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FIGUEIREDO, L.C Convergências e divergências[1191]

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Scanned by CamScanner
コ
C onvergências e divergências : a
questão das correntes de
pensam ento em psicologia
Luís C láudio Figueiredo 
·
O presente texto enfoca um tem a a que m e ven
ho de
Clicando há cerca de quinze anos e no qual venho inves
tindo um a parte substancial do m eu esforç o de pesquisa
e reflexão N o entanto , quero , tam bém , de antem āo , fa
zer um a advertência : estes anos todos nāo foram sufici
entes para que eu possa hoje oferecer respostas com pte
tas e convincentes aos inúm eros e angustiantes probıe
m as que decorrem da fragm entaç âo do conhecim ento
psicológico
P oderia dizer, contudo , que o ganho tem sido exata
m ente o de fazer avanç ar o problem a no sentido de m an
têlo aberto, tornando o para m im m esm o m ais clara
m ente delineado Isto , taıvez, seja pouco para oferecer,
m as não gostaria de decepcionar excessivam ente m eus
* U S P P U C S P
D a epistem ologia à ética
1 5
Scanned by CamScanner
C
eventuais leitores prom etendo m ais do que re
alm ente
m e acho em condiçōes de oferecer
A o longo destas páginas tratarei em prim eiro lugar da
própria dificuldade que nós psicólogos encontram os por
ter de lidar com a fragm entaçāo de nossos saberes vere
m os com o frequentem ente, atordoados pelas divergên
eias e ansiando por convergências e unidade envereda
m os pelos cam inhos perigosos do dogm atism o e do
ecletism o E m seguida apresentarei algum as perspecti
vas que m e parecem m ais m aduras e proficuas para en
frentar estas questōes E stas perspectivas dizem respei
to prim eiram ente a tentativas de com preender a estru
tura da dispersāo (que parece caótica m as na verdade
tem sua própFia organizaç ão) ; em segundo lugar tra
ta se de avaliar o alcance das divergências (que é m uito
m ais am pıo profundo e com plexo do que aquilo que po
deriam os cham ar apenas de divergências teóricas ) ; no
exam e deste alcance será m uito enfatizada a dim ensão
propriam ente ética envoM da na questāo
F az parte do conhecim ento de todo psicólogo De
todo professor de psicologia e de todo aluno em form açāo
o estado fragm entar do conhecim ento psicológico A pro
pósito L uiz A lfredo G arcia R oza referiu se à psicologia
com o um espaço de dispersão P ara quem acom panha
a história desta área de produçāo de saberes e de práticas
fica m uito claro que esta designaç ão serve para caracteri
zar a psicologia pelo m enos nos úlūm os cem anos e na
da
indica que vá perder a validade nos anos futuros Efet
iva
m ente a ocupaçāo do espaço psicológico pelas teoūa
s e
parte ı
1 6
sistem as nāo deu lugar à form açāo de um continente
m as sim de um arquipéıago conceitual e tecnoıógico O u
seja nāo se trata de um terńtório uno e integrado em bora
tam bém nāo sejam ilhas totalm ente aw ısas e desconec
tadas N a verdade ao ıongo de cerca de 4 0 anos as duas
últim as décadas do sécuıo X IX e as duas prim eiras do sé
culo X X surgiram quase que sim uıtaneam ente as gran
des propostas de apreensāo teórica do psicológico ou do
com portam entaıD e lá para cá o que assisüm os foi a con
soıidação de m icrocom unidades relativam ente indepen
dentes cada qual com suas crenças seus m étodos seus
objetivos seus estilos suas ıinguagens e suas histórias
particuıares N o entanto a independência nāo é com pie
ta o que se m ostra de variadas m aneiras
P or exem pıo via de regra dentro de um curso de for
m aç ão de psicóıogos estão representadas m uitas (m as
não todas) destas com unidades O s aıunos ao ingressa
rem no curso e entrando em contato com o currĺculo
podem ficar de início com a expectativa de que várias
disciplinas irāo se organizar harm onicam ente conver
gindo para um a m eta com um segundo um a concepçāo
com partilhada por todos os professores do que seja pen
