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05/04/2018 Direitos da mulher: avanços e retrocessos na legislação e políticas públicas - Politize! http://www.politize.com.br/direitos-da-mulher-avancos-e-retrocessos/ 1/11 Este é o quinto texto da trilha de conteúdos Mulheres e Democracia e abordará o tema Direitos da Mulher. Veja os demais textos desta trilha: #1 – #2 – #3 – #4 – #5 Ao terminar de ler este conteúdo você terá concluído 100% desta trilha. Parabéns! DIREITOS DA MULHER: AVANÇOS E RETROCESSOS NA LEGISLAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS 05/04/2018 Direitos da mulher: avanços e retrocessos na legislação e políticas públicas - Politize! http://www.politize.com.br/direitos-da-mulher-avancos-e-retrocessos/ 2/11 Mulheres das periferias e das universidades; mulheres lésbicas, bissexuais e transsexuais; mulheres negras e indígenas; mulheres no espaço privado e também no público. São muitas as necessidades das mulheres e demanda-se do Estado que elas sejam atendidas. Nas últimas décadas, importantes programas sociais foram postos em prática e legislações foram aprovadas. Ainda assim, as mulheres são um dos primeiros cortes de investimentos quando o cenário é de crise. Houve avanços e possibilidades, mas também é preciso apontar para os retrocessos, a �m de que todas as mulheres sejam atendidas. Até 1962, as mulheres casadas só podiam trabalhar fora de casa se o marido permitisse, uma limitação imposta pelo Código Civil de 1916. As próprias mulheres se mobilizaram e apresentaram propostas década após década para mudar o quadro legal. Também até bem pouco tempo não era considerado juridicamente possível que houvesse estupro entre cônjuges e assassinato por honra era algo aceitável. São exemplos marcantes de uma luta que existe há muito tempo e que se faz ainda mais presente a partir dos anos 1970. No Brasil, esse foi um período de fortalecimento dos movimentos sociais e de embate desses movimentos com o regime autoritário de governo. Após mais de 20 anos de regime ditatorial, mudanças aconteciam não só na forma de governo, mas começavam a acontecer nas políticas UM HISTÓRICO DE MOBILIZAÇÕES 05/04/2018 Direitos da mulher: avanços e retrocessos na legislação e políticas públicas - Politize! http://www.politize.com.br/direitos-da-mulher-avancos-e-retrocessos/ 3/11 públicas. Ao mesmo tempo em que denunciavam pautas gerais, as mulheres nos movimentos passaram também a levantar temas especí�cos à sua condição como direito a creche e direitos trabalhistas, saúde, sexualidade, contracepção e violência contra a mulher. Pressões se dirigiram a diferentes níveis de governo, dependendo da distribuição de competências em cada campo de política pública – municipal, estadual e federal. Sob impacto desses movimentos, na década de 80 foram implantadas as primeiras políticas públicas com recorte de gênero: o primeiro Conselho Estadual da Condição Feminina, em 1983, e a primeira Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher, em 1985, ambos no Estado de São Paulo. Essas instituições se disseminaram a seguir por todo o país. Alguns anos depois, a Constituição de 1988 foi outro marco importante, ainda que muitas vezes mais no papel que na prática: organizada em torno da bandeira “Constituinte pra valer tem que ter palavra de mulher”, a Carta das Mulheres Brasileiras estruturou propostas para a nova Constituição. Diversas propostas dos movimentos sociais – incluindo temas relativos a saúde, família, trabalho, violência, discriminação, cultura e propriedade da terra – foram incorporadas. No Brasil, as transformações domésticas e internacionais são propulsores de avanços signi�cativos em diversas áreas, dentre elas o combate à violência e o DIREITOS DAS MULHERES: AVANÇOS 05/04/2018 Direitos da mulher: avanços e retrocessos na legislação e políticas públicas - Politize! http://www.politize.com.br/direitos-da-mulher-avancos-e-retrocessos/ 4/11 empoderamento econômico das mulheres. Da participação ativa de organizações não governamentais feministas, órgãos internacionais de direitos humanos, setores acadêmicos, pessoas ligadas ao Direito, poder Executivo e o Congresso