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EROSÕES RURAIS ORIGEM E PROCESSOS DE EVOLUÇÃO: ESTUDO DO CASO DA FAZENDA SÃO SEBASTIÃO NO MUNICÍPIO DE SÃO LUIS DE MONTES BELOS - GO1 Claudyanna Siqueira Dantas2 Osmar Mendes Ferreira3 Universidade Católica de Goiás – Departamento de Engenharia – Engenharia Ambiental Av. Universitária, Nº 1440 – Setor Universitário – Fone (62)3227-1351. CEP: 74605-010 – Goiânia - GO. Resumo O estudo das erosões é uma ferramenta essencial para o planejamento do uso da terra. Essa pesquisa teve como objetivo o estudo a cerca das erosões rurais, seu surgimento e seus mecanismos de controle. Como cenário de estudo de caso na ocorrência de um processo erosivo realizado na Fazenda são Sebastião, localizada no município de São Luis de Montes Belos – GO. O estudo aborda inicialmente os processos erosivos, a problemática do mau uso e conservação do solo, a situação atual da área em estudo, o dimensionamento e conseqüências, apontando para técnicas que podem ser adotadas preventivamente, em seguida mostra uma síntese das técnicas de recuperação, que poderão ser utilizadas para o controle do processo e revitalização da área em estudo. Palavras-chave: erosões, conservação do solo, prevenção, recuperação. Abstract The study of erosion is an essential tool for planning of land use. This research aimed to the study about the erosion of rural areas, their appearance and their mechanisms of control. As the backdrop for a case study on the occurrence of an erosion process is conducted in Sebastian Farm, located in the municipality of San Luis Montes de Nice - GO. The study initially the erosive processes, the problem of misuse and soil conservation, the current situation of the area under study, the size and consequences, pointing to techniques that can be taken preventively, then shows a summary of techniques for recovery, that could be used to control the process and revitalization of the area under study. Keywords: erosion, soil conservation, prevention, recovery 1 Artigo apresentado à Universidade Católica de Goiás como exigência parcial para a obtenção do título de Bacharel em Engenharia Ambiental, DEZEMBRO DE 2008. 2 Acadêmica do curso de Engª Ambiental da Universidade Católica de Goiás (claudyanna19@hotmail.com) 3 Orientador Profº Universidade Católica de Goiás - UCG (mendes_osmar@yahoo.com.br) 2 1. INTRODUÇÃO A transformação da agricultura brasileira acontece a partir de meados da década de 1960, quando se insere no contexto da modernização e desenvolvimento do país a exportação de produtos agrícolas. No estado de Goiás, essa realidade se intensificou a partir da década de 1970, e tem associado a essa expansão, problemas relacionados ao mau uso e ocupação das áreas agrícolas, também denominados de solo rural. Dentro deste contexto, a região dos Cerrados, tornou-se estratégica na incorporação de novas áreas, tanto pela sua posição geográfica, como por suas características físico-ambientais, que propiciavam a expansão da produção agropecuária nos padrões da nova agricultura moderna. A ocupação inicial dos Cerrados começou no século XVIII, com a exploração de ouro e pedras preciosas. Em seguida instalou-se a pecuária extensiva, e, a partir de meados deste século, com a construção de Brasília, a abertura de estradas e a valorização da terra em outras regiões estabeleceram-se a agricultura extensiva, ou seja, monoculturas baseadas na correção de solos pelo emprego de calcário-dolomítico e na mecanização intensiva. Essas atividades foram desenvolvidas de forma desorganizada e sem respeito ao patrimônio natural. A produção de carvão vegetal destruiu quilômetros quadrados de Cerrado, as metalúrgicas lançaram poeiras nocivas à atmosfera e rejeitos aos rios regionais. As hidrelétricas submergiram enormes áreas produtivas e desequilibraram a vida aquática nos rios, com forte redução de sua psicosidade. A pecuária e as monoculturas agrediram os solos pelo uso repetido das queimadas, pelo acúmulo de resíduos da adubação, pelo