Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Atividades preparatórias à 2a fase da UELNEO.234_GRAP - Filosofi a 359 1. Explique o que é mito e dê suas características mais relevantes. 2. Fale sobre a originalidade das narrativas pré-socráticas com base no que se entende por fi losofi cidade das mesmas narrativas. 3. Exponha a Teoria das Ideias de Platão. Filosofi a José Roberto Garcia Primeira tentativa humana de organizar, a partir do apelo ao sobrenatural e ao fantástico, um conhecimento sobre o universo, a história e o próprio homem. O mito tem uma racionalidade incipiente e pré-refl exiva; no entanto, é a base da cultura e do imaginário dos povos antigos. A consciência mítica surgiu da necessidade dos vários povos e das civilizações de encontrar respostas a suas indagações fundamentais, ou seja, aquilo que confere sentido a sua existência, e nisso reside sua grande importância. Apesar de fantásticos e com forte apelo sobrenatural, os mitos gregos eram impregnados de sabedoria, pois estruturaram um conhecimento ancestral sobre a realidade humana, bem como sobre o universo que nos cerca. (Cuidar de apresentar uma defi nição básica, acompanhada das principais características e apontar a importância.) A originalidade dos pré-socráticos, que desenvolveram a cosmologia, consistiu no desenvolvimento de uma modalidade explicativa baseada não no discurso religioso, mas na especulação lógico-racional para o melhor entendimento da realidade como esta se manifesta ao seres humanos. Ora, os físicos antigos buscavam o “arché” da “physis”, ou seja, o princípio fundamental (origem, composição e manutenção) da natureza. Isso signifi ca que a natureza, em sua integralidade, era passível de entendimento e este viria de forma argumentativa e não de forma fantástica com base em intuições sobrenaturais. (Importante salientar a característica mais importante dos pré-socráticos (cosmologia) e frisar a emancipação em relação à tradição religiosa.) Platão nos diz que existe um mundo (perfeito) de formas, essência, ideias, que seriam os modelos eternos de todas as coisas existentes no mundo sensível. Tais essências seriam imutáveis, incorpóreas e existentes em si mesmas, ou seja, não existem nas coisas ou apenas em nossas mentes, existem em si e por si mesmas no Mundo das Ideias. Cada coisa sensível é não outra coisa senão uma cópia imperfeita que participa parcial e imperfeitamente do modelo ideal. (Citar os dois mundos platônicos, caracterizando-os e deixando clara a preferência de Platão pelo Mundo das Ideias e a superioridade deste em relação ao Mundo Sensível.) NEO234_GRAP-Filosofia.indd 359NEO234_GRAP-Filosofia.indd 359 19/09/2011 14:00:1719/09/2011 14:00:17 Atividades preparatórias à 2a fase da UEL360 NEO.234_GRAP - Filosofi a 4. Caracterize a sofocracia platônica. 5. Faça uma exposição dos principais pontos da teoria política de Aristóteles. O Estado (cidade perfeita), como síntese dos valores transcendentais das ideias, tem o papel de educar os cidadãos para o conhecimento, e o governante deve ser o rei-fi lósofo, porque contempla as ideias perfeitas. Apenas quando o político se tornar fi lósofo (ou vice versa), será possível construir a cidade autêntica, ou seja, o Estado fundado sobre o valor supremo da justiça e do bem. Platão vê a necessidade da criação de classes diferentes de cidadãos (governantes, guardas e mantenedores), que desempenhariam funções sociais de acordo com sua natureza e suas aptidões. Cada grupo social exerceria funções específi cas voltadas para o bem da cidade, e os interesses particulares deveriam ceder espaço aos interesses públicos. As almas de bronze (mantenedores), aqueles que desenvolveriam somente trabalhos ligados à manutenção da cidade, teriam formação elementar no primeiro momento do processo. Nesse grupo, estaria em evidência o aspecto concupiscível da alma humana; As almas de prata (guardas), ou seja, os responsáveis por atividades ligadas à proteção interna e externa da sociedade, teriam formação mais elaborada, de caráter ginástico-musical; As almas de ouro (governantes), aqueles que governariam a cidade e teriam em evidência o aspecto racional da alma, teriam formação com o objetivo de desenvolver a virtude da sabedoria, pela prática da fi losofi a. (Apresentar o ideal do rei-fi lósofo que Platão procura materializar na Callipolis. Esta, com suas classes, deve ser um desenho ampliado (gigantografi a) das partes da alma humana.) Para Aristóteles, o homem não é somente um animal racional, mas também um animal político e conhece três estágios de socialização: a família, o povoamento e a pólis. Cabe à cidade, pois, consolidar