedades de ginástica com suas características próprias, depois é que foram nacionalizadas. Em 1942 foi fundado o Departamento de Ginástica na Federação Atlética Rio‑Grandense (Farg), que originou 20 anos depois a Federação Rio‑Grandense de Ginástica (FRG), sendo o primeiro estado a oficializar a prática da ginástica olímpica no Brasil. Em 1948 foi fundada em São Paulo a Federação Paulista de Halterofilismo (FPH), que, a pedido do diretor do Departamento de Educação Física do Estado (Defe), passou a ser uma federação eclética, denominando‑se Federação Paulista de Ginástica e Halterofilismo (FPGH). Finalmente, em 1956, foi criada a Federação Paulista de Ginástica (FPG). Segundo Públio (2008), depois de um período que foi considerado como “heroico”, desde o início da colonização dos alemães no Rio Grande do Sul, em 1824, a ginástica olímpica foi oficializada, com a filiação em 1951 das federações de RS, SP e RJ à Confederação Brasileira de Desportos (CBD). A CBD se vincula à FIG, tornando‑se legalmente internacional. Nesse mesmo ano se iniciam oficialmente os campeonatos brasileiros de ginástica. 26 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Unidade I Em 1974 o Brasil leva pela primeira vez uma equipe feminina ao Campeonato Mundial da Bulgária, e em 1978 a ginástica se desmembra da CBD, tornando‑se a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). Em 1980 tivemos a primeira participação do Brasil nos Jogos Olímpicos de Moscou com os ginastas João Luiz Ribeiro e Cláudia Magalhães. Em 1992, Luiza Parente é representante do Brasil nos Jogos Olímpicos de Barcelona. No ano de 1999, com a 17ª colocação no Campeonato Mundial em Pequim, o Brasil consegue classificar duas ginastas para as Olimpíadas de Sidney: Daniele Hypólito e Camila Comin. Em 2000, nas Olimpíadas de Sidney, Daniele Hypólito obtém uma surpreendente 21° colocação na competição individual geral. Em 2001 a ginasta Daniele Hypólito consegue a primeira medalha do Brasil em um mundial, ficando com a segunda colocação no solo. Em 2003 Daiane dos Santos executa um exercício de alto grau de dificuldade no solo, que recebe seu nome – “Dos Santos” – pela Federação Internacional de Ginástica e ganha a primeira medalha de ouro para o Brasil em um mundial, ajudando a equipe brasileira a conquistar a oitava colocação, o que permitiu pela primeira vez que o País levasse uma equipe completa para os Jogos Olímpicos da Grécia em 2004. Desse modo, nos Jogos de Atenas, a equipe feminina do Brasil classifica‑se em 9°, a apenas 0,079 da final olímpica; Daniele Hypólito fica em 12° e Camila Comin em 14° na final individual geral. Em 2007, nos Jogos Pan‑Americanos do Rio de Janeiro, as equipes masculina e feminina do Brasil ficam com a medalha de prata. No Mundial de Stuttgart, Alemanha, a equipe feminina do Brasil classifica‑se em 5° lugar na final por equipes e, mais uma vez, classificam uma equipe completa para os Jogos Olímpicos. Na final individual geral, a ginasta Jade Barbosa fica com a medalha de bronze. No setor masculino, o ginasta Diego Hypólito ganha a medalha de ouro na final do aparelho solo. Em 2008, nos Jogos Olímpicos de Pequim, China, no feminino o Brasil faz história ao classificar‑se para a final por equipes, terminando a competição em 7° lugar, e no individual geral, Jade Barbosa se classifica em 10° lugar. Na equipe masculina, Diego Hypólito classifica‑se em 1° para a final de solo, porém termina em 6° após falhar na última acrobacia de sua série. Em 2012, nos Jogos Olímpicos de Londres, tivemos nossa primeira medalha olímpica no setor masculino com o ginasta Arthur Zanetti fazendo história, tornando‑se o primeiro campeão olímpico do Brasil nas argolas. Em 2016, pela primeira vez disputamos uma olimpíada com a equipe masculina e feminina completa. Nosso medalhista olímpico de 2012 consegue mais uma medalha nas argolas – prata. Diego Hypólito 27 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 GINÁSTICA ARTÍSTICA obtém outra medalha de prata no aparelho solo, seguido por Arthur Nory Oyakawa Mariano – bronze – no mesmo aparelho. 