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FICHAMENTO TGP-PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA

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CENTRO UNIVERSITÁRIO TIRADENTES
FACULDADE DE DIREITO
Graduação em Direito
FICHAMENTO: Princípio da Ampla Defesa.
Maceió
2018.1
INTRODUÇÃO
De forma breve e introdutória podemos destrinchar o principio da ampla defesa como a prerrogativa do indivíduo, perante um processo, de participar ativamente deste, seja compreendendo e analisando os autos, ou, também, para utilizar-se desta análise a fim de produzir meios para se defender. A Constituição Federal Brasileira, de 1988, consagra em seu texto do Artigo 5º, LV o direito de defesa: “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.
O princípio em questão é um direito fundamental, que teve sua origem no Common Law, importado para o Brasil em partes, e está inteiramente ligado ao convencimento que a parte precisa fazer para influenciar a decisão do juiz, utilizando-se de todos os meios possíveis de prova que estão previstos na lei, e devidamente fundamentados, para que tenha uma defesa efetiva, e para que o acusado possa se defender de um crime imputado a ele, visto que há a presunção de inocência. Salienta-se que a defesa pode se referir tanto ao direito subjetivo que o acusado tem de apresentar suas razões e ser defendido por um advogado, quanto ao direito objetivo de poder reunir provas ou participar da produção de provas.
Vale ressaltar que o objetivo deste fichamento é trazer em pauta as questões sob as quais são discutidas entre doutrinadores e analisar estas em casos concretos, além das legislações que estão positivadas em razão do tema. Desta forma, teremos a oportunidade de visualizar o princípio da ampla defesa em suas formas teóricas e praticas, com intuito de gerar uma melhor compreensão do mesmo. 
1. DOUTRINA 
De forma ampla, pode-se dizer que com relação ao princípio da Ampla Defesa, a doutrina possui um pensamento uníssono e pacífico. Em seu conceito, de acordo com Bonfim, o princípio da ampla defesa consiste no direito do réu, dentro dos limites legais, oferecer argumentos em seu favor, bem como constituir prova para demonstrá-los. Bonfim pondera que tal princípio não supõe “uma infinidade de produção defensiva a qualquer tempo”, pois essa produção deve realizar-se “pelos meios e elementos totais de alegações e provas no tempo processual oportunizado pela lei” (BONFIM, 2010, pág. 75).
Salienta-se ainda que Bonfim divide a ampla defesa em defesa técnica e em autodefesa. (BONFIM, 2010, pág. 75-76): 
“A defesa técnica é aquela exercida em nome do acusado por um advogado habilitado, constituído ou nomeado e é ela que garante a paridade de armas no processo. Já a autodefesa é aquela exercida diretamente pelo acusado, que se constitui pelo direito de audiência e pelo direito de se fazer presente nos atos processuais (direito de presença).”
Com relação à produção probatória, com base nos ensinamentos de Bonfim, caso o juiz vede a produção de alguma prova que seja essencial para a apuração da ocorrência de um determinado fato que seja objetivamente relevante para o processo, “configura-se o cerceamento ao exercício do direito a ampla defesa”, o que gera nulidade. (BONFIM, 2010, pág. 76).
Consoante à doutrina exposta acima, pode-se afirmar que o princípio da ampla defesa apresenta-se enquanto um princípio garantidor de direitos, que tem como essência evitar que ocorram condenações sem direito de defesa plausível, coerente e justa, o que implicaria necessariamente em um ato autoritário e ditatorial, ferindo o Estado Democrático de Direito e a Constituição Federal.
Entrando nos ensinamentos de Alexandre de Moraes, vale ressaltar sua diferenciação dos princípios da ampla defesa e do contraditório, tendo em vista que ambos são aplicados solidariamente, por ampla defesa, Moraes entende que é a segurança que é dada ao réu juntamente com condições que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos tendentes a esclarecer a verdade ou mesmo de omitir-se ou calar-se. No tocante ao contraditório, este é a própria exteriorização da ampla defesa, impondo a condução dialética do processo par conditio, pois a todo ato produzido pela acusação, caberá igualmente direito da defesa de se opor ou de dar uma versão que melhor lhe apresente, ou, ainda, de fornecer uma interpretação jurídica diversa daquela feita pelo autor.
Neste aspecto, conclui-se que a defesa não pode ser vista tão somente no seu aspecto de oposição ou resistência, mas também como possibilidade de agir ativamente sobre o desenvolvimento e o êxito do juízo. O direito de defesa, conforme foi demonstrado, não significa somente uma resposta a uma ofensa, significa também, o meu direito de intervir em todos os atos do processo em permanente diálogo entre os atores processuais (autor, réu e juiz), sendo defeso qualquer manifestação de surpresa por parte do magistrado, seja em matéria fática ou jurídica.
Por fim, frisa-se que o direito de ampla defesa é a um princípio de direito constitucional conferido a qualquer pessoa que esteja em qualquer tipo de processo ou procedimento, seja ele, judicial, extrajudicial, administrativo, de vínculo laboral, associativo ou comercial.
2. LEGISLAÇÃO
Esse direito é também tutelado pelo Artigo XI da Declaração Universal Dos Direitos Humanos (DUDH):
1.	Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada, de acordo com a lei, em julgamento público, no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
 
