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184 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO AMBIENTAL NAS EMPRESAS: CONTRIBUIÇÕES E LIMITAÇÕES Anderson Ricardo Bortolin1, Clara Carvalho de Lemos2, Olívia Toshie Oiko3, Úrsula Rodriguez4, Tadeu Fabrício Malheiros5 Resumo A avaliação de desempenho tem sido uma preocupação das empresas há bastante tempo. Mais recente é a inclusão das questões de sustentabilidade das operações entre esses assuntos e, com isso, a importância de avaliar a sustentabilidade das empresas, seus produtos e processos, levando em consideração aspectos ambientais e também sociais. Em decorrência disto, pode-se observar um crescente número de estudos e experiências de avaliação de desempenho ambiental para organizações, seus produtos ou processos. Cada um deles é destinado a avaliar o desempenho de objetos diferentes, com enfoques diversos. Tendo isto em vista, este artigo se propõe a discutir essas estruturas de avaliação de desempenho ambiental empresarial e seus indicadores associados assim como suas potenciais contribuições e limitações para diferentes usos internos e externos. Palavras-chave: Avaliação de desempenho ambiental, eco-eficiência, avaliação de ciclo de vida, relatórios de sustentabilidade. Abstract The performance evaluation has been a concern in the business sector for some time. More recent is the inclusion of sustainability issues in this field, and also the importance of assessing the sustainability of the companies, their products and processes, taking into account also environmental and social issues. As a result of this, it is observed an increasing number of studies and experiences related to environmental performance evaluation of the organizations, their products or processes. Each one is designed to evaluate the performance of different issues with different approaches. This article therefore aims at discussing these structures for environmental performance evaluation and its associated indicators as well as their potential contributions and limitations for different internal and external uses. Key Words: Environmental performance evaluation, Eco-efficiency, Life Cycle Assessment, Sustainability Reports. 1 Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Escola de Engenharia de São Carlos. Contato: arbortolin@hotmail.com 2 Programa de Pós-graduação em Ciências da Engenharia Ambiental da Escola de Engenharia de São Carlos. Contato: clara@sc.usp.br 3 Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Escola de Engenharia de São Carlos. Contato: ooiko@yahoo.com.br 4 Programa de Pós-graduação em Ciências da Engenharia Ambiental da Escola de Engenharia de São Carlos. Contato: ursurod@yahoo.com 5 Programa de Pós-graduação em Ciências da Engenharia Ambiental da Escola de Engenharia de São Carlos. Contato: tmalheiros@usp.br 185 1. Introdução Hoje se considera indispensável um sistema para a avaliação de desempenho nas empresas, que é o processo de quantificar a eficiência e a eficácia das atividades de um negócio por meio de métricas ou indicadores de desempenho. Esta área teve um grande avanço, tanto em pesquisas acadêmicas como comercialmente, e tem sido tratada, inclusive, como uma forma de implantar estratégias, a partir da divulgação do Balance Scorecard (BSC) (KAPLAN e NORTON, 1997). Atualmente, pode-se notar que essa abordagem estratégica mais ampla já é comum. Martins (1999) observa que "medir, avaliar o desempenho e tomar decisões com base nessas informações são atividades importantes de um sistema de gestão", ou seja, é fundamental que o sistema de medição de desempenho dê suporte para que ações sejam tomadas. Também é necessário que o processo de medição seja sistemático, pois “quando esta (a medição de desempenho) é feita de forma circunstancial, pontual e isolada, pode levar a decisões equivocadas e gerar muita confusão e entropia ao ser utilizada como mecanismo de punição ou de reconhecimento” (FUNDAÇÃO PARA O PRÊMIO NACIONAL DA QUALIDADE FPNQ, 2002). Mais recentemente tem-se acompanhado o crescimento da preocupação com o meio ambiente e os impactos e conseqüências das ações humanas. No setor produtivo, esse movimento também vem sendo verificado pela profusão de métodos e ferramentas que visam incorporar questões ambientais na tomada de decisão e nas ações do meio empresarial, em particular o industrial. Como exemplo, pode-se citar a produção mais limpa, a eco-eficiência, o eco-design, os sistemas de gestão ambiental como a ISO 14001, a remanufatura, a avaliação do ciclo de vida, entre outros. Como mencionado, é fundamental que a avaliação de desempenho dê suporte à tomada de decisão, e se tratando das questões ambientais, isso não é diferente. Uma organização com um sistema de gestão ambiental pode avaliar seu desempenho ambiental frente sua política ambiental, objetivos, metas e outros critérios (JASCH, 1999). A comparação de indicadores com anos anteriores, outras unidades ou outras empresas (benchmarking) permite uma avaliação do progresso e de potenciais economias em um programa ambiental da empresa. Tendo este quadro em vista, este artigo tem por objetivo identificar estruturas de avaliação de desempenho ambiental empresarial e seus indicadores associados, com ênfase na ecoeficiência, avaliação de ciclo de vida de produtos e relatórios de sustentabilidade, bem como discutir suas contribuições e limitações para diferentes usos internos e externos. 