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Direitos da mulher avanços e retrocessos na legislação e políticas públicas


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05/04/2018 Direitos da mulher: avanços e retrocessos na legislação e políticas públicas - Politize!
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Este é o quinto texto da trilha de conteúdos Mulheres e Democracia e abordará o
tema Direitos da Mulher. Veja os demais textos desta trilha: #1 – #2 – #3 –  #4 – #5
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DIREITOS DA MULHER: AVANÇOS
E RETROCESSOS NA LEGISLAÇÃO
E POLÍTICAS PÚBLICAS
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05/04/2018 Direitos da mulher: avanços e retrocessos na legislação e políticas públicas - Politize!
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Mulheres das periferias e das universidades; mulheres lésbicas, bissexuais e
transsexuais; mulheres negras e indígenas; mulheres no espaço privado e também
no público. São muitas as necessidades das mulheres e demanda-se do Estado que
elas sejam atendidas.
Nas últimas décadas, importantes programas sociais foram postos em prática e
legislações foram aprovadas. Ainda assim, as mulheres são um dos primeiros cortes
de investimentos quando o cenário é de crise. Houve avanços e possibilidades, mas
também é preciso apontar para os retrocessos, a �m de que todas as mulheres sejam
atendidas.
Até 1962, as mulheres casadas só podiam trabalhar fora de casa se o marido
permitisse, uma limitação imposta pelo Código Civil de 1916. As próprias mulheres
se mobilizaram e apresentaram propostas década após década para mudar o quadro
legal. Também até bem pouco tempo não era considerado juridicamente possível
que houvesse estupro entre cônjuges e assassinato por honra era algo aceitável.
São exemplos marcantes de uma luta que existe há muito tempo e que se faz ainda
mais presente a partir dos anos 1970. No Brasil, esse foi um período de
fortalecimento dos movimentos sociais e de embate desses movimentos com o
regime autoritário de governo. Após mais de 20 anos de regime ditatorial, mudanças
aconteciam não só na forma de governo, mas começavam a acontecer nas políticas
UM HISTÓRICO DE MOBILIZAÇÕES
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públicas.
Ao mesmo tempo em que denunciavam pautas gerais, as mulheres nos movimentos
passaram também a levantar temas especí�cos à sua condição como direito a creche
e direitos trabalhistas, saúde, sexualidade, contracepção e violência contra a mulher.
Pressões se dirigiram a diferentes níveis de governo, dependendo da distribuição de
competências em cada campo de política pública – municipal, estadual e federal.
Sob impacto desses movimentos, na década de 80 foram implantadas as primeiras
políticas públicas com recorte de gênero: o primeiro Conselho Estadual da Condição
Feminina, em 1983, e a primeira Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher, em 1985,
ambos no Estado de São Paulo. Essas instituições se disseminaram a seguir por todo
o país.
Alguns anos depois, a Constituição de 1988 foi outro marco importante, ainda que
muitas vezes mais no papel que na prática: organizada em torno da bandeira
“Constituinte pra valer tem que ter palavra de mulher”, a Carta das Mulheres
Brasileiras estruturou propostas para a nova Constituição. Diversas propostas dos
movimentos sociais – incluindo temas relativos a saúde, família, trabalho, violência,
discriminação, cultura e propriedade da terra – foram incorporadas.
No Brasil, as transformações domésticas e internacionais são propulsores de
avanços signi�cativos em diversas áreas, dentre elas o combate à violência e o
DIREITOS DAS MULHERES: AVANÇOS
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empoderamento econômico das mulheres.
Da participação ativa de organizações não governamentais feministas, órgãos
internacionais de direitos humanos, setores acadêmicos, pessoas ligadas ao Direito,
poder Executivo e o Congresso Nacional foi criada a Lei Maria da Penha
(11.340/2006). Segundo dados do IPEA de 2015, essa legislação contribuiu para a
diminuição em 10% sobre os casos de assassinatos contra mulheres no país.
Também no âmbito do combate à violência contra a mulher, existe a Secretaria de
Políticas para as Mulheres, órgão federal criado em 2003 e de importância central
para a defesa dos direitos das mulheres. Um de seus serviços é a Central de
Atendimento à Mulher em Situação de Violência – Ligue 180, que recebe denúncias
de violência e reclamações sobre os serviços da rede de atendimento à mulher e
orienta sobre seus direitos e sobre a legislação vigente.
Durante o governo da presidente Dilma Rousseff, outra medida de grande
repercussão nesse tema foi implementada: a Lei 13.104/15, que torna quali�cado
o homicídio quando realizado contra mulheres em razão do gênero (também
conhecido como feminicídio) e o inclui no rol de crimes hediondos.
Um programa que muitas vezes é encarado como puro assistencialismo, mas que na
prática é uma política pública e�caz não só na redistribuição de renda como na
melhoria da vida de milhares de brasileiras é o Bolsa Família.
Em todo o Brasil, o programa atende a 13,7 milhões de famílias – sendo que mais de
93% dos cartões estão em nome de mulheres, que passam a ter poder de escolha
�nanceira dentro do lar. São elas que recebem e distribuem a renda familiar.
Pesquisas do Ministério do Desenvolvimento Social mostram que tal
procedimento garante mais autonomia, independência e liberdade.
“A libertação da ‘ditadura da miséria’ e do controle masculino familiar amplo sobre
“CADÊ MEU CELULAR? EU VOU LIGAR
PRO 180”
Redistribuir renda: empoderamento e autonomia econômica
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seus destinos permite às mulheres um mínimo de programação da própria vida e,
nesta medida, possibilita-lhes o começo da autonomização de sua vida moral. O
último elemento é fundante da cidadania”, analisam os pesquisadores Walquiria
Leão Rego e Alessandro Pinzani no livro Vozes do Bolsa Família: Autonomia,
dinheiro e cidadania.
