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1 DIVULGAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DAS ENTIDADES SEM FINS LUCRATIVOS DE ACORDO COM A ITG 2002 Franciene de Lima1 Thais Silva Oliveira2 Adriana Sousa Santos3 Eliene Aparecida de Moraes4 RESUMO O terceiro setor tem um papel considerável na sociedade, auxiliando a população em suas inúmeras necessidades, onde o governo não consegue atender a todos. Por mais que não tenha finalidade de lucro, as entidades sem fins lucrativos necessitam de recursos financeiros para a realização de seus objetivos sociais. Portanto, o objetivo do presente estudo é verificar a divulgação das demonstrações contábeis das entidades sem fins lucrativos, de acordo com as exigências da Interpretação Técnica Geral 2002 (ITG 2002), através de uma pesquisa descritiva junto às entidades sem fins lucrativos. A abordagem da pesquisa foi pelo método dedutivo, com base na ITG 2002, norma que rege as instituições do Terceiro Setor através da coleta de dados por meio de quinze quesitos elaborados pelas pesquisadoras. É possível observar que nem todas as entidades estão de acordo com as normas exigidas pela ITG 2002. Os motivos pelos quais não haja conformidade em relação à divulgação das demonstrações não foram analisados, somente o levantamento do percentual de divulgação das entidades que compõem o presente estudo. Palavras-chave: Terceiro Setor. Divulgação. ITG 2002. 1 Graduando em Ciências Contábeis pela Universidade de Rio Verde, Centro de Negócios, GO. E-mail: fran.francienelima@gmail.com 2 Graduando em Ciências Contábeis pela Universidade de Rio Verde, Centro de Negócios, GO. E-mail: thais2.oliveira@hotmail.com 3 Graduando em Ciências Contábeis pela Universidade de Rio Verde, Centro de Negócios, GO. E-mail: adrianasouzarv@gmail.com 4 Mestra em Ciências Contábeis pela Universidade de Brasília (2014). Bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade de Rio Verde (2008). Pós-Graduada em Auditoria e Gestão de Tributos pela PUC Goiás (2010). Docente e diretora da Faculdade de Ciências Contábeis da Universidade de Rio Verde (UniRV), ministrando disciplinas na área de contabilidade societária. 2 1 INTRODUÇÃO As entidades sem fins lucrativos (ESFL) possuem uma importância para a sociedade, onde os propósitos essenciais são os de realizar mudanças sociais, atendendo as mais diversas necessidades da população. Segundo Rodrigues et al. (2015) essas organizações contribuem expressivamente para o desenvolvimento econômico, social e político do país, assumindo responsabilidades que são do Estado, mas que não são atendidas por ele. De acordo com o Código Civil (BRASIL, 2002, art. 44) as organizações do terceiro setor são pessoas jurídicas de direito privado. Além disso, Olak e Nascimento (2009) mencionam que é possível descrever as entidades sem fins lucrativos da seguinte forma: são organizações privadas com o propósito de gerar mudanças sociais e de que o patrimônio é constituído, mantido e ampliado através de doações, contribuições e de forma alguma é destinada aos seus membros ou mantenedores. Por obterem recursos de fontes privadas e públicas a responsabilidade, das entidades sem fins lucrativos, na prestação de contas aumenta. Para Rodrigues et al. (2015) a contribuição da contabilidade para o Terceiro Setor é imprescindível, pois auxilia na administração dos recursos disponibilizados aos gestores dessas entidades, além de demonstrar de forma clara se esses recursos foram e estão sendo utilizados para os fins que se destinam. Segundo Rodrigues et al. (2015) até a década de 80 não existiam normativas contábeis que controlassem os trabalhos desse setor, gerando distorções e procedimentos contábeis divergentes e não uniformes, com isso o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) editou três Normas Brasileiras Contábeis Técnicas (NBC T) para regular as atividades do terceiro setor, que são: � NBC T 10 – Dos Aspectos Contábeis Específicos em Entidades Diversas: � NBC T 10.4 – Fundações (Resolução CFC nº 837, de 22 de fevereiro de 1999); � NBC T 10.18 – Entidades Sindicais e Associações de