Buscar

Capítulo 04 - A Evolução dos Mecanismos Extraconvencionais de Controle na Comissão de Direitos Humanos

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 42 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 42 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 42 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

4 
O Grupo de Trabalho sobre Detenções Arbitrárias 
 
 
 
 
 
Conforme já enfatizado acima, o surgimento dos procedimentos de controle 
temáticos representou um grande avanço nos mecanismo de proteção aos direitos 
humanos. Por serem de caráter não convencional, esses procedimentos alcançam todo 
e qualquer país, independentemente da assinatura ou reconhecimento de tratados 
específicos. Além disso, os mecanismos temáticos escapam aos ranços e rivalidades 
políticos inerentes aos trabalhos da Comissão de Direitos Humanos. De fato, por não 
incidirem exclusivamente sobre determinado país, como ocorre com os 
procedimentos geográficos, esses mecanismos de controle são mais facilmente 
criados, evitando a ação eventual de lobbies e a oposição de grupos regionais de 
países. 
O grupo de trabalho sobre desaparecimentos forçados ou involuntários, criado em 
1980, representou uma novidade e teve sua atuação largamente reconhecida em 
países como Argentina e Chile, onde ajudou a elucidar desaparecimentos obscuros e a 
identificar muitos dos responsáveis. 
Anos mais tarde, com a Guerra Fria já encerrada, foi criado outro mecanismo 
temático que, beneficiado pelo novo contexto internacional e pelas experiências 
anteriores, mostrou bons resultados no desempenho de suas atribuições e confirmou a 
utilidade e eficiência desses procedimentos extraconvencionais. Trata-se do Grupo de 
Trabalho sobre Detenções Arbitrárias. 
 
 
4.1. 
Origens 
 
 
O Grupo de Trabalho sobre Detenções Arbitrárias foi criado em 1991 pela 
resolução 1991/42 da Comissão de Direitos Humanos. Tiveram participação ativa na 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
89 
 
criação desse mecanismo países como França e Reino Unido, bem como diversas e 
influentes ONG’s. 
 Vale notar que esse grupo surgiu inspirado no trabalho desenvolvido no âmbito 
da Sub-Comissão, pelo grupo de trabalho sobre detenção1. Este último caracterizou-
se por uma estreita interação entre os membros da Sub-Comissão e certas ONG’s 
ativas no tema, como a Anistia Internacional e a International Commission of Jurists. 
É possível destacar entre suas contribuições mais importantes a elaboração do 
rascunho de um Corpo de Princípios para a Proteção de Todas as Pessoas Detidas ou 
Presas, finalizado em 19782. Também merecem destaque a discussão de um relatório 
anual acerca de desenvolvimentos relativos aos detidos, a elaboração de princípios 
para restringir o uso da força por parte dos oficiais da lei e a consideração das 
repercussões das violações de direitos humanos sobre as famílias das vítimas. O 
grupo de trabalho sobre detenção da Sub-Comissão mostrou-se especialmente 
preocupado por prisões resultantes do exercício da liberdade de opinião e expressão. 
 
 
4.2. 
Características 
 
 
O Grupo de Trabalho sobre Detenções Arbitrárias foi inicialmente criado para um 
mandato de três anos3, renovados por igual período em 1994, 1997, 2000 e 2003. 
O Grupo, composto por cinco especialistas independentes, reúne-se um mínimo 
de três vezes ao ano, período durante o qual delibera e emite opiniões sobre os temas 
em pauta. As opiniões emanadas são tomadas por consenso e na falta deste por 
maioria, sendo incluídas no relatório anual a ser remetido para análise da Comissão 
de Direitos Humanos durante sua sessão anual. 
O fato dos componentes do grupo serem independentes constitui uma garantia 
acerca da objetividade das decisões e investigações. “In general, it is appreciated that 
 
1 Este grupo de trabalho recebe em inglês a denominação de Sessional Working Group on Detention. 
2 Dez anos mais tarde, esse documento ainda estava sob análise no âmbito do Sexto Comitê da 
Assembléia Geral, tendo sofrido diversas alterações em seu texto. 
3 Diferentemente do seu predecessor para Desaparecimentos Forçados ou Involuntários que fora criado 
para um termo de apenas um ano. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
90 
 
the investigations of situations are entrusted to independent experts who in the 
exercise of their functions do not depend on their Governments, an approach that has 
ensured objective analysis of the facts.”4 
Vale dizer que sempre que houver conflito de interesses ou quando o caso em 
questão incidir sobre o país de um dos membros do grupo, deverá este se abster de 
participar da discussão. 
Com relação ao modus operandi, a Comissão expressamente convoca o Grupo a 
desempenhar suas tarefas com discrição, objetividade, imparcialidade e 
independência, sempre respeitando os limites de seu mandato. 
 
 
4.3. 
O mandato 
 
 
O mandato do Grupo é “investigar casos de detenção impostos arbitrariamente ou 
inconsistentes com os padrões internacionais estabelecidos na Declaração 
Internacional de Direitos Humanos ou em outros instrumentos legais internacionais 
contratados pelos países interessados” (resolução 1991/42 da CDH). 
Conforme expressamente afirmado pelo próprio Grupo de Trabalho: “such 
investigation should be of an adversarial nature so as to assist it in obtaining the 
cooperation of the State concerned.” 5 
Ainda nesse sentido: 
“the Working Group considers that the adoption of an adversarial - and not accusatory - 
procedure is the only option that will enable it to satisfy the requirement of objectivity 
imposed on it by the Commission on Human Rights in paragraph 4 of its resolution 
1991/42.”6 
 
 
4 Parágrafo 73 do relatório de 1998 do Grupo de Trabalho Sobre Detenções Arbitrárias. Disponível 
em: <http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro 
de 2004. 
5 Parágrafo 2º do Anexo I do Relatório de 1996 do Grupo de Trabalho. Disponível em: 
<http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro de 
2004. 
6 Parágrafo 3º da Deliberação III, parte B, adotada na quarta sessão do Grupo de Trabalho de 28 de 
setembro a dois de outubro de 1992. Disponível em: 
<http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro de 
2004. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
91 
 
De início, vale notar que é papel do Secretário-Geral assegurar ao Grupo de 
Trabalho toda a assistência necessária para o desempenho de seu mandato, tanto no 
tocante a pessoal quanto a recursos, seja para funções de investigação correntes, seja 
para a realização de missões de campo. 
Considerando o teor da resolução 1991/42 da Comissão e o próprio nome do 
Grupo de Trabalho, para muitos o mandato do Grupo de Trabalho deveria restringir-
se apenas aos casos de detenção, entendida como a privação de liberdade que ocorre 
previamente a uma sentença judicial. Assim, por esta corrente, o Grupo não teria 
poder de ação sobre os casos de prisão decididos por ordem do judiciário. 
Esses argumentos levam em conta a distinção apresentada no Corpo de Princípios 
para a Proteção de Todas as Pessoas sob Qualquer Forma de Detenção ou Prisão, 
considerado um dos instrumentos legais a nortear a ação do Grupo. Neste documento 
aprovado pela resolução 43/173 da Assembléia Geral, estabelece-se uma clara 
diferença entre “prisão” e “detenção”. O primeiro termo diria respeito apenas aos 
casos de privação de liberdade resultantes de condenação judicial, já o segundo 
englobaria os casos de privação de liberdade aos quais faltasse essa característica. 
Vale observar, aliás, que essa distinção, consagrada no Corpo de Princípios, não 
se repete em outros instrumentos jurídicos relevantes que também embasam os 
trabalhos do Grupo. No Padrão de Regras Mínimas para o Tratamento de Presos, por 
exemplo, o termo detençãorefere-se a pessoas já sentenciadas. O mesmo ocorre nas 
Regras das Nações Unidas para a Proteção de Jovens Privados de Liberdade e no 
Padrão de Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça 
Juvenil (“The Beijing Rules”).7 
Nas próprias legislações nacionais falta uniformidade no tratamento diferenciado 
dos termos em questão. Alguns países, como o Brasil, chegam inclusive a empregar o 
termo prisão em casos em que ainda se espera julgamento. 
Então, diante da própria falta de consenso em torno das definições estabelecidas 
no Corpo de Princípios, não parece adequado vincular a ação do Grupo de Trabalho 
às mesmas. 
 
