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O REUSO DA AGUA NA INDUSTRIA QUIMICA

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA 
 
 
 
 
 
THAÍS CARVALHO 
 
 
 
 
Uma abordagem sobre o reúso de água na indústria química: 
exemplos aplicativos 
 
 
 
 
 
 
 
Lorena 
 2014
 
 
 
THAÍS CARVALHO 
 
 
 
 
 
Uma abordagem sobre o reúso de água na indústria química: 
exemplos aplicativos 
 
 
 
Monografia apresentada à Escola de 
Engenharia de Lorena da Universidade de 
São Paulo para obtenção do grau de 
Engenheira Química. 
Áreas de concentração: Engenharia 
Ambiental e Processos de Separação. 
Orientador: Prof. Dr. Francisco José Moreira 
Chaves. 
 
 
 
 
 
Lorena 
2014 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais, Alcides e Vera, por toda 
confiança e apoio. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Aos meus pais, Alcides e Vera, por toda a dedicação, orientação e por fazer 
da educação dos filhos sua prioridade. 
Às minhas irmãs, pelo carinho e cumplicidade. 
Ao meu namorado, Rodolfo, por todo amor e apoio incondicional na busca 
dos meus objetivos. 
Aos professores, por todo o ensinamento proporcionado e exemplo a ser 
seguido. 
Ao meu orientador, Prof. Dr. Francisco Chaves, pela disponibilidade e ajuda 
no desenvolvimento deste trabalho. 
À Profa. Dra. Maria Lúcia Caetano, pela oportunidade de estágio em seu 
laboratório. 
Aos colegas de estágio, pela convivência e aprendizado. 
Aos colegas de curso, sem os quais estes anos teriam sido muito mais 
difíceis. 
Às amigas de república, por serem minha segunda família. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Quem desconfia, 
 fica sábio.” 
João Guimarães Rosa 
 
 
Resumo 
 
CARVALHO, T. Uma abordagem sobre o reúso de água na indústria química: 
modelos aplicativos. 2014. 57 f. Monografia (Graduação) - Escola de Engenharia 
de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2014. 
Devido à iminente escassez de água própria para o consumo humano, os diversos 
setores produtivos têm buscado alternativas para sua preservação. Dentre estas 
alternativas estão: o uso consciente por parte da população em geral, buscando 
meios de economizar água potável e reutilizá-la em outras atividades rotineiras. Por 
parte das indústrias, o cuidado com a qualidade dos efluentes gerados é obrigatória 
e regulamentada por legislação vigente. O presente trabalho tem por objetivo o 
estudo de três casos da literatura, em que foram propostas alternativas de reúso 
de água, após tratamento adequado, nos processos de três indústrias químicas de 
ramos diferentes. O primeiro caso trata-se de um programa de reúso de água da 
Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP) e a 
indústria beneficiada é do ramo têxtil. Trata-se de reúso de água não potável e a 
mesma foi reutilizada em operações de beneficiamento do produto final. O segundo 
caso refere-se a um estudo de caso de uma indústria de aditivos alimentares, onde 
a água tratada foi reutilizada para lavagem de tanques e equipamentos segundo o 
sistema Clean in Place (CIP). O terceiro caso é o estudo de uma técnica de 
tratamento baseada em Processos Oxidativos Avançados (POAs), utilizada para 
tratar o efluente de uma indústria petroquímica. O efluente tratado por esta técnica 
pode ser realimentado em diferentes pontos da planta com demanda de água 
industrial. 
Palavras-chave: reúso de água, técnicas de tratamento de água, indústria química. 
 
 
 
 
 
 
Abstract 
 
CARVALHO, T. An approach for water reuse in the chemical industry: 
application models. 2014. 57 f. Monografia (Graduação) – Escola de Engenharia 
de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2014. 
Due to the imminent shortage of water suitable for human consumption, the various 
productive sectors have sought alternatives for its preservation. Among these 
alternatives are: the conscious use of water by the population in general, looking for 
ways to save drinking water and reuse it in other routine activities. From the 
industries part, care for the quality of effluents is mandatory and it is regulated by 
current legislation. The present work aims to study three cases from the literature, 
from different fields, in which they proposed alternatives for water reuse after 
appropriate treatment. The first case is about a program of water reuse at 
“Companhia de Saneamento Básico (SABESP)” which benefits textile sector 
industry. This is about reuse of non-potable water in other operations of the final 
product. The second case refers to a case study in a food additives industry, where 
the treated water is reused for washing tanks and equipment in accordance with the 
Clean in Place (CIP) system. The third case is the study of a treatment technique 
based on Advanced Oxidation Processes (AOPs), used to treat the effluent of a 
petrochemical industry. The effluent treated by this technique can be replenished at 
different points of the plant within demand of industrial water. 
Keywords: water reuse, water treatment techniques, chemical industry. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lista de tabelas 
 
Tabela 1 - Relação entre o grau de qualidade e as aplicações da água na 
indústria.............................................................................................21 
Tabela 2 - Processos e operações unitárias usadas em tratamento de 
água..................................................................................................27 
Tabela 3 - Classes de águas de reúso segundo a ABNT NBR 13969/1997......32 
Tabela 4 - Categorias de reúso de água abordados pela legislação dos territórios 
dos EUA............................................................................................37 
Tabela 5 - Alguns padrões de qualidade para a água potável no Brasil............39 
Tabela 6 - Estimativa do consumo de água após tratamento para reúso 
interno...............................................................................................48 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lista de figuras 
 
Figura 1 – Gráfico da distribuição da água entre seus usos no mundo.................16 
Figura 2 – Gráfico da distribuição da água entre seus usos no Brasil...................17 
Figura 3 – Fluxograma dos tipos de tratamento de efluentes industriais...............24 
Figura 4 – Fluxograma dos sistemas de tratamento na ETE Jesus Netto.............43 
Figura 5 – Fluxograma da unidade de polimerização da Suzano Petroquímica....49 
Figura 6 – Proposta de rearranjo da unidade de polimerização da Suzano 
Petroquímica ....................................................................................................... 51 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lista de abreviaturas e siglas 
 
ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária 
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas 
ANA Agência Nacional das Águas 
APPCC Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle 
BOM Build, operate and maintain 
BOT Build, operate and transfer 
BPF Boas Práticas de Fabricação 
CIP Clean in place 
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente 
COT Carbono Orgânico Total 
DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio 
DBO5,20 Demanda Bioquímica de Oxigênio medida durante um período de 5 
dias, a temperatura de 20oC. 
DQO Demanda Química de Oxigênio 
EPA Environmental Protection Agency 
ETA Estaçãode Tratamento de Água 
ETE Estação de Tratamento de Efluentes 
EUA Estados Unidos da América 
E1 Efluente do Processo 1 
E2 Efluente do Processo 2 
E3 Efluente do Processo 3 
 
 
E4 Efluente do Processo 4 
FAFA Filtro Anaeróbio de Fluxo Ascendente 
FAO Food and Agriculture Organization 
MBAS Metilene Blue Active Substances 
MBBR Moving Bed Biofilm Reactor 
MBR Membrane Bioreactor 
OD Oxigênio Dissolvido 
OMS Organização Mundial da Saúde 
ONU Organização das Nações Unidas 
pH Potencial hidrogeniônico 
POA Processo Oxidativo Avançado 
PVC Policloreto de Vinila 
RAFA Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente 
SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo 
SANEP Serviço Autônomo de Abastecimento de Água de Pelotas 
SANEPAR Companhia de Saneamento do Paraná 
SNIS Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento 
uH Unidade Hazen (mg Pt-Co/L) 
uT Unidade de Turbidez 
UV Ultravioleta 
VMP Valores Máximos Permitidos 
WHO World Health Organization 
 
 
 
Lista de símbolos 
 
CO2 Dióxido de Carbono 
H2O Água 
CH4 Metano 
NO3- Íon nitrato 
SO42- Íon sulfato 
-OH Íon hidroxila 
TiO2 Dióxido de Titânio 
H2O2 Peróxido de Hidrogênio 
µm micrômetro 
L litro 
s segundo 
mg miligrama 
mL mililitro 
m3 metro cúbico 
cm centímetro 
nm nanômetro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO............................................................................................12 
1.1. MOTIVAÇÃO...............................................................................................12 
1.2. OBJETIVOS................................................................................................13 
1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS.......................................................................13 
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.......................................................................14 
2.1. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL......................................................14 
2.2. USO DA ÁGUA NO BRASIL E NO MUNDO...............................................15 
2.3. REÚSO DE ÁGUA.......................................................................................18 
2.3.1. Classificações para o reúso de água......................................................19 
2.4. UTILIDADE DA ÁGUA NA INDÚSTRIA......................................................20 
2.5. TÉCNICAS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS...............23 
2.5.1. Classificação dos sistemas de tratamento de efluentes.......................25 
2.5.2. Processos Oxidativos Avançados...........................................................29 
2.6. LEGISLAÇÃO PARA REÚSO DE ÁGUA....................................................31 
2.6.1. No Brasil.....................................................................................................31 
2.6.2. Em outros países.......................................................................................36 
2.7. PADRÕES DE QUALIDADE DA ÁGUA......................................................39 
2.8. ALTERNATIVAS PARA TERCEIRIZAÇÃO.................................................40 
2.8.1. Sistema Build, Operate and Transfer (BOT)...........................................40 
2.8.2. Sistema Build, Operate and Maintain (BOM)…………...…………………41 
3. DESENVOLVIMENTO................................................................................42 
3.1. SISTEMAS DE REÚSO DE ÁGUA: ESTUDO DE CASOS DA 
LITERATURA.........................................................................................................42 
3.1.1. Estação de Tratamento de Efluentes da SABESP.................................42 
3.1.2. Indústria de aromas e essências por Max Joel Franco.........................46 
3.1.3. Indústria petroquímica por Daniella de Lira...........................................49 
4. CONCLUSÃO.............................................................................................52 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................53 
 