Classe (Resolução CFC nº 838, de 22 de fevereiro de 1999); 3 � NBC T 10.19 – Entidades Sem Finalidade de Lucros (Resolução CFC nº 877, de 18 de abril de 2000). Devido às mudanças no cenário contábil no decorrer do século XXI as normas supramencionadas foram revogadas pela Resolução CFC nº 1.409/2012 que, também, aprovou a Interpretação Técnica Geral 2002 (ITG 2002) norma que passou a ser aplicada no início do exercício de 2012 apresentando alterações que tratam sobre os pontos principais e indispensáveis que precisarão constar nas demonstrações contábeis das entidades do terceiro setor (RODRIGUES et al., 2015). Com base nessas informações, eis que surge o problema de pesquisa: As entidades brasileiras do terceiro setor estão divulgando as demonstrações contábeis de acordo com as normas da ITG 2002? A informação contábil terá de ser condizente, pois escriturações incorretas não retratarão a realidade dos fatos a serem estudados. O objetivo geral é verificar se as entidades sem fins lucrativos brasileiras divulgaram as demonstrações contábeis, atendendo as normas da Interpretação Técnica Geral 2002 (ITG 2002), por meio de uma pesquisa prática com os dados apresentados pelas organizações de grande representatividade nesse segmento no país. Para que a pesquisa seja realizada, os objetivos específicos propostos são: � Expor o conteúdo teórico das Organizações do Terceiro Setor; � Mencionar os procedimentos necessários para criação de Organizações do Terceiro Setor. � Descrever a Interpretação Técnica Geral 2002 (ITG 2002); A pesquisa estabelecerá limites quanto à análise das demonstrações contábeis no período de 2012 a 2016 das entidades brasileiras sem fins lucrativos. De acordo com Carneiro, Oliveira e Torres (2011) as ESFL devem se preocupar em direcionar a prestação de contas, não só aos órgãos regulamentadores e fiscalizadores, mas a toda sociedade, por meio de relatórios claros e objetivos para compreensão de todos. 4 Um dos principais interessados nas informações, das Entidades Sem Fins Lucrativos, é o governo, pois a prestação de contas destas entidades é direcionada conforme os contratos e convênios. Os financiadores, parceiros e doadores que são outros interessados, podem estar dentro ou fora da organização (CARNEIRO, OLIVEIRA; TORRES, 2011). Há outros interessados que não exigem a prestação de contas, mas lhes é devido, pois eles estão na base da organização e favorecem o fortalecimento da mesma – os doadores eventuais, voluntários, beneficiários e a sociedade em geral, por se tratar de serviço de caráter público (CARNEIRO, OLIVEIRA; TORRES, 2011). Segundo Olak e Nascimento (2009) a comunidade pouco se interessa com a prestação de contas que os gestores das entidades sem fins lucrativos apresentam. As mudanças que ocorreram na legislação buscam impedir escândalos relacionados a essas organizações, a sociedade deve exigir maior transparência dessas instituições e cobrar por sua regulação frente aos órgãos competentes (OLAK; NASCIMENTO, 2010). É evidente que a falta de transparência é, por vezes, proposital, no sentido de “encobrir” escândalos de gestores mal-intencionados, que se aproveitam da folga da legislação brasileira ou dos benefícios fiscais que as entidades de filantrópicas só têm o nome (OLAK; NASCIMENTO, 2009). 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 TERCEIRO SETOR Para Coelho (2002) o termo “Terceiro Setor”, começou a ser utilizado por pesquisadores americanos na década de 70 e a partir da década de 80 por pesquisadores europeus, propondo fundamentos que apresentem uma alternativa para as desvantagens tantodo mercado, relacionados à busca do lucro, quanto do governo, com seus procedimentos ineficazes. A flexibilidade e a eficiência do mercado são combinadas com a imparcialidade e a perspectiva dos processos públicos (COELHO, 2002). 