7 Parágrafos 67,68 e 69 do relatório 1997/4 do Grupo de Trabalho Sobre Detenções Arbitrárias. 
Disponível em: <http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso 
em: Janeiro de 2004. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
92 
 
A Comissão de Direitos Humanos ao elaborar a resolução 1991/42 estaria mais 
preocupada com o termo ‘arbitrário’ do que propriamente com preciosismos acerca 
do real significado e alcance da palavra ‘detenção’. De fato, ao mencionar no terceiro 
parágrafo do preâmbulo dessa resolução o artigo 10 da Declaração Universal, que 
trata especificamente das garantias legais de um julgamento justo e imparcial, parece 
inadequado pensar que a Comissão estivesse criando um Grupo desprovido de 
competência para investigar casos de privação de liberdade resultantes de 
julgamentos viciados, em que não se respeitasse o devido processo legal e demais 
garantias. 
Pensemos, por exemplo, que corroborando aquela interpretação restritiva do 
mandato, o Grupo não teria competência para agir diante de casos claramente 
arbitrários como quando determinada pessoa é presa após condenação por um crime 
pelo qual já foi anteriormente julgada (e eventualmente até absolvida) ou por um ato 
que no momento de sua prática não estava tipificado como crime. Estes dois 
exemplos configuram casos de condenação judicial que nitidamente violam princípios 
basilares do direito como o da legalidade (nullum crime sine lege) e o do non bis in 
idem. 
Vale dizer, outrossim, que carece de sentido a aplicação de interpretações 
restritivas de certos termos, como detenção, que acabem por imunizar o judiciário de 
responsabilidade, sujeitando apenas o executivo (prisões administrativas, etc) e outros 
órgãos à ação do Grupo de Trabalho. De fato, pelo princípio da unidade do Estado na 
esfera da responsabilidade, o direito internacional visa a assegurar que todo Estado 
seja responsável pelos atos praticados por seus órgãos no exercício de suas funções, 
não deixando margem para o surgimento de paraísos de impunidade dentro do 
mesmo. Assim, não parece adequado o Grupo de Trabalho pautar-se por práticas de 
caráter seletivo capazes de excluir de responsabilidade determinado poder estatal. 
A própria postura da Comissão de Direitos Humanos parece corroborar uma 
interpretação do mandato também extensiva àqueles casos em que já houve 
condenação judicial. Com efeito, a reiterada aprovação dos relatórios do Grupo de 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
93 
 
Trabalho em que se apresentavam diversas opiniões relativas a privações de liberdade 
pós-julgamento8, constitui forte indicativo nesse sentido. 
A Comissão chegou inclusive a modificar, no texto da resolução 1997/50, os 
termos usados para definir o mandato do Grupo de Trabalho, não mais falando em 
detenção. Assim, afirma no parágrafo 15 da referida resolução: “Decides to renew, 
for a three-year period the mandate of the Working Group, composed of five 
independent experts entrusted with the task of investigating cases of deprivation of 
liberty imposed arbitrarily” 
Para a identificação do caráter arbitrário da privação de liberdade existem três 
categorias legais a serem consideradas.9 
Categoria I: Não é possível encontrar qualquer base legal que justifique a 
privação de liberdade. Neste grupo incluem-se os casos em que já foi cumprida a 
pena ou quando é aplicável algum benefício como anistia ou liberdade condicional. 
Categoria II: Quando a privação de liberdade resulta do exercício dos direitos e 
liberdades garantidos pelos artigos 7 (igualdade perante a lei, sem qualquer 
discriminação), 13 (liberdade de movimento e residência), 14 (liberdade para pedir 
asilo em outros países em casos de perseguição de caráter político), 18 (liberdade de 
pensamento, consciência e religião), 19 (liberdade de expressão e opinião), 20 
(liberdade de reunião e associação) e 21 (direito de participação política, diretamente 
ou mediante escolha de representantes) da Declaração Universal de Direitos 
Humanos. 
São igualmente incluídos nessa categoria os casos de detenção resultantes do 
simples exercício de direitos e liberdades assegurados no Pacto Internacional de 
Direitos Civis e Políticos10, especificamente aqueles previstos nos artigos 12 
(liberdade de movimento e residência, podendo entrar e sair livremente de seu país), 
18 (liberdade de pensamento, consciência e religião), 19 (liberdade de opinião e 
expressão), 21 (liberdade de reunião para fins pacíficos), 22 (liberdade de associação, 
mesmo sob a forma de sindicatos), 25 (liberdade de participação política no governo, 
 
8 De setembro de 1992 a setembro de 1996, 55 % das decisões adotadas pelo Grupo referiam-se a 
casos de prisão mediante sentença. 
9 Estas categorias foram estabelecidas pelo Grupo de Trabalho em sua terceira sessão, em março de 
1992, sendo confirmada anualmente nos relatórios do grupo. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
94 
 
diretamente ou mediante o voto), 26 (igualdade perante a lei, sem qualquer 
discriminação) e 27 (direitos e garantias das minorias). 
Categoria III: Quando a não observância total ou parcial das normas relativas ao 
direito de um julgamento justo e imparcial, previsto na Declaração Universal de 
Direitos Humanos (artigos 10 e 11), bem como em outros documentos internacionais 
relevantes, for de tal gravidade a ponto de macular a privação de liberdade em 
questão com os vícios da arbitrariedade. 
Durante a implementação de suas atividades, o Grupo de Trabalho considera, 
além da Declaração Universal e do Pacto Sobre Direitos Civis e Políticos, outros 
instrumentos internacionais já citados tais como: o Corpo de Princípios para a 
Proteção de Todas as Pessoas sob qualquer forma de Detenção ou Prisão, o Padrão de 
Regras Mínimas para o Tratamento de Presos, as Regras das Nações Unidas para a 
Proteção de Jovens Privados de sua Liberdade e o Padrão de Regras Mínimas das 
Nações Unidas para a Administração da Justiça Juvenil (“The Beijing Rules”). 
A maioria dos casos de privação de liberdade investigados pelo Grupo de 
Trabalho resulta do exercício dos direitos à livre opinião e expressão, incidindo, 
então, na categoria II, já apresentada. 
O Grupo de Trabalho, por diversas vezes, manifestou à Comissão sua 
preocupação pelo fato das detenções arbitrárias serem facilitadas e agravadas pelo uso 
do chamado “estado de emergência” por parte dos Estados. Durante este período não 
são respeitadas as garantias individuais, nem mesmo o consagrado princípio da 
proporcionalidade entre as medidas adotadas e as infrações cometidas. As próprias 
ofensas ou crimes contra a segurança do Estado que justificam medidas de exceção 
não são claramente definidos em lei, dando margem a interpretações questionáveis 
que “legitimam” boa parte das arbitrariedades praticadas. 
A partir do alerta feito pelo Grupo de Trabalho em relação aos abusos cometidosdentro do “estado de emergência”, a Comissão de Direitos Humanos encorajou os 
governos: 
“Not to extend ‘states of emergency’ beyond what is strictly required by the situation, in 
accordance with the provisions of article 4 of the International Covenant on Civil and 
Political Rights, or to limit their effect; 
 
10 Nesta hipótese, consideram-se apenas casos que incidem sobre países contratantes do referido Pacto. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
95 
 
To pay special attention, during ‘states of emergency’, to the exercise of those rights that 
ensure protection against arbitrary detention.”11 
 
Pelo teor do citado artigo 4º do Pacto Sobre Direitos Civis e Políticos, o “estado 
de emergência” é permitido, desde que não seletivo ou discriminatório, e em 
circunstâncias excepcionais, sem prejuízo para certas garantias como: o direito a vida, 
a proibição da tortura e tratamentos cruéis ou degradantes, o princípio da legalidade 
penal, e a liberdade de pensamento, consciência ou religião. 
O Grupo defende, por exemplo, que a garantia do habeas corpus, dada sua 
importância no combate à detenção arbitrária, não pode ser derrogada por força do 
“estado de emergência”: 
“The Working Group considers, after three years' experience, that habeas corpus is one 
of the most effective means to combat the practice of arbitrary detention. As such, it 
should be regarded not as a mere element in the right to a fair trial but, in a country 
governed by the rule of law, as a personal right which cannot be derogated from even in 
a state of emergency.”12 
 
Então, mesmo esse remédio de exceção colocado à disposição dos Estados não 
pode ser usado livre e indiscriminadamente, devendo ater-se a certos requisitos e 
limites. 
Também é latente a preocupação do Grupo de Trabalho quanto aos abusos 
cometidos pelos tribunais militares. Nesse sentido é de grande valia o relatório do 
Grupo sobre sua visita ao Peru. “The Commission on Human Rights cannot remain 
indifferent to the injustices committed by military courts in many countries, as this 
has become a universal problem of the utmost seriousness”13 
Nesse mesmo relatório, o Grupo apresenta alguns critérios a serem observados 
pela justiça militar, quais sejam: 
I) Incompetência para julgar civis. 
II) Incompetência para julgar militares, caso entre as vítimas se incluam civis. 
 
11 Parágrafo 3, (c) e (d) da resolução 2003/31 da Comissão de Direitos Humanos. Disponível em: 
<http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro de 
2004. 
12 Parágrafo 74 do relatório 1994/27 do Grupo de Trabalho Sobre Detenções Arbitrárias. Disponível 
em: <http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro 
de 2004. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
96 
 
III) Incompetência para julgar civis ou militares no caso de rebeliões ou outros 
episódios que ameacem ou arrisquem ameaçar o regime democrático. 
IV) Impossibilidade de aplicar a pena de morte em quaisquer circunstâncias. 
 
