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AULA 2 – INTRODUÇÃO AO ASFALTO IMPORTÂNCIA DO MERCADO DE ASFALTO O mercado de asfalto é dividido basicamente em asfalto para uso industrial e para pavimentação. O uso do asfalto industrial no Brasil representa apenas 5% da aplicação total, sendo, portanto, a maior parte de aplicação rodoviária. A importância do asfalto de aplicação rodoviária deve-se ao fato do custo transporte ter forte influência no custo final dos produtos. Levantamento recente da Confederação Nacional dos Transportes – CNT, em sua sexta edição da pesquisa rodoviária realizada anualmente, considerou que 68,8% das estradas do Brasil estão em estado deficiente, ruim ou péssimo. Estima ainda que seriam necessários R$ 1 bilhão, por ano, para manter as rodovias, e R$ 10 bilhões para recuperação de toda a malha viária. Atualmente, na malha de 1,6 milhões de quilômetros de rodovias (em que apenas 10% são pavimentadas) circulam cerca de 61% do transporte de cargas no país e 96,2% dos passageiros. A CNT faz ainda um ranking das piores e melhores rodovias. Pelo segundo ano consecutivo, as rodovias Anhangüera e Dutra foram eleitas as mais conservadas e seguras do país. Cerca de 75% das rodovias nestas condições estão nas regiões Sul e Sudeste. Entre as piores, 85% estão na região Nordeste. PERSPECTIVA HISTÓRICA O asfalto é um dos materiais de engenharia mais antigos. Suas propriedades adesivas e impermeabilizantes são conhecidas desde os tempos antigos. Em sua forma natural, era usado na construção de navios na Suméria 6.000 A.C.; na Índia na construção de grandes piscinas públicas 3.000 A.C. (camada de 2 cm de cimento asfáltico entre camadas de tijolos queimados); no Egito em 2.600 A.C. na mumificação e como impermeabilizante na construção de edificações. Asfalto é uma família de materiais betuminosos utilizados em inúmeras aplicações, destacando-se: pavimentação, impermeabilização, proteção contra corrosão e usos elétricos. O produto é encontrado em muitos petróleos, e deles se separa por destilação. Ligantes betuminosos também podem ser obtidos a partir do carvão (alcatrão para pavimentação). Em função das altas concentrações de compostos aromáticos polinucleares emitidos durante a aplicação do alcatrão, houve restrição ao seu uso na Europa e nos EUA. No Brasil, o alcatrão também não tem sido usado há décadas. Existem também os asfaltos naturais que ocorrem em depósitos na superfície terrestre, como resultado da evaporação de frações leves de petróleo afloradas à superfície em épocas remotas. Betume é outro nome utilizado para designar o asfalto. É comum encontrar na literatura os dois termos (asfaltos e betumes) confirmando-lhes a grande variedade de tipos e aplicações. Atualmente, em pavimentação, o derivado de petróleo usado como ligante dos agregados minerais denomina-se, no Brasil, cimento asfáltico de petróleo (CAP). Nos EUA, é conhecido por asphalt cement e na Europa tem o nome de bitumen. O termo genérico asfalto é erroneamente utilizado para designar a mistura do cimento asfáltico com os agregados, em literatura não especializada. Betume é uma mistura de hidrocarbonetos de consistência sólida, líquida ou gasosa, de origem natural (encontrado em minas) ou processados fisicamente (aquecimento de petróleo e outros materiais orgânicos), completamente solúvel em bissulfeto de carbono (CS2). Além da solubilidade no CS2, outra característica dos betumes é seu poder ligante, que permite usá-los como aglomerante, da mesma forma que a cal, o gesso ou o cimento, com a vantagem que não se precisa adicionar água. Além disso, o betume é hidrófobo, repele água e nela não se dissolve. Daí o seu uso em impermeabilizações. Em resumo, o cimento asfáltico tem sido usado em aplicações de pavimentos, enquanto o alcatrão não, em virtude de possuir grande susceptibilidade térmica e de ser prejudicial à saúde podendo causar graves irritações na pele e nos olhos. - Os alcatrões para pavimentação (AP), em desuso no Brasil há mais de 25 anos, resultam da destilação da madeira ou carvão de hulha. O resíduo da destilação do alcatrão de hulha denomina-se piche. Os alcatrões são misturas de betumes com substâncias encontradas nos vegetais. Os alcatrões possuem maior adesividade que o asfalto, mas são mais suscetíveis à temperatura. - Os asfaltos são materiais em que o betume está misturado com argilas, siltes, areias, impurezas minerais ou orgânicas. Pode-se dizer que os asfaltos são misturas de betume de