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Direito de greve

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INTRODUÇÃO
O trabalho que será apresentado pela equipe nas próximas páginas foi uma forma que os alunos exploraram para tratar sobre um tema tão importante para nosso País. A greve no serviço público, especificamente, na Saúde.
Iniciamos apresentando o conceito de greve e as particularidades que existem no Serviço Público, partimos então para um breve histórico da regulamentação da greve no serviço público de saúde no Brasil. Avançamos com a Constituição, que visa estabelecer alguns limites para essas atitudes de decreto a greve.
O estudo foi elaborado diante de uma consciência que adquirimos da importância dessas atividades para a sociedade, principalmente quem precisa do SUS, para sua saúde. Já são mais de 18 anos desde a Constituição Federal garantiu que o Servidor Público também teria seu direito de reivindicar, de fazer greve, diante de situações que fogem totalmente ao interesse da categoria, o que antes era considerado um delito penal. Nesse contexto, fez-se necessário desenvolver uma abordagem histórica, para identificar a evolução da sociedade.
Nossa visão sobre a greve no serviço público foi trazida, destacando-se aspectos polêmicos, de acordo com o tema abordado. Para o STF o setor público, principalmente de Saúde, tem especificidades que, se aplicada a lei, impossibilitariam o exercício de greve. Eles lutam para que a regulamentação deste direito, dentro dos limites acordados previamente seja concomitante à negociação coletiva.
Com essa análise pretendemos fazer um resumo histórico, posições positivas e negativas perante o Direito de Greve no Serviço Essencial de Saúde.
 	
O Direito de Greve no Serviço Essencial de Saúde	
I.
A Constituição Federal e a Lei nº 7.783/89 garantem aos trabalhadores o direito de greve, cabendo aos mesmos exercerem seus direitos e definirem quais objetivos a serem alcançados. 
Por definição legal, a greve é a suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços a empregador. O direito de greve dá ao trabalhador um instrumento vital para lutar por seus direitos, por melhores condições de vida, por justiça social, neste processo civilizatório que caracteriza a história das sociedades.
Na greve pode ocorrer suspensão total ou parcial da prestação de serviços, tornando-se legítima apenas se o empregador ou entidade patronal forem avisados antecipadamente, 72 horas para atividades essenciais e 48 horas para as demais.
Não existem dúvidas de que a greve é um instrumento legal dos trabalhadores, protegido pela constituição, desde que não cause danos a terceiros, tenha uma causa justa e obedeça a lei. Caso contrário, restará configurado o chamado abuso do direito de greve, ou seja, o exercício anormal ou irregular do direito de greve.
Nesse sentido temos as proibições quanto ao movimento grevista, na qual o empregador não pode provocar o empregado quanto a sua volta à empresa ou frustrar a divulgação do movimento, bem como os próprios grevistas não pode impedir a entrada de outrem ao trabalho.
A constituição de 1969, artigo 162, trazia que a greve não poderia ser admitida nos serviços públicos e essenciais. Segundo Nelson Hungria, “a greve é um processo violento que não se compreende onde haja função jurisdicional, com o fim prepicuo de resolver conflitos trabalhistas”.
Nesse sentido, estava implícito que o servidor público, ao ser admitido, estava consciente de que estava assumindo encargos diferenciados, desconsiderando suas questões individuais, e assumindo interesses impessoais e inegáveis. A greve era vista como selvagem.
II. 
Contudo, a partir da Constituição de 1988, a greve é admitida de forma ampla, como direito dos trabalhadores em geral e em sua essência tem a natureza eminentemente política, pois através dela os trabalhadores visam à instituição de uma política salarial que lhes seja mais favorável e, evidentemente, de melhores condições de trabalho. 
Assim, no sistema jurídico brasileiro, há a Lei nº 7.783, de 28 de junho de 1989, conhecida como “Lei de Greve”, que, no seu art. 10, define quais são os serviços essenciais e urgentes, que não podem ser interrompidos: tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; assistência médica e hospitalar; distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; serviços funerários; transporte coletivo; captação e tratamento de esgoto e lixo; telecomunicações; guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; processamento de dados ligados a serviços essenciais; controle de tráfego aéreo; compensação bancária.
Nos serviços ou atividades essenciais é obrigatória a garantia da prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, assim consideradas aquelas que, não atendidas, possam colocar em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população (art. 11 da Lei nº 7.783/89). Não há dúvida de que esses serviços não podem ser interrompidos. O Código de Defesa do Consumidor é claro, taxativo e não abre exceções: os serviços essenciais são contínuos. 