Vale enfatizar que situações de conflito armado, cobertas pelas Convenções de 
Genebra de 12 de agosto de 1949 e por seus Protocolos Adicionais, escapam à 
competência do Grupo de Trabalho em questão. 
Pode-se dizer, então, que não há qualquer duplicação de funções do Grupo com o 
Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Na verdade, muito embora o CICV também 
lide com a problemática dos presos, o enfoque adotado e os objetivos perseguidos são 
bem diferentes daqueles próprios do Grupo de Trabalho. O primeiro preocupa-se 
basicamente com as questões humanitárias que envolvem a prisão, já o segundo lida 
com o caráter legal da mesma, investigando eventuais vícios e arbitrariedades. Nos 
termos do Vice-Chairman do Grupo, senhor Louis Joinet: “The Working Group and 
ICRC did not duplicate each other’s work. They actually complemented each other, 
one of them dealing with the legal aspect of the problem and the other, the 
humanitarian aspect.”14 
Finalmente, pela resolução 1997/50 da Comissão de Direitos Humanos, o Grupo 
de Trabalho foi especificamente convocado a devotar a máxima atenção a relatórios 
relativos a imigrantes ou pessoas em busca de asilo, que estejam por longo período 
sob custódia administrativa, sem beneficiar-se de remédios jurídicos ou 
administrativos eventualmente aplicáveis. Assim, em resposta à referida resolução e 
após consulta com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, o Grupo 
de Trabalho decidiu incluir no anexo II ao seu relatório de 2000 alguns critérios a 
serem considerados para determinar a arbitrariedade ou não dessas custódias, dentre 
os quais se destacam: a definição de um prazo, não muito longo, para a custódia; o 
livre acesso do pessoal da ACNUR e da CICV aos centros de custódia; o direito ao 
 
13 Parágrafo 178 do relatório do Grupo sobre a missão ao Peru de 26 de janeiro a 6 de fevereiro de 
1998. Disponível em: <http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> 
Acesso em: Janeiro de 2004. 
14 Afirmação feita durante a 29 ª reunião da 55ª Sessão da Comissão de Direitos Humanos (1999), cujo 
resumo está disponível em: 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
97 
 
assessoramento de um advogado e representante consular e o acesso a remédio 
judicial para a autoridade competente que deverá se pronunciar acerca da legalidade 
ou não da medida. 
 
 
4.4. 
Submissão e consideração de comunicações 
 
 
As comunicações enviadas ao grupo de trabalho deverão ser feitas pelos 
indivíduos interessados, seus parentes ou representantes. Aceitam-se, outrossim, 
comunicações transmitidas por governos, organizações intergovernamentais e não-
governamentais (ver item 4.7 abaixo).15 
É facultado, igualmente, ao grupo de trabalho agir por sua própria iniciativa 
(parágrafo 4º da resolução 1993/36) para considerar casos que possam constituir 
privação arbitrária da liberdade. 
No caso de comunicações individuais, elas não poderão ser anônimas, devendo 
especificar-se o nome completo e o endereço do emitente. É preciso fornecer, 
também, uma quantidade de informações suficientes que permitam esclarecer a 
identidade da pessoa detida, bem como as circunstâncias (data, local, etc) em que se 
deu a detenção.16 
A comunicação deve apresentar, ainda, as razões dadas pelas autoridades para 
justificar a detenção, bem como indicar a legislação aplicável e as medidas tomadas 
(ou não) em relação ao caso (investigação, remédios jurídicos, etc). Por fim, devem 
ser arroladas as razões pelas quais se considera a detenção arbitrária.17 
 
<http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro de 
2004. 
15 Parágrafo 12 do anexo I do relatório 1998/44 do Grupo de Trabalho Sobre Detenções Arbitrárias. 
Disponível em: <http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso 
em: Janeiro de 2004. 
16 Parágrafo 9 e 10 (a) do anexo I do relatório 1998/44 do Grupo de Trabalho Sobre Detenções 
Arbitrárias. Disponível em: 
<http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro de 
2004. 
17 Parágrafo 10 (b), (c), (d) e (e) do anexo I do relatório supracitado. Disponível em: 
<http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset>Acesso em: Janeiro de 
2004. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
98 
 
Vale esclarecer neste ponto, que muito embora o Grupo de Trabalho também 
considere a detenção à luz do ordenamento vigente no país em questão (daí a 
solicitação de se indicar a legislação aplicável), a opinião acerca da arbitrariedade ou 
não da mesma não ficará restrita ao âmbito da legalidade doméstica, considerando-se 
igualmente padrões internacionais. 
“(…)having to look into domestic legislation so as to determine whether domestic law 
has been respected and, if so, whether this domestic law conforms to international 
standards. It may thus have to consider ... whether [the practice of arbitrary detention] is 
not made possible as a result of laws which may be in contradiction with international 
standards”18 
 
É bom enfatizar, igualmente, que diferentemente do que alguns defendem, a 
admissibilidade da comunicação para o Grupo de Trabalho não está sujeita ao prévio 
esgotamento de todos os recursos domésticos existentes para remediar a detenção tida 
como arbitrária. “The Working Group therefore considers that it is not within its 
mandate to require local remedies to be exhausted in order for a communication to 
be declared admissible.”19 
Com vistas a assegurar a lisura de todo o procedimento e de garantir um mínimo 
de cooperação mútua dos atores envolvidos, as comunicações deverão ser trazidas à 
atenção do governo interessado, cuja resposta, por sua vez, deverá ser levada à 
consideração dos emitentes da comunicação para eventual realização de comentários. 
Esta característica do procedimento representa um alento para a objetividade do 
mesmo e atende a uma das recomendações para a revitalização do procedimento 1503 
feitas no início dos anos 90 (“participação mais ativa dos reclamantes durante o 
procedimento, podendo fornecer informações adicionais e responder às negativas dos 
governos”).20 “(...)out of this same concern for objectivity, the rapporteurs and 
working groups have always used an adversarial procedure, hearing both the alleged 
 
18 Parágrafo 10 do relatório 1992/20 do Grupo de Trabalho Sobre Detenções Arbitrárias. Disponível 
em: <http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro 
de 2004. 
19 Parágrafo 8 da deliberação II, adotada pelo Grupo de Trabalho em sua terceira sessão, de 23 a 27 de 
março de 1992. Disponível em: 
<http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro de 
2004. 
20 Ver item 3.4.1 do capítulo 3. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
99 
 
victims and the State, thus making it possible for the reports to reflect each point of 
view”.21 
O governo interessado tem um prazo de 90 dias para fazer as investigações 
necessárias e reunir a maior quantidade de informações possíveis com o fim de emitir 
uma resposta para o Grupo. Em casos excepcionais, e mediante um pedido formal 
justificado por parte do governo, existe a possibilidade de concessão de até mais dois 
meses para a emissão da resposta. 
Mesmo no caso de não haver qualquer resposta, pode o Grupo de Trabalho 
apresentar sua opinião acerca do caso, com base nas informações recebidas e obtidas. 
Diante das informações obtidas, alguns cursos de ação se abrem para o Grupo de 
Trabalho sobre Detenções Arbitrárias. 
Em primeiro lugar, caso a pessoa tenha sido posta em liberdade, por qualquer 
motivo que seja, deve o caso ser arquivado. Mesmo nesta hipótese, contudo, é 
assegurado ao Grupo o direito de emitir sua opinião acerca da arbitrariedade ou não 
da detenção. Em 1992, por exemplo, o Grupo de Trabalho se valeu desse direito de 
opinar pela arbitrariedade da detenção de pessoas já liberadas: “In view of the 
reported release of Abu Bakr El Amin, Sid Ahmed El Hussein and Gassim 
Mohammed Salih, their cases are filed. Nevertheless, the Working Group decides that 
their detention had an arbitrary character”.22 
No caso de o Grupo concluir pela não arbitrariedade da detenção, deve esta 
opinião ser formalmente produzida e remetida à Comissão de Direitos Humanos. 
Na hipótese de necessitar de maiores informações por parte do governo ou da 
fonte, poderá deixar o caso em suspenso até o recebimento das mesmas, momento em 
que deverá exarar sua opinião. Se o Grupo, todavia, concluir pela impossibilidade de 
obtenção de maiores informações sobre o caso, poderá arquivá-lo provisória ou 
definitivamente. 
 
21 Parágrafo 73 do relatório de 1998 do Grupo de Trabalho Sobre Detenções Arbitrárias. Disponível 
em: <http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro 
de 2004. 
22 Parágrafo 10 (b) da decisão nº 5/1992 (Sudão). Disponível em: 
<http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro de 
2004. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
100 
 
Finalmente, em considerando arbitrária a detenção, deve o grupo emitir opinião 
formal nesse sentido, bem como fazer recomendações ao governo em questão. Três 
semanas após a remessa das opiniões ao governo, devem as mesmas ser transmitidas 
à fonte. 
Vale esclarecer que até 1997 era comum falar-se em decisões, e não opiniões, no 
tocante às conclusões emitidas pelo Grupo de Trabalho. Isto, porém, dava margem a 
dúvidas quanto ao real mandato desse mecanismo temático. De fato, o termo decisão 
pode remeter a um suposto mandato jurisdicional, ausente nos trabalhos do Grupo, o 
que poderia, por exemplo, dificultar a apreciação de determinado caso no âmbito do 
Comitê de Direitos Humanos ou da Comissão Européia de Direitos Humanos, por já 
ter sido previamente decidido, pelo Grupo, o mérito quanto à não-arbitrariedade da 
detenção. Essa mudança na terminologia passou a vigorar a partir da 18ª Sessão do 
Grupo, em 17 de maio de 1997.23 Vale notar que, já em 1994, a American Association 
of Jurists chamou a atenção para esse problema em um comunicado que fez circular 
no âmbito da Comissão de Direitos Humanos. “In order to avoid creating unfortunate 
confusion, the Group should use terms of a more neutral nature, such as ‘opinions’ 
or ‘views’, and confine itself to ‘considering’ or ‘believing’ that a detention is or is 
not arbitrary.”24 
O relatório anual do Grupo de Trabalho remetido à Comissão de Direitos 
Humanos em Genebra encarrega-se de informá-la acerca de todas as opiniões 
produzidas pelo mesmo. 
O Grupo de Trabalho tem o dever de acompanhar o “follow up” das 
recomendações feitas, obtendo dados dos governos acerca de medidas tomadas para 
adequar-se às mesmas. Com isso, a Comissão de Direitos Humanos será 
permanentemente informada dos progressos alcançados e, eventualmente, das 
dificuldades e falhas encontradas. Assim como é facultado ao Grupo o direito de 
realizar visitas durante a etapa de investigação da procedência ou não das alegações 
 