5 No Brasil, o termo mais utilizado para entidades sem fins lucrativos é “organização não governamental”, a terminologia “terceiro setor” aparece primeiramente nas obras de Leilah Landim e Rubem César Fernandes (COELHO, 2002). A participação ativa das entidades sem fins lucrativos na sociedade brasileira são datadas do final do século XIX. O processo de formação e consolidação das organizações não governamentais (ONGs) surgiu nas décadas de 60 e 70, épocas marcadas pelas limitações às filiações de partidos políticos impostas pelos governos militares, se concentrando principalmente nas décadas de 80 e 90 (século XX), período que mais cresceram e se tornaram visíveis (COSTA; VISCONTI, 2001). A atuação da Igreja Católica que, apoiada pelo Estado em muitas oportunidades, procurava prestar algum tipo de assistência às comunidades carentes que se encontravam às margens das políticas básicas, como saúde e educação no período compreendido entre o Império e a Proclamação da República (COSTA; VISCONTI, 2001). Outras religiões, passaram a desenvolver a formação de organizações nos moldes que os católicos praticavam, dividindo com a Igreja católica a parceria com fins filantrópicos entre esta e o Estado, por entenderem que a caridade é um ato indissociável da prática religiosa (COSTA; VISCONTI, 2001). A década de 60 é marcada por um longo período arbitrário, com o bloqueio das liberdades individuais e restrições severas à atuação da sociedade civil. Os movimentos sociais são considerados ilegais e o país é dividido em dois grandes grupos: governo e empresa privada versus sociedade civil (BETTIOL JÚNIOR, 2005). Com a consolidação democrática no país e o fim da ditadura militar, demonstrada através da pluralidade partidária, a formação dos sindicatos e o fortalecimento dos movimentos sociais abriu-se um espaço para uma atuação das organizações não governamentais de forma efetiva, cujo número cresceu rapidamente em face do crescimento das dificuldades socioeconômicas conhecidas pelo Brasil (COSTA; VISCONTI, 2001). A mobilização da sociedade civil, através do movimento ecológico, em busca do desenvolvimento sustentável, na tentativa de equacionar o desenvolvimento 6 econômico a um uso não-predatório e equilibrado do meio ambiente, é uma passagem da história que merece ser mencionada no processo de entendimento do desenvolvimento do terceiro setor brasileiro (BETTIOL JÚNIOR, 2005). O governo Fernando Henrique Cardoso, na década de 90, também influenciou o desenvolvimento do terceiro setor no Brasil, pela nova fase de relação com a sociedade civil. A partir do Programa Comunidade Solidária e pela proposta de reforma do Estado, ocorreram modificações, mais especificamente, no mecanismo de divulgação que previa a criação de organizações sociais (BETTIOL JUNIOR, 2005). Bettiol Júnior (2005), afirma que além dos fatores históricos da realidade brasileira, os fatores externos foram relevantes no desenvolvimento do terceiro setor no país. Segundo Falconer (1999), a construção do terceiro setor brasileiro, deu-se de fora para dentro: de fora do país e de fora do setor para dentro dele. Na visão de Bettiol Júnior (2005) a aproximação do setor empresarial e as entidades que compõem o terceiro setor, é outro fator que tem contribuído para o desenvolvimento do terceiro setor no Brasil, pois visa o desenvolvimento de parcerias com vistas a apoiar projetos de proteção ambiental, promoções sociais no campo da educação, saúde, entre outros. De acordo com Drucker5 (1994, apud Olak e Nascimento, 2010), as instituições sem fins lucrativos têm o propósito da transformação da vida humana. Para Rodrigues et al. (2015) as ESFL possuem um papel relevante na sociedade, pois cooperam significativamente para o desenvolvimento do país devido serem as maiores responsáveis pela promoção de atividades de caráter beneficente e filantrópico as quais deveriam ser atribuição do Estado. Para Rodrigues et al. (2015) toda sociedade é classificada em três setores e cada setor possui sua particularidade, ou seja: � Primeiro Setor: é o setor público (Estado), dinheiro público para fins públicos; 5 Drucker, P. F. Administração de organizações sem fins lucrativos: princípios e práticas. São Paulo: Pioneira, 1994, p. XIV. 7 � Segundo Setor: empresas privadas com fins lucrativos, dinheiro privado para fins privados; e � Terceiro Setor: organizações privadas sem fins lucrativos, dinheiro