2. Avaliação de desempenho empresarial Medição de desempenho é o processo de quantificar a eficiência e a eficácia das atividades de um negócio por meio de métricas ou indicadores de desempenho (NEELY et al., 1997). A medição em si não melhora o desempenho, mas traz alguns efeitos benéficos já que: as prioridades são comunicadas; os resultados medidos correspondem freqüentemente a recompensas; e a medição torna o progresso explícito (NEELY, 1998). Diversos modelos para a medição de desempenho já foram propostos, sendo o mais conhecido o Balanced Scorecard – BSC (KAPLAN e NORTON, 1997). Os autores propõem uma visão que preserva as medidas financeiras tradicionais e as complementa com mais três perspectivas que direcionam para o desempenho futuro: do cliente, dos processos internos e do aprendizado e crescimento. Contudo, os autores lembram que essas perspectivas podem variar de organização para organização. 186 No Brasil, a Fundação Nacional da Qualidade propõe um modelo com oito perspectivas para avaliação do desempenho, como resultado do Comitê Temático sobre Planejamento do Sistema de Medição (FPNQ, 2002): Financeira, Responsabilidade Pública, Mercado e Clientes, Inovação, Processo, Pessoas, Aquisição e Fornecedores, e Ambiente Organizacional. Porém, recomenda que as perspectivas sejam produto da estratégia organizacional. Além do agrupamento dos indicadores em perspectivas, eles podem pertencer a níveis hierárquicos diferentes. Três níveis podem ser identificados (FPNQ, 2002). Quanto mais elevado o nível de decisão, os indicadores devem ser mais agregados. Nos níveis operacionais, se o processo em questão for um “gargalo”, o dado deve ser mantido como um indicador de desempenho e estar associado a uma meta desafiadora. Caso contrário, é apenas uma variável de controle. Um dado pode ser uma variável de controle se for preciso monitorá- lo a fim de mantê-lo dentro de uma faixa de controle. Kaplan e Norton (1997) também realçam a necessidade de se ter uma combinação adequada das medidas de resultados, que informam sobre o passado, e das medidas de tendências (vetores de desempenho), que são indicativas do desempenho futuro, para se alcançar a estratégia pretendida pela empresa. Essas medidas de tendência são extremamente difíceis de obter, uma vez que visam anteceder os resultados e isso dependede ter um conjunto de hipóteses e de uma estratégia muito bem elaborada. Neely et al. (1997) trazem recomendações para que uma métrica seja bem compreendida e constitua fonte confiável de informação. Ela deve contemplar título, propósito, objetivo estratégico a que está relacionada, meta de desempenho, fórmula (a forma como o desempenho é medido afeta como as pessoas se comportam), freqüência (responsável pela medição), e origem dos dados (quem deve agir caso os dados mostrem necessidade e o que fazer nestes casos). 3. Modelos de avaliação ambiental na empresa A preocupação com a sustentabilidade das ações humanas em relação ao meio ambiente é uma questão relativamente recente. Particularmente no meio empresarial, as sociedades presenciaram a Revolução Industrial, em que os recursos naturais eram vistos como abundantes e a poluição não era foco de atenção (LAVORATO, 2007). Contudo, hoje a realidade para as empresas é diferente e uma nova postura se faz necessária. Com a sociedade se preocupando com as questões ambientais, torna-se comum pressões para que as empresas melhorem suas operações de forma a minimizar o impacto ambiental negativo de suas operações, ou mesmo para que realizem ações com impactos positivos em termos ambientais e sociais. Esta pressão se dá tanto pela legislação, pela opinião pública em geral, bem como pelo próprio corpo de colaboradores. Segundo Luz, Sellitto e Gomes (2006), uma forma de as organizações responderem a estas pressões é a implantação de sistemas de gerenciamento ambiental (SGA) que, entre outros requisitos, exigem indicadores ambientais quantitativos. Estes indicadores não espelham a qualidade dos temas em sua totalidade, mas indiretamente servem de referência para abordá-los e tratá-los em seus aspectos mais sensíveis (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo - FIESP, 2004). De maneira geral, os indicadores de desempenho ambiental podem ser usados com fins internos ou externos (THORESEN, 1999; JASCH, 1999). Internamente, os indicadores dão suporte à tomada de decisão, acompanhando o desempenho ao longo do tempo e evidenciando áreas potenciais para melhoria; comunicam eficazmente metas ambientais e; servem como instrumento de feedback para informação e motivação. Externamente, os indicadores ambientais permitem a comparação frente a outras empresas pelo benchmarking, a verificação da adequação dos processos a normas e leis, a comunicação do desempenho por 187 meio de relatórios ambientais e auxiliam a identificação de oportunidades de mercado, por meio da repercussão frente à opinião pública. Como recomendações gerais para o uso de indicadores do desempenho ambiental, identificou-se diretrizes semelhantes àquelas utilizadas para o uso de indicadores de outras áreas (FIESP, 2004; THORESEN, 1999; JASCH, 1999): � A escolha dos indicadores deve fundamentar-se nos objetivos da avaliação. � Os requisitos legais e outras demandas da sociedade devem ser contemplados. � Os indicadores devem ser desdobrados a partir de aspectos ambientais significativos. Uma dificuldade nesse aspecto é que a comunidade científica internacional ainda não chegou a um consenso sobre um conjunto essencial de efeitos finais a ser usado para definir prioridades para ação de melhoria ambiental. � Os impactos e as condições ambientais devem ser considerados em diferentes escalas: local, regional e global, tanto quanto possível. � A abrangência das atividades a serem mensuradas deve ser bem definida, seja na linha de produção de um produto, em uma unidade ou na corporação. A tendência atual é partir para visões de todo o ciclo de vida do produto. � Também é importante considerar a capacidade de recursos financeiros, materiais e humanos para o desenvolvimento das medições. Thoresen (1999) propõe uma