23 Parágrafo 11 do relatório 1998/44 do Grupo de Trabalho Sobre Detenções Arbitrárias. Disponível 
em: <http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro 
de 2004. 
24 Parágrafo 15 do comunicado da ONG citada, Disponível em: 
<http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> , sob o símbolo 
E/CN.4/1994/NGO/18. Acesso em: Janeiro de 2004. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
101 
 
recebidas, também lhe é permitido realizá-las a título de “acompanhamento”. Em 
considerando-se que a grande dificuldade dos governos está justamente em adequar-
se às recomendações recebidas após uma primeira visita, as “visitasde 
acompanhamento” podem muito bem representar instrumentos extras de estímulo e 
pressão. 
Ainda no tocante às visitas, para muitos críticos elas eram viciadas por uma certa 
seletividade. Na verdade, contudo, segundo dados de 1999, quatro dos cinco 
continentes haviam servido de palco para as mesmas, exceção sendo feita à África25. 
Nesse mesmo ano, no âmbito da Comissão de Direitos Humanos, solicitou-se 
especificamente aos países africanos a efetivação de um convite ao Grupo para a 
realização de uma visita no continente. 
Vale notar, por fim, que as opiniões emanadas do Grupo de Trabalho são 
passíveis de reconsideração a partir de pedidos tanto do governo quanto da fonte. 
Para tanto, algumas condições devem ser respeitadas, quais sejam: 
I. Os fatos em que se baseia o pedido são considerados inteiramente novos pelo 
Grupo, e, em tendo-os conhecido anteriormente, a opinião produzida seria outra. 
II. Os fatos não eram anteriormente conhecidos ou acessíveis às partes de onde 
emana o pedido de reconsideração. 
III. No caso de governos, o pedido de reconsideração só é permitido àqueles que 
respeitaram o prazo de resposta de 90 dias, ou sua prorrogação. 
 
 
4.5. 
O procedimento de ações urgentes 
 
 
Este procedimento repete outros previamente incorporados a alguns grupos de 
trabalho, podendo e devendo ser empregado sempre que houver conhecimento de que 
determinada pessoa está sendo privada de sua liberdade e que a continuação dessa 
situação constitui um sério risco à sua saúde e mesmo à sua vida. Entre as sessões do 
Grupo de Trabalho, o diretor e o vice-diretor estão autorizados a transmitir estas 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
102 
 
comunicações, pelos meios mais rápidos de que dispuserem, aos ministros das 
relações exteriores dos governos em questão. 
Mesmo em casos em que não se verifica risco para a saúde ou a vida do detido 
também é possível recorrer a este procedimento, desde que as circunstâncias 
particulares o justifiquem, como no caso de falha no cumprimento de uma ordem 
judicial de soltura. 
Vale ressaltar que estes procedimentos urgentes, dotados de um puro caráter 
humanitário, de nenhuma forma antecipam a opinião do Grupo de Trabalho acerca da 
arbitrariedade ou não da privação de liberdade. 
Uma vez que este mecanismo exige a soltura de determinados detentos, mesmo 
sem julgar acerca da arbitrariedade ou não da detenção, ele tem sido chamado na 
doutrina de habeas corpus internacional.26 
Em 1996, por exemplo, o Grupo de Trabalho transmitiu 75 apelos urgentes a 35 
governos diferentes, dentre eles os da França, Brasil e China.27 
Conforme já foi afirmado, este tipo de procedimento representa um grande 
avanço no plano dos mecanismos extraconvencionais. Antes, as violações a 
determinado indivíduo não recebiam proteção especial destinada a revertê-las. No 
caso do procedimento 1503, por exemplo, violações individuais eram consideradas 
apenas para configurar o caráter sistemático das mesmas. Somente no âmbito dos 
mecanismos convencionais, como no caso do Protocolo Facultativo ao Pacto Sobre 
Direitos Civis e Políticos, é que se admitia o recebimento de queixas individuais a 
serem especificamente respondidas. 
 
 
4.6. 
Coordenação com outros mecanismos de direitos humanos 
 
 
 
25 Até mesmo países de grande prestígio e influência internacional como o Reino Unido foram objeto 
de visitas do Grupo. 
26 André de Carvalho Ramos. Processo internacional de direitos humanos: análise dos sistemas de 
apuração de violações de direitos humanos e a implementação das decisões no Brasil. Rio de Janeiro: 
Editora Renovar, 2002, pp. 153 e 161. 
27 Ibid., p. 161. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
103 
 
A Comissão de Direitos Humanos, preocupada com a boa coordenação entre os 
diversos órgãos das Nações Unidas envolvidos com a proteção dos direitos humanos, 
encorajou especificamente o Grupo de Trabalho Sobre Detenções Arbitrárias: “to 
take all the necessary steps to avoid duplication with those mechanisms, in particular 
regarding the treatment of the communications it receives and field visits”.28 
Assim, nesse contexto, sempre que o Grupo constatar que determinada alegação 
de violação pode ser melhor tratada no âmbito de outro grupo de trabalho ou relator 
especial, não tardará em remeter o caso para o referido mecanismo. No ano de 1999, 
por exemplo, seis alegações de detenção arbitrária foram remetidas para outros 
mecanismos de direitos humanos.29 
Da mesma forma, em verificando que determinada alegação tanto reside nos 
limites de sua competência como nos de outros mecanismos temáticos, passará a 
considerar a possibilidade de realizarem-se ações conjuntas e coordenadas com os 
demais grupos ou relatores competentes. 
Na hipótese da comunicação endereçada ao Grupo de Trabalho versar sobre 
situação já tratada por outro mecanismo, será preciso verificar qual o teor do 
tratamento dado por este. Caso o mesmo lide com o desenvolvimento dos direitos 
humanos num plano mais genérico, nada impedirá o Grupo de Trabalho de preservar 
sua competência para o caso em questão e responder à comunicação. Contudo, caso o 
mecanismo já mobilizado para aquela situação considere casos individuais (como na 
hipótese do Comitê de Direitos Humanos), deverá o Grupo de Trabalho transmitir a 
alegação ao mesmo, renunciando à sua competência. Isto, é claro, desde que as 
pessoas e fatos envolvidos sejam os mesmos. Em 1992, por exemplo, diante de uma 
alegação de tortura do senhor Wilfredo Saavedra, já investigada pelo relator especial 
sobre tortura da CDH, o Grupo de Trabalho expressamente renunciou à sua 
competência: 
“The Special Rapporteur stated that a special commission headed by the Dean of the 
Medical Association ‘had found that Dr. Saavedra's wrists bore marks of having been 
 
28 Resolução 1997/50 da CDH, parágrafo 1 (b). Disponível em: 
<http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro de 
2004. 
29 Anexo I do relatório 2000/4 do Grupo de Trabalho Sobre Detenções Arbitrárias. Disponível em: 
<http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro de 
2004. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
104 
 
bound and there were contusions on his body’. Accordingly, it is not appropriate for the 
Working Group on Arbitrary Detention to pronounce on a matter which has already been 
dealt with by another organ of the Commission”30 
 
Por fim, o Grupo não deverá realizar visitas a países para os quais a Comissão já 
nomeou grupos ou relatores geográficos, ou qualquer outro mecanismo específico 
para aquele país, salvo as hipóteses em que o convite para a visita parta dos próprios 
responsáveis pelos mecanismos. 
 
