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ADRIANA LEANDRO DA SILVA DE SOUZA A INFLUÊNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA CONSCIENTIZAÇÃO CORPORAL DE ADOLESCENTES Rio de Janeiro 2004 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE A INFLUÊNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA CONSCIENTIZAÇÃO CORPORAL DE ADOLESCENTES Monografia apresentada à banca examinadora da Universidade Candido Mendes, como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-graduação “Lato Sensu” em Psicomotricidade. Profa. Orientadora: Mary Sue Rio de Janeiro 2004 3 AGRADECIMENTOS A Deus, O verdadeiro caminho ... 4 DEDICATÓRIA Aos meus familiares, que a todo momento se mostraram incentivadores, torcedores, presentes, prestativos e compreensivos. 5 Não se concebe um psicopedagogo que trabalhe com o corpo estático e que desconheça os movimentos desse no aprender. Não se concebe um psicomotricista que trabalhe com o corpo em movimento e não conheça o corpo discursivo do sujeito que aprende. É preciso que haja uma interdisciplinaridade na ação ensinar-aprender para que o sujeito que aprende seja compreendido em sua totalidade, mesmo dentro de uma abordagem específica. Auredite Cardoso 6 RESUMO Este estudo expõe como primeiro tópico a conceituação e objetivos da Psicomotricidade, como ciência que estuda o controle mental da expressão motora, mostrando que o homem é o seu corpo. Em seguida, enfoca historicamente o aparecimento desta ciência e as pesquisas a ela relacionadas, desde a época dos grandes filósofos até autores mais recentes. Logo após, tratamos da noção de esquema corporal, como representação que cada pessoa tem de seu próprio corpo, através das apreciações de alguns autores. Mostramos o desenvolvimento deste esquema durante a infância, mas, no entanto procuramos nos deter no tema que aborda este estudo, o período da adolescência. Como tópico final, abordamos a influência da psicomotricidade à luz da psicanálise na conscientização corporal do adolescente. 7 METODOLOGIA Foi utilizada para a execução deste trabalho, uma pesquisa de fundo bibliográfico, de onde foram coletados e filtrados dados relevantes do tema tratado. Os fins da pesquisa foram investigativos e descritivos, com o propósito de demonstrar a relação da psicomotricidade com a consciência do adolescente sobre seu corpo. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 9 CAPÍTULO I A PSICOMOTRICIDADE 10 CAPÍTULO II O ESQUEMA CORPORAL 14 CAPÍTULO III A PSICOMOTRICIDADE NA CONSCIENTIZAÇÃO CORPORAL DO ADOLESCENTE 24 CONCLUSÃO 33 BIBLIOGRAFIA 36 ÍNDICE 39 9 INTRODUÇÃO O presente estudo trata de um tema atualíssimo nos círculos educacionais de diferentes áreas de atuação – a Psicomotricidade, seu desenvolvimento e sua importância. De fato, na atualidade, em setores do campo médico, psicológico, pedagógico e também nas famílias, vem se dando singular destaque a pequenas disfunções cerebrais, que em si não constituem um quadro patológico, mas que repercutem de várias formas na vida da criança, no seu processo de aprendizagem, ocasionando distúrbios de linguagem, de percepção, de coordenação, do movimento, de estruturação espaço- temporal, de equilíbrio e postura, que determinam diversas dificuldades, inclusive de fala, leitura e escrita e a falta de compreensão sobre o seu corpo. É por isso que, após um estudo inicial dos principais conceitos relacionados ao tema proposto, vamos nos deter na análise do desenvolvimento psicomotor da criança em diferentes níveis e áreas, a fim de que nos seja possível uma melhor compreensão das dificuldades acima relacionadas. Por outro lado, tal análise nos permite, em etapa posterior, traçar um paralelo entre as características normais e seus desvios, voltando nossa atenção à área do conhecimento da criança e do adolescente sobre o seu próprio corpo e a relação eu mantêm com este. Tentando, com isso, compreender como uma adolescente percebe e recebe uma gravidez nesse momento de sua vida, e compreender como a relação corpo e mente trabalha nesse sentido. E procurando demonstrar que as ações, os movimentos do corpo humano podem representar o verdadeiro entendimento do ser sobre ele mesmo. 10 CAPÍTULO 1 A PSICOMOTRICIDADE A psicomotricidade é uma ciência que estuda o controle mental de expressão motora. Consiste na unidade mecânica das atividades, dos gestos, das atitudes e das posturas, enquanto sistema expressivo, realizador e representativo do “ser-em-situação” e da coexistência com outrem. Em razão de seu próprio objeto de estudo, isto é, o indivíduo humano e suas relações com o corpo, a psicomotricidade é também uma técnica em que se cruzam numerosas ciências, entre as quais a psicologia, a biologia, a psicanálise, a sociologia e a lingüística. Mas, além disso, pode ser considerada como uma terapia, a “terapia psicomotriz”, que se dispõe a desenvolver as faculdades expressivas do indivíduo. Tal abordagem implica numa concepção radicalmente nova no corpo, que obriga pensar as estruturas psicossomática em novos termos – o lugar no imaginário, no conjunto de símbolos corporais (linguagem do corpo). Não se trata de justapor a alma e o corpo, mas de deslocar a conhecida problemática cartesiana, reformulando esta relação entre alma e corpo, que toda filosofia clássica coloca em mútua oposição, mesmo quando afirma sua unidade. Em sua prática, a psicomotricidade visa desenvolver uma nova abordagem do corpo humano, empenhando-se em superar essa oposição clássica – o homem e seu corpo – e mostrando que o homem é o seu corpo. O homem é, antes de tudo, um ser falante e, ao denominar-se, ele fala de seu corpo e ao mesmo tempo, seu corpo fala por ele, e, às vezes, até à sua revelia. 11 A psicomotricidade, como uma forma de reeducação psicomotora, tem por objetivo desenvolver o aspecto comunicativo do corpo, o que equivale a dar ao indivíduo a possibilidade de domínio sobre seu corpo, de economizar sua energia, de pensar gestos e de completar e aperfeiçoar seu equilíbrio. 