a justiça, base sobre a qual se assenta a felicidade e o bem comum. Para tanto, o governante deve ter a prudência, virtude que garante a justiça. O bem do indivíduo e o bem da cidade são da mesma natureza – daí a indissociabilidade entre ética e política – no entanto, o bem da cidade é perfeito, pois ultrapassa a esfera do privado e instala a do coletivo. A cidade, segundo Aristóteles, não é fruto de uma convenção entre os homens: ela é natural, pois nasce da própria condição humana, naturalmente propensa à política. O governante dessa cidade deverá, pela prudência (phronesis), buscar o equilíbrio entre as relações sociais, visando ao bem comum, possibilitando, assim, a amizade (philia) como cumplicidade e concordância entre os cidadãos com relação aos destinos da cidade autossufi ciente. Ressaltar o caráter político da natureza humana e a grande fi nalidade (teleologia) da política, que é a “cidade feliz” (autossufi ciente), que promove o bem comum e a justiça. NEO234_GRAP-Filosofia.indd 360NEO234_GRAP-Filosofia.indd 360 19/09/2011 14:00:1919/09/2011 14:00:19 Atividades preparatórias à 2a fase da UELNEO.234_GRAP - Filosofi a 361 6. Explique por que Maquiavel é demolidor em relação à tradição política medieval. 7. Faça uma exposição do contratualismo político de Hobbes. Com Maquiavel, a política cresceu e emancipou-se da ética religiosa. Ao agir, o governante tem de pensar exclusivamente no objetivo central da política: a obtenção e manutenção do poder. O jogo político tem suas próprias leis (autonomia), que devem ser conhecidas, compreendidas e seguidas. Justamente pelo fato de ser estruturalmente independente dos padrões preestabelecidos pelos paradigmas ético-religiosos (laicidade), a política se constitui defi nitivamente como categoria autônoma e laica. Em outras palavras, capaz de governar-se, sem a ingerência de fatores exógenos, prescindindo totalmente da dimensão do sagrado. No interior dessa tendência, entrevemos uma espécie de pessimismo antropológico, ou seja, uma visão negativa do homem. Para Maquiavel, o governante não pode medir esforços, nem hesitar, diante do dever de ser bom ou mau, conforme a necessidade (utilitarismo). Nessa perspectiva, a coerência e a validade das ações estão contidas no próprio ato de governar. Maquiavel procura na realidade prática das coisas (realismo) a legitimação para a execução de um projeto político de cunho realista e utilitarista. (Esclarecer o caráter inovador do pensamento maquiaveliano, que focaliza a política numa nova perspectiva, agora ela é autônoma e tem o “status” de ciência e não é mais como subárea da religião hegemônica.) Estado de natureza é a condição em quese encontram os homens antes da formação de uma comunidade política. Nesse estado, a única lei conhecida é a da força. Nessa condição de guerra, nada pode ser justo ou injusto, e tudo é permitido, pois não existe distinção entre o que é bom e o que é mau. Onde não existe a dimensão do bem comum, não existem leis, e onde estas não existem não há nada que nos obrigue. Diante dos perigos iminentes do estado de natureza e com o fi rme objetivo de autopreservação, os homens renunciam a sua liberdade incerta em troca da relativa segurança. A saída do estado de natureza coincide, portanto, com o advento da paz social. No entanto, apesar da utilidade do contrato, sua precariedade e artifi cialidade fazem que ele não seja sufi ciente para manter a observância por parte dos homens. Por isso, faz-se necessária a implantação de um poder que os obrigue a respeitar os acordos fi rmados entre si. Ora, sem a espada que lhes imponha o respeito, os acordos não passam de palavras. (Importante lembrar que a estrutura do contratualismo de Hobbes deve conter a descrição do estado pré-civil, a formação do contrato social e o governo absoluto que cuida para que o contrato seja cumprido.) NEO234_GRAP-Filosofia.indd 361NEO234_GRAP-Filosofia.indd 361 19/09/2011 14:00:1919/09/2011 14:00:19 Atividades preparatórias à 2a fase da UEL362 NEO.234_GRAP - Filosofi a 8. Explique os fundamentos do contratualismo liberal de John Locke. 