privado para fins públicos. Assim, conforme Soldi et al. (2006), as organizações podem ser classificadas como governamental ou não governamental e ainda que sejam diferentes, englobam associações culturais, fundações educacionais, entidades religiosas, etc., possuem elementos em comum, permitindo classificá-las em um mesmo grupo. Para Soares, Catão e Libonati (2005), as principais características que identificam uma instituição como membro do Terceiro Setor: � Não lucrativa (o dinheiro é um meio e não um fim); � Não governamental; � Organizada; � Independente; � Promove interesses coletivos; � Possui capacidade de articulação; � Produz bens e serviços públicos. A legislação brasileira não distinguia as diferentes organizações que faziam parte do terceiro setor, todas eram abrigadas pelo mesmo estatuto jurídico, mas podendo assumir diferentes formatos legais. Isso gerava distorções e barreiras ao crescimento de entidades que tinham a finalidade e ação pública, sem fins lucrativos. Com isso, a partir de 1996, os debates e a movimentação da sociedade civil organizada foram se intensificando, liderados pelo Conselho Comunidade Solidária, foi aprovada uma nova regulação para o setor (COSTA; VISCONTI, 2001). A Lei 9.790, de março de 1999, conhecida como o marco legal do terceiro setor, inseriu importantes mudanças das quais se destacam: novos critérios de classificação das entidades sem fins lucrativos de caráter público; novas possibilidades no sistema de combinação entre instituições de direito privado e público; e a probabilidade de remuneração dos dirigentes das entidades sem fins lucrativos (COSTA; VISCONTI, 2001). A existência legal das organizações do Terceiro Setor se dá a partir do registro de seu ato constitutivo (estatuto social) no cartório de registro civil das 8 pessoas jurídicas; essas organizações adquirem uma das formas jurídicas: associação, fundação, organização religiosa ou partido político (OLAK; SLOMSKY; ALVES, 2008). A partir da constituição sob uma dessas formas, a entidade poderá requerer diversos títulos, certificados e qualificações em todas as esferas do governo, são eles: título de Utilidade Pública Federal (UFP); registro no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS); Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social (Cebas); qualificação como Organização Social (OS); e qualificação com Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) (OLAK; SLOMSKY; ALVES, 2008). 2.1.1 Natureza Jurídica das Organizações do Terceiro Setor A natureza jurídica das organizações do Terceiro Setor é definida pela Lei do Código Civil, Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que instituiu o Código Civil, e em seu artigo 44 dispõe que são pessoas jurídicas de direito privado: as associações, as sociedades, as fundações, as organizações religiosas, os partidos políticos e as empresas individuais de responsabilidade limitada. A art. 53 do Código Civil constitui-se as associações pela união de pessoas que se organizem para finsnão econômicos, no parágrafo único dispõe que não há entre os associados, direitos e obrigações recíprocas. A dissolução de uma associação deve estar claramente prevista no seu estatuto e obedecer ao disposto do art. 61 do Código Civil que dispõe: dissolvida a associação, a destinação de seu patrimônio é o último passo de seu processo de liquidação; caso ocorra por meio de estatuto ou se for permitido deliberadamente, os associados poderão receber restituição das contribuições que realizaram quando da formação do patrimônio social; o patrimônio remanescente deverá ser destinada à instituição idêntica ou parecida, localizada no âmbito Municipal, Estadual, Distrito Federal ou Território. Caso não haja no território Municipal, Estadual, Distrito Federal ou Território entidade não econômica com finalidade idêntica ou assemelhada da associação dissolvida, o patrimônio remanescente deverá ser devolvido à Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou da União (BRASIL, 2002). 