estrutura com diversas categorias de desempenho ambiental a serem avaliadas pelas empresas. De maneira geral, as categorias a serem monitoradas são: � Desempenho do ciclo de vida do produto. Descrita como os impactos ambientais causados pelo uso de recursos, transporte, embalagem, durante o ciclo de vida do produto. � Desempenho ambiental de determinada tecnologia. Avaliado com o objetivo de equilibrar considerações econômicas e ambientais. Após a escolha da tecnologia ter sido feita, normalmente não é necessário o uso contínuo do indicador, embora os impactos da escolha terão continuidade. � Desempenho ambiental das operações. São os impactos ambientais resultantes de todos os processo de manufatura e de gestão dentro da fábrica. Isto é, na verdade, parte do desempenho do ciclo de vida do produto. � Indicadores de condição ambiental. Esses indicadores monitoram dados que provavelmente não serão gerados pelas empresas, mas por órgãos públicos ambientais e outras instituições afins. Estes dados se referem à qualidade da água, do ar, e de outros aspectos ambientais. Nas seções seguintes, serão abordados três instrumentos bem difundidos no meio empresarial, e que, juntos, contemplam as quatro categorias descritas acima de desempenho ambiental propostas por Thoresen (1999): a Eco-eficiência, a Avaliação do Ciclo de Vida e os Relatórios de Sustentabilidade, com ênfase para o modelo GRI (Global Reporting Initiative). Em seguida, esses modelos serão discutidos quanto à sua contribuição para a avaliação de desempenho ambiental nas empresas assim como suas limitações. 3.1 Eco-eficiência O conceito de eco-eficiência foi desenvolvido pelo World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) em 1992 e foi largamente reconhecido pelo mundo empresarial. A WBCSD o define da seguinte maneira: “A eco-eficiência é alcançada mediante o fornecimento de bens e serviços a preços competitivos que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida, ao mesmo tempo em que reduz progressivamente o impacto ambiental e o consumo de recursos ao longo do ciclo de vida, a um nível, no mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada da Terra” (WORLD BUSINESS COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT - WBCSD, 2000). 188 O conceito de eco-eficiência traz juntas as duas dimensões, econômica e ambiental, relacionando valor do produto e serviço com a sua influência sobre o meio. Ele leva as empresas a atingir maior valor com menos entradas de materiais e energia e com reduzidas emissões, por meio de novas tecnologias, aperfeiçoamento de práticas da cadeia de suprimentos e melhores produtos. Aplica-se a todo o negócio, desde o marketing e desenvolvimento do produto, até a produção e distribuição. A eco-eficiência pode ser avaliada para objetos de abrangências diferentes como linhas de produção, unidades de manufatura ou corporações inteiras, bem como para produtos únicos, segmentos de mercado ou economias inteiras. Contudo, as abordagens para implementar o conceito e medir o desempenho têm variado bastante. Por isso, o WBCSD desenvolveu um modelo para auxiliar as empresas a avaliarem sua sustentabilidade econômica e ambiental, que seja flexível o suficiente para poder ser largamente utilizada e facilmente interpretada por todo o tecido empresarial. Alguns indicadores foram identificados como válidos para praticamente todos os negócios (genéricos ou gennerally applicable). Eles são extremamente relevantes e submetem-se a uma abordagem de medição semelhante. Outros indicadores, utilizados pelas empresas por se adaptarem à sua especificidade, são denominados específicos do negócio (business specific). O fato de um indicador ser específico do setor não significa que seja menos importante, apenas que é menos amplamente aplicável. A avaliação da eco-eficiência de uma empresa deve contemplar ambos os tipos de indicadores. O modelo orienta as empresas a avaliar a eco-eficiência a partir de três categorias de indicadores, que são áreas principais de influênciano ambiente ou de valor do negócio. São elas (com seus principais aspectos entre parêntesis): � Valor do produto ou serviço (volume/ massa, unidades monetárias, função) � Influência ambiental durante a realização do produto/ serviço (consumos de energia, materiais, recursos naturais, saídas não produtivas, eventos inesperados) � Influência ambiental durante o uso do produto/ serviço (características do produto/ serviço, desperdício na embalagem, consumo de energia, emissões durante o uso/ disposição). Não há indicadores relevantes de influência durante o uso aplicáveis de forma generalizada a todos os setores. Todos os indicadores desta categoria são considerados específicos do negócio. Dadas as ligações que a WBCSD mantém com outras iniciativas na área de indicadores e relatórios tanto no nível micro (organizações) como no nível macro econômico, o modelo proposto dialoga com: � A norma ISO 14031 sobre Avaliação do Desempenho Ambiental, recomendando-a como primeira abordagem para selecionar indicadores específicos do setor. Para avaliar a eco-eficiência, a categoria mais importante de indicadores dessa norma é a de Indicadores de Desempenho Operacional (OPI). Além dos Indicadores de Desempenho Operacional, esta norma sugere outras duas categorias a serem monitoradas: os Indicadores de Desempenho de Gestão (que incluem informações sobre requisitos legais, treinamento e programas ambientais dentro da empresa) e os Indicadores de Condição Ambiental. � O modelo GRI (Global Reporting Initiative) para relatórios de sustentabilidade. Os dois modelos foram desenvolvidos sobre bases semelhantes e, de maneira geral, os indicadores utilizados para avaliação da eco-eficiência podem ser utilizados em relatórios de sustentabilidade. � Estudos