2.2 Aspectos históricos da Federação Internacional de Ginástica (FIG) O belga Nicolas J. Cupérus (1842‑1928) foi quem se dedicou para que os exercícios físicos fossem propagados. Já havia um grande número de agremiações de ginástica espalhadas pela Europa, sendo a primeira na Suíça, em 1832; em 1860 foi criada na Alemanha; em 1865, origina‑se a Federação da Bélgica; em 1867, a Federação da Polônia; em 1868, a Holandesa; em 1873, a União da Sociedade de Ginástica da França. Desse modo, em 1881 Cupérus convidou vários representantes das federações a participarem da primeira Assembleia Internacional de Ginástica em Liège, Bélgica. Fundou‑se a Federação Europeia de Ginástica, com o próprio Nicolas J. Cupérus como presidente, e a partir de 1921 passou a se chamar Federação Internacional de Ginástica, ainda com Cupérus na presidência. Nos primeiros torneios, as provas não eram apenas de ginástica. Havia também provas atléticas e até folclóricas (saltos, lançamento de pedras, halteres, subidas em corda lisa, corrida de velocidade, natação, bailados etc.), mudando a cada torneio, dependendo do país que o organizava (PÚBLIO, 2008). A partir dos Jogos Olímpicos de 1952, a ginástica artística foi reconhecida como esporte olímpico, no conceito atual, com regras definidas quanto a julgamento, aparelhagem, número de ginastas por equipes, avaliação, e a FIG trabalhando junto com o Comitê Olímpico Internacional. Até 1948, nos Jogos Olímpicos de Londres e no Campeonato Mundial de 1954, em Roma, as competições eram realizadas ao ar livre (estádios), passando a partir daí a serem efetuadas em recintos fechados. Figura 14 – O alemão Weingartner nas argolas. Cartão‑postal do Museu Olímpico de Lausanne 28 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Unidade I A FIG homologou em 16 de março de 1979 o termo gymnastique artistique (ginástica artística) no estatuto da CBG (Confederação Brasileira de Ginástica). A CBG, através de uma assembleia realizada em 2006, oficializou a denominação ginástica artística para a modalidade esportivaque também é adotada em muitos países, apesar de no Brasil ainda ser possível deparar‑se com o termo “ginástica olímpica”. 2.3 A ginástica artística nas olimpíadas Em 1896 a ginástica já se faz presente na primeira olimpíada da era moderna, em Atenas. As provas incluíam barras paralelas e barra fixa (individual e por equipes), cavalo com arções, salto sobre o cavalo e subida na corda lisa vertical. Em 1900 houve uma competição combinada com salto em altura, salto com vara, salto em distância e cabo de guerra. Em 1908 as equipes eram compostas de muitos ginastas, mais de 50. Em 1932, em Los Angeles, os americanos inseriram o tumbling e as “massas com balanceamento”, que foram eliminadas pelos alemães em seguida. As mulheres apareceram pela primeira vez na ginástica nos Jogos de Amsterdã, em 1928, começando a competir nos aparelhos masculinos (paralela masculina baixa e argolas com balanço), além dos exercícios em conjunto. Só começaram a competir oficialmente em Berlim em 1936, quando foram introduzidas as provas de trave de equilíbrio e paralelas assimétricas. Nessa mesma olimpíada, a ginástica masculina passou a ser realizada sempre nos seis aparelhos. A partir dos Jogos Olímpicos de Roma, em 1960, a ginástica artística feminina passou a competir nos quatro aparelhos, quando deixou de ter as provas de conjunto. Então, essas provas foram chamadas de ginástica moderna, e depois ginástica rítmica desportiva (GRD), e hoje é outra modalidade olímpica, a ginástica rítmica (GR). Figura 15 – Karl Schumann. Salto sobre o cavalo. Primeira medalha olímpica alemã individual 29 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 GINÁSTICA ARTÍSTICA Figura 16 – Salto feminino sobre o cavalo Figura 17 – Nadia Comaneci. Campeã Individual, Jogos Olímpicos de 1976 Figura 18 – Vera Caslavska,1964 30 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Unidade I Figura 19 – Sawao Kato, bicampeão olímpico 3 APARELHOS E PROVAS DA GINÁSTICA ARTÍSTICA Como sabemos, a ginástica artística em um primeiro momento surgiu