9 O art. 62 do Código Civil define que na constituição de uma fundação o instituidor fará por meio de escritura pública ou testamento, a dotação de bens livres e especificará o fim a que se destina e caso queira a maneira de administrá-la. Em seu parágrafo único é evidenciado que só pode ser constituída uma fundação para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência (BRASIL, 2002). A forma de dissolução de uma fundação deve estar expressamente prevista no seu estatuto, assim como o da associação, e obedecer ao disposto do art. 69 do Código Civil, que se tornando ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que se visa à fundação, ou seu prazo de existência esteja vencido, o órgão do Ministério Público, lhe providenciará a extinção (BRASIL, 2002). A constituição da organização religiosa deve seguir os mesmos passos de constituição de uma associação e, para fins de dissolução, devem constar no estatuto as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino de seu patrimônio (RODRIGUES et al., 2015). Os partidos políticos tratam-se de pessoas jurídicas, sem fins lucrativos, com finalidade de assegurar o regime democrático e defender os direitos constitucionais. Eles serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específica, e nos seus estatutos deve constar, além das cláusulas obrigatórias, o direito de ampla defesa e a perda de mandato parlamentar quando o eleito deixar a legenda ou votar contra as normas do partido. Sua constituição deve ser registrada no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas e, após adquirirem personalidade jurídica, serão registrados no Tribunal Superior Eleitoral (RODRIGUES et al., 2015). A dissolução dos partidos políticos dependerá de deliberação dos seus órgãos administrativos, de acordo com o que estabelece suas normas estatutárias (RODRIGUES et al., 2015). 2.1.2 O Terceiro Setor e a Contabilidade As entidades do Terceiro Setor devem ser avaliadas e administradas como verdadeiras empresas, já que possuem serviços, produtos, clientes e público-alvo. Assim, a Contabilidade, vista como um sistema de informação convencional e planejado, demonstra sua importância não só para demonstrar as origens dos 10 recursos e a forma como eles foram aplicados, evidenciando o aspecto da transparência, como também para regularizar juridicamente seus atos financeiros (SOARES; CATÃO; LIBONATI, 2005). Conforme Lima (2003), mesmo que a visão do Terceiro Setor seja voltada para o social, tem um processo econômico que é necessário ser controlado, e a contabilidade é uma das principais técnicas que auxilia para manter a “imagem positiva” diante da sociedade. Segundo Carneiro, Oliveira e Torres (2001) observa-se que ainda não existe uma preocupação por parte de algumas entidades do terceiro setor no aspecto de divulgações contábeis financeiras e não financeiras, pois, muitas ainda não perceberam o caráter público que as envolvem e motivem a desenvolver a transparência. A Contabilidade das Entidades Sem Fins Lucrativos, assim como a Contabilidade Empresarial, fornece informações para o subsídio do processo de tomada de decisão por parte dos dirigentes dessas organizações, visto que a eficiente gestão do patrimônio social depende da existência de um eficaz sistema contábil (GONÇALVES et al., 2010). De acordo com Olak e Nascimento (2010), nas entidades do Terceiro Setor o patrimônio não é denominado patrimônio líquido como nas empresas do segundo setor, é intitulado patrimônio social para mostrar que este, não pertence a seus membros, dirigentes e associados, mas pertence à sociedade. Para Carneiro, Oliveira e Torres (2011), a utilização da contabilidade como ciência da informação, favorece divulgações de dados detalhados à comunidade, através das demonstrações contábeis e relatórios gerenciais, contribuindo para a transparência da entidade, que é considerada uma estratégia competitiva, pois é através da transparência que as organizações demonstram efetivamente quem são e quais seus objetivos reais. 