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Linguagem e Comunicação Versão_Final_2sem2011

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1 
 
 
 
 
Centro Universitário de Patos de Minas 
 
 
 
 
 
 
 
 
Patos de Minas, agosto de 2011 
 2 
 
Professores 
 
 
Agenor Gonzaga dos Santos 
Carlos Roberto da Silva 
Elizene Sebastiana de Oliveira 
Elisa Aparecida Ferreira Guedes Duarte 
Fátima Aparecida dos Santos 
Geovane Fernandes Caixeta 
Gisele Carvalho Araújo Caixeta 
Moacir Manoel Felisbino 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Centro Universitário de Patos de Minas 
 
 
 3 
Caros alunos, 
 
A disciplina Linguagem e Comunicação consta da grade curricular do curso escolhido por vocês. Isso 
mereceria algumas justificativas acadêmicas, mas não queremos nos dirigir a vocês como “professores de 
português”. Dirigimo-nos a vocês como facilitadores no aprimoramento de suas habilidades lingüísticas. 
Linguagem e Comunicação está presente nos primeiros semestres de quase todos os cursos de graduação 
deste país – isso já mostra sua importância na formação profissional de qualquer estudante. Infelizmente, os 
anos anteriores de formação escolar não foram suficientes para o aprimoramento de tais habilidades. O 
acadêmico tem, na faculdade, uma das últimas oportunidades para desenvolver sua capacidade de expressão por 
meio da língua, seja na modalidade falada, seja na modalidade escrita. Se perdida essa oportunidade, ou mal 
aproveitada, poderá sofrer punições principalmente no mercado de trabalho, caso consiga ingressar-se nele. 
Sabemos que, no nosso dia-a-dia, não comunicamos por meio de palavras – elas existem apenas no 
dicionário. Comunicamos, sim, por meio de textos. Nossas relações pessoais ou profissionais realizam-se por 
meio de textos que (co)produzimos com nossos semelhantes. Tecemos idéias, tecemos compromissos. Sem o 
domínio eficiente da língua, sem o domínio da feitura de textos, não conseguiremos nos mover neste mundo 
marcadamente tecnológico. Marcadamente sem fronteiras. Marcadamente informativo. Mundo de exigências, 
então! 
Nosso papel no curso escolhido por vocês, caros alunos, é contribuir para que a formação de vocês 
esteja, também, respaldada pelas exigências deste mundo em que informações, que são textos circulantes, são 
extremamente necessárias para o desempenho profissional. Mesmo que, no futuro profissional, vocês não 
precisem escrever textos, não precisem ministrar palestras ou seminários, a desenvoltura lingüística poderá 
lhes garantir possibilidades de crescimento ininterrupto, já que irão (co)produzir textos menos formais em suas 
relações. Não há profissional isolado; há, sim, aquele que tece conhecimentos, que troca idéias, que comunica 
achados e os compartilha. E isso é o que nós chamamos de produção de textos. 
Produzir um texto falado ou escrito é uma atividade que se aprende, por ensaio e erro. Não é 
privilégio de poucos, mas direito de todos. O seu curso proporciona esse direito. Na nossa disciplina Linguagem 
e Comunicação, possibilitamos a vocês mecanismos de compreensão de textos, nos aspectos lingüístico, 
argumentativo e expressivo, para que desenvolvam suas habilidades de interação. Neste mundo sem limites 
para a troca de informações – vocês sabem o que a tecnologia pode fazer –, a partilha de textos, ou com 
amigos, ou com colegas de profissão, pode ser, também, o percurso para uma vida feliz e realizada. Sem 
textos, não há amigos, não há profissionais, não há homens. 
Esperamos – e acreditamos nisto – que a prática de textos seja um instrumento-chave na participação 
da vida social, profissional e intelectual. Oferecer, portanto, a vocês instrumentos para capacitá-los nessa 
empreitada é nosso dever! 
 
Os professores 
 4 
Sumário 
 
CARTA AOS ALUNOS ...................................................................................... 
 
3 
NOSSO MAIOR DIREITO ...................................................................................... 
 
6 
PLANO DE ENSINO ......................................................................................... 
 
7 
01 LINGUAGEM E SOCIEDADE ............................................................... 
 
10 
1.1 Informação e conhecimento ................................................................... 10 
1.1.1 Quem sabe .......................................................................................... 10 
1.1.2 Onde mora a inteligência .......................................................................... 12 
1.2 Linguagem, indivíduo e profissão ............................................................. 13 
1.2.1 Língua e poder ..................................................................................... 13 
1.3 Texto e sua circulação .......................................................................... 14 
1.3.1 Intenções do produtor .......................................................................... 15 
1.3.1.1 Textos e atividades .............................................................................. 16 
1. 3.2 Diversidade textual.............................................................................. 17 
1.3.2.1 Textos e atividades .............................................................................. 17 
1.3.3 Polifonia e intertexto ........................................................................... 34 
1.3.3.1 Textos e atividades .............................................................................. 
 
34 
02 TEXTO E SUA TEXTUALIDADE .......................................................... 
 
39 
2.1 Coerência textual ................................................................................ 39 
2.1.1 Textos e atividades .............................................................................. 40 
2.2 Coesão textual ................................................................................... 46 
2.2.1 Textos e atividades .............................................................................. 49 
2.3 Parágrafo, estrutura e articulação ............................................................. 55 
2.3.1 Textos e atividades .............................................................................. 
 
56 
03 PROCESSOS DE COMPREENSÃO ........................................................ 
 
64 
3.1 Sentido literal e não-literal .................................................................... 64 
3.1.1 Textos e atividades .............................................................................. 65 
3.2 Atividade inferencial ............................................................................ 67 
3.2.1 Informações implícitas .......................................................................... 67 
3.2.1.1 Subentendidos e pressupostos ................................................................. 68 
3.2.1.1.1 Textos e atividades .............................................................................. 69 
3.3 Estrutura da argumentação .................................................................... 74 
3.3.1 Recursos e falácias da argumentação ......................................................... 78 
3.3.1.1 Textos e atividades .............................................................................. 
 
79 
 5 
04 PRÁTICA DE TEXTOS ....................................................................... 
 
83 
4.1 Dossiê Cotidiano e Atualidades .................................................................. 83 
4.1.1 Artigo de opinião ................................................................................ 83 
4.1.2 Textos e atividades .............................................................................. 83 
4.1.3 
 
Sugestão de atividade ........................................................................... 944.2 Dossiê Política e Economia ....................................................................... 95 
4.2.1 Resumo ........................................................................................... 95 
4.2.2 Textos e atividades .............................................................................. 96 
4.2.3 
 
Sugestão de atividade ........................................................................... 98 
4.3 Dossiê Arte e Cultura ............................................................................. 100 
4.3.1 Resenha ........................................................................................... 100 
4.3.2 Textos e atividades .............................................................................. 101 
4.3.3 
 
Sugestão de atividade ........................................................................... 103 
4.4 Dossiê Biodiversidade, Ecologia e Meio Ambiente ............................................... 107 
4.4.1 Artigo científico ................................................................................. 107 
4.4.2 Textos e atividades .............................................................................. 108 
4.4.3 
 
Sugestão de atividade ........................................................................... 128 
4.5 Dossiê Tecnologia e Comportamento ............................................................. 128 
4.5.1 Seminário ......................................................................................... 128 
4.5.2 Organização de seminário ...................................................................... 129 
4.5.3 
 
Sugestão de seminários ......................................................................... 130 
 
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 
 
 
 
 6 
Nosso maior direito 
Você já pensou na maravilha que é 
pensar? Poder pensar? Por que maravilha? Nem 
sei como explicar, mas ter consciência de que 
se está pensando é extraordinário; quantas 
vezes na vida você se deu conta de que estava 
pensando e na liberdade que se tem quando se 
pensa? 
Pensar nos leva de um deserto na 
Mongólia ao palácio de um rei, do sofrimento 
mais doloroso à mais escandalosa das 
felicidades, do ódio à paixão, da descrença à 
mais profunda fé, até da doença à saúde -e vale 
o vice-versa. 
Pensar: o maior privilégio que alguém 
pode ter. As guerras, as revoluções, as obras de 
arte, os filmes, os livros, tudo, absolutamente 
tudo, só existe porque um dia, em algum lugar, 
um homem pensou, e há quem afirme que a 
força do pensamento pode até fazer com que as 
coisas aconteçam. Todas não sei, mas algumas, 
com certeza. 
É divertido pensar; quando se pensa não 
há censura, nada é pecado, proibido ou contra a 
lei. Talvez seja, verdadeiramente, a única 
liberdade total que se tem. 
Muitas pessoas talvez nunca tenham 
prestado atenção em seus próprios 
pensamentos: pois deviam. Essa prática pode 
ser melhor do que muitos filmes e muita 
conversa fiada, mas difícil, para quem não está 
acostumado. Você sabia que há muita gente que 
passa a vida inteira sem se dar conta do 
privilégio que é poder pensar? 
Uma maravilha e também um perigo: 
basta que se fique "pensativa" para que alguém 
pergunte "o que você tem? Está pensando em 
quê?" 
Nada desestabiliza mais um grupo do 
que perceber que uma das pessoas está longe, 
pensando. 
Pensar é perigoso; é pensando que se 
descobre que a vida não está boa mas que pode 
mudar, que o país vai bem mas poderia ir 
muito melhor, é pensando que se pode 
transformar nossa vida e o mundo. 
Nelson Mandela disse que tinha 
saudades do tempo que passou na prisão, 
porque preso ele tinha tempo para pensar. No 
nosso dia a dia, quando sobra um momento 
para se estar só, inventa-se imediatamente 
alguma coisa para fazer, para evitar o perigo 
maior que é pensar. 
Ninguém – ou pouquíssimas pessoas- 
está completamente feliz com sua vida pessoal, 
seus amores, seu trabalho. Mas durante a 
novela ninguém está pondo em questão se 
poderia fazer alguma coisa para ser mais feliz. 
Será que os altos homens de negócios já 
pararam para pensar se vale a pena trabalhar 
tanto, se não têm nem tempo para gastar o 
dinheiro que já têm? E para que mais dinheiro? 
Para ter mais cinco pares de sapato, três bolsas, 
12 camisetas? É muito bom ter um carro do 
ano, mas se ele fosse de 2007 seria tão 
diferente? 
E essa mania de acumular, para deixar 
uma herança para os filhos, isso no fundo é um 
problema político. Todos sabemos que em 
alguns países a educação, a saúde e a 
aposentadoria são garantidas para toda a 
população, que sem precisar se preocupar tanto 
com o futuro, vive mais feliz -com menos 
frescuras, mas com mais alegria. 
Está vendo no que dá, pensar? 
Pensar é perigoso e subversivo, e uma 
coisa é certa: quem não pensa apenas faz o que 
os outros mandam: usam a bolsa da mesma 
grife porque inventaram, começaram a fumar e 
deixaram de fumar porque inventaram, e 
correm o risco de votar errado porque 
inventaram que quem tem carisma pode ser um 
bom presidente. 
Quem não pensa não escolhe, e são as 
escolhas que podem mudar. 
 