sobre como medir a eco-eficiência realizados pelo Canadian National Round Table on the Environment and the Economy (NRTEE), considerando as descobertas de seus estudos de caso. 189 � Estudos da OCDE, da UNCSD e da European Environmental Agency (EEA) sobre o desempenho de economias nacionais ou regionais com relação à sustentabilidade e eco-eficiência, estabelecendo ligações entre os aspectos micro e macro da eco- eficiência. Assim como indicadores de desempenho de maneira geral, os indicadores de eco- eficiência podem ser comunicados internamente (para tomada de decisão ou motivação) ou para partes interessadas externas. O documento da WBCSD também traz diretrizes para a elaboração de relatórios de eco-eficiência para comunicação externa. A estrutura recomendada para o relatório é: � Perfil da Organização: fornecendo um contexto das demais informações, incluindo número de colaboradores, segmentos de atuação, principais produtos e mudanças na estrutura da empresa. � Perfil de Valor: apresentando os indicadores da categoria “Valor do produto/ serviço”, incluindo informação financeira, quantidade de produtos e informações funcionais sobre os produtos. � Perfil Ambiental: trazendo indicadores tanto genéricos como específicos do setor sobre a influência do produto/ serviço durante sua realização e seu uso. � Razões de eco-eficiência: além dos dados sobre o valor e a influência dos produtos/ serviços, é importante trazer o cálculo de razões “valor/ influência” mais significavos para ao setor. � Informações Metodológicas: descrevendo as abordagens utilizadas na seleção de indicadores e na obtenção de dados e limitações em seu uso. Contudo, Korhonen (2003) argumenta que ao estabelecer uma razão entre o valor do produto (financeiro) e seus impactos, se está estabelecendo uma relação de compensação e substitutibilidade entre fatores monetários e ambientais. Se os fatores de produção são substitutos, não há fator limitante para a manutenção ou crescimento da produção. Portanto, como forma de avaliar a real sustentabilidade de um processo, a eco-eficiência pode apresentar potencial fragilidade, e deve ser utilizada em conjunto com outras ferramentas de avaliação. Outro argumento apresentado por Korhonen (2003) é que a melhora na eco-eficiência está relacionada a um paradoxo. Com a melhoria da eficiência das operações, tem-se menores custos de produção e conseqüente menor preço. Isso acarreta um aumento da demanda, pois é possível maior consumo com a mesma renda. O aumento do consumo de bens finais ocasiona maior consumo energético e de outros recursos naturais. Esse movimento leva a uma necessidade de melhoria nas tecnologias de produção, de forma a melhor a eco-eficiência – o que leva a todas as relações descritas, redundando em novas necessidades de melhoria da tecnologia a fim de manter o consumo absoluto de recursos naturais nos mesmos níveis anteriores. Assim, o conceito de eco-eficiência pode levar a reduções no consumo de recursos naturais de uma maneira muito localizada e restrita no espaço e no tempo. Portanto, uma empresa ser mais eco-eficiente não significa necessariamente que ela esteja num contexto sustentável. Este mesmo autor conclui que qualquer medida expressa em termos monetários é incompleta. Assim, ainda que indicadores que relacionem aspectos ambientais a valores econômicos sejam utilizados, é imprescindível utilizar metas mínimas quanto a aspectos exclusivamente ambientais, a fim de se direcionar para uma sustentabilidade efetiva. 3.2 Avaliação do Ciclo de Vida A implementação bem sucedida dos indicadores de sustentabilidade requer ferramentas apropriadas, e há tendências que indicam que o governo e as indústrias estão desenvolvendo e utilizando, dentre outras, a avaliação de impactos através dos resultados da Avaliação do Ciclo de Vida de Produtos – ACV. 190 Os primeiros estudos de ACV tiveram inicio durante a primeira crise do petróleo entre os anos de 1960 e 1980, isso fez com que houvesse uma busca desesperada por formas alternativas de energia, despertando ao mundo a necessidade de utilizar melhor seus recursos naturais. Em 1965, a Coca-Cola Inc. custeou um estudo cujo objetivo era a comparação de diferentes tipos de embalagens para os refrigerantes. Este estudo ficou conhecido como REPA (Resource and Environmental Profile Analysis) e referenciado como um marco para o surgimento da ACV (CHEHEBE, 1997). A avaliação do ciclo de vida (ACV) é uma técnica para avaliar os aspectos ambientais potenciais associados a um produto e compreende as etapas que se iniciam na retirada da matéria-prima para entrar no processo produtivo (berço), até a disposição final do produto (túmulo), (ISO 14040, 2001). As informações coletadas na ACV e os resultados de suas análises e interpretações podem ser úteis para tomada de decisões, na seleção de indicadores ambientais relevantes para avaliação da performance de projetos ou reprojetos de produtos ou processos e/ou planejamento estratégico (CHEHEBE, 1997). As empresas devem escolher, já durante a fase de desenvolvimento do projeto das atividades e do produto, a forma com menor impacto ambiental, assim como os locais ambientalmente mais adequados. Tal consideração deve englobar a variável ambiental em todo o ciclo de vida, desde a extração da matéria-prima até a reutilização ou a reciclagem do produto e a desativação da atividade. Para isso, a ACV se apresenta como uma importante ferramenta para subsidiar as etapas do desenvolvimento do produto, a gestão da produção, após uso, a logística convencional e a reversa, entre outras, a partir da compilação de informações e das avaliações técnicas (OMETTO, 2005). Para que a ACV obtenha sucesso em apoiar a compreensão ambiental de produtos, é essencial que a ACV mantenha sua credibilidade técnica ao mesmo tempo em que proporcione flexibilidade, praticidade e efetividade de custo na sua aplicação. Isto é particularmente verdadeiro caso se pretenda aplicar ACV no âmbito nas pequenas e médias empresas (ISO 14040, 2001).Segue abaixo uma representação que ilustra as fases da ACV. Figura 1. Fases da ACV Fonte: ISO 14040 (2001) 3.2.1 Definição do objeto e do escopo Essa fase é fundamental para a condução do estudo. Embora pareça simples e óbvia esta fase é crucial para o sucesso da condução do estudo e para a sua relevância e utilidade. Isto envolve a definição da chamada “unidade funcional”, o que pode não ser trivial, mas que está intimamente ligada ao uso, à finalidade última do sistema de produto. 