2.1.3 Instrução Técnica Geral – ITG 2002 (R1) Pretendendo estabelecer critérios e procedimentos de avaliação, de registros dos componentes e variações patrimoniais, de estruturação de demonstrações 11 contábeis e informações mínimas a ser divulgadas em notas explicativas das entidades sem fins lucrativos, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), através da Resolução nº 1.409/2012, aprovou a ITG 2002, que dispõe sobre Aspectos Contábeis Específicos para as Entidades Sem Finalidade de Lucros. Em conformidade com a ITG 2002 (2012), à entidade sem finalidade de lucros podem ser aplicados os Princípios de Contabilidade e esta Interpretação, assim como a NBC 1000 – Contabilidade para Pequenas e Médias Empresas ou as normas completas (IFRS completas) nos aspectos não abordados por esta interpretação. Assim, a ITG 2002 (2012), define que os registros contábeis devem evidenciar as contas de despesas e receitas, respeitando o regime contábil de competência, com e sem gratuidade, superávit ou déficit, de forma segregada, identificáveis por tipo de atividades (educação, saúde, assistência social e demais atividades), permitindo a apuração das informações para prestação de contas exigidas por entidades governamentais, reguladores e usuários em geral. As demonstrações contábeis, que devem ser divulgadas pela entidade sem finalidade de lucro, conforme a ITG 2002 (2012), são o Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado do Período, a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, a Demonstração dos Fluxos de Caixa e as Notas Explicativas, de acordo com a NBC TG 26 ou na Seção 3 da NBC TG 1000, quando aplicável. No Balanço Patrimonial a conta Capital deve ser substituída por Patrimônio Social, que integram o Patrimônio Líquido. As palavras lucro ou prejuízo, no Balanço Patrimonial e nas Demonstrações do Resultado do Período, das Mutações do Patrimônio Líquido e dos Fluxos de Caixa, devem ser trocadas por superávit ou déficit de acordo com a ITG 2002 (2012). A divulgação das demonstrações contábeis deve ser complementada por notas explicativas que contenham critérios de apuração da receita e da despesa, contexto operacional da entidade, subvenções recebidas, informações sobre os seguros contratados, renúncia fiscal, recursos sujeitos a restrição ou vinculação, eventos subsequentes, entre outras informações (ITG 2002, 2012). A ITG 2002 (2012) determina que a entidade apresente notas explicativas que contenham informações em relação aos critérios e procedimentos do registro 12 contábil de depreciação, amortização e exaustão do ativo imobilizado, de acordo com a obrigatoriedade do reconhecimento com base em estimativa de vida útil; segregar os atendimentos com recursos próprios dos demais atendimentos que a entidade realiza;as gratuidades realizadas devem ser registradas de forma segregada, com destaque para aquelas que devem ser utilizadas na prestação de contas nos órgãos governamentais, apresentando valores dos benefícios, número de atendimentos, números de bolsistas com valores e percentuais representativos (ITG 2002, 2012). 3 METODOLOGIA A realização da metodologia foi baseada em livros, artigos, dissertações, teses, sites, normas e legislação que falam sobre as entidades sem fins lucrativos. De acordo com Laurentino et al. (2008), a metodologia está diretamente ligada com o objetivo da pesquisa, é o modo com o qual será conduzida a pesquisa, a forma de captação de dados e informações, de tal forma, que a metodologia é a “espinha- dorsal” de uma pesquisa, a forma com qual será trabalhado todos e quaisquer dados relevantes à pesquisa. Segundo Lakatos e Marconi (1986, p.44), “A pesquisa pode ser considerada um procedimento formal com método de pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais. Significa muito mais do que apenas procurar a verdade: é encontrar respostas para questões propostas, utilizando métodos científicos.” O método de abordagem da pesquisa será o método dedutivo, que de acordo com Lakatos e Marconi (2003) visa explicar o teor das premissas, onde o propósito é esclarecer se os argumentos estão corretos ou incorretos, as premissas se verdadeiras sustentam de modo completo ou se incorretas não é sustentada de maneira alguma. A técnica utilizada na pesquisa será efetuada por meio da análise binária, onde se verifica