1.1 Enfoque Histórico O termo psicomotricidade apareceu no discurso médico no princípio do século XX, com os trabalhos de Dupré. A história da psicomotricidade nasceu com a própria história do corpo, seguindo um longo percurso marcado por períodos de transição, sofrendo reformulações decisivas que culminaram em nossas concepções atuais. Toda a nossa cultura tem sua origem nas grandes cidades gregas, e o homem grego sabia conferir ao corpo um lugar de destaque. Contudo, sua ideologia reserva o corpo para o mundo real, o da corrupção, do transitório. Platão considerava o corpo como lugar de transição da existência no mundo de uma alma imortal, que, sendo puramente imaterial, pertencia a uma totalidade metafísica e nela se reintegraria, no momento da morte do corpo. Aristóteles entendia o homem como uma certa quantidade de matéria (o corpo) moldada numa forma (a alma). Sua concepção nos parece mais moderna, pelo menos em relaçãoàs ciências psicológicas, permitindo ampliar o campo de discussões de psicólogos como William James e Janet. Lançando as bases de toda ciência moderna, Descartes afirmava ser a totalidade do real organizada segundo duas substâncias diferentes: a da esfera intelectual e espiritual, a “substância pensamento’ e a da esfera da natureza e das coisas materiais, a “substância extensão”. Desta forma, seria 12 o homem capaz de articular essas duas substâncias, reunindo-as em si mesmo sob a forma de alma e de corpo, respectivamente. Descartes, desta forma, concebeu o movimento humano como sujeito à consciência voluntária. No entanto, foi preciso esperar por Maine de Biran para que se concebessem noções próximas das que utilizamos. Foi ele o primeiro a fazer do movimento um componente essencial da estrutura psicológica do Eu. Segundo Biran, o eu constituiria uma realidade atuante que não se pode definir, mas tão somente apreender. Logo, o Eu seria vivido em sua própria apreensão, afirmando-se pelo Eu no esforço. O esforço muscular seria então o fundamento da vida psíquica: seria na ação que o eu tomaria consciência de si mesmo e do mundo, sendo a vontade a determinante da vida psicológica, mas de forma ativa, e sujeita a variáveis da vida emotiva e somática do sujeito. Bergson, segundo caminho aberto por Biran, impôs a necessidade de considerar o corpo como um aspecto fundamental da constituição do indivíduo. Desta forma, surgiu o interesse dispensado ao comportamento sensório-motor, que veio a ser objeto essencial de estudos na área da psicomotricidade por pedagogos (Claparede, Montessori) e psicólogos (Janet, Piaget) posteriormente. Já no final do século XIX, Charcot viria a se interessar pela função motora, fazendo dela a base da patologia psiquiátrica, baseando-se em seus estudos clínicos do fenômeno a que denominou de “membro fantasma” (um indivíduo amputado conserva a impressão da existência do membro que perdeu). No entanto, Charcot não conseguiu dominar os aspectos inconscientes do fenômeno que envolvia a questão da imagem do corpo, porque lhe faltavam os conceitos necessários. Foi Freud quem primeiro definiu de maneira rigorosa o conceito de inconsciente, apercebendo-se que todo ser humano era constituído pelo conjunto de elementos de sua “pré-história”, e sobretudo, de incidentes que pontuaram as suas relações com o meio, durante os primeiros anos da infância. 13 Sendo assim, para Freud, o corpo desempenharia papel importante nas formações inconscientes, porquanto o corpo seria justamente a fonte biológica de todas as pulsões. Em última análise, foi a partir da teoria freudiana do inconsciente que o indivíduo deixou de estar sujeito aos ditames da vontade, sendo seus gestos, suas atitudes, seus comportamentos e suas reações corporais decorrentes freqüentemente de motivações inconscientes. O ato do nascimento da psicomotricidade é, sem dúvida, mais ou menos arbitrário, pois toda inovação é fruto de um longo processo. No entanto, foi em 1905 que, a partir de trabalhos de Dupré, estabeleceu-se a diferença radical entre a motricidade e seu aspecto negativo, a relaxação. Foi de fato a partir desta época que apareceram os primeiros trabalhos, que vieram a constituir o ponto de partida de uma elaborada reflexão sobre o movimento corporal. Foi Dupré quem definiu, de forma rigorosa, baseado em estudos clínicos, a debilidade motora, a instabilidade e isolou perturbações tais como os tiques, as sincinesias e as paratonias. Essas pesquisas situavam-se num eixo essencialmente neurológico, em contrapartida à abordagem mais especificamente psicológica, que enfocava um aspecto da personalidade psicomotora até então inexplorado – a imagem do corpo. Quer seja a abordagem fisiológica como as de Dupré e Head, quanto ao esquema postural, quer seja ela psicanalítica como a de Schilder, quanto à imagem do corpo, os investigadores contemporâneos tentam definir a realidade do Eu ativo que falava Maine de Biran. O propósito deles é definir a realidade do fenômeno da “consciência de si”, que se manifesta sobretudo como consciência de seu corpo e que permite a auto-apreensão em face dos outros. Esses rumos de pesquisa foram paulatinamente se desenvolvendo, criando condições propícias a uma compreensão. 14 CAPÍTULO 2 O ESQUEMA CORPORAL A noção de esquema corporal é fruto de uma longa jornada que levou neurologistas, psiquiatras e psicólogos a se interrogarem sobre as percepções do corpo, a integração do corpo como modelo e a forma da personalidade. Teoricamente, a expressão esquema corporal significa a representação que cada pessoa tem do seu próprio corpo, e que lhe permite se situar no espaço. Esta representação se forma a partir de dados sensoriais múltiplos, proprioceptivos e exteroceptivos. O sentido de esquema corporal irá diferenciar-se a partir da noção de coenesteisa (do grupo Koiné, igual a comum, e Aithésis, igual a sensação), a qual define a sensibilidade difusa que permite a integração das sensações oriundas de diferentes regiões corporais, e que corresponderá finalmente à “auto-consciência” ou “consciência de si mesmo”. Foi através dos trabalhos de Head, que introduziu-se a noção de esquema postural na origem do conceito de esquema corporal, desenvolvido por Schilder. Head considerava o esquema postural não como uma realidade estática, mas, pelo contrário, essencialmente plástica, em perpétua construção, que tem relação com as aferências sensoriais interoceptivas (proveniente das vísceras) e proprioceptivas (dos músculos e das articulações). Assim, à noção de imagem espacial somou-se toda uma dimensão temporal. O esquema postural de Head designa, portanto, a imagem tridimensional do nosso corpo. Foi desse esquema postural que decorreu a noção mais clássica e mais admitida de esquema corporal. 