A lei estabelece que os serviços prestados tenham a obrigação de possuir uma eficiência, que sejam adequados, seguros e, em relação aos essenciais, contínuos. Baseando-se no princípio de eficiência, onde Celso Antônio Bandeira de Mello (2000, p. 747-748) nos dá o seguinte conceito:
 “é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento dos princípios que preside a intelecção das diferentes partes componentes de um todo unitário que há por nome de sistema jurídico positivo. Violar um princípio é muito mais grave do que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos.”
Com base no princípio da eficiência, a Administração pública deve possuir como foco a realização de uma atividade administrativa buscando o máximo de efeitos positivos, avaliando o custo-benefício, procurando otimizar seus recursos, ou seja, buscar o máximo de eficácia nas ações do Estado. Como podemos ver no art 37, o qual cita que: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência...”, a administração pública é responsável pela eficiência a qual determina que os serviços públicos ofertem o maior percentual possível de efeitos positivos para o administrado.
Não é necessário só que tenham indivíduos a disposição das pessoas, mas que o serviço prestado seja adequado, seguro e eficiente, suprindo a necessidade das pessoas as quais necessitam daquele serviço.
A opinião quanto ao direito de greve aos servidores públicos dividem-se entre aqueles são contra e aqueles são favoráveis à esse direito nesta categoria de trabalhadores.
Na opinião daqueles que são contrários, os servidores públicos são essenciais para a Administração Pública. Assim, considerando que esta tem como princípios a continuidade de seus serviços, a greve seria impraticável por prejudica-los. Além disso, outros princípios como o do interesse público sobre o privado, também entraria em conflito com o direito de greve, dado o caráter particular das reivindicações perseguidas pelos trabalhadores.
Nestes casos enxerga-se o servidor público não apenas como um trabalhador que busca a sua subsistência no serviço público, mas como um agente social que se confunde com o próprio Estado.  Assim, seriam pessoas sem vontade própria, e destinados a cumprir uma missão além dos seus interesses pessoais.
É certo que o servidor não deveser visto como um empregado de instituições privadas. Ele tem responsabilidades diferenciadas, inclusive com penalizações criminais no caso de descumprimento.  Não por outro motivo, a Constituição Federal fez distinção entre a greve no setor privado e no setor público, com previsão normativa própria para os últimos.
Outro argumento comumente encontrado entre aqueles que são contrários ao direito de greve, é o de que ela compromete toda a comunidade. Em geral, os que sofrem com as paralisações são os setores menos favorecidos da sociedade. Também se argumenta que a greve é fenômeno característico das organizações privadas, não podendo ser exercido contra o Estado, que não tem objetivo de lucro. Além disso, os servidores gozariam de estabilidade e aposentadoria integral e que em alguns países devem lealdade irrestrita ao Estado, o que implica a limitação de seus direitos, incluindo o de greve.
Acrescente-se, ainda, que os deveres dos servidores públicos são determinados em lei. Logo, resta impossível serem feitas reivindicações por meio de greve. Deste modo, a negociação coletiva não pode ser exercitada pelas partes, que não estariam livres para entabularem normas que coloquem fim ao conflito. 
Por outro lado, aqueles que defendem o direito de greve dos servidores públicos, fazem-no sob tantos outros argumentos, da mesma forma convincentes. Para estes, as atividades chamdas de essenciais também são exercidas por trabalhadores da iniciativa privada. Em alguns casos as atividades do setor privado são até mesmo mais importantes e nem por isso o direito lhes é cerceado.
Para muitos dos que defendem o direito de greve no serviço público, a greve somente deve ser proibida em relação a certas atividades que impliquem perigo à vida, à segurança e à saúde da população.
A greve no setor público, atestam, decorre do princípio da liberdade sindical. Entender que o servidor público não pode fazer greve é denegar o direito de greve.
Em seu art. 37,VII, que trata da Administração Pública, a Magna Carta estabelece que "o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica", regulamentação esta de que se ressentem os servidores públicos até os dias atuais.
Todavia, não mais remanesce dúvida quanto à possibilidade de greve de servidor público, a respeito da louvável posição atual do STF, aplicando-se a Lei 7.783/1989, enquanto o Congresso Nacional não se dignar de cumprir sua função constitucional de regulamentar esse direito público.
III.
Como em muitos outros setores, a greve também é uma das pautas voltadas para a questão do serviço de saúde. Os serviços de assistência médico-hospitalar estão relacionados com a prevenção de doenças, com a recuperação de pacientes e a conservação da vida, englobando os profissionais médicos, odontológicos e farmacêuticos nas quais fornecem o tratamento e o cuidado adequado, diante das situações nas quais os pacientes apresentam.