sar e f? er psicologia M uito rapidam ente eıes percebem
que aıgo nāo cam inha conform e o esperado C ostum a
em ergir entāo um certo desassossego e um a certa des
confiança P enso que algo que m erecía ser prontam ente
tem atizado é a relaç ão entre o estado um tanto caótico e
inevitavelm ente desarticulado de qualquer currículo de
form açāo em psicologia e as condiçōes históricas desta
área E sta já seria um a boa razāo para atribuirm os ao es
tudo da história da psicologia ou das psicologias um lu
gar privilegiado na form açāo do psicólogo É claro que
D a epistem oıogia à ética
1 7
Scanned by CamScanner
esta história não poderia ser apenas, com o frequente
m ente ocorre, um a exposiçāo das teorias e sistem as : se
ria necessário enveredar pelo estudo dos nĺveis ou pıanos
em que estes sistem as podem ser confrontados e com
preendidos com o ıegilim os 
habitantes do espaço psico
lógico ; seria ainda necessário identificar suas posiçōes
particuıares dentro deste espaço, com todas as im plica
çōes práticas técnicas e éticas que lhes correspondem
A isso voltarei m ais tarde
N a ausência de um a com preensāo m ais abrangente
e profunda do nosso espaço de dispersāo experim en
ta se um sutil m alestar que poderia ocasionalm ente con
verterse em episódios de angústia S e esta nāo aparece
claram ente é porque contra ela logo em ergem duas rea
çōes m uito típicas e perniciosas : o dogm atism o e o ecle
E sm o N o prim eiro caso, o psicólogo em form açāo ou já
form ado tranca se dentro de suas crenças e ensurdece
para tudo que possa contestá]as N o segun
do adota in
discrim inadam ente todas as crenç as m étodos técnicas
e instrum entos disponiveis de acordo com a sua com
preensão do que the parece necessário pa
ra enfrentar
unificadam ente os desafios da prática
É preciso perceber o que estas duas defesas contra a
angústia têm em com um elas bloqueiam o ac
esso à 
periência N o caso do dogm atism o a m inha a
firm açāo
deve parecer óbvia : quem se agarra aos sistem a
s com o
tábua de salvação não só nāo pode ouvir as interpelaç
ōes
que viriam de outras vozes teóricas (que ficam de ante
m ão desqualificadas), m as tam bém não se perm ite ouv
ir
o que a sua prática tem a dizer salvo na m edida em qu
e
se encaixe no esquem a do que o psicólogo pensa qu
e
sabe E u não estou aqui defendendo um a posiçāo inge
nuam ente em p
irista sei m uito bem que as teorias sāo in
dispensáveis p
ara que se torne inteıigive
l o cam po das
experiências ; 
são elas que nos ajudam na tarefa de confi
guraç ão des
te cam po e sem elas estaríam os 
desam para
dos diante de um a p
roliferaç ão de acontecim entos com
pletam ente 
fora do nosso m anejo C ontudo o recon
he
cim ento deste pap
el para as teorias e m a
is am plam ente
o reconhecim en
to de que nã o há experiência sem pres
supostos não se p
ode confundir com o aforam ento dog
m ático a um conjunto 
de crenç as que resulte na própria
im possibiıitaçāo 
de qualquer experiência nov
a
A posiç ão eclética ap
enas aparentem ente escapa des
te cativeiro ocorre na 
verdade que o eclético lança m ão
de tudo sem rigor e sem co
m prom issos a partir de um
plano de com pre
ensāo que este nunca é questiona
do
o do senso com um É neste nivel do senso com um que o
eclético acha que no fundo ex
iste um a unidade entre
as teorias e sistem as que as técnicas e 
instrum entos se
com plem entam que ele as ava
lia que ele supóe identifi
car as necessidades de seus clientes etc etc
A prisâo
do senso com um é m ais invisivel exatam ente porque 
é a
m ais próxim a e envoıvente m as eıa étal com o a 
do dog
m atism o um lim ite e um bloqueio D e fato seja enclau
surado dogm aticam ente na sua teoria ou ingenuam ente
enclausurado no senso com um o psicólogo que cede à
tentação de escapar da angústia através destas form as
bastardas de unificaç âo perde a capacidade de eķ perim entar O que é experim entar efetivam ente senāo en
trar em contato com a alteridade?
