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FACULDADE DE TALENTOS HUMANOS – FACTHUS ENGENHARIA AMBIENTAL CINTHIA RAFAELA MARQUES TEODORO FELIPE FERNANDES FREITAS LUCIENE APARECIDA DA SILVA VICTÓRIA CAROLINE SILVA DAS VIRTUDES TOPOGRAFIA EM ÁREAS DEGRADADAS UBERABA – MG 2020 2 CINTHIA RAFAELA MARQUES TEODORO FELIPE FERNANDES FREITAS LUCIENE APARECIDA DA SILVA VICTÓRIA CAROLINE SILVA DAS VIRTUDES TOPOGRAFIA EM ÁREAS DEGRADADAS Trabalho de Topografia apresentado à Faculdade de Talentos Humanos com o objetivo de ampliar os conhecimentos do uso da topografia em recuperação de áreas degradadas. Orientador: Rafael Menezes de Paiva Borges. UBERABA – MG 2020 3 Sumário INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 4 2 DEFINIÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS ...................................................................................... 5 3 AGENTES DE DEGRADAÇÃO DO SOLO..................................................................................... 6 3.1Erosão .............................................................................................................................................. 6 3.1.1 Lixiviação ..................................................................................................................................... 6 3.1.2 Assoreamento ............................................................................................................................... 6 3.1.3 Desertificação ............................................................................................................................... 6 3.2 Salinização ...................................................................................................................................... 6 3.3 Compactação................................................................................................................................... 7 3.4 Contaminação Química .................................................................................................................. 7 3.5 Laterização ..................................................................................................................................... 7 3.6 Desertificação .................................................................................................................................. 8 3.7 Arenização ...................................................................................................................................... 8 4 RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA ...................................................................................................... 9 5 RECOMPOSIÇÃO TOPOGRÁFICA DE ÁREAS DEGRADADAS ............................................. 10 6 ECOSSISTEMAS QUE REQUEREM RESTAURAÇÃO ............................................................. 11 8 RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS ............................................................................ 13 9 ESTUDOS DE CASO: ÁREAS QUE PASSARAM POR RECUPERAÇÃO................................. 15 9.1 Reabilitação de áreas degradadas por erosão em São Luís/MA .................................................. 15 9.2 Uso de geotecnologias para mapeamento de áreas de riscos – Estudo de caso: Angra dos Reis – RJ ........................................................................................................................................................ 18 9.3 Plantio de espécies nativas para restauração de áreas em unidades de conservação: um estudo de caso no sul do Brasil. ...................................................................................................................... 22 9.4 Reserva de Flambeau .................................................................................................................... 24 CONCLUSÃO .................................................................................................................................... 