15 Foi Schilder que descreveu e desenvolveu a noção de imagem do corpo. Aos dados de ordem neurológica e fisiológica, a contribuição de Schilder acrescenta os dados da psicologia e suas experiências de ordem psicanalítica, numa abordagem global do corpo concebido como uma “entidade psicológica e fisiológica indissociável”. A imagem do corpo humano é a imagem do nosso próprio corpo que formamos em nosso espírito; por outras palavras, o modo com o nosso corpo se apresenta a nós mesmos. (GORODICHT, 2001) Gorodicht (2001) sublinha o caráter dinâmico do esquema corporal, o qual se adquire progressivamente num processo ativo da evolução, vinculado à libido, fruto das duplas tendências, conservadoras (Eros) e destruidoras (Thanatos), do indivíduo, continuamente submetido aos imperativos da ação no mundo. Segundo ele, a imagem do corpo corresponderia a uma inscrição progressiva à qual se associa uma estruturação libidinal, que é elaborada a partir de uma gestalt. Todos os processos do ato, em seu todo, são conduzidos pelo confronto da gestalt corporal com a realidade, confronto esse que constrói o esquema corporal pela integração de elementos da realidade, incessantemente renovada, ao nível da atividade psíquica. Portanto, nossa imagem do corpo seria o resultado, em grande parte, da experiência de vida através da comunicação com o meio circundante. Também na concepção freudiana, o corpo ocupa um lugar fundamental, está na origem de todas as pulsões que constituem a expressão de necessidades vitais e orgânicas. Além disso, ele é o lugar onde se inscrevem as experiências do prazer, ligadas às experiências da satisfação de uma necessidade. Essa inscrição determina as zonas docorpo que são fontes de estimulações deflagradoras de tensões sexuais. Tais regiões são consideradas, segundo Freud, zonas erógenas, e correspondem a tema do “corpo retalhado” – característico do narcisismo primário – que, com a descoberta do mundo e dos outros, se constituirá 16 progressivamente em corpo próprio, graças, justamente, a esses sucessivos investimentos localizados da libido (pulsão sexual). Já de acordo com Vayer (1998), o corpo não seria um “corpo retalhado”, ou seja, aquele que fragmentado, na relação com o mundo e com os outros se reuniria; ao contrário, ele se construiria progressivamente, significando, por assim dizer, a gênese do corpo próprio. Diante de toda essa relação do homem com o corpo e do entendimento sobre ele chegou-se à conclusão que a criança não nasce completamente madura, ela passa por um estado de dependência em face das pessoas que a cercam, portanto, seus primeiros comportamentos inscrevem-se num contexto relacional. A partir dos dezoito meses, quando acende ao ”estágio do espelho”, a criança atinge o período das “identificações sucessivas”, em que ela é, simultaneamente, sujeito e objeto da ação: assim, é que o sujeito, pouco a pouco, constitui-se, distigüindo-se, então, das coisas e do resto do mundo. Depois dos três anos, as relações com o meio define-se com maior precisão; o meio diferencia e a criança constitui a sua personalidade, o seu Eu. Toda essa evolução é marcada por uma conscientização progressiva do corpo próprio, como uma realidade distinta do meio circundante. No conjunto de processos que participam na elaboração do corpo próprio, o “estágio do espelho” ocupa, como vimos, um lugar importante: o conhecimento que toma de sua imagem no espelho não passa, sem dúvida, para a criança, de um procedimento mais ou menos episódico entre aqueles que lhe servem para ingressar gradualmente, no número das coisas e das pessoas, cujos traços e identidade precisa fixar, progressivamente, de modo a se aprender, por fim, como um corpo entre corpos. Mas esse reconhecimento do seu próprio corpo no espelho, depois na imagem do corpo do outro (imitação) continua sendo, para Wallon, um processo essencialmente tônico-postural. Em primeiro lugar, porque como dissemos, ele não aceita a idéia do “corpo retalhado”, depois porque o essencial da evolução reside para ele, no amadurecimento do equipamento neuro-fisiológico da criança, e não na presença dos outros. 17 Para Jacques Lacan, por outro lado, o “estágio do espelho” é uma etapa fundamental não apenas no que se refere à constituição do corpo próprio, mas também para o acesso da criança ao mundo da linguagem, porquanto ela permite que se realize a função do “Eu”. A imagem da criança no espelho, que é uma gestalt, constitui para ela um objeto de sedução, no qual se reconhece e ao qual se identifica. É por isso, que essa identificação constitui, ao mesmo tempo, uma alienação, pois não é realmente consigo, mas com uma imagem que a criança se identifica; a criança só se torna um ser humano às custas dessa alienação que a constitui “como um outro’. É ainda o acesso da criança ao simbolismo, porque essa “forma” que reúne as partes até então dispersas do seu corpo vai fazer dela um “Eu”, que é também sujeito do discurso; um “Eu” que é tido como representação do seu corpo. Assim, a imagem do corpo no espelho não será somente o que o sujeito integra progressivamente, no decorrer de suas relações com o mundo e no transcurso de sua maturação, mas também, e sobretudo, o que o universo da linguagem que ela vive modelará e lhe permitirá denominar. A imagem que a criança vê não pode ser reunida numa só palavra: “eu”. É preciso que o corpo se submeta aos incidentes da passagem da criança do “tu” (a imagem) ao seu “eu”, para que lhe seja permitido, desta forma, fazer- se ouvir e reconhecer pelo outro. É por esses caminhos que o trabalho da psicomotricidade engendra, tentando entender todo esse processo de construção do “Eu” pelo reconhecimento e identificação com o corpo. 2.1 Desenvolvimento do Esquema Corporal Todas as vias nervosas de localização parietal têm importância na formação do esquema corporal. Isto porque, a representação que a pessoa tem de seu próprio corpo se forma a partir de dados sensoriais múltiplos. 