REFERÊNCIAS......................................................................................................54 
12 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 
1.1. MOTIVAÇÃO 
 
 
A água é um recurso natural indispensável à vida no planeta. Além de ser 
utilizada de forma direta por seres humanos, animais e plantas para manutenção 
de seus organismos; de sua existência também depende a maioria das atividades 
realizadas pelo homem. 
A atividade antrópica nos centros urbanos, derivada do aumento populacional 
e do processo de industrialização, intensificou a contaminação dos mananciais e 
deteriorou a qualidade das águas subterrâneas, causando sérios problemas de 
saúde pública nas comunidades onde não há tratamento e distribuição adequada 
de água. (DI BERNARDO1, 2005 apud FRANCO, 2007) 
A iminente escassez de água doce no planeta torna necessária uma gestão 
integrada deste recurso. Incentivar o uso racional da água favorecerá o 
desenvolvimento de sistemas sustentáveis como forma de prevenção contra a 
escassez. (FRANCO, 2007) 
“A crescente preocupação com a racionalização dos recursos hídricos aliada 
aos elevados custos de água industrial no Brasil [...] tem estimulado as indústrias 
nacionais a avaliar as possibilidades internas de reúso” (LIRA, 2006, p. 24). 
Segundo Baum (2011) os projetos voltados ao consumo racional de água 
industrial reduzem os impactos ambientais, são expressivos nos resultados 
financeiros, pois reduzem os custos com água industrial e tratamento de efluentes, 
além de trazer benefícios socioculturais por estimular o uso consciente da água na 
comunidade local. 
 Diante dos problemas sociais e de saúde pública consequentes da escassez 
de água doce de qualidade, buscou-se evidenciar uma das alternativas 
 
1DI BERNARDO, L.; DANTAS, A.D.B. Métodos e técnicas de tratamento de água. 2 ed. São 
Carlos: RiMa, 2005. v.1 
 
13 
 
para a melhor gestão dos recursos hídricos no setor da engenharia e das indústrias 
de transformação; a prática do reúso de água em funções menos nobres minimiza 
os efeitos sobre a disponibilidade de água de qualidade para o consumo humano. 
 O aumento de interesse pela adoção da prática de reúso de água na 
indústria de transformação levou ao desenvolvimento de novas técnicas de 
tratamento de água e efluentes. Há inúmeras novas tecnologias úteis para a 
implementação de tal prática, contudo, algumas informações tornam-se 
inacessíveis devido às etapas iniciais de aplicação em que se encontram 
atualmente. 
 
 
1.2. OBJETIVOS 
 
 
O objetivo deste trabalho é efetuar uma revisão bibliográfica com o propósito 
de promover uma análise crítica acerca da viabilidade e aplicações das técnicas de 
reúso de água em indústrias de transformação. 
 
 
1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
 
 
- Conceituar reúso de água e identificar as diferentes formas de reúso; 
- Elencar alguns padrões de qualidade de água para diferentes usos 
industriais e domésticos; 
- Discutir as restrições para o reúso de água em cada segmento industrial 
estudado; 
- Verificar aspectos da legislação ambiental infraconstitucional brasileira 
compatíveis com as práticas aplicadas em reúso de água. 
 
 
 
 
 
 
14 
 
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 
 
 
2.1. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 
 
 
A Comissão Mundial Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (World 
Comission on Environment and Development, WCED) elaborou em 1987 um 
relatório intitulado “Nosso Futuro Comum”, também conhecido como Relatório 
Bruntland, onde aparece a primeira definição de desenvolvimentosustentável. 
Segundo o Relatório Brundtland, o desenvolvimento sustentável é “o 
desenvolvimento no qual as necessidades no presente são supridas sem 
comprometer a capacidade das gerações futuras de suprirem as suas” (WCED, 
1987). 
O conceito dominante de desenvolvimento sustentável consiste em descobrir 
como o planeta pode proporcionar recursos suficientes para assegurar o bem estar 
das pessoas, em toda parte (SILVA et al., 2013). 
No início dos anos 1990, foi introduzido o conceito de pegada ecológica por 
William Rees e Mathis Wackernagel como medida da apropriação humana das 
áreas biologicamente produtivas. Em 2002, Hoekstra e Huang lançaram um 
conceito similar denominado pegada hídrica para medir a apropriação humana da 
água doce no globo (SILVA et al., 2013). 
Os dois conceitos tem em comum o fato de traduzir o uso de recursos naturais 
pela humanidade. A pegada ecológica expressa o uso de espaço, em hectares, e 
a pegada hídrica mede o uso total de recursos de água doce, em metros cúbicos 
por ano (HOEKSTRA3, 2009 apud SILVA et al., 2013). 
 
 
 
2Galli, A.; Wiedmann, T.; Ercin, E.; Knoblauch, D.; Ewing, B.; Giljum, S. Integrating Ecological, 
Carbon and Water footprint into a "Footprint Family" of indicators: Definition and role in tracking 
human pressure on the planet. Ecological Indicators, v.16, p.100-112, 2012. 
3Hoekstra, A. Y. Human appropriation of natural capital: A comparison of ecological footprint and 
water footprint analysis. Ecological Economics, v.68, p.1963-1974, 2009. 
15 
 
Segundo Franco (2007), o aumento na demanda por recursos hídricos 
decorre do aumento populacional, assim como a deterioração destes recursos tem 
como principal causa o seu uso indiscriminado. Franco (2007) afirma que o 
fenômeno da escassez de água não é exclusivo de regiões áridas e semi-áridas, 
pois muitas regiões com recursos hídricos abundantes, em função da elevada 
demanda, também experimentam conflitos de usos e sofrem restrições ao consumo 
e desperdícios. 
Mierzwa (2002) identifica os fenômenos naturais relacionados às condições 
climáticas de cada região como sendo mais uma das razões para a ocorrência da 
mudança na relação entre disponibilidade hídrica e demanda de água. 
A necessidade da criação de um sistema de gerenciamento de águas e 
efluentes para o uso nas atividades humanas relacionadas a qualquer tipo de uso, 
seja ele doméstico, industrial ou agrícola, foi abordada por Mierzwa (2002). 
Segundo o autor, o desenvolvimento de atividades de gerenciamento estará 
condicionado a fatores tais como a disponibilidade hídrica na região, problemas de 
poluição existentes, legislação ambiental e o conceito de desenvolvimento 
sustentável. 
Freitas (2006) atenta para a relevância dos aspectos ambientais nos 
processos decisórios das empresas: 
 
“Situações que até algum tempo atrás eram comuns em indústrias e não pesavam muito 
nas decisões gerenciais, como o lançamento de efluente industrial com alta carga 
poluidora em um rio, ou liberação de emissões atmosféricas tóxicas sem tratamento, 
hoje podem ser aspectos com significativa relevância nos processos decisórios das 
empresas, que envolvem em muitos casos a priorização de investimentos” (FREITAS, 
2006. p. 1). 
 
 
2.2. USO DA ÁGUA NO BRASIL E NO MUNDO 
 
 
Dados recentes da Agência Nacional das Águas (ANA) e da Food and 
Agriculture Organization (FAO), membro da Organização nas Nações Unidas 
16 
 
(ONU), alertam para o perigo de escassez de água e identificam a irrigação como 
principal fonte de desperdício de água, tanto no Brasil, como no mundo. 
O aumento no consumo de água foi cerca de duas vezes maior que o aumento 
da população nos últimos cem anos e a previsão é de que em 2025, países em 
desenvolvimento consumam 50% a mais de água, enquanto que nos países 
desenvolvidos, o aumento no consumo poderá chegar a 18% (WALBERT, 2013). 
A figura 1 representa a distribuição da água em seus diversos usos no mundo 
(ANA, 2012). 
 
 
Figura 1 – Gráfico da distribuição da água entre seus usos no mundo. 
Fonte: ANA (2012). 
 
A Figura 2 representa a distribuição da água em seus diversos usos no Brasil 
(ANA, 2012). 
Uso doméstico Uso industrial Uso na irrigação
17 
 
 
Figura 2 – Gráfico da distribuição do uso da água entre seus usos no Brasil. 
Fonte: ANA (2012). 
 
Segundo relatório da ANA de 2012, o uso doméstico da água no Brasil ainda 
pode ser subdivido entre as categorias: uso urbano, uso rural e uso com animais. 
Segundo a FAO, uma redução em apenas 10% no consumo de água utilizada 
na irrigação já seria suficiente para abastecer o dobro da população mundial 
(WALBERT, 2013). 
Além da grande quantidade de água potável utilizada nas atividades de 
irrigação, outra fonte de desperdício relevante são os próprios sistemas de 
abastecimento de água. 
A média de perda de água nos sistemas de abastecimento brasileiros é de 
cerca de 40%, valor muito alto se comparado a cidades do Japão e Alemanha, com 
apenas 11% de perda. A taxa de perda brasileira não retrata fielmente a situação 
atual devido ao fato de a maior parte das empresas de abastecimento não medirem 
suas perdas de maneira consistente (ABES, 2013). 
Dentro do país, há empresas muito eficazes no combate a perda, como é o 
caso da companhia estadual de abastecimento do Paraná (SANEPAR) com 21,1% 
de perdas e a companhia municipal de abastecimento da cidade de Pelotas 
(SANEP) com apenas 6,7% de perdas, segundo dados do Sistema Nacional de 
Informações sobre Saneamento (SNIS), de 2011 (ABES, 2013). 
 