F azer um a experiência com o que quer que
seja um a coisa um ser hum ano um deus
isto quer dizer Deixála vir sobre nós para
D a epistem ologia à ética
1 9
Scanned by CamScanner
; ım a nos traris
senão o m aior do século X X M artin H eidegger O que eleenfatiza é que a verdadeira experiência com porta um M om ento de encontro
, 
de negaç ão de transform açāo O useja experim entar é deixar se fazer outro no encontrocom o outro E m outras palavras só há experiência ondehá diferenqa e onde novas diferenças sāo engendradasO ra tanto o dogm ático nâo se dispõ e a nada disto com oo ecléüco procura m anter se fundam entalm ente o m es
m o encobrindo esta im obilidade e esta m esm ice im per
m eável com a fantasia da variedade e da liberdade
S e m e alonguei nesta questão do dogm atism o e do
ecletism o é porque infelizm ente eles costum am ser ten
taçōes quase irrecusáveis para o psicólogo
M as será que nāo existem outras m aneiras de enfren
tar a dispersāo do espaç o pside lidar com a angústia
que ele evoca? C reio que sim m as estas m aneiras exi
gem um a estreita aliança de m ovim entos construtivos e
m ovim entos reflexivos C ham o de m ovim entos constru
ů vos os que im plicam em investir na produçāo do con
he
cim ento a partir dos recursos conceituais dispon
iveis nas
teonas e no encontro destes recursos com os desa
fios da
prática ou seja a partir das experiências N
ão se trata
necessańarnente de transform ar todo psicólogo n
um pro
fıssional da pesquisa m as de trazer par
a as situaçóes
práticas e profissionais a com pet
ência de pensar que
perm
ita a elaboraç
âo de connecım entos novos E preciso
abandonar 
a ideia de que a psico
logia dita aplicada seja
a m era 
apıicação de 
um conhecim ento cientifico já consti
tuído N o nos
so cam po fao ou m ais decisivo que o con
he
Cimento teórico disp
onivel é a incorporação deste conheci
m ento às ha
bihdades do profissional com o um dos ingre
dientes do que p
oderíam os cham ar de conhecim ento fa
cito do psicólog
o Pois bem esta incorporação da teońa
só acontece no 
bojo de um processo m uito pessoaı e em
grande par
te intransferiveı de experim entação e refıexāo
nesta m edida nossa 
atividade profissional vai m uito além
da aplicação constitu
indo se em um a autêntica elabora
ção de conhecim en
tos m esm o que estes não se tradu
zam em textos m esm o que perm
aneçam com o conhe
cimentos tácitos incorporados às práticas do profissional
na form a de um saber do oficio
N o entanto para que o m ovim ento construtivo possa
se efetivar é necessário conservar aberto o ıugar para a
experiência o lugar da alteridade da negatividade da
transform aç ão O ra a abertura e conservaç ão deste es
paço é tarefa da reflexāo A reflexão destina se no caso
a elucidar os lim ites de cada sistem a seja explicitando
seus pressupostos seja antecipando suas im plicaçōes e
consequências m uitas vezes invisiveis a olho nu
M uitas vezes se pensa que a principal funçāo da ativi
dade reflexiva no cam po das teorias dentĺficas seja a de
investigar e se necessário questionar suas pretensōes à
verdade E m outras palavras m uitas vezes se acredita
que quem reflete sobre teorias e sistem as psicológicos
deveria fazer perguntas tais com o oom o se deu e se dá a
Produçāo e a validaç ão do conhecim ento que se apre
senta com o sendo científico? quais os m étodos e técni
que nos atinja nos caia em (form e e nos faç a outro (H ei
E
国
Scanned by CamScanner
cas acionados na pr
odução e validação 
do conheclm en 
to, etc ?