28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 29 4 INTRODUÇÃO O Brasil abrange inúmeras regiões com problemas de degradação de áreas urbanas e rurais decorrentes de processos erosivos e pela desordenada expansão urbana. Algumas regiões são, particularmente, mais afetadas em decorrência da litologia, das características do solo, do regime de chuvas, da falta de estudos estruturais e do mal ou inexistente planejamento da urbanização. Para isso, é evidente a necessidade do uso racional e do manejo sustentável, adotando medidas de recuperação das áreas degradadas. Este estudo tem como objetivo caracterizar a importância do uso da topografia no ramo da Engenharia Ambiental através do uso de métodos de mapeamento e levantamento da área estudada para dar início à recuperação dessa. O processo de recuperação das áreas degradadas deve considerar a sucessão ecológica, processo que envolve várias mudanças na estrutura das espécies e comunidades ao longo do tempo, sendo uma fonte de informação do comportamento e da evolução vegetal. E, para dar início, ações idealizadoras devem ser realizadas para o reestabelecimento das condições de equilíbrio e sustentabilidade existentes no local antes. Nesse contexto, a topografia é um item indispensável para a tomada de decisões, pois é através de um projeto topográfico que toda a área será dimensionada com cálculo das distâncias e dos ângulos horizontais e verticais com alta precisão, além de caracterizar o uso e a ocupação do solo, e coletar todos os pontos da área para identificar a altimetria local. Por isso, métodos e equipamentos topográficos constituem os recursos fundamentais para a engenharia. 5 2 DEFINIÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS Entende-se por área degradada aquela que, após sofrer degradação por ação natural ou antrópica, não retorna ao seu estado anterior pelo processo natural. Ao degradar, o solo perde a capacidade de produção, mesmo com a adubação como forma de recuperação, o solo não voltará a ter qualidades de um solo não degradado. O conceito é amplo e abrange, principalmente, a exploração de determinada área até que ela perca suas características de solo e vegetação, podendo causar também a modificação do relevo, assim não sendo possível a regeneração natural do ambiente. Por isso se faz necessário restituir a degradação a uma condição diferente do original. 6 3 AGENTES DE DEGRADAÇÃO DO SOLO A degradação do solo pode ser causada de várias formas por vários fenômenos diferentes, sejam eles naturais ou não. Quando se une o desmatamento e a ação humana, o solo fica mais suscetível às consequências negativas, pois a vegetação influencia diretamente na formação e conservação do solo, sendo responsável pela circulação de nutrientes e proteção. Os fenômenos que causam degradação são listados a seguir: 3.1Erosão A erosão é um procedimento natural de desgaste do solo devido a ações de agentes externos, como chuva, vento, sol, gelo e ondas, e pode se intensificar através de ações humanas. Quando a vegetação natural é retirada e o solo fica exposto, a probabilidade de causar a erosão é maior, pois o solo fica desprotegido e através da chuva e do vento pode- se causar desgaste da superfície terrestre que culminará na perda da fertilidade do solo. Esse fenômeno pode acarretar em outros impactos ambientais, sendo: 3.1.1 Lixiviação Este processo corresponde à “lavagem” dos sais minerais do solo, tornando-o menos fértil e consequentemente podendo causar a formação de voçorocas, que são grandes e extensos sulcos (fendas) ocasionadas pelas chuvas intensas. 3.1.2 Assoreamento Durante as chuvas, a terra é transportadae se acumula no fundo do leito dos corpos d’água que obstruirá seu fluxo prejudicando a fauna local, além de contribuir para o transbordo que alagará áreas vizinhas. Também pode ocorrer o deslizamento de encostas que provoca o desabamento de terras e rochas. 3.1.3 Desertificação Consiste no empobrecimento solo, ficando cada vez mais estéril devido à perda de nutrientes o que implicará na dificuldade de nascer e manter qualquer tipo de vegetação, ficando árido e sem vida. 3.2 Salinização A salinização ocorre em diferentes áreas e também é intensificado com as ações humanas, como o uso incorreto de métodos na agricultura. Caracteriza-se pelo acumulo 7 de sair minerais no solo provenientes das águas das chuvas, oceânicas ou águas utilizadas para irrigação. É um processo natural, sendo que a água possui quantidades de sais minerais na medida certa e se depositam no solo, mas quando o clima favorece a rápida e elevada evaporação e, consequentemente a menor ocorrência de precipitação, o solo fica com grande concentração de sais, devido à evaporação, e a ausência das chuvas não “lava” o solo para que essa quantidade extra de sais minerais seja retirada, ocorrendo assim a salinização do solo. 3.3 Compactação Causada pela ação antrópica, é caracterizada pela redução da porosidade do solo e pelo aumento de sua densidade, consequentemente, reduzindo também a permeabilidade quando submetido a grande atrito ou pressão continua. Esse fenômeno altera as características físicas e químicas do solo causando várias consequências negativas, como a dificuldade de desenvolvimento e crescimento de raízes das plantas. Também dificulta a percolação da água e dos nutrientes no solo, as trocas gasosas, diminui a taxa de infiltração de água e contribui para a ocorrência de erosão. 