Uso doméstico Uso industrial Uso na irrigação
18 
 
2.3. REÚSO DE ÁGUA 
 
 
A reciclagem ou reúso de água não é um conceito novo na história do nosso 
planeta. A natureza, por meio do ciclo hidrológico, vem reciclando e reutilizando a 
água há milhões de anos, e com muita eficiência (MANCUSO, 2003). 
Segundo Filho (1987), reúso de água pode ser definido como o 
aproveitamento de águas previamente utilizadas, uma ou mais vezes, em alguma 
atividade humana, para suprir as necessidades de outros usos benéficos, inclusive 
o original. Pode ser direto ou indireto, bem como decorrer de ações planejadas ou 
não planejadas. 
O Manual para Conservação e Reúso de Água da FIESP/CIESP identifica o 
reúso indireto, ou não planejado da água como prática antiga para abastecimento 
de cidades, lavouras e indústrias. A captação, por usuários de jusante, de águas 
que já foram utilizadas e devolvidas aos rios por usuários de montante caracteriza 
uma das formas de reúso indireto da água. 
A falta de tratamento adequado aos efluentes urbanos em algumas regiões 
fez com que este sistema de abastecimento fracassasse. As condições de poluição 
em que se encontram certos rios impossibilitam a reutilização de suas águas por 
outros usuários, o que gera conflitos entre usuários agrícolas e urbanos, e entre os 
setores de navegação, geração de energia e industrial (FIESP; CIESP, 2004). 
O Manual da FIESP/CIESP aponta ainda o uso de alternativas tecnológicas 
para reciclagem e reúso de efluentes industriais e urbanos como forma de reduzir 
os custos de produção nos setores hidrointensivos, além de promover a 
recuperação, preservação e conservação dos recursos hídricos e dos ecossistemas 
urbanos. 
Segundo Lira (2006), é importante ter em mente que antes de se pensar no 
reúso de efluentes da própria empresa, é preciso implantar medidas para a 
otimização do consumo e redução de perdas e desperdícios, além de programas 
de conscientização e treinamento. 
Os principais benefícios das práticas de conservação e reuso de água nas 
indústrias estão listados a seguir (FIESP; CIESP, 2004):19 
 
Benefícios ambientais: 
• Redução do lançamento de efluentes industriais em cursos d´água, 
possibilitando melhorar a qualidade das águas interiores das regiões mais 
industrializadas. 
• Redução da captação de águas superficiais e subterrâneas, possibilitando 
uma situação ecológica mais equilibrada. 
• Aumento da disponibilidade de água para usos mais exigentes, como 
abastecimento público, hospitalar, etc. 
 
Benefícios econômicos: 
• Conformidade ambiental em relação a padrões e normas ambientais 
estabelecidos, possibilitando melhor inserção dos produtos brasileiros nos 
mercados internacionais; 
• Mudanças nos padrões de produção e consumo; 
• Redução dos custos de produção; 
• Aumento da competitividade do setor; 
• Habilitação para receber incentivos e coeficientes redutores dos fatores da 
cobrança pelo uso da água. 
 
Benefícios sociais: 
• Ampliação da oportunidade de negócios para as empresas fornecedoras de 
serviços e equipamentos, e em toda a cadeia produtiva; 
• Ampliação na geração de empregos diretos e indiretos; 
• Melhoria da imagem do setor produtivo junto à sociedade, com 
reconhecimento de empresas socialmente responsáveis. 
 
 
2.3.1. Classificações para o reúso de água 
 
 
Segundo Mancuso (2003), o reúso da água pode ocorrer de forma direta ou 
indireta, por meio de ações planejadas ou não. 
20 
 
A Organização Mundial da Saúde ou World Health Organization (WHO), em 
documento publicado em 1973, criou algumas definições, que são adotadas até a 
atualidade. 
Algumas definições criadas pelo documento da WHO (1973) são: 
 Reúso indireto: ocorre quando a água já usada, uma ou mais vezes para 
uso doméstico ou industrial, é descarregada nas águas superficiais ou subterrâneas 
e utilizada novamente a jusante, de forma diluída; 
 Reúso direto: é o uso planejado e deliberado de esgotos tratados para certas 
finalidades como irrigação, uso industrial, recarga de aqüífero e água potável; 
 Reciclagem interna na planta: é o reúso da água internamente à instalações 
industriais, tendo como objetivo a economia de água e o controle da poluição. 
Westerhoff (1984) classifica reúso de água em duas grandes categorias: 
potável e não potável. Por sua praticidade e facilidade, essa classificação, foi 
adotada pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), 
seção São Paulo. 
O reúso potável pode ser direto ou indireto. 
Reúso potável direto: quando o esgoto recuperado, por meio de tratamento 
avançado, é diretamente reutilizado no sistema de água potável. 
Reúso potável indireto: caso em que o esgoto, após tratamento, é disposto na 
coleção de águas superficiais ou subterrâneas para diluição, purificação natural e 
subseqüente captação, tratamento e finalmente utilizado como água potável. 
O reúso não potável pode ter várias aplicações, dentre as mais importantes 
cita-se: fins agrícolas, fins industriais, fins domésticos, manutenção de vazões, 
aqüicultura, recarga de aqüíferos subterrâneos, entre outros. (MANCUSO, 2003). 
 
 
2.4. UTILIDADE DE ÁGUA NAS INDÚSTRIAS 
 
 
O ramo de atividade da indústria, que define as atividades desenvolvidas, 
determina as características de qualidade da água a ser utilizada, ressaltando-se 
que em uma mesma indústria podem ser utilizadas águas com diferentes níveis de 
qualidade. Por outro lado, o porte da indústria, que está relacionado com a sua 
21 
 
capacidade de produção, irá definir qual a quantidade de água necessária para 
cada uso (MANCUSO, 2003). 
Franco (2007) cita alguns outros fatores que influenciam a necessidade de 
água para o atendimento das diversas atividades industriais. Segundo o autor, 
também devem ser considerados: a capacidade produtiva, condições climáticas da 
região, disponibilidade de água, método de produção, idade das instalações, 
práticas operacionais, cultura da empresa, inovação tecnológica e investimentos 
em pesquisa. 
Usualmente, a demanda por água para aplicações industriais é suprida por 
meio da captação direta da rede pública de abastecimento, muitas vezes com 
qualidade inferior ou superior à qualidade desejada para algumas aplicações. Isto 
implica na necessidade de tratamentos prévios ou, por outro lado, no desperdício 
de água de boa qualidade com usos menos nobres (MANCUSO, 2003). 
A tabela 1 mostra as principais aplicações industriais para a água reciclada, 
relacionadas aos requisitos correspondentes para cada aplicação. 
 
Tabela 1 – Relação entre o grau de qualidade e as aplicações da água na indústria. 
Aplicações Requisitos 
Consumo humano: água utilizada em ambientes Água potável, atendendo às 
sanitários, vestiários, cozinhas e refeitórios, características estabelecidas pela Portaria 
bebedouros, equipamentos de segurança no 2914 -norma de qualidade da água 
(por exemplo , lava-olhos) ou em qualquer para consumo humano, de 12/12/2011, do 
atividade doméstica com contato humano direto. Ministério da Saúde. 
Matéria prima: água incorporada ao produto final O grau de qualidade da água pode 
(por exemplo, indústrias de fármacos, de variar significativamente, tendo-se como 
alimentos, de produtos de higiene pessoal e principal objetivo a proteção 
limpeza doméstica) ou água utilizada para da saúde dos consumidores finais 
obtenção de outros produtos (por exemplo o e/ou a garantia da qualidade final. 
hidrogênio por meio da eletrólise da água). 
 continua 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 continuação 
Aplicações Requisitos 
Fluido auxiliar: a água, como fluido auxiliar, pode O grau de qualidade da água irá depender 
ser utilizada em diversas atividades, destacando- do processo à que esta se destina. Caso 
se a preparação de suspensões e soluções essa água entre em contato com o produto 
químicas, compostos intermediários, reagentes final, o grau de qualidade será mais ou 
químicos, veículo ou ainda, para as operações de menos restritivo, em função do tipo 
lavagem. de produto que se deseja obter. Não 
havendo contato da água com o produto 
final, esta poderá apresentar um grau de 
 qualidade mais ou menos restritivo que o 
 da água para consumo humano, 
 principalmente com relação à 
 concentração residual de agentes 
 desinfetantes. 
Geração de energia: água pode ser utilizada No aproveitamento da energia potencial ou 
por meio da transformação da energia cinética, a água é utilizada no seu estado 
cinética, potencial ou térmica em energia natural, captada de um rio, lago ou outro 
mecânica e posteriormente em energia elétrica reservatório; materiais sólidos de 
 dimensões maiores, presentes na água, 
podem danificar os dispositivos de geração 
de energia. No aproveitamento da energia 
térmica, após aquecimento e vaporização 
da água, a mesma deve apresentar um 
elevado grau de qualidade, para que não 
ocorram problemas nos equipamentos de 
geração de vapor ou no dispositivo de 
conversão de energia. 
Fluido de aquecimento e/ou resfriamento: Para água na forma de vapor, o grau de 
qualidade deve ser bastante elevado; água 
como fluido de resfriamento requer um 
grau de qualidade bem menos restritivo, 
devendo-se levar em consideração a 
proteção e a vida útil dos equipamentos 
com os quais esta água irá entrar em 
contato. 
 continua 
 
 
 
23 
 
conclusão 
Aplicações Requisitos 
Usos diversos: 
Aproveitamento de água de chuva: Para uso humano, inclusive como 
água potável,deve sofrer filtração e 
cloração; para fins menos nobres, como 
irrigação de jardins ou 
lavagem de área externas, não necessita 
de tratamento avançado. 
Combate a incêndios 
Descarga de vasos sanitários 
Irrigação de áreas verdes 
Limpeza de instalações 
Recarga de aquíferos 
Sistema de ar condicionado 
 Adaptado de FIESP e CIESP, 2004. 
 
