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A relação do apego desorganizado em crianças em situação de vulnerabilidade social artigo

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A relação do apego desorganizado em crianças em situação de vulnerabilidade social 
 
Bianca Gaus de Matos [1: Bianca Gaus, graduanda do curso de Psicologia no Centro Universitário UniRitter. ]
 Elisabeth Mazeron Machado [2: Elisabeth Mazeron Machado, Psicóloga, Socióloga, Drª em Sociologia e professora da UniRitter. ]
 
 
RESUMO 
 
O presente artigo foi desenvolvido como parte de uma das atividades da disciplina de Estágio Básico II e visa fazer uma reflexão acerca da relação de apego de crianças em situação de vulnerabilidade social, negligencia e maus tratos com enfoque no padrão de apego desorganizado.
Palavras-Chaves: Apego, Vulnerabilidade Social, Crianças. Maus Tratos. Negligencia. 
 
ABSTRACT 
 This article was developed as part of one of the activities of the Basic Stage II discipline and aims to reflect on the attachment relationship of children in a situation of social vulnerability, neglect and abuse with a focus on disorganized attachment patterns.
 Key words: Addiction. Social Vulnerability. Children. Maltreatment. Negligence 
 	 
 
INTRODUÇÃO
 O Dicio (dicionário online de português) classifica apego como: sentimento de afeição, de simpatia por alguém ou por alguma coisa; Apego às pessoas, ao dinheiro; Ligação afetiva que se estabelece com; Estima: apego aos sobrinhos. Dedicação permanente e exagerada a: apego aos protocolos, às normas. 
John Bowlby, psiquiatra, especialista em psiquiatria infantil e psicanalista através das observações sobre o cuidado na primeira infância e o desconforto e a ansiedade de crianças pequenas relativos à separação dos cuidadores o levaram a estudar os efeitos dos cuidados maternos em crianças nos seus primeiros anos de vida. Bowlby impressionou-se com as evidências de efeitos adversos ao desenvolvimento, atribuídos ao rompimento na interação com a figura materna, na primeira infância (AINSWORTH & BOWLBY, 1991). A partir das suas observações Bowlby estruturou o que veio a ser denominado de Teoria do Apego, considerando o apego como um mecanismo básico dos seres humanos, assim como, o mecanismo de alimentação e sexualidade, o apego é um comportamento biologicamente programado e funciona como um comportamento de controle da homeostase. Tendo um papel importante na vida dos seres humanos o apego compreende o reconhecimento de que uma figura esta disponível oferecendo respostas e proporcionando o sentimento de segurança que tem um papel fortalecedor nas relações. 
Visto que apego é um mecanismo natural do indivíduo, buscarei investigar como se dá as relações de apego em crianças em situação de vulnerabilidade social, abandono e maus tratos, partindo da observação do educando “Arthur”, 9 anos, realizada em uma ONG (Organização não governamental), onde atuo como educadora social. 
Estando inserida neste contexto, percebo que a vulnerabilidade acomete grande parte das famílias em situação periférica, e caso de maus tratos e abandono são características de muitas crianças e adolescentes que frequentam o espaço, que atua como um programa comunitário que tem como norte principal o fortalecimento de vínculos. O que possibilita relacionar o apego frente a estas questões e como ele se dá no desenvolvimento destas crianças. 
Vulnerabilidade social é o conceito que caracteriza a condição dos grupos de indivíduos que estão a margem da sociedade, ou seja, pessoas ou famílias que estão em processo de exclusão social, principalmente por fatores socioeconômicos. 
No que se refere a maus-tratos o Dicio (dicionário online de português) se refere a submeter uma pessoa, sob sua guarda ou dependência, a castigos excessivos, a trabalhos exagerados ou a privação de comida e cuidados, prejudicando a saúde física ou mental dessa pessoa.
 