3.4 Contaminação Química O uso indiscriminado de agrotóxicos, fertilizantes, pesticidas e o descarte incorreto de resíduos são ações humanas que podem culminar na contaminação do solo, resultando na improdutividade e infertilidade do solo, além da possível perca da fauna local. Essa contaminação não é somente superficial, pode afetar também o lençol freático e o funcionamento dos ecossistemas. 3.5 Laterização Processo comum em áreas úmidas e de clima tropical quente, a laterização consiste no acúmulo de hidróxidos de ferro e de alumínio que altera a composição do solo e pode ser intensificada quando queimadas e desmatamentos retiram a cobertura vegetal e, consequentemente o solo é desgastado pela água das chuvas. A laterização dificulta a penetração das raízes no solo e diminui a fertilidade, quando se associa o intemperismo químico à lavagem exaustiva pela lixiviação. 8 3.6 Desertificação Consiste em causas naturais, como o clima predominante, e ações antrópicas, como o desmatamento e uso intensivo do solo para a agropecuária. Esse processo muda a paisagem local para algo próximo à paisagem de um deserto, em que a pluviosidade e o índice de filtração são baixos enquanto a evaporação é bastante alta. 3.7 Arenização É a ocorrência de formação de bancos de areia em solos de consistência arenosa em locais de clima úmido e alta precipitação, em que a taxa de infiltração e escoamento de água são maiores que o índice de evaporação. As causas para ocorrência se resumem na remoção da vegetação que firma e protege os solos. 9 4 RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA Na maioria das vezes, os solos das áreas degradadas apresentam níveis baixos de nutrientes e com características físico-químicas diferenciadas, quando comparadas ao solo original. Portanto, o êxito inicial na recuperação de um ecossistema degradado depende das práticas de manejo a serem efetuadas no sítio e de espécies da flora regional, dando início desta forma, ao restabelecimento dos processos ecológicos. Inicialmente os processos de restauração eram feitos somente buscando a reconstrução da fisionomia florestal, pouco considerando os aspectos ecológicos ou a escolha de espécies a serem utilizadas para recuperar os ecossistemas e o seu funcionamento. Espécies exóticas sempre foram utilizadas na restauração ecológica desde o início dessas atividades no Brasil, uma vez que não existia nenhuma restrição jurídica ou técnica quanto a origem das espécies a serem plantadas. Do ponto de vista ecológico não só espécies de outros países são consideradas exóticas, mas sim qualquer espécie que esteja fora de sua região de ocorrência natural, ainda mais se tratando do Brasil e suas dimensões continentais. Devemos lembrar que a introdução de espécies em ambientes que não ocorrem naturalmente representa uma ameaça potencial à integridade do ecossistema, devido ao risco das mesmas se tornarem invasoras. Em ecossistemas naturais, espécies exóticas invasoras podem competir com as nativas chegando até a substituí-las. Sendo assim, pelo princípio de precaução as não-nativas não deveriam ser utilizadas em plantio visando a restauração de ecossistemas. 10 5 RECOMPOSIÇÃO TOPOGRÁFICA DE ÁREAS DEGRADADAS Todos sabemos que o Brasil é o país mais rico em biodiversidade do planeta: possui clima e recursos em abundância. As áreas a serem restauradas e os ecossistemas degradados é de urgente necessidade para reverter a tendência que leva a erosão dos solos e a perda dos recursos naturais. O nível da degradação é tão alto que alguns processos naturais já são considerados irreversíveis levando assim a extinção de algumas espécies. A restauração do ecossistema de áreas degradadas presa por restabelecer as condições para que o próprio ecossistema se reabilite, ou seja, o ser humano contribuindo para a aceleração e potencializar a capacidade natural de cura do ecossistema. Sabemos que sem esta ação humana essa recuperação dos solos degradados pode levar muito tempo, sendo assim um dos objetivos dos processos de restauração. Esse restabelecimento da cobertura vegetal natural, passa por vários estágios e devolve ao solo um potencial produtivo que ali existia. O ponto inicial para a restauração de uma floresta é a própria sucessão natural, e para otimizar esses processos naturais, pode-se começar por meio da criação de condições, uma delas é o estabelecimento de sementes