(LEÃO, Danuza. Nosso maior direito. Folha de S. Paulo, São 
Paulo, 25 julho 2010, p. C2) 
 
 7 
Plano de ensino de Linguagem e Comunicação 
 
EMENTA 
 
A noção de linguagem como interação e o domínio de mecanismos lingüísticos (gramaticais) e 
discursivos que permitam ao usuário da língua não só a leitura eficiente de textos variados, mas 
também a produção deles, a fim de que possa interagir e atuar sobre o(s) outro(s), social e 
profissionalmente. 
 
OBJETIVO GERAL 
 
• Proporcionar aos educandos conhecimentos teóricos e práticos que os levem a ler e a produzir 
textos de maneira eficiente, considerando o interlocutor, o contexto de produção, a circulação 
e o papel dos textos numa dada comunidade. 
 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
 
• Refletir com os educandos sobre a importância da circulação de informações na construção 
do conhecimento, sobre o papel da linguagem como meio de sobrevivência e como 
instrumento-chave nas relações sociais e profissionais. 
 
• Provocar nos educandos, junto com a prática de produção de texto, reflexão sobre os 
fenômenos lingüísticos, a consciência de sua diversidade e não a simples repetição mecânica 
de regras. 
 
 
• Mostrar aos educandos que a produção eficiente de um texto resulta de operações que 
envolvem a língua e o raciocínio e não de um dom inato, o que equivale dizer também que 
escrever se aprende, por ensaio e erro, não sendo privilégio de poucos, mas direito de 
todos. 
 
• Possibilitar aos educandos uma melhor compreensão de textos, nos aspectos lingüísticos, 
argumentativos e expressivos, para que desenvolvam a habilidade de interação nas 
modalidades escrita e falada. 
 
 
• Oferecer aos educandos mecanismos que os conduzam a uma adequação lingüístico-
pragmática quanto às diversas tipologias e gêneros textuais, para que a prática da linguagem 
escrita seja um instrumento-chave na participação da vida social, profissional e intelectual. 
 
• Desenvolver nos educandos a capacidade de reflexão de natureza multi e interdisciplinar, 
para que possam desempenhar, por meio do domínio da língua(gem), suas atividades 
futuras, de modo globalizante. 
 
 
• Despertar nos educandos o interesse não só pela leitura variada de textos de temáticas 
atuais mas também pela produção deles, tanto nas relações diárias de convivência quanto 
nas profissionais. 
 
 8 
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 
 
01 LINGUAGEM E SOCIEDADE 
 
1.1 Informação e conhecimento 
1.1.1 Quem sabe 
1.2 Linguagem, indivíduo e profissão 
1.2.1 Linguagem e sobrevivência 
1.2.2 Cada um com sua língua 
1.2.3 Línguae poder 
1.3 Texto e sua circulação 
1.3.1 Intenções do produtor 
1.3.1.1 Textos e atividades 
1.3.2 Diversidade textual 
1.3.2.1 Textos e atividades 
1.3.3 Polifonia e intertexto 
1.3.3.1Textos e atividades 
 
02 TEXTO E SUA TEXTUALIDADE 
 
2.1 Coerência textual 
2.1.1 Textos e atividades 
2.2 Coesão textual 
2.2.1 Textos e atividades 
2.3 Parágrafo, estrutura e articulação 
2.3.1 Textos e atividades 
 
03 PROCESSOS DE COMPREENSÃO 
 
3.1 Sentido literal e não-literal 
3.1.1. Textos e atividades 
3.2 Informações implícitas 
3.2.1 Subentendidos e pressupostos 
3.2.1.1. Textos e atividades 
3.3 Atividade inferencial 
3.3.1 Textos e atividades 
3.4 Estrutura da argumentação 
3.4.1 Recursos e falácias da argumentação 
3.4.1.1 Textos e atividades 
 
04 PRÁTICA DE TEXTOS 
 
4.1 Dossiê Cotidiano e Atualidades 
4.1.1 Artigo de opinião 
4.1.2 Textos e atividades 
4.1.3 Sugestão de atividade 
 
4.2 Dossiê Política e Economia 
4.2.1 Resumo 
4.2.2 Textos e atividades 
4.2.3 Sugestão de atividade 
 
4.3 Dossiê Arte e Cultura 
4.3.1 Resenha 
4.3.2 Textos e atividades 
4.3.3 Sugestão de atividade 
 
4.4 Dossiê Biodiversidade e Ecologia 
4.4.1 Artigo de opinião 
4.4.2 Textos e atividades 
4.4.3 Sugestão de atividade 
 
4.5 Dossiê Tecnologia e Comportamento 
4.5.1 Seminário 
4.5.2 Organização de seminário 
4.5.3 Sugestão de seminários 
 
05 PROBLEMAS GERAIS DA LÍNGUA CULTA 
 
ATIVIDADES PRÁTICAS SUPERVISIONADAS 
 
Os discentes farão leituras de textos variados e de fontes diversas, selecionados pelo professor, 
voltados, direta ou indiretamente, à área de atuação escolhida, com a finalidade de reconhecer, de 
interpretar e de analisar os apontamentos teóricos feitos nas aulas. Será contemplada também a 
produção de textos a partir das leituras recomendadas. 
 
 
 
 
 
 9 
METODOLOGIA 
 
Para que se alcancem os objetivos propostos nas aulas de Linguagem e Comunicação, serão adotados os 
seguintes procedimentos didático-metodológicos: aulas expositivas, estudos de textos, debates, 
apresentação de seminários, oficinas de leitura e produção de textos. 
 
RECURSOS DIDÁTICOS 
 
Coletânea de textos e atividades, quadro, giz, textos selecionados de revistas, jornais e livros, 
retroprojetor, vídeo, salas de computadores e outros recursos necessários ao desenvolvimento das 
aulas. 
 
AVALIAÇÃO 
 
Do discente: 
• A avaliação, que consiste em um processo contínuo e permanente, será concebida e utilizada nesta 
disciplina como elemento constitutivo do processo ensino-aprendizagem que permite identificar, 
qualitativa e quantitativamente, os avanços e dificuldades na concretização dos objetivos propostos. 
Em cumprimento ao que prevê o regimento, no decorrer do semestre letivo, serão distribuídos 100 
(cem) pontos, de acordo com a nova proposta pedagógica. 
 
• É fundamental ressaltar que freqüência, empenho, compromisso, atitude e participação do aluno nas 
aulas, em eventos e em todo o contexto da vida acadêmica são fatores de grande relevância para a 
configuração do painel avaliativo. 
 
• Para efeito de aprovação por freqüência, o aluno deverá assistir, no mínimo, a 75% das aulas 
ministradas. A chamada nominal dos alunos será realizada oralmente, em momento determinado 
pelo professor. 
 
Do docente: 
• Os alunos avaliarão o desempenho e atuação do professor por meio de instrumento avaliativo 
elaborado pela CPA. 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
Básica 
 
FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. 16. ed. 
São Paulo: Ática, 2006. 
FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristovão. Oficina de texto. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2009. 
KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 15. ed. São Paulo: Contexto, 2001. 
 
Complementar 
 
ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. 4. ed. São Paulo: Parábola, 2008. 
DISCINI, Norma. Comunicação nos textos: leitura, produção, exercícios. São Paulo: Contexto, 
2005. 
KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz C. A coerência textual. 17 ed. São Paulo: Contexto, 
2007. 
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 2. ed. São Paulo: 
Parábola, 2008. 
GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever aprendendo a pensar. 12. 
ed. São Paulo: FGV, 1985. 
 10 
Capítulo 1 
 
01 Linguagem e sociedade 
 
Neste capítulo, você vai ler e discutir, 
num primeiro momento, textos que abordam a 
relação entre informação e conhecimento, a 
construção do conhecimento como processo e 
a importância da linguagem técnica nas diversas 
áreas do conhecimento. Num segundo 
momento, serão apresentados textos para que 
você aprimore sua visão acerca do que seja 
(inter)texto, sua circulação e suas intenções. 
Ainda neste momento, você irá ler vários 
textos sobre um mesmo tema para que 
compreenda a importância dos gêneros textuais 
nas suas atividades diárias, profissionais e 
acadêmicas. Para cada texto ou conjunto de 
textos, serão elaboradas atividades para reforço 
de aprendizagem e para discussão nas aulas. 
 
1.1 Informação e conhecimento 
 
 Neste ainda recente intercurso de 
séculos, uma exigência é feita: devemos ter 
acesso a informações. No entanto, não 
podemos confundir esse acesso com a 
construção de saberes ou de conhecimento. 
Ter informação não significa necessariamente 
ter capacidade de produzir conhecimento. É 
consensual, porém, que informações recebidas 
são necessárias à elaboração de conhecimento. 
A evolução do homem foi e é garantida, em 
grande parte, pelo fluxo de informações e pelo 
conhecimento resultante do intercâmbio delas, 
ora confirmando-as, ora negando-as, ora 
aprimorando-as. 
 A cada dia, somos exigidos, 
principalmente no trabalho: devemos produzir 
sempre mais. Em qualquer atividade, somos 
levados a pensar, refletir, discutir, entre outras 
questões. Quem não tem informação não 
interage e quem não interage torna-se um 
indivíduo sem relações. Não há sociedade sem 
relações entre os indivíduos, não há atividade 
profissional que não gere resultados. Portanto, 
para que seja alcançada a interdependência 
necessária entre os indivíduos e entre os 
profissionais, a linguagem é necessária. É por 
meio dela que se constroem conhecimentos. 
 O domínio de linguagens, da língua às 
manifestações não verbais, não garante ao 
falante regalias sociais, culturais, profissionais. 
Não adianta ter acessos a meios que veiculam 
informações; isso não nos faz melhores nas 
nossas relações diárias e intelectuais. Não 
adianta ter a capacidade de assimilar a 
linguagem técnica de nossas profissões; outras 
exigências são necessárias. Talvez a nossa 
disposição para receber informações e colocá-
las em confronto com outras seja a nossa 
principal característica. Somos seres de 
produção de conhecimento, e a linguagem é a 
ponte para as travessias. 
 
