Buscar

O que são as Ciências Ambientais? Aula 1

Prévia do material em texto

O que são as Ciências Ambientais? 
Meio Ambiente
Meio ambiente pode ser definido, à luz da Lei Federal n.º 6.938, que institui a Política Nacional de Meio Ambiente, como: 
“O conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. 
Meio ambiente são as palavras de ordem. Hoje em dia é praticamente impossível assistir a um telejornal, ouvir programas de rádio, ler jornais e revistas ou navegar na internet sem esbarrar nessa palavra. A princípio, você poderia pensar que tem muita gente se metendo onde não deve. Afinal de contas, esse assunto deveria dizer respeito apenas a cientistas e a ambientalistas. 
Se você pensa assim, provavelmente nunca pensou no fato de que todos nós lidamos diariamente com o meio ambiente, porque... 
Somos parte do meio ambiente
É justamente por se sentirem parte desse conjunto que muitas pessoas se sentem à vontade para falar sobre meio ambiente. Contudo, há uma diferença considerável entre: 
Importante
Para garantir a saúde do planeta por, pelo menos, mais alguns milhares de anos, é fundamental que o ser humano mude sua forma de pensar e deixe de se ver como um elemento externo ao meio ambiente. Somos parte de um todo que garante a vida na Terra. Cabe a nós zelar pelo bem desse conjunto. 
Ciências Ambientais
As ciências ambientais ganharam importância no Brasil a partir de 1989, quando passaram a ser incluídas nos meios acadêmicos concorrendo ao lado de diversas áreas do saber científico e tecnológico como relevantes para o desenvolvimento nacional.
A inclusão das ciências ambientais ocorreu a partir da necessidade de haver mudanças e transformações nas pesquisas científicas e tecnológicas, as quais deveriam defender o meio ambiente — natural ou criado — marcado pelas intervenções do homem e buscar meios de eliminar ou de, pelo menos, reduzir, os impactos negativos das ações antrópicas. 
Atualmente, denominamos de Ciências Ambientais a área do conhecimento humano que estuda o meio ambiente. Em outras palavras, podemos dizer que os objetos de estudos das Ciências Ambientais são: 
	Vantagens
Aumento da expectativa de vida; aumento da qualidade de vida; crescimento econômico; “redução” das distâncias geográficas. 
	← 
	
Desenvolvimento 
científico-tecnológico
	→ 
	Desvantagens 
Aumento das desigualdades socioeconômicas; problemas morais e éticos; impactos ambientais. 
De modo geral, as Ciências Ambientais apresentam a forma como: 
	A natureza funciona
	Interagimos com a natureza
	Podemos viver de maneira responsável e sustentável
Dessa forma, cabe às ciências ambientais o desenvolvimento de estudos, sob a ótica ecológica, com a utilização de técnicas sustentáveis nas ações antrópicas, a fim de reduzir a poluição, a retirada de recursos e prover a manutenção dos ecossistemas. 
Além disso, pelo fato de atravessar diferentes áreas do conhecimento, ela é considerada transversal a todas essas áreas. Assim, as Ciências Ambientais permeiam diferentes campos do conhecimento, sem se identificar necessariamente com apenas um deles, o que lhes caracteriza também como transdisciplinares. 
O motivo que explica o carácter transdisciplinar das Ciências Ambientais é o fato de fazer parte de um novo paradigma científico, surgido a partir da segunda metade do século XX. Este paradigma contém uma forte crítica à supervalorização dada à ciência e à tecnologia em nossa sociedade. 
Transdisciplinar
Em latim trans = ‘além de, para lá de’ ou ‘depois de’; e disciplīna = ‘ação de se instruir, educação, ciência’. Para Edgar Morin (2004), uma ciência transdisciplinar é aquela que tem por objeto de estudo não um setor ou uma parcela, mas um complexo que forma um todo com organização própria.
Paradigma Científico
Para o físico e filósofo da ciência estadunidense Thomas Kuhn (2007), um paradigma científico são fundamentos que fornecem as bases para o desenvolvimento de pesquisas. Ele constitui-se em uma conquista, cujo alcance não teve precedentes, que atrai entusiastas de outros modos de fazer ciência e que permite a investigação de uma série de novos problemas.
Nas palavras do economista mexicano Enrique Leff (2000, p. 23): 
“Nunca antes na História houve tantos seres humanos que desconhecessem tanto e estivessem tão excluídos dos processos e das decisões que determinam suas condições de existência; nunca antes houve tanta pobreza, tanta gente alienada de suas vidas, tantos saberes subjugados, tantos seres que perderam o controle, a condução e o sentido de sua existência; tantos homens e mulheres desempregados, desenraizados de seus territórios, desapropriados de suas culturas e de suas identidades”. 
A transdisciplinaridade está exatamente na necessidade de compreender essa complexa rede de relacionamentos entre as questões sociais e ambientais, uma vez que as sociedades são parte do ambiente e mantêm diversas relações com os demais componentes ambientais. 
Transversalidade e transdisciplinaridade
Talvez, você já tenha ouvido falar nos termos multidisciplinar e interdisciplinar, que são mais comumente usados que o termo transdisciplinar. Todos eles indicam formas de abordarmos o conhecimento e de organizarmos nossas disciplinas. Ou seja, a multidisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade são estratégias de integração entre as disciplinas visando a construção de um conhecimento universal. 
Observe como é vista a escala de complexidade para cada um: 
 