9. Descreva o contratualismo de Jean-Jacques Rousseau. Para esse pensador inglês, o ser humano, em seu estado pré-civil, encontra-se sob o conjunto das leis da natureza que, se seguidas, podem garantir uma condição de relativa paz e cooperação mútua. Em seu estado natural, o homem tem direitos naturais inalienáveis, irrenunciáveis e irrevogáveis, dentre os quais estão a vida, a liberdade e o próprio corpo, mas principalmente a propriedade privada de bens. Esse conjunto de direitos forma a estrutura de sustentação do que Locke chama de Lei Natural. No entanto, somente a Lei Natural não é sufi ciente para garantir a existência harmônica entre os seres humanos; faz- -se, portanto, necessário constituir uma instância independente, que possa, de maneira isenta, resolver as pendências entres os homens. O estado civil como o estado que sucede o estado de natureza é constituído para fundar as estruturas básicas do convívio social sob a infl uência e tutela de uma autoridade legitimamente constituída para tanto. Então, o estado civil, que é fi rmado com base em um pacto de consentimento, é a garantia de uma convivência racional entre os indivíduos e do respeito e preservação dos direitos naturais, especialmente da propriedade privada. (O contratualismo de Locke tem caráter liberal; portanto, é fundamentado no consentimento e na necessidade da preservação de nossos direitos naturais.) De acordo com Rousseau, em seu estado de natureza o ser humano é livre, inocente e cheio de bondade. Essa hipotética caracterização do estado pré-social é o ponto de partida para a noção de bom selvagem como caracterização máxima do homem natural. Nessa condição, o homem satisfaz-se com pouco, pois não tem as noções de acúmulo e de lucro. Dessa maneira, ele respira apenas isolamento, sossego e liberdade. Os vícios e a corrupção têm seu início com o advento da sociedade baseada na propriedade privada. Inserido nesse modelo corrompido de sociedade, o ser humano é totalmente afetado pelas distorções sociais e vive a vida a tentar prejudicar e manipular os outros para benefício próprio. O grande desafi o que Rousseau propõe é o de encontrar um paradigma social que garanta a segurança dos indivíduos e possibilite a preservação e o aprimoramento da liberdade. Sem dúvidas, faz-se necessário um novo contrato, que deve ter como foco orbital a vontade geral. Para Rousseau, a vontade geral indica, em seu signifi cado pleno, os princípios norteadores do interesse e do bem comum que não podem ser reduzidos à mera soma das diversas vontades dos indivíduos, pois se trata da expressão mais pronta e acabada que podemos ter de um ideal democrático. Todo e qualquer sistema e atos de governo, bem como o conjunto de leis e instituições vigentes em uma sociedade, somente podem ser considerados justos e legítimos se forem a materialização da vontade geral. (A teoria contratualista de Rousseau parte da noção de homem natural como uma espécie de bom selvagem, puro e inocente, que desconhece vícios e que se desvirtua com o surgimento de uma sociedade corruptora baseada na propriedade privada.) NEO234_GRAP-Filosofia.indd 362NEO234_GRAP-Filosofia.indd 362 19/09/2011 14:00:1919/09/2011 14:00:19 Atividades preparatórias à 2a fase da UELNEO.234_GRAP - Filosofi a 363 10. Defi na e caracterize o processo de conhecimento para Platão. 11. Caracterize o conhecimento aristotélico diferenciando-o do platônico. 12. Explique o que foi a revolução Científi ca enquanto movimento epistemológico. Para Platão, o processo de aquisição do conhecimento é uma experiência emancipadora (passagem da doxa para a episteme), que permite que o ser humano se liberte do mundo das aparências ilusórias, para alcançar o mundo ideal. De acordo com as teses defendidas por esse fi lósofo ateniense, pode-se afi rmar que o processo do conhecimento é uma anamnese, uma reminiscência, isto é, uma forma de recordação daquilo que já existe desde sempre no interior de nossas almas. Devemos lembrar que, para Platão, as almas dos homens, antes de se encarnarem nos corpos, tiveram a cesso às verdades (ideias, essências perfeitas) pertinentes ao Mundo das Ideias e, portanto, as recordações seriam a partir das “marcas” ou impressões deixadas por elas em nossas almas. Para Platão, portanto, os sentidos não são fonte de conhecimento verdadeiro; o conhecimento sensível é sempre parcial e imperfeito (doxa), enquanto o conhecimento das ideias é sempre pleno e verdadeiro (episteme). (Não esquecer de abordar a questão da reminiscência do mundo das ideias e dar a ideia de evolução do processo de conhecimento a partir das lembranças.) Enquanto Platão considerava o processo de conhecimento da verdade um conjunto de eventos predominantemente psíquicos (da alma), que prescindia quase totalmente dos sentidos, Aristóteles os entende como elementos indispensáveis a esse processo. Com os dados que apreendemos por meio dos sentidos e guardamos em nossa memória, damos o primeiro passo no processo de conhecimento. Por isso, boa parte dos especialistas em fi losofi a classifi ca o pensamento aristotélico como realista em relação ao platônico. (Salientar que, enquanto Platão é resistente ao