como uma atividade exclusiva para os homens, uma vez que o objetivo de seu criador, Ludwig Jahn, era a formação de soldados. Contudo, desde sua criação, a ginástica sofreu diversas adaptações e evoluções até chegar ao formato que conhecemos hoje. No presente a ginástica artística é praticada por homens e mulheres. As provas da ginástica mudaram muito ao longo das décadas, até chegarmos ao formato atual, em que há provas comuns aos dois gêneros e exclusivas para cada naipe. As provas comuns aos gêneros masculino e feminino são salto sobre a mesa e exercícios de solo; as provas exclusivamente masculinas são cavalo com alças, argolas, barras paralelas simétricas e barra fixa; as provas exclusivas das mulheres são as barras paralelas assimétricas e a trave de equilíbrio. 3.1 Prova de exercícios de solo A prova de solo da ginástica artística, seja para homens, seja para mulheres, é realizada sobre o tablado, aparelho que em um primeiro momento parece um simples carpete, mas que na verdade possui várias partes. Assim, descreveremos a composição do aparelho e suas finalidades. O tablado é uma superfície quadrada de aproximadamente 14 x 14 metros. Possui várias camadas, cada qual com uma finalidade específica. A parte superior, onde o ginasta se apresenta, é feita de material acarpetado, geralmente em duas cores: a parte interna, de cor mais clara, compreende a área de competição, na qual o ginasta deve se manter durante sua rotina e mede 12 x 12 metros; a parte externa, mais escura, tem cerca de 2 metros de largura e é uma área de segurança, caso o ginasta saia da área de competição durante a execução de sua série. 31 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 GINÁSTICA ARTÍSTICA Alguns tablados são de cor única, e nesses casos a área de competição é separada da área de segurança por uma linha demarcatória, em geral uma fita de velcro de 5 cm. Alguns carpetes são feitos em uma única peça de 14 x 14 metros e outros são constituídos de esteiras que são unidas por fitas de velcro da mesma cor do tecido. Área de competição 12 x 12 metros Área de segurança: 2 metros Figura 20 – Desenho representando a vista superior de um tablado de solo Abaixo do carpete há uma camada de espuma de látex ou de poliuretano com o objetivo de absorver os impactos das aterrissagens dos ginastas sem, contudo, ser demasiadamente macio a ponto de dificultar o equilíbrio ou a impulsão nos exercícios. Sob a espuma estão diversas placas de compensado sobre as quais são fixadas molas (metálicas ou de borracha) para auxiliar na impulsão dos movimentos e também amortecer os impactos. Carpete Espuma Compensado Molas metálicas Carpete Espuma Compensado Molas de borracha Figura 21 – Cortes laterais de tablados de solo com molas metálicas e de borracha e suas camadas 32 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Unidade I Figura 22 – Solo. Olimpíadas de 2016, Rio de Janeiro 3.1.1 A prova de solo masculino Na prova de solo masculino, o ginasta realiza movimentos e ligações acrobáticas (saltos mortais) associados a exercícios de velocidade, força, flexibilidade e equilíbrio. A duração da rotina masculina deve ser de no mínimo 50 e no máximo 70 segundos. A série masculina não é acompanhada por música e nem há a avaliação da parte coreográfica da série por parte da arbitragem. Muitos questionam a não inclusão de música e coreografia nas rotinas masculinas. Tal fato está ligado à própria história da modalidade, que se desenvolveu valorizando a força e a virilidade associada à figura masculina. “A FIG sempre se opôs ao que chamam de movimentos afeminados para os exercícios masculinos, mas o assunto de se colocar música para o exercício de solo masculino sempre foi e é discutido, tendo sido, até o presente, rejeitado” (PÚBLIO, 1998). 