 
4.7. 
Cooperação com as Organizações Não-Governamentais 
 
 
Já na resolução 1991/42 da Comissão de Direitos Humanos, ficava o Grupo de 
Trabalho convocado a cooperar com as ONG’s. Estas teriam papel fundamental, 
contribuindo com suas informações, opiniões e observações para aperfeiçoar e 
facilitar o trabalho do Grupo, podendo, inclusive, fazer sugestões quanto ao método 
de trabalho a ser adotado. 
“During the period covered by the present report, non-governmental organizations 
continued their fruitful cooperation with the Working Group by making several useful 
suggestions, some of which were taken into account by the Group when it revised its 
methods of work”31 
 
É admitido às ONG’s, igualmente, provocar aação do Grupo mediante 
comunicações acerca de detenções de caráter supostamente arbitrário. No período de 
fevereiro a dezembro de 1993, por exemplo, 7 comunicações relativas a 65 casos 
individuais foram emanadas de ONG’s locais ou regionais e 32 comunicações 
relativas a 110 casos individuais foram transmitidas por ONG’s internacionais.32 
 
 
30 Parágrafo 6 (h) da decisão nº7/1992 (Peru) do Grupo de Trabalho Sobre Detenções Arbitrárias. 
Disponível em: <http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso 
em: Janeiro de 2004. 
31 Parágrafo 11 do Relatório 1993/24 do Grupo de Trabalho Sobre Detenções Arbitrárias. Disponível 
em: <http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro 
de 2004. 
32 Parágrafo 12 do Relatório 1994/27 do Grupo de Trabalho Sobre Detenções Arbitrárias. Disponível 
em: <http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro 
de 2004. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
105 
 
4.8. 
Contexto de sua criação – Pós-Guerra Fria 
 
 
Segundo Jack Donnelly: “(...) not only do human rights have firm place in 
international relations, in sharp contrast to just a half century ago, but their place is 
more prominent than at any other time in history”33 
O final da Guerra Fria e o triunfo do capitalismo deram margem a uma onda de 
otimismo exagerado acerca da supremacia do Ocidente, consagrando-se o Estado 
liberal e democrático como a direção para onde todos tenderiam inapelavelmente a 
orientar-se. 
Em pouco tempo, contudo, é sabido que esse triunfalismo ocidental cedeu o lugar 
a um período de incertezas caracterizado, por exemplo, por pressões migratórias dos 
países periféricos e pelo avanço do fundamentalismo religioso, da xenofobia e de 
práticas neofascistas na Europa, bem como de movimentos separatistas e 
segregacionistas em diversas partes do mundo. Percebia-se, claramente, que a 
História ainda estava longe de seu fim. 
No tocante aos direitos humanos, o simples avanço da democracia e da “ética do 
mercado” estão longe de representar, por si só, um maior respeito aos mesmos. De 
fato, o inegável avanço de regimes eleitos democraticamente não foi acompanhado 
por um progresso equivalente na proteção e observância dos direitos humanos. 
Na verdade, a democracia eleitoral, representada pela garantia da participação da 
maioria pelo voto (“governo pelo povo”), em nada assegura o estabelecimento de um 
regime promotor dos direitos humanos internacionalmente reconhecidos. Por vezes, o 
governo da maioria, engajando-se em práticas populistas e demagógicas, usará seu 
poder para combater minorias, eventualmente inimigas, violando direitos individuais 
consagrados. Os Estados Unidos, por exemplo, mesmo quando praticantes de uma 
política de discriminação racial, constituíam inegavelmente uma democracia 
(eleitoral). 
Os direitos humanos são na realidade minority rights, garantidos a toda e qualquer 
pessoa, individualmente considerada, e constituem, em essência, os limites a serem 
 
33 Jack Donnelly, 1998, p. 17. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
106 
 
observados pelos governos democráticos. “Human rights empower autonomous 
individual and seek to assure that personal and societal goals are pursued within the 
confines of guaranteeing every individual certain minimum goods, services, and 
opportunities.”34 
O que se deve buscar, então, é a chamada democracia liberal (“governo para o 
povo”), esta, sim, consoante com os direitos humanos internacionais, preocupada não 
apenas com a vontade da maioria, mas também com a realização dos direitos dos 
cidadãos. “The distinction between electoral and liberal democracy concerns not who 
rules but how (within what limits).”35 
O mercado, por sua vez, não conseguiu garantir a estabilidade e prosperidade 
esperadas nas democracias capitalistas desenvolvidas, resultando em taxas de 
desemprego assustadoras. Para os países em desenvolvimento, a ética do mercado foi 
um agravante das desigualdades já existentes, principalmente pela postulação de 
medidas de austeridade econômica destinadas a cortar gastos em áreas sociais. Fica 
latente o descompasso entre as políticas neoliberais e a garantias derivadas dos 
direitos econômicos e sociais internacionalmente reconhecidos. 
Assim, percebe-se que a simples afirmação da democracia eleitoral e do 
capitalismo, como resultantes do fim da Guerra Fria, em muito pouco contribuíram 
para um avanço efetivo na proteção e respeito aos direitos humanos. 
É certo, contudo, que o fim da disputa ideológica entre Leste e Oeste criou um 
ambiente mais propício ao diálogo e à consolidação de certas concepções 
extremamente valiosas para o progresso dos direitos humanos. Para Ruggie deu-se, 
por exemplo, um novo impulso ao multilateralismo: “multilateral norms and 
institutions (…) appear to be playing a significant role in the management of a broad 
array of regional and global changes in the world system today”36 
Sem dúvida, o fim da Guerra Fria favoreceu a afirmação dos direitos humanos 
como tema global. Antes, em meio a um mundo bipolar, caracterizado por uma 
confrontação ideológica entre comunismo e capitalismo, era mais fácil escamotear as 
 
34 Ibid., pp. 154-155. 
35 Ibid., p. 158. 
36 John Ruggie. Multilateralism: The Anatomy of an Institution. In:__ Multilateralism Matters: The 
Theory and Praxis of an Institutional Form. Columbia University Press, 1993, p. 03. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
107 
 
violações internacionalmente detectadas com argumentos de que as denúncias, 
originadas do lado adversário, buscavam na verdade a desmoralização do país na 
comunidade internacional. Hoje, livres das rixas ideológicas, há uma maior 
transparência para se verificar a gravidade da situação dos direitos humanos no 
mundo, com reflexos não somente para a paz social interna dos países, mas também, 
muitas vezes, para a própria estabilidade internacional. 
Nesse novo ambiente, fica latente a maior abertura e participação dos Estados na 
proteção aos direitos humanos. Os Estados Unidos, por exemplo, que sempre se 
mostraram reticentes na adesão a tratados internacionais que pudessem limitar sua 
liberdade de ação, decidiram, em 1992, finalmente ratificar o Pacto Internacional de 
Direitos Civis e Políticos (1966). Em 1994, passaram a fazer parte das Convenções 
Sobre a Tortura (1984) e Direitos da Mulher (1979). 
As violações maciças de direitos humanos passaram a ter reconhecidas 
repercussões transfronteiriças, na forma, por exemplo, de migrações em massa 
capazes de conturbar a estabilidade econômica e social nos países de acolhida. 
Paralelamente, aprofundaram-se as crenças numa relação estreita entre violações 
de direitos humanos e guerra. A violação aberta e reiterada dos direitos individuais 
contra os próprios cidadãos configuraria uma predisposição para a agressão contra 
outras sociedades. A contrariu sensu, segundo o conceito de paz democrática, duas 
nações democráticas não lutariam entre si (“libertarian states have no violence 
between themselves”).37 Vale esclarecer que para R.J. Rummel, a democracia 
pressupõe não apenas a realização de eleições, com vários partidos em disputa e 
mediante sufrágio secreto e universal, mas também o respeito aos direitos humanos 
(liberdades civis e direitos políticos).38 Especificamente no tocante aos direitos 
humanos, afirma Rummel: “There is also a struggle for human rights. It helps the 
struggle not only to justify human rights fortheir own sake, but to point out their 
importance for global peace and security”.39 
 
37 R. J. Rummel. War, Power and Peace v.4. In:__Understanding Conflict and War. Beverly Hills, 
California : Sage Publications, 1979. 
___. Libertarianism and International Violence. The Journal of Conflict Resolution, v.27, March 1983, 
p. 27-71. 
38 Disponível em: <http://www.peacemagazine.org/9905/rummel.htm> Acesso em Janeiro de 2004. 
39 Ibid. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
108 
 
Nesse mesmo sentido, são palavras de J. A. Lindgren Alves: “A afirmação dos 
direitos humanos como tema internacional prioritário fundamenta-se, do ponto de 
vista estratégico, pela percepção de que violações maciças podem levar à guerra”.40 
Além desses fatores transnacionais, consolida-se entre cidadãos, ativistas e 
minorias a convicção de que somente a proteção efetiva dos direitos humanos confere 
real legitimidade aos governantes. Na falta do clima de insegurança permanente 
forjado durante a Guerra Fria, as populações não estavam mais dispostas a tolerar 
abusos em nome da segurança nacional, ainda que praticados fora de seu território. 
Nesse novo contexto, a ONU decide realizar duas conferências mundiais para 
tratar justamente dos temas que passaram a ter uma grande projeção internacional no 
pós-Guerra Fria, o meio ambiente e os direitos humanos. Assim, do dia 14 a 25 de 
junho de 1993, realiza-se em Viena a 2ª Conferência Mundial Sobre Direitos 
Humanos. 
A questão da universalidade foi objeto de grande debate no âmbito da 
conferência, sendo finalmente consagrada no seu artigo 1º: “A natureza universal de 
tais direitos e liberdades não admite dúvidas”.41 As peculiaridades de cada cultura 
foram tratadas adequadamente no artigo 5º, onde se afirma que as particularidades 
históricas, culturais e religiosas devem ser levadas em consideração, sem que isso, 
contudo, isente os Estados de promover e proteger ‘todos’ os direitos humanos. Desta 
forma, o relativismo cultural foi definitivamente colocado em xeque como meio 
legítimo para se escapar à observância dos direitos humanos. 
Outro grande avanço conceitual no plano da conferência foi o reconhecimento do 
caráter indivisível e interdependente dos direitos humanos (artigo 5º). Não seria mais 
aceitável, então, limitar os direitos civis e políticos em nome de um suposto 
desenvolvimento econômico, prática adotada durante a Guerra Fria. A própria divisão 
dos direitos humanos em gerações passa a ser questionada por certas autoridades no 
assunto, como a ex-Alta Comissária Mary Robinson, por fomentar uma visão 
atomizada do tema, distante da realidade. (ver capítulo 2). 
 