 
1.1.1 Quem sabe ? 
 
Galileu revolucionou a ciência e a 
tecnologia ao afirmar que a natureza é escrita 
na linguagem dos números. A nova revolução 
tecnológica afirma que a sociedade é escrita na 
linguagem da informação. Mas de que tipo de 
sociedade estamos falando? 
O 0 e o 1 são os blocos básicos com os 
quais será construído o futuro. Dois algarismos 
apenas formam o alfabeto do fenômeno mais 
complexo dos tempos modernos: a tecnologia 
de informação e comunicação. Novas formas de 
atividade e expressão, novas práticas de 
 11 
trabalho e de lazer já emergiram, e as velhas já 
estão passando por transformações radicais. 
Essas mudanças tremendas estão 
ocorrendo em escala global porque a partilha 
de informações em rede está, pouco a pouco, 
alcançando todo o planeta. Ainda restam 
grandes disparidades, principalmente entre os 
hemisférios Sul e Norte, mas esses processos 
estão longe de completos. Em que direção eles 
estão nos conduzindo? Comodevem ser 
implementados e regulamentados? Quais 
devem ser os envolvidos? 
Essas perguntas todas levaram a ONU a 
convocar a Cúpula Mundial sobre a Sociedade 
de Informação, que terá lugar em Genebra em 
dezembro. Essa cúpula reunirá governos, 
ONGs, participantes-chaves no setor privado e 
na sociedade civil, a mídia e organizações que 
integram o sistema da ONU. Prevendo alguns 
dos tópicos constantes da agenda da cúpula, a 
Unesco recentemente lançou um novo ciclo em 
sua série de fóruns de filosofia. Para situar-se 
em uma discussão diretamente relacionada à 
sua área de competência, ela postulou a 
pergunta “Quem sabe?” a 20 figuras de 
destaque de uma série de áreas geográficas e 
intelectuais que participam do Fórum de 
Filosofia da Unesco. 
Alguns dirão que essa pergunta já é 
obsoleta. Para que memorizar se máquinas 
podem fazer melhor e mais rapidamente que 
nós? De que adianta conhecermos um teorema 
ou uma receita se podemos acessá-los 
facilmente na web? Essas perguntas não deixam 
de fazer sentido. Mas será que devemos 
concluir que a sociedade da informação conduz 
a uma sociedade caracterizada pela amnésia e 
ignorância? Deve a derrota de um homem pela 
máquina numa partida de xadrez nos fazer 
colocar em dúvida aquilo que é intrinsecamente 
humano? Não. Precisamos repensar o problema 
em novos termos. 
O Fórum de Filosofia da Unesco 
mostrou que a pergunta “Quem sabe?” só terá 
perdido a relevância se confundirmos 
informação com conhecimento. No entanto, 
essas são duas coisas distintas, embora 
relacionadas, na medida em que a informação é 
uma ferramenta do conhecimento. 
A informação é uma técnica que tem 
por objetivo eliminar o elemento do ruído na 
comunicação. Mas comunicação não é 
inovação. Calibrar as palavras e mensagens 
melhora a transmissão do conhecimento, mas 
não o cria. O ponto forte da informação 
também é sua limitação. A inovação ocorre 
apenas quando existe uma busca pelo que é 
novo; não existe pesquisa – logo, não há 
progresso – sem conhecimento e sem a 
curiosidade e a experiência, as falhas e as 
tradições que ele pressupõe. É o conhecimento 
que dá sentido à informação. 
O conhecimento inclui dimensões 
sociais, éticas e políticas que não podem ser 
reduzidas à tecnologia. Uma sociedade que 
fosse exclusivamente só de informação seria um 
conjunto de enormes redes interligadas, 
eficazes e ágeis, mas que não iria produzir 
inovações. A informação não é base suficiente 
sobre a qual erguer uma sociedade. Mas a 
sociedade se baseia no diálogo, não em bits de 
informação. Assim, “sociedades do 
conhecimento” parece ser uma expressão mais 
apropriada do que “sociedade da informação” 
para designar os fenômenos dos quais estamos 
tratando. 
Existe apenas uma sociedade da 
informação, já que existe apenas um padrão de 
dados e comunicações. As sociedades do 
conhecimento existem no plural, já que, na 
medida em que dizem respeito à criatividade, 
elas necessariamente implicam diversidade e 
partilha. 
Sem o intercâmbio do conhecimento 
não podem existir avanços econômicos, 
científicos ou políticos em nível local, regional 
ou global. A partilha eqüitativa do 
conhecimento será a origem da riqueza do 
amanhã. 
Isso também é verdade no que diz 
respeito à vida cívica. Sem cultura democrática 
– ou seja, sem a tradição e o aprendizado dos 
costumes e valores democráticos –, a 
informação será utilizada para as finalidades dos 
regimes oligárquicos ou tirânicos, tanto quanto 
 12 
para as dos regimes fundamentados em 
processos decisórios públicos e compartilhados. 
O conhecimento se tornou um potencial-chave 
de investimento em todas as áreas da atividade 
humana. 
É por essa razão que a Unesco decidiu 
dedicar às sociedades do conhecimento seu 
primeiro relatório mundial, a ser publicado em 
2005, e também organizar uma mesa-redonda 
sobre o mesmo tema durante sua conferência 
geral de outubro de 2003. Afinal, a idéia do 
conhecimento não resume, melhor do que 
qualquer outra, as exigências implícitas na 
educação, ciência e cultura? Nossa meta é 
promover uma reflexão progressiva sobre os 
desafios postos pelas sociedades emergentes. 
Diante da revolução do conhecimento, a 
Unesco se mantém fiel a seu papel essencial: 
atuar como laboratório das idéias do amanhã. 
 
(Jérome Bindé é diretor de Antecipação e Estudos de 
Perspectivas da Unesco; Joseph Goux é professor de filosofia 
na Universidade Rice (Texas), EUA) 
 
(Folha de S. Paulo, 23 nov. 2003) 
 
 
1) Informação e conhecimento são conceitos sinônimos e equivalentes? Argumente. 
2) Qual o problema enfrentado pela sociedade da informação? 
3) O que poderá acontecer se a informação e a tecnologia de ponta substituírem a cultura 
democrática? 
4) Com base no texto e em seus conhecimentos, discorra, num único parágrafo, sobre a força e a 
importância do fluxo de informação para a sociedade moderna. 
 
 
1.1.2 Onde mora a inteligência 
 
Retorno ao lugar onde parei, na Escola 
da Ponte, em Portugal. A menina que me 
levava me havia dito umas coisas que me 
espantaram por não combinarem com aquilo 
que eu pensava saber sobre as escolas. Foi 
então que me veio à cabeça a sabedoria do 
Riobaldo: "O real não está na saída nem na 
chegada: ele se dispõe para a gente é no meio 
da travessia". Sem intenção consciente, o dito 
do Riobaldo passou por uma transformação 
pedagógica e virou "a inteligência não está na 
saída nem na chegada, ela se dispõe para a 
gente é no meio da travessia". A inteligência 
acontece no "estar indo". Quando ela não está 
indo, ela está dormindo... 
Lembrei-me dos meus anos de ginásio, 
a pedagogia que os professores usavam 
naqueles tempos, e não sei se as coisas 
mudaram, porque o hábito tem um poder 
muito grande... Pois os professores me 
ensinaram as coisas que estavam na chegada, 
mas não me contaram como foi que a travessia 
tinha sido feita. 
O professor entrou em sala e anunciou: 
equação do segundo grau. Aí, ele se pôs a falar 
e a escrever símbolos no quadro negro. 
Aprendi automaticamente, sem entender, 
porque tinha memória boa: "x = -b + ou - raiz 
quadrada de b2 - 4ac sobre 2a". Lembro-me de 
um colega que não havia entendido a coisa, 
estava perturbado com o símbolo "x" e veio 
me perguntar: "Afinal, qual é mesmo o valor 
de "x"? 
Eu sabia que a fórmula para se 
determinar o valor de "x" não havia caído dos 
céus. Ela aparecera na cabeça de algum 
matemático que a deduzira séculos atrás depois 
de uma longa travessia numa jangada feita de 
pensamentos. O dito matemático a descobriu 
porque seus pensamentos estavam infelizes. 
"Ostra feliz não faz pérola". O que é dor para a 
ostra é uma interrogação para a cabeça. 
Mas por onde o pensamento 
matemático navegou para fazer a travessia, isso 
o professor não ensinou. É possível que ele não 
soubesse, ou que achasse que isso não 
importava. Para que entender a gravidez se o 
nenê já nasceu? O que importa é comer o bolo 
e não saber a receita... 
 13 
Me ensinaram também as três leis dos 
movimentos dos planetas que Kepler 
descobriu, curtinhas, fáceis de guardar na 
memória. Mas essas três leis na minha memória 
em nada contribuíram para dar poder à minha 
inteligência. Enquanto a memória trabalhava 
para decorar a "chegada", minha inteligência 
dormia. Nada me contaram sobre os caminhos 
fascinantes por onde errou o pensamento do 
astrônomo por dezoito anos. Uma hipótese 
errada atrás da outra, um caminho que não 
levava a lugar algum depois do outro. Por que 
gastar tempo com os erros da "travessia", se se 
pode ir diretamente à "chegada", conclusão? 
Não se percebe que, ao assim proceder, o 
aluno ganha uma memória musculosa e uma 
inteligência flácida... 
Pensar é como escalar montanhas. Um 
alpinista recusaria o caminho rápido e seguro 
de chegar ao topo da montanhavia helicóptero, 
sem sofrer e sem suar. Onde está a graça? O 
que ele deseja são os medos, os calafrios, os 
desafios da montanha, o que ele vê enquanto 
sobe... A arte de pensar se ensina fazendo a 
inteligência seguir o caminho da travessia, com 
todos os seus erros e enganos. 
 