 
2.5. TÉCNICAS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS 
 
 
De acordo com FIESP/CIESP (2004), a coleta e tratamento dos efluentes 
industriais antes do lançamento final são exigidos pela legislação e tem como 
objetivo de diminuir o impacto sobre o meio ambiente, principalmente sobre os 
recursos hídricos. 
Ainda segundo FIESP/CIESP (2004, p. 88): 
 
[...] o tratamento de efluentes deve ser realizado por meio da utilização de operações e 
processos unitários, que sejam capazes de reduzir a concentração dos contaminantes 
presentes para níveis compatíveis com os padrões de emissão estabelecidos em 
normas ou a níveis adequados para formas de reúso subseqüentes.” 
 
A figura 3 esquematiza, de uma maneira geral, as principais técnicas de 
tratamento de efluentes industriais. 
 
 
 
24 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 3 – Fluxograma das principais técnicas de tratamento de efluentes. 
Fonte: Droste (1997). 
 
PROCESSOS FÍSICOS 
 
Os tratamentos físicos são caracterizados por fenômenos físicos que buscam 
remover ou transformar os poluentes de águas residuárias (MARTINS, 2011). São 
processos de separação de fases, transição de fases, transferência de fases e 
separação molecular. 
Segundo Martins (2011), os processos físicos utilizados no tratamento de 
efluentes industriais podem contribuir para a remoção de sólidos grosseiros, 
remoção de sólidos em suspensão, componentes mais voláteis, mas também 
servem para equalizar e homogeneizar um efluente. 
O autor cita alguns dispositivos envolvidos nas etapas físicas do tratamento 
de efluentes: grades de limpeza manual ou mecanizada, peneiras estáticas, 
vibratórias ou rotativas, caixas de areia simples ou aeradas, tanques de retenção 
de materiais flutuantes, decantadores, flotadores de ar dissolvido, leitos de 
secagem de lodo, filtros prensa e a vácuo, centrífugas, filtros de areia e adsorção 
em carvão ativado, dentre outros. 
 
PROCESSOS BIOLÓGICOS 
 
Os tratamentos biológicos utilizam microrganismos aeróbios e anaeróbios 
para decompor a matéria orgânica, sob a forma de sólidos dissolvidos e em 
suspensão, em compostos mais simples, como sais minerais, gás carbônico, água 
e outros. 
TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS 
BIOLÓGICO FÍSICO QUÍMICO 
Aeróbio Anaeróbio Decantação Filtração Incineração POA Eletroquímico 
Enzimático Adsorção Fotocatálise Ozonização Fenton 
25 
 
Alguns processos biológicos são: lodos ativados e suas variações, filtros 
biológicos anaeróbios ou aeróbios, lagoas aeradas, lagoas de estabilização 
facultativas e anaeróbias, digestores anaeróbios de fluxo ascendente. (MARTINS, 
2011). 
 
PROCESSOS QUÍMICOS 
 
Segundo Martins (2011, p. 29), os processos químicos são: 
 
[...] processos em que a utilização de produtos químicos é necessária para aumentar a 
eficiência da remoção de um elemento ou substância, modificar seu estado ou estrutura, 
ou simplesmente alterar suas características químicas. 
 
Os processos químicos são geralmente utilizados conjugados a processos 
físicos e algumas vezes a processos biológicos. Os principais processos químicos 
utilizados no tratamento de efluentes são: coagulação, floculação, precipitação 
química, oxidação, cloração (desinfecção), neutralização ou correção do pH 
(MARTINS, 2011). 
 
2.5.1. Classificação dos sistemas de tratamento de efluentes 
 
Conforme Braga et al.4 (2005), Santos5 (2007) e Dezotti et al.6(2008) apud 
Martins (2011), os sistemas de tratamento de efluentes podem ser classificados 
em: 
 Tratamento preliminar: remove sólidos grosseiros, detritos minerais (areia), 
materiais flutuantes e carreados e, por vezes, óleos e graxas. 
Unidades: grades, caixa de areia, e, eventualmente, tanques de remoção de 
óleos e graxas. (NUVOLARI et al., 2010). 
 
4 BRAGA, B. et al. Introdução à Engenharia Ambiental. v. 2. Ed. São Paulo: Pearson Prentice 
Hall, 2005. 
5 SANTOS, A. B. Avaliação técnica de sistemas de tratamento de esgotos. Fortaleza: Banco do 
Nordeste do Brasil, 2007. 206 p. 
6 DEZOTTI, M. (coord.). Processos e Técnicas para o Controle Ambiental de Efluentes 
Líquidos. Série Escola Piloto de Engenharia Química COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro: E-papers, 
2008. 360 p. 
26 
 
 Tratamento primário: remove sólidos sedimentáveis. As unidades de 
tratamento preliminar e primária, somadas, removem cerca de 60 a 70% de sólidos 
em suspensão, cerca de 20 a 45% da Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e 
30 a 40% de coliformes. 
Unidades: tanques de sedimentação primária ou clarificadores, unidade para 
digestão, secagem e disposição dos lodos. (NUVOLARI et al., 2010). 
 Tratamento secundário/biológico: remove matéria orgânica biodegradável 
contida nos sólidos dissolvidos, ou finamente particulados e, eventualmente, 
remove nutrientes (nitrogênio e fósforo) através de processos biológicos aeróbios 
(oxidação) ou anaeróbios seguidos da sedimentação final (secundária). A unidade 
de tratamento secundário remove cerca de 60 a 99% da DBO remanescente, 60 a 
99% dos coliformes e 10 a 50% dos nutrientes. 
Unidades de tratamento biológico: Lodos ativados e lagoas de estabilização, 
filtros biológicos, reatores anaeróbios de fluxo ascendente (RAFA), filtros 
anaeróbios de fluxo ascendente (FAFA) e outros. 
Os processos anaeróbios produzem menor quantidade de lodo que os 
processos aeróbios. (NUVOLARI et al., 2010). 
 Tratamento terciário/avançado: remoção complementar da matéria orgânica 
e de compostos não biodegradáveis, de nutrientes, poluentes tóxicos e/ou 
específicos, metais pesados, sólidos inorgânicos dissolvidos, sólidos em 
suspensão remanescentes e organismos patogênicos através de unidades de 
tratamento físico-químico. 
Os poluentes a serem removidos pelo tratamento avançado de efluentes 
podem ser agrupados em quatro categorias: (1) orgânicos residuais, colóides 
inorgânicos e sólidos suspensos, (2) constituintes orgânicos dissolvidos, (3) 
constituintes inorgânicos dissolvidos e (4) constituintes biológicos. 
Algumas técnicas utilizadas no tratamento terciário são: osmose reversa, 
troca iônica, eletrodiálise, evaporação, microfiltração, ultrafiltração, nanofiltração, 
ozonização, clarificação, carvão ativado, stripping, desinfecção e outros. 
(NUVOLARI et al., 2010). 
 
 
 
27 
 
A tabela 2 lista algumas operações e processos unitários utilizados nas etapas 
do tratamento de águas e efluentes: 
 
Tabela 2 – Processos e operações unitárias usadas em tratamento de águas. 
Processo Descrição Aplicação 
 Sedimentação Sedimentação gravimétrica Remoção de partículas de 
 de partículas de matéria, águas túrbidas maiores 
 flóculos químicos e que 30 µm. 
 precipitados de suspensão. 
 Filtração Remoção de partículas Frequentemente usado 
 pela passagem de água após a sedimentação 
 através de areia ou outros ou coagulação - 
 poros médios. floculação. 
 
 
Tratamento Oxidação de substâncias Remoção de matéria 
 biológico orgânicas por microrganismos orgânica dissolvida e 
 aeróbio em um tanque de aeração da água servida. 
 ou em um processo de 
biofilme. 
 Tanque de Tanque com 1,00 m deRedução dos sólidos suspensos, 
 oxidação profundidade para mistura e DBO, bactérias patogênicas e 
 e penetração da luz solar. amônia. 
 Remoção de Combinação de processos Redução do conteúdo de 
 nutrientes aeróbios, anóxidos e nutrientes da água exigida. 
 anaeróbios para otimizar a 
 conversão de orgânicos, e 
 remoção de fósforo e 
 nitrogênio. 
 Tanque de O sistema consiste de Redução dos sólidos suspensos, 
 estabilização tanques anaeróbio, DBO, bactérias patogênicas e 
 de água facultativo e de maturação amônia da água servida. 
 ligados em série para Instalações para reúso da água 
 aumentar o tempo de na irrigação e aquicultura. 
 retenção. 
 continua 
 
 
 
 
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28 
 
 continuação 
Processo Descrição Aplicação 
Desinfecção Inativação de organismos Remoção de organismos 
 patogênicos usando patogênicos. 
 oxidação química, 
 luz ultravioleta, produtos 
 cáusticos, calor ou processos 
 de separação física 
(membranas). 
 