de diversas espécies tanto exóticas como nativas sendo assim estimula o rápido recobrimento da área com essas espécies de crescimento rápido, contribuindo assim para uma melhor recomposição topográfica das áreas degradadas. Nas encostas, o processo de reabilitação e estabilização de áreas degradadas, consiste em: estabilizar os taludes e o solo; controlar a erosão; redefinir os aspectos paisagísticos e estéticos; maneiras de utilização futura; semelhança com o relevo original, e se possível, deixar o terreno plano ou com declividade inferior a 45º. As visitas em campo, fazendo o levantamento dos dados é importante para definir o nível de degradação, avaliando inclusive por meio de pesquisas como era o relevo antes da incidência dos processos degradantes. Após a realização do diagnóstico da área à ser recuperada, é feito o projeto de recomposição topográfica. 11 6 ECOSSISTEMAS QUE REQUEREM RESTAURAÇÃO A restauração ecológica de ecossistemas naturais pode ser compreendida como um processo que visa a alteração, de forma intencional, de um habitat. O objetivo é restabelecer o ecossistema original do local, levando em consideração aspectos como: sua função; sua estrutura; sua dinâmica; sua diversidade. Nesse processo, a ação humana de recuperação e restauração visa recuperar as seguintes condições: vegetação; fauna; flora; água; solo; micro-organismos; clima. Um exemplo para restauração ambiental é a Mata Atlântica (Figura 1) que tem as condições ideais para a restauração. Figura 1 Imagem aérea parcial da Mata AtlânticaÉ um bioma bastante desmatado (Figura 2): estima-se que menos de um terço de sua área original permaneça com cobertura vegetal nativa. Ou seja, há uma grande quantidade de áreas degradadas capaz de ser restaurada. Figura 2 Imagem aérea de desmatamento https://www.dinamicambiental.com.br/blog/meio-ambiente/dicas-economizar-agua-casa/ 12 7 MÉTODOS UTILIZADOS PARA ESTUDO DA ÁREA Quando vem a ideia de recuperar uma área, devemos sempre pensar em nossos meios naturais, e sempre considerar ao redor de cada ecossistema, e observar sempre o que há no meio externo, dependendo, a recuperação pode tomar outro caminho. Para se fazer o planejamento das áreas que estão degradadas é preciso pensar como um todo, verificar sempre a estrutura do solo, sua forma atual e planejar uma recuperação que não irá agravar o meio externo e sua estrutura atual, sempre observando a vegetação existente. Precisa-se estudar a área e verificar o que ela realmente precisa para retornar à vegetação natural. Geralmente é usada plantação de mudas especificas para aquela área entre outras formas de voltar o habitat natural do solo. Recuperar a área (Figura 3) o mais próximo possível do que era antes da degradação, por meio de estudos e pesquisas feitas do solo e vegetação do local, criando estratégias para agilizar o processo de reconstrução do solo. Figura 3 Área que passou por recuperação Os métodos utilizados para estudo destas áreas consistem em: identificar o tipo de degradação; caracterização do solo por meio de análises laboratoriais; grau de compactação do solo; verificação do nível freático e análise d’água em caso de possível contaminação; uso de técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto para identificação de áreas degradadas e índice de cobertura vegetal. 13 8 RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS A Lei n° 9.985, de 18 de julho de 2000, diferencia os conceitos de um ecossistema “restaurado” de um “recuperado” , sendo que ambos os conceitos referem-se à restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada, porém na restauração o resultado final é o mais próximo da sua condição original e na recuperação o objetivo é obter-se uma condição não degradada, podendo ser ou não diferente de sua condição original. A Recuperação de áreas degradadas está amparada pela Constituição Federal de 1988, em seu Art.225, que prevê o direito ao meio ambiente equilibrado e sem prejuízo as gerações futuras, e no parágrafo 1, incube ao Poder Público à responsabilidade de preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais a vida. E no parágrafo 2, determina que quem explora recursos naturais fica obrigado a promover a recuperação das áreas degradas, seguindo ordens técnicas exigidas pelo órgão competente. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, o Brasil possui um déficit de aproximadamente 43 milhões de hectares de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e de 42 milhões de hectares de Reserva Legal (RL). Neste contexto destacam-se algumas ações do Ministério do Meio Ambiente (MMA): Implementação de novos Centros de Referência em Recuperação de Áreas Degradadas (CRADs) nos biomas brasileiros; Estabelecimento de métodos de recuperação de áreas degradadas para os biomas e Instituição do plano nacional de recuperação de áreas degradadas e restauração da paisagem. A primeira etapa do processo de recuperação de uma área degradada consiste na identificação da causa do problema, se por processos erosivos, uso indiscriminado, e quais os riscos sociais, ambientais e econômicos. Após, é feita a caracterização da área, localização, dados sócio econômicos, clima, vegetação, topografia, geologia, solos, uso e ocupação; e a caracterização do processo degradador (dimensões, atividade, fatores predisponentes, fatores deflagradores, área afetada, volume afetado). Concluída as etapas mencionadas, é feito o projeto de recuperação da área degradada, levando em conta a finalidade da recuperação (como por exemplo, Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) por infrações ambientais), e disponibilidade financeira para a realização do mesmo. Depois de executado o projeto é necessário o monitoramento contínuo da área recuperada. 14 As ações de recuperação necessárias na maioria dos casos incluem: drenagem de água superficial e subterrânea, execução de curvas de nível, revegetação, estabilização dos taludes, aterramento, obras de contenção, uso de geossintéticos; e uso de mantas naturais. Em solos nos quais há constante passagem de máquinas, há compactação do solo, ou seja, a densidade aparente do solo aumenta e isto dificulta a infiltração das águas, como consequência há mais incidência de processos erosivos. Para evitar o excesso de água no solo, devem-se instalar canos para a drenagem na subsuperfície. Em se tratando de práticas conservacionistas e preventivas tem-se três principais: o manejo conservacionista em lavouras, no qual é feito uma cobertura de gramíneas, em sistema de rotação de culturas, uma vez a cada cinco anos, juntamente com a aplicação de adubo orgânico; Uso de culturas em curvas de nível e terraceamento; e o plantio direto, protegendo o solo do impacto direto das gotas. Uma técnica que tem sido muito utilizada na recuperação de áreas degradadas é a Bioengenharia, que segundo Durlo e Sutilli (2005), pode ser descrita como, “o conhecimento das exigências e características biológicas da vegetação, especialmente sua capacidade para a solução de problemas técnicos de estabilização de margens e encostas, combinado com a construção de obras de grande simplicidade, [...], também denominada Construção Verde ou Construção Viva”. A bioengenharia proporciona o desenvolvimento de microrganismos que devolvem vida aos solos erodidos e reduz o custo em até 1/3 dos gastos de uma obra de engenharia. Os geotêxteis protegem o solo até a encosta se estabilizar com a cobertura vegetal, formando uma proteção entre o solo e a água da chuva, minimizando o escoamento superficial e sua velocidade, mantendo ainda a capacidade do solo de absorver água. As técnicas de bioengenharia também traz outros benefícios: os materiais resultantes dos geotêxteis produzidos com fibras vegetais podem ser considerados soluções para problemas ambientais, incluindo tecnologias para a conservação dos solos, produção vegetal sustentável, uso de plantas locais, manejo apropriado de ecossistemas, com a redução do desmatamento, melhoria dos sistemas agroflorestais e uma boa relação custo-benefício, com a aplicação dos geotêxteis em ambientes diversos. 15 9 ESTUDOS DE CASO: ÁREAS QUE PASSARAM POR RECUPERAÇÃO 9.1 Reabilitação de áreas degradadas por erosão em São Luís/MA No município de São Luís/MA, há um alto índice de processos erosivos, dos quais destacam-se as voçorocas da bacia do rio Bacanga, com o agravante de ser muito urbanizada. A bacia compreende uma área de 95,24 km2 e algumas características locais propiciam à maior ocorrência de erosões, como o tipo de solo: formado por arenitos, argilitos e siltitos inconsolidados, e média anual de precipitação acima de 2000mm, sendo um período chuvoso e outro seco. Outros fatores que aceleram o processo de erosão na região são provenientes de ações antrópicas, como o desmatamento, o uso inadequado do solo, e a retirada de material para construção civil (laterita, areia fina, silte e argila). Aplicou-se a técnica de bioengenharia de solos em uma das voçorocas da bacia, a voçoroca do Sacavém, que possui 35m de comprimento e 70m de largura (Figura 4). A reabilitação da área foi dividida em três etapas: reconstrução dos taludes; aplicação dos insumos e geotêxteis; e manutenção das obras. Figura 4- Vista