(ALVES, Rubens. Onde mora a inteligência. Folha de S. Paulo, 
28 junho 2011, p. A2. Caderno Cotidiano) 
 
1) O que o autor discute no texto? Você concorda com o ponto de vista dele? Por quê? 
2) Qual a importância da citação no primeiro parágrafo para a montagem do esquema argumentativo 
do texto? 
3) Traduza a seguinte passagem: “Não se percebe que, ao assim proceder, o aluno ganha uma 
memória musculosa e uma inteligência flácida...” 
4) Para você, em relação ao conhecimento, a tecnologia é uma ferramenta para a “travessia” ou para a 
“chegada”? 
5) Como você pretende percorrer o caminho da leitura e da produção de textos neste momento 
acadêmico e na vida profissional futura? 
 
1.2 Linguagem, indivíduo e profissão 
 
 Conforme, Nicola, Cavallete Terra 
(2002), todo falante tem um certo conceito 
sobre que linguagem usar, dependendo da 
situação em que se encontra. Por isso, utiliza 
um registro formal em situação formal e um 
registro mais livre em situação menos formal. 
Por isso, também, notamos que a linguagem é 
desenvolta quando o sujeito tem o domínio da 
situação e, ao contrário, ele se cala ou se inibe 
se esse domínio não existe. Nas relações 
profissionais, o uso da linguagem, sobretudo a 
técnica, é primordial para que o falante se 
sobressaia bem. 
 
1.2.1 Língua e poder 
 
“A terapia teve um efeito idiossincrático 
com prognóstico favorável em caso de pronta 
supressão”. Essa frase, enigmática para os não-
iniciados nas sendas médicas, não significa 
muito mais do que “o remédio teve efeito 
contrário, mas não causará problemas se for 
suspenso logo”. 
Esse é um dos exemplos de jargão que 
consta da reportagem sobre linguagens técnicas 
publicada na semana passada no caderno 
Sinapse. O jargão é de fato inevitável, mas isso 
não significa que ele deva ser empregado em 
todas as ocasiões. Com efeito, toda profissão, 
do telemarketing à física de partículas, acaba 
por desenvolver um vocabulário específico, 
muitas vezes impenetrável para o leigo. Não 
apenas neologismos são criados como palavras 
comuns podem ter sua significação alterada. 
 14 
Em alguns casos, trata-se de uma 
necessidade. O jargão, no mínimo, economiza 
palavras, concentrando carga informativa em 
termos específicos. Quando um médico fala em 
“miocardiopatia idiopática”, ele está na verdade 
dizendo um pouco mais do que apenas 
“problemas cardíacos de causa ignorada”. No 
subtexto, um outro médico compreenderá que 
o paciente sofre de moléstia cardíaca de origem 
desconhecida e para a qual já foram descartadas 
as causas que mais comumente provocam 
doenças do coração. 
Em determinadas áreas científicas, os 
próprios objetos de estudo não passam de 
jargão. É o caso, por exemplo, da lingüística, 
com seus morfemas, sintagmas e lexemas, e da 
física de partículas, com seus quarks, glúons e 
léptons. No limite, sem o jargão, os fenômenos 
estudados não podem nem ser enunciados. 
Reconhecer a importância e a 
necessidade do jargão em certas situações não 
significa chancelar seu uso indiscriminado. Um 
médico ou um advogado que se dirijam a seus 
clientes em linguagem técnica incompreensível 
estão, na verdade, atendendo muito mal ao 
consumidor, que deve ter, em todas as 
ocasiões, acesso a uma explicação completa de 
sua situação em linguagem acessível. 
Infelizmente, as coisas nem sempre se 
passam assim. Desde que o mundo é mundo, 
profissionais de uma determinada área tendem 
a unir-se para manter sua arte impenetrável 
para o público em geral e, assim, aumentar seu 
poder. Não foi por outra razão que os escribas 
do antigo Egito complicaram 
desnecessariamente a escrita hieroglífica: era 
uma forma de conservarem e até de ampliarem 
sua posição hierárquica. Os tempos e as 
ciências mudaram, mas o princípio de 
complicar para valorizar-se permanece em 
vigor. 
Não devemos, é claro, ser ingênuos e 
acreditar que poderemos promover a plena 
igualdade através da língua. Democracia é, 
antes de mais nada, a arte de negociar, de 
aplicar o bom senso na solução de problemas. 
Nesse sentido, o bom profissional é aquele 
capaz de comunicar-se no melhor jargão com 
seus colegas, mas que consegue, sem grandes 
perdas, fazer-se entender pelo leigo. Os que 
ostensivamente abusam da linguagem técnica 
tendem a ser os menos capazes, os que mais 
precisam afirmar-se para não perder poder. 
 
(Folha de S. Paulo, 20 junho 2003) 
 
 
1) Qual a relação entre domínio da língua e poder? Dê exemplos. 
2) Qual a sua opinião sobre o uso exagerado do jargão na profissão que você escolheu. Qual a 
linguagem ideal para o profissional? 
3) Você percebeu que esse texto faz referência a um anterior. De modo geral, como você vê a relação 
entre os textos? 
4) O jargão, nas mais diversas profissões, pode ser considerado fator de exclusão? Comente. 
5) Você acredita que o sucesso profissional esteja ligado ao domínio da linguagem técnica da área de 
conhecimento que você escolheu? Por quê? 
 
 
1.3 Texto e sua circulação 
 
 Alguns teóricos da linguagem 
consideram que, na era da informação, tudo é 
texto. Um slogan de uma campanha política, 
uma música, um gráfico, um discurso oral, 
uma placa de trânsito, enfim, os mais variados 
arranjos organizados com o propósito de 
informar, comunicar, veicular sentidos são 
textos. Assim, um texto é não exclusividade da 
palavra. O texto é determinado pela finalidade 
comunicativa. E não faltam meios e recursos, 
nesta época em que vivemos, para a produção e 
circulação de textos dos mais diversos e 
diferentes possíveis. 
 15 
1.3.1 Intenções do produtor 
 
Conforme, Nicola, Florina e Ernani 
20002), o falante, ao realizar um ato de 
comunicação verbal, escolhe, seleciona palavras 
para depois organiza-las, combina-las, 
conforme a sua vontade. Esse trabalho de 
seleção e combinação não é aleatório, não é 
realizado por acaso (afinal, seleção significa 
“escolha fundamentada”), mas está diretamente 
ligado à intenção do produtor do texto. Desse 
modo, a linguagem passa a ter funções, como 
as de informar, seduzir, emocionar, convencer, 
entre outras. 
 
1.3.2 Textos e atividades 
 
1) Leia, com atenção, os dois textos a seguir para responder ao que se pede. 
 
Governo emite nota oficial sobre caso Grafite 
 
O Governo Federal emitiu nota à 
imprensa dando seu parecer sobre o caso 
Grafite. A nota foi assinada pelo Ministro dos 
Esportes, Agnelo Queiroz, e pela secretária 
especial de Políticas de Promoção da Igualdade 
Racial, Matilde Ribeiro. 
Na nota, o ministro repudia qualquer 
tipo de preconceito e de discriminação. Para 
Agnelo Queiroz, o caso entre Grafite e 
Desábato representa “mais um caso na escalada 
do preconceito que vem se tornando rotineiro 
no futebol feito por torcedor e jogadores 
contra os atletas afro-descendentes”. 
O ministro afirma na nota que “A 
atitude racista do jogador argentino vai contra 
todos os valores de igualdade, respeito e união 
que o esporte promove”. 
Ainda segundo a nota, “O Governo 
Federal acionará as esferas da administração 
esportiva nacional e internacional para que 
adotem medidas concretas para banir 
definitivamente do espetáculo esportivo a 
discriminação racial, o preconceito e a 
xenofobia, que, se não eliminados, 
representam ameaça à democracia”. 
O ministro e a secretária informaram 
que em 2005, Ano Nacional de Promoção da 
Igualdade Racial, o tema é de relevante 
importância nos trabalhos da Comissão “Paz no 
Esporte”, lançada em março para acabar com 
qualquer tipo de violência nessa área.(Disponível em : <tv.terra.com.br/esportes/esportestv>. 
Acesso em: 20 abril 2007)
 
[Fragmento do Código Penal] 
 
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a 
dignidade ou o decoro: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou 
multa. 
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: 
I - quando o ofendido, de forma reprovável, 
provocou diretamente a injúria; 
II - no caso de retorsão imediata, que consista 
em outra injúria. 
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias 
de fato, que, por sua natureza ou pelo meio 
empregado, se considerem aviltantes: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) 
ano, e multa, além da pena correspondente à 
violência. 
§ 3º - Se a injúria consiste na utilização de 
elementos referentes a raça, cor, etnia, religião 
ou origem: 
Pena - reclusão de um a três anos e multa. 
* § 3º acrescentado pela Lei nº 9.459, de 13 de 
maio de 1997. 
Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo 
aumentam-se de um terço, se qualquer dos 
crimes é cometido: 
 16 
I - contra o Presidente da República, ou contra 
chefe de governo estrangeiro; 
II - contra funcionário público, em razão de 
suas funções; 
III - na presença de várias pessoas, ou por meio 
que facilite a divulgação da calúnia, da 
difamação ou da injúria. 
Parágrafo único - Se o crime é cometido 
mediante paga ou promessa de recompensa, 
aplica-se a pena em dobro. 
 
(Disponível em : <tv.terra.com.br/esportes/esportestv>. 
Acesso em: 20 abril 2007) 
 
 
1) Com que intenções os textos foram escritos? 
2) No Texto 1, percebe-se o uso do discurso direto. Que efeito esse uso confere à notícia lida? Já no 
Texto 2, não se percebe de quem é a voz que fala. Por quê? De quem seria essa voz? 
 