191 3.2.2 Análise do Inventário A Análise do Inventário refere-se à coleta de dados e ao estabelecimento dos procedimentos de cálculo para que se possa facilitar o agrupamento destes dados em categorias ambientais normalmente utilizáveis e comparáveis, de modo semelhante a um balanço contábil. 3.2.3 Avaliação de Impacto A Avaliação do Impacto refere-se à identificação e avaliação em termos de impactos potenciais ao meio ambiente que podem ser associados aos dados levantados no inventário. 3.2.4 Interpretação É uma das etapas mais sensíveis, pois as hipóteses estabelecidas durante as fases anteriores, assim como as adaptações que podem ter ocorrido em função de ajustes necessários, podem afetar o resultado final do estudo. O relatório final deve ser elaborado de forma a possibilitar a utilização dos resultados e sua interpretação de acordo com os objetivos estabelecidos para o estudo. Apesar de toda a orientação normativa, os estudos de ACV continuam a ser descrições imperfeitas do sistema de produção. Existe um potencial de incerteza relativa à qualidade dos dados, e mesmo involuntariamente, certa subjetividade pode estar presente desde o início dos estudos. 3.3 Relatórios de Sustentabilidade: Global Reporting Initiative Conforme discutido anteriormente, o conceito de ecoeficiência se expande e se alinha às expectativas da sustentabilidade corporativa das empresas adotando vários modelos de gestão ambiental de forma conjugada como a ISO 14001, ACV, produção mais limpa e emissão zero, entre outros. Segundo Pereira (2005), a avaliação do desempenho organizacional e a efetividade na implementação de medidas ecoeficientes é revelada a partir do uso de indicadores, que, ao serem transformados em números índices, podem ser objeto de comparação. E é a partir da medição desses indicadores que a empresa pode reportar o seu desempenho global seja sob a forma de balanços sociais de relatórios sócio-ambientais ou ainda de relatórios de sustentabilidade empresarial. Esse tipo de documento deve oferecer uma descrição equilibrada e sensata do desempenho de sustentabilidade da organização relatora, incluindo informações tanto positivas como negativas. No Brasil, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), nos seus Relatórios de Sustentabilidade Empresarial (publicados nos anos de 1997, 1999 e 2001) tem apresentado as experiências de ecoeficiência das suas diversas empresas- membros. O objetivo principal dos Relatórios de Sustentabilidade consiste no monitoramento dos indicadores com medições transparentes, verificáveis e, conseqüentemente, relevantes, tanto para os gestores, como para as diversas partes interessadas, estimulando assim melhoras no desempenho das atividades ou processos da empresa. (AMARAL, 2003) Na atualidade existem modelos para orientar as empresas na construção dos seus relatórios com informações ambientais e sociais. No âmbito internacional, o modelo proposto pelo GRI (Global Reporting Initiative) é reconhecido e adotado em todo mundo, apresentando cerca de 100 indicadores que estão em constante processo de mudança e aperfeiçoamento. Sua principal característica radica na sua adaptabilidade frente a organizações de todos os tamanhos, setores e localidades, pois não existe um jeito único de se fazer um relatório, mas as suas diretrizes preconizam que a padronização facilita as comparações essenciais para avaliar o estagio da evolução sustentável das instituições. 192 A Global Reporting Initiative (GRI) é resultado de um acordo internacional, criado com uma visão de longo prazo, “multi-stakeholder”, e cuja função é elaborar e difundir o guia para elaboração de relatórios de sustentabilidade aplicáveis globalmente e voluntariamente, pelas organizações que desejam dar informações sobre os aspectos econômicos, ambientais e sociais de suas atividades, produtos e serviços. A GRI define uma empresa sustentável como aquela que realiza investimentos adequados aos desafios da sustentabilidade, que geram resultados positivos para seus negócios e contribuem para o aumento da competitividade responsável das áreas onde atuam. É importante destacar que uma atuação assim exige que a empresa internamente modifique não só apenas sua forma de atuação, mas também passe a incluir a sustentabilidade como um aspecto de sua estratégia, por meio de aprendizagem contínua, pesquisa e comentários públicos em ciclos regulares, e que reúna também centenas de parceiros num processo voluntário multistakeholder e consensual (GLOBAL REPORTING INITIATIVE – GRI, 2006). Um relatório de sustentabilidade baseado nas Diretrizes da GRI divulga os resultados obtidos dentro do período relatado e dentre outros propósitos, pode ser usado como: • Padrão de referência (benchmarking) e avaliação do desempenho de sustentabilidade com respeito a leis, normas, códigos, padrões de desempenho e iniciativas voluntárias; • Demonstração de como a organização influencia e é influenciada por expectativas de desenvolvimento sustentável; • Comparação de desempenho dentro da organização e entre organizações diferentes ao longo do tempo. 