O ra, em relação a 
este tipo de preocupaçao haveria
duas coisas a considera
r E m prim eiro lugar, a centrali
dade das questōes ep
istem ológicas no cam po da cultura
m oderna e cientifica tem 
sido cada vez m ais problem ati
zada (R O R T Y 19 7 9 ; 19 8 2 ; 
19 9 0) O bserva se em todo o
pensam ento con
tem porâneo um abandono progressivo
e às vezes dram ático do projeto 
fundacionista ou seja,
do intento de fazer repousar o c
onhecim ento cientifico
em bases sólidas e inquestion
áveis, isto é em algum a
form a de conhecim ento im ediato e 
indiscutivel tal com o
foram os projetos epistem ológicos da m o
dernidade se
jam os de inspiração baconiana sqam os o
riundos da
tradição cartesiana A o contrário disso, já se torna W
consenso a aceitaçāo de que nāo há tais fundam entos,
de que nāo há conhecim entos im e
diatos de que nāo há
conhecim ento sem pressupostos, sendo que estes po
dem ser explicitados e é bom que o sejam m as jam ais
serāo verificados ou refutados N o m áxim o eles poderāo
ser avaliados em suas propriedades heurĺsticas ou seja,
na sua fecundidade e na sua eficácia
E m segundo lugar cabe assinalar que o abandono
do prqeto fundacionista e a ênfase na investigaç ão dos
pressupostos das construçōes teóricas e das práticas
vêm a calhar para um a área com o a nossa m arcada peıa
dispersāo N āo creio efetivam ente, que a avaıiaç ão com
paraüva das teorias e dos sistem as psicológicos pudesse
ser feita apenas ou principalm ente no plano epistem ol
ó
gico āo é possivel nem faz sentido procurar saber quem
é ou foi m ais científico S kinner, piaget F reud, Jung, R o
gers? O que se passa é que os diversos sistem as de pen
parte ı
sam ento psico
lógico não visam os m esm os objetos da
m esm a m a
neira, com os m esm os objetivos e de acordo
com os m es
m os padrōes as noçōes de realidade de
psiquism o , 
de com portam ento , etc variam igual
m ente varia o que se 
entende por teoria por conheci
m ento e por ver
dade ; em decorrência variam os crité
rios de avaliação do con
hecim ento e dos m étodos e pro
cedim entos adequados
N esta m edida tais divergências
não se resolverão m ediante p
esquisas, já que qualquer
pesquisa ser
á efetuada a partir de seus próprios pressu
postos C ham o 
de m atrizes do conhecim ento psicológi
co (FıG U E IR E D 0 19 9 1) a estes grandes conjuntos de
valores norm as, crenças m etafĺsicas concepçōes epis
tem oıógicas e m etodoıógicas que su
bjazem às teorias e
às práticas profissionais 
dos psicólogos C oloco tam bém
no plano das m atrizes o conjunto das im pıicaçōes 
éticas
que pertencem legitim am ente ao m
esm o cam po de pro
dução teórica e de práticas
A qui creio que seria oportuno determ e um pouco no
term o m atrizes É preciso de inĺcio estabelecer aigu
m as diferenças de niveı : faıando em sistem as em es
colas em facçōes ou em correntes eu perm aneço
no nĺvel m anifesto em bora recortando de form a m ais ou
m enos fıexivelm ais ou m enos restritiva o m eu m aterial
É verdade que o term o correntes ao insistir na dim en
sāo tem poral se abre para um a passagem da apreensão
das ideias tais com o se m ostram para um a apreensão das
ideias na sua historicidade na sua autogeragāo N o en
tanto se o m eu interesse é o de identificar pressupostos
e im pıicaçōes eu necessito de um term o que m e dê
acesso a um nivel que opera no registro do latente
do
que age dissim uladam ente O s term os paradigm a tal
D a epistem ologia à ética
2 3
Scanned by CamScanner
como empreg
ado por Kuhn (
1 970), epistem e
" tal como
empregado p
or Foucault (1 
966 ; 19 69), bases m etaflsl 
cas tal como 
empregado p
or B urtt (] 9 83), entre outros,
dizem respeito ex
atam ente a es
te niveı que m e interessava
focaıizar O pte
i peıo term o
m atrizes
"
, que por sinal tam 
bém veio a ser prop
osto por K uhn (19 74 ), para su
bst 让 ulr o
de paradigm as p
orque ele m e parec
eu o m ais apto a fa 
ıar do m eu tem a : 
o espaço psi com o umesp
aço de dis
persāo que, ap
esar de tudo, não é um esp
aço de caos ab
soluto, pois possu
i um a organização subterrânea a partir
da qual podem ser c
onfrontadas, aproxim adas ou contra
postas as corren
tes, as escolas, as se
itas, enfim , todos os
habitantes graúdos ou m iú
dos do espaço psicológico A s
m atrizes sāo geradoras ; elas s
āo fontes, elas instauram
os cam pos de teorizaçâo e de aç
ão possiveis, eıas inau
guram as histórias das ps
icologias
H o m eu 0 M atrizes do pensam ento psicoįógico
procurei oferecer um quadro panorâm ico das psicolo
gias contem porâneas organizado a partir de suas m atri
zes O espaço não m e perm itirá estenderm e sobre a
questão A penas recordarei que Iá denom ino m atrizes ci
entificistas a todas as m atrizes a partir das quais a psico
ıogia vem a ser concebida e praticada com o ciência na
turaı (de acordo, naturalm ente, com os m odelos de ciên