18 Teríamos, assim, vias de tato, calor, frio, capacidade de reconhecer dois pontos no espaço (estereognosia) e segmentos do corpo (topognosia). Estas funções associadas às vias dos órgãos dos sentidos e do aparelho vestibular seriam as vias que formam a representação do esquema corporal. Vemos que, dada a complexidade do processo de formação corporal, não há necessidade de grandes lesões para provocar distúrbios neste esquema. O estudo do desenvolvimento do esquema deve encarar duas séries de fatores bem diferentes:a integração sensório-motora e as interralações da criança com o meio ambiente. A integração sensório-motora é feita progressivamente. Sabemos que, ao nascer, a criança não tem consciência do mundo que a rodeia, nem do próprio corpo. São os reflexos arcaicos que iniciam as relações da criança com o ambiente e permitem uma orientação no espaço. A integração das sensações visuais-táteis e cinestésicas se faz por volta do sexto mês de vida. Os objetos percebidos pela visão são levados à boca, e isto vai permitir diferenciar, pouco a pouco, o que pertence a seu corpo e o que pertence ao mundo exterior, e depende de seu próprio movimento. A partir de um ano é que tem lugar a motilidade voluntária, no sentido de um objeto. O espaço objetivo se elabora. A motricidade começa a se transformar numa atividade dirigida para um fim e dotada de significação. Pela marcha, a criança conquista o espaço ao seu redor. Desenvolve-se a percepção visual cada vez mais e integram-se progressivamente as impressões que a criança recebe dos órgãos do sentido com as respostas motoras, que por sua vez, vão facilitar uma maior amplitude de estímulos sensoriais novos. Por intermédio de uma imagem cada vez mais precisa do mundo e das pessoas que a rodeiam, aperfeiçoa-se a imagem do próprio esquema corporal. Inseparável do próprio esquema corporal, desenvolve-se a imagem do “Eu”. O fato principal para a consciência do Eu é efetivamente a 19 aquisição da representação ou de uma imagem visual do seu próprio corpo, em particular graças ao uso do espelho (apreensão da imagem do corpo no espelho), como já mencionado. O esquema corporal e a imagem do Eu, no entanto, não podem se precisar, senão através do mundo dos símbolos, da linguagem e das primeiras atividades operatórias, que formam a principal contribuição do ambiente nesta fase. 2.2 Desenvolvimento durante a infância Estágios evolutivos segundo Piaget (do período sensório-motor à aquisição das atividades operatórias concretas). Piaget descreve em três livros o desenvolvimento durante a infância. No primeiro deles, “As Origens da Inteligência em Crianças”, descreve o desenvolvimento do comportamento adaptativo e indica o desenvolvimento gradual de esquema senso-motores durante a infância. No segundo, “A Construção da Realidade da Criança”, Piaget volta-se para a análise da epistemologia da criança: como seu comportamento reflete várias suposições a respeito da natureza dos objetos, tempo e espaço. No terceiro, “Brinquedos, Sonhos e Imitação”, apenas parcialmente dedicado ao período da infância, Piaget descreve o desenvolvimento do brinquedo e da imitação, durante o período senso-motor. Tais livros apresentam descrições minuciosas dos diferentes estágios do pensamento,mas também, descrevem de modo mais geral os tipos de mudanças psicológicas que são necessárias, antes que a criança possa atingir o nível de funcionamento adaptativo, no final desses períodos. Piaget divide o desenvolvimento da criança em quatro períodos principais: o período senso-motor (do nascimento aos dois anos); o período pré-operacional (dos dois aos sete anos); o período das operações 20 concretas (dos sete aos doze anos) e o período das operações formais (aparecem no início da adolescência). 2.3 Estrutura do esquema corporal e função de interiorização Head e Schiller fazem do esquema corporal um referencial cinestésico que responde, a cada instante, à situação presente do corpo e que varia a cada mudança de atitude. É, pois, uma estrutura que permite a globalização e a unificação incessante das informações provenientes do “corpo próprio”. O esquema corporal é, portanto, a base fundamental da função de ajustamento e o ponto de partida necessário de qualquer movimento. Entretanto, o ingresso das aferentes periféricas de origem proprioceptiva às zonas de análises corticais é facultativa. O desempenho da função de interiorização, isto é, de uma forma atenção perceptiva centrada no corpo é que vai permitir aquilo que as diretrizes oficiais chamam de “conscientização do esquema corporal”. Durante a fase da inteligência pré-operatória, isto é, até os 7 anos, a imagem do corpo essencialmente visual. Em conseqüência, ela reveste um caráter essencialmente figurativo. A emergência das informações proprioceptivas na consciência vai permitir, segundo a expressão de Wallon, que a “imagem visual do corpo e a imagem cinestésica se ocultem”. Nesse momento, o aspecto operatório da imagem do corpo passa a prevalecer, tornando-a uma estrutura cognitiva que permite, de um lado, a passagem do ajustamento global ao ajustamento com representação mental, e, de outro lado, servir como referencial à criação do espaço orientado. Percebemos, por meio doe exposto até o momento, que a psicomotricidade funde, de fato, as suas investigações com as da psicanálise. É sobre isso que falaremos agora. 21 2.4 A psicomotricidade sobre o olhar da psicanálise À luz dos pressupostos da psicanálise a psicomotricidade redimensiona suas práticas. Perceberam o homem como um ser interdisciplinar, sujeito “psicomotor cognoscente”, marcado por uma falta, representada pela linguagem simbólica. Virá um dia em que a Psicologia das funções cognitivas e a Psicanálise serão obrigadas a se fundir numa teoria geral que melhorará as duas, corrigindo-as uma e outra. (PIAGET, 1973, p. 33) Uma das contribuições da psicanálise à psicomotricidade foi a compreensão dos processos transferenciais. Esses processos se estabelecem nas relações de qualquer natureza, enquanto os distúrbios psicomotores e os problemas de aprendizagem se estabelecem como sintoma. Na concepção de Andrade (1994), sintoma é representação inconsciente, que remete à história do sujeito e que, para intervir terapeuticamente, torna-se necessário perceber esse sujeito nas dimensões real, imaginária e simbólica. O olhar psicanalítico sobre a prática da psicomotricidade traz, especialmente na perspectiva lacaniana, uma transformação dos conceitos de corpo e espaço. O corpo é o traço imaginário para o significante que o outro introduz com seu olhar, olhar que, nesta acepção, não é mera percepção, se não elo de capturação e inovação do sujeito (BERGÈS, 1986, p. 9.) Segundo Lapierre (1984), a criança ao nascer tem um corpo biológico, que é diferente do corpo real, imaginário e simbólico. O corpo simbólico vai- se constituindo por efeito do olhar e da linguagem de um outro, que marca, com seu desejo, um corpo desejante. Essas marcas são registros do outro, de forma a constituir um corpo real e imaginário, um corpo simbólico. No seu processo de constituição, o corpo experimenta fases que lhe marcam 22 com prazeres e plenitude. Este é o espaço fusional que abriga o ”corpo da necessidade”. O corpo da pulsão é subsidiário do corpo fusional, marcado pela frustração, na separação dos corpos mãe-filho. A criança, para construir seu espaço e o seu corpo, não