origem mineral com solos. O cimento asfáltico é um material ligante de cor parda escura ou preta que pode ser encontrado na natureza (asfaltos naturais) ou produzido a partir da destilação do petróleo (asfaltos de petróleo). Comercialmente os tipos de asfalto podem ser classificados em 2 categorias: - Asfalto natural: ocorre em camadas geológicas estratificadas como um material mole e também como material endurecido, friável, impregnado na formação de rochas (por exemplo, xisto no sul do Brasil). O asfalto natural existe em vários pequenos depósitos na Ilha de Trinidad. O Pitch Lake, localizado no sul da ilha é um dos maiores depósitos do mundo, com 100 acres (35 ha) em área com profundidade estimada de 90 m, ele contém entre 10 a 15 milhões de toneladas do material. A superfície é suficientemente rígida para agüentar tratores e caminhões que transportam o material escavado. Este material é refinado a 160 °C evaporando a água. O material é então peneirado para remover os materiais graúdos e matéria orgânica. O produto refinado é chamado Trinidad Epuré e possui a seguinte composição: 54% de ligante; 36% de material mineral; e 10% de material orgânico. O Epuré é muito consistente para uso em misturas (penetração entre 2 e 10 décimos de mm; ponto de amolecimento de 95 °C) e é geralmente usado em misturas 50/50 com asfaltos de penetração 200 (mistura com penetração de aproximadamente 50 décimos de mm). Centenas de toneladas de asfalto já foram extraídas do Lago Trinidad sem ele demonstrar qualquer sinal de perda de material. Quando o material é removido, pressões a grandes profundidades forçam o resíduo pesado para a superfície, continuando assim o refino natural. A primeira camada de pavimento asfáltico usando asfalto do Lago Trinidad foi colocada em 1876 na Pennsylvania Avenue em Washington, D.C., Estados Unidos. Outros depósitos de asfaltos naturais incluem o Lago Bermudez na Venezuela, os “areais de alcatrão” no oeste canadense, e a asfaltita, encontrada nos EUA e Argentina, denominados respectivamente, gilsonita e rafaelita. - Asfalto de petróleo: é uma dispersão coloidal de hidrocarbonetos obtida no refino do petróleo. Seguindo a descoberta do refino do petróleo no início do século, e a popularidade dos automóveis, grandes quantidades de asfalto de petróleo foram processadas pelas companhias de óleo. Com o tempo, os asfaltos refinados foram melhorando sua qualidade de tal modo a tornar os asfaltos naturais pouco importantes. PETRÓLEO BRUTO OU CRU Quase todo o asfalto em uso hoje em dia é obtido do processamento de petróleo bruto (ou cru). Muitas refinarias são localizadas próximas à locais com transporte por água, ou supridos por dutos a partir de terminais marítimos. Figura 1. Localização de refinarias no Brasil A composição dos petróleos varia de acordo com a fonte. Cada petróleo leva a diferentes quantidades de resíduos de cimentos asfálticos e outras frações destiláveis. Processamento do Petróleo Bruto A composição química do CAP é dependente do tipo de petróleo e processo de refino. Os petróleos adequados à produção de CAP são de base naftênica (um estágio) e intermediária (dois estágios). O refino do petróleo é o conjunto de processos que separa os hidrocarbonetos sem alterar sua constituição original. Existem diferentes processos de refinode petróleo que produzem os ligantes asfálticos. O mais antigo é o da destilação direta, que pode ser realizada em um ou dois estágios. Quando o petróleo é de base asfáltica (Boscan, Bachaquero, Lagunillas e Tia Juana) é necessário, apenas um estágio de destilação a vácuo. Se o petróleo não é de base asfáltica (Árabe Leve, Safaniya, Kirkuk e Kwait), são necessários dois estágios de destilação, atmosférica e a vácuo. Petróleos pesados, como o Boscan e o Bachaquero, da Venezuela, e o Fazenda Belém, do Brasil, empregados na Lubnor, são destilados em um só estágio e produzem um CAP de consistência adequada. Quando se processa petróleo intermediário, o resíduo de vácuo (destilação em dois estágios) dependendo das condições de pressão e temperatura pode apresentar consistência de CAP. PARA SISTEMA DE VÁCUO GASÓLEO LEVE PETRÓLEO GASÓLEO PESADO ASFÁLTICO FORNO TORRE DE ASFALTO (C A P) VÁCUO Figura 2. Esquema simplificado de produção de asfalto – um estágio de destilação O óleo cru é aquecido a aproximadamente 340 a 385 °C (≅ 650 °F) e parcialmente vaporizado. Então ele é colocado na torre de destilação (mistura de líquido e vapor) onde os componentes leves vaporizam, sobem