3.3.1 Estrutura do GRI As Diretrizes para Elaboração de Relatórios de Sustentabilidade são o elemento fundamental da Estrutura de Relatórios. Elas apresentam o conteúdo considerado relevante para organizações. Um Protocolo de Indicador é a "receita" por trás de cada Indicador de Desempenho e inclui definições para termos-chave do indicador, metodologias de compilação, escopo pretendido do indicador e outras referências técnicas (GRI, 2006). Consiste em três tipos de conteúdo: � Perfil: Essas informações ajudam a organização a estabelecer o contexto para que os leitores compreendam as questões de sustentabilidade e sua abordagem e devem incluir informações como o perfil organizacional, governança, compromissos e engajamento dos stakeholders, entre outros. � Forma de Gestão: Essas informações ajudam a organização a estabelecer o contexto para a compreensão de seus resultados de desempenho e incluem a política e responsabilidade organizacional, questões relacionadas a treinamento e conscientização, monitoramento e acompanhamento, entre outras. � Indicadores de Desempenho: São usados para comunicar os resultados de desempenho e são organizados por categoria de sustentabilidade – econômico, ambiental e social – para facilitar a consulta. Os indicadores de desempenho são analisados nas seguintes seções com o propósito de explorar o potencial da sua estrutura na hora de esboçar empresas sustentáveis. O ponto inicial do relatório de sustentabilidade proposto pelo GRI é a apresentação da estrutura geral das diretrizes. A Figura 2 estabelece um conjunto de princípios “essenciais na construção de um relatório equilibrado dos desempenhos ambiental, econômico e social de uma organização” (GRI, 2006). Este conjunto de princípios também procura promover a comparabilidade temporal e entre as diferentes organizações alem de garantir credibilidade e propiciar o diálogo entre os stakeholders. A elaboração de diretrizes específicas que definem os limites da entidade do relatório é um desafio complexo e tem se convertido em uma necessidade primordial. Visando definir 193 estes limites o GRI está desenvolvendo um conceitode dimensão operacional e temporal considerando os stakeholders em todas as dimensões para poder contar com os impactos econômicos, sociais e ambientais da organização. A relação entre a organização e o contexto e seu nível macro é essencial, neste sentido, a restrição da informação de alguma parte da atividade organizacional subentende uma real insustentabilidade da organização (BEBBINGTON,2001). Figura 2: Princípios do Relatório de GRI Fonte: GRI, 2006 1. Análise dos Indicadores GRI A seção de indicadores de desempenho propõe três clusters - econômico, ambiental e social. Pode se observar um desequilíbrio entre estas três dimensões evidenciado a através do da tendência pelos indicadores sociais que contam com mais de 50% dos indicadores nesta categoria. (Tabela 1). Tabela 1. Indicadores de desempenho do GRI Indicadores de desempenho Indicadores centrais Indicadores adicionais Total Econômico 10 3 13 Ambiental 16 19 35 Social 24 25 49 Total 50 47 97 a. Indicadores Integrais Existe uma carência de propostas em consideração aos indicadores integrais nas diretrizes do GRI, os quais podem ser justificados pela singularidade de cada organização. A maneira mais fácil de atingir a visão holística e equilibrada de sustentabilidade é introduzir indicadores vinculados em duas vertentes – indicadores transversais como os indicadores de ecoeficiência, relacionam os aspectos econômicos e ambientais, e indicadores de eco-justiça, que relacionam os aspectos sociais e ambientais (BEBBINGTON, 2001). Na ausência destes últimos, existe uma tendência das organizações de incluir indicadores mais controláveis como são os de ecoeficiencia. Por outro lado Bebbington, Larrinaga e Moneva (2004) também TRANSPARÊNCIA INCLUSIVIDADE QUE INFORMAÇÃO INCLUIR ACESSIBILIDADE QUALIDADE E CONFIABILIDADE * INTEGRALIDADE * RELEVÂNCIA * CONTEXTO DA SUSTENTABILIDADE * PRECISÃO * NEUTRALIDADE * COMPARABILIDADE * CLAREZA * OPORTUNIDADE 194 chamam a atenção da falta de indicadores sistemáticos que possam estar vinculados ao conceito de ecoefetividade e por sua vez possam definir fortemente a sustentabilidade. b. Aspecto econômico Stormer (2003) indica que apesar da conceitualização de negócio ter mudado drasticamente - passando a englobar mais que um sistema de maximização de ganância -, o desafio de mudança para uma cultura corporativa continua sendo um desafio no contexto da ainda imperante teoria neoclássica. A informação econômica é fornecida para ilustrar as relações econômicas e os impactos diretos e indiretos que a companhia tem com os stakeholders e a comunidade dentro da qual opera (MONEVA ET. AL. 2006). Segundo Bebbington et. al. (2001), o relatório GRI não tem incluído modelos contáveis de custos globais que poderiam ser mais úteis desde o ponto de vista da sustentabilidade e poderiam oferecer uma visão mais integrada. c. Aspecto ambiental Os indicadores ambientais são influenciados de acordo com os modelos dos sistemas de gerenciamento. O esquema GRI é baseado na eficiência de consumo (materiais, energia, água); e influencia na biodiversidade e minimização do impacto (emissões, resíduos e efluentes, produtos e serviços). Não existe um indicador central para provedores excluindo a possibilidade de uma Análise de Ciclo de Vida, que fornece uma melhor idéia do comprometimento da organização com o desenvolvimento sustentável. d. Aspecto social Finalmente, os indicadores sociais são categorizados em diferentes blocos com uma fraca inter-relação entre eles, e com uma marcante influência dos indicadores como “práticas trabalhistas” (11 indicadores centrais dos 17) e “direitos humanos” (7 indicadores centrais de 14). As duas categorias restantes estão relacionadas à sociedade e administração do produto. 