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A Função Social da Pena no Sistema Penal Brasileiro

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O presente trabalho visa discorrer sobre a importância de uma realidade jurídico-social acerca da aplicação da pena no Sistema Penal Brasileiro, desenvolvendo analises nos aspectos gerais da função social da pena com ênfase da necessidade na ressocialização do indivíduo, e da prevenção do fato delituoso. Buscando obedecer às normas e diretrizes recomendadas: Apresentar casos concretos dos aspectos da função social ou ineficácia social da teoria da pena adotada no direito brasileiro, fundamentando os argumentos em Doutrinas, Legislação, Jurisprudência e Artigos Acadêmicos.
Promulgada em 1984 e, portanto, inserida no mesmo contexto de disputas e contradições entre distintas forças políticas que marca a Constituição de 1988, a Lei de Execuções Penais – Lei 7.210, de 1984 – vem sofrendo diversas alterações ao longo dos anos, ora visando a assegurar direitos que não foram reconhecidos à época de sua aprovação, caso da remição de pena pelos estudos (autorizada pela Lei 12.433, de 2011), ora recrudescendo o próprio modelo penal brasileiro, como no caso da introdução do Regime Disciplinar Diferenciado – RDD, regulamentado por meio da Lei 10.792, de 2003. No entanto, um aspecto que chama atenção a cada novo movimento de reforma da Lei de Execução Penal é a crescente discricionariedade e autonomia administrativa que se instaura, sobretudo, nos interstícios de funcionamento das prisões, onde a lei é operada por meio de silenciamentos, interdições, interdependências. A Lei 7.210/1984 [LEP] entrou em vigor um mês antes do novo governo da União. As fundadas regras para uma adequada execução converteram-se em meras proclamações otimistas”, lamentou Dotti. (1)
O Direito Penal é o fiel da balança no meio social, na medida que o mesmo trás o equilíbrio necessário à convivência harmoniosa e pacifica em sociedade. Funciona como instrumento de tutela, pois o Estado não pode deixar de atuar diante de lesão ou grave ameaça à direito, ou seja, toma para se a responsabilidade quando há transgressão às normas jurídicas no que tange à vida, integridade física, moral, intelectual e psicológica. Quando falamos em equilíbrio acabamos por entender que o Direito Penal enquanto norma jurídica e tutor da repressão contra os crimes violentos, bem como contra as ações ou omissões supracitados, abarca também o transgressor, dando-lhe o direito quer seja por meios próprios, quer seja pelo Estado: A ampla defesa, ao contraditório, bem como ao devido processo legal. Dessa forma o cidadão tem a presunção da garantia a proteção contra abuso ou ilegalidade, essas, por vezes, exercida excessivamente pelo Estado que é o legitimo aplicador das leis e sanções cabíveis, assim sendo o legislador tem o direito de punir visando trazer justiça aos fatos, por outro lado, também, tem o dever de oferecer as condições necessárias para a reeducação do infrator, objetivando a ressocialização e consequentemente sua reinserção no seio da sociedade.
Passemos agora a analisar o instituto da ressocialização e sua eficácia ou ineficácia na aplicação da pena e na prevenção do fato delituoso, tema esse bem pouco explorado entre os estudantes e doutrinadores do mundo jurídico.
Muito se discute atualmente sobre a eficácia da aplicação da pena como meio de evitar novos delitos e quanto à desaprovação do delinqüente pelo seu ato. A pena sempre teve finalidade de repressão e, mais tarde, prevenção. Porém na Antiguidade quem pagava por isso era o corpo do condenado. Àquela época, a pena tinha como finalidade devolver ao infrator o mal que o mesmo causou à sociedade. Os maiores pensadores que desenvolveram tal pensamento foram Kant e Hegel. Para eles a pena tinha como finalidade restabelecer a ordem, o equilíbrio da sociedade. Idos os anos, observando-se a inoperância das funções da pena e a crescente indignação de alguns para com a crueldade que tratavam o condenado, alguns pensadores buscaram outra razão de ser para o direito de punir do Estado que não a vingança. Feuerbach, contrariando a dita teoria retributivista dos filósofos alemães, apregoou que a pena deveria ter função de prevenção de delitos e proteção social, em defesa da coletividade. Nada justificaria a aplicação da pena que não fosse em prol da coletividade e não, como queriam Kant e Hegel, castigar o criminoso. As teorias absolutas ou retributivistas foram, aos poucos, abandonadas pelo sentido cruel que se deu à pena. Cunhou-se a idéia de prevenir o crime de maneira geral e de maneira especial de forma a não mais ferir a dignidade humana. Neste diapasão, preleciona Cesare Beccaria em seu livro Dos delitos e das penas:
”É melhor prevenir os crimes do que ter de puni-los; e todo legislador sábio deve procurar antes impedir o mal do que repará-lo, pois uma boa legislação não é senão a arte de proporcionar aos homens o maior bem estar possível e preservá-los de todos os sofrimentos que se lhes possam causar, segundo o cálculo dos bens e dos males da vida”.