cia natural disponiveîs no século X IX ) ; todas pressupõem
a crença num a ordem naturaı e diferem apenas na form a
de considerarem esta ordem as psicologias geradas por
estas m atrizes seriam construĺdas com o anexos ou se
gundo os m odelos de outras ciências da natureza
, 
com o,
Por exem pıo, a bioıogia C om o as dem ais ciências natu
rais
, as psicoıogias estariam destinadas a fornecer um
conhecim ento útil para previsão e controıe dos eventospsíquicos e com portam entais
D e outro ıado, encontram se as m atrizes inspiradasno pensam ento rom ântico de oposiqão ao racionaıism oilum inista e ao im pério da m atem ática e do método para
eıas o objeto da psicologia não sāo eventos naturais
, m as
sâo form as expressivas, ou seja, as ações produtos e obras
de um a subjetividade singular que através deles se dá
a conhecer E nquanto as psicologias engendradas por
m atrizes cientificistas propunham se com o conhecim en
to apto a previsōes e controles e, nesta m edida se obri
gavam a explicar os eventos psíquicos e com portam en
tais inserindo os num a ordem natural
, as psicologias en
gendradas a partir de m atrizes rom ânticas têm com o
m eta com preender, ou seja gerar conhecim entos aptos
à apreensão das form as expressivas A M eta deste co
nhecim ento seria a de am pıiar a capacidade de com uni
cação entre os hom ens e de cada um consigo m esm o
D estas m atrizes rom ânticas destacam se as que eu
denom ino de pós rom ânticas N estes casos, o que obser
vam os é o resgate da grande questão coıocada pelas m a
trizes rom ânticas
, 
a questão da com preensâo, aliado à re
núncia à esperança de um a apreensão fácil e im ediata do
sentido Para estas m atrizes o sentido dos atos dos pro
dutos e das obras nāo coincide com as vivências que lhes
correspondem , supōe se que por trás dos senüdos haja
outros sentidos e por trás destes haja processos e m eca
nism os geradores de sentido e que nada disso se dê es
pontaneam ente à nossa consciência seria preciso, por
tanto
, elaborar m étodos e técnicas e critérios interpretati
vos que nos perm itam ir além de um a com preensäo 
ingê
nua e autocentrada dos outros e de nós m esm os
D a epistem oıogia à ética
2 5
P arte I
2 4
Scanned by CamScanner
E ste panoram a am pıo do cam po de dispersāo den
tro do qual puderam ser situadas as escoıas, sistemas
,facçōes e correntes de form a a que pudessem ser rnos
tradas suas interrelaçōes, suas fam iliaridades e seus an
tagonism os foi o saldo , espero , da elaboraçāo das m atıt
zes Q uero assinalar m ais um a vez
, que nāo houve di
m inha parte em nenhum m om ento , a intençāo dejulgar
e m uito m enos de julgar epistem ologicam ente as teorias
m eu objetivo foi sem pre o de conservar a diversidade na
unidade, tornando a inteligivel
E ste resultado
, porém , nāo m e satisfez com pletam en
te É verdade que ele pode ser útil para o com bate às tenCiências dogm áticas e ecléticas m ais precipitadas m as
ele deixa em aberto a questāo das opçōes das escolhas
A quinovam ente creio necessário dar alguns esclareci
m entos N a verdade depois de m uita observação de m im
m esm o de colegas e de alunos eu m e perm ito duvidar
de que os psicólogos possam realm ente escolher suas
teorias
, 
m étodos e técnicas C reio que é totaım ente iıu
sório im aginar que em algum m om ento tenham os a
isenç ão, o conhecim ento e a ıiberdade para efetuar esse
tipo de opç ão A o contrário , o que percebo é que som os
escolhidos som os com o que fisgados, atraĺdos por um a
tram a com plexa de anzóis e iscas, das quais algum as g
nunca serāo com pletam ente identificadas
D e qualquer form a, m uito antes de nos darm os con
ta
de que escolhem os já fom os escolhidos e em bora estas
opçōes possam ser refeitas
, 
haverá sem pre aıgo que nos
antecede e nos cham a O ra o que um a reflexão ace
rca
das m atrizes do pensam ento psicológico nos pode p
ropi
parte ı
2 6
ciar não será, portanto, um a esco
lha pıenam ente cons
ciente e racionalO que podem os esperar, creio eu legiti
m am ente, desta reflexão, é um a am pliação da nossa ca
pacidade de pensa
r acerca do que acreditam os, acerca do
que fazem os e de que
m som os Pois bem um a com pre
ensão dos sistem as e teorias no contexto de um a explici
tação das m atrizes do pensam ento psicológico ajuda nes
ta tarefa reflexiva, m as não é suficiente D e um a certa for
m a, poderiam os m esm o dizer que ao nos defrontarm os
com a diversidade conservada na unidade estam os ape
nas entrando em contato com o probıem a m as nāo o es
tam os ainda resoıvendo É claro que entrar em contato é
um prim eiro passo indispensável, ao contrário das saidas
dogm áticas e ecléticas que ao invés de favorecerem o m o
vim ento de problem atizaç ão evadem se deste contato ne
gando de um a form a ou de outra, a própria diversidade
D ado este prim eiro passo contudo com o prosseguir?