só deverá identificar-se com imagem especular, mas também deverá separar-se dela. Para isso terá que gerar um espaço e um corpo diferentes do corpo materno. (LEVIN, 1995, p. 63) E para Lapierre É neste espaço relacional que o gesto, a palavra, o objeto vão tomar um significado: eles se tornam ao mesmo tempo ‘significantes’para si e para o outro. Nascimento de uma linguagem simbólica comum, princípio infraverbal, em seguida recoberta pela linguagem verbal. Logo, é a perda da fusão corporal e da perda do corpo como complementaridade da falta, que permitirá o acesso ao simbólico e em particular o acesso à linguagem. (LAPIERRE, 1984, p. 18). Assim, à luz da Psicanálise, a Psicomotricidade passa a tratar o corpo não mais como um instrumento reabilitável pela ação reeducativa (corpo real), delimitada a tratar particularmente o distúrbio instrumental, mas um corpo uno, numa relação corpo real-corpo imaginário-corpo simbólico. Nesse corpo, os distúrbios fazem parte dos processos inconscientes, evidenciados pela linguagem. Para Costa (2002) Há consenso entre aqueles que trabalham na área, que os distúrbios psicomotores se assentam em uma base comum, a dificuldade em relação à imagem do corpo e à estrutura do tempo e do espaço. (COSTA, 2002, p. 38) Diante dessa concepção, a autora conceitua distúrbio psicomotor, como uma situação particular de escolha de sintoma onde o indivíduo oferece seu corpo (seus movimentos, seu saber) a ser desejo de outro, sem poder fruir da sublimação. 23 Portanto, o tratamento psicomotor passa a ter uma abordagem psicanalítica, incluindo a questão do sujeito e da linguagem. Sami-Ali (1993) diz que “a conjugação, transferência e imagem do corpo, através do qual o passado se atualiza no presente, é suficiente para apreender a dinâmica da ação psicomotora”. (p. 76). Ainda para o autor: “invariavelmente, essa dinâmica se desenvolve em torno da problemática edipiana, que, gradativamente, determina as coordenadas inconscientes da situação terapêutica”. (p. 76) A problemática edipiana que surge na relação com o outro é marcada pelo desejo desse outro, conjuga-se à transferência, à repetição e à fantasia de plenitude e ao investimento libidinal. A identificação constante na relação terapêutica determina mudanças simbólicas de lugar: vê-se no lugar do outro, e o outro no lugar dele. Essa mudança simbólica de lugar é promovida por força do inconsciente e é, nesse momento simbólico, que se instaura a transferência incluindo-a na ordem do simbólico. O psicomotricista em sua relação com a criança constitui-se como parte integrante da sua imagem corporal, podendo ser um objeto e ocupar posição simbólica diferente, já que intervém como um significante, uma representação, atribuições essas que são inconscientes. Seu corpo é utilizado e oferecido como um instrumento significativo para metaforizar o desejo da criança (LEVIN, 1995, p. 139) CAPÍTULO 3 A PSICOMOTRICIDADE NA CONSCIENTIZAÇÃO CORPORAL DO ADOLESCENTE A sexualidade tem um caráter dinâmico, caracterizado por mudanças de fases que, de certa forma, determinam e modificam o comportamento. Os impulsos dessa dinâmica são de natureza parcial e fragmentada. O adolescente bem libidinizado tem desejo de busca do conhecimento e, volta-se para as questões da sistematizaçãodesse conhecimento. Sua libido fica direcionada, o que favorece o controle de suas ansiedades e atenua o sentimento culposo oriundo das fantasias sexuais, de desejo do corpo materno. Há uma satisfação oral quando se mantém um nível de sublimação de prazeres sádicos e visuais, na capacidade de realizar pesquisas. O desejo de penetração é sublimado pela curiosidade de funcionamento dos objetos e do corpo. Desmontar, encaixar, rasgar, cortar, colar e manipular massas de consistências diferentes são atividades que contribuem para a sublimação, desculpabilização e realização de suas fantasias, dentro do processo normal de sua evolução. O processo de desenvolvimento não é linear. O adolescente passa por momentos de regressão, deslocamento ou fixação da libido. Essa energia psíquica pode ser decorrente de estímulos do meio, ou própria da evolução, e acarreta conflitos intrapsíquicos. As frustrações decorrentes desse percurso devem causar ansiedades na criança, mas devem ser suportadas pelo ego. 25 A frustração é uma castração necessária ao surgimento do pensamento, contudo não deve elevar o nível de ansiedade além do suportável pelo aparelho psíquico, evitando causar danos e desequilíbrio psicomotor, afetivo e cognitivo. A baixa tolerância à frustração está ligada à fragilidade do ego, auto-imagem, auto-estima e nível de expectativa, que a criança, familiares e outros desenvolvem em função do esperado. O desequilíbrio das funções psicomotoras, cognitivas e afetivas podem causar na criança dificuldades de manejo do simbólico. Isso instalará uma dificuldade no processo de aprendizagem sobre seu próprio corpo. A aprendizagem da leitura e da escrita requer um certo erotismo motor e sua dificuldade mexe com a questão de ordem narcísica, pela baixa gratificação afetiva que o aprendizado está lhe proporcionando. Nessa situação, os mecanismos de defesa do ego tendem a proteger o aparelho psíquico do alto nível de frustração e ansiedade, deslocando parte da libido para outras situações, ou melhor, libidinizando suas fantasias, bloqueando o processo da aprendizagem. Determinados comportamentos evidenciados na criança não passam de meras projeções ou transferências dos seus desejos inconscientes, medos, frustrações e inveja, que em suas fantasias dificultam a busca do conhecer. Para entender essas e outras questões é preciso entender não só as questões cognitivas, mas também as de ordem emocional, que andam par- a-par nos problemas e dificuldades de aprendizagem. O objeto do conhecimento tem que ser libidinizado. Pensa-se que não há aprendizagem sem afeto e afeto sem aprendizagem. A prática psicopedagógica e psicomotora vem denunciando a necessidade de melhor conhecer as questões emocionais e, na busca desse conhecimento, suscita a introdução do conhecimento da teoria psicanalítica à sua prática, numa tentativa de redimensionar essa práxis. 