A pena então passou a ser utilizada de forma mais humana, menos degradante ao delinquente. A pena então passou a ser utilizada de forma mais humana, menos degradante ao delinquente. Substituindo-se, então, as penas corporais por penas privativas de liberdade, que apesar de humilharem o criminoso se fizeram necessárias. A pena seria um meio de se prevenir, de modo geral, que novos delitos venham a ser praticados por outros indivíduos, que evitariam a todo custo ter de sofrer tal sanção. E a prevenção especial seria aplicada ao próprio indivíduo que, evitando sofrer novo castigo, não mais cometeria crimes. O homem conquistou certos direitos com a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão. Direitos esses que na aplicação da pena não eram observados. 
O art. 5° da Constituição Federal dispõe sobre as garantias fundamentais dos direitos e deveres individuais e coletivos. “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Necessário se fez, também, a revisão da aplicação da pena, pois o mundo não poderia continuar utilizando-se dos homens infratores como meros instrumentos de tortura para demonstrar aos outros o seu trágico fim se cometessem o mesmo erro. Iniciou-se um processo de “dignização das penas”. Após longos anos de infindáveis discussões acerca de tal tema entendeu-se necessário adequar o delinquente em seu retorno à sociedade. Deste ponto em diante, a pena passou a ser um mal necessário, através da reclusão do infrator. Porém, quando o mesmo retornasse à vida normal, provavelmente voltaria a delinquir, então surge a função ressocializadora da pena, através de concessão progressiva de privilégios ou liberdades e trabalhos sociais, para que o criminoso pudesse aos poucos readquirindo a confiança do Estado e da sociedade, assegurando que está apto ao convívio social novamente. Sabemos bem que o sistema carcerário no Brasil, de forma generalizada, não cumpre essa última função da pena. (2)
A LEP prevê uma série de garantias que devem ser empregadas para proporcionar a recuperação do preso e sua posterior reinserção na sociedade. No artigo 10, por exemplo, é determinado que o Estado tem o dever de prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade e, para isso, deve fornecer uma série de assistências aos presos, como assistência em saúde, jurídica, educacional, entre outras. Ainda que insuficientes, muitos dos programas previstos na LEP para ressocialização dos presos já funcionam nos estados brasileiros. Entre eles, pode-se citar a oferta de programas de estudo e leitura como forma não só de remição da pena, mas de oferecer formação para que o preso esteja melhor preparado para a volta ao convívio em sociedade. Outra modalidade é o trabalho laboral, que também possibilita a remição da pena e permite que os presos aprendam um ofício e, assim, consigam entrar no mercado de trabalho mais facilmente ao saírem do sistema penal. Segundo Lanfredi,“é imprescindível lidar melhor com todas as ações e opções desde o primeiro momento em que uma pessoa tem contato com o sistema de Justiça criminal, fomentando medidas que desestimulem o crime e resultem em investimento social”. Lanfredi afirma ainda que os altos índices de criminalidade e, por consequência, de reincidência decorrem da sensação de impunidade, que é resultado da incapacidade do Estado em intervir de maneira transformadora na vida de quem pratica infrações. O relatório, que foi elaborado após acordo de cooperação com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) utiliza o conceito de reincidência legal, e mostra sobretudo a fragilidade das taxas divulgadas nos últimos tempos, que colocavam a reincidência em 70%. A pesquisa elaborada pelo Ipea constatou que um a cada quatro ex-condenados no país volta a ser condenado por algum crime em menos de cinco anos, o que representa uma taxa de reincidência de 24,4%. O resultado foi obtido pela análise amostral de 817 processos em cinco estados brasileiros: Alagoas, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná e Rio de Janeiro. (3) 