Artigo 8º - Garantias Judiciais, da Convenção Americana de Direitos Humanos:
1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.
2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por um tradutor ou intérprete, caso não compreenda ou não fale a língua do juízo ou tribunal;
b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada;
c) concessão ao acusado do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa;
d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um defensor de sua escolha e de comunicar-se, livremente e em particular, com seu defensor;
e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado pelo Estado, remunerado ou não, segundo a legislação interna, se o acusado não se defender ele próprio, nem nomear defensor dentro do prazo estabelecido pela lei;
f) direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no Tribunal e de obter o comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possam lançar luz sobre os fatos;
g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada; e
h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.
3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de nenhuma natureza.
4. O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos.
5. O processo penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar os interesses da justiça.
3. ANÁLISE JURISPRUDENCIAL
A jurisprudência para as ações que envolvem o Princípio da Ampla Defesa se caracterizam por decisões que dão garantia e segurança no cumprimento dos direitos fundamentais do cidadão, levando em consideração oque preconiza a teoria da doutrina desse princípio. Utilizando como exemplo a decisão abaixo, analisa-se como o direito a ampla defesa foi aplicado neste caso concreto. No qual, trata-se de um processo que se traduziu em um inquérito administrativo, onde foi vedado ao acusado o direito de participar dos trâmites legais do referido. 
Especificamente neste caso, foram realizadas oitivas de testemunhas sem que ao menos fosse dada a oportunidade ao acusado de acompanhar os atos, configurando assim em um ato inconstitucional, este, que fere o Estado Democrático de Direito. É um meio legal de coibir arbitrariedades que ocorrem em nosso país. Transformando-se em uma ferramenta do Direito para que a sociedade faça valer de seus direitos enquanto pessoa humana.
Tribunal Regional Federal da 3ª Região TRF 3 – APELAÇÃO CÍVEL: 70562020084036100 SP 7056-20.2008.4.03.6100
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. MANDADO DE SEGURANÇA. PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. INOCORRÊNCIA DOS VÍCIOS PREVISTOS NO ART. 535 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.PREQUESTIONAMENTO. RECURSO REJEITADO. 1. O art. 535 do Código de Processo Civil admite embargos de declaração quando, na sentença ou no acórdão, houver obscuridade ou contradição; ou for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal. 2. No caso em exame, não há contradição alguma entre a fundamentação do acórdão e a sua conclusão, tampouco entre fundamentações. Outrossim, não há omissão a ser cumprida ou obscuridade a ser aclarada. 3. Mesmo para fins de prequestionamento, é imprescindível, para que sejam acolhidos os embargos de declaração, a existência de alguns dos vícios do art. 535 do Código de Processo Civil. 4. Os embargos de declaração não se prestam à modificação do acórdão. 5. Embargos de declaração rejeitados.
4. CONCLUSÃO
Ante ao exposto, conclui-se que há uma importância na prática do Princípio da Ampla Defesa, visto que, diante de uma era de guerra, cerceamento de direitos, e devastação da humanidade, houve uma necessidade de proteger a sociedade de eventos desastrosos que pudessem trazer risco ao futuro, com isso, as entidades passaram a se preocupar inteiramente com a Dignidade da Pessoa Humana, e assim, foram adotadas medidas nacionais e internacionais sobre essa proteção. 
Reforçando o pensamento de Bonfim, “O Princípio da Ampla Defesa consiste no direito do réu, dentro dos limites legais, oferecer argumentos em seu favor, bem como constituir prova para demonstrá-los”. Constitui-se das seguintes possibilidades: a de se defender e a de recorrer, e pode ser efetuado através da autodefesa, a qual é consagrada pelo direito do réu à audiência (o réu ser ouvido pelo juiz, para que seja dada a sua versão dos fatos) e pelo direito de presença (é direito do réu estar presente aos atos processuais), ou a defesa técnica, em que o defensor precisa estar devidamente habilitado, e no caso do processo penal, se o réu não estiver amparado pela defesa técnica, o processo é nulo, visto que se trata de direitos indisponíveis. 
A Constituição de 1988 considera o advogado indispensável à administração da Justiça (art. 133) e estrutura as defensorias públicas (art. 134), que é a aplicação da defesa técnica. Ademais, caso o juiz perceba que a defesa está sendo feita de forma que prejudique o réu, ele pode intimar o mesmo a constituir outro defensor ou nomear um, se o acusado não tiver condições de fazê-lo. 
Para sua defesa, o réu tem o direito de até mesmo permanecer calado, visto que ocasionalmente o que ele disser possa se tornar uma produção de provas contra si mesmo, esta prerrogativa está prevista no Pacto de São José da Costa Rica. Além disso, no Processo Penal o réu tem o direito de ser Revel, e não pode ser preso apenas por esse motivo, bem como o juiz não poder solicitar uma condução coercitiva. Com isso, é tido como um princípio garantidor de direitos, que tem como essência e objetivo evitar que haja condenações sem direito de defesa coerente, justa e plausível, que, se não existisse, o Estado Democrático de Direito e a Constituição Federal seriam violados.
5. REFERÊNCIAS
BRASIL, República Federativa do. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Brasília: Senado Federal, 1988.
CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (1969). Disponível em: <http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/sanjose.htm.>. Acessado em: 21 mar 2018.
BRITO, Samyr Leal da Costa. As prerrogativas constitucionais do advogado como proteção ao direito de defesa do cidadão brasileiro. Âmbito Jurídico, 2016. Disponível em:<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=17480&revista_caderno=9>. Acesso em 20 mar 2018.
MOTTA, Thiago de Lucena. Os princípios constitucionais do processo e a proteção dos direitos fundamentais. Jus.com.br, 2013. Disponível em: < https://jus.com.br/artigos/23861/os-principios-constitucionais-do-processo-e-a-protecao-dos-direitos-fundamentais>. Acesso em 20 mar 2018.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (1948). Disponível em: < https://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10133.htm>. Acesso em: 21 mar 2018.
TORRES, Renata. O Contraditório e a Ampla Defesa. Jus Brasil, 2015. Disponível em: <https://renatamtorres.jusbrasil.com.br/artigos/169576326/o-contraditorio-e-a-ampla-defesa.>. Acesso em 22 mar 2018.

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