 
2) Leia, com atenção, o texto a seguir para responder ao que se pede. 
 
Isabella mora ao lado 
 
A violência doméstica é pior do que se 
imagina – aliás, muito pior. É o que se conclui 
de uma investigação em andamento feita pela 
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) 
com 800 famílias na periferia da cidade de São 
Paulo. É a primeira pesquisa de que se tem 
notícia feita de casa em casa, e não apenas com 
bases nos falhos registros oficiais. 
Os pesquisadores estão constatando 
uma incidência de 20% de agressões graves 
contra as crianças, o que significa queimaduras, 
asfixia ou espancamento, resultando em 
fraturas e lesões que, muitas vezes, acabam no 
hospital, mas não punem o agressor, protegido 
por um manto de silencio familiar. Mas deixam 
seqüelas psicológicas profundas. 
Essa pesquisa, que detalhei em meu site 
(www.dimenstein.com.br), mostra que o 
drama da menina Isabella, que parece tão 
distante, mora, na verdade, ao lado. A criança 
vira a depositária do estresse da pobreza 
combinada com o desequilíbrio emocional de 
adultos – e, claro, é vítima da ignorância. Os 
pesquisadores da Unifesp ouvem a desculpa das 
mães e pais de que estão apenas educando seus 
filhos. 
Esse é mais um aspecto de uma mais das 
maiores fragilidades sociais brasileiras: a pouca 
atenção à primeira infância, especialmente nas 
camadas mais pobres. 
 
(Gilberto Dimenstein, 48, é membro do Conselho Editorial 
da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. 
Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve 
para a Folha Online às segundas-feiras. Texto disponível em: 
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/gilbertodi
menstein>. Acesso: 23 abril 2008) 
 
 
1) Com que intenções o texto foi escrito? 
2) Procure identificar o que é informação da pesquisa e o que é informação do autor do texto. 
3) Simbolicamente, quem é a Isabella de Dimenstein? Argumente. 
 
 
3) Leia, com atenção, as informações a seguir para responder ao que se pede. 
 
No ano de 2010 principalmente, as diversas 
mídias divulgaram notícias e juízos de valor 
acerca do julgamento do casal Nardoni, 
suspeito da morte da menina Isabella Nardoni. 
A mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira, após 
a sentença, “abatida e com olheiras profundas”, 
segundo a Folha de S. Paulo (28 março 2010), 
falou à imprensa. 
 
 17 
 
Com base nessas informações e em seu conhecimento sobre o caso, qual das frases abaixo NÃO 
poderia ter sido dita por Ana Carolina Oliveira numa de suas entrevistas à imprensa? Justifique sua 
resposta. 
 
I – A justiça foi feita, mas minha filha não vai voltar. 
II – Minha filha não vai voltar, mas a justiça foi feita. 
 
 
 
1.3.2 Diversidade textual 
 
A seguir, você terá acesso a vários 
textos sobre a temática guerra e paz. Após ler 
esses textos e discuti-los com os colegas e com 
o professor, complete o quadro ao final da 
coletânea, cujo objetivo é compreender e fixar 
o conceito de gênero textual, identificando as 
principais características dos vinte gêneros 
selecionados. Espera-se que, por meio dessa 
atividade, você desenvolva sua leitura crítica e 
sua produção textual. 
 
1.3.2.1 Textos e atividades 
 
1 Artigo de opinião 
 
Sobre a tolice de erguer estátuas 
 
Virar estátua pode ter forte apelo. Seja 
de bronze, de pedra ou de madeira, ela é feita 
de material muito mais durável do que carne e 
osso. Sobrevivem até hoje estátuas de muitos 
milhares de anos. Graças a elas conhecemos os 
nomes dos faraós do Egito e as feições dos 
imperadores romanos. A estátua também 
permite ao ser humano projetar-se muito acima 
das reais dimensões. Nelas, o corpo pode alçar-
se a 10 ou 20 metros de altura e escorar-se 
numa massa de 1 tonelada ou mais. Ainda 
assim, erguer estátuas à própria glória, como 
ficou provado na semana passada, é a mais 
estúpida das políticas. Pois, ainda que a estátua 
ofereça uma carona para a magnificência e um 
atalho para a eternidade, e ainda que semeie 
temor e reverência, bem ao gosto de certos 
regimes, algo que não oferece é a segurança de 
que um dia não será derrubada. E, quando isso 
acontece, pobre do infeliz ali representado. 
Nada mais gráfico, nada mais eloqüente de sua 
desgraça. Saddam Hussein caiu não em carne e 
osso, mas em pedra. No plano simbólico, pior 
para ele. Foi assim arrastado pelas ruas, 
golpeado e insultado como de outra forma não 
seria. 
A derrubada da estátua de Saddam, de 6 
metros de altura, mais 6 de pedestal, numa 
praça central de Bagdá, foi como a encenação 
de um auto didático. Primeiro os próprios 
iraquianos tentaram derrubá-la, com 
picaretadas no pedestal ou com uma corda a 
puxá-la pelo pescoço. Não conseguiram. Seus 
métodos eram muito primitivos, os materiais, 
insuficientes para o tamanho da empreitada. 
Precisaram dos americanos, que vieram com 
tecnologia várias vezes superior à necessária: 
um tanque. Um marine subiu ao topo para 
amarrar um cabo de aço ao pescoço da estátua. 
Aproveitou para enrolar-lhe ao rosto uma 
bandeira americana. Foi vaiado, tirou-a e 
substituiu-a por uma bandeira do Iraque. O 
tanque então puxou o cabo de aço e a estátua, 
por puro efeito da força e da tecnologia 
americanas, veio abaixo. Não seria melhor caso 
a ação tivesse obedecido a um roteiro. Não 
daria tão certo se tivesse sido ensaiada. Até o 
marine que enrolou a bandeira americana no 
rosto do ditador representava um papel. Ele 
tinha traços orientais. Com isso lembrava que, 
 18 
assim como o grosso das legiões romanas era 
formado pelos povos conquistados, assim 
também o Exército americano vai se 
transformando num mosaico onde as minorias 
são cada vez mais representadas. 
O fato de a derrubada do regime se ter 
dado por obra dos americanos, como bem 
expôs o auto da praça, tirou-lhe um pedaço da 
legitimidade. Claro, é sempre bom ver desabar 
um regime sanguinário. Mas nos regimes que 
desabaram na Europa do Leste, às vezes 
também na forma de assalto a um símbolo de 
pedra, como no caso clássico do Muro de 
Berlim, o feito foi dos próprios povos. Assim 
nãohumilha. No Iraque o invasor, agora feito 
tropa de ocupação, é não só o autor da 
derrubada como o sucessor do regime deposto. 
É também o autor de uma investida que deixou 
mortos e feridos no caminho. A libertação que 
proporcionou manchou-se do sangue dos 
libertados. Uma grande interrogação se abre 
diante da reinauguração do sistema colonial a 
que se propõem os americanos, no coração da 
região mais conturbada do mundo. 
Erguer estátuas a si mesmo, para voltar 
ao tema de três parágrafos atrás, tem, na outra 
face da moeda, o inconveniente de oferecer ao 
inimigo um símbolo grandioso a pôr abaixo. 
Acresce, no caso presente, que esta guerra 
estava sem uma imagem disponível para ser 
apresentada como fecho de ouro na televisão. 
A rendição do inimigo, na forma de um 
cavalheiro que se apresenta para assinar 
solenemente um armistício, como nas guerras 
do passado, parecia fora de cogitação. O 
paradeiro ignorado de Saddam Hussein, desde 
o início do conflito, também fazia prever que o 
ditador não se apresentaria de corpo presente 
para ser preso ou morto. A estátua veio a 
calhar. Ainda mais que se situava de cara para o 
hotel onde se concentravam os jornalistas. 
Todos os caderninhos, os notebooks, os 
telefones por satélite, os videofones, as 
máquinas fotográficas e as câmeras de TV já 
estavam naturalmente apontados para ela. Não 
precisaram nem ser convocados. 
O espetáculo da praça deu aos 
americanos uma das duas coisas de que mais 
necessitavam: uma multidão amiga (a outra são 
estoques de armas químicas). Mas é bom não 
esquecer: a multidão não era tão multidão 
assim. Não dá para, com base nela, extrair o 
sentimento dominante entre os iraquianos. A 
multidão da praça certamente é menor do que 
a que lotou os hospitais e cemitérios iraquianos 
nas últimas três semanas. O que conduz à 
conclusão de que, crime por crime, os de 
Saddam têm um contrapeso nos dos invasores. 
Nos Estados Unidos os governantes não 
costumam erigir estátuas a si mesmos. George 
W. Bush não poderá ser derrubado dessa 
forma. Mas, para honra dos Estados Unidos, há 
o voto. Resta esperar que, numa apoteótica 
volta à lucidez, o eleitorado americano faça a 
justiça que ficou faltando para um dos lados, 
numa guerra em que os dois mereciam perder. 
 
(TOLEDO, Roberto Pompeu de. Sobre a tolice de erguer 
estátuas. Veja, São Paulo,16 abril 2003, p. 122) 
 
2 Resenha 
A revolução dos bichos 
Verdadeiro clássico moderno, 
concebido por um dos mais influentes 
escritores do século 20, “A revolução dos 
bichos” é uma fábula sobre o poder. Narra a 
insurreição dos animais de uma granja contra 
seus donos. Progressivamente, porém, a 
revolução degenera numa tirania ainda mais 
opressiva que a dos humanos. Escrita em plena 
Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945 
depois de ter sido rejeitada por várias editoras, 
essa pequena narrativa causou desconforto ao 
satirizar ferozmente a ditadura stalinista numa 
época em que os soviéticos ainda eram aliados 
do Ocidente na luta contra o eixo nazifascista. 
Com o acirramento da Guerra Fria, as mesmas 
razões que causaram constrangimento na época 
de sua publicação levaram “A revolução dos 
bichos” a ser amplamente usada pelo Ocidente 
nas décadas seguintes como arma ideológica 
contra o comunismo. O próprio Orwell, 
 19 
adepto do socialismo e inimigo de qualquer 
forma de manipulação política, sentiu-se 
incomodado com a utilização de sua fábula 
como panfleto. Depois das profundas 
transformações políticas que mudaram a 
fisionomia do planeta nas últimas décadas, a 
pequena obra-prima de Orwell pode ser vista 
sem o viés ideológico reducionista. Mais de 
sessenta anos depois de escrita, ela mantém o 
viço e o brilho de uma alegoria perene sobre as 
fraquezas humanas que levam à corrosão dos 
grandes projetos de revolução política. Escrito 
com perfeito domínio da narrativa, atenção às 
minúcias e extraordinária capacidade de criação 
de personagens e situações, “A revolução dos 
bichos” combina de maneira feliz duas ricas 
tradições literárias - a das fábulas morais, que 
remontam a Esopo, e a da sátira política, que 
teve talvez em Jonathan Swift seu 
representante máximo. 
 