 Carvão Processo no qual os Remoção de compostos 
 ativado contaminantes são orgânicos hidrofóbicos. 
] fisicamente adsorvidos na 
 superfície do carvão ativado. 
Corrente de ar Transferência de amônia Remoção de amônia e de 
 e outros componentes orgânicos voláteis da água. 
 voláteis da água para o ar. 
Troca iônica Troca de íons entre uma Remoção efetiva de cátions 
 resina e a água, usando um como cálcio, magnésio, 
 fluxo através de um reator. ferro, amônio e ânions 
 como nitrato. 
Coagulação Uso de sais de alumínio ou Formação de precipitados 
 química e de ferro, polieletrólitos e/ou de fosfato e floculação de 
 precipitação ozônio para promover a partículas para remoção 
 desestabilização das pela sedimentação e 
 partículas coloidais da filtração. 
 água e precipitação de 
 fosfato. 
Filtração por Microfiltração, nanofiltração Remoção de partículas e 
 membrana e ultrafiltração. microrganismos da água. 
Osmose Sistema de membranas para Remoção de sais e 
 Reversa separar íons da solução minerais dissolvidos da 
 baseada na pressão solução e remoção efetiva 
 osmótica reversa diferencial. de patogênicos. 
 Processos Consistem na produção de Oxidação de compostos 
 Oxidativos intermediários altamente orgânicos, inorgânicos 
 Avançados reativos capazes de oxidar dissolvidos e poluentes 
 grande gama de poluentes. tóxicos ou refratários ao 
 tratamento biológico. 
 continua 
T
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o
 
29 
 
 conclusão 
Processo Descrição Aplicação 
Tratamento O uso de cal para precipitar Usado para reduzir 
com cal cátions e metais da solução. problemas de incrustação 
 pela precipitação de 
 fosfato e modificar o pH. 
Fonte: Adaptado de Asano (1998) apud Costa e Barros Júnior (2005). 
 
 
2.5.2. Processos Oxidativos Avançados 
 
 
Os Processos Oxidativos Avançados (POA’s) caracterizam-se por reações 
em que são formados radicais altamente reativos, principalmente a hidroxila 
(-OH), capazes de oxidar a maioria dos compostos orgânicos presentes no efluente, 
tanto na fase aquosa, como na fase gasosa ou adsorvidos numa matriz sólida 
(MARTINS, 2011). 
 Segundo Lira (2006), a produção dos radicais hidroxila pode ocorrer de 
diversas formas, através de reações envolvendo oxidantes fortes, como ozônio 
(O3), peróxido de hidrogênio (H2O2), ou semicondutores, como dióxido de titânio e 
óxido de zinco. 
 Um grande número de métodos pode ser classificado sob a ampla definição 
de POA (STASINAKIS7, 2008 apud MARTINS, 2011). Para Martins (2011), os 
sistemas de POA mais utilizados para o tratamento de águas residuais são os 
sistemas utilizando dióxido de titânio na presença de radiação ultravioleta 
(TiO2/UV), peróxido de hidrogênio na presença de radiação ultravioleta (H2O2/UV) 
e os chamados reagentes de Fenton. 
 - Sistema TiO2/UV: sistema de tratamento em que a espécie semicondutora 
é utilizada para destruir os contaminantes ambientais por meio de reações redox 
induzidas pela luz. Estas reações geram bandas de elétrons de condução e sítios 
nas bandas de valência pela radiação UV nos materiais semicondutores, como o 
TiO2. Neste processo, a formação e disponibilidade de íons hidroxila pode ser 
maximizada utilizando-se outros agentes oxidantes como H2O2 e O3. 
 A matriz UV/TiO2 é um sistema de POA que já se encontra disponível 
comercialmente para o tratamento de água e ar contaminados (MARTINS, 2011). 
30 
 
 - Sistema H2O2/UV: sistema de POA em que o íon hidroxila é gerado a partir 
da fotólise de um agente oxidante convencional, como o peróxido de hidrogênio ou 
ozônio. Este processo e algumas de suas variações também estão disponíveis 
comercialmente. (MARTINS, 2011). 
Lira (2006), lista algumas vantagens e desvantagens do sistema H2O2/UV: 
Vantagens do sistema UV/H2O2: 
1) Fácil manuseio; 
2) Baixo custo do oxidante (H2O2); 
3) Alta solubilidade do oxidante em água; 
4) Possibilidade de estoque do oxidante no local; 
5) Emprego de reatores simples (baixas pressões e temperaturas); 
6) Não necessita de unidades de separação, pois não produz lodo; 
7) Mais viável economicamente que outras tecnologias. 
Desvantagens do sistema UV/H2O2: 
1) Baixo coeficiente de absorção do H2O2; 
2) Faixa muito restrita de comprimento de onda para a máxima produção 
de radicais hidroxila (254 nm); 
3) Competição entre o H2O2 e outras espécies que absorvem radiação 
UV; 
4) Necessidade de uma etapa prévia de filtração para a remoção de 
sólidos suspensos que impedem a chegada da radiação UV ao H2O2. 
 - Sistema Foto-Fenton: sistema de tratamento em que ocorre a 
decomposição do agente oxidante (H2O2) na presença dos íons Fe2+ ou Fe3+ sob 
condições ácidas e radiação UV para geração do íon hidroxila. As taxas de remoção 
de componentes orgânicos pelo processo Fenton podem ser melhoradas 
consideravelmente se o comprimento de onda da fonte luminosa de radiação UV 
for próximo da luz visível. (MARTINS, 2011). 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
2.6. LEGISLAÇÃO PARA REÚSO DE ÁGUA 
 
 
2.6.1. No Brasil 
 
 
A falta de normas técnicas e legislação específica sobre reúso de água ainda 
é um problema no Brasil. O que existe é uma vasta legislação ambiental com temas 
voltados à preservação dos recursos naturais, entre eles, os recursos hídricos 
(ABES, 2013). 
A Constituição Federal, de 1988, trata no artigo 225 da preservação do meio 
ambiente como forma de garantir qualidade de vida à população, define direitos e 
deveres do poder público e da coletividade para assegurar a diversidade do 
patrimônio genético do país (BRASIL, 1988). 
A Lei 9433, de 1997, institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e trata 
a água como recurso limitado, dotado de valor econômico. Estabelece como 
prioridade para seu uso o consumo humano e descentraliza a gestão dos recursos 
hídricos entre os comitês das bacias hidrográficas e a União. Cria o Conselho 
Nacionalde Recursos Hídricos e regulamenta a cobrança pelo uso dos recursos 
hídricos sujeitos a outorga e dá outras providências (BRASIL, 1997). 
A Política Nacional de Recursos Hídricos tem como instrumento de gestão a 
cobrança pelo uso da água, com o objetivo de dar ao usuário a idéia do real valor 
deste bem, promover o seu uso racional e captar recursos para a preservação das 
bacias hidrográficas brasileiras. A cobrança é responsabilidade dos comitês das 
bacias hidrográficas e o primeiro comitê a cobrar pelo uso da água foi o Comitê de 
Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (CEIVAP), em 2003, 
seguido do Comitê das Bacias Hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí 
(Comitê PCJ), no ano de 2006 (ANA, 2014). 
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) instituiu a norma NBR 
ABNT 13969, de 1997, relativa ao tratamento de efluentes líquidos que abrange 
todo o território nacional. A norma não é específica para o reúso de água, mas 
dedica um item à utilização de esgoto tratado como forma de reúso não potável e 
cita quatro classificações para a água de reúso, assim como identifica os 
tratamentos adequados à cada classe de água (ABNT, 1997). 
32 
 
As classes de água de reúso segundo a ABNT NBR 13969/1997 e as técnicas 
de tratamento encontram-se relacionadas na Tabela 3. 
 
Tabela 3 – Classes de água de reúso segundo a ABNT NBR 13969/1997. 
Classe de água Utilização Tratamento adequado 
Classe 1 Lavagem de carros e outros Tratamento aeróbio (filtro aeróbio submerso ou 
 usos que requerem o contato lodo ativado por batelada, seguido por 
 direto do usuário com a água, filtração convencional ( areia e carvão ativado) 
 incluindo chafarizes. e, finalmente, cloração. 
Classe 2 Lavagem de pisos, calçadas e Tratamento biológico aeróbio (filtro aeróbio 
 irrigação de jardins, manutenção submerso ou lodo ativado por batelada), 
 de lagos e canais para fins seguido de filtração com areia e desinfecção. 
 paisagísticos, exceto chafarizes. Pode-se substituir a filtração normal por 
 membrana filtrante. 
Classe 3 Descargas de vasos sanitários. Tratamento aeróbio, filtração e desinfecção. 
Classe 4 Irrigação de pomares, pastagens Tratamento aeróbio, filtração e desinfecção. 
 e outros cultivos por escoamento As aplicações devem ser interrompidas até 
superficial ou sistema de irrigação dez dias antes da colheita. 
pontual. 
Fonte: ABNT NBR 13969 (1997). 
 