papel dos sentidos na busca pela verdade, Aristóteles parte deles para entender o conhecimento.) Durante mais de mil anos, a visão de mundo medieval baseada na fi losofi a grega, em Platão (patrística) e num segundo momento em Aristóteles (escolástica), estabeleceu o alcance do conhecimento humano. No entanto, com o Renascimento, no fi nal do século XVI, começaram a surgir novas tendências epistemológicas que mudariam para sempre a face do conhecimento. O modelo medieval começou a entrar em colapso. O sistema aristotélico, tão valorizado durante a baixa idade Média e instrumento indispensável para a superação da Patrística, começou a ruir. Com isso, abriu-se caminho para novas possibilidades epistemológicas e para uma nova concepção de universo e de ser humano. O homem abandonou, aos poucos, as explicaçõesde caráter religioso, que tomavam conta de seu NEO234_GRAP-Filosofia.indd 363NEO234_GRAP-Filosofia.indd 363 19/09/2011 14:00:1919/09/2011 14:00:19 Atividades preparatórias à 2a fase da UEL364 NEO.234_GRAP - Filosofi a 13. Fale sobre a contribuição de Galileu para o advento da ciência. 14. Explique o processo da dúvida metódica como busca de fundamento seguro para o conhecimento. imaginário, e buscou a constituição de uma racionalidade autônoma. O conhecimento contemplativo, especulativo, herdado dos gregos, cedeu lugar a um modelo ativo, experimental de conhecimento. (O núcleo da resposta está no fato de a revolução Científi ca ser o marco divisório entre uma forma de conhecimento especulativo, pautado na autoridade, e um conhecimento novo, experimental. Agora a verdade vem pela experiência, pelo uso da técnica e da matemática.) Sua grande contribuição deve-se ao fato de ter descartado o modelo geocêntrico (aristotélico-ptolomaico) de universo e defender o modelo heliocêntrico (copernicano). Além disso, esse cientista italiano inaugurou um modelo ativo (experimental) de conhecimento e defendeu a utilização da matemática como linguagem científi ca, bem como a experimentação e o uso da técnica para verifi car se determinada teoria é verdadeira ou não. Com a utilização da luneta, Galileu, gradualmente, começa a colocar em xeque os paradigmas especulativos da Física aristotélica. Para Galileu, o grande livro do universo estava escrito em caracteres geométricos e matemáticos. (Ter em mente que Galileu e sua dramática saga se confundem com a origem da própria ciência moderna. Ora, o conhecimento praticado por ele, bem como o fundamento teórico que o sustenta, são a expressão do que entendemos por ciência.) Diante da nova realidade epistemológica e das incertezas provocadas por ela, Descartes resolveu criar uma estratégia para alcançar uma verdade fundamental, da qual se pudesse partir para um conhecimento seguro. Essa estratégia fi cou conhecida como “dúvida metódica” (ou hiperbólica). Basicamente, esse procedimento metodológico consiste em duvidar de tudo, tomar todas as coisas como falsas, no intento de chegar a algo que seja indubitável. Em seu caminho de busca do indubitável, o fi lósofo deveria duvidar voluntária e metodicamente de todas as coisas que parecessem evidentes e em que se apoiava a epistemologia tradicional. Nesse procedimento, ele encontraria argumentos para colocar em dúvida determinadas coisas tidas como inquestionáveis. Descartes duvidou, primeiramente, dos sentidos, já que, muitas vezes, eles nos enganam. Ele duvidou também da realidade vivida, pois esta pode não passar de um sonho. Duvidou, ainda, das evidências científi cas e das verdades matemáticas, pois elas podem não passar de estratégias e artifícios de um deus enganador ou de gênio maligno, cujo objetivo é direcionar a mente ao erro. (A dúvida metódica (hiperbólica) foi uma estratégia baseada em uma postura cética, cujo objetivo era encontrar a certeza que fundamenta o conhecimento. Por isso ela é um recurso metodológico e não tem um fi m em si mesma.) NEO234_GRAP-Filosofia.indd 364NEO234_GRAP-Filosofia.indd 364 19/09/2011 14:00:1919/09/2011 14:00:19 Atividades preparatórias à 2a fase da UELNEO.234_GRAP - Filosofi a 365 15. Explique a afi rmação cogito ergo sum (penso, logo existo) 16. Explique o que é o mecaniscismo cartesiano. 