favorecimento da erosão. Algumas estimativas indicam que 67% da vegetação nativa do Cerrado já foram de alguma forma modificada, com apenas 20% encontrando-se em seu estado original. Outro fato que aumenta a preocupação quanto ao futuro do segundo maior bioma brasileiro é que o Cerrado não está incluído na Constituição Federal como patrimônios nacionais como estão a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica. Por estes motivos, o Cerrado é hoje considerado uma das 25 áreas do mundo prioritárias para a conservação. No entanto, possui apenas 3% de sua extensão original protegida em parques e reservas federais e estaduais, com áreas inferiores a 100.000 hectares, o que coloca em evidência o grau de fragmentação do ecossistema. O município de São Luis de Montes Belos localizado na região Oeste do estado de 3 Goiás, não foge desta realidade, pois teve como principais atividades iniciais de sua ocupação a produção de cereais e criação de gado, na atualidade torna-se destacado por produzir gado e sendo um grande centro comercial da região. Existem no município várias ocorrências erosivas de grande porte, que surgiram devido ao uso e ocupação da terra de maneira inadequada, como o desmatamento em áreas de forte declive e o uso intensivo do pastoreio, que favorece a concentração do escoamento superficial, nas trilhas ou depressões do terreno, causadas pelo pisoteio excessivo do gado. Esta pesquisa visa chamar a atenção para a necessidade da proteção e recuperação de áreas comprometidas pelas erosões rurais, buscando o controle, conscientização de proprietários e racionalização do uso de áreas agricultáveis e pastoris, bem como os processos que desencadearam e desencadeiam a sua evolução, relacionando-os aos seguintes dados: tipos de solos, pluviosidade, presença de vegetação, declividade do terreno, além do grau de intervenção antrópica. Tais dados interligados poderão nos ajudar a entender os fatores que condicionaram e que condicionam a ação dos processos erosivos na área em estudo. Assim considerando, essa pesquisa objetiva realizar o diagnóstico da erosão localizada na Fazenda São Sebastião, situada no município de São Luis de Montes Belos – GO. Nesse contexto, mostrar e analisar os fatores que levaram o seu surgimento e os processos de sua evolução, identificando com esse estudo as condições para implantação de um plano de controle e recuperação dessa erosão. 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Solo O solo é a formação natural que se desenvolve na porção superficial da crosta terrestre. Ele é resultado essencialmente da interação dos processos físicos, químicos e biológicos sobre as rochas superficiais da crosta terrestre (DERISIO, 2000). Na definição da EMBRAPA (2004), solo é um recurso natural que deve ser utilizado como patrimônio da coletividade, independente do seu uso ou posse. É um dos componentes vitais do meio ambiente e constitui o substrato natural para o desenvolvimento das plantas. A ciência da conservação do solo preconiza um conjunto de medidas, objetivando a manutenção ou recuperação das condições físicas, químicas e biológicas do solo, estabelecendo critérios para o uso e manejo das terras, de forma a não comprometer sua 4 capacidade produtiva. Estas medidas visam protegê-lo, prevenindo-o dos efeitos danosos da erosão, aumentando a disponibilidade de água, de nutrientes e da atividade biológica do mesmo, criando condições adequadas ao desenvolvimento das plantas. As principais áreas de preservação ambiental freqüentemente encontram-se nas zonas rurais: áreas de mananciais, nascentes, corpos d’água, maciços vegetais, dentre outros recursos naturais. Faz-se necessária a verificação das condições dessas áreas e a possibilidade da recuperação das áreas degradadas, em face de luta contra a desertificação e a defesa da biodiversidade, reforçando a sustentabilidade econômica e territorial (LIMA, 2003). Após a retirada da cobertura vegetal,o solo fica exposto a diversas intempéries, como o sol, a chuva, os