se houve a divulgação do quesito ou não. A pesquisa é de natureza descritiva, pois permite que se faça o levantamento de dados, para a obtenção das informações, foi elaborado um questionário pelas próprias pesquisadoras, com base nas normas exigidas. Segundo Silva (2010), os 13 dados coletados nesse tipo de pesquisa são trabalhados e colhidos diretamente da própria realidade, não sendo modificados ou alterados pelo pesquisador. Para chegar ao objetivo da pesquisa serão analisados os relatórios das Demonstrações Contábeis e notas explicativas nos exercícios de 2012 a 2016, de uma população estimada em 2010, por meio de uma pesquisa do IBGE (2012), em 556,8 mil entidades sem fins lucrativos, a partir desse total foram selecionadas 05 (cinco) entidades beneficentes com sede no Brasil, compondo a amostragem do estudo, abaixo relacionadas no Quadro 1. Quadro 1 - Amostra Entidades Beneficentes Brasileiras Item Entidades 1 Associação de Assistência à Criança Deficiente - AACD 2 Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais - ABONG 3 Fundação Bradesco 4 Fundação Bunge 5 Fundação Xuxa Meneghel Fonte: Elaborado pelas autoras (2017). A partir da amostra da pesquisa, listada no quadro I, as companhias Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG), Fundação Bradesco e Fundação Bunge, foram retiradas da análise por não apresentar todas as demonstrações contábeis requeridas pela ITG 2002, sendo assim, a amostra fora composta apenas pela entidade Fundação Xuxa Meneghel. A elaboração dos quesitos, criados a partir da ITG 2002, visa verificar se as demonstrações contábeis das entidades sem fins lucrativos brasileiras estão sendo realizadas de acordo com suas determinações. Foram realizados quinze quesitos a partir das especificações da norma, sendo analisados as demonstrações contábeis e os relatórios de atividades anuais publicados pelas entidades sem fins lucrativos que compõem o estudo: Quadro 2 - Quesitos desenvolvidos com base na ITG 2002 Item Quesitos 1 O Balanço Patrimonial foi divulgado? 2 A Demonstração do Resultado do Período está sendo divulgada? 3 A Demonstração de Mutações do Patrimônio Líquido está sendo divulgada? 14 4 A Demonstração dos Fluxos de Caixa está sendo divulgada? 5 As Notas Explicativas estão sendo divulgadas? 6 A entidade está divulgando seus objetivos sociais? 7 As subvenções recebidas pela entidade estão sendo divulgadas? 8 As taxas de juros das obrigações em longo prazo estão sendo divulgadas? 9 As datas de vencimentos das obrigações em longo prazo estão sendo divulgadas? 10 As garantias das obrigações em longo prazo estão sendo divulgadas? 11 As informações sobre os seguros contratados estão sendo divulgadas? 12 Os critérios de depreciação estão sendo divulgados? 13 Os procedimentos do registro contábil de depreciação estão sendo divulgados? 14 Os critérios de amortização estão sendo divulgados? 15 Os procedimentos do registro contábil de amortização estão sendo divulgados? Fonte: Elaborado pelas autoras (2017). 4 ANÁLISE DOS DADOS A análise dos dados foi efetuada, a partir dos quesitos apresentados, para verificação da divulgação das demonstrações contábeis das entidades sem fins lucrativos brasileiras. Os resultados serão apresentados por meio de tabela da qual constará o percentual de apresentação das demonstrações contábeis nos anos de 2012 a 2016 conforme as exigências da norma técnica ITG 2002. 4.1 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS As demonstrações contábeis avaliadas, na Tabela 1, são as demonstrações citadas na ITG 2002: Balanço Patrimonial (BP), Demonstração do Resultado do Período (DRP), Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL), Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), Notas Explicativas (NE) e informações complementares. A partir da apresentação da tabela será possível verificar se as demonstrações contábeis foram divulgadas de acordo com a ITG 2002. TABELA 1 – Análise das Demonstrações Contábeis Empresa Período Total por empresa 2012 2013 2014 2015 2016 Fundação Xuxa Meneghel 66,67% 66,67% 66,67% 66,67% 66,67% 66,67% Total por quesito 66,67% 66,67% 66,67% 66,67% 66,67% 15 Fonte: Elaborado pelas autoras (2017). Analisando a tabela I, por meio dos quesitos propostos, a Fundação Xuxa Meneghel apresentou o percentual de divulgação das demonstrações contábeis de 66,67% de 2012 a 2016. A entidade, no período analisado, não apresentou os quesitos: “8-As taxas de juros das obrigações em longo prazo”; “9-As datas de vencimentos das obrigações em longo prazo”; “10-As garantias das obrigações em longo prazo”; “14-Os critérios de amortização” e “15-Os procedimentos do registro contábil de amortização.”