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Inter e transdisciplinaridade

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Inter e transdisciplinaridade 
Os conceitos de interdisciplinaridade e transdisciplinaridade passam a ter grande importância na segunda metade do século XX, quando pesquisadores e estudiosos observam os modelos de conhecimento da época, ainda atrelados aos procedimentos cientificistas de isolamento dos objetos a serem investigados.
Interdisciplinaridade 
Etimologicamente, interdisciplinaridade significa a interação entre disciplinas. Ou seja, o elemento inter denota um processo de reciprocidade epistemológica que deve existir entre os vários campos do saber, formando uma teia relacional capaz de amalgamar várias teorias, por meio de um estudo simultâneo de conteúdos diversos, que possibilite uma compreensão mais ampla e geral do conhecimento. 
Convém destacar que o termo interdisciplinar difere de multidisciplinar, de pluridisciplinar e de polidisciplinar, cujos elementos iniciais da composição (multi, pluri e poli) indicam o acúmulo ou a pluralidade de disciplinas, mas não necessariamente a interação dialógica entre elas. Isto é, uma pesquisa pluri, poli ou multidisciplinar possibilita o estudo simultâneo das disciplinas, mas isso não implica a existência de uma cooperação integrada dos saberes. 
Transdisciplinaridade 
O processo transdisciplinar segue a linha descrita pelo conceito acima mencionado, mas com uma particularidade: o prefixo trans (latino, análogo ao grego meta) se refere a “além”, “acima de”, “através de”, o que aponta para uma pesquisa considerada de maneira ampla, pois, além de vincular os conhecimentos, procura estabelecer um nexo com a realidade, na busca de uma integração profunda que envolve um campo mais completo dos saberes com o mundo real. 
Note-se que, já no século VI a. C., a Filosofia investigava o conhecimento de modo interdisciplinar, tendo em vista que todas as áreas do saber faziam parte da reflexão filosófica: a matemática, a astronomia, a física, a gramática, a biologia, a retórica e a medicina seguiam conjuntamente as linhas de pesquisa dos pensadores cujo intuito era relacionar e ampliar os diferentes campos de atuação. Daí se depreende que não havia recortes ou fragmentações na busca do conhecimento, pois os saberes se interligavam naturalmente, ocasionando, assim, a compreensão simultânea dos temas. Para Jayme Paviani (2008, p. 18): 
“A organização das ciências e das disciplinas pressupõe distintas racionalidades científico-pedagógicas. Há nelas uma transversalidade entre o epistemológico e o pedagógico que se entrecruzam e definem horizontes e fronteiras entre as disciplinas. Daí o trabalho de mediação da interdisciplinaridade para encurtar o distanciamento entre os conhecimentos nos processos de pesquisa e ensino”.
A Filosofia Clássica dos gregos valorizava a dialetização do conhecimento, porém é preciso destacar que esses saberes se fundamentavam especialmente em teorias, sem vínculo direto com a experiência prática. Desse modo, a ciência, como parte da investigação filosófica, era considerada uma ciência contemplativa, que teorizava a respeito de vários temas, contudo de modo desinteressado, sem interferir na realidade cotidiana.
Essa característica da ciência antiga permaneceu atuante até a Idade Média, quando o poder da Igreja na Europa Ocidental concentrava também o domínio do conhecimento. Porém, as significativas mudanças que passam a se manifestar na época moderna vão modificar sensivelmente as concepções científicas, abalando o domínio da Igreja.
O início da Modernidade marca uma série de transformações sociais, históricas e econômicas. Invenções como a bússola e o navio a vapor possibilitam viagens mais seguras, que partem da Europa para encontrar novas terras e, consequentemente, mais riquezas para uma nova classe em ascensão: a burguesia.
No campo religioso, temos, por exemplo, a Reforma de Martinho Lutero, que rompe com a Igreja de Roma e se dedica a uma nova religião: o Protestantismo. Sobre essa crença, pode-se ressaltar o modo herético — do ponto de vista católico — de aproximar-se de Deus. Lutero afirmava que cada indivíduo deveria ler e interpretar a Bíblia por conta própria. Ora, num tempo em que a população europeia era quase totalmente analfabeta, seria preciso superar essa deficiência. E foi o que fez Lutero, ao incentivar a criação de escolas públicas gratuitas.
De fato, os acontecimentos transformadores que marcam a Idade Moderna, iriam contribuir decisivamente para intensas modificações no campo científico: a teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico, o método científico de Galileu, a invenção da imprensa por Gutenberg. Tais eventos assinalam a nova concepção de ciência, considerada a partir de então como ciência ativa, aquela que se desenvolve no âmbito da realidade prática, interferindo e transformando a natureza.
À ciência contemplativa da Antiguidade contrapõe-se a essa nova concepção científica, baseada no método investigativo, pelo qual empreende-se a modificação e o aperfeiçoamento do mundo. Ou seja, a ciência ativa vai pesquisar o seu objeto de estudo realizando um recorte do conhecimento, isolando esse objeto sem relacioná-lo ao seu entorno. 
Pode-se, então, enfatizar que a Filosofia, diferentemente da ciência moderna, segue uma visão simultaneamente inter e transdisciplinar do campo do conhecimento, agregando várias áreas de estudo a fim de possibilitar um saber mais completo.

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