ventos, culminando na redução de sua permeabilidade, em conseqüência de sua compactação, desencadeando sérios problemas, como processos erosivos, principalmente do tipo laminar, que além de degradar o solo também o empobrece (GUERRA et al., 2007) Todo esse processo pode se tornar ainda mais agressivo ao ambiente, pois o solo retirado de um determinado lugar pelo escoamento laminar irá se acumular no leito dos rios, causando assoreamentos, enchentes podendo alterar todo o ecossistema aquático (DERISIO, 2000). O valor do solo rural não pode se restringir às questões relacionadas à produção agrícola, sendo de grande importância a sua função ambiental, como o de assegurar a quantidade e qualidade das águas, manterem a estabilidade das Áreas de Preservação Permanente (APP’s), ajudar na infiltração de águas e nutrientes, além de assegurar a existência de matéria orgânica para as plantas. 2.2 Erosão O termo erosão provém do latim (erodere) e significa “corroer”. Nos estudos ligados à ciência da terra, o termo é aplicado aos processos de desgaste da superfície terrestre (solo ou rocha) pela ação da água, do vento, de queimadas, do gelo e de organismos vivos (plantas e animais), além da ação do homem (CAMAPUM DE CARVALHO et al., 2006) O autor ainda cita que o processo erosivo depende de fatores externos, como o potencial de erosividade da chuva, as condições de infiltração e escoamento superficial e a declividade e comprimento do talude ou encosta e, ainda, de fatores internos, como gradiente crítico, desagregabilidade e erodibilidade do solo. A evolução da erosão ao longo do tempo depende de fatores tais como características geológicas e geomorfológicas do local, presença de trincas de origem tectônica e evolução físico-química e mineralógica do solo. 5 Nos estudos apresentados por Camapum de Carvalho et al. (2006) determinados esclarecimentos são necessários para complementar os fundamentos dessa pesquisa: - no meio geotécnico tem-se dado grande importância ao estudo das erosões de origem hídrica, dita lineares, que são classificadas como ravinas (sem surgência de água) e voçorocas (com surgência de água). No trato dos processos erosivos, é igualmente necessário que se considere a origem da ação dinâmica, o local, o momento e a velocidade de ocorrência do processo erosivo; - destaca-se, no entanto, que a dinâmica dos processos erosivos está intimamente ligada à própria dinâmica de variáveis causais como o clima e uso do solo, sendo que, por exemplo, o fato da primeira, clima, depender da segunda, uso do solo, reflete a sua complexidade; - são exemplos dessa situação, no meio rural, o plantio e manejo do solo de modo inapropriado, como a não observância de curvas de nível ou o desmatamento de matas ciliares; - a erosividade da chuva e a erodibilidade do solo são dois importantes fatores físicos que afetam a magnitude da erosão do solo. Como visto, a erosão do solo depende de vários fatores. Mesmo que a chuva, a declividade do terreno e a cobertura vegetal sejam as mesmas, alguns solos são mais susceptíveis ao destacamento e ao transporte de partículas pelos agentes de erosão que outros. Essa diferença, devido às propriedades do solo, é conhecida como erodibilidade do solo. 2.2.1 Classificação das erosões Para Camapum de Carvalho et al. (2006) a classificação das erosões é apresentada a seguir: - as erosões se classificam quanto à forma como surgiram, e podem se dividir em dois grandes grupos: a erosão natural ou geológica e a erosão antrópica ou acelerada, sendo a geológica ocasionada por fatores naturais, enquanto a antrópica esta relacionada a ação humana; - o mais comum, no entanto, é classificar a erosão em quatro grandes grupos: erosão hídrica, erosão eólica, erosão glacial e erosão organogênica. Este texto dará ênfase ás erosões antrópicas de origem hídrica geradas pela chuva. Estas erosões são geralmente classificadas em três tipos principais: erosão superficial, erosão interna e erosão linear (sulco, ravina e voçoroca), segundo seu