Nacional foi criada a Lei Maria da Penha (11.340/2006). Segundo dados do IPEA de 2015, essa legislação contribuiu para a diminuição em 10% sobre os casos de assassinatos contra mulheres no país. Também no âmbito do combate à violência contra a mulher, existe a Secretaria de Políticas para as Mulheres, órgão federal criado em 2003 e de importância central para a defesa dos direitos das mulheres. Um de seus serviços é a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência – Ligue 180, que recebe denúncias de violência e reclamações sobre os serviços da rede de atendimento à mulher e orienta sobre seus direitos e sobre a legislação vigente. Durante o governo da presidente Dilma Rousseff, outra medida de grande repercussão nesse tema foi implementada: a Lei 13.104/15, que torna quali�cado o homicídio quando realizado contra mulheres em razão do gênero (também conhecido como feminicídio) e o inclui no rol de crimes hediondos. Um programa que muitas vezes é encarado como puro assistencialismo, mas que na prática é uma política pública e�caz não só na redistribuição de renda como na melhoria da vida de milhares de brasileiras é o Bolsa Família. Em todo o Brasil, o programa atende a 13,7 milhões de famílias – sendo que mais de 93% dos cartões estão em nome de mulheres, que passam a ter poder de escolha �nanceira dentro do lar. São elas que recebem e distribuem a renda familiar. Pesquisas do Ministério do Desenvolvimento Social mostram que tal procedimento garante mais autonomia, independência e liberdade. “A libertação da ‘ditadura da miséria’ e do controle masculino familiar amplo sobre “CADÊ MEU CELULAR? EU VOU LIGAR PRO 180” Redistribuir renda: empoderamento e autonomia econômica 05/04/2018 Direitos da mulher: avanços e retrocessos na legislação e políticas públicas - Politize! http://www.politize.com.br/direitos-da-mulher-avancos-e-retrocessos/ 5/11 seus destinos permite às mulheres um mínimo de programação da própria vida e, nesta medida, possibilita-lhes o começo da autonomização de sua vida moral. O último elemento é fundante da cidadania”, analisam os pesquisadores Walquiria Leão Rego e Alessandro Pinzani no livro Vozes do Bolsa Família: Autonomia, dinheiro e cidadania. Simone de Beauvoir escreveu há algumas décadas e continua atual: “Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida.” Mesmo com esses avanços (ou por causa deles), ameaças de retrocessos – ligados, principalmente, às questões de saúde e direitos reprodutivos e do direito a estar livre de todas as formas de discriminação – persistem. Projetos como o Estatuto do Nascituro ou que di�cultam o tratamento adequado a mulheres vítimas de estupro, além de falas discriminatórias e violentas feitas por parlamentares a suas colegas mulheres, são alguns exemplos recentes. Em maio de 2016, o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos foi extinto. Além disso, todos os Ministérios passaram a ser ocupados por homens. Diante dessa realidade, o país caiu 22 posições em ranking internacional de igualdade de gênero. “É PRECISO ESTAR ATENTO E FORTE” 05/04/2018 Direitos da mulher: avanços e retrocessos na legislação e políticas públicas - Politize! http://www.politize.com.br/direitos-da-mulher-avancos-e-retrocessos/ 6/11 “Não ter mulheres signi�ca perder, pois metade da população não está representada, nesse governo, nessa junta executiva. A possibilidade de perdas de políticaspúblicas, dos avanços, da [possibilidade de] ir além do que normalmente está sendo visto por só uma parte da população, é muito grande”, a�rmou a representante do Escritório da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman. O quadro atual é de conquistas quanto à igualdade de gênero em nosso país. Possíveis retrocessos também nos alcançam. Diante disso, não podemos esquecer: existem espaços para discutir os lugares de disputa de poder ganharam vida e presença feminina. A mudança deve continuar e, se não acontece nas grandes instâncias, pode começar no cotidiano. Há muito para fazer. O índice de violência de gênero continua epidêmico no Brasil. Dados da Organização Mundial da Saúde nos colocam como o quinto país do mundo em