. Verifica-se, a partir da análise da tabela 1, que mesmo sendo a única entidade a divulgar as demonstrações contábeis exigidas pela norma ITG 2002, a Fundação Xuxa Meneghel, deixou de apresentar informações complementares que constam nas Notas Explicativas da norma. 16 5 CRONOGRAMA Ações/etapas Trimestre (mês/ano) 1° 2° 3° 4° Aplicação do questionário - - 11/2017 - Levantamento dos dados - - 11/2017 - Analise dos dados - - 11/2017 - Divulgação dos resultados - - - 12/2017 Entrega do trabalho - - - 12/2017 6 ORÇAMENTO Descrição do Material Un. Qtde. Valor (R$) Unitário Total Cópias (Folhas) un 225 R$ 0,10 R$ 22,50 Caneta un 05 R$ 0,50 R$ 2,50 Lápis un 03 R$ 0,25 R$ 0,75 Borracha un 03 R$ 0,75 R$ 2,25 Marca Texto un 03 R$ 1,75 R$ 5,25 Internet - 03 R$ 90,00 R$ 270,00 Total R$ 303,25 Fonte financiadora: recursos próprios. 17 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os desafios que as entidades sem fins lucrativos brasileiras precisam superar são diversos, principalmente os que se relacionam com a eficiência dos procedimentos relacionados à criação de parcerias, conquista de recursos financeiros, doações e trabalho voluntário. Para a superação desses desafios é necessário que as entidades assegurem transparência nas demonstrações de seus resultadoseconômico-financeiros e no desempenho da criação de projetos sociais que façam parte de suas atividades. O objetivo geral da pesquisa buscou identificar o nível de divulgação das demonstrações contábeis das entidades sem fins lucrativos brasileiras atendendo as normas da ITG 2002. As informações foram extraídas das Demonstrações Contábeis das entidades que constam no endereço eletrônico (site) das mesmas. Na análise de dados é possível identificar que as entidades dão importância para transparência da prestação de contas, mas é notório o baixo número de entidades que divulgam suas demonstrações de acordo com a ITG 2002 (uma). Verifica-se que apesar da vigência da ITG 2002, desde 1° de janeiro de 2012, as entidades sem fins lucrativos ainda não aderiram totalmente às exigências da norma supracitada, a amostra da pesquisa se restringiu a uma entidade. Para pesquisas futuras é recomendável a ampliação da amostra incluindo diversas entidades sem fins lucrativos que compõem o Terceiro Setor. Além do mais, será de grande valia investigar os quesitos que não foram esclarecidos nesse estudo. 18 ABSTRACT The third sector has a considerable role in society, helping the population in its many needs, where the government can not attend to all. Although not for profit, nonprofits need financial resources to achieve their social goals. Therefore, the objective of the present study is to verify the disclosure of the financial statements of non-profit entities, in accordance with the requirements of General Technical Interpretation 2002 (ITG 2002), through a descriptive research with non-profit entities. The research approach was based on the deductive method, based on ITG 2002, a rule that governs the institutions of the Third Sector through the collection of data through fifteen questions developed by the researchers. It is possible to observe that not all entities comply with the standards required by ITG 2002. The reasons for which there is no conformity with the disclosure of the statements were not analyzed, only the survey of the percentage of disclosure of the entities that make up the present study. Keywords: Third Sector. Disclosure. ITG 2002. 19 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. 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