estagio de evolução; - a erosão superficial surge do escoamento da água que não se infiltra. Ela está 6 associada ao transporte, seja das partículas ou agregados desprendidos do maciço pelo impacto das gotas de chuva, seja das partículas ou agregados arrancados pela força trativa desenvolvida entre a água e o solo. O poder erosivo da água em movimento e sua capacidade de transporte dependem da densidade e da velocidade de escoamento, bem como da espessura da lâmina d’água e, principalmente, da inclinação da vertente do relevo. A formação de filetes no fluxo superficial amplia o potencial de desprendimento e arraste das partículas de solo, dando, quase sempre, origem aos sulcos que evoluem para ravinas podendo chegar à condição de voçoroca; Os escoamentos superficiais, originados por uma chuva intensa sobre uma bacia, é uma parte do ciclo hidrológico local, sendo produzidos quando os componentes de recarga da bacia são satisfeitos. Esses componentes são a interceptação e escoamento ao longo da vegetação, o armazenamento no perfil do solo, a percolação profunda que atinge o aqüífero e o armazenamento em depressões da superfície (EMBRAPA, 2004). O escoamento superficial e o processo de desagregação da estrutura do solo, produzidos pelas gotas de chuva, constituem dois principais causadores da erosão pluvial. Como os dois processos são causa direta da precipitação pluviométrica que ocorre em determinado local, essa é considerada o elemento do clima mais importante no processo de erosão (EMBRAPA, 2004). ZACHAR (1982) apud CAMAPUM DE CARVALHO (2006) propõe uma terminologia para a classificação dos principais tipos de erosão, enfatizando o caráter combinado entre os agentes erosivos e a ação da gravidade, mostrados no Quadro 1. Quadro 1: Classificação da erosão pelos fatores ativos Fator Termo 1. água Erosão hídrica 1.1. chuva Erosão pluvial 1.2. fluxo superficial Erosão laminar 1.3. fluxo concentrado Erosão linear (sulco, ravina, voçoroca) 1.4. rio Erosão fluvial 1.5. lago, reservatório Erosão lacustrina ou límica 1.6. mar Erosão marinha 2. geleira Erosão glacial 3. neve Erosão nival 4. vento Erosão eólica 5. terra, detritos Erosão soligênica 6. organismos Erosão organogênica 6.1. plantas 6.2. animais Erosão fitogênica Erosão zoogênica 6.3. homem Erosão antropogênica Fonte: ZACHAR (1982) apud CAMAPUM DE CARVALHO (2006) 7 2.3 Uso e ocupação do cerrado Ao longo das últimas quatro décadas, a região central do Brasil assistiu a uma rápida e vigorosa ocupação do seu solo, por meio da urbanização e do acelerado incremento na atividade agropecuária, provocando o rápido surgimento de problemas ambientais, como a degradação do solo e processos erosivos. Esses problemas refletem em sérias implicações para as áreas urbanas, para o assoreamento de reservatórios e cursos de água, e para a perda de solos férteis utilizados pela atividade agrícola (CAMAPUM DE CARVALHO et al. 2006). A maior parte da ocupação do cerrado está voltada para a produção de grãos e carnes, sem contabilizar os custos sociais e ambientais gerados até o presente momento, sendo um deles a erosão, que se não de todo evitável, pode, no mínimo, ser mitigada para níveis aceitáveis, visando à manutenção do equilíbrio ecológico. Segundo a Agenda 21 (2000), levantamento produzido já em 1994 pelo WWF/Brasil e uma rede de organizações não governamentais mostraram que a perda média de solos nas culturas de grãos nos cerrados está em torno de dez quilos por quilo de grão produzido – erosão eólica/hidrica com um custo insuportável, seja pela perda de fertilidade do solo, seja pelo assoreamento e poluição das bacias hidrográficas (CAMAPUM DE CARVALHO et al., 2006). Não existe, no Brasil, no entanto, legislação ambiental específica para tratar do problema de erosão, embora o termoesteja explícito em trechos de normas vigentes e apareça de forma implícita em outros, ao se referirem ao meio ambiente. Quanto à competência para legislar sobre o tema erosão, a Constituição Federal de 1988 estabelece