17. Explique a parte destrutiva da teoria epistemológica de Francis Bacon. Trata-se princípio fundamental do qual devemos partir em direção a um conhecimento seguro. É a certeza que Descartes procurava, o resultado da Dúvida Metódica. Ora, podemos duvidar de tudo, menos do fato de estarmos duvidando, ou seja, o ato de duvidar é algo indubitável. Se duvido, penso e, se penso, existo. (Esta questão aborda o que chamamos de “cogito” cartesiano, o fundamento seguro para o conhecimento. Ter claro que este conceito é centro da fi losofi a cartesiana.) O mecanicismo cartesiano é a visão cartesiana segundo a qual a natureza é uma máquina cujas características essenciais são o movimento e a matéria. Também o ser humano e os outros organismos da natureza são como máquinas e podem ser explicados por princípios mecânicos que regulam tanto seu movimento quanto suas relações. A própria vida é explicada e compreendida com base nessa teoria mecanicista. (O mecanicismo é uma visão de mundo que condiciona a compreensão das coisas a partir de relações mecânicas. Importante lembrar que o mecanicismo é uma maneira reducionista de compreender o mundo.) A parte destrutiva da teoria baconiana, conhecida como “teoria dos ídolos”, consiste basicamente em fazer uma varredura na mente humana para livrá-la dos vícios, empecilhos e preconceitos (ídolos) que a dominam. Ídolos da Tribo são preconceitos próprios da natureza humana. Eles levam a uma percepção e compreensão da natureza de maneira diferente do que, de fato, ela é. Os ídolos da tribo fazem que vejamos a natureza como se ela estivesse refl etida em um espelho. Ídolos da Caverna são preconceitos e noções falsas oriundas das convicções, das opiniões íntimas dos indivíduos. É como se cada ser humano tivesse uma caverna interior que impedisse uma visão de mundo mais nítida e verdadeira. Ídolos do Foro (ou do mercado) são equívocos relativos à linguagem humana. Tais ídolos dizem respeito à ambiguidade da comunicação proporcionada pelo mau uso da língua. As palavras usadas de maneira imprópria e inadequada provocam o desvio do conhecimento. Ídolos do Teatro dizem respeito à adesão do indivíduo a doutrinas e sistemas fi losófi cos cujas regras de demonstração falseadas afastam o ser humano do caminho da verdade. (Os ídolos são difi culdades e vícios que devem ser purgados para que o ser humano alcance um conhecimento que seja capaz de lhe dar poder.) NEO234_GRAP-Filosofia.indd 365NEO234_GRAP-Filosofia.indd 365 19/09/2011 14:00:1919/09/2011 14:00:19 Atividades preparatórias à 2a fase da UEL366 NEO.234_GRAP - Filosofi a 18. Explique a crítica à causalidade proposta por David Hume. 19. Descreva o processo de conhecimento de acordo com o criticismo, explicando o que foi a virada copernicana operada por Kant. 20. Explique os fundamentos da ética platônica. Existe uma espécie de crença refi nada no processo de conhecimento humano. Se uma pessoa visse uma garrafa cheia de café virar-se, não só pensaria no derramamento do café e na quebra da garrafa, como também acreditaria que isso, de fato, aconteceria. Apresentamos uma inclinação, uma tendência a estabelecer vínculos que acreditamos necessários, lógicos e coerentes entre fenômenos diferentes. No entanto, tais vínculos são fruto de nossa experiência de que uma coisa se segue a outra. Assim, por hábito (costume), estabelecemos que determinados esquemas de experiências passadas se repetem. Isso fortalece minha ilusão e minha crença na existência objetiva da causalidade. (Não podemos nos esquecer de que a causalidade é um princípio segundo o qual todos os eventos da natureza podem ser explicados a partir de uma causa. Sendo assim, toda causa teria um efeito respectivo. No entanto, para Hume, a natureza nada nos revela sobre isso. Por isso a causalidade é fruto da experiência e do hábito.) Para Kant, o processo de conhecimento é resultado da interatividadeentre elementos estruturais do sujeito e a realidade objetiva. As estruturas do sujeito sem o conteúdo sensível são vazias, e os dados objetivos da realidade, sem as estruturas subjetivas que os ordenem, não têm sentido. É importante verifi car que, para Kant, nessa complexa relação entre sujeito e objeto, quem ocupa o foco orbital é o primeiro, e não o segundo. Desse modo, como Copérnico colocou o Sol no centro do universo e tirou a Terra, Kant tirou o objeto e colocou o sujeito. (Lembremos que, para Kant, as formas da sensibilidade (espaço-tempo) fi cam encarregadas de intuir (captar) os dados sensíveis e o intelecto, e suas categorias organizam os dados formando os conceitos. O conhecimento humano não pode ultrapassar os limites da experiência, sendo, portanto, fenomênico.) Defensora de uma concepção dualista de ser humano, a ética platônica terá como ponto central essa condição, pois defende a teoria de que o caminho da virtude passa pelo desligamento das realidades sensíveis para que possamos alcançar as ideias perfeitas, entre elas os valores éticos fundamentais. À medida que nos aproximamos do mundo inteligível, não fi camos somente mais sábios, mas aprimoramos