A greve no serviço de saúde pode ter suas razões oriundas de interesses ou mazelas, sendo estas a má adequação e falta de estrutura dos serviços de atendimento médico – hospitalar. Nesse caso, muitos médicos em adesão com outros colegas acabam por participarem de práticas, muitas vezes ilegais e criminosas, na qual tem a denominação de protestos para a garantia de seus direitos.
Assim, ao direito de greve em serviço público essencial - setor de saúde pública, já combalida pela má gestão das políticas públicas, deve incidir a dicção do caput e do parágrafo único, do art. 11, da lei 7.783/1989, com vigor ainda maior, por tratar-se, na espécie, não de serviços ou atividades privadas considerados essenciais, mas de serviços públicos essenciais, notadamente de saúde pública.
Deflui da inteligência dos artigos 196, 5º, 1º, III, da Lei Maior, a consideração da extrema relevância humana, social e constitucional do serviço essencial ao qual estão vinculados os grevistas, no caso da saúde.
O serviço de saúde pública constitui direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas públicas sociais e econômicas objetivando reduzir riscos de doença e outros males, com acesso universal e igualitário a essas ações e serviços colimando promover a saúde, protegê-la e recuperá-la.
É o que se extrai do cânone do art. 196 da Carta Política.
Se assim é, o não atendimento a essas necessidades inadiáveis da comunidade põe em perigo a já combalida saúde pública.
De incidir, portanto, para legitimar a greve nesses setores, os comandos dos art. 3º, 10, 11, 13 e 14 da Lei 7.783/89.
A deflagração de greve nesses setores sem observância às normas prefixadas na sobredita Lei, implicará em abusividade do direito de greve (art. 14 da mesma Lei).
O art. 3º da citada Lei permite a deflagração da greve quando "Frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de recursos via arbitral" (verbis), caso em que o prazo de comunicação à instituição equivalente a empregadora e aos usuários seria de 72 (setenta e duas), horas por incidir a norma do art. 13 da multimencionada Lei, já que se trata de serviço essencial.
Dadas as nefastas consequências que uma greve nos serviços públicos essenciais produz para a população, notadamente a constituída dos cidadãos mais carentes, a prudência recomenda só se recorrer a esse extremo quando exauridas todas as perspectivas de negociação (art. 3º, da Lei 7.783/89).
Na busca de conseguir a regularização de sua situação, principalmente relacionadas a questões de má adequação e falta de estrutura dos serviços de atendimento, a classe médica comete expedientes equivocados, visando buscar maior adesão de médicos para a greve.
Assim, é de responsabilidade dos servidores públicos da área de saúde, baseado no Art. 116 da LEI Nº 8.112, DE 11 DE DEZEMBRO DE 1990, que todo agente de saúde tem por dever exercer suas tarefas com zelo e dedicação, possuir lealdade à instituição a qual servir.
De acordo com a Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso II, o qual afirma que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei", logo qualquer cidadão tem o direito de recusar imposições que não estão previstas em lei.
Mas existe uma grande diferença em haver o exercício de um direito, como o direito a greve, e a obrigação de adesão de todos os membros da classe, à essa manifestação. Muitos grevistas utilizam o Código de Ética Médica da forma indevida, fazendo o uso de seu art. 78, onde o mesmo diz que "É vedado ao médico: posicionar-se contrariamente a movimentos legítimos da categoria médica, com a finalidade de obter vantagens", constrangendo os colegas para aderirem ao movimento, alegando que todos os membros da classe teriam tal dever. Logo o médico pode até concordar com os termos da greve, porém não tem interesse em participar, não o tornando contrário ao movimento grevista.
Caso a não adesão se dê por questões legítimas, como no caso de médicos residentes, os quais estão em aprendizado, sendo que o ‘cruzamento de braços’ implicará em falta de obtenção de conhecimento (técnicas), eis que não configurada estará a ‘finalidade de obter vantagens’, já que o aprendizado é um exercício regular do direito. Nesse caso, a pressão para a adesão à greve não pode ser acobertada pelo art. 15 do Código de Ética Médica.
Os médicos os quais exercerem ‘pressão’ diante o colega o qual não tem o interesse de fazer parte do movimento, além de contrariarem a norma maior que é a Constituição Federal, pode também configurar ilícitos civis e criminais, tipificados no Código Civil e Código Penal. De acordo com o Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. § 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas."