A abordagem escolhida varia de acordo com o problema a ser trabalhado. 
Como você pode conferir, as Ciências Ambientais sempre nos impõem questões complexas, pois existe um número imenso de ligações entre as diversas partes que compõem o que chamamos de meio ambiente. Tente pensar, por exemplo, em quantas relações existem entre: 
São tantas relações que é impossível compreendê-las no âmbito de uma única área do conhecimento. Por isso, para entender minimamente os problemas ambientais, é preciso uma equipe formada por profissionais de diversas áreas que adotem a única abordagem realmente eficiente: a transdisciplinar. Infelizmente, esta é a abordagem mais difícil de ser empregada. Mas, como veremos a seguir, há tentativas neste sentido. 
Exemplo de transdisciplinaridade
A bióloga Vera Maria Fernão Vargas (2000) afirma que, para se compreender a dinâmica dos processos socioambientais, é preciso um enfoque ecológico incorporado a: 
	Todas as disciplinas atuantes na área ambiental
	Valores éticos
	Conhecimentos práticos
	Saberes tradicionais
Mais que a articulação e transgressão das fronteiras do conhecimento, essa transdisciplinaridade induz a articulação entre sociedade e natureza. 
Exemplo:
Complexidade da atuação transdisciplinar em projetos de pesquisa no campo da ecotoxicologia implementados no Rio Grande do Sul durante a década de 1990. 
	 
Equipe
	 47 pesquisadores especializados em: 
Ecotoxicologia
Genética
Medicina
Química
Hidrologia
Geologia
Tratamento de efluentes
Análise de processos da indústria petrolífera
Sociologia
Economia
Estatística
	Ações necessárias
	Cursos de nivelamento técnico e de formação básica
Encontros científicos da área
Seminários
Reuniões de planejamento e replanejamento
	Trabalho transdisciplinar
	 Desenvolvimento de métodos analíticos para o controle
 da qualidade ambiental 
Como observado, fazer com que uma equipe deste porte, formada por estudantes e profissionais com distintas formações (portanto, com linguagens, hábitos, valores etc. bastante diferentes) trabalhe de forma transdisciplinar é um grande desafio. 
Analista ambiental
O analista ambiental é um profissional-chave da área ambiental nas esferas pública e privada, cuja presença tem sido cada vez mais solicitada. A seu cargo estão, por exemplo, ações ligadas ao planejamento, à regulação, ao controle, à auditoria, à gestãoda qualidade, à difusão de tecnologia e de informações e à educação, sempre no âmbito do meio ambiente.
Saiba mais sobre ecotoxicologia no Portal de Ecologia Aquática, mantido pelo Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia da Universidade de São Paulo (USP). 
A transversalidade e transdisciplinaridade das Ciências Ambientais também podem ser observadas quando analisamos casos envolvendo a entrada de profissionais no mercado de trabalho. Clique nas imagens abaixo e confira: 
Alguns dos concursos públicos recentes para o cargo de analista ambiental de órgãos vinculados ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) permitiam que os candidatos às vagas possuíssem diploma de qualquer curso de nível superior. Isto significa que, a princípio, pessoas com formação pouco relacionada à área ambiental poderiam concorrer a uma vaga. No entanto, era necessário que os candidatos fizessem uma prova de conhecimentos específicos ligados às Ciências Ambientais. Esse tipo de processo seletivo dá aos órgãos a possibilidade de montar equipes transdisciplinares e pressupõe que as Ciências Ambientais atravessam as diversas áreas do conhecimento.
Portanto, falar de Ciências Ambientais é falar de um assunto complexo que pode e deve ser abordado através de diversas óticas (daí a transdisciplinaridade). Entretanto, harmonizar esta diversidade está longe de ser algo trivial; é algo que demanda muito conhecimento teórico e bom senso na hora da aplicação prática. 
	
É claro que a "Avenida das Ciências Ambientais" passa mais perto de algumas "ruas do conhecimento" do que de outras. Ou seja, alguns profissionais têm uma formação mais afim das Ciências Ambientais do que outros e quando falamos em mercado de trabalho esses diferentes níveis de afinidade podem gerar conflitos a respeito da capacidade que cada categoria profissional possui de atuar na área ambiental. Por exemplo, há casos de processos seletivos que restringem a participação a algumas categorias profissionais e, para que outras categorias participem, elas precisam recorrer à Justiça.
Portanto, falar de Ciências Ambientais é falar de um assunto complexo que pode e deve ser abordado através de diversas óticas (daí a transdisciplinaridade). Entretanto, harmonizar esta diversidade está longe de ser algo trivial; é algo que demanda muito conhecimento teórico e bom senso na hora da aplicação prática.

Continue navegando