40 J. A Lindgren Alves, op. cit., p. 3. 
41 Ibid., p. 27. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
109 
 
Também merece destaque o reconhecimento da legitimidade da preocupação 
internacional com a promoção e a proteção aos direitos humanos, consagrada no 
artigo 4º. Confirmava-se, assim, o entendimento de que os direitos humanos 
extrapolam o domínio reservado dos Estados, limitando sobremaneira o recurso ao 
princípio da soberania como forma de encobrir violações. 
A Declaração de Viena registrou, outrossim, que a observância dos direitos 
humanos contribui para a estabilidade e para o bem-estar necessários às relações 
pacíficas e amistosas entre as nações, concorrendo para a paz e segurança 
internacionais (artigo 6º). 
Em suma, percebe-se que o fim da Guerra Fria abriu caminho para a consagração 
de certos conceitos, até então alvos de críticas e contestações, extremamente 
necessários para a definitiva afirmação dos direitos humanos no plano internacional. 
A tão cara legitimidade dos governos, por exemplo, passou a englobar, nesse novo 
período, uma postura mais respeitosa para com os direitos humanos, e uma 
colaboração mais intensa com os órgãos encarregados de sua promoção. Atitudes de 
desprezo pelos instrumentos legais internacionais de direitos humanos, bem como o 
boicote ostensivo a grupos de trabalho e relatores destinados a investigar violações e 
promover o respeito aos mesmos, comprometeriam a legitimação dos Estados não 
apenas perante a comunidade internacional, mas também em face de sua própria 
população. 
Ademais, o reconhecimento da importância do tema para a governabilidade do 
sistema mundial, e o conseqüente tratamento global do mesmo, reafirmaram a 
disposição dos Estados em abandonar a “cidadela da soberania” e cooperar mais 
ativamente com órgãos e mecanismos de proteção. Esta tendência pode ser observada 
pela multiplicação no número de procedimentos temáticos ocorridos no período. 
“No Mundo pós-Guerra Fria, com a crescente afirmação dos direitos humanos como tema 
global e, conseqüentemente, a multiplicação de iniciativas para o maior controle 
internacional de tais direitos, o número de relatores temáticos da CDH vem aumentando 
aceleradamente”42 
 
Assim, considerando o contexto de criação do Grupo de Trabalho Sobre 
Detenções Arbitrárias, pode-se dizer que ele foi beneficiado por certos avanços 
 
42 Ibid., p. 97. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
110 
 
conceituais advindos do fim da Guerra Fria e consagrados, em boa medida, pela 
Conferência Mundial de Viena em 1993. 
No âmbito da teoria cognitiva fraca exposta no capítulo anterior, é possível 
entender como os Estados, diante de novos conceitos e idéias, acabaram por 
modificar seu comportamento e mesmo seus interesses. Assim, se o respeito aos 
direitos humanos passou a ser uma precondição para a legitimação dos governos e se 
esses direitos passaram a ter reconhecida influência na estabilidade e paz 
internacionais, é natural que os Estados cooperem crescentemente com os 
mecanismos de direitos humanos. Se nos anos 70 era comum os Estados negarem-se 
a aceitar visitas dos relatores especiais (ver capítulo 3, item 3.4.2.1.), nos anos 90 é 
latente a maior disposição dos países em responder às solicitações dos grupos de 
trabalho temáticos.43 
Nesse sentido, o Grupo de Trabalho sobre Detenções Arbitrárias representaria um 
importante avanço. Considerando o grande número de Estados que vem aceitando 
ações deste mecanismo, verifica-se um fortalecimento do instituto da 
“responsabilidade costumeira internacional” do Estado por violação de direitos 
humanos. 
“A Comissão de Direitos Humanos tem solicitado aos Estados que adotem as medidas 
urgentes e finais requeridas pelo Grupo de Detenção Arbitrária, com base em princípios 
gerais. Tudo isso é solicitado, mas como é obedecido, fortalece, por via costumeira, a 
teoria geral da responsabilidade internacional do Estado por violação de direitos 
humanos”44. 
 
Cumpre lembrar que as normas de proteção aos direitos humanos têm seu caráter 
cogente internacionalmente reconhecido quando oriundas das três fontes do Direito 
Internacional, quais sejam: os tratados internacionais, o costume e os princípios gerais 
de direito. 
 
 
4.9. 
Análise empírica da atuação do Grupo de Trabalho 
 
 
43 André de Carvalho Ramos, op. cit., p. 166. 
J. A. Lindgren Alves, op. cit., p. 20. 
44 André de Carvalho Ramos, loc. cit. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
111 
 
Neste item foram selecionados alguns exemplos de modo a ilustrar o 
comportamento do Grupo de Trabalho Sobre Detenções Arbitrárias. Num primeiro 
momento, foram escolhidos casos considerados no primeiro ano de atuação, sob o 
tópico as “primeiras opiniões”, permitindo observar, por um lado, que desdeo início 
o Grupo se preocupou em observar as distintas orientações relativas aos limites de seu 
mandato e ao método de trabalho (apresentados respectivamente nos itens 4.3. e 4.4. 
acima) e, por outro, que houve desde então uma evolução em alguns entendimentos 
do Grupo, como fica explícito na primeira opinião apresentada. Num segundo 
momento, sob o tópico “o caráter não seletivo das opiniões”, buscou-se apresentar, 
também a título de ilustração, algumas opiniões tomadas em face de países que 
normalmente passam incólumes pelos trabalhos da Comissão de Direitos Humanos, 
onde se opinou tanto pela arbitrariedade quanto pela não-arbitrariedade, dependendo 
das informações colhidas em cada caso e considerando basicamente critérios técnicos. 
 
4.9.1. 
As primeiras opiniões 
 
Tendo sido criado em 1991, o Grupo de Trabalho teve suas primeiras opiniões 
(decisões) apresentadas no relatório 1993/24 enviado à Comissão de Direitos 
Humanos. 
No período de setembro de 1991 a dezembro de 1992, o Grupo de Trabalho 
analisou um total de 382 casos, opinando pela arbitrariedade da detenção em 91 deles. 
Em um caso o Grupo não vislumbrou qualquer ilegalidade ou arbitrariedade, em 126 
decidiu pelo arquivamento, seja por falta de informações ou por terem sido postas em 
liberdade as pessoas envolvidas, e em 162 decidiu manter os casos sob pendência. 45 
Segundo reconhecido pelo próprio Grupo em seu relatório, a cooperação dos 
Estados envolvidos, na forma de resposta às comunicações feitas prestando 
informações e esclarecimentos, em pouco superou a faixa dos 50%.46 Vale esclarecer 
 
45 Anexo III do relatório 1993/24. Disponível em: 
<http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro de 
2004. 
46 Parágrafo 37 do relatório 1993/24. Disponível em: 
<http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro de 
2004. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
112 
 
a este respeito, que conforme afirmado pelo próprio grupo no relatório 1994/27 
(parágrafo 55 (b))47, a não-cooperação do Estado não leva a qualquer presunção de 
veracidade das informações alegadas na comunicação, sendo a recíproca igualmente 
verdadeira. 
 
4.9.1.1. 
Decisão 7/1992 (Peru) 
 
Um primeiro caso diz respeito à detenção de Wilfredo Estanislao Saavedra 
Marrero, ativista de direitos humanos, preso em 19 de setembro de 1989 em 
Catamarca, Peru. Segundo a comunicação, Wilfredo fora preso e sentenciado a 10 
anos de prisão por uma corte militar, após ter confessado, sob tortura, seu 
envolvimento com o Movimento Revolucionário Tupac Amaru.48 
Ainda nos termos da comunicação, o interessado não teria tido acesso a defesa até 
decorridos 30 dias de sua detenção. Foi alegada a violação dos artigos 9, 10, 11 e 19 
da Declaração Universal de Direitos Humanos e 9, 14 e 19 do Pacto Sobre Direitos 
Civis e Políticos, do qual o Peru é parte. 
No caso em tela, foi reconhecida a cooperação do governo do Peru com o Grupo, 
embora a resposta à comunicação tenha sido feita após o prazo de 90 dias. Nesta 
resposta o governo indica que a Suprema Corte do país negou o recurso do 
interessado quanto à incompetência do juízo militar que o sentenciou. 
O Grupo considerou que muito embora a prisão efetuada pela polícia tenha 
ocorrido sem um mandado inicial que a justificasse, ela foi confirmada e legitimada 
pela corte assim que o interessado foi levado a julgamento, não havendo, portanto, 
indicativos de arbitrariedade na detenção. 
No tocante à alegação de tortura, o grupo declinou de sua competência, por já ter 
sido o caso analisado pelo relator especial sobre tortura da CDH (ver item 4.6. 
acima). 
 