26 Há uma força, um desejo, uma energia sexual, denominada libido, que se encontra em diferentes partes do corpo da criança. Seu ponto inicial centra-se na boca. É a primeira zona erógena. Freud afirma que o prazer de sugar é um ato sexual. O mesmo prazer de absorção de alimentos será sentido nos atos de eliminação dos resíduos metabólicos: a micção e a defecção. Temos assim a concentração da libido na zona anal e depois na genital. (FREUD, apud DORIN, s/d/, 213). As etapas do desenvolvimento sexual não se dão de forma clara nem obedecem uma cronologia etária definida. Existe uma interpretação das fases oral, anal e genital. A interpretação aumenta à medida que se aproxima mais o período da fase genital. A primeira fase do desenvolvimento psicossexual é a zona bucal, a fonte corporal de todas as excitações pulsionais. Essas fases estão presentes tanto na criança quanto no adulto e são representadas pelos comportamentos, facilmente identificados pelas características próprias de cada fase. A fase oral caracteriza-se por queixas constantes, espera-se tudo do outro. Há um predomínio da ansiedade persecutória, não se tolera a ambivalência, não se tem medo da perda. O narcisismo impera e há uma necessidade de que o outro satisfaça toda as suas necessidades, embora elas nunca estejam satisfeitas. Kusnetzoff (1982) define como fonte corporal das excitações pulsinais a zona bucal. O autor aponta como objeto dessa fase o seio e todo o seu substrato. O conceito de objeto não sendo redutível só aos seios anatomicamente falando. “Seios” também são os braços da mãe, os músculos que seguram o neném, a voz que fala contemporariamente à incorporação do leite etc. (1982, p. 31) O autor ainda considera de muita importância o vínculo que se estabelece na relação da amamentação, “o vínculo seio-boca, pois esse é o herdeiro do vínculo estabelecido entre o feto e a mãe, isto é, o seio será o substituto do cordão umbilical”. (idem, p. 32) As substituições vão efetivamente da sua identidade e emancipação. O seio é o substituto do cordão umbilical e o bolo fecal, sua primeira 27 produção, é substituto do seio por um lado e por outro antecessor do pênis, objeto da fase subsequente. O bolo fecal é expulso do corpo, desprende-se em definitivo através de um movimento centrífugo em que há uma exteriorização dos conteúdos internos. Ele é um representante de um valor de troca entre a criança e o meio externo. Kusnetzoff (1982) compreende o estágio anal Como o ato da defecação que ocupa um lugar importantíssimo no desenvolvimento piscossexual da criança; porém não se remete apenas ao controle esfincteriano. Este serve de modelo para o controle motor em geral, sensação de domínio, prazer na expulsão ou na retenção. (1982, p. 39) A fonte pulsional nesse período é a mucosa ano-retal. Essa mucosa produz sensações conscientes de um processo muito importante para a autoconservação: a eliminação dos resíduos alimentares indigeríveis. Abranham (1961) subdivide o estágio anal em duas fases: a primeira, fase anal ou fase expulsória e a segunda, fase anal ou retentiva. Na fase expulsória o prazer é fornecido por três vias: a via fisiológica, a via social e a via contingente. Na fase retentiva, o prazer da criança é a retenção das fezes, pois ela percebe que a mucosa anal é estimulada tanto na expulsão como na retenção. Como os adultos atribuem uma importância excessiva à retenção, o prazer da criança é dirigido a esse ato. Tudo isso explica a grande relação psíquica entre como à criança percebe seu corpo e a sua sexualidade. 3.1 Gravidez na adolescência O mundo vem assistindo a crescente onda de mães muito jovens, que dão luz numa época em que poderiam estar desenvolvendo algumas capacidades emocionais e cognitivas, além de acumular experiência, dentro da liberdade que existe neste período, próprio para viver diversas 28 circunstâncias e posteriormente adentrar no universo adulto, portando bagagem, mínima que seja, mas que possibilita então, a constituição de uma família com um filho ou mais. Contudo, um número alarmante, mostra muitas adolescentes que acabam tomando outro rumo e engravidam, iniciando ai um cerceamento de suas atividades no campo do desenvolvimento profissional e escolar, sem generalizar, porém, grande parcela delas, acaba restrita ao contato com o lar onde reside. Tem sido tarefa difícil explicar a causa de existir tantas adolescentes grávidas, e seu crescente número a cada ano. De um lado, alguns profissionais apontam para a falta de informação, de outro, a questão centra- se numa busca pela identidade por parte dos adolescentes. A aquela identidadeque a criança e o adolescente encontra no descobrir e entender o seu corpo. Kalina (1999) define que na adolescência, ocorre uma profunda desestruturação da personalidade e que com o passar dos anos vai acontecendo um processo de reestruturação. Baseado nos antecedentes histórico-genéticos e do convívio familiar e social, e também pela progressiva aquisição da personalidade do adolescente, pelo reconhecimento de seu corpo é possível entender que esta reestruturação tem em seu eixo o processo de elaboração das perdas, a cada etapa deixada sucessivamente. A questão familiar e social funciona como co- determinante no que resulta enquanto crise, especialmente, à conquista de uma nova identidade. 29 O amadurecimento sexual do adolescente, de acordo com Tiba (1996), acontece de forma rápida, simultaneamente ao amadurecimento emocional e intelectivo, iniciando então, o processar na formação dos valores de independência, que acaba por gerar pensamentos e atitudes contraditórios, especialmente quanto a parceiros e profissões. Aberastury (1983) diz se tratar de uma luta difícil para o adolescente encontrar uma identidade, que ocorre num processo de longa duração, além de lento, neste período, em que os jovens vão construindo a base final da personalidade, de seu perfil adulto. Este processo acontece por meio de tentativa e erro, em sua maior parte, buscando o verdadeiro Eu, ou seja, buscando reconhecer-se enquanto outro corpo e acaba por sofrer agonias e dúvidas, querendo ser diferente do que fora em sua infância, num buscar uma identificação própria e diferente. Podemos encontrar em Osborne (1975) aspectos importantes sobre pais que valorizam a autonomia e a disciplina no comportamento, estimulam mais o desenvolvimento da confiança, da responsabilidade e da independência. Pais que são autoritários, os quais tendem à repressão dos desacordos, porém não podem exterminá-los, e os filhos adolescentes provavelmente acabam sendo menos seguros, pensando e agindo pouco por si próprios. Pais negligentes ou permissivos que não oferecem o tipo de ajuda que o adolescente precisa; permitem que seus filhos percam o rumo, não oferecendo a eles condições de perceberem-se como o outro e, ao mesmo tempo, diferente dele. 30 Vemos então, a enorme