4 Discussão A eco-eficiência é um conceito bastante útil e prático para utilização nas empresas, pois seus princípios de minimização de consumo de insumos, de desperdícios, se solidariza com preocupações já inerentes à lógica empresarial, inclusive e principalmente do ponto de vista de viabilidade econômica. A forma de mensuração da eco-eficiência em muito se assemelha aos conceitos de produtividade e é uma derivação dos conceitos de eficiência já utilizados nesse meio. Dado seu foco no processo produtivo, é um instrumento poderoso para a melhoria das operações. Contudo, como observa Korhonen (2003), esse conceito pode levar a benefícios muito localizados, com efeitos indesejáveis para o desenvolvimento sustentável de maneira mais ampla. Estas distorções que podem acontecer se devem ao fato de se partir do pressuposto que os fatores de produção econômicos, sociais e ambientais são substitutos entre si, e a necessidade de visão sistêmica, ou seja, o setor empresarial atuar como um sub-sistema, dentro de um sistema maior, que é a visão de sustentabilidade nacional e planetária. Outra observação que pode ser feita com relação à eco-eficiência é que as questões de agregação e de benchmarking são particularmente importantes. As comparações devem ser feitas apenas quando as empresas fornecem o mesmo produto/ serviço. É importante notar que, ainda que forneçam um mesmo produto/ serviço, as empresas podem ter um mix de produtos diferentes, o que influenciará fortemente no desempenho da eco-eficiência de suas operações. Os dados de tendência são importantes. Os dados podem ser apresentados em termos absolutos, em taxas de eco-eficiência, indexados a um determinado ano de referência ou expressos relativamente a uma meta estabelecida, ou ainda, com relação à média ou total da indústria. 195 Outro aspecto da eco-eficiência é que, embora ela possa ser considerada em escopos mais ou menos limitados (linha de produção, unidade, corporação), sua visão é limitada, se restringindo a uma análise de entradas e saídas, mas que não permite visualizar os direcionadores desse desempenho, a não ser por meio do acompanhamento das medidas ao longo do tempo. O modelo apresentado pelo WBCSD para mensuração da eco-eficiência apresenta ainda como ponto forte a integração com outros modelos de avaliação do desempenho ambiental. Isso é um fator muito importante, pois cada vez mais as empresas têm de lidar, gerar e analisar um volume muito grande de informação. Como modelos complementares, que utilizam princípios comuns, esta atividade pode ser facilitada. Quanto à Avaliação do Ciclo de Vida, ela é uma ferramenta importantíssima pela sua proposta de considerar os impactos de um produto ao longo de toda sua vida, resultados das ações de todos os elos da cadeia envolvidos em sua produção-distribuição-consumo- disposição final (que também pode ser preferencialmente a reintegração em novo ciclo). Isso permite a minimização dos impactos em uma escala mais ampla, sem que haja o problema de “efeitos colaterais”, com ótimos locais e resultados piores quando considerando o todo. O grande empecilho da ACV é sua operacionalização. Trata-se de um método muito complicado, que ainda encontra diversas dificuldades na seleção de categorias de impacto, obtenção de dados, comparação de resultados. Outras limitações apontadas por Tachard (2007) são: � Subjetividade nas escolhas e suposições; � A falta de exatidão provocada nos casos de limitação de acesso ou disponibilidade de dados, ou sua qualidade; � Contempla apenas impactos ambientais, não sendo parte da sua estrutura considerações sobre aspectos econômicos e sociais. A discussão e a prática relacionadas ao assunto - indicadores de sustentabilidade ambiental, social e econômica, bem como a publicação de relatórios de sustentabilidade empresarial -, de uma maneira geral, é um fato recente e de certa forma desafiador para as empresas. O fato de a indústria possuirindicadores e monitorar o seu desempenho ao longo do tempo aumenta o nível de governança sobre suas atividades e facilita o “benchmarking” com outras empresas (PEREIRA, 2005). As companhias precisam ter processos consistentes de coleta de dados nas unidades de negócios de modo a alimentar os indicadores e estes precisam ser consolidados e analisados, para futura publicação de relatórios de sustentabilidade ambiental, social e econômica, que serão disponibilizados para as partes interessadas. O principal mérito do modelo GRI está relacionado ao fato dessa estrutura abranger de forma ampla todos os âmbitos da sustentabilidade (econômico, social e ambiental), embora haja uma concentração de indicadores sociais– mais de 50% do total. As diretrizes têm grande representatividade, pois são resultado de um processo de discussão entre uma grande multiplicidade de grupos de interesse. Elas têm, portanto, um grande peso de representatividade e estimulam as empresas a tornarem certas informações públicas, o faz com que ela seja cobrada por certos desempenhos e estimula a melhora contínua, além de oferecer possibilidades de atitudes mais proativas e transparentes por parte das organizações em relação às suas ações. O modelo GRI tem no amplo apoio de companhias e organizações não- governamentais de todo o mundo seu ponto forte, mas ao mesmo tempo, na prática, Bebbington, Larrinaga e Moneva (2004) afirmam que o nível de comprometimento com a sustentabilidade ainda é baixo e como conseqüência as diretrizes são usadas como uma nova ferramenta para legitimizar tomadas de decisão e as suas conseqüentes ações. 