(Disponível em: <http://br.gojaba.com>. Acesso em: 8 jan. 
2011) 
 
3 Entrevista 
A guerra irracional 
Fascinado por guerras e pela vida 
militar desde que viu as tropas aliadas se 
preparando para o Dia D, no interior da 
Inglaterra, sir John Keegan não conseguiu 
realizar o sonho juvenil de se tornar soldado. 
Uma doença de infância o deixou manco e o 
impediu de ingressar na academia militar. Os 
ingleses perderam um general, mas o mundo 
ganhou seu mais celebrado historiador militar. 
Quando entrou na Universidade de Oxford, 
em 1953, dedicou-se à história das atividades 
militares. Em 1960, aos 25 anos, foi aceito 
como professor na Real Academia Militar de 
Sandhurst, a escola de cadetes ingleses, onde 
ficou até 1986. Casado há quarenta anos com 
Susanne e pai de quatro filhos, é editor de 
defesa do jornal inglês Daily Telegraph, mas 
passa a maior parte de seu tempo fazendo 
pesquisas e escrevendo livros. Ao todo, já 
publicou vinte obras, entre elas o clássico Uma 
História da Guerra (lançado no Brasil pela 
Companhia das Letras). Atualmente, prepara 
um livro sobre as operações de inteligência nos 
últimos 200 anos. De sua casa, no interior da 
Inglaterra, Keegan concedeu a seguinte 
entrevista a Veja. 
 
Veja – O que será necessário fazer para que os 
terroristas sejam punidos pelos atentados em 
Nova York e Washington? 
Keegan – A prisão, o julgamento e a execução 
de Osama bin Laden. Mas isso não seria o fim 
dos problemas. Os objetivos dos terroristas não 
deixam o menor espaço para negociações e 
concessões. Estamos vivendo uma situação 
muito incômoda. Não consigo ver um fim para 
isso. Para cidadãos comuns, é muito 
deprimente. Para os governantes, é 
preocupante. A única saída é eliminar os 
terroristas. Ou os prendemos pelo resto de 
suas vidas ou os matamos. Não tem outro jeito. 
Não temos como convencê-los de que estão 
errados com conversa, usando a razão. 
 
Veja – Será difícil para os americanos derrotar 
o Talibã, a milícia que controla o Afeganistão? 
Keegan – O Talibã não é tão forte quanto 
alguns falam. Não é numeroso nem tem um 
exército bem organizado e equipado. Muitos 
componentes nem são afegãos. Vêm do 
Paquistão e não conhecem tão bem o terreno. 
O Talibã é impopular devido à forma radical 
com que impôs o islamismo fundamentalista. 
Historicamente, os afegãos não são 
particularmente fervorosos em termos 
religiosos. Uma intervenção no Afeganistão não 
deve encontrar forte resistência. Pelo menos, 
não em grandes proporções. Já encontrar 
Osama bin Laden será difícil. O país é grande e 
selvagem, com um terreno dificílimo. 
Operações pequenas e rápidas para capturar 
Laden são a melhor opção. [...] 
 
 
Veja – Estamos vendo a primeira guerra 
verdadeiramente mundial? 
 20 
Keegan – Não. Muitos países não são 
suscetíveis ao terrorismo. As nações 
escadinavas têm população homogênea e 
urbana. Não correm perigo. O terrorismo 
precisa de um certo grau de sofisticação e de 
financiamento. A maior parte do mundo é 
muito primitiva para dar apoio a grupos 
terroristas. É importante lembrar que os 
fundamentalistas são apenas uma minoria. Na 
Inglaterra, temos uma comunidade muçulmana 
e a maior parte de seus membros está 
preocupada em educar os filhos e prosperar. É 
claro que muitos nutrem certa simpatia por 
seus companheiros de crença. Mas são pessoas 
sofisticadas e sabem que é melhor não se 
misturar com os fundamentalistas. É possível 
que os radicais organizem algum ataque na 
Inglaterra, contudo não acredito em algo 
continuado. Já a França deve estar atenta. Tem 
uma grande população islâmica e a maior partedela vive na pobreza e está descontente. [...] 
 
Veja – Por que existe a guerra? 
Keegan – Os homens lutam por questões 
racionais. Acham que os custos de ir à guerra 
valem a pena em vista de vantagens em caso de 
vitória. Desta vez, temos uma guerra 
irracional. 
 
Veja – O significado da guerra varia de acordo 
com a cultura? 
Keegan – Sim. No mundo acadêmico, há dois 
grupos. Um acha que a guerra tem 
características imutáveis e outro diz que os 
conflitos mudam conforme a cultura. Sou do 
segundo grupo. A mais recente evidência de 
que a guerra é cultural são os guerreiros 
suicidas islâmicos, que não existem na tradição 
judaico-cristã. 
 
Veja – Em que circunstância uma guerra é 
considerada justa? 
Keegan – Antes de Hugo Grotius, escritor 
holandês do século XVII, a idéia de justiça na 
guerra era relacionada à moralidade cristã. 
Quando Estados protestantes começaram a 
lutar contra Estados católicos e vice-versa, foi 
um choque para todos, e a idéia de justiça 
relacionada à moral cristã caiu em desgraça. 
Grotius procurou nova base para estabelecer o 
que é uma guerra justa. No fim das contas, 
resumiu seu pensamento da seguinte forma: o 
Estado deve ser o juiz de seus atos. Se o Estado 
acredita que uma guerra é justa, então a guerra 
é justa. Isso valeu até a criação das Nações 
Unidas. A partir da década de 40, guerras justas 
são as que recebem a aprovação das Nações 
Unidas e aquelas levadas a cabo em autodefesa. 
[...] 
 
(KEEGAN, John. A guerra irracional. Veja, São Paulo, Ed. 
1720, 3 out. 2001. p. 9, 12-13. Entrevista concedida a 
Eduardo Salgado) 
 
 
4 Poema 
Manhã dos mortos 
 
Todos os dias, bem cedo, 
enquanto contemplais a manhã: 
de fome 
de dor 
de medo 
e de sede 
morrem milhares no Vietnam. 
 
Todos os dias, bem cedo, 
enquanto contemplais a manhã. 
 
(CASTRO, Altino Caixeta de. Cidadela da rosa: com fissão da flor. Brasília: Horizonte Editora Limitada, 1980. p. 281) 
 
 21 
5 Carta pessoal 
“Amados pais. Se estão lendo esta carta, 
é porque ainda temos o aeroporto. Tenho 
certeza que esta será a última que seu amado 
filho lhes escreverá. Temos russos por todos os 
lados e não nos mandam ajuda de Berlim. Lhes 
tenho uma triste notícia, Granstsau morreu 
semana passada. Estava ele, eu e mais três 
andando quando simplesmente caiu no chão 
com a cabeça aberta. Amados pais, chorei 
muito ao vê-lo, porque crescemos juntos, 
lembram-se? Quando éramos crianças, quebrei 
a perna, ele me levou a casa nas suas costas com 
a minha perna quebrada. Sinto muito pelos pais 
dele. Perdi meu único amigo. E aqui haverá o 
fim. Nosso comandante se matou com um tiro 
na boca ontem de noite. Nossa moral não 
existe mais. Mas espero que essa maldita guerra 
acabe, pouco me importa o que aconteça. Se 
não receberem mais cartas minhas, vão para 
Espanha o quanto antes, sabemos que é uma 
questão de tempo dos russos chegarem em 
Berlim. Amados pais, após essa guerra, a 
Alemanha ficará atônita ao saber que o soldado 
que lhes escreve teve a vida salva por um 
médico judeu. Estou bem dos ferimentos, mas 
a cicatriz é enorme e horrível. Amados pais, se 
cuidem. Se não receberem mais cartas minhas, 
vão para Espanha, o dinheiro vocês já tem. 
Logo estaremos de novo conversando com 
Hilse, nos bom tempos dos dias de sol. Com 
muita devoção, seu filho querido.” 
 
(Fonte: Cartas de Stalingrado, Coleção Einaudi, 1958. 
Disponível em: 
<http://avidanofront.blogspot.com/2010/07/cartas-de-
soldados-alemaes-escritas.html>. Acesso em: 06 jan. 2010) 
 
6 Notícia 
Zelador afirma ter assassinado ex-ministro do TSE por “medo” 
 
O ex-zelador Leonardo Campos Alves, 
44, disse ter matado o ex-ministro do TSE 
(Tribunal Superior Eleitoral) José Guilherme 
Villela, 73, a mulher dele Maria Carvalho, 69, 
e a empregada Francisca da Silva, 58, por 
“medo de ser reconhecido”. Alves, que 
trabalhou 15 anos no prédio onde morava a 
família, foi apresentado pela Polícia Civil do 
Distrito Federal, que o prendeu em Minas 
Gerais na segunda. Ele contou que entrou no 
apartamento do casal com um comparsa, Paulo 
Cardoso, “somente para roubar”. Essa é a 
terceira versão apresentada pela polícia desde o 
assassinato. Apesar de classificar com “versão 
harmônica”, a polícia diz que há lacunas no 
relato de Alves. Ele afirma que deixou a porta 
aberta após o crime, mas a perícia diz que 
estava trancada. Além disso, Alves nega que ele 
e o amigo tenham dado as 73 facadas que a 
perícia identificou nos corpos. Ele disse que 
Adriana Villela, até então a principal suspeita 
do crime, não tinha boa relação com os pais. 
Afirmou ainda que já viu a neta Carolina Villela 
– que encontrou os corpos – bater na avó. 
“Não tem fundamento. Carolina era o xodó dos 
avós”, afirma o advogado de Adriana e 
Carolina, Rodrigo Alencastro. 
 
