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Trabalho de História Medieval [Digite texto] TRABALHO APRESENTADO NA DISCIPLINA HISTÓRIA MEDIEVAL Autor do texto: Jean Delumeau Titulo do texto: História do medo no ocidente ALUNO: Caio Magalhães Sales Data: 10/04/ 2018 Avaliação Trabalho de História Medieval [Digite texto] TRABALHO APRESENTADO NA DISCIPLINA HISTÓRIA MEDIEVAL A mulher foi julgada como um perigoso agente do satã não só por homens de Igreja, como também por juízes leigos. Essa concepção fora difundido veementemente graças à imprensa, propagando-se rapidamente como nunca visto anteriormente, em uma época na qual indicava uma possível promoção da mulher no seio social a partir da arte, da literatura e da teologia protestante, mas que acabou resultando em uma maciça transformação de um medo inerente e refletido em detrimento do sexo feminino. Os comportamentos dos homens em relação ao “segundo sexo” marcaram-se pela permanente contradição, oscilando da atração à repulsão, da admiração à hostilidade. É importante salientar que o judaísmo bíblico e o classicismo grego expressaram de forma revezada esses sentimentos opostos. A veneração masculina pelo o outro sexo existiu contrabalançada no decorrer dos tempos em função do medo que ele sentiu da mulher, principalmente nas sociedades estruturadas em patriarcalismos. Os motivos do temor da mulher no homem são mais complexos do que pensara Freud, que o reduzia ao medo da castração, consequência segundo o mesmo do desejo feminino de possuir pênis. Simone de Beauvoir reflete que o sexo feminino é misterioso para a própria mulher, em grande parte porque a mulher não se reconhece nele assim como os seus desejos. E de alguma maneira, para valorizar-se, o homem definiu-se como apolíneo e racional por oposição à mulher dionisíaca e instintiva, mais invadida que ele pela obscuridade, pelo inconsciente e pelo sonho. Há um motivo para as mulheres, em muitas civilizações, serem responsáveis não apenas dos cuidados dos mortos, como também dos rituais funerários. Elas eram consideradas muito mais ligadas do que os homens ao ciclo da vida, que consiste na passagem da vida para a morte e vice-versa. São criativas e ao mesmo tempo destrutivas. A partir daí veem os incontáveis nomes das deusas da morte e as inúmeras lendas e representações de monstros fêmeas. Ademais, atrás das acusações feitas nos séculos XV-XVII contra várias feiticeiras que teriam assassinado crianças em oferendas a Satã encontravam-se inconscientemente esse temor do demônio fêmea. A deusa hindu, Kali- mãe do mundo-, por exemplo, é a maior representação que os homens forjaram da mulher, concomitantemente destruidora e criadora. A sanguinária Kali correspondia de certa forma, nas mentalidades helênicas, as Amazonas devoradoras de carne humana, as Parcas que cortavam o fio da vida, as Erínias “assustadoras”, “loucas” e “vingadoras”, tão terríveis que os gregos sequer pronunciavam seu nome. O pavor masculino da mulher está além do receio da castração identificado por Freud. Porém, o diagnóstico deste não é de todo errôneo, com a exceção de desprendê-lo do suspeito desejo feminino de possuir um pênis, ao não existir provas suficientes que sustentem tal argumento. São contadas mais de trezentas versões do mito da “vagina dentata” entre os índios da América do Norte, mito que se reencontra na Índia, em algumas vezes com a vagina possuindo serpentes ao invés de dentes. Trabalho de História Medieval [Digite texto] TRABALHO APRESENTADO NA DISCIPLINA HISTÓRIA MEDIEVAL No inconsciente do homem, a mulher desperta a inquietude, por ela é a motivadora de sua sexualidade, assim como porque ele a vê comparável a um fogo que necessita alimentar-se incessantemente. O medo da mulher não é uma invenção dos ascetas cristãos. Porém, é verdade que o cristianismo desde o começo integrou e agitou esse espantalho até o limiar do século XX. É importante destacar que o antifeminismo agressivo que é posto em destaque durante os séculos XIV-XVII não era uma novidade no discurso teológico Desde o início e particularmente com São Paulo que a Igreja teve dificuldade em passar da teoria à prática. A igualdade preconizada pelo Evangelho cedeu a partir dos obstáculos nascidos do contexto cultural no qual o cristianismo se difundiu. São Paulo, que está presente na origem das ambiguidades do cristianismo em relação ao problema feminino, com certeza