É relevante saber que a NBR ABNT 13969 não tem poder de lei e serve 
apenas como referência bibliográfica, não podendo, portanto, ser utilizada como 
documento regulatório da prática de reúso de água no Brasil. 
A Lei 9605, de 1998, estabelece penalidades para diferentes crimes 
ambientais. O artigo 54 da Lei 9605 trata do crime de poluição ambiental e prevê 
pena de reclusão de um a cinco anos para quem causar poluição de qualquer 
natureza em níveis tais que possam causar danos à saúde humana, mortandade 
de animais ou destruição da flora ou, no caso da poluição de recursos hídricos, que 
culminem na interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade 
(BRASIL, 1998). 
A Lei 9984, de 2000, cria a Agência Nacional de Águas (ANA), autarquia 
especial vinculada ao Ministério do Meio Ambiente. Entre as competências da ANA 
estão a outorga de direito ao uso de recursos hídricos de domínio da união, a 
cobrança pelo uso deste recurso e a distribuição e aplicação das receitas auferidas 
com a cobrança do mesmo (BRASIL, 2000). 
A Resolução no 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), 
publicada em Março de 2005, lista a classificação dos corpos de água e estabelece 
as condições e padrões de lançamento de efluentes. 
33 
 
Os corpos de água são, primeiramente, divididos entre corpos de água doce, 
corpos de água salina e corpos de água salobra, de acordo com sua salinidade. 
Entre os corpos de água doce, são identificadas 5 classes: classe especial, classes 
1,2,3 e 4 (BRASIL, 2005). 
Segundo Brasil (2005), as água doces podem ser classificadas em: 
 
I - Classe especial: águas que são destinadas: 
a) Ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção; 
b) À preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; 
c) À preservação dos ambientes aquáticos em unidades de proteção integral. 
 
II - Classe 1: águas que podem ser destinadas: 
a) Ao abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado; 
b) À proteção das comunidades aquáticas; 
c) À recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e 
mergulho; 
d) À irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se 
desenvolvem rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película; 
e) À proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas. 
Algumas condições estabelecidas pela Resolução 357 para as águas de 
Classe 1 são: 
 Não verificação de efeito tóxico crônico a organismos, comprovado pela 
realização de ensaio ecotoxicológico padronizado ou outro método cientificamente 
reconhecido; 
 Ausência virtual de materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais; 
 Ausência virtual de óleos e graxas; 
 Ausência virtual de substâncias que comuniquem gosto ou odor; 
 Ausência virtual de corantes provenientes de fontes antrópicas; 
 Ausência virtual de resíduos sólidos objetáveis; 
 DBO5,20 até 3 mg/L O2; 
 OD, em qualquer amostra, não inferior a 6 mg/L O2; 
 pH: 6,0 a 9,0; 
34 
 
 E outras condições como presença de organismos indicadores (coliformes 
termotolerantes e Escherichia coli), cor e turbidez. 
 
III - Classe 2: águas que podem ser destinadas: 
a) Ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional; 
b) À proteção das comunidades aquáticas; 
c) À recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e 
mergulho; 
d) À irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de 
esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto; 
e) À aquicultura e atividade de pesca. 
As condições estabelecidas pela Resolução 357 para as águas de Classe 2 
são as mesmas para as águas de Classe 1, à exceção do seguinte: 
 Não será permitida a presença de corantes provenientes de fontes 
antrópicas que não sejam removíveis por processo de coagulação, sedimentação 
e filtração convencionais; 
 DBO5,20 até 5 mg/L O2; 
 OD, em qualquer amostra, não inferior a 5 mg/L O2; 
 E outras condições como presença de organismos indicadores (inclusive 
cianobactérias), concentração máxima de clorofila α, cor, turbidez e concentração 
máxima de fósforo total. 
 
IV – Classe 3: águas que podem ser destinadas: 
a) Ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou 
avançado; 
b) À irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras; 
c) À pesca amadora; 
d) À recreação de contato secundário; 
e) À dessedentação de animais. 
As condições estabelecidas pela Resolução 357 para as águas de Classe 3 
são as mesmas para as águas de Classe 2, à exceção do seguinte: 
 DBO5,20 até 10 mg/L O2; 
 OD, em qualquer amostra, não inferior a 4 mg/L O2; 
35 
 
 E outras condições como presença de organismos indicadores (inclusive 
cianobactérias), cor e turbidez. 
 
V – Classe 4: águas que podem ser destinadas: 
a) À navegação; 
b) À harmonia paisagística; 
As condições estabelecidas pela Resolução 357 para as águas de Classe 4 
são: 
 Materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes; 
 Odor e aspecto: não objetáveis; 
 Óleos e graxas: toleram-se iridescências; 
 Substâncias facilmente sedimentáveis que contribuam para o assoreamento 
decanais de navegação: virtualmente ausentes; 
 Fenóis totais até 1,0 mg/L de C6H5OH; 
 OD superior a 2 mg/L O2 em qualquer amostra; 
 pH entre 6,0 e 9,0. 
 
A Resolução no 54 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), 
publicada em 2006, estabelece diretrizes e critérios gerais para regulamentar e 
estimular a prática do reúso direto não potável de água para fins agrícolas, 
industriais, ambientais e urbanos, porém não estabelece critérios de qualidade 
requeridos para cada tipo de uso da água tratada (BRASIL, 2006). 
Existem ainda leis estaduais, resoluções municipais e uma norma da ABNT, 
a ABNT NBR 15527, de 2007, voltadas ao tema de reúso de água, porém, nenhuma 
apresenta orientações técnicas para a sua aplicação. 
Há um esforço no sentido de adaptar a ABNT NBR 15527 de acordo com 
algumas normas internacionais europeias, com a ressalva do atraso tecnológico 
dos processos de tratamento, que não garantem padrões de qualidade tão 
elevados quanto os dos países europeus (ABES, 2013). 
Os recursos hídricos utilizados no setor hidrelétrico brasileiro são passíveis de 
cobrança, segundo o Decreto no 7.402/2010 e os recursos captados são destinados 
ao Ministério do Meio Ambiente para as despesas que constituem obrigações legais 
36 
 
referentes à Política Nacional de Recursos Hídricos e ao Sistema Nacional de 
Gerenciamento de Recursos Hídricos. 
São cobrados os usos de captação, consumo e lançamento de efluentes de 
usuários sujeitos à Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos com captação 
superior à 1,0L/s (ANA, 2014). 
 
 
2.6.2. Em outros países 
 
 
A importância das normas que regulamentam o reúso de água já foi 
percebida pelos países desenvolvidos há muito tempo. Devido às tecnologias mais 
avançadas existentes nos processos de tratamento de água, é possível encontrar 
programas de reúso de água, no qual a água tratada tem qualidade igual ou 
superior à água potável adequada ao consumo humano no Brasil. 
A Austrália já utiliza a água da chuva, após tratamento, para fins potáveis e 
o estado da Califórnia, nos EUA, tem normas específicas para reúso de água na 
agricultura, nas quais alguns parâmetros são mais restritivos do que os padrões 
estabelecidos para a potabilidade da água no Brasil. 
A primeira legislação voltada ao tema reúso de água foi conseqüência da 
Revolução Industrial e do aumento da demanda de recursos hídricos. A Inglaterra 
propôs, em 1865, o tratamento de esgoto gerado para evitar a poluição dos rios. 
A Agência de Proteção Ambiental americana (EPA) fez um levantamento do 
número de estados ou territórios que tem algum tipo de regulamento ou manual que 
aborde o tema reúso de água, em suas diferentes categorias. Segundo os dados 
levantados e publicados em 2012, não havia, até então, estados com legislação 
prevendo o reúso direto de água potável. 
A tabela 4 mostra a relação entre a categoria de reúso e o número de estados 
ou territórios em que existe legislação específica aplicada à categoria. 
 
 
 
 
 
37 
 
Tabela 4 - Categorias de reúso de água abordados pela legislação dos territórios dos EUA. 
Categoria de reúso Descrição Número de estados 
ou territórios com leis, 
regulamentos ou guias 
que abordam a categoria 
de reúso. 
 Irrestrito Reúso de água em 
 aplicações não potáveis 32 
onde o acesso do público 
 à água é irrestrito. 
Restrito Reúso de água em 
 aplicações não potáveis 40 
 onde o acesso do público 
 à água é restrito. 
 Plantio de Reúso de água para irrigar 
Alimentos o plantio de alimentos para 27 
 consumo humano. 
 Plantio de Reúso de água para irrigar 
 alimentos alimentos que serão 
 que serão processados antes do 43 
 processados consumo humano ou 
e plantio de plantio de outras culturas. 
 outras culturas 
 Irrestrito Reúso da água em 
 represas, onde há contato 
 humano com a água para 
atividades de recreação 
Res (nesta categoria pode-se 13 
 incluir a água usada para 
 fazer neve em parques 
 onde há a prática de esqui). 
Restrito Reúso da água em represas, 
 onde não há contato humano 
 com a água (locais para pesca 17 
 navegação podem ser incluídos 
 nesta categoria). 
 
 
 
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 continuação 
Categoria de reúso Descrição Número de estados 
ou territórios com leis, 
regulamentos ou guias 
que abordam a categoria 
de reúso. 
 Reúso de água para aumentar, 
 sustentar ou manter a vazão de 
 corpos d’água, incluindo rios 17 
e córregos e preservar os 
habitats marinhos, 
 mangues e mananciais. 
 Reúso de água para aplicações 
 industriais e facilidades, produção 31 
 de energia e extração de 
 combustíveis fósseis. 
 