(Folha de S. P aulo, 18 nov. 2010 – adaptado) 
 
 
 
 
 
 22 
7 Letra de música 
Canção do senhor da guerra 
Existe alguém esperando por você 
Que vai comprar a sua juventude 
E convencê-lo a vencer 
 
Mais uma guerra sem razão 
Já são tantas as crianças com armas na mão 
Mas explicam novamente que a guerra gera 
empregos 
Aumenta a produção 
 
Uma guerra sempre avança a tecnologia 
Mesmo sendo guerra santa 
Quente, morna ou fria 
Pra que exportar comida? 
Se as armas dão mais lucros na exportação 
 
Existe alguém que está contando com você 
Pra lutar em seu lugar já que nessa guerra 
Não é ele quem vai morrer 
 
E quando longe de casa 
Ferido e com frio o inimigo você espera 
Ele estará com outros velhos 
Inventando novos jogos de guerra 
Que belíssimas cenas de destruição 
Não teremos mais problemas 
Com a superpopulação 
Veja que uniforme lindo fizemos pra você 
E lembre-se sempre que Deus está 
Do lado de quem vai vencer 
 
O senhor da guerra 
Não gosta de crianças 
O senhor da guerra 
Não gosta de crianças 
O senhor da guerra 
Não gosta de crianças 
O senhor da guerra 
Não gosta de crianças 
O senhor da guerra 
Não gosta de crianças 
O senhor da guerra 
Não gosta de crianças" 
 
 
(Letra e Música: Renato Russo.Disponível em 
<http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2003/03/2
49790.shtml>. Acesso em: 10 jan. 2011) 
 
8 Editorial 
O que incomoda o terror 
 
O verdadeiro alvo visado pelos 
terroristas que atacaram Nova York e 
Washington na semana passada não foram as 
torres gêmeas do sul de Manhattan nem o 
edifício do Pentágono. O atentado foi 
cometido contra um sistema social e 
econômico que, mesmo longe da perfeição, é o 
mais justo e livre que a humanidade conseguiu 
fazer funcionar ininterruptamente até hoje. 
Não foi um ataque de Davi contra Golias. Nem 
um grito dos excluídos do Terceiro Mundo 
que, de modo trágico mas efetivo, se fez ouvir 
no império. Foi uma agressão perpetrada 
contra os mais caros e mais frágeis valores 
ocidentais: a democracia e a economia de 
mercado. 
O que realmente incomoda a ponto da 
exasperação os fundamentalistas, apontados 
como os principais suspeitos de autoria dos 
atentados, não é só a arrogância americana ou 
seu apoio ao Estado de Israel. O que os radicais 
não toleram, mais que tudo, é a modernidade. 
É a existência de uma sociedade em que os 
justos podem viver sem ser incomodados e os 
pobres têm possibilidades reais de atingir a 
prosperidade com o fruto de seu trabalho. Esse 
é o verdadeiro anátema dos terroristas que 
atacaram os Estados Unidos. Eles são enviados 
da morte, da elite teocrática, medieval, tirânica 
que exerce o poder absoluto em seus feudos. 
Para eles, a democracia é satânica. Por isso tem 
de ser combatida e destruída. 
(Veja, Ed. 1718, 19 set. 2001, p. 9, Carta ao leitor) 
 23 
9 Conto 
 
Passeio noturno 
Cheguei em casa carregando a pasta 
cheia de papéis, relatórios, estudos, pesquisas,propostas, contratos. Minha mulher, jogando 
paciência na cama, um copo de uísque na mesa 
de cabeceira, disse, sem tirar os olhos das 
cartas, você está com um ar cansado. Os sons 
da casa: minha filha no quarto dela treinando 
impostação de voz, a música quadrifônica do 
quarto do meu filho. Você não vai largar essa 
mala?, perguntou minha mulher, tira essa 
roupa, bebe um uisquinho, você precisa 
aprender a relaxar. 
Fui para a biblioteca, o lugar da casa 
onde gostava de ficar isolado e como sempre 
não fiz nada. Abri o volume de pesquisas sobre 
a mesa, não via as letras e números, eu 
esperava apenas. Você não pára de trabalhar, 
aposto que os teus sócios não trabalham nem a 
metade e ganham a mesma coisa, entrou a 
minha mulher na sala com o copo na mão, já 
posso mandar servir o jantar? 
A copeira servia à francesa, meus filhos 
tinham crescido, eu e a minha mulher 
estávamos gordos. É aquele vinho que você 
gosta, ela estalou a língua com prazer. Meu 
filho me pediu dinheiro quando estávamos no 
cafezinho, minha filha me pediu dinheiro na 
hora do licor. Minha mulher nada pediu, nós 
tínhamos conta bancária conjunta. 
Vamos dar uma volta de carro?, 
convidei. Eu sabia que ela não ia, era hora da 
novela. Não sei que graça você acha em passear 
de carro todas as noites, também aquele carro 
custou uma fortuna, tem que ser usado, eu é 
que cada vez me apego menos aos bens 
materiais, minha mulher respondeu. 
Os carros dos meninos bloqueavam a 
porta da garagem, impedindo que eu tirasse o 
meu. Tirei os carros dos dois, botei na rua, 
tirei o meu, botei na rua, coloquei os dois 
carros novamente na garagem, fechei a porta, 
essas manobras todas me deixaram levemente 
irritado, mas ao ver os pára-choques salientes 
do meu carro, o reforço especial duplo de aço 
cromado, senti o coração bater apressado de 
euforia. Enfiei a chave na ignição, era um 
motor poderoso que gerava a sua força em 
silêncio, escondido no capô aerodinâmico. Saí, 
como sempre sem saber para onde ir, tinha que 
ser uma rua deserta, nesta cidade que tem mais 
gente do que moscas. Na avenida Brasil, ali não 
podia ser, muito movimento. Cheguei numa 
rua mal iluminada, cheia de árvores escuras, o 
lugar ideal. Homem ou mulher? Realmente não 
fazia grande diferença, mas não aparecia 
ninguém em condições, comecei a ficar tenso, 
isso sempre acontecia, eu até gostava, o alívio 
era maior. Então vi a mulher, podia ser ela, 
ainda que mulher fosse menos emocionante, 
por ser mais fácil. Ela caminhava 
apressadamente, carregando um embrulho de 
papel ordinário, coisas de padaria ou de 
quitanda, estava de saia e blusa, andava 
depressa, havia árvores na calçada, de vinte em 
vinte metros, um interessante problema a 
exigir uma grande dose de perícia. Apaguei as 
luzes do carro e acelerei. Ela só percebeu que 
eu ia para cima dela quando ouviu o som da 
borracha dos pneus batendo no meio-fio. 
Peguei a mulher acima dos joelhos, bem no 
meio das duas pernas, um pouco mais sobre a 
esquerda, um golpe perfeito, ouvi o barulho do 
impacto partindo os dois ossões, dei uma 
guinada rápida para a esquerda, passei como 
um foguete rente a uma das árvores e deslizei 
com os pneus cantando, de volta para o asfalto. 
Motor bom, o meu, ia de zero a cem 
quilômetros em nove segundos. Ainda deu para 
ver que o corpo todo desengonçado da mulher 
havia ido parar, colorido de sangue, em cima 
de um muro, desses baixinhos de casa de 
subúrbio. 
Examinei o carro na garagem. Corri 
orgulhosamente a mão de leve pelos pára-
lamas, os pára-choques sem marca. Poucas 
pessoas, no mundo inteiro, igualavam a minha 
habilidade no uso daquelas máquinas. 
A família estava vendo televisão. Deu a 
sua voltinha, agora está mais calmo?, perguntou 
minha mulher, deitada no sofá, olhando 
 24 
fixamente o vídeo. Vou dormir, boa noite para 
todos, respondi, amanhã vou ter um dia 
terrível na companhia. 
 
(FONSECA, Rubem. Passeio noturno. Disponível em 
<http://arquivopodoslivros.blogspot.com>.Acesso em: 10 
jan. 2011) 
 