IV.
A assistênciamédica e hospitalar é um serviço essencial que deverá estar disponível para o atendimento da sociedade e não poderá ser paralisado totalmente pelos seus prestadores, sob as penas da lei.
Por mais legítimo que seja o movimento paredista em face das reivindicações formuladas, não se pode admitir que a comunidade usuária dos serviços de saúde sofra as consequências e prejuízos, por vezes irreparáveis, decorrentes da paralisação de sua prestação.
Em que pese a greve se constitua num direito do trabalhador, seu exercício encontra limites jurídicos, fixados de forma explícita ou implícita pelo próprio sistema jurídico-positivo, em decorrência da necessidade de harmonização com outros direitos do mesmo porte, dentre eles o direito a saúde.
É necessário, portanto, que sejam compatibilizados tais direitos. O direito de greve no serviço essencial de saúde, seja público ou privado, deverá ser exercido em harmonia com os interesses da coletividade, para evitar que direitos de grupos determinados se sobreponham ao direito coletivo e difuso, que se refere a toda a comunidade. 
Fechamos o trabalho com uma passagem de uma peça teatral de “Grand-Guignol”, na qual simula a operação de uma menina, filha de um grevista da companhia de eletricidade. Quando o cirurgião acaba de praticar a incisão, as luzes são apagadas, e o mesmo tem de parar a intervenção. Nesse momento um operário entra na sala triunfante exibindo um cartaz e dizendo: “conseguimos fazer a greve!”
 O médico então responde “E mataste tua filha!”
			CONCLUSÃO – CAROLINA COSTA
Diante dos grandes pontos divergidos, buscamos focar nos movimentos grevistas em face das atividades essenciais de saúde, buscando deixar claro não só os direitos os quais os profissionais de saúde possuem, mas também os princípios de cada um, já que atitudes impensadas podem levar a sérias consequências, buscando fazer do direito de greve não apenas um movimento para demonstrar suas insatisfações, mas também de buscar, de uma forma pacífica e legal, melhorias pra classe de saúde, afastando-se do caos que um movimento ilegal pode gerar.
Podemos perceber que, por mais que os médicos sejam comprometidos com o seu trabalho e façam jus ao juramento, muitos se deparam com péssimas condições de trabalho, fazendo com que se torne impossível a prática de sua profissão. Podemos concluir que a classe médica, apesar de o serviço de saúde ser essencial, tem total direito de greve, desde que respeitem seus colegas e também pacientes, não deixando em segundo plano que, mesmo em greve, o atendimento médico seja garantido a população, não tornando a greve um motivo pra piorar a qualidade de atendimento dos serviços públicos.
Percebemos então que existe uma grande necessidade de que a saúde pública deixe de ser um problema, necessidade de que a melhoria da qualidade no ambiente médico seja garantida, conseguindo atender as necessidades do público desprovido de condições sociais e consequentemente, oferecendo melhores condições para que os profissionais da área de saúde exerçam sua profissão da maneira correta.
CONCLUSÃO – LAÍS SILVA
Após análise e compreensão sobre o assunto abordado, fica percebido que apesar da greve ser vista como um movimento de autodefesa do trabalhador com relação ao empregador para reivindicar melhores condições de trabalho e/ou salariais, é de extrema importância o funcionamento das atividades de 50% dos profissionais da área de saúde no período da greve. Isto acontece devido à assistência médico-hospitalar se enquadrar como serviços essenciais, na qual os interesses individuais destes funcionários não podem comprometer os direitos e interesses coletivos – a vida, a saúde e as necessidades básicas da população. Assim, têm que se optar por soluções alternativas menos ruinosas para que seja evitadas situações de perigo ao povo. Além de verificar se a greve tem respaldo legal, para que a mesma seja tolerada pelo Estado como um direito de tais servidores, e evite a antipatia popular.
CONCLUSÃO – MARIA FERNANDA
Com o presente estudo - Direito de Greve – Serviço Público Essencial de Saúde, constatei que é preciso ter na Constituição o alicerce e a diretriz de compreensão e interpretação/aplicação do direito de greve, e de preservação e concretização dos direitos sociais, dentre eles, o direito a saúde. E não esquecendo que essa concretização é condição necessária e essencial para a promoção da justiça social, entre outros objetivos expressos no art. 3º da Carta de 1988, os autênticos objetivos da sociedade brasileira.
O direito de greve ainda traz um notável grau de controvérsias entre os envolvidos na questão - empregados, patronos, sindicatos, administração pública, iniciativa privada, judiciário e a própria sociedade, relacionados as questões que identifica-se formas, exercício, interesse e relevância de algum movimento grevista instaurado.