47 Disponível em: <http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso 
em: Janeiro de 2004. 
48 Decisão 7/1992. Disponível em: 
<http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro de 
2004. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
113 
 
Em relação à competência, o Grupo observa que na lei doméstica está prevista a 
atuação de um tribunal militar para julgar os crimes pelos quais o interessado é 
acusado, além de ter sido a legitimidade do mesmo apreciada e confirmada pela 
Suprema Corte do País. 
Vale enfatizar a esse respeito, que em resposta à opinião emitida sobre o caso 
Wilfredo Saavedra, a American Association of Jurists, gozando de caráter consultivo 
na 50ª sessão da Comissão de Direitos Humanos, fez circular documento em que 
criticava o Grupo por ater-se meramente a critérios de legalidade doméstica para 
legitimar sentença proferida por corte militar em relação a pessoa civil. 
“It fails to consider whether Saavedra Marreros was tried by an independent, impartial 
court in the absence of any arbitrariness, and whether Peruvian anti-terrorist legislation, 
in empowering the military courts to try civil offences, does not constitute a dangerous 
source of arbitrariness.” 49 
 
A citada ONG chega a afirmar que as cortes militares seriam próprias para julgar 
exclusivamente crimes e ofensas contra a disciplina militar. Em todos os demais 
casos, em nome da imparcialidade e independência exigidas para uma boa 
administração da justiça, prevaleceria a competência dos tribunais ordinários. 
Confirmando a grande utilidade das ONG’s na definição dos métodos de trabalho 
do Grupo (ver item 4.7. acima), opiniões como a da American Association of Jurists 
foram determinantes para ensejar uma sensível mudança, ocorrida nos últimos anos, 
no entendimento do Grupo sobre a legitimidade das cortes militares. De fato, no 
relatório do Grupo de Trabalho sobre a visita ao próprio Peru em 1998, ficou 
consagrado, no item I do parágrafo 178, a impossibilidade de civis serem julgados 
por cortes militares (ver item 4.3. acima). Este novo entendimento seria suficiente 
para ensejar uma mudança na apreciação do caso pelo Grupo, que, diante de sentença 
proferida por Corte Militar contra civil, certamente opinaria pela arbitrariedade da 
detenção. 
Por fim, o Grupo diz não ter ficado esclarecido na comunicação em que medida 
teriam sido violadas as garantias de liberdade de opinião e expressão consagradas na 
Declaração Universal e no Pacto Internacional. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
114 
 
Assim, o Grupo de Trabalho decidiu-se finalmente pela não-arbitrariedade da 
detenção imposta ao senhor Wilfredo Saavedra. 
 
4.9.1.2. 
Decisão 14/1992 (Cuba) 
 
Outro caso incluído no relatório de 1993 do Grupo diz respeito à prisão de 
Agustín Figueredo, em Cuba.50 
A comunicação encaminhada ao Grupo limitou-se a informar que o interessado 
estava detido na prisão Las Mangas, Bayamo. Foi alegada a violação das garantias 
previstas nos artigos 9.10,11 e 19 da Declaração Universal de Direitos Humanos e 
9,14 e 19 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos. 
O Grupo reconheceu a cooperação do governo cubano, que respondeu dentro do 
prazo de 90 dias. Houve também menção às informações fornecidas pela Missão 
Permanente de Cuba junto ao escritório das Nações Unidas em Genebra. 
O governo esclareceu que o interessado está preso, cumprindo sentença emanada 
da Corte Provincial Popular de Santiago de Cuba, em resposta à prática de diversas 
ofensas de “propaganda inimiga”, sem, no entanto, indicar o teor das mesmas. 
Sem poder contar com provas convincentes que confirmem a alegação de 
arbitrariedade e sem conhecer os atos sobre os quais pesam as acusações que levaram 
à condenação, o Grupo reconhece não poder emitir opiniões conclusivas. 
Assim, em conformidadecom suas próprias diretrizes de trabalho, o Grupo 
decidiu-se pelo arquivamento do caso em tela. 
“if it does not have enough information to take a decision, the case remains pending for 
further investigation and, if the Working Group considers that it does not have enough 
information to warrant keeping the case pending, the case is filed without further 
action”.51 
 
Este caso demonstra a afinidade da atuação do Grupo com suas diretrizes (ver 
item 4.4. acima), pois, uma vez confrontado com uma comunicação pouco 
 
49 Parágrafo 6º do documento E/CN.4/1994/NGO/18 da American Association of Jurists. Disponível 
em: <http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro 
de 2004. 
50 Decisão 14/1992. Disponível em: 
<http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro de 
2004. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
115 
 
esclarecedora e diante da falta de informações e dados concretos, optou-se pelo 
arquivamento, evitando-se a produção de uma opinião injusta. 
 
4.9.1.3. 
Decisão 1/1992 (Irã) 
 
Um último exemplo diz respeito à atuação do Grupo em face das alegações de 
arbitrariedade nas detenções de Ali Ardalan, Mohammed Tavassoli Hojati, Hashem 
Sabbaghian, Mezameddin Mohaved, Abdol Fazl Mir Shams Shahshahani, Dr. 
Habidollah Davaran, Abdoladi Bazargan, Khosrow Mansourian, Akbar Zaninehbaf.52 
No presente caso, o Grupo mostrou sua preocupação diante da falta de cooperação 
do governo iraniano, que não apresentou qualquer resposta dentro do prazo de 90 
dias. 
Segundo alegado na comunicação, os interessados teriam ficado presos, sem 
condenação, por aproximadamente um ano e, uma vez julgados, a condenação teria se 
embasado exclusivamente nas opiniões e críticas apresentadas numa carta aberta 
contra o governo. 
Diante dos fatos, o Grupo não entende como a opinião dos interessados pode ter 
ameaçado a segurança nacional ou a ordem pública. Afirma, então, que a detenção e a 
manutenção da mesma, em face da simples manifestação de opiniões, contrariam o 
teor dos artigos 19 (liberdade de opinião e expressão) da Declaração Universal e do 
Pacto Sobre Direitos Civis e Políticos, de que o Irã é parte. 
Vale lembrar posição do Grupo, já apresentada anteriormente, no sentido de que a 
livre manifestação de opiniões constitui a maior causa de privações de liberdade de 
caráter arbitrário. 
Por fim, o fato de terem permanecido presos por um ano, sem conhecimento das 
acusações e sem julgamento, a falta de acesso a defesa e a condenação por uma Corte 
Revolucionária, fugindo às determinações de um julgamento público e imparcial, 
 
51 Parágrafo 6(i) da decisão 14/1992 (Cuba) do Grupo de Trabalho Sobre Detenções Arbitrárias. Ibid. 
52 Decisão 1/1992 (Irã). Disponível em: 
<http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro de 
2004. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
116 
 
configuram, igualmente, clara violação das garantias previstas nos artigos 9, 10 e 11 
da Declaração Universal e 9 e 14 do Pacto Sobre Direitos Civis e Políticos. 
Assim, o Grupo não teve dúvidas em declarar arbitrária a detenção dos 
interessados e convocar o governo do Irã “to take the necessary steps to remedy the 
situation in order to bring it into conformity with the norms and principles 
incorporated in the Universal Declaration of Human Rights and in the International 
Covenant on Civil and Political Rights”53 
Este exemplo serve para ilustrar a preocupação do Grupo tanto com os fatos que 
ensejam a detenção, quanto com o modo como a mesma é feita. Em sabendo ser a 
manifestação de opiniões contrárias ao governo a causa da detenção, o Grupo 
prontamente inclui a mesma na categoria II (apresentada no item 4.3. acima), 
considerando-a arbitrária. Em seguida, atendo-se a questões procedimentais de como 
foi feita, o Grupo reconhece a violação de diversas garantias como o direito a defesa e 
a um julgamento justo e imparcial, reforçando o caráter arbitrário da detenção 
(incidindo agora sobre a categoria III, já apresentada). 
Nesse primeiro ano de trabalho, vale notar que não foi registrada qualquer visita 
do Grupo a países com o fim de investigar os casos submetidos a apreciação, mas 
enfatizou-se no relatório 1993/24 a intenção de fazê-lo futuramente. Justificou-se tal 
intenção como forma de se aprofundar a cooperação dos governos interessados, que 
deveriam enxergar as visitas como uma oportunidade para apresentar seus pontos de 
vista em face da realidade existente e não como uma agressão à sua soberania. 
A própria Comissão de Direitos Humanos, na resolução 1993/36, expressamente 
convoca os governos a estenderem convites ao Grupo de Trabalho para a realização 
de missões in situ: 
“Encourages Governments to consider inviting the Working Group to their countries so 
as to enable the Group to discharge its protection mandate even more effectively and 
also to make concrete recommendations concerning the promotion of human rights, in 
the spirit of the advisory or technical assistance services, that may be of help to the 
countries concerned”54 
 
 
 
53 Parágrafo 12 da decisão 1/1992 (Irã) do Grupo de Trabalho Sobre Detenções Arbitrárias. Ibid. 
54 Parágrafo 11 da resolução 1993/36 da Comissão de Direitos Humanos. Disponível em: 
<http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso em: Janeiro de 
2004. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
117 
 
4.9.2. 
O caráter não-seletivo das opiniões 
 
Uma das grandes contribuições do Grupo de Trabalho Sobre Detenções 
Arbitrárias diz respeito ao fato de alcançar países influentes na comunidade 
internacional, convocando-os a prestar informações acerca de alegações, 
invariavelmente constrangedoras, de violação de direitos humanos. Assim, fica 
caracterizado um notável avanço nos trabalhos da Comissão de Direitos Humanos, 
freqüentemente acusados de seletividade. 
De modo a ilustrar esse caráter não seletivo, cumpre analisar algumas opiniões 
adotadas pelo Grupo em relação a Estados Unidos, Rússia, Espanha e Reino Unido, 
onde pode se perceber o emprego de critérios técnicos de análise, optando-se tanto 
pela arbitrariedade quanto pela não arbitrariedade, com base simplesmente nas 
informações recebidas e colhidas e não em pressões eventualmente sofridas. 
 