também nossa conduta ética e tornamo-nos, dessa forma, mais virtuosos. Platão distingue três partes diferentes para a alma (racional, irascível e concupiscível), cada uma com função. Tal distinção entre as funções irracionais e a função racional é muito importante para a estruturação da ética platônica. Pode haver harmonia ou graves confl itos entre as várias funções exercidas pela alma. Para Platão, o perfeito deve governar o imperfeito, a função superior deve coordenar as funções inferiores. Em outras palavras, no homem ético, a alma racional governa a irascível e a concupiscível. Enfi m, o ser humano terá vida virtuosa à medida que se aproxime dos valores ideais, ou seja, se conseguir dominar os impulsos irascíveis e as paixões concupiscíveis. (Também a ética platônica deve ter como chave de interpretação a Teoria das Ideias. E, nesta perspectiva, há relação direta entre ética e racionalidade.) NEO234_GRAP-Filosofia.indd 366NEO234_GRAP-Filosofia.indd 366 19/09/2011 14:00:1919/09/2011 14:00:19 Atividades preparatórias à 2a fase da UELNEO.234_GRAP - Filosofi a 367 21. Descreva a ética aristotélica em seus principais aspectos. 22. Explique os princípios da ética kantiana. 23. Esclareça a visão platônica sobre arte à luz da Teoria das Ideias. É em sua obra Ética a Nicômaco, que Aristóteles desenvolve substância de seu pensamento ético. Nesse tratado, Aristóteles defende a ideia de que a virtude ética se encontra na justa medida ente o excesso e a falta, que pode ser atingida pelos homens que demonstrarem prudência (phronesis) em suas decisões e ações. Tal conduta só pode ser alcançada quando o homem se deixa guiar por sua razão. Vivendo assim, ele pode atingir a felicidade (eudaimonia), fi nalidade máxima da vida humana. Isso é o que Aristóteles chama de “vida boa para”. Portanto, para que o homem seja feliz, faz-se necessária uma vida conforme sua essência e vocação primordial, ou seja, conforme a racionalidade ou consciência refl exiva. (Lembrar que, para Aristóteles, as virtudes éticas (justo meio) têm como condição de possibilidade as virtudes intelectuais ou dianoéticas (racionalidade e sabedoria). Os princípios éticos da fi losofi a kantiana são derivados da racionalidade humana. Por isso, a moralidade trata do uso prático e livre da razão. Ora, para esse fi lósofo prussiano, os princípios fundamentais da razão prática podem ser traduzidos por uma lei que defi ne nossos deveres, por isso aplicam-se a todos os indivíduos em qualquer circunstância. Devido a essas peculiaridades, muitos estudiosos consideram a ética kantiana uma ética do dever, ou seja, uma ética que encontra sua validade na observação do dever racional. Para Immanuel Kant, existe uma lei moral objetiva capaz de sintetizar o dever moral e traduzir a racionalidade humana. Essa lei é conhecida por nós não pela experiência, mas pela razão. Ou seja, essa lei nada mais é do que a própria razão humana, que traz consigo a ideia de dever. Trata-se, portanto, daquilo que o fi lósofo prussiano chama de imperativo categórico: pois nem sua autoridade, nem seu poder de nos motivar derivam de algo que não seja ela mesma (a própria racionalidade humana). De outra forma, se seguirmos o imperativo categórico, agiremos de acordo com o dever racional e nossas ações serão éticas, se nos desviarmos dele elas carecerão de racionalidade e não serão éticas. (Lembrar que é imprescindível a compreensão do imperativo categórico como tradução da estrutura da razão prática em forma de lei, que, se seguida, garante a eticidade das condutas humanas.) No entendimento de Platão, a arte era essencialmente mimese (mímesis), então, reproduziria, copiaria o mundo sensível, que por sua vez já é uma cópia do mundo ideal. Então, a arte nada mais é do que uma cópia da cópia. Por isso a arte não revela, mas esconde o verdadeiro; não constitui uma forma de conhecimento e não melhora o homem, mas o corrompe, porque é mentirosa; não educa o homem, mas o deseduca, porque se volta para as faculdades irracionais da alma. Do ponto de vista gnosiológico (do conhecimento), a arte é inferior à ciência fi losófi ca e deve ser evitada. Devemos lembrar que a grande censura platônica recai sobre a pintura e a escultura, mas principalmente sobre a poesia. Com relação à música, Platão tem visão extremamente otimista. É muito importante salientar que ele considera a música como uma espécie de ciência de caráter preparatório e em alguns momentos ele a chama de “a arte por excelência”. Como Pitágoras, o fi lósofo ateniense julga que a música é uma espécie de harmonia divina. (É muito importante lembrar que o ideal platônico de existência passa pela missão que ser humano tem de alcançar o conhecimento ideal através da reminiscência. Nesse contexto, tudo o que nos afasta do Mundo das ideias deve ser evitado e este é o caso da arte.) NEO234_GRAP-Filosofia.indd 367NEO234_GRAP-Filosofia.indd 367 19/09/2011 14:00:1919/09/2011 14:00:19 Atividades preparatórias à 2a fase da UEL368 NEO.234_GRAP - Filosofi a 24. Explique a visão aristotélica de mimese (mímesis). 