Padrões de Apego Infantil
De acordo com J. Bowlby (1973/ 1984), o relacionamento da criança com os pais é instaurado por um conjunto de sinais inatos do bebê, que demandam proximidade. Com o passar do tempo, um verdadeiro vínculo afetivo se desenvolve, garantido pelas capacidades cognitivas e emocionais da criança, assim como, pela consistência dos procedimentos de cuidado, pela sensibilidade e responsividade dos cuidadores. Ou seja, através da proximidade dos pais e cuidadores com o bebe cria-se um vinculo afetivo, continuado e mantido pela relação entre as capacidades emocionais e cognitivas da criança e o papel dos pais em oferecer o cuidado, capacidade de sentir e dar retorno às necessidades da mesma, garantindo o sentimento de segurança. Partindo desta teoria a americana Mary Salter Ainsworth (1913-1999), desenvolveu o conceito de Base Segura, central na Teoria do Apego: 
 
“Segurança familiar nos primeiros estágios é um tipo de dependência e forma a base a partir da qual o indivíduo se desenvolve gradativamente, desenvolvendo novas habilidades e interesses em outras áreas. Onde há falta de segurança familiar, o indivíduo é prejudicado pela ausência do que podemos denominar uma base segura a partir da qual trabalhar”. (AINSWORTH, 1940, p. 45, apud MIKULINCER e SHAVER, 2010, p. 8).
Ainsworth (1963), teve outra contribuição importante ao descrever pela primeira vez os diferentes padrões de apego infantil, onde, a partir da teoria de Bowlby (1940; 1944),, e juntamente com Wittig (1969) elaboraram um procedimento laboratorial para qualificar o vínculo formado entre o bebê e sua principal figura de cuidado, denominado de “Teste de Situação Estranha”, que permitiu observar as manifestações comportamentais do apego e examinar o equilíbrio entre o apego e o comportamento exploratório, sob condições de alto e baixo estresse em crianças. Nestas condições, o comportamento é ativado como consequência da separação da figura cuidadora. Este trabalho trouxe importantes contribuições para a teoria do apego, ao demonstrar que o apego resultante da interação bebê - mãe varia na dependência do tipo de cuidado materno e das características inerentes ao bebê. 
Descrevendo os tipos de apego como: Apego seguro: que corresponde ao relacionamento cuidador-criança provido de uma base segura, na qual a criança pode explorar seu ambiente de forma entusiasmada e motivada e, quando estressada, mostra confiança em obter cuidado e proteção das figuras de apego, que agem com responsividade. As crianças seguras incomodam-se quando separadas de seus cuidadores, mas não se abatem de forma exagerada. E. Waters & E. Cummings (2000) salientam que as características da interação entre o cuidador e a criança, nesse caso, são de cooperação, com instruções seguras e monitoração por parte do cuidador, ao mesmo tempo em que este encoraja a independência daquela. É considerado o padrão de apego mais saudável para o desenvolvimento do bebê, visto que produz sentimentos de segurança, autoconfiança e capacidade social. Apego ansioso-ambivalente ou inseguro-ambivalente: É caracterizado pela criança que, antes de ser separada dos cuidadores, apresenta comportamento imaturo para sua idade e pouco interesse em explorar o ambiente, voltando sua atenção aos cuidadores de maneira preocupada. Após a separação, fica bastante incomodada, sem se aproximar de pessoas estranhas. Quando os cuidadores retornam, ela não se aproxima facilmente e alterna seu comportamento entre a procura por contato e a brabeza. M. Ainsworth (1978) sugere que, em alguns momentos, essa criança recebeu cuidados de acordo com suas demandas e, em outros, não obteve uma resposta de apoio, o que pode ter provocado falta de confiança nos cuidadores, em relação aos cuidados, à disponibilidade e à responsividade. Este tipo de apego é caracterizado por pais inconsistentes, no qual uma hora estão disponíveis, outra hora “somem” se desconectando e por vezes sobrepondo as emoções deles na criança fazendo com que ela fique sobrecarregada. O bebe fica incerto ao que tem que fazer para que haja esta conexão contínua. A auto regulação fica prejudicada, pois eles são imprevisíveis, tornando a criança ansiosa, a mesma começa a crescer ambivalente, desejandoa proximidade, mas com medo de perder quando consegue. E Apego ansioso-evitativo ou inseguro-evitante: Onde a criança brinca de forma tranquila, interage pouco com os cuidadores, mostra-se pouco inibido com estranhos e chega a se engajar em brincadeiras com pessoas desconhecidas durante a separação dos cuidadores. Quando são reunidas aos cuidadores, essas crianças mantêm distância e não os procuram para obter conforto. M. Ainsworth (1978) apontou que são crianças menos propensas a procurar o cuidado e a proteção das figuras de apego quando vivenciam estresse. A partir de suas observações, M. Ainsworth (1967) também sugeriu que essas crianças deixam de procurar os cuidadores após terem sido rejeitadas, de alguma maneira, por eles. Apesar de os cuidadores demonstrarem preocupação, não correspondem aos sinais de necessidade quando a criança os indica. A hipótese sugerida para a compreensão dessas crianças é de que tenham sido rejeitadas quando revelaram suas necessidades, aprendendo a ocultá-las em momentos relevantes (CORTINA & MARRONE, 2003). Neste tipo de apego ocorre uma distância emocional, onde os pais rejeitam os filhos, possuem uma baixa afetuosidade e ineficiência em perceber as necessidades. Por este motivo, as crianças desistem de procurar os pais, se isolam, minimizam as expectativas, passam a não dar voz a emoção e tendem a possuir uma compreensão mais lógica e racional. 