implicitamente, no artigo 24, incisos VI e VIII, que compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre a matéria (GUERRA et al., 2007). CAMAPUM DE CARVALHO (2006), destaca ainda que, embora seja competência da União legislar sobre normas gerais, conforme estabelecido no parágrafo 1º do mesmo artigo, o parágrafo 2º inclui a competência suplementar e o 3º a competência legislativa plena dos Estados para atender às suas peculiaridades quando não existirem normas federais. A superveniência de lei federal sobre normas gerais, no entanto, conforme dita o parágrafo 4º, ainda do mesmo artigo, suspende a eficácia da lei estadual no que lhe for contrária. O caput do artigo 225 da Carta Magna de 1988, assim define o direito e a responsabilidade de todos em relação ao meio ambiente: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, 8 bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo- se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para os presentes e futuras gerações. 2.4 Práticas de controle e recuperação A escolha dos métodos e práticas de prevenção à erosão é feita em função dos aspectos ambientais e sócio-econômicos de cada propriedade e região. Cada prática, aplicada isoladamente, previne apenas de maneira parcial o problema. Para uma prevenção adequada da erosão, faz-se necessária à adoção simultânea de um conjunto de práticas (GUERRA et al., 2007). Os procedimentos usuais de correção para as feições erosivas do tipo laminar, sulcos e ravinas rasas são os métodos de conservação do solo que basicamente compreendem uma série de dispositivos do controle do escoamento das águas superficiais e manutenção da proteção do solo, com medidas de caráter preventivo e corretivo. São muitas as ações que podem ser empregadas como uma medida de controle de uma erosão (CAMAPUM DE CARVALHO et al., 2006): - medidas preventivas: visam evitar que um determinado agente se instale e de inicio ao processo erosivo, as medidas preventivas são ações que tentaram minimizar o processo; - medidas corretivas: englobam o conjunto de ações que são executadas após uma erosão já estar instalada. Visam remediar os danos causados ou tentar interromper a sua evolução. As medidas corretivas podem, portanto serem divididas em; - medidas de estabilização; - medidas de recuperação. A erosão pode ser contida controlando-se a vazão, a declividade ou a natureza do terreno. O controle da vazão é obtido com desvio ou condução da água por caminhos preferíveis em relação ao sulco erosivo. O controle da declividade é obtido com retaludamento ou colocação de obstáculos que diminuem a velocidade de escoamento (IPT, 1990). O controle da natureza do terreno está na modificação da cobertura pelo capeamento vegetal ou reforço da superfície, tornando-a mais resistente. A formação de um 9 maciço arbóreo reduz a velocidade de avanço do processo da voçoroca. O maciço auxiliará na estruturação do solo, na redução da velocidade das águas superficiais e na regularização da infiltração (IPT, 1990). Se a vegetação deve ser removida limpe o local aos poucos, protegendo as áreas limpas com cobertura morta e instalando bacias de sedimentação. Para execução de trabalhos em erosões já existentes e com grande área degradada, o controle e adequação exigem uma tecnologia muito apropriada ao tipo de solo, lençol freático aflorado ou não, necessitando de cuidados especiais e de projetos específicos. 3. METODOLOGIA A primeira etapa do projeto foi realizada a partir de pesquisa de literatura especializada sobre o tema, obtendo assim uma maior base e solidez para a execução dessa pesquisa. A segunda etapa foi realizada no período de setembro a outubro de 2008 com trabalhos de campo na coleta de informações na área em estudo. Em seguida, foi delimitada uma área circundante á erosão para intervenção. A partir da escolha dessa área foram realizadas observações e medições de sua extensão visando o controle e recuperação da área como: - trabalhos de campo: visitas a campo para observação das condições