4.9.2.1. 
Opinião 6/1997 (Estados Unidos)55 
 
Em face de comunicação relativa à detenção de Felix Gómez, Angel Benito e 
Cándido Rodriguez Sanchez, o Grupo lamentou, em primeiro lugar, a falta de 
resposta dos Estados Unidos dentro do prazo de 90 dias. 
Foi alegado pelos emitentes da notificação que os três interessados estavam 
presos há mais de dez anos, sem terem praticado qualquer crime, pelo simples fato de 
serem cidadãos cubanos. 
O Grupo, diante do silêncio do governo americano e baseado nas informações 
colhidas, entendeu que os interessados estavam sendo mantidos presos, sem terem 
sido julgados, nem mesmo notificados de suas acusações, contrariando-se claramente 
as disposições dos artigos 9 e 10 da Declaração Universal e 9 e 14 do Pacto Sobre 
Direitos Civis e Políticos, do qual os Estados Unidos é parte. 
 
55 Disponível em: <http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/Documents?OpenFrameset> Acesso 
em: Janeiro de 2004. 
DBD
PUC-Rio -Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
118 
 
Assim, não restou outra opção ao Grupo a não ser opinar pela arbitrariedade da 
detenção dos interessados, convocando os Estados Unidos a tomarem as medidas 
necessárias de modo a remediar e reverter a situação. 
Neste exemplo, não podendo contar com esclarecimentos ou justificativas 
apresentados pelo governo americano, o Grupo analisou dados e informações 
contidos na comunicação, que, uma vez considerados válidos e suficientemente 
esclarecedores da violação de garantias relativas a um julgamento justo e imparcial, 
terminaram por ensejar opinião pela arbitrariedade da detenção. Perceba-se que o 
Grupo agiu conforme as orientações previstas no seu mandato, independentemente do 
peso do país que estava sendo analisado, o que nos permite identificar elementos de 
objetividade e imparcialidade tão caros a seu modo de agir. (ver item 4.2. acima). 
 
4.9.2.2. 
Opinião 9/1999(Rússia)56 
 
Neste caso, o Grupo foi informado da detenção de Grigorii Pasko, comandante da 
marinha russa e colaborador com meios de comunicação como o jornal da Frota 
Russa no Pacífico, o jornal japonês Asahi e a rede de televisão japonesa NHK. 
Segundo constante da comunicação, o interessado alertou, por diversos anos, 
acerca do péssimo estado de conservação de vários submarinos nucleares russos e do 
risco que isso representava para o meio-ambiente. Teria denunciado, outrossim, a 
prática comum de despejar-se o lixo nuclear em águas do pacífico. Diante desses 
fatos, o militar foi preso e acusado dos crimes de revelação de segredos de Estado e 
espionagem, com uma pena máxima prevista de 20 anos. O Grupo lamentou a 
ausência de resposta do governo russo no prazo legal de 90 dias. 
O julgamento, iniciado no dia 21 de janeiro de 1999, foi realizado numa corte 
militar da base naval de Vladivostok. Poucos dias após seu início, dois advogados do 
interessado foram proibidos de atuar, acusados de obstruir o trabalho dos juízes e de 
passar informações sigilosas à imprensa. 
Considerando os fatos e as informações recebidas, o Grupo observou que o 
interessado limitou-se a exercer sua liberdade de opinião, criticando ações danosas ao 
 
56 Ibid. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
119 
 
meio-ambiente, tema que não respeita fronteiras e afeta a toda a humanidade. Estaria, 
então, coberto pelas garantias dos artigos 19 da Declaração Universal e do Pacto 
Sobre Direitos Civis e Políticos, de que a Rússia é parte. Além disso, a própria 
legislação russa, no artigo 7º da Lei Federal Sobre Segredos de Estado, reconhece que 
informações acerca de condições ambientais, emergências ou desastres que 
representem risco para a humanidade escapam inexoravelmente à categoria de 
“segredo de Estado”. 
No tocante aos procedimentos judiciais aplicados, o Grupo questionou a 
imparcialidade do tribunal da base naval de Vladivostok, tendo sido esta o principal 
alvo das críticas feitas pelo interessado. Censurou-se, ademais, a utilização de meios 
ilícitos de prova (grampos telefônicos) e o impedimento imposto aos advogados do 
acusado. A partir desses fatos, conclui-se pela violação das garantias constantes dos 
artigos 9 e 10 da Declaração Universal e 9 e 14 do Pacto Sobre Direitos Civis e 
Políticos. 
Em face do exposto, o Grupo opinou pela arbitrariedade da detenção do 
interessado e intimou o governo russo a remediar e reverter a situação. 
Mais uma vez, no caso em tela, o Grupo não pôde contar com as informações do 
governo, e ateve-se aos dados e indicações presentes na comunicação. No entanto, 
considerando-os suficientemente legítimos e esclarecedores o Grupo não viu 
necessidade de manter a questão pendente por mais informações, identificando tanto 
irregularidades procedimentais quanto violações de garantias relativas à liberdade de 
expressão e opinião. Assim como no caso anterior, a importância do país sob análise 
não teve maiores influências no comportamento e no resultado da deliberação do 
Grupo, servindo de mais um indicativo da objetividade e imparcialidade dos trabalhos 
do mesmo. 
 
4.9.2.3. 
Opinião 26/1999 (Espanha)57 
 
O Grupo de Trabalho recebeu comunicação acerca da detenção de Mikel Egibar 
Mitxelena, ocorrida no dia 10 de Março de 1999, em sua residência, e efetuada na 
 
57 Ibid. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
120 
 
presença de sua esposa e filho. Foi alegado o caráter arbitrário da detenção com base 
em cinco elementos, quais sejam: a) o interessado teria sido mantido detido por cinco 
dias em custódia policial e por mais três dias em custódia judicial, sem a assistência 
de um advogado livremente escolhido; b) a extensão da custódia policial teria sido 
feita por juiz competente, mas sem maiores justificativas; c) por longos oito dias o 
interessado teria sido mantido incomunicável; d) o interessado teria sido vítima de 
maus tratos enquanto detido; e) boa parte dos procedimentos teria se desenrolado em 
segredo. O Grupo reconheceu com satisfação a cooperação e as informações 
prestadas pelo governo espanhol, que se limitou a negar apenas a suposta prática de 
tortura. 
O Grupo observou que a detenção do interessado no dia 10 de Março realizada 
pela Guarda Civil Espanhola, sob acusação de associação com facção terrorista, foi 
efetuada sob os auspícios de ordem judicial. A extensão da custódia policial, 
legalmente de no máximo 72 horas, por um período adicional de 48 horas, também 
foi ordenada por autoridade judicial competente. Vale notar a esse respeito, que o 
artigo 9º parágrafo 3º do Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos 
recomenda a rápida condução do detento perante autoridade judicial, o que parece ser 
atendido pelo prazo máximo de 72 horas consagrado na lei espanhola. Ao Grupo não 
pareceu que a extensão por mais 48 horas configure violação do referido dispositivo, 
sempre que necessário para o bom andamento e conclusão das investigações, e desde 
que seja garantido um acompanhamento médico ao detido (para evitar torturas, por 
exemplo), o que foi feito no caso em questão. 
No tocante ao caráter incomunicável do detento alegado na comunicação, o 
Grupo notou que o mesmo derivou também de ordem judicial e se justifica, mesmo à 
luz do ordenamento internacional, em casos de crimes sérios, como terrorismo. O 
Corpo de Princípios para a Proteção de Todas as Pessoas Sob Qualquer Forma de 
Detenção ou Prisão, por exemplo, prevê nos princípios 15, 16 e 18 parágrafo 3º esse 
tipo de detenção desde que haja: “exceptional needs of the investigation”, 
“exceptional circumstances, to be specified by law or lawful regulations, when it is 
considered indispensable by a judicial or other authority in order to maintain 
security and good order”. 
DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0210271/CA
 
 
121 
 
No que concerne a livre escolha de um advogado, o Grupo entendeu que o 
interessado não o requereu durante os interrogatórios policiais, tendo aceitado aquele 
designado de ofício. Posteriormente, tal direito não apenas lhe foi assegurado, como 
também foi exercido. 
Por fim, o Grupo não vislumbrou quaisquer irregularidades no caráter secreto dos 
procedimentos efetuados durante a fase inquisitória, entendendo ser isso uma forma 
de garantia presente em vários ordenamentos. Além do mais, como durante o 
julgamento a defesa teria acesso a todas a provas produzidas, mesmo durante as 
investigações e interrogatórios, podendo impugná-las sempre que necessário, não 
haveria a negação dos direitos e garantias de defesa existentes. 
Então, com base nos

Outros materiais