M eu cam inho foi o de refazer o processo de gestação
do próprio espaç o psicológico para entender com o e por
que ao final do século X IX se abriu um cam po no quaı vi
eram a se instalar diversos projetos de psicologia que,
apesar de suas diferenqas tinham em com um a preten
sāo de estabelecer a psicologia com o um a área independente de saberes e intervençōes sui generis E m outras
P aıavras m eu objetivo passou a ser o de com preender ahistória da constituiqāo do espaç o psicológico e de com oeste espaç o se organizou em term os de lugares cada lugar ensejando um a m aneira de teorizaçāo e de exercĺcioP rofissionalT ratava se enfim de um a tarefa de genealogia do psicológico o m eu tem a era vasto e de lim itesim precisos ; com o circunscrever de um a vez por todas oconjunto de acontecim entos e dispositivos que contribuĺ
D a epistem ologia à ética
2 7
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com o área especffica de conhecim entos e práticas profissionais E starem os m esm o fazendo m ais que apenasadotar talvez sem a devida reflexāo crenç as norm as evalores E starem os de fato nos posicionando diante dosdestinos de nossa época L onge de m im a intençāo de reduzir um a prática profissional a qualquer m odalidade dem ilitância ; nāo se trata portanto de prom over tal ou qualform a de fazer e pensar a psicologia em term os de um adada concepçāo do que seria politicam ente corretoT rata se contudo isto sim de introduzir nas nossas consideraçōes algo que via de regra escapa à form açāo con
vencional do psicólogo trata se de introduzir no cam podas nossas cogitaç õ es um a discussão histórica sociológica e filosófica acerca do m undo em que vivem os das for
m as dom inantes de existir neste m undo e de com o as
psicologias contem porâneas sāo m odos de tom ar partido em relaç ã o aos problem as da contem poraneidade
A ĺ reside a dim ensāo ética das psicologias dim ensāo
sobre a qual há m uito pouca reflexão já que costum a
m os reduzir as discussōeséticas a questõ es que m e pa
recem triviais e form ais A s verdadeiras questōes éticas
são a m eu ver
, as que dizem respeito às posiqōes bási
cas que cada sistem a ou teoria ocupa no contexto da cul
tura contem porânea diante dos desafios que dela em a
nam P ara estas questōes com o de resto para as questōes verdadeiram ente grandes, nāo devem os ter a espe
ranç a de respostas concludentes N ossa obrigaçāo , po
rém pode e creio que deve ser a de m antêlas em abertoE las são
, afinal de contas
, as brechas nas nossas crenqas
e nos nossos com prom issos através das quais pode seinsinuar a aıteridade enfim sāo elas que nos podem conservar disponiveis para a experiência e para a renovaçāo
R eferências
B U R R R E A A s bases m etaïisicas da ciência m oderna
B rasilia : U nB 1 9 8 3 IT rad J V iegas F Uho e O rlando A
H enriquesl
F IG U E IR E D O L C A inuenç â o do psicológico Q uatro
séculos de subjetivaçāo (1 5 0 0 19 0 0 ) S ão paulo E scu
ta/E duc 1 9 9 2
M atrizes do pensam ento psicológico petrå
polis : V ozes 1 9 9 1
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m ard 1 9 6 9
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P arte ı D a epistem oıogia 
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