Pesquisas posteriores conduzidas por Mary Main e Judith Solomon (1986) acrescentaram uma quarta categoria de apego, denominada de desorganizada/desorientada, na qual será especificada no tópico a seguir e norteou o embasamento deste artigo partindo da minha observação de campo e relacionando com esta categoria. 
Padrão de Apego Desorientado/Desorganizado e suas características
Classificado por um comportamento misto, ora como hesitante, ora como resistente, onde a criança apresenta um comportamento entorpecido, confuso ou apreensivo, podendo demonstrar também comportamentos contraditórios, como evitar o olhar da mãe enquanto aproxima-se desta. (BEE, 1996). O que é motivado pela dificuldade de coordenação dos pais entre suas emoções e as emoções da criança, onde a comunicação é por vezes incompatível com a idade do bebê, passando mensagens ambíguas e por vezes de forma agressiva ou violenta, fazendo com que a criança se desorganize em relação aos sentimentos, pois a mesma experiência situações de dúvida sobre aquele que a protege, por vezes ser perigoso. Esta quarta categoria é bem parecida com a de apego evitativo, até ocorre uma conexão, porém, muda de forma brusca de maneira enraivecida e agressiva. Muito além da desconexão predominante no apego evitativo, neste caso, esta desconexão predomina-se de forma raivosa. As mensagens para a crianças são ambíguas e de forma irritada. A relação da criança e cuidador não se apresenta de forma consistente e impossibilita a capacidade de regulação do afeto negativo. A conexão até se cria, mas é rompida bruscamente de tal forma que gera medo. A criança quer o vínculo, mas tem medo dos momentos que ele entrará no estado enraivecido. O que pode acarretar problemas relacionados a déficit de atenção, não consegue regular a emoção e dificuldade em resolver problemas.
Vulnerabilidade Social das crianças no Brasil: negligência e maus tratos.
A "Organização Mundial de Saúde" OMS (2002) define a saúde como "um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades". Tendo a ideia principal de qualidade de vida, portanto, a saúde depende de diversos fatores, históricos, sociais, ambientais e culturais para a manutenção dessa qualidade. No Brasil essa definição é atravessada e contrariada por fatores ligados a vulnerabilidade social, uma das principais que acometem crianças e adolescente são as vulnerabilidades referentes a alcoolismo, dependência química e agressão entre casais advindas desses fatores, onde expõem as crianças a diversos tipos de violência. As diversas formas de violência são também descritas pelas expressões negligência e maus-tratos. De acordo com a OMS (2002), a negligência é um dos tipos de violência que deve ser estudada, pois resulta em prejuízos específicos ao desenvolvimento cognitivo e emocional de crianças e adolescentes.
A negligência é entendida como a omissão dos pais ou cuidadores em suprir as necessidades básicas, físicas ou emocionais da criança e adolescente, mesmo quando as condições estruturais possibilitam tais cuidados (Guerra V.N.A, 2001).
Os diferentes tipos de maus-tratos, que também incluem a violência física e a violência psicológica, referem-se às situações que envolvem ato ou omissão de um sujeito em condição superior, capaz de causar dano físico ou psicológico à vítima. As situações de maus-tratos que tipificam a violência psicológica são aquelas em que, repetidamente, os adultos convencem a criança de que ela é indesejada, inadequada e sem valor. As situações de maus-tratos físicos envolvem todas as situações em que a força física é utilizada de forma intencional para ferir, lesar ou destruir a vítima (ABRANCHES & ASSIS, 2011; PIRES & MIYAZAKI, 2005; World Health Organization,2002). 
Crianças que sofrem maus tratos na infância, podem apresentam dificuldades de desenvolvimento de outras competências próprias de cada idade, entre as quais: distúrbios no desenvolvimento do self, incapacidade de formar relações efetivas com pares de idade, desafios na adaptação ao ambiente escolar e taxas mais altas de problemas comportamentais e de psicopatologias. 
De acordo com a Secretaria de Direitos Humanos, em 2015 o Brasil possuía aproximadamente 60,5 milhões de crianças e adolescentes entre 0 e 19 anos. Referente a estes dados, segue um gráfico com as estatísticas sobre a violação dos direitos das crianças.
 