ao topo, esfriam, condensam, e são retirados para processamento adicional. A diferentes alturas na torre, as diferentes frações atingem seu ponto de vaporização, e, à medida que a temperatura é reduzida, as frações se condensam em bandejas dentro da torre. Os componentes intermediários são retirados nos respectivos níveis e tratados para resultar em outros produtos como combustível de avião, querosene e diesel. Nesta etapa de destilação atmosférica as cinco principais correntes são: gasolina; querosene; gasóleo leve; gasóleo médio e resíduo atmosférico. ARMAZENAMENTO Quando tratados apropriadamente, os asfaltos podem ser re-aquecidos ou mantidos em temperaturas elevadas por um tempo considerável sem afetar suas propriedades. Porém, o superaquecimento ou o uso em condições que promovam oxidação, pode afetar negativamente as propriedades influenciando o desempenho de longo prazo do material. O grau de endurecimento produzido como resultado de um processamento inadequado é função de vários parâmetros como temperatura, presença de ar, razão superfície-volume do asfalto, método de aquecimento e duração da exposição a estas condições. Todos os asfaltos devem ser armazenados em tanques especificamente projetados de modo a minimizar o possível endurecimento durante a estocagem. Para minimizar o risco de superaquecer o asfalto, o tanque deve possuir sensores e leitores de temperatura calibrados. O tempo que o asfalto permanece no tanque é tipicamente curto para qualquer endurecimento significativo. Porém, se o material for armazenado por um período prolongado, a recirculação deve ocorrer, devendo o asfalto ser submetido a testes para garantir que ele permanece adequado para aplicação. As operações normais de mistura e transferência devem ser feitas de 10 à 50 °C acima da temperatura mínima de bombeamento. Não exceder nunca 230 °C para evitar auto-ignição do CAP. Deve-se evitar temperaturas de estocagem do asfalto entre 100 e 130 °C, pois durante o esvaziamento ou enchimento do tanque uma eventual quantidade de água acumulada no fundo do tanque poderá sofrer evaporação brusca elevando a pressão interna do tanque com transbordamento do produto e possível rompimento do teto. Petrobras-Lubnor Na unidade industrial da Petrobras em Fortaleza, o petróleo é processado em uma unidade de destilação a vácuo, que pode tratar o resíduo da destilação atmosférica ou processar petróleos com alto teor de pesados, como os petróleos Bachaquero e Boscan. Está em andamento um estudo para substituição do petróleo venezuelano por um petróleo brasileiro, também de base naftênica. Seguem abaixo fotos dos tanques de armazenagem de petróleo e de CAP, bem como da torre de refino da unidade industrial em Fortaleza. Tanque de aço, coberto com placas de alumínio para armazenamento de petróleo Tanques de armazenamento de CAP Saída de petróleo (cano da esquerda), entrada de petróleo (cano no meio) e entrada de vapor (canos a direita) Bombas que impulsionam os produtos para tanques e torre de refino Torre de refino (vista total) Detalhe da torre de refino Detalhe do aquecimento na torre de refino – maçarico do forno Trocadores de calor da torre de refino Tubulação que leva os produtos da torre para os tanques Termômetro para controle de temperatura no tanque Tubos de saída e entrada de petróleo no tanque Tela de computador na sala de controle com dados de temperatura, e quantidade de material estocado Figura 3. Armazenagem e torre de refino da Petrobras/Lubnor TIPOS DE ASFALTO Os tipos de asfalto existentes no mercado são denominados: a) Cimentos asfálticos de petróleo (CAP); b) Asfaltos diluídos; c) Asfaltos emulsionados; d) Asfaltos oxidados ou soprados; e) Asfaltos modificados. f) Agentes rejuvenescedores Cimentos asfálticos de petróleo (CAP) Cimento asfáltico ou CAP é um líquido muito viscoso, semi-sólido ou sólido à temperatura ambiente, que apresenta comportamento termoplástico - torna-se líquido se aquecido - e retorna ao estado original após resfriamento. É quase totalmente solúvel em benzeno, tricloroetileno e em dissulfeto de carbono. As especificações oficiais brasileiras de CAP, classificados tanto por viscosidade quanto por penetração, estão no Regulamento Técnico do Departamento Nacional de Combustíveis - DNC Nº05 DE 11/03/93 - REGULAMENTO TÉCNICO DNC Nº01/92 - REV 02. No Brasil, especificam-se quatro tipos de CAP, classificados por penetração: CAP 30/45, CAP 50/60, CAP 85/100 E CAP 150/200 que se destinam exclusivamente