3.1.2 A prova de solo feminino Segundo o código de pontuação da FIG, o objetivo principal da ginasta que se exercita no solo é apresentar uma rotina que combine, de forma equilibrada, elementos ginásticos e expressões artísticas, criando uma composição que esteja em harmonia com o tema e as características da música escolhida. Dessa forma, em sua prova de solo, a ginasta será avaliada não só por sua destreza em executar movimentos acrobáticos difíceis, mas também por sua expressão corporal e artística. Nenhuma das duas partes (acrobacias ou coreografia) deve prevalecer, devendo haver um equilíbrio entre elas na série, realizada ao som da música. Uma expressão corporal pobre e a falta de harmonia na prova de solo feminino pode levar a ginasta a perder pontos. A duração da apresentação feminina não deve ser menor que 1’10 (70 segundos) e não deve exceder 1’30 (90 segundos). 33 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 GINÁSTICA ARTÍSTICA 3.1.3 Origem da prova de solo Os exercícios de solo são uma evolução dos movimentos calistênicos, aos quais foram acrescentados elementos acrobáticos. As exibições com aparelhos manuais ou livres sempre fizeram parte do programa de competições da ginástica, mas, quando da separação da ginástica nas modalidades artística e rítmica, os aparelhos portáteis ficaram com a segunda. A prova de solo masculino foi oficializada no Campeonato Mundial de Luxemburgo em 1930, quando passou a fazer parte do programa oficial da ginástica artística. É interessante notar que as provas eram coletivas, com vários ginastas executando movimentos de forma sincronizada. Finalmente, em1932, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, tornou‑se uma apresentação individual. Já a prova de solo feminino foi a junção de duas vertentes. Em algumas competições nos Estados Unidos, havia a exposição tradicional, com movimentos derivados da calistênia e outra chamada de dança. Com a inclusão da música, houve a vinculação das duas apresentações, o que agradou ao público. A prova feminina de solo foi incluída no programa da Ginástica Artística e oficializada nos Jogos Olímpicos de Helsinque, em 1952. 3.2 Prova de salto sobre a mesa Originalmente conhecida como salto sobre o cavalo, essa prova faz parte dos programas masculino e feminino. Atualmente a única diferenciação entre as provas de homens e mulheres é a altura na qual a mesa é colocada. Na regra oficial da FIG para o masculino, a altura é de 1,35 m; para o feminino, 1,25 m. O salto é uma prova na qual a velocidade e a potência são fundamentais. Vista lateral Vista superior Colchão de aterrissagem Pista de corrida: 1m x 25m Trampolim de molas Figura 23 – Equipamentos que compõem a prova de salto sobre a mesa Os equipamentos que compõem a prova são a mesa de salto, o trampolim de molas, a pista de corrida e os colchões de aterrissagem. 34 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Unidade I Figura 24 – Salto sobre a mesa. Olimpíadas de 2016, Rio de Janeiro O colchão no qual o ginasta aterrissa possui linhas demarcatórias que determinam o espaço ideal para a chegada e serve de referência visual para os árbitros. Se, ao aterrissar, o ginasta se desviar do centro, pisar nas linhas laterais ou além delas, vai sofrer penalizações na avaliação do salto. A prova de salto possui três fases bem distintas durante a sua execução: A primeira é a abordagem do trampolim, em que a corrida executada pelo ginasta até o salto para o trampolim é a parte mais importante do exercício. Nenhum ginasta é capaz de realizar bons saltos se não conseguir dominar perfeitamente sua corrida. Além de ser veloz, o atleta tem de ser preciso, não variando as passadas ou desacelerando a velocidade de aproximação, uma vez que ele tem de estar no máximo da aceleração ao fim da corrida, ganhando energia, que então será transformada em potência nas outras fases do salto. Figura 25 – Corrida de aproximação até a abordagem do trampolim Depois temos o primeiro voo – ou “entrada” do salto, que compreende a fase aérea na qual o ginasta sai do trampolim até o apoio na mesa de salto. 