O que se pode perceber é que entre o número de denúncias realizadas, a negligência aparece em primeiro lugar, dando ênfase ao quesito de vulnerabilidade social e maus tratos. 
Quem é “Arthur”?
“Arthur”, 9 anos, frequenta o serviço de convivencia há dois anos. Viveu em um abrigo dos 2 aos 7 anos, a mãe era dependente química e o pai está preso por tráfico de drogas. Atualmente vive sob a guarda do tio e reside com o mesmo, quatro primos e a nova esposa do tio. A família vive em situação de vulnerabilidade social, caracterizada pela exposição ao tráfico, negligência alimentar, desemprego, precariedade de saneamento básico, entre outros atravessamentos. Motivo pelo qual as crianças da família estão no programa comunitário, que é um espaço devidamente assegurado pelo Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) que: define as crianças e os adolescentes como sujeitos de direito, sendo-lhes garantida a proteção integral. Conforme o artigo 4º,
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e à convivência familiar e comunitária (p. 9).
O ECA dispõe ainda que, nos casos de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsáveis, a autoridade judiciária poderá afastar o agressor da moradia comum. Com relação aos alcoólatras e toxicômanos, as medidas de proteção são diversas, entre elas a orientação, apoio e acompanhamento temporário, a inclusão em programas comunitários ou oficiais de auxílio à família, crianças e adolescentes, o requerimento de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico e até a colocação em família substituta. Nos casos de gravidez, o ECA dispõe sobre o direito à vida e à saúde, sendo assegurado o atendimento nos diferentes níveis do setor público. Ao Poder Público cabe propiciar apoio alimentar tanto à gestante como à nutriz que precisarem do apoio.
Segundo a Teoria Psicossexual de Freud (1932), Arthur encontra-se no período da latência, entre os 6 a 12 anos,onde a libido é colocada fora do corpo na cultura, identifica-se com pares do mesmo sexo. Conforme Teoria Psicossocial de Erickson (1976), Arthur encontra-se no estágio de Produtividade VS Inferioridade marcada pelo início da vida escolar e das relações sociais. Arthur é um menino extremamente afetuoso, possui uma grande necessidade de contato físico, constantemente abraça os profissionais que trabalham diretamente com ele e chega a permanecer longos minutos abraçado ou deitado no colo das pessoas. Possui habilidades de escrita, leitura e compreensão de cálculos, como esperados nessa fase, porém, não permanece por longos momentos concentrado e logo desiste da atividade mostrando a resistência.
Quando está brincando com os materiais da sala, prefere ficar sozinho, caso outro colega inicie a brincadeira com ele, segue participando, porém, se uma terceira pessoa decide brincar junto, principalmente uma menina, mostra-se resistente e não aceita a participação, necessitando da intervenção do educador. Apresenta dificuldades em reagir a frustrações, por ora mostra-se agressivo e não sabendo como emitir resposta a determinada situação. Há momentos em que Arthur está afetuoso com o educador chegando perto e tocando, em outros momentos ele evita inclusive o contato através do olhar, mostrando-se indiferente ou não sabendo como reagir. 
“Trabalhos recentes sobre o padrão de apego desorganizado na infância sugerem que esse é um padrão frequente em crianças que foram vítimas de episódios de negligencia e maus tratos físicos”. Nessa situação, a criança experimenta ciclos de proteção ao mesmo tempo de rejeição e agressão, sente-se vinculada a sua figura de apego e ao mesmo tempo a teme. O que explica a combinação de aproximação e evitação. ’’ (COLL, César, Psicologia Evolutiva, V.1, pág. 111)