25. Explique a visão aristotélica de catarse (katharsis) 26. Desenvolva o conceito de falseabilidade popperiana. Mesmo compartilhando com Platão o pensamento de que a arte é essencialmente mimese e, por isso, é falsa e nos revela a falsidade, há entre esses dois fi lósofos diferenças marcantes. Enquanto para Platão a mimese é alienadora, mentirosa e nada tem a acrescentar, para Aristóteles, ela, por ser arte, tem o direito de ser falsa. Além disso, a mimese é um momento único de intercâmbio, em que o artista tem a chance e o poder de acrescentar algo ao real. Por isso, nesse novo contexto, a mimese, além de pura imitação, é criação que envolve iniciativa e criatividade, fazendo que o artista possa transpor os limites da natureza. (Aristóteles tem uma visão mais positiva da arte enquanto mimese, mesmo que concorde com Platão no tocante ao fato de ela revelar somente o que é falso.) Aristóteles chama a atenção para o fato de a arte não ser apenas mimese, mas também catarse, isto é, não se trata de imitação criativa, mas também de purifi cação, purgação, libertação do espírito humano. A arte catártica por excelência é a tragédia (uma espécie de medicinada alma), pois, à medida que somos submetidos ao drama, ao terror, ao medo, enfi m, ao conjunto de sentimentos e emoções que a tragédia evoca, podemos refl etir sobre eles e, assim, somos purifi cados de tais sentimentos e aprendemos a lidar mais racionalmente com eles. Trata-se de uma agradável libertação operada pela arte. É importante lembrar que raciocínio análogo Aristóteles desenvolve em relação à música, ou seja, ele reconhece na música grande poder catártico. Exaltando a tragédia e colocando-a em primeiro lugar entre as manifestações artísticas, Aristóteles diz que ela é superior e mais fi losófi ca do que a história e a comédia. É superior à história porque esta tem como objeto aquilo que aconteceu uma vez, ou seja, parece que a história tem um lastro que a prende ao particular e temporalmente situado. A tragédia, não estando ancorada naquilo que aconteceu uma vez no passado, descortina a dimensão do universal e eterno. Embora tanto a tragédia quanto a comédia sejam, de certa forma, mimese, a primeira é superior à segunda. A comédia é uma caricatura do humano e imita os homens piores, de baixa índole, e a tragédia, os homens melhores, os mais nobres. (Ao falarmos de arte em Aristóteles, sempre devemos ter em mente a importância e a dimensão da tragédia que, para ele, tinha caráter universal e fi losófi co, superior à história e à comédia.) Para Popper, a grande tarefa da experimentação e das observações da realidade é encontrar elementos que possam desmentir a teoria, ou seja, falseá-la. Isso mesmo: Karl Popper é contra a concepção cientifi cista da verifi cação absoluta, e a ela contrapôs a nova ideia de falseabilidade. Segundo o princípio de falseabilidade, uma teoria é boa quando apresenta a capacidade de ser contrariada, rejeitada, falseada pela experiência. Dessa forma, novos e mais verossímeis modelos serão construídos. (Devemos deixar claro que não há uma negação do conhecimento, mas uma ideia de dinamicidade epistemológica, ou seja, o conhecimento humano avança à medida que a experimentação aponta suas lacunas e pontos fracos das teorias por meio da falseabilidade. Isso possibilita construções superiores a mais coerentes.) NEO234_GRAP-Filosofia.indd 368NEO234_GRAP-Filosofia.indd 368 19/09/2011 14:00:1919/09/2011 14:00:19 Atividades preparatórias à 2a fase da UELNEO.234_GRAP - Filosofi a 369 27. Disserte sobre os fundamentos da Teoria Critica da Sociedade. 28. Explique a noção de Racionalidade Instrumental. 