 Reúso não potável de água para 
 recarga de aqüíferos que não 16 
são usados como fonte de 
água potável. 
 
 
 
Indireto Água é despejada em fontes 
de água potável (superficial 
ou subterrânea) e participa do 
ciclo hidrológico antes de 9 
ser tratada e considerada 
própria para consumo humano. 
 Direto Água é despejada diretamente 
 em uma planta de tratamento 0 
 de água para tratamento avançado. 
Adaptado de EPA, 2012. 
 
 
 
 
 
 
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39 
 
2.7. PADRÕES DE QUALIDADE DA ÁGUA 
 
 
A classificação da água em determinados padrões só é possível após o 
conhecimento dos valores encontrados na medição de cada parâmetro 
característico da água. 
Os parâmetros de qualidade são grandezas que indicam as características da 
água, ou dos esgotos, ou dos corpos d’água. Podem ser parâmetros físicos, 
químicos ou biológicos. 
Alguns parâmetros físicos são: cor, turbidez, sabor, odor e temperatura. 
Alguns parâmetros químicos são: pH, alcalinidade, dureza, acidez, ferro, 
cloretos, oxigênio dissolvido, micropoluentes inorgânicos, matéria orgânica, entre 
outros. 
Alguns parâmetros biológicos são: organismos indicadores (coliformes 
fecais), algas, entre outros. 
O padrão de qualidade constitui um valor do parâmetro que não deverá ser 
excedido em um determinado intervalo de tempo. Para atestar este padrão, as 
companhias de abastecimento realizam análises na água tratada com freqüência 
estabelecida pela Portaria 2914 do Ministério da Saúde, que estabelece o padrão 
de potabilidade da água. 
 A tabela 5 indica os valores de alguns parâmetros físicos, químicos e 
biológicos para o padrão de qualidade da água potável, de acordo com a Portaria 
2914/MS. 
Tabela 5 – Alguns padrões de qualidade para a água potável no Brasil. 
Parâmetro Unidade Valores Máximos Permitidos 
Cor aparente uH 15 
Turbidez uT 5 
Sabor e odor Intensidade 6 
pH 6,0<pH<9,5(1) 
Dureza total mg/L 500 
Ferro mg/L 0,3 
Cloreto mg/L 250 
Escherichia coli Ausência em 100mL(2) 
Coliformes totais Ausência em 100 mL(2) 
Adaptado de Brasil, 2011. 
 
40 
 
Notas: 
(1) No sistema de distribuição 
(2) Em95% das amostras analisadas no mês, para sistemas de distribuição que 
abastecem mais de 20.000 habitantes. 
 
 
2.8. ALTERNATIVAS PARA TERCEIRIZAÇÃO 
 
 
2.8.1. Sistema Build Operate and Transfer (BOT) 
 
 
Tendo em vista fatores como a disponibilidade de água de qualidade e os 
custos com captação e tratamento de água industrial em regiões muito 
urbanizadas, empresas privadas têm oferecido serviços de instalação e operação 
de estações de tratamento em plantas industriais de acordo com um sistema 
denominado BOT (build, operate and transfer). 
Neste tipo de contrato, a empresa interessada no tratamento de água para 
uso industrial, no tratamento de seus efluentes ou ambos, contrata os serviços de 
uma terceirizada, que projeta uma estação de tratamento adequada às 
necessidades do cliente e a opera por tempo determinado, após o qual, a estação 
fica sob a responsabilidade do cliente. Os contratos variam de 5 a 20 anos e durante 
o período de vigência, o cliente paga apenas pelo fornecimento da água tratada, 
assim como pagaria para uma companhia de abastecimento. 
Muitas indústrias de grande porte já aderiram a este tipo de parceria, quer 
seja por motivos econômicos, consciência ambiental ou mesmo pelo risco de falta 
de água para a região em que se localiza. 
Alguns exemplos de empresas que adotaram o sistema BOT são: 
- Braskem de São Paulo, unidade de especialidades de PVC. As operações 
nas estações de reúso tiveram início em 2007 e passaram a fornecer entre 3000 e 
3500 m3 de água tratada por mês, reduzindo o consumo de água da empresa 
concessionária em 85%. O projeto contou ainda com modernas tecnologias de 
tratamento para reduzir pela metade o volume do efluente gerado na unidade, o 
41 
 
que resultou na economia anual de R$ 300.000,00 com tratamento de esgoto pela 
companhia de coleta e tratamento responsável pela região. (BRASKEM). 
- Vicunha Nordeste, indústria têxtil localizada em Maracanaú, Ceará. 
Contrato para fornecimento de água tratada por 5 estações de tratamento, que 
produziam, em 2000, 150 mil m3/mês e mais uma estação para tratamento de 
efluente com reúso, produzindo mais 50 mil m3/mês, cerca de 70% de recuperação 
dos rejeitos. 
- Bayer de Belfort Roxo, Rio de Janeiro. A água passou a ser captada do 
poluído rio Sarapuí e tratada nas ETEs para posterior uso industrial. O projeto 
reduziu em 80% a compra de água da companhia de saneamento da região, o que 
significou maior disponibilidade para a distribuição de água potável para a 
comunidade local. Houve ainda, redução de 30% no valor da conta de água da 
empresa. (FURTADO). 
 
 
2.8.2. Sistema Build, Operate and Maintain (BOM) 
 
 
Outra modalidade de contrato foi gerada a partir da experiência com o 
sistema BOT, o sistema BOM (build, operate and maintain). Neste último, após a 
vigência do contrato, a empresa cliente adquire os ativos da estação de tratamento, 
porém delega a responsabilidade por sua operação para a empresa contratada. 
A adoção do novo sistema de negócio surgiu após a prorrogação de 
inúmeros contratos do tipo BOT. Os clientes passaram a se concentrar na produção 
e deixaram as utilidades nas mãos dos especialistas, que afirmam que o custo de 
água é reduzido, no mínimo, pela metade. 
Além de oferecer o fornecimento de água tratada, existem outras 
modalidades de terceirização no tratamento de águas e efluentes, como é o caso 
do aluguel de unidades móveis de osmose reversa e de um sistema móvel 
avançado de clarificação. 
 
 
 
 
42 
 
3. DESENVOLVIMENTO 
 
 
3.1. SISTEMAS DE REÚSO DE ÁGUA: ESTUDO DE CASOS DA 
LITERATURA 
 
 
A presente seção apresenta três casos da literatura que relatam experiências 
realizadas na indústria química brasileira, mostrando alternativas técnicas que 
atestam a viabilidade técnica, financeira e operacional desta prática. 
 
 
3.1.1. Estação de Tratamento de Efluentes da SABESP 
 
A Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Dr. João Pedro de Jesus Netto, da 
SABESP, foi inaugurada em 1934 como estação experimental, fica localizada no 
bairro do Ipiranga, São Paulo, junto à margem do rio Tamanduateí. 
É possível encontrar na área dessa ETE vários processos operando em 
paralelo e em série, utilizando soluções e materiais muitas vezes inovadores. 
A Estação de Tratamento de Água (ETA) de reúso fica localizada na mesma 
área que abriga a ETE Jesus Netto. Constitui-se de um tanque de desinfecção e 
reservatório de água de reúso que estão junto aos filtros biológicos, e já se 
encontram em operação quatro filtros para o polimentos desde efluente. 
Esta ETA de reúso fornece à Coats Corrente uma vazão média mensal de 
água de reúso da ordem de 54.500m3/mês entre 2006 e 2009, através de tubulação 
de recalque. (NUVOLARI, 2010). 
A ETE trata esgotos sanitários por meio de dois sistemas de tratamento que 
operam em paralelo, o primeiro por lodos ativados e o segundo por reator anaeróbio 
de fluxo ascendente (RAFA), seguido de filtro biológico, conforme figura 4. 
 
 
43 
 
 
Figura 4 - Fluxograma do sistema de tratamento na ETE Jesus Netto 
Fonte: MANCUSO; SANTOS, 2003. 
O presente estudo refere-se ao fornecimento de água proveniente da ETE 
Jesus Netto para a indústria Coats Corrente, que está inserida no programa de 
Reúso de Água da SABESP. 
Após a adesão ao programa de reúso da SABESP, a indústria passou a 
consumir água proveniente do tratamento de esgotos na ETE Jesus Netto para: 
 beneficiamento de fios; 
 mercerização; 
 alvejamento; 
 tingimento; 
 lavagem de fios. 
O programa de reúso da SABESP foi uma iniciativa pioneira e teve início em 
Agosto de 1998 de acordo com os seguintes critérios de fornecimento: 
Volume mensal de água tratada: 20.000 m3 
Vigência do contrato: 3 anos, renováveis a seu término 
Preço inicial: R$ 0,46/m3 
Critério de reajuste: proporcional à tarifa da SABESP 
44 
 