responsabilidade educacional durante o processo de adolescência, e Sayão (1995) confirma tal postura com relação aos filhos, que crescem e aos pais cabe a preparação sobre as mudanças no corpo e o aprendizado de como lidar com a questão sexual, usando de honestidade e se preocupando em transmitir valores, além das regras. Em outra esfera, ao tratarmos sobre prevenção da gravidez, podemos encontrar pesquisas realizadas através de universidades ou do ministério da saúde brasileiro, que revelam constantemente que grande parte da população tem tido a informação básica necessária sobre o uso de anticoncepcionais, e que apesar dos adolescentes possuírem este conhecimento, acabam mantendo um relacionamento sexual sem tomar os cuidados necessários e assim, como que numa “loteria”, engravidam inesperadamente. Se por um lado encontramos uma boa dose de informações que chega até os jovens, por outro, percebemos a constante falta de diálogo entre pais e filhos, não bastando apenas dizer ao adolescente para que use preservativo, mas também esclarecendo sobre as decorrências possíveis. Os pais precisam se preparar com conhecimento a respeito, trabalhar melhor sua participação em assuntos “delicados” e, acompanhar equilibradamente a vida de seus filhos, mostrando-lhes como se dá o processo de maturação e desenvolvimento do corpo e como lidar com isso. Outro ponto reforça a estatística sobre gravidez na adolescência, que conforme Varella (2000) nos aponta que, os dados da Pesquisa Nacional em Demografia e Saúde do Brasil, feita em mil novecentos e noventa e seis, 31 indicaram que quatorze por cento das meninas nesta faixa etária já tinham um filho, no mínimo. Entre as parturientes que foram atendidas pelo Sistema Único de Saúde, entre os anos de mil novecentos e noventa e três e mil novecentos e noventa e oito, teve um aumento de trinta e um por cento dos casos de meninas entre dez e quatorze anos. Conforme Duarte (1997), podemos compreender que a gravidez na adolescência não é um episódio, mas um processo de busca, onde a adolescente pode encontrar dificuldade e acaba por assumir atitudes de rebeldia, como a própria gravidez. Isso por falta de uma melhor identificação de si mesma. As pesquisas realizadas pela Secretaria de Saúde de São Paulo, mostram que o aumento do número de gravidez na adolescência não é a desinformação. Parece que já nos habituamos a este fato, jovens com tão pouca idade se tornando “mãe”, no sentido biológico, mas existindo pouco preparo ou estrutura, evidentemente. Como é possível, jovens nesta faixa etária estarem preparadas para cuidar de outro ser que requer tantos cuidados? Se o adolescente ainda se encontra em reestruturação da personalidade, levando-se em conta o aspecto emocional e financeiro, além da experiência de vida necessária, como poderá atuar como alguém que necessita oferecer apoio e estruturação a outro? Sabe-se o quanto é importante passar por todas as fases naturais que a vida oferece, como a infância, a adolescência, a fase jovem, adulta e a velhice, períodos onde desenvolvemos estruturas que se auxiliam uma após a outra. Todas elas sendo auxiliadas pela relação do indivíduo com o corpo. 32 Costa (1997) faz um relato sobre a criança de hoje, que é bastante precoce nas questões da sexualidade, por meio de sua curiosidade em querer conhecer como se formam os bebês e como ocorre a intimidade sexual. Há muitos casos onde as crianças com idade a partir de seis anos, que já desejam olhar revistas de mulheres nuas. Nesta esfera encontra-se a liberação sexual vivida atualmente e que faz a criança ingressar em uma fase de conhecimento do seu corpo, com uma certa antecedência. Aumentar a freqüência de informações dentro das escolas, através das aulas é uma boa forma colaboradora, até que este assunto se incorpore definitivamente em nossa cultura, que apesar de “moderna”, ainda é cheia de tabus e preconceitos, trabalhar com projetos de teorias da psicomotricidade também é uma questão a se pensar, já esta tem a capacidade de auxiliar o adolescente no reconhecimento de si mesmo. Por outro lado, se a televisão em seus diversos horários, inclusive os de grande audiência, transmite cenas de erotismo e sensualidade, pode também apresentar cenas de prevenção e cuidados a este respeito, em boa dose e intensidade, não apenas em alguns momentos especiais, aumentando conseqüentemente, o estímulo a esta prática fundamental de prevenção, que se dá muito por meio da vontade. Quando do ato sexual, uma sensação maior parece tomar conta e assim não se pensa em mais nada; apenas acontece a relação. Isto se dá pela falta de maior consciência a respeito. Neste período de adolescência, no qual o jovem acredita estar pronto para o mundo, e é nesta “coragem” que segue avante, mas ainda lhe falta conhecimento e experiência, inevitáveis para lidar melhor com seu corpo. 33 CONCLUSÃO Nos dias atuais, ouvimos falar muito em liberdade, sugerindo a vivência desta em diversas áreas da vida. Fala-se em liberdade de expressão, em liberdade de escolha, e, o que aqui nos interessa, liberdade sexual. A liberdade sexual associada a outros fatores, como a necessidade dos jovens de quebra de tabus, afirmação, contraposição à família, e, muitas vezes, a pressão do grupode amigos e/ou do namorado, trouxe consigo uma questão importante: a vivência da sexualidade adolescente. Contudo, não podemos falar neste tema sem antes comentar alguns pontos básicos. Em primeiro lugar, a adolescência é um processo que ocorre durante o desenvolvimento evolutivo do indivíduo, caracterizado por uma revolução bio-psico-social, e marcando a transição do estado infantil para o estado adulto. As características psicológicas deste movimento evolutivo, sua expressividade e manifestações ao nível do comportamento e da adaptação social, são dependentes da cultura e da sociedade onde o processo se desenvolve. Além disso, este processo adolescente é desencadeado, impelido e concomitante às alterações biológicas que intervém na maturação das manifestações pulsionais e são inerentes a este período. As velocidades de maturação de cada setor (biológico, psicológico e social), e das partes que os compõem, são distintas e interatuantes, dando o colorido típico que caracteriza o adolescente de nossa sociedade. Com a chegada da puberdade, todo o organismo é invadido pela força das transformações biológicas e tomado por impulsos sexuais e agressivos, determinando o início da puberdade e do processo da adolescência. De início, sem saber bem o significado de sua