Ex-secretária nacional de Justiça e professora da Unirio, Elizabeth Süssekind conta que a descrença do Estado na recuperação do infrator e a necessidade de encontrar espaço para encaixar mais detentos no sistema fizeram com que ambientes antes usados para atividades laborais fossem transformados em celas improvisadas. Ainda de acordo com ela, as plantas de presídios antigos previam espaços que contribuíam para a ressocialização, ao contrário dos atuais. Se a gente identificar ressocialização com trabalho e estudo, que são as ferramentas para a reinserção junto com o contato com a família, os estabelecimentos hoje não contêm isso. Eles sempre têm que ter algum equipamento local para trabalho, mas é tão restrito, pequeno e desequipado que você já vê que não vai servir para aquele fim. (4) Também sobre o tema da ressocialização, o juiz, Luciano Losekann,, coordenador do Mutirão Carcerário do CNJ, [6] em matéria jornalística, de 17 de setembro de 2011, emitiu parecer: Há muito tempo a criminologia crítica diz que a pena de prisão já nasceu falida. A pena de prisão surgiu como alternativa à pena de morte. Mas ela não deixa de ser paradoxal. Como ela quer ressocializar uma pessoa retirando ela (sic) da sociedade? Como ela [a pena de prisão] pretende fazer com que essa pessoa volte ao convívio social colocando ela [a pessoa] em uma prisão superlotada, em falta de condições? Questiona o juiz fato é que o grande problema da ressocialização concentra-se na própria pena de prisão que nunca cumpriu as finalidades punitivas e recuperadoras do apenado, seja do ponto de vista individual, seja social, pois, oriundo de uma prisão, o indivíduo vem impregnado de estigmas e estereótipos irreversíveis que fomentam a desconfiança e o repúdio da sociedade, não raro, rejeitado pela própria família, dificultando qualquer iniciativa de ressocialização. Assim, em todo o sistema carcerário brasileiro, a ineficácia dos métodos ressocializadores é uma constatação.(5) Ainda segundo, Dotti as “Casas de Albergado - proposta prevista na LEP para cumprimento de penas no regime aberto - foi uma ilusão que não saiu do papel” e que a falta de estabelecimentos adequados para o trabalho dos condenados, como colônias agrícolas, industriais ou similares, é um “golpe de morte” no regime semiaberto. (6)   
 Exemplos abaixo tirados de reportagens que corroboram os ambientes inadequados.
 No município de Zé Doca o Projeto que pretende acelerar a libertação de presos por meio da leitura. O projeto foi idealizado pela juíza Denise Pedrosa Torres, titular da 1ª Vara da Comarca de Zé Doca. Vários professores estão colaborando voluntariamente para o projeto, no qual já tem iniciado as atividades com os detentos da Delegacia Regional do município. As atividades consistem em escrever uma redação ou um resumo da obra literária, sendo que cada um receberá um exemplar de obra literária, clássica, científica ou filosófica, dentre outras. 
Para colocar em prática o Projeto, foi levado em consideração diversos fatores, entre os quais o fato de que a leitura contribui no processo de reinserção social do custodiado, pela capacidade de agregar valores éticos-morais à sua formação. 
A orientação das atividades será feita por comissão adiante formada, que inicialmente atuará no ano de 2015 (podendo ser substituída no decorrer do ano por novos membros voluntários), bem como fará as novas seleções de presos para participar do projeto, a escolha/aprovação dos livros que serão distribuídos aos presos, o controle de empréstimo dos livros (caderno de protocolo ou outro meio de controle), a orientação sobre como fazer as redações/resumos, bem como efetuar o recolhimento dos resumos/redações e dos livros ao final do prazo estabelecido.