naturais e interferências antrópicas, e medições da extensão da erosão com utilização de equipamentos como trena, GPS. - registro fotográfico; - análise cartográfica referente à área de estudo, com base em sua planta altimétrica, imagem de satélite e georreferenciamento; - levantamentos geomorfológicos, climáticos e fatores de ocupação e pressão humana. Com o intuito de obter informações sobre a possível causa e data do surgimento dessa erosão, formada na Fazenda São Sebastião, foram entrevistados moradores vizinhos mais antigos da região. Nessa oportunidade, foi realizado ainda um documentário fotográfico da área, evidenciando os mecanismos erosivos presentes, a vista parcial onde ela se encontra, bem como detalhes do uso e ocupação do solo. 10 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES A área estudada está situada no município de São Luis de Montes Belos, na micro região de Anicuns. A fazenda é abastecida pelo Ribeirão São Sebastião que deu origem ao seu nome, pertence a micro bacia do Turvo que é afluente do Rio dos Bois pertencente então da bacia do Paranaíba formadores da Bacia do Prata. A ocupação e atividade principal da fazenda se deram pela agropecuária devido à região montanhosa. Foi a partir desse tipo de atividade e mau uso e conservação do solo que se originou a problemática do processo erosivo existente. A partir da análise do material obtido com o levantamento fotográfico da área, foi possível descrever de uma maneira geral a real situação encontrada na área, podendo assim indicar alguns métodos para melhor utilização, prevenção e recuperação da área. O solo da região é constituído por latossolos vermelho-amarelo. Esse tipo de solo pode apresentar uma coloração do vermelho para o amarelo, são profundos, bem drenados na maior parte do ano, apresentam acidez, toxidez de alumínio e são pobres em alguns nutrientes essenciais como cálcio, magnésio e potássio mostrado nas Figuras 1 e 2. Figura 1: Perfil do solo (set., 2008). Figura 2: Formação do processo erosivo (set., 2008). Por isso deve ser levado em conta um conjunto de medidas objetivando a manutenção e recuperação das condições físicas, químicas e biológicas desse solo, observando os métodos de uso e manejo dessas áreas, de modo a não comprometer sua capacidade produtiva e condições de desenvolvimento adequadas das culturas. 11 A vegetação natural da área em grande parte foi desmatada, sendo agora ocupada por pastagens e lavouras, se encontra bem defasada apresentando na margem direita da erosão uma mata nativa já bem reduzida com a presença apenas de muitas goiabeiras, e na margem esquerda a presença quase que prioritária de pastagem devido sua grande utilização para a pecuária, identificadas nas Figuras 3 e 4. Figura 3: Vegetação ao longo da área, lado direito (set., 2008) Figura 4: Vegetação ao longo da área, lado esquerdo (set., 2008) Os principais fatores que deram origem ao processo erosivo foram em grande parte, a retirada da vegetação natural para criação de pastagens e agricultura, onde deixaram o solo à mostra, susceptível a fatores externos e a má conservação do solo. A camada superficial do solo foi revolvida por arados e grades, na preparação do solo para o plantio. Em um solo descoberto e preparado, os agentes erosivos (chuva e vento, por exemplo) não encontraram barreiras, arrastando uma quantidade de solo maior do que em condição natural. Como esse preparo foi realizado sem os devidos cuidados e sem orientação técnica, seja utilizandoimplementos inadequados, seja em áreas muito acidentadas, a erosão pode degradar a área pelo carreamento do solo em poucos anos. Após a retirada desse material a área foi exposta a mais uma intervenção humana, que se deu pelo desvio de uma nascente d’água para aquela área já erodida pela água das chuvas, como mostram as Figuras 5 e 6, após esse desvio de água o processo erosivo vem aumentando a cada ano devido às forças naturais e também a presença de animais que pisoteiam as encostas da erosão, e a falta de barramento das águas superficiais. 