Simone de Beauvoir escreveu há algumas décadas e continua atual: “Nunca se
esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos
das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá
que manter-se vigilante durante toda a sua vida.”
Mesmo com esses avanços (ou por causa deles), ameaças de retrocessos – ligados,
principalmente, às questões de saúde e direitos reprodutivos e do direito a estar
livre de todas as formas de discriminação – persistem. Projetos como o Estatuto do
Nascituro ou que di�cultam o tratamento adequado a mulheres vítimas de estupro,
além de falas discriminatórias e violentas feitas por parlamentares a suas colegas
mulheres, são alguns exemplos recentes.
Em maio de 2016, o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos
Humanos foi extinto. Além disso, todos os Ministérios passaram a ser ocupados por
homens. Diante dessa realidade, o país caiu 22 posições em ranking internacional de
igualdade de gênero. 
“É PRECISO ESTAR ATENTO E FORTE”
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“Não ter mulheres signi�ca perder, pois metade da população não está
representada, nesse governo, nessa junta executiva. A possibilidade de perdas de
políticaspúblicas, dos avanços, da [possibilidade de] ir além do que normalmente
está sendo visto por só uma parte da população, é muito grande”, a�rmou a
representante do Escritório da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman.
O quadro atual é de conquistas quanto à igualdade de gênero em nosso país.
Possíveis retrocessos também nos alcançam. Diante disso, não podemos esquecer:
existem espaços para discutir os lugares de disputa de poder ganharam vida e
presença feminina. A mudança deve continuar e, se não acontece nas grandes
instâncias, pode começar no cotidiano.
Há muito para fazer. O índice de violência de gênero continua epidêmico no Brasil.
Dados da Organização Mundial da Saúde nos colocam como o quinto país do
mundo em assassinatos de mulheres, atrás apenas de El Salvador, Colômbia,
Guatemala e Rússia.
O QUE AINDA PRECISA ACONTECER
PODE ESTAR ACONTECENDO NOS
MICRO-ESPAÇOS
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Dados presentes no Mapa da Violência 2015: Homicídio de mulheres no Brasil
Persiste uma articulação das desigualdades de gênero e raciais no contexto da
educação, do mercado de trabalho e renda, da exclusão e da violência. Recortes de
classe e raça também devem ser feitos. De acordo com o Mapa da Violência 2015, o
número de mulheres negras mortas cresceu 54% em 10 anos (de 2003 a 2013),
enquanto que o número de mulheres brancas assassinadas caiu 10% no mesmo
período.
A inclusão de temas ligados ao gênero (discriminação e violências contra mulheres e
LGBTfobias, por exemplo) foi algo muito discutido, disputado e vencido na
aprovação de planos de educação no âmbito nacional, estadual e municipal.
Os programas de saúde avançaram. No entanto, a mulher é atendida baseada em
sua função na família. O direito à decisão sobre o próprio corpo, a exercer sua
sexualidade, a partos bem assistidos e livres de violência e mesmo a ter atendimento
adequado sendo lésbica ou transexual permanecem como necessidades.
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Com tantos desa�os, iniciativas municipais e da sociedade civil são importantes e
podem servir de modelo a ser propagado. Em São Paulo, dois programas têm o
objetivo de promover os direitos humanos e promover a cidadania LGBT:
os Centros de Cidadania LGBT e o Transcidadania. O governo de Minas Gerais já
estrutura uma ação semelhante a este último e representantes do governo norte-
americano também foram a São Paulo conhecer a iniciativa. Jovens adolescentes
também estão engajados e formaram a Rede Nacional de Adolescentes LGBT.
Organizações não-governamentais são igualmente importantes. Geledés Instituto
da Mulher Negra e Themis Gênero e Justiça são idealizadoras da plataforma PLP 2.0
de enfrentamento à violência contra mulher, criado para fortalecer a rede de
proteção para mulheres em situação de violência.
Coletivos e mulheres organizadas autonomamente das mais diversas formas são
outras iniciativas signi�cativas. O Coletivo de Saúde Feminista Sexualidade e Saúde,
por exemplo. O Coletivo é uma ONG que desenvolve desde 1981 um trabalho com
especial foco na atenção primária em saúde das mulheres, com uma perspectiva
feminista e humanizada. Assim, as políticas públicas voltadas às mulheres são
conquistas dadas das mais diversas maneiras.
Espaços no plano institucional, cargos eletivos e as formas alternativas de
participação política são três eixos que atuando conjuntamente nos dão um
horizonte de grandes possibilidades. Nas ruas e nas redes conquistamos muitos
direitos, a começar pelo direito ao voto até as políticas públicas de gênero hoje
existentes. Os problemas que as mulheres levantam, se forem encarados, vão trazer
soluções para toda a sociedade, e não só para as mulheres. Há muito o que fazer e
retrocessos para evitar. Juntas e juntos podemos construir uma sociedade
igualitária.
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Referências:
FARAH, Marta Ferreira Santos. Gênero e políticas públicas. In.: Estudos Feministas,
Florianópolis, 12(1): 47-71, janeiro-abril/2004
http://www.scielo.br/pdf/ref/v12n1/21692
MIRANDA, Ana Carolina Souza. Políticas Públicas brasileiras à luz da in�uência do
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http://www.politize.com.br/direitos-da-mulher-avancos-e-retrocessos/ 9/11
feminismo nas Relações Internacionais. Pesquisa de Iniciação Cientí�ca aprovada
pelo Conselho de Ensino e Pesquisa da PUC-SP, subsidiado pelo PIBIC-CEPE. 2014
– 2015
PINTO, Celi Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo:
Fundação Perseu Abramo, 2003.
Publicado em 29 de setembro de 2016.