assassinatos de mulheres, atrás apenas de El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia. O QUE AINDA PRECISA ACONTECER PODE ESTAR ACONTECENDO NOS MICRO-ESPAÇOS 05/04/2018 Direitos da mulher: avanços e retrocessos na legislação e políticas públicas - Politize! http://www.politize.com.br/direitos-da-mulher-avancos-e-retrocessos/ 7/11 Dados presentes no Mapa da Violência 2015: Homicídio de mulheres no Brasil Persiste uma articulação das desigualdades de gênero e raciais no contexto da educação, do mercado de trabalho e renda, da exclusão e da violência. Recortes de classe e raça também devem ser feitos. De acordo com o Mapa da Violência 2015, o número de mulheres negras mortas cresceu 54% em 10 anos (de 2003 a 2013), enquanto que o número de mulheres brancas assassinadas caiu 10% no mesmo período. A inclusão de temas ligados ao gênero (discriminação e violências contra mulheres e LGBTfobias, por exemplo) foi algo muito discutido, disputado e vencido na aprovação de planos de educação no âmbito nacional, estadual e municipal. Os programas de saúde avançaram. No entanto, a mulher é atendida baseada em sua função na família. O direito à decisão sobre o próprio corpo, a exercer sua sexualidade, a partos bem assistidos e livres de violência e mesmo a ter atendimento adequado sendo lésbica ou transexual permanecem como necessidades. 05/04/2018 Direitos da mulher: avanços e retrocessos na legislação e políticas públicas - Politize! http://www.politize.com.br/direitos-da-mulher-avancos-e-retrocessos/ 8/11 Com tantos desa�os, iniciativas municipais e da sociedade civil são importantes e podem servir de modelo a ser propagado. Em São Paulo, dois programas têm o objetivo de promover os direitos humanos e promover a cidadania LGBT: os Centros de Cidadania LGBT e o Transcidadania. O governo de Minas Gerais já estrutura uma ação semelhante a este último e representantes do governo norte- americano também foram a São Paulo conhecer a iniciativa. Jovens adolescentes também estão engajados e formaram a Rede Nacional de Adolescentes LGBT. Organizações não-governamentais são igualmente importantes. Geledés Instituto da Mulher Negra e Themis Gênero e Justiça são idealizadoras da plataforma PLP 2.0 de enfrentamento à violência contra mulher, criado para fortalecer a rede de proteção para mulheres em situação de violência. Coletivos e mulheres organizadas autonomamente das mais diversas formas são outras iniciativas signi�cativas. O Coletivo de Saúde Feminista Sexualidade e Saúde, por exemplo. O Coletivo é uma ONG que desenvolve desde 1981 um trabalho com especial foco na atenção primária em saúde das mulheres, com uma perspectiva feminista e humanizada. Assim, as políticas públicas voltadas às mulheres são conquistas dadas das mais diversas maneiras. Espaços no plano institucional, cargos eletivos e as formas alternativas de participação política são três eixos que atuando conjuntamente nos dão um horizonte de grandes possibilidades. Nas ruas e nas redes conquistamos muitos direitos, a começar pelo direito ao voto até as políticas públicas de gênero hoje existentes. Os problemas que as mulheres levantam, se forem encarados, vão trazer soluções para toda a sociedade, e não só para as mulheres. Há muito o que fazer e retrocessos para evitar. Juntas e juntos podemos construir uma sociedade igualitária. E você, o que achou deste post sobre os Direitos da Mulher? Deixe sua opinião nos comentários! Referências: FARAH, Marta Ferreira Santos. Gênero e políticas públicas. In.: Estudos Feministas, Florianópolis, 12(1): 47-71, janeiro-abril/2004 http://www.scielo.br/pdf/ref/v12n1/21692 MIRANDA, Ana Carolina Souza. Políticas Públicas brasileiras à luz da in�uência do 05/04/2018 Direitos da mulher: avanços e retrocessos na legislação e políticas públicas - Politize! http://www.politize.com.br/direitos-da-mulher-avancos-e-retrocessos/ 9/11 feminismo nas Relações Internacionais. Pesquisa de Iniciação Cientí�ca aprovada pelo Conselho de Ensino e Pesquisa da PUC-SP, subsidiado pelo PIBIC-CEPE. 2014 – 2015 PINTO, Celi Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2003. Publicado em 29 de setembro de 2016.