parcial da voçoroca do Sacavém 16 Os taludes foram reconstruídos manualmente e com auxílio de uma retroescavadeira, com o intuito de reduzira alta declividade, que em alguns pontos chegava a 90°, e o comprimento da rampa, evitando o aumento da velocidade de escoamento superficial. Foram fixadas paliçadas de madeira no fim das rampas para ancorar o material inconsolidados e o substrato do adubo de palmeiras. As novas dimensões dos taludes foram (Figura 5): Ponto A, 28° e 4m; Ponto B, 33° e 6,5m; Ponto C, 25° e 2,80m; Ponto D, 24° e 2,60m; Ponto E, 28° e 3,4m; Ponto F, 40° e 6m. Figura 5- Área com aplicação da técnica de bioengenharia de solos A drenagem foi realizada com sacos de estopa preenchidos com areia do próprio local, sementes de braquiária e adubo de palmeira (400 sacos para recuperar 2000m2), oriundo da decomposição do tronco de palmáceas. Os geotêxteis, produzidos com fibra de palmeira de buriti, foram unidos em grupos de quatro e oito para cobrir uma maior área, diminuindo o uso de estacas, e aplicados com o auxílio de estacas de madeira de 20cm de comprimento. Segundo Bezerra (2006; 2011), as telas ancoram os sedimentos; o adubo de palmeira e as sementes, servem para a germinação e redução da velocidade do 17 escoamento superficial, retenção da umidade, atenuação da insolação direta na superfície e fornecimento de matéria orgânica para o solo. A manutenção da obra de recuperação foi realizada com a construção de mais pontos de drenagem. O resultado da aplicação da bioengenharia após um mês pode ser observado na Figura 6. Figura 6 Área com aplicação da técnica após um mês 18 9.2 Uso de geotecnologias para mapeamento de áreas de riscos – Estudo de caso: Angra dos Reis – RJ O município brasileiro de Angra dos Reis (Figura 7), localizado na microrregião da Costa Verde no Sul Fluminense no estado do Rio de Janeiro, está situado a uma altitude de 6 metros e possui 365 ilhas em seu litoral. A localização deste município atrais milhares de turistas todo ano, mas a ocupação de áreas de encostas e margem de rios é ainda um grande problema devido à falta de estrutura local, além da vulnerabilidade que esse local está sujeito à ocorrência de eventos adversos, sejam eles naturais ou antrópicos, causando prejuízos ambientais, econômicos e sociais. Figura 7 Mapa de localização da área de estudo As encostas de morros e margens de rios são consideradas áreas de risco, pois são locais não propícios para a construção de edificações por estarem sujeitas a desastres naturais, como desabamento e inundações, para isso deve ser constantemente monitorada pela Defesa Civil, principalmente em períodos de chuvas intensas. Este estudo analisa a 19 ocupação irregular de uma pousada e casas localizadas em Ilha Grande na baía de Angra dos Reis, as quais foram soterradas após o deslizamento de uma encosta (Figura 8). Figura 8 Área de desmoronamento Através da utilização de: vetores no formato “.shp” (shapefile), dados altimétricos disponibilizados no site de Embrapa, imagens do satélite meteorológico americano GOES-12 disponíveis no site de meteorologia Clima Tempo, e dos softwares Global Mapper 9 e SIG ArcGis 9.2; foi possível localizar a área, extrair as curvas de nível com equidistância de 50 metros (Figura 9), gerar um modelo digital do terreno (Figura 10) e, posteriormente, a visualização em perspectiva da área (Figura 11). Por meio dessa análise é possível perceber que a região em estudo é propicia à desmoronamentos, tornando-as áreas de risco, em especial em períodos chuvosos, mas ressaltando também que, a 20 intervenção humana na área, como a retirada da cobertura vegetal deixando o solo exposto é um fator de suma importância que contribui para a ocorrência de desastres. Figura 9 Esboço topográfico com curvas nível com equidistância de 50 metros Figura 10 Percepção da topografia acidentada por meio do modelo digital de terreno 21 Figura 11 Representação da perspectiva da área de estudo As geotecnologias utilizadas são ferramentas importantes para a coleta, armazenamento e análise de dados, além de que os satélites são fontes que permitem o acompanhamento de ações naturais, como chuvas e tempestades, atuando como transmissor de informações e alerta de determinadas situações ambientais. Através do exposto, é evidente que quando não há planejamento prévio para a ocupação urbana e esse seja de forma desordenada, as edificações estão sujeitas a catástrofes ambientais que podem atingir proporções gigantescas, por isso se faz necessário ações mitigadoras para a segurança dos ocupantes das áreas de risco em localidades irregulares. Também, como forma de prevenção, é interessante que os especuladores imobiliários tenham acesso e informação em especular o uso de tecnologias para monitorar essas áreas, além da previa analise para ocupação, pois muitas das vezes esse conhecimento é ignorado, o que futuramente venha sofrer com acidentes ambientais diversos. 