12 Figura 5: Desvio da nascente para a erosão (set., 2008) Figura 6: Imagem erosão (set., 2008). A escolha dos métodos de prevenção e recuperação dos processos erosivos foi realizada em função das características ambientais locais, considerando: aspectos econômicos e a adoção simultânea de um conjunto de práticas usuais para correção dos aspectos erosivos. Para início dos trabalhos de recuperação da erosão o cercamento da área é essencial para evitar o pisoteio de animais. Porém a simples interdição não recupera os caminhos preferenciais das águas, pois o escoamento dessas águas das chuvas prossegue ampliando o sulco, tornando-se imprescindível a utilização de técnicas para o controle desse processo erosivo. Os procedimentos usuais de correção para feições erosivas do tipo laminar, sulcos e ravinas rasas são os métodos de conservação do solo que basicamente compreendem uma série de dispositivos de controle do escoamento das águas superficiais e manutenção da proteção do solo, com medidas de caráter preventivo e corretivo. Dado o caráter do terreno, suscetível à erosão, faz-se necessário que sejam aplicados os métodos de conservação dos solos nas áreas de culturas anuais e de pastagens, principalmente nas áreas de alta suscetibilidade à erosão. Implantação de estruturas de retenção e infiltração do tipo lagoas secas e terraços em nível, disciplinamento das águas de superfície através de drenos, retaludamento das paredes laterais da voçoroca, proteção superficial dos taludes resultantes através de vegetação do tipo gramínea. Para as cabeceiras, é recomendada a plantação de mata ciliar para a proteção das encostas com práticas de conservação do solo, como a implantação de curvas de nível para 13 impedir o aporte de sedimentos às drenagens, e revegetação com espécies nativas da região. Uma das soluções para recuperação de erosões lineares é impedindo sua evolução através da instalação de barramentos transversais ao eixo longitudinal da erosão onde se utiliza, basicamente, elementos estruturais de madeira, tela metálica e geotêxtil. É utilizado para controle e recuperação definitiva de erosões e consiste na diminuição da produção e barramento de sedimentos. Este método consiste na combinação de muros de arrimo em solo reforçado com geotêxtil, ilustrado na Figura 7. Para a contenção de encostas com a construção de uma série de barragens de assoreamento ao longo do talvegue com os devidos sistemas de drenagem para evitar possíveis transbordamentos. Com o assoreamento de um dos barramentos, os sedimentos que passam pela barragem assoreada serão retidos em outra e assim sucessivamente, diminuindo a declividade da erosão ao mesmo tempo e que permite a ascensão de fundo. Figura 7: Barragem de arrimo reforçada com geotêxtil para retenção de sedimentos Fonte: CAMAPUM DE CARVALHO (2006) A Figura 8 apresenta o primeiro estágio da execução de três barramentos com as hastes sendo utilizadas parcialmente. A tela metálica e o geotêxtil são colocados numa determinada altura das hastes para que o sedimento produzido a montante possa ser acumulado no barramento 1 e o excedente passe para o barramento 2 e assim sucessivamente. A fixação da tela metálica e do geotêxtil poderá ser feita com arame recozido ou galvanizado na tela metálica e com pinos metálicos na base e laterais da erosão em contato com o solo tomando-se o cuidado de não danificar o geotêxtil com as perfurações realizadas. 