O participante terá o prazo de 30 dias para leitura da obra literária, prorrogáveis por mais 30 (trinta) dias, apresentando, ao final deste período, relatório de leitura, resumo ou síntese a respeito do assunto, a qual terá no mínimo uma folha e, no máximo, três folhas. A contagem de tempo para fins de remição será feita à razão de 4 dias de pena para cada relatório de leitura apresentado. O participante, no prazo de 12 meses, terá a possibilidade de remir até 48 dias de sua pena. O preso pode ler mais de um livro e fazer mais de um relatório de leitura dentro do prazo de 30 (trinta) dias, contudo somente terá direito a 4 (quatro) dias de remição. (7)
 E ainda em outra etapa do programa visando ressocializar o recluso foi implantado um segundo projeto.
Pensando nos benefícios que ela pode trazer para aos internos, a Unidade Prisional de Zé Doca, através da Secretaria de Agricultura do município, implantou o primeiro Curso de Capacitação sobre Hortas Terapêuticas.
O objetivo é capacitar os internos e colaboradores para atuarem na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, como produzir alimentos promovendo o acesso e disponibilidade dos mesmos, de forma solidária, como instrumento de garantia da segurança alimentar para populações vulneráveis, propiciando igualmente a oportunidade de trabalho.
Segundo o diretor geral da UPR de Zé Doca, Jamil Silva Santos Júnior, os objetivos do projeto, desenvolvido em conjunto com a Secretaria Municipal da Agricultura, são promover trabalho prisional a fim de manter a ocupação do detento e qualificá-lo para quando retornar para a sociedade.
O resultado geral é uma melhora no ambiente carcerário e, inclusive, a redução de reincidência criminal.  Porque o detento que faz trabalhos no presídio sai daqui com condições de conseguir um emprego e é bem mais difícil que ele voltar para a prisão afirma Dr. Robson Dias dos Santos, Terapeuta da unidade prisional.
 Nesse evento foram doados diversos materiais agrícolas como carro de mão, uma pá, enxada, regador, sementes e adubos para que os internos possam usar durante o curso.
Além da prática e do manuseio nas hortas, os internos tiveram um espaço dedicado a parte teórica com explicações em slides e apostilas ministradas por engenheiros agrônomos. (8)
 
Todavia é primordial destacar que a LEP proporciona condições harmônicas integrando o condenado ou internado ao convívio social, porém não só a LEP, protege o detento, bem como a Constituição Federal Consagra em seu art. 5° a proteção dos direitos e garantias fundamentais, sobretudo garantindo o respeito à integridade física e moral. Porém diante de tantas ocorrências, relatos, exibido podemos constatar que a realidade do sistema penal é outra completamente diferente, ou seja, as celas são assemelhadas a um depósito de seres humanos, perdidos, esquecidos, sem direitos, sem garantias, sem valores essenciais para a sobrevivência do ser humano. (9) Contribuindo em grande parte para aumentar as estatísticas de reincidências, levando assim o instituto da ressocialização ao descredito tornando o cumprimento da pena em sua essência: degradante, cruel e ineficaz na prevenção do fato delituoso.
http://justificando.cartacapital.com.br/2017/11/07/entre-norma-e-aplicacao-reforma-da-lep-e-producao-de-privilegios/;https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/6439/Funcao-social-da-pena
http://www.politize.com.br/reincidencia-criminal-entenda;
 https://oglobo.globo.com/brasil/apenas-22-dos-presos-do-sistema-penitenciario-brasileiro-trabalham-7861623#ixzz5C8TSllLS;
https://wlpepe.jusbrasil.com.br/artigos/211083379/a-eficacia-dos-metodos-de-ressocializacao-nos-presidios-de-salvador-ba;
https://www.conjur.com.br/2013-jun-26/lep-letra-morta-ariel-dotti-recusar-convite-audiencia;
http://mayconalves.com.br/detentos-de-ze-doca-participam-do-projeto-de-leitura-lancado-pela-justica;
http://bryanrafael.com.br/upr-de-ze-doca-realiza-curso-de-capacitacao-de-hortas-terapeuticas-a-internos/;
https://monografias.brasilescola.uol.com.br/direito/funcao-ressocializadora-pena.htm.

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