22 9.3 Plantio de espécies nativas para restauração de áreas em unidades de conservação: um estudo de caso no sul do Brasil. Este estudo foi feito para constatar as espécies nativas possíveis para restauração de áreas degradadas em diferentes espaços do solo. O ensaio foi feito no Parque Estadual Quarta Colônia, RS. Na plantação das espécies, foi usado o modelo de preenchimento, juntamente com espécies de diversidade. Altura e mortalidade, foram submetidas a análise de variância. Resultando nos dados retirados a mortalidade apresentou um comportamento de crescimento, com um total de 24 meses, contudo a taxa de mortalidade conseguiu atingir seu pico. (Figura 12). A altura também apresentou crescente ao longo do tempo de 24 meses. No local havia mudas de ervilhaca, esse aumento de altura deve ter ocorrido pelo mesmo, presente na área. Lembrando que a ervilhaca só foi usada para a cobertura, e talvez com isso tenha ocupado o papel de competir, uma vez que a mesma não foi incorporada ao solo (Figura 13). Outra classe de preenchimento estudada foi a araçá, mesmo apresentando crescimento diferente das demais, ela é muito funcional, por ser uma espécie que atrai a fauna e ajudar ingressar outras espécies no sistema do solo. Contudo, o objetivo deste estudo mostra que a plantação do grupo de mudanças deve ocorrer sob a maior cobertura. Para as áreas degradadas em Florestas Estacionais Subtropicais no sul do Brasil, isso deve ocorre conforme às condições de baixas temperaturas em um determinado período do ano, cujo desenvolvimento da vegetação é mais lento, gerando maior demanda de tempo para o desenvolvimento do grupo de preenchimento. 23 Figura 12 Percentual geral de mortalidade de mudas, durante 24 meses, em área experimental de restauração no Parque Estadual. Figura 13 Médias gerais de crescimento em altura (cm) (A) e diâmetro do coleto (mm) (B) das espécies arbóreas ao longo de 24 meses, em área experimental de restauração no Parque Estadual. 24 9.4 Reserva de Flambeau A KMC - Company Minerals Kennecott, com sede em Salt Lake City, Utah, foi responsável por toda operação de implantação até o encerramento da Mina de Flambeau, com localização na cidade de Ladysmith, no estado de Wisconsin, EUA. A KMC é uma subsidiária da Mineração Rio Tinto S.A., com sede em Londres, uma das maiores do setor mineral do mundo. A mina foi descoberta em 1968, mas o pedido de licença ambiental foi indeferido por não atender aos requisitos da legislação local, como o desenvolvimento sustentável. Então, a empresa reviu o seu projeto e só em 1991, conseguiu obter a licença para dar início ao processo de exploração. Os aspectos básicos do projeto aprovado foram: • Tempo de vida útil reduzido de 11 para 4 anos; • Redimensionamento da cava a céu aberto, na qual apenas a parte da jazidamineral seria extraída, para que não haja interferência no leito do rio Flambeau; • Comprometimento em lavrar somente o minério sulfeto metálico. Sendo assim, o beneficiamento mineral de cobre, prata e ouro seria feito em um outro empreendimento da KMC, conservando, portanto, a qualidade das águas do rio Flambeau; • Não seria mais necessário implantar barragens de rejeitos, pois, o mineral não irá ser beneficiado na área do empreendimento; • Para proteger o rio Flambeau de uma possível contaminação, ao final da operação da mina, a área da cava seria coberta por manta de polietileno de alta densidade; • A drenagem da área da cava e da mina seria direcionada para uma área alagada dentro da mina, promovendo de tal modo um abrandamento induzido de uma possível geração de drenagem ácida; • O material das pilhas de estéril ao final da exploração da jazida mineral seria utilizado para o preenchimento da cava, devolvendo sua forma original. Medida atenuadora na geração de drenagem ácida, derivada da oxidação de sulfetos metálicos; • Recomposição topográfica e revegetação da área da mina por meio do plantio de espécies nativas; • Implantação de um bom sistema de tratamento de água; • Estabelecimento de comunidade de plantas para reproduzir o habitat de animais selvagens; 25 • Implantação de trilhas ecológicas para recreação das comunidades locais (Figura 14). Figura 14 Mina de Flambeau após a execução das obras de fechamento Em 1988, algumas condicionantes também lhe foram