35 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 GINÁSTICA ARTÍSTICA Figura 26 – 1º voo: saída do trampolim até o apoio na mesa Existem algumas formas de entrada para o salto. As mais importantes são: Em reversão, quando não há uma rotação no eixo longitudinal do corpo do ginasta após a saída do trampolim até o apoio na mesa; ainda é considerada uma reversão quando há uma rotação no eixo longitudinal de 360º; em ambos os casos, o ginasta, no momento do apoio, estará com as costas voltadas para o colchão de aterrissagem. A rondada (também conhecida como rodante, roda e árabe) ocorre quando há uma rotação no eixo longitudinal do corpo do ginasta entre 90º e 180º após a saída do trampolim até o apoio na mesa; a parte anterior ou a lateral do corpo do atleta estará voltada para os colchões no momento do apoio das mãos na mesa. Já o salto Yurchenko consiste na realização de uma rondada sob a pista de corrida, finalizando com os pés no trampolim, com o ginasta de costas para a mesa de salto e, finalmente, a projeção do corpo para trás do apoio na mesa. Também pode ser feito com rotações de 180º ou 360º no eixo longitudinal do corpo do ginasta na fase de voo. 360º180º Reversão Yurchenko Reversão com uma volta Yurchenko com meia volta Rondada Yurchenko com uma volta 360º 180º Figura 27 – Possíveis formas de execução do 1º voo 36 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Unidade I A terceira fase é o segundo voo, que representa o momento entre a perda de contato das mãos do ginasta com a mesa de salto, sendo finalizado com a aterrissagem sobre os colchões. É nessa fase que o ginasta busca realizar o maior número de rotações em todos os eixos do corpo para alcançar maiores pontuações na prova. O segundo voo pode ser executado sem mortais (rotações de 360º ou mais em torno do eixo transversal do corpo), que são os saltos mais simples do código de pontuação, ou com um ou mais mortais. A quantidade de rotações em um ou mais eixos do corpo é que define a dificuldade e, consequentemente, o valor de cada salto. Figura 28 – 2º voo: saída da mesa até a aterrissagem nos colchões É interessante notar que, apesar do código considerar os mortais no segundo voo como rotações a partir de 360º, nenhum salto com mortal tem menos que 540º de rotação, uma vez que, no segundo voo, o ginasta parte da posição invertida do corpo. Saiba mais No site da FIG, é possível fazer o download dos códigos de pontuação da ginástica artística masculina e feminina: <http://www.fig‑gymnastics.com>. 3.2.1 Origem da prova de salto A caixa de salto foi desenvolvida pelo estudioso sueco Pehr Henrik Ling, o precursor da Educação Física, no início do século XIX. A caixa de salto se originou com Ling e seus seguidores. É escusado dizer que se alguém inventou o cavalo haveria outro para saltar sobre ele. Originalmente, saltava‑se sobre a largura, usando os arções como apoio das mãos. Depois, os homens saltavam sobre o comprimento (longitudinalmente) e as mulheres, sobre sua largura (transversalmente), logicamente sem os arções (PÚBLIO, 1998). 37 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 GINÁSTICA ARTÍSTICA Contudo, o cavalo é bem mais antigo que isso. Os romanos o desenvolveram por volta de 375 d.C., com o intuito de treinar seus soldados em exercícios de cavalaria, monte e desmonte, poupando os animais. Ludwig Jahn introduziu o cavalo em seu primeiro turnplatz, em 1811, e o chamou de “cavalo de saltos”. Seus discípulos saltavam sobre o pescoço do cavalo, que também tinha calda e crina. Ao longo dos anos, o aparelho foi sendo modernizado, perdeu as alças, calda, cabeça e crina, tornando‑se mais cilíndrico. Nas competições masculinas, os ginastas precisavam transpor o cavalo em seu sentido longitudinal a uma altura de 1,35 m; nos torneios femininos, saltavam no sentido transversal do cavalo, colocado a 1,25 m. Figura 29 – Antigo cavalo para saltos Entretanto, com a evolução das técnicas de salto e o advento de uma nova forma de entrada, o Yurchenko, fizeram com que ele fosse modificado. Os acidentes em competição passaram a ser frequentes, sobretudo para as mulheres, uma vez que elas saltavam no sentido transversal do cavalo. O aparelho tinha aproximadamente 40 cm de largura, o que exigia das atletas uma precisão muito grande quando se projetavam às cegas, de costas para o cavalo, ao executarem o Yurchenko. Então, a