aos produtos asfálticos da Fábrica de Lubrificantes do Nordeste - Lubnor e da Refinaria Landulfo Alves Mataripe - RLAM, oriundos de petróleos venezuelanos. A classificação brasileira, com base na viscosidade a 60°C, engloba os seguintes três tipos: CAP 7, CAP 20 e CAP 40 e se destina aos produtos asfálticos oriundos de misturas de petróleos brasileiros, argentinos, árabes e venezuelanos. Asfaltos diluídos No processo de pavimentação, é importante assegurar-se de que o CAP esteja suficientemente fluido durante a aplicação, e suficientemente rígido quando em serviço, após a aplicação. Para aumentar a fluidez e possibilitar o uso do CAP sem aquecimento, misturam-se solventes aos CAP selecionados, obtendo-se asfaltos diluídos ou cut-backs, que são classificados, segundo o solvente, em: Tipo Solvente de cura rápida (CR) nafta de cura média (CM) querosene de cura lenta (CL) gasóleo Naturalmente, os solventes evaporam após a aplicação. O asfalto diluído, de cura lenta, pode ser obtido diretamente na torre de destilação e é conhecido pelo nome de road oil, mas não tem uso corrente no Brasil. Para cada tipo de cura, as especificações ASTM estabeleceram várias classes, conforme a viscosidade a 60 °C. As especificações brasileiras para asfaltos diluídos de cura rápida e cura média estão no - REGULAMENTO TÉCNICO DNC Nº 03/97 - PORTARIA Nº 43 DE 29/09/97. No Brasil, especificam-se os seguintes tipos: cura rápida, CR-70, CR-250 e de cura média, CM-30, CM-70. Emulsões asfálticas As emulsões asfálticas constituem-se em pequenas partículas, ou glóbulos de CAP, suspensas em água contendo agente emulsificante. Quando tais emulsões são aplicadas, as partículas de CAP depositam-se sobre as pedras (agregado mineral), causando a ruptura da emulsão, e se separam da água. As emulsões asfálticas são preparadas por mistura em moinho coloidal de CAP, asfalto diluído, acidulante e tensoativos. No Brasil, utilizam-se emulsões asfálticas catiônicas, que podem ser: ruptura rápida (RR), rupturamédia (RM) e ruptura lenta (RL). Dentro de cada tipo de ruptura, as emulsões se classificam por grau. As características de ruptura são controladas principalmente pela natureza e quantidade do agente emulsificante. Pela norma CNP n° 07/88 de 06/09/88, são especificadas e classificadas as seguintes emulsões: RR-1C, RR-2C, RM-1C, RM-2C e RL-1C. Asfaltos oxidados ou soprados Esses produtos são obtidos através do borbulhamento de ar através de óleos residuais ou CAP aquecidos, e são usados particularmente para fins industriais, como formulações de películas protetoras e impermeabilizantes. Os asfaltos oxidados são menos dúcteis e apresentam maior resistência às variações de temperatura. A Norma NBR 9910 de junho/87 da ABNT especifica os requisitos dos asfaltos oxidados para impermeabilização. Asfaltos modificados Para ampliar sua resistência, os cimentos asfálticos de petróleo podem ser modificados através de adições de asfaltos naturais como gilsonita (EUA), asfaltita (Argentina) e Asfalto de Trinidad ou ainda por adição de fileres (cal, cimento, sílica etc.), fibras (fibra de vidro, asbestos, fibras de celulose e fibras poliméricas) ou por enxofre elementar. A modificação mais empregada atualmente é através do uso de polímeros (SBR, SBS, EVA, etc). Agentes rejuvenescedores O efeito da temperatura, ar, luz solar, chuva e tempo em pavimentos asfálticos propicia seu envelhecimento que resulta em enrijecimento da mistura betuminosa com o tempo. O cimento asfáltico quando envelhece aumenta sua consistência e do ponto de vista químico aumenta o teor de asfaltenos e reduz o teor de aromáticos e resinas. A reciclagem de pavimentos é uma técnica que visa a reutilização dos agregados e ligante do pavimento, necessitando de agente rejuvenescedor para redução da viscosidade e reposição de compostos aromáticos e resinas para recompor a natureza do ligante virgem. A reciclagem pode ser efetuada a frio ou a quente através de adições ao material fresado de emulsões rejuvenescedoras ou cimentos asfálticos com agentes rejuvenescedores, respectivamente. A especificação brasileira de agentes rejuvenescedores a quente se denomina Especificações dos aditivos asfálticos para misturas à quente - Regulamento Técnico DNC nº 04/97 - Portaria nº 44 de 29/09/97 e se baseia nas especificações ASTM. As especificações de emulsões rejuvenescedoras para reciclagem a frio, se encontram em estudo na Comissão de Asfalto do IBP.
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