Ressalta-se, entretanto, que levará algum tempo até que a jurisprudência seja sedimentada, sabendo-se que surgirão lacunas incompatíveis com a realidade do setor privado quando aplicada ao setor público, por quanto resta incontestável a enorme diferença entre o regime jurídico que regula as relações trabalhistas, regidas pela CLT, e o regime jurídico dos servidores públicos (estatutários), regidos por leis específicas de cada esfera da administração pública, o que torna bastante problemática a aplicação da Lei 7.783/89 na regulação das greves de servidores públicos.
Notadamente, as greves, de um modo geral, são prejudiciais, e por vezes penosas, aos usuários de serviços públicos, como saúde, transportes, educação e saneamento. Enfim, interesses difusos, coletivos e individuais de toda a sociedade são atingidos, em face do comprometimento do acesso aos serviços públicos que acaba por ser vetado, em grande parte dos casos, pela greve, ou seja, por conta da defesa de interesses de uma determinada classe ou categoria profissional, que não obstante serem também direitos sociais, pois são direitos do trabalhador, acabam por entrar em conflito, ou possibilidade de conflito, com o pressuposto constitucional de concretização dos direitos sociais.
Na maioria dos hospitais as emergências estão lotadas e a falta de médicos, enfermeiros e auxiliares são cada vez maiores. As estatísticas são vergonhosas e nos leva a crer que um processo grevista em meio ao caos que vivemos nos dias de hoje e a má Gestão Administrativa que não disponibiliza recursos suficientes para que os servidores consigam trabalhar e atender a população traria inúmeros problemas para o Brasil, principalmente o aumento da mortalidade.
No caso da saúde poderia haver algum percentual de servidores que pudesse atender com segurança, adequação e eficiência as necessidades inadiáveis da população? Será que 50%, 60% ou 70% dos servidores de uma unidade hospitalar pública de urgência e/ou emergência seriam o suficiente para atender adequadamente todos os que necessitam desses serviços? A resposta parece-me óbvia, pois, decerto, não existem percentuais seguros, que deixassem de oferecer riscos aos usuários dos serviços de saúde pública nessas situações. Por outro lado não se pode alegar que sendo o sistema já insuficiente, mesmo contando com 100% de sua capacidade, uma eventual redução dessa capacidade em caso de greve poderia ser legítima. Ora, se o nosso sistema de saúde, mesmo na plenitude de sua capacidade, ainda é inadequado, isso não quer dizer que possa haver alguma possibilidade jurídica de se reduzir essa capacidade sem que se esteja a ofender o direito fundamental aos serviços de saúde (art. 196, CF/88), pois o que existe nesse caso é uma notória obrigação do poder público em promover a melhoria do serviço, mas jamais se poderia deduzir daí qualquer possibilidade de sua redução na capacidade de atendimento.
 
Não há, evidentemente, soluções em curto prazo para estes conflitos. Não há fórmulas ou esquemas predeterminadosque possam garantir equilíbrio a esta difícil relação entre greve e serviço público na saúde. Entendo que deve-se preservar o exercício do direito de greve, quando estritamente necessário à preservação dos direitos dos trabalhadores, tendo em contrapartida o máximo respeito aos direitos sociais fundamentais da população, dentre eles, o direito a saúde, tendo como pressupostos, o respeito à Constituição e atenção não só aos direitos dos empregadores e empregados, mas também aos direitos de toda a coletividade.
				REFERÊNCIAS
FARAH, Elias. Greve nos serviços e atividades públicas e ou essenciais. Disponível em < www.advocaciaeliasfarah.com.br/eliasfarah/artigos_greve.doc >. Acesso em 28 de abril de 2014.
JUS NAVIGANDI. Greve de médicos e “pressão” para adesão. Disponível em < http://jus.com.br/artigos/11375/greve-de-medicos-e-pressao-para-adesao >. Acesso em 02 de maio de 2014.
LEI DE GREVE no setor privado aplica-se aos servidores públicos.  Jornal do Advogado, São Paulo, nº 323, novembro/2007, p. 19.
RAMOS, Luiz Gustavo de Oliveira. O direito de greve e a responsabilidade face aos serviços essenciais no Brasil. Disponível em < http://jus.com.br/artigos/20474/o-direito-de-greve-e-a-responsabilidade-face-aos-servicos-essenciais-no-brasil > Acesso em 02 de maio de 2014.
	
					
					ANEXOS
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