Na hora do almoço, é um momento em que ele prefere sentar-se na mesa sozinho, mesmo que haja lugar com os colegas. Por vezes, chega no “Curso” (nome popularmente dado ao espaço) e deita-se no “cantinho do aconchego”, espaço criado na sala com almofadas e livros, Arthur não interage ou mostra-se acuado. Após longos minutos retorna à atividade e mostra-se novamente afetuoso com o educador. 
Apego Desorganizado/Desorientado e sua relação com a história de maus tratos de negligencia de Arthur.
Na observação do menino Arthur, percebi a predominância do apego desorganizado. Baseado em sua trajetória de vida onde permaneceu dois anos da sua primeira infância com pais dependentes químicos, as hipóteses de tal apego são as mais prováveis, pois, o bebê foi negligenciado e vítima de maus tratos, fazendo com que, nos momentos em que os pais estavam sob o efeito das drogas, mostrassem seu lado agressivo e enraivecido para com a criança. E nos poucos momentos que estavam lúcidos, tentavam criar algum tipo de conexão, que logo mudava bruscamente. O que acarretou, ao longo dos anos, um misto de medo e confusão em Arthur, que tentava se conectar, mas tinha receio de ativar o lado agressivo. Atualmente, com 9 anos, observa-se vestígios do comportamento desorganizado onde em diversas situações no espaço o menino apresenta dificuldade em regular as emoções negativas, principalmente em momentos que se sente frustrado. O menino age como se não pudesse “responder” aquela demanda, possui dificuldade de concentração e de manter uma atividade até o final. Os momentos que se mostra afetuoso são caracterizados pela vontade de se conectar as figuras de apego daquele momento (como no caso dos educadores), ao passo que ainda mantem um padrão de medo e se utiliza do afastamento. 
Considerações Finais:
A partir do caso ilustrado, observou-se que a vulnerabilidade social, nos seus aspectos gerais e principalmente se tratando de maus tratos e negligencia está diretamente ligada ao padrão de apego desenvolvido na criança. Famílias que se encontram à margem da sociedade, constantemente expostas a situação de tráfico, alcoolismo e violência possuem maiores chances de possibilitar o apego de forma desorganizada. Sei que os efeitos da droga de forma geral, prejudicam a consistência de um vínculo saudável na relação das pessoas, pelo fato de defasar as capacidades mentais e a conduta, fazendo com que, pessoas sob o efeito de drogas ou álcool, não tenham discernimento entre certo e errado. Desta forma, o padrão de apego desorganizado é o mais esperado pelas condições em que os pais ou cuidadores estão expostos, não havendo outra alternativa de cuidado. 
Uma vez que Arthur já está com 9 anos, como sanar minimamente os danos relacionados a este tipo de apego, de forma a possibilitar uma melhor qualidade de vida e menor prejuízo no seu crescimento e desenvolvimento a longo prazo?
Na pratica clínica, o papel do terapeuta seria auxiliar na reconstrução dos modelos operantes internos de si e das figuras de apego. O que tornaria o paciente menos sujeito a ceder padrões de comportamento anteriores e mais apto a reconhecer as figuras de apego do presente pelo que de fato elas são. O papel do terapeuta seria de “tolerar a agressividade/destruição (Winnicott,1969), servir de modelo identificatório, de objeto que suporta ou acolhe os conteúdos persecutórios de forma a auxiliar o paciente no processo de mudança e qualidade de vida. 
Reconhece-se que essa pesquisa foi baseada em um indivíduo, necessitando de mais investigações a respeito da relação de apego desorganizado e vulnerabilidade social, maus tratos e negligencia. Sugere-se realizar estudos com maior número de participantes, nos diferentes contextos onde há vulnerabilidade, de forma a observar a existência e predominância de qual tipo de apego.
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SECRETÁRIA DE DIREITOS HUMANOS DA PRESIDENCIA DA REPUBLICA. Violação de Direitos. Disque 100 (2015)

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