proclamou o universalismo evangélico. (“ Não há nem judeu nem grego [...], nem escravo nem homem livre, nem homem nem mulher: pois todos vós não sois senão um em Jesus Cristo”[Epístola aos Gálatas 3: 8]). Mas, filho e aluno de fariseu simultaneamente que cidadão romano, ele contribuiu para colocar a mulher cristã em uma posição de subordinação ao mesmo tempo na Igreja e no casamento. Além disso, escreveu: “Não foi o homem, evidentemente, que foi criado para a mulher, mas a mulher para o homem” (1 Coríntios 11:9) – palavras em parte desmentidas pelo contexto – mas deste a tradição cristã esqueceu de se lembrar. Em relação à célebre alegoria conjugal, tornou-se o fundamento do dogma da subordinação incondicionada da mulher ao homem, contribuindo para sacramentar uma situação cultural antifeminista. Duas passagens do “corpus pauliniano” desempenharam um papel fundamental na exclusão das mulheres do ministério presbiterial-episcopal. A maioria dos exegetas pensa que esses textos são interpolações. De outro lado, Paulo manifestou diversas vezes seu reconhecimento em relação às mulheres cuja atividade apostólica secundava a sua. Há demonstrações de que ele não era um misógino. De todo modo, partilhou o androcentrismo de seu tempo. A sexualidade é o pecado por excelência: tal equação pesou fortemente na história cristã. O casamento que se acostuma às volúpias opõe-se a contemplação das coisas divinas. Nos meios da Igreja, tem-se veementemente como verdade evidente que virgindade e castidade preenchem e povoam os assentos do paraíso, formulação do século XVI. No entanto, enaltecendo a virgindade feminina, a teologia não deixou de continuar teorizando a misoginia fundamental da cultura que inconscientemente veio a adotar. Para conciliar esse antifeminismo com o ensinamento do evangelho sobre a igual dignidade dos sexos, Santo Agostinho promove uma surpreendente distinção: todo ser humano, diz ele, possui uma alma espiritual assexuada e um corpo sexuado. No individuo masculino, o corpo reflete a alma, o que não é no caso da mulher. O homem é, portanto a imagem de Deus, mas não a mulher, que só o é em função da sua alma e inferior ao homem, a mulher deve então ser-lhe submissa. Trabalho de História Medieval [Digite texto] TRABALHO APRESENTADO NA DISCIPLINA HISTÓRIA MEDIEVAL Essa doutrina, tempos depois agravada em textos falsamente atribuídos ao próprio Santo Agostinho e a Santo Ambrósio, passou com estes para o famoso Decreto de Graciano (em meados de 1140-50), que se tornou até o começo do século XX a principal fonte de ofícios do direito da Igreja. Dessa maneira, Santo Tomás de Aquino não inovou por sua vez que a mulher foi criada mais imperfeita que o homem. Mas sim pelos argumentos teológicos que acrescentou, para equilibrar, o peso da ciência aristotélica: só o homem desempenha um papel positivo na geração, sendo a mulher meramente um receptáculo. Tomás de Aquino esforçou-se, contudo, em dessacralizar as proibições relativas ao sangue menstrual. Para ele, as regras são o resíduo do sangue produzido em último lugar pela digestão, ele serve para fabricar o corpo dofilho: Maria não constituiu de outro modo o de Jesus. Inúmeros autores eclesiásticos ( Isidoro de Sevilha, Rufino de Bolonha etc.) e os canonistas glosadores do Decreto de Graciano afirmaram ao longo de toda a Idade Média o caráter impuro do sangue menstrual referindo-se várias vezes à História do natural de Plínio. Assim, a Idade Média “cristã” amplamente somou e racionalizou, aumentando as queixas misóginas recebidas das tradições de que a era herdeira. E ainda, a cultura encontrava-se em vastíssima medida, nas mãos dos clérigos celibatários. É importante lembrar que enquanto se adicionam pestes, cismas, guerras e temor do fim do mundo – situação presente por três séculos – os mais zelosos dos cristãos toma consciência dos múltiplos perigos que ameaçam a Igreja. Satã estava por trás de cada um deles. Por fim, a partir da entrada dos mendicantes, no século XIII, a pregação adquiriu na Europa uma importância extraordinária. E seu impacto aumentou ainda mais com as duas reformas, protestante e católica. Os sermões que nos restam mostram que foram frequentes os veículos e os multiplicadores de uma misoginia com base teológica: a mulher é um ser predestinado ao mal, assim, jamais tomaremos precauções suficientes com ela.
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