FIG interveio, diminuindo o valor de saltos vindos dessa nova forma de entrada para desfavorecer seu uso; porém, devido às vantagens biomecânicas que proporciona, facilitando muito as rotações no segundo voo e, por conseguinte, gerando melhores pontuações para os ginastas, a medida não se mostrou efetiva. Depois a FIG desenvolveu um novo equipamento para a prova de salto: a mesa. Mais larga, longa, com uma pequena área inclinada e de cor diferente na frente, esse aparelho trouxe mais segurança à prova e ainda favoreceu a criação de novas técnicas. Associada a essa evolução, também houve uma redução na quantidade de acidentes. A mesa de salto foi oficializadano ano de 2001. 38 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Unidade I Figura 30 – Mesa de salto (90 cm de largura x 1,20 m de comprimento) 3.3 As barras paralelas simétricas A prova de barras paralelas simétricas ou simplesmente barras paralelas é exclusiva do gênero masculino. O aparelho consiste em dois barrotes de fibra de vidro recobertos com uma capa de madeira, colocados paralelamente a uma altura de 2 m do solo. O corpo do aparelho é de ferro e, pelo fato de ser bem pesado, dispensa o uso de cabos de aço para fixação. As barras têm 3,50 m de comprimento e um diâmetro entre 41 e 51 mm. É possível fazer pequenos ajustes na distância entre as barras para adaptá‑la ao porte físico do ginasta, porém a margem é pequena: entre 42 e 52 cm. Abaixo e em volta do aparelho há colchões para proteger o ginasta em eventuais quedas e também para a realização da saída ao término de sua rotina. Figura 31 – Barras paralelas simétricas montadas para competição 39 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 GINÁSTICA ARTÍSTICA A prova de paralelas é constituída basicamente de movimentos de embalo (balanços) entre as barras e elementos de voo com retomada, além de passagens pela parada de mãos, elementos de força e posições corporais como diversos tipos de esquadros. A rotina de paralela exige do ginasta muito equilíbrio, coordenação e agilidade. 3.3.1 Origem das paralelas Elas foram desenvolvidas pelo próprio Ludwig Jahn e anexadas ao seu turnplatz (área aberta para a prática da ginástica) em 1812. Ele elaborou o equipamento para fortalecer os braços dos alunos, que tinham dificuldade na execução do volteio do “carneiro”, espécie de cavalo estreito, hoje conhecido como “potrinho”. Os primeiros movimentos descritos são o de flexionar e estender os braços para fortalecê‑los e o balanço para o desenvolvimento corporal. Diferentemente do aparelho atual, as primeiras paralelas eram fixadas no solo. A prova de paralelas está presente no programa da ginástica desde a primeira edição dos jogos da era moderna, em 1896, quando foram realizadas provas individuais e por equipes. 3.4 A prova de cavalo com alças A prova de cavalo com alças ou arções pertence à ginástica masculina. Nela o ginasta precisa deslocar‑se sobre os braços por toda a extensão do aparelho, em movimentos de tesoura, volteios com pernas unidas e afastadas e elevações à parada de mãos, elementos esses executados sobre o corpo do cavalo e sobre as alças. O ginasta não pode fazer elementos estáticos durante a execução da rotina, que deve ser contínua. O aparelho tem 1,15 de altura, medidos a partir do chão, comprimento total de 1,60 m e 35 cm de largura. As alças, feitas de material plástico e recoberta com madeira, ajustam‑se entre 40 e 45 cm e têm 12 cm de altura. O corpo do cavalo é arredondado para evitar traumas e revestido de tecido maleável. As alças têm formato cilíndrico e também tem perfil arredondado nos cantos. Como nos demais equipamentos da ginástica, são instalados colchões de proteção no entorno do aparelho. A prova requer do executante muita resistência, equilíbrio e agilidade, além da sempre necessária coordenação motora. Figura 32 – Cavalo com alças, lado esquerdo; argolas, lado direito 40 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Unidade I 3.4.1 A origem do cavalo com alças Como já visto anteriormente, o cavalo foi desenvolvido pelos romanos para o treinamento de soldados. Data do século IV a primeira descrição do cavalo de madeira, através dos desenhos do romano Vegetino, nos quais é possível verificar os soldados se exercitando no aparelho. Jahn incluiu o artefato em seu primeiro turnplatz no ano de 1811 para exercícios de saltos e o chamou de “trabalho lateral”. 