impostas: • Emprego de métodos avançados no tratamento da água (qualidade desta água deve ser superior à qualidade das águas do rio) usada na mina para depois serem lançadas no rio Flambeau; • No mínimo 75% do quadro de funcionários da mina necessitaria ser contratado junto as comunidades locais; • Instituir um centro de visitação, no qual as comunidades poderão observar o funcionamento da mina a qualquer momento; • Construção de poços para monitorar a qualidade da água da mina e do rio Flambeau; • Realização de um acordo com os governos locais em que eles teriam a prioridade na compra de alguma propriedade vendida pela KMC; • Horário de funcionamento restrito ao período diurno e de segunda a sábado; • Pagar aos governos locais (condado de Rusk, e as cidades de Ladysmith e Grant) na fase de implantação da mina, o valor de US$ 100.000 para cada. Em 1993 iniciou as atividades na Mina de Flambeau (Figura 15), e em agosto de 1997 as operações se encerraram, como previsto no projeto. No total foram extraídos mais de 26 1,8 milhões de toneladas de minério da mina, resultando em 181.000 toneladas de cobre, 94.000 toneladas de prata e 9.469 kg de ouro. Figura 15 Componentes da Mina de Flambeau em operação (1996). A empresa proporcionou o desenvolvimento social e econômico das comunidades ao redor através de uma política de responsabilidade ambiental. Junto à uma escola, o empreendimento estabeleceu um viveiro de plantas, sendo que as mudas seriam empregadas posteriormente na recuperação ambiental da mina. Tal medida foi essencial para despertar o senso de responsabilidade na comunidade, que ao participar do plantio, se sente parte integrante do que está sendo realizado. A KMC continuou apoiando o desenvolvimento sustentável mediante o aumento da biodiversidade e da proteção ao meio ambiente. No ano de 2000, a empresa assumiu o compromisso de conservar o estado natural da área da antiga Mina de Flambeau e da área ao seu redor, propiciando uma melhora contínua da qualidade ambiental da região (Figura 16). Aproximadamente dez hectares de zonas úmidas foram construídas para melhorar e aumentar a biodiversidade da região, e consequentemente a proteção no rio Flambeau. 27 Figura 16 Vista geral da Mina de Flambeau após a execução das obras de fechamento 28 CONCLUSÃO Á partir deste estudo de pesquisa bibliográfica, identificamos uma grande quantidade de procedimentos para recuperar as áreas degradadas, mas a prevenção é ainda a melhor solução, enfatizando no uso racional e o manejo sustentável dos recursos naturais. E dependendo do grau de interferência humana, das práticas utilizadas e dos riscos geomorfológicos já existentes, os impactos ambientais associados geram prejuízos físicos, e aos seres humanos. Neste contexto, surge a necessidade de se obter cada vez mais conhecimentos, através de estudos específicos, dos tipos de solos, processos erosivos e de outros processos que venham causar uma degradação ambiental, bem como a interação do homem com o espaço em que ocupa, levando em conta as variáveis ambientais e socioeconômicas. A aplicação dos métodos corretos antes de fazer o uso da terra, como o devido estudo do relevo, usando as ferramentas disponíveis no campo da topografia e o conhecimento geológico do meio é a principal ferramenta de prevenção e de determinação de medidas mitigadoras de processos degradadores do meio ambiente, sejam eles naturais, oriundos de processos erosivos, como por exemplo as ravinas, ou provocados por ações antrópicas, como em atividades de mineração. Sendo assim a topografia é muito importante na tomada de decisões e elaboração dos projetos de recuperação de áreas degradadas, auxiliando na elaboração dos procedimentos, técnicas e metodologias a serem empregadas na recuperação de áreas degradadas, onde deverão ser observadas as características próprias do local, em busca da melhor solução. 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DE PAULA TONIDANDEL, Rodrigo. Aspectos legais e ambientais do fechamento de mina no estado de Minas Gerais. 2011. Áreas Degradadas. Disponível em: https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/biologia/areas- degradadas/25603. Acesso em: 11 de mar. 2020. Degradação do solo: entenda causas e alternativas. Disponível em: https://www.ecycle.com.br/4152-degradacao-do-solo. Acesso em: 11 de mar. 2020. PLANO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS. Disponível em: http://sudema.pb.gov.br/consultas/downloads/arquivos-eia-rima/casa-grande/eia-casa- grande/13-plano-de-recuperacao-de-areas-degradadas.pdf. 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