sexualidade e de como dispor dela, o adolescente pouco a pouco vai descobrindo os mistérios e os 34 devaneios que essa situação atraente e angustiante lhe desperta. As modificações corporais bem como a masturbação são elementos que exteriorizam as mudanças internas com seus reflexos sobre a vida afetiva e emocional dos jovens. Então, o adolescente entra nesta etapa da vida tomado por um estado de certa confusão e incoerência, entre o que lhe era conhecido e familiar, por ocasião da infância, e as transformações pelas quais está passando. Apesar de desejar atingir a vida adulta, pois é impelido por seu crescimento e maturação, teme o desconhecido que existe dentro de si. Aos poucos, o adolescente sente o seu corpo amadurecer, e, com isto, o peso da cultura e da sociedade exercerá sobre o ele a repressão da livre expressão e experimento da genitalidade adulta. A princípio, não se interessa pela sexualidade genital, até que descobre o outro sexo, e a intensa excitação e prazer que ele lhe desperta. E, é claro, a sexualidade vai assumir características de acordo com a idade na qual é vivida, sendo influenciada, então, pelas características adolescentes. Entretanto, é sabido que muitos jovens iniciam sua vida sexual em idades precoces, e a manutenção de uma vida sexual sem preparo e cuidado pode trazer conseqüências muito sérias para o adolescente, como a gravidez indesejada, o aborto e as doenças sexualmente transmissíveis. Como que isso fica então? Deve-se orientar ou educar os adolescentes? Entende-se que, este período de transição, pelo qual passa o ser humano, é carregado de transformações físicas e psíquicas, viabilizando uma instabilidade na estrutura da personalidade. Outro fator relevante é a informação que orienta quanto aos cuidados sexuais, a qual mantém o seu grau de importância, e deve fazer parte do contexto educacional a fim de se incorporar, cada vez mais, nos hábitos cotidianos da população. Encontramos ainda, a enorme exposição a estímulos na área sexual, a que as crianças se encontram constantemente e as respostas que emitem, além de gerar uma precocidade em suas atitudes neste mesmo campo. Por outro 35 lado, há uma batalha imediata, ligada à conscientização dos jovens quanto às questões emocionais e sociais que podem levar a gravidez como forma equivocada de gerar identidade nesta fase do desenvolvimento, tão repleta de tribulações e conflitos mediante as sucessivas mudanças que ocorrem, e ainda, ser um projeto de vida para substituir a falta de perspectiva profissional, fazendo do futuro, uma visão de poucas possibilidades de crescimento em várias esferas, a exemplo da educação e cultura. Este exercício de estimular a reflexão e trazer maior consciência, pode ser feito por profissionais que atuam na área social e da saúde; por uma parcela da população que já se encontra com boa experiência de vida e abre espaço para discuti-las; professores que desenvolvam dinâmicas de grupos, e ofereçam canal aberto para uma conversa de linguagem fácil e objetiva, sejam por meio de seus centros comunitários, nos bairros onde moram, sejam pelas escolas. Nesse sentido, usar-se as bases propiciadas pela psicomotricidade pode ser um fator determinante no auxílio à estruturação do reconhecimento desses adolescentes sobre eles próprios. 36 BIBLIOGRAFIA ABERASTURY, A. Adolescência. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983. AJURIAGUERRA, J. e col. A escrita infantil e dificuldades. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. BERGÈS, J. O corpo e o olhar do outro. Porto Alegre: Publicações Che Voui, 1986. COSTA, A. C. Psicopedagogia e psicomotricidade: Pontos de intersecção nas dificuldades de aprendizagem: Petrópolis: Vozes, 2002. COSTA, M. Sexualidade na adolescência: dilemas e crescimento. 11ª edição. Porto Alegre: L&Pm, 1997. COSTE, J. C. A psicomotricidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. DORIN, L. Psicologia a criança. São Paulo: Ed. Brasil, S/A s/d. DUARTE, A. Gravidez na adolescência: ai como eu sofri por te amar, 2ª edição. Rio de Janeiro: Arte e Contos, 1997. FONSECA, V. Psicomotricidade. São Paulo: Martins Fontes, 1983. FREUD, S. Sobre o narcisismo. 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Lisboa: Morais Editores, 1979. 38 FOLHA DE AVALIAÇÃO Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes Título da Monografia: A Influência da Psicomotricidade na Conscientização Corporal de Adolescentes Autor: Adriana Leandro da Silva de Souza Data da entrega: Junho/2004 Avaliado por: ___________________________________ Conceito: _______ Avaliado por: ___________________________________ Conceito: _______ Avaliado por: ___________________________________ Conceito: _______ Conceito Final: _______________ 39 ÍNDICEFOLHA DE ROSTO ................................................................................ 2 AGRADECIMENTOS ............................................................................. 3 DEDICATÓRIA ....................................................................................... 4 RESUMO 6 METODOLOGIA ..................................................................................... 7 SUMÁRIO ............................................................................................... 8 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 A PSICOMOTRICIDADE ....................................................................... 10 1.1 Enfoque Histórico ............................................................................ 11 CAPÍTULO 2 O ESQUEMA CORPORAL ..................................................................... 14 2.1 Desenvolvimento do Esquema Corporal .......................................... 17 2.2 Desenvolvimento durante a infância ................................................ 19 2.3 Estrutura do esquema corporal em função da interiorização ........... 20 2.4 A psicomotricidade sobre o olhar da psicanálise ............................. 21 CAPÍTULO 3 A PSICOMOTRICIDADE NA CONSCIENTIZAÇÃO CORPORAL DO ADOLESCENTE ..................................................................................... 24 3.1 Gravidez na Adolescência ................................................................ 27 CONCLUSÃO ........................................................................................ 33 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 36 FOLHA DE AVALIAÇÃO ........................................................................ 38
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