196 Por outro lado, o relatório pode dar valioso suporte à melhoria contínua do desempenho ao longo do tempo, no entanto a maleabilidade na apresentação das informações pode dificultar a comparabilidade do desempenho, já que não existem padrões ou seqüências para a apresentação dos indicadores. Esse fato incomoda na medida em que uma das principais funções desses relatórios é a possibilidade de estimular o benchmarking e a comparação de desempenho entre organizações. Quando se trata de informações e indicadores quantitativos, normalmente apresentados de forma visual, essas possibilidades são facilmente atingidas. Por outro lado, quando se trata de informações e indicadores qualitativos, esse fato é especialmente dificultado pelo fato de estarem dispostas e dispersas ao longo do texto, sem uma seqüência que necessariamente facilite a comparabilidade e a tomada de decisão. Pode-se questionar também a ausência de metas associadas aos indicadores de desempenho (econômico, ambiental e social). Essa ausência, aliás, é característica marcante de todas as ferramentas que têm como proposta serem abrangentes a todos os setores e portes de organizações. Apesar de uma valiosa ferramenta de avaliação interna, o modelo GRI também não prevê verificações externas, cada vez mais importantes para garantir a credibilidade do relatório. Este é o mais importante desafio da iniciativa (BEZERRA, 2007). Neste sentido Moneva et al., 2006 sugerem que não é suficiente fornecer um modelo de relatório corporativo social e acreditar que as organizações possam assumir por elas mesmas atitudes responsáveis. Esta reforma administrativa precisaria de monitoramento e registro de dados que estejam relacionados com uma avaliação do quanto a organização estaria sendo (in)sustentável, podendo desta maneira avaliar e monitorar o progresso da organização em vias da sustentabilidade. Neste contexto, Bezerra (2007) e Moneva et. al. (2006) enfatizam que alguns conceitos podem ser reformulados e aprimorados, como a instituição de um pilar econômico. O mais importante é o fato de que esta informação econômica citada nas diretrizes é originada a partir de um processo de mudança de esquemas tradicionais de contabilidade até esquemas mais sofisticados que tentam ilustrar relações econômicas e seus impactos –diretos e indiretos- que as empresas apresentam com seus stakeholders. 5 Conclusão As organizações dispõem, atualmente, de uma vasta variedade de ferramentas e instrumentos que as auxiliam a gerenciar seus desempenhos econômico, ambiental e social, que, por sua vez, se materializam de diversas formas como os códigos de conduta e os sistemas de gestão e avaliação de desempenho. O relatório GRI, na sua proposta participativa de elaboração, consiste em importante ferramenta de gestão, pois, além de permitir que as organizações sigam um padrão e uma estrutura de comunicação, o relatório cria espaço propício para reflexão e integração das diversas partes interessadas. Do mesmo modo, ao estimular que essas organizações divulguem informações internas de interesse público, acabam por induzir ações de melhoria contínua. A preocupação com a sustentabilidade no meio empresarial sofreu uma evolução, iniciando com a tentativa de observar aspectos de sustentabilidade do meio ambiente desacoplada de outros objetivos. Obviamente, isso criava muitas dificuldades de implantação de ações neste sentido e mesmo de aceitação da idéia. O conceito da eco-eficiência e os mecanismos para sua mensuração foram construídos de forma a conciliar aspectos ambientais aos econômico-produtivos. Contudo, logo se observou que o conceito de eco-eficiência sozinho poderia levar a otimizações localizadas, ao mesmo tempo em que, no todo, as melhorias iniciais levassem a impactos negativos. Assim, observa-se a necessidade de ampliação do escopo, o que, em parte é atendido pela ACV. O modelo GRI, embora 197 contemple as questões ambientais de forma simplificada em relação à ACV, por exemplo, incorpora um novo aspecto da sustentabilidade: o social. Embora os três modelos apresentados possam ilustrar certa evolução de conceitos, eles não se desenvolveram tampouco se difundiram no meio empresarial nesta seqüencia. A avaliação da eco-eficiência é mais usual, e muitas vezes se apresenta conjuntamente com outros aspectos de sustentabilidade como propostos pela norma ISO 14031, por exemplo. Ainda, os indicadores de eficiência são comuns em relatórios de sustentabilidade e em outras formas de divulgação. A ACV é pouco utilizada ainda entre as empresas, dada o seu aspecto de novidade e sua alta complexidade necessidade de um sistema de informações bastante detalhado. Contudo, a ISO também já lançou normas que tratam do assunto e espera-se que breve haja pressões para sua utilização em uma ampla gama de produtos. Os relatórios de sustentabilidade vêm se tornando mais difundidos, principalmente se não nos limitarmos a considerar apenas aqueles que seguem o padrão do GRI. Os relatórios de sustentabilidade são um poderoso meio de comunicação e de divulgação da empresa, se ela estiver realmente em compasso com sua sustentabilidade num sentido amplo. Adotar o modelo GRI exige um esforço muito maior de monitoramento de informação e mesmo de realização de ações ambiental e socialmente comprometidas, o que num primeiro momento pode parecer uma grande dificuldade, mas que muito rapidamente se transforma num diferencial estratégico para a sustentabilidade. Referências bibliográficas AMARAL, S. P. Estabelecimento de indicadores e modelo de relatório de sustentabilidade ambiental, social e econômica: uma proposta para a indústria de petróleo brasileira. Rio de Janeiro. COPPE/UFRJ, 2003. 251p. Tese (Doutorado em Planejamento Energético e Ambiental) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2003. AZEVEDO A. 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