29. Explique o signifi cado da expressão “indústria cultural”. A Escola de Frankfurt procurava consolidar sua posição como uma perspectiva mais crítica, a partir de uma avaliação da construção científi ca e do papel ideológico que as ciências estariam prestando ao sistema capitalista. Crítica à ciência, ao pensamento positivista, à sociedade industrial e à cultura são os marcos dessa teoria frankfurtiana, cujas infl uências teóricas mais destacadas seriam Marx e Freud, entre outros. Ela surgiu como uma teoria da sociedade considerada um todo, que deveria fazer emergir as contradições fundamentais da sociedade capitalista. De outra forma, ela pretende ser uma compreensão totalizante e dialética da sociedade humana em seu conjunto, bem como dos mecanismos da sociedade industrial avançada, a fi m de promover uma transformação racional que leve em conta o humano, sua liberdade, sua criatividade e seu progresso harmonioso, em colaboração com os outros, em vez de um sistema opressor e sua perpetuação. (Importante lembrar que a Teoria Crítica funciona como um diagnóstico crítico da sociedade capitalista e tem pretensões de apontar os caminhos para a superação das contradições dessa confi guração social.) A razão instrumental é a degradação, a subversão da racionalidade iluminista, que falseia o projeto de emancipação do ser humano e o transforma em instrumento do capital. Por isso, ela não emancipa, mas escraviza, pois está a serviço do poder. Esse tipo de racionalidade é, ao mesmo tempo, instrumento e instrumentalizante, pois está a serviço do capitalismo superdesenvolvido e instrumentaliza o ser humano e suas produções culturais, deixando-os à mercê dos interesses escusos do mercado. (Deixar claro que a Racionalidade Instrumental nasce com o colapso da Razão Iluminista, cujas promessas de emancipação redundaram em fracasso e barbárie.) A expressão “indústria cultural” surgiu, pela primeira vez, com Adorno e Horkheimer, em substituição à expressão “cultura de massa”, que poderia levar a pensar que se tratava de uma cultura gerada espontaneamente pelas massas populares, ou seja, poderia ser confundida com uma forma de cultura popular. Para a Teoria Crítica, a indústria cultural seria um fenômeno social observado nas décadas de 1930 e 40 do século XX, em que fi lmes, programas de rádio e semanários constituíam um sistema no qual os produtos culturais eram adaptados ao consumo das massas e para a manipulação delas. A indústria cultural é, portanto, um sistema em que os vários produtos culturais se conjugam harmonicamente. Essa integração é deliberada e produzida, de maneira vertical, pelos setores hegemônicos da sociedade, com a determinação do tipo e da função do processo de consumo, bem como de seus benefi ciários. (Deve-se atentar para o fato de deixar clara a distinção entre cultura de massa e cultura popular.) NEO234_GRAP-Filosofia.indd 369NEO234_GRAP-Filosofia.indd 369 19/09/2011 14:00:2019/09/2011 14:00:20 Atividades preparatórias à 2a fase da UEL370 NEO.234_GRAP - Filosofi a 30. Elabore uma síntese da teoria política habermasiana. Como forma de emancipação social, Habermas busca constituir uma forma de refl exão crítica sobre a instrumentalidade da razão. Para isso, Habermas desenvolve uma Teoria da Ação Comunicativa, uma análise teórica e epistêmica da racionalidade como sistema operante, criador de conteúdo e sentido na sociedade. Por isso, deve-se analisar sua tese como contraposição à razão instrumental. Habermas procura mostrar uma alternativa em que a racionalidade dos indivíduos, mediada pela linguagem e pela capacidade de comunicação, começa a vencer os limites impostos pela Racionalidade Instrumental. O ser humano vive, pensa e produz em relação constante com outros homens, jamais fora dessa trama social. É no âmbito da construção política feita por homens reais no mundo real que, segundo Habermas, a racionalidade comunicativa se estabelece como instrumento de consenso social e político que opera na realidade. Habermas fundamenta a reabilitação da esfera social com base em orientações dialógicas das ações sociais. Dessa forma, tal empreita não poderia ser levada a cabo de modo coercitivo ou meramente instrumental, mas por meio de posturas dialógicas, compreensivas e democráticas, na órbita de um consenso comunicativo, que nesse sentido deveria ser construído dentro das relações sociais, em função da racionalidade das ações. De forma introdutória, isso é o início da racionalidade comunicativa ou, pelo menos, um caminho anterior que pode nos levar a ela. Este é o fundamento para o que Habermas chamará de democracia deliberativa como superação da democracia de massa. (É muito importante ter em mente que o fundamento político defendido por Habermas é o diálogo racional, do qual dependem a superação da racionalidade instrumental e a instauração da razão comunicativa para a emancipação do homem como ser social. Somente esse novoparadigma, agora dialogal e comunicativo, pode acabar com as relações assimétricas do tecido social, estabelecendo uma nova e revigorada relação entre sujeitos livres.) NEO234_GRAP-Filosofia.indd 370NEO234_GRAP-Filosofia.indd 370 19/09/2011 14:00:2019/09/2011 14:00:20
Compartilhar