3.5 A prova de argolas Os exercícios nas argolas fazem parte do programa masculino da ginástica artística. O equipamento compreende um pórtico de metal de aproximadamente 6,0 m de altura, fixado ao solo por meio de cabos de aço. Dele pendem dois cabos de aço, que, em sua extremidade inferior, unem‑se a duas faixas de couro ou outro material resistente que, por sua vez, sustenta as argolas. As argolas ficam distantes do solo 2,80 m e são separadas lateralmente em 50 cm. Têm diâmetro interno de 18 cm e sua empunhadura é de 28 mm. 1,20 m 50 cm 18 cm A partir de 2,60 m 3, 00 m 2, 80 m 28 mm Figura 33 – Medidas das argolas Força e equilíbrio são fundamentais para a realização dos movimentos nas argolas, o único aparelho móvel da ginástica. Posições estáticas de força, embalos da suspensão ao apoio e movimentos de rotação compõem essa prova. Durante os movimentos dinâmicos, as argolas se movimentam junto com o ginasta, porém, quando o atleta executa uma posição estática, as argolas devem permanecer imóveis. 41 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 GINÁSTICA ARTÍSTICA 3.5.1 A origem das argolas Aparentemente as argolas são de origem italiana, pois eram chamadas de romischi rings ou aros romanos. No início havia argolas em formato triangular, além da tradicional figura redonda; o formato triangular provavelmente era baseado nos estribos utilizados para montaria. As primeiras argolas eram feitas de ferro e recobertas com couro; depois vieram as argolas de madeira, mais finas, mas que se quebravam com frequência. As argolas atuais são feitas de material sintético (plástico ou fibra de vidro) e recobertas com uma película de madeira. 3.6 A prova de barra fixa Essa prova também é exclusiva dos homens. O corpo da barra fixa é constituído de dois tubos metálicos de diâmetros diferentes, de forma que um se encaixa dentro do outro, permitindo a regulagem da altura do aparelho através de pequenos furos espaçados regularmente. O equipamento é fixado ao solo por meio de cabos de aço. A barra deve estar a 2,80 m do solo, tem comprimento total de 2,40 m e 28 mm de diâmetro. É feita em aço, porém possui elasticidade suficiente para acompanhar os movimentos, sem, contudo, deformar‑se com o uso. Os movimentos característicos da barra fixa são os grandes balanços (giros gigantes), as largadas, as retomadas, as trocas constantes de posicionamento das mãos (tomadas dorsal, palmar, mista e cubital) e direções dos movimentos. A rotina deve ser contínua, pois as pausas ao longo da série são penalizadas pela arbitragem. Lembrete A prova de barra fixa não é considerada uma prova de força, exigindo mais da parte coordenativa e da agilidade do ginasta, tanto é que os movimentos devem ser feitos utilizando o embalo do corpo – elementos feitos com uso demasiado e evidente da força são penalizados. Figura 34 – Barra fixa 42 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 12 /0 1/ 20 17 Unidade I Figura 35 3.6.1 A origem da barra fixa A barra é um aparelho muito antigo, anterior à criação da ginástica de Jahn. Contudo, coube a ele popularizar seu uso. As primeiras barras eram de madeira e, em meados do século XIX, foram substituídas por barras de aço. Os exercícios em barras estão associados à ação natural das crianças de subir e se pendurar nos galhos das árvores, provavelmente por isso o aparelho é tão antigo. Corroborando essa ideia está o fato de a primeira barra de Jahn ter sido chamada de “galho horizontal de carvalho”. 3.7 A trave de equilíbrio A trave de equilíbrio certamente é o aparelho mais desafiador da ginástica artística feminina. Para um bom desempenho nessa prova, não basta ter excelente técnica e preparo físico, mas sim um grande controle
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