14 Além do geotêxtil colocado a montante, há necessidade de colocá-lo também no pé do barramento na jusante do ultimo barramento, como proteção contra o efeito erosivo gerado pelo transbordamento. Figura 8: Esquema longitudinal da barragem para retenção de sedimentos Fonte: CAMAPUM DE CARVALHO, 2006. Num segundo estágio, depois do assoreamento dos barramentos, o sedimento acumulado no barramento 3 aumenta a estabilidade do barramento 2, e o produzido no 2 aumenta a estabilidade do barramento 1. Isso ocorre devido ao esforço contrário que a carga de sedimento acumulado no barramento seqüente exerce no anterior. A seguir, pode-se partir para o ultimo estágio que é o aumento de altura do geotêxtil nos barramentos até se atingir o nível natural do solo, e se necessário, incremento de novos barramentos a jusante, com o objetivo de aumentar a estabilidade global do sistema. Cabe ressaltar que no caso das erosões laminares, a recuperação da perda de solo é impraticável, pois as áreas são geralmente grandes, os pontos de deposição dos sedimentos distantes e a formação do solo extremamente lenta, sendo mais efetivas as ações preventivas em áreas próximas e medidas de estabilização. A Figura 9 mostra a extensão da formação do processo erosivo na área em estudo pela imagem de satélite, sua localização em coordenadas georreferenciadas, obtendo, assim a visualização aproximada da extensão do processo erosivo. 15 Figura 9: Imagem de satélite. Fonte: Google Earth (2008) 6. CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES Neste trabalho observaram-se as feições da área degradada apresentando suas características nos trabalhos de campo, imagens fotográficas e de satélite, concebendo assim uma visão aproximada da dimensão do problema existente, verificou-se que a quantidade de solo carreada para o ribeirão mais próximo parece ser grande, sendo interessante um estudo mais aprofundado para obtenção de dados mais exatos sobre essa quantidade de solo carreado. Considerando os efeitos poluidores, podemos citar que os arrastes podem encobrir porções de terrenos férteis e encobri-los com materiais áridos, podem causar a morte da fauna e flora do fundo do ribeirão por soterramento, pode causar turbidez nas águas, dificultando a ação da luz solar na realização da fotossíntese, importante para a purificação e oxigenação das águas, podem arrastar biocidas e fertilizantes até o curso d'água e causarem com isso, desequilíbrio na fauna e flora nesse corpo d'água. A conservação do solo deve ser encarada por agricultores, extensionistas, 16 pesquisadores, autoridades e sociedade como parte de um desafio maior, que nos é apresentado neste novo século que se inicia, a busca de uma agricultura e pecuária sustentável, ou seja, a produção de alimentos em quantidade e qualidade para atender às necessidades da humanidade,e uma pecuária sem degradar os recursos naturais como solo, água, florestas e fauna. Buscou-se na recuperação ambiental desta área, a adoção de um conjunto de ações planejadas de forma integrada, utilizando uma abordagem mais abrangente da área, buscando assim uma melhor utilização do solo rural, para seu melhor aproveitamento. Por fim, a intervenção permitirá o reequilíbrio do ambiente, com o direcionamento e disciplinamento das águas superficiais, evitando o carreamento do solo para o ribeirão, evitando assim o seu assoreamento, criando condições de infiltração da água no solo e conseqüente melhoria dos recursos hídricos no local. REFERÊNCIAS CAMAPUM de CARVALHO, J.C., et al.. Processos Erosivos no Centro Oeste Brasileiro. Editora FINATEC, 2006. DERISIO, José Carlos. Introdução ao controle de poluição ambiental. Editora Signus, 2º edição, 2000. EMBRAPA, Apostila Construção de terraços para controle de erosão pluvial no estado do Acre, 2004.GUERRA, A. J. T., SILVA, S. S. BOTELHO, R. G. M. Erosão e conservação dos solos. Editora Bertrand Brasil, 3º edição, 2007. LIMA, M.C. Degradação físico-química e mineralógica de maciços junto às voçorocas. Tese de Doutorado, Publicação G. TD-17º/03, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental. Brasília: UNB, 336p, 2003. SÃO PAULO, Secretaria de Energia e Saneamento. Departamento de águas e energia elétrica, controle de erosão. Bases conceituais e técnicas, diretrizes para o planejamento urbano e regional orientações para o controle de boçorocas urbanas. São Paulo, DAEE/IPT,1990, 2ª edição. SILVA, José Afonso. Direito Ambiental Constitucional. 6ª ed., Malheiros Editores Ltda., São Paulo, Brasil, 2007.
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