A água fornecida para a empresa Coats Corrente pela SABESP passa por 
tratamento preliminar para retirada de grande parte dos sólidos não dissolvidos. O 
efluente passa por grades de 1cm e são removidos 200m3/mês de sólidos 
grosseiros. Logo após, o material sedimentado é separado do efluente após a 
passagem do mesmo por duas caixas de areia. 
 Tratamento primário: 
Decantador: O efluente fica 2,5 horas sob repouso para que ocorra a 
separação por gravidade dos sólidos presentes. O lodo de fundo é retirado por meio 
de descarga hidráulica e encaminhado ao adensador. Nesta etapa é removido 
cerca de 50% dos sólidos em suspensão e 30 a 35% de DBO5,20. 
 Tratamento secundário: 
É dividido em dois processos diferentes que operam em paralelo: 
Processo 1 – Lodos ativados 
Tratamento biológico onde a carga orgânica é metabolizada por 
microrganismos aeróbios. A estação conta com três unidades de 209 m3 que podem 
operar em série ou em paralelo. A aeração é feita por meio de ar difuso. Neste tipo 
de tratamento, 96% da DBO afluente é removida. 
Processo 2 – Reator anaeróbio de fluxo ascendente (RAFA), aeração e filtro 
biológico, com desnitrificação 
Tratamento biológico com microrganismos anaeróbios em reator RAFA, 
seguido de desnitrificação em tanque anóxico com aerador e filtro biológico de alta 
taxa. A taxa de recirculação no tanque anóxico é de 50%. 
 Tratamento físico e químico: 
 O efluente do tratamento secundário é tratado com polímeros e cloro e segue 
para os tanques de desinfecção e sedimentação, de onde é direcionado para o uso 
industrial da Coats Corrente. 
 Tratamento dos sólidos: 
Todo o lodo gerado nos tratamentos anteriores são adensados e tratados no 
digestor. 
Aspectos técnicos: A viabilidade técnicafoi conseguida graças ao rearranjo 
das unidades existentes na estação de tratamento. 
A qualidade da água tratada adequada ao uso industrial pela Coats Corrente 
foi definida pelos seguintes parâmetros: alcalinidade total, alumínio, cloretos, 
condutividade, turbidez, cor, detergentes (MBAS), dureza total, ferro total, fósforo 
45 
 
total, manganês, nitratos, nitrogênio amoniacal, nitrogênio total Kjeldhal, sílica, 
sulfatos, sulfetos, temperatura, zinco, NMP coliformes fecais e totais, demanda 
química de oxigênio (DQO), pH, sólidos dissolvidos totais, sólidos suspensos totais, 
entre outros. 
Destes parâmetros, três não atenderam aos padrões exigidos para o uso: 
detergentes (MBAS), nitrogênio amoniacal, sólidos dissolvidos totais e sólidos 
suspensos totais. Como alternativas para correção destes parâmetros sugeriu-se a 
instalação de filtros ao final do processo, maior tempo de recirculação do efluente 
do filtro biológico e automação de algumas fases do processo. 
O fornecimento de água para a Coats Corrente foi ampliado de forma a 
atender outras linhas de produção, como a de fio branco, por exemplo e outras 
atividades industriais. 
Por fim, constatou-se a viabilidade técnica do empreendimento através do 
compromisso do fornecimento contínuo de água tratada para a indústria Coats 
Corrente e para outros clientes externos. 
Por seu caráter pioneiro, foi necessário para este projeto, investimento da 
SABESP e da Coats Corrente para adequar as instalações a fim de fornecer a água 
nas condições estabelecidas, porém estes custos não necessariamente se 
repetirão em instalações futuras. 
O custo do fornecimento de água tratada foi calculado levando-se em 
consideração os custos médios entre o mês de Janeiro e o mês de Novembro de 
2000. Durante este ano, o custo do m3 de água de reúso na ETE Jesus Netto foi de 
US$ 1,47 e o mesmo foi vendido por US$ 0,52. 
Atualmente, a Coats Corrente mantém contrato em vigência para o 
fornecimento de água de reúso da ETE Jesus Netto a um custo de R$ 1,22/m3 de 
água industrial fornecida. O sistema de tratamento constitui-se de dois tratamentos 
biológicos operando em paralelo: lodos ativados com tempo de residência entre 10 
e 11 horas e RAFA com tempo de residência entre 12 e 15 horas. 
Algumas alterações foram feitas nos sistemas de tratamento ao longo do 
tempo e de acordo com a exigência de qualidade para a água fornecida para as 
linhas de produção da Coats Corrente. Foi adotado o sistema Moving Bed Biofilm 
Reactor (MBBR) para otimizar o tratamento biológico, assim como filtros de 
cartucho 10 micras para reter impurezas de menor tamanho, a etapa de filtração 
ganhou novo agente filtrante, antracite e algumas etapas do processo foram 
46 
 
automatizadas. (Informações cedidas pelo Eng. Héctor Munoz da SABESP, via e-
mail). 
 
 
3.1.2. Indústria de aromas e essências por Max Joel Mucha Franco. 
 
 
A implementação de práticas de reúso de água na indústria alimentícia, como 
é o caso da indústria de aromas e essências, é um grande desafio em termos de 
conhecimento, experiência e documentação. Há diversos aspectos relacionados à 
segurança microbiológica da água de reúso na indústria alimentícia. 
A qualidade microbiológica da água utilizada neste tipo de indústria deve ser 
monitorada o tempo todo, sendo imprescindível o uso de uma análise de perigos e 
pontos críticos de controle (APPCC), uma ferramenta de gerenciamento de 
segurança sistemática. 
O alvo do estudo foi a indústria de aromas e essências Givaudan, sediada em 
São Paulo. Pode ser caracterizada como indústria alimentícia devido ao fato dos 
aromas produzidos serem aditivos alimentares, substâncias responsáveis por 
conferir ou intensificar o aroma e/ou sabor dos alimentos. 
Em indústrias alimentícias, a qualidade está relacionada à produtividade e 
segurança do consumidor. Para tanto, além dos programas de qualidade 
voluntários, os sistemas de Boas Práticas de Fabricação (BPF) e APPCC também 
são exigidos pela legislação (WURLITZER, 2006). 
O objetivo do sistema BPF é definir requisitos essenciais de higiene e de boas 
práticas de elaboração para alimentos industrializados para o consumo humano. 
O sistema APPCC é um método embasado na aplicação de princípios 
técnicos e científicos de prevenção, que tem por finalidade garantir a inocuidade 
dos processos de produção, manipulação, transporte e distribuição dos alimentos 
(ATHAYDE, 1999). 
A Givaudan utilizava, em 2006, água para seu abastecimento (doméstico e 
industrial) das companhias SABESP e Hidrogesp, prestadora de serviço que capta 
água subterrânea. 
Os maiores consumos de água na empresa estão na área da produção de 
aromas e fragrâncias, referem-se às operações de lavagem de equipamentos e 
47 
 
utensílios nas áreas de secagem de emulsões e tanques móveis. Além disso, há o 
consumo de água na torre de lavagem de gases, descargas de vasos sanitários e 
irrigação de áreas verdes. 
Os aromatizantes em pó são produzidos através da secagem das 
suspensões, previamente produzidas em tanques de mistura de matérias-primas, 
contendo os princípios aromáticos, água e suporte. A suspensão é forçada na forma 
de gotículas em uma câmara de secagem contra uma corrente de ar quente; a água 
evapora instantaneamente e um pó fino é coletado em um ciclone anexo num 
processo chamado Spray Dryer. 
Quando o tanque de alimentação do sistema de secagem é esgotado é 
iniciada a operação de limpeza e sanitização de maneira automatizada, por um 
sistema Clean in Place (CIP), por meio de soluções detergentes, sanitizantes e 
água filtrada. Este processo era realizado duas vezes ao dia e a demanda diária de 
água para o processo foi cerca de 76 m3. 
Foi contabilizada a quantidade de água utilizada em outras atividades da 
empresa, como a lavagem manual dos tanques móveis, descarga de vasos 
sanitários e irrigação de áreas verdes. Porém, a maior quantidade de água foi 
utilizada no sistema CIP. 
A proposta feita por FRANCO foi reaproveitar a água utilizada no sistema de 
lavagem CIP, após tratamento adequado, na área de secagem de emulsões no 
processo Spray Dryer. 
Após o estudo, alguns tipos de tratamento foram descartados como o 
tratamento com hipoclorito ou o tratamento biológico devido à possibilidade de 
produzir substâncias cancerígenas e devido à presença de microrganismos no 
efluente final do tratamento, respectivamente. 
Como os efluentes da operação de lavagem do secador Spray Dryer contem 
uma alta concentração de sólidos dissolvidos, o tratamento específico 
recomendado para este tipo de efluente é através da osmose reversa após os 
tratamentos físico-químicos convencionais: floculação, decantação, filtração em 
areia e desinfecção. 
A osmose reversa é um fenômeno natural que ocorre quando duas soluções 
de diferentes concentrações são separadas por uma membrana semipermeável. 
Neste caso, a membrana apresentava poros com diâmetro menor do que 0,001µm, 
o que impede, inclusive, a passagem de bactérias e vírus. A água flui através da 
48 
 
membrana no sentido da solução menos concentrada para a solução mais 
concentrada, até atingir o equilíbrio osmótico, ou seja, as duas soluções chegarem 
a mesma concentração. 
O efluente tratado por meio desta técnica apresenta taxa de remoção de 
sólidos dissolvidos de 95% e a taxa de recuperação de água é de 75%. 
A implantação do reúso de água apoiada pela ferramenta APPCC na área de 
lavagem do CIP, após o sistema de tratamento por osmose reversa, teria uma 
redução potencial no consumo total de água de aproximadamente 42,6%. 
A tabela 7 apresenta o consumo de água após o tratamento por osmose 
reversa. 
 
Tabela

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