10 Crônica 
A menina Silvana 
 
Um camponês velho deu as informações 
ao sargento: Silvana Martinelli, 10 anos de 
idade. 
A menina estava quase inteiramente 
nua, porque cinco ou seis estilhaços de uma 
granada alemã a haviam atingido em várias 
partes do corpo. Os médicos e os enfermeiros, 
acostumados a cuidar rudes corpos de homens, 
inclinavam-se sob a lâmpada para extrair os 
pedaços de aço que haviam dilacerado aquele 
corpo branco e delicado como um lírio - agora 
marcado de sangue. A cabeça de Silvana 
descansava de lado, entre cobertores. A 
explosão estúpida poupara aquela pequena 
cabeça castanha, aquele perfil suave e firme que 
Da Vinci amaria desenhar. Lábios cerrados, 
sem uma palavra ou um gemido, ela apenas 
tremia um pouco – quando lhe tocavam num 
ferimento contraía quase imperceptivelmente 
os músculos da face. Mas tinha os olhos abertos 
– e quando sentiu a minha sombra ergueu-os 
um pouco. Nos seus olhos eu não vi essa 
expressão de cachorro batido dos estropiados, 
nem essa luz de dor e raiva dos homens 
colhidos no calor do combate, nem essa 
impaciência dolorosa de tantos feridos, ou o 
desespero dos que acham que vão morrer. Ela 
me olhou quietamente. A dor contraía-lhe, 
num pequeno tremor, as pálpebras, como se a 
luz lhe ferisse um pouco os olhos. Ajeitei-lhe a 
manta sobre a cabeça, protegendo-a da luz, e 
ela voltou a me olhar daquele jeito quieto e 
firme de menina correta. 
Deus, que está no céu - se é que, depois 
de tantos desgovernos cruéis e tanta criminosa 
desídia, ninguém o pôs para fora de lá, ou Vós 
mesmo, Senhor, não vos pejais de estar aí 
quando Vossos filhos andam neste inferno! – 
Deus sabe que tenho visto alguns sofrimentos 
de crianças e mulheres. A fome dessas meninas 
da Itália que mendigam na entrada dos 
acampamentos, a humilhação dessas mulheres 
que diante dos soldados trocam qualquer 
dignidade por um naco de chocolate – nem 
isso, nem o servilismo triste mais que tudo, dos 
homens que precisam levar pão à sua gente – 
nada pode estragar a minha confortável posição 
de correspondente. Vai-se tocando, vai-se a 
gente acostumando no ramerrão da guerra; é 
um ramerrão como qualquer outro: e tudo 
entra nesse ramerrão – a dor, a morte, o 
medo, o disco de "Lili Marlene" junto de uma 
lareira que estala, a lama, o vinho, a cama-rolo, 
a brutalidade, a ajuda, a ganância dos 
aproveitadores, o heroísmo, as cansadas 
pilhérias – mil coisas no acampamento e na 
frente, em sucessão monótona. Esse corneteiro 
que o frio da madrugada desafina não me 
estraga a lembrança de antigos quartéis de 
ilusões, com alvoradas de violino – Senhor, eu 
juro, sou uma criatura rica de felicidades 
meigas, sou muito rico, muito rico, ninguém 
nunca me amargará demais. E às vezes um 
homem recusa comover-se: meninas da 
Toscana, eu vi vossas irmãzinhas do Ceará, 
barrigudinhas, de olhos febris, desidratadas, 
pequenos trapos de poeira humana que o vento 
da seca ia a tocar pelas estradas. Sim, tenho 
visto alguma coisa e também há coisas que 
homens que viram me contam: a ruindade fria 
dos que exploram e oprimem e proíbem 
pensar, e proíbem comer, e até o sentimento 
mais puro torcem e estragam, as vaidades 
monstruosas que são massacres lentos e frios de 
outros seres – sim, por mais distraído que seja 
um repórter, ele sempre, em alguma parte em 
que anda, vê alguma coisa. 
 25 
Muitas vezes não conta. Há 13 anos 
trabalho neste ramo – e muitas vezes não 
conto. Mas conto a história sem enredo dessa 
menina ferida. Não, sei que fim levou e se 
morreu ou está viva, mas vejo seu fino corpo 
branco e seus olhos esverdeados e quietos. Não 
me interessa que tenha sido inimigo o canhão 
que a feriu. Na guerra, de lado a lado, é 
impossível, até um certo ponto, evitar essas 
coisas. Maspenso nos homens que começaram 
esta guerra e nos que permitiram que eles 
começassem. Agora é tocar a guerra - e quem 
quer que possa fazer qualquer coisa para tocar a 
guerra mais depressa, para aumentar o número 
de bombas dos aviões e tiros das 
metralhadoras, para apressar a destruição, para 
aumentar aos montes a colheita de mortes – 
será um patife se não ajudar. É preciso acabar 
com isso, e isso só se acaba a ferro e fogo, com 
esforço e sacrifícios de todos, e quem pode 
mais deve fazer muito mais, e não cobrar o 
sacrifício do pobre e se enfeitar com as glórias 
fáceis. É preciso acabar com isso, e acabar com 
os homens que começaram isso e com tudo o 
que causa isso - o sistema idiota e bárbaro de 
vida social onde um grupo de privilegiados 
começa a matar quando não tem outro meio de 
roubar. 
Pelo corpo inocente, pelos olhos 
inocentes da menina Silvana (sem importância 
nenhuma no oceano de crueldades e injustiças), 
pelo corpo inocente, pelos olhos inocentes da 
menina Silvana (mas ó hienas, ó porcos, de 
voracidade monstruosa, e vós também, águias 
pançudas e urubus, ó altos poderosos de 
conversa fria ou voz frenética, que coisa mais 
sagrada sois ou conheceis que essa quieta 
menina camponesa?), pelo corpo inocente, 
pelos olhos inocentes da menina Silvana (ó 
negociantes que roubais na carne, quanto valem 
esses pedaços estraçalhados?) – por esse 
pequeno ser simples, essa pequena coisa 
chamada uma pessoa humana, é preciso acabar 
com isso, é preciso acabar para sempre, de uma 
vez por todas. 
Fevereiro, 1945 
 
(BRAGA, Rubem. A menina Silvana. Disponível em: 
<http://www.letraselivros.com.br>. Acesso em: 24 jan. 
2011) 
 
11 Artigo de lei 
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora 
cometidos no estrangeiro: 
I - os crimes: 
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da 
República; 
b) contra o patrimônio ou a fé pública da 
União, do Distrito Federal, de Estado, de 
Território, de Município, de empresa pública, 
sociedade de economia mista, autarquia ou 
fundação instituída pelo Poder Público; 
c) contra a administração pública, por quem 
está a seu serviço; 
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro 
ou domiciliado no Brasil; 
II - os crimes: 
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se 
obrigou a reprimir; 
b) praticados por brasileiro; 
c) praticados em aeronaves ou embarcações 
brasileiras, mercantes ou de propriedade 
privada, quando em território estrangeiro e aí 
não sejam julgados. 
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido 
segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou 
condenado no estrangeiro. 
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei 
brasileira depende do concurso das seguintes 
condições: 
a) entrar o agente no território nacional; 
b) ser o fato punível também no país em que 
foi praticado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos 
quais a lei brasileira autoriza a extradição; 
d) não ter sido o agente absolvido no 
estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; 
 26 
e) não ter sido o agente perdoado no 
estrangeiro ou, por outro motivo, não estar 
extinta a punibilidade, segundo a lei mais 
favorável. 
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao 
crime cometido por estrangeiro contra 
brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as 
condições previstas no parágrafo anterior: 
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; 
b) houve requisição do Ministro da Justiça. 
 
(Artigo 7º do Código Penal) 
 
12 Charge 
 
 
(Disponível em: <http://esmaelmorais.com.br>. Acesso em: 8 jan. 2011) 
 
13 Anúncio publicitário 
 
 
(Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/platb/christianmunaier/2009/02/>. Acesso em: 8 jan. 2011) 
 
 27 
14 Infográfico 
 
(Veja, 19 set. 2001, p. 64-65) 
 
 28 
15 Gráfico 
 
 
(Disponível em: <http://www.vermelho.org.br>. Acesso em: 24 jan. 2011) 
 
16 Cartaz de filme 
 
 
 
(Disponível em: <http://www.borbulhando.com.br/operacao-valquiria-trailer.html>. Acesso em: 15 jan. 2011) 
 29 
17 Capa de revista 
 
 
(Veja, 26 março 2003) 
18 Fotografia 
 
 
 
(Disponível em: <http://mnegocio.blog.uol.com.br/arch2008-09-28_2008-10-04.html>. Acesso em: 8 jan. 2011) 
 
 
 30 
19 Escultura 
 
Escultura Amor e da Angústia, de Kenneth Treister. 
Monumento dedicado às vítimas do Holocausto. 
 
Detalhe 
 
 
Pormenores 
 
 
 
 
 
 
(Disponível em: <http://histoblogsu.blogspot.com>. 
Acesso em: 10 jan. 2011 
 
 
 
 
 
 
 
 
 31 
20 Quadro de pintura 
 
 
(Goya, Os fuzilamentos de 3 de Maio de 1808. Disponível em: <http://annualia-verbo.blogs.sapo.pt/56515.html>. Acesso em: 19 jan. 2011) 
 
Preencha o quadro a seguir, destacando: a) as principais características dos gêneros 
selecionados quanto ao suporte, à estrutura e ao conteúdo; b) o conteúdo temático dos 
textos selecionados. 
 
 
Gêneros e 
textos 
 
Análises 
 a) dos gêneros b) dos textos 
 
 
1. Artigo de 
opinião 
 
 
 
 
 
2. Resenha 
 
 
 
 
 
3. Entrevista 
 
 
 
 
 
4. Poema 
 
 
 
 32 
 
 
5. Carta pessoal 
 
 
 
 
 
6. Notícia 
 
 
 
 
 
7. Letra de 
música 
 
 
 
 
 
8. Editorial 
 
 
 
 
 
9. Conto 
 
 
 
 
 
10. Crônica 
 
 
 
 
 
11. Artigo de lei 
 
 
 
 
 
12. Charge 
 
 
 
 33 
 
 
13. Anúncio 
publicitário 
 
 
 
 
 
14. Infográfico 
 
 
 
 
 
15. Gráfico 
 
 
 
 
 
16. Cartaz de 
filme 
 
 
 
 
 
17. Capa de 
revista 
 
 
 
 
 
18. Fotografia 
 
 
 
 
 
19. Escultura 
 
 
 
 
 
20. Quadro de 
pintura 
 
 
 
 
 34 
1.3.3 Polifonia e intertexto 
 
 Podemos dizer que textos são reuniões 
de várias vozes: polifonia. Isso significa dizer 
que os textos possuem uma multiplicidade de 
vozes que os atravessam por meio de uma voz 
privilegiada – a do locutor principal – que vai 
incorporando as outras. Essas vozes podem 
aparecer no texto de maneira explícita ou 
implícita. Um exemplo do primeiro caso é a 
citação no texto de ideias de outra pessoa. Um 
exemplo do segundo caso é a introdução no 
texto de ideias ou conceitos que fazem parte do 
senso comum, como afirmar que “televisão faz 
mal à saúde”. 
 Nenhum texto se produz no vazio ou se 
origina do nada. Todo texto se alimenta, de 
modo claro ou subentendido, de outros textos. 
Um, ao retomar outro, tanto pode reiterar ou 
subverter as ideias presentes no texto 
“original”. O autor utiliza-o com o objetivo de 
apoiar ou de dizer algo totalmente diferente do 
que foi dito em outro texto, de criticar um 
ponto de vista, uma visão de mundo. 
 Para Nicola, Florina e Ernani (2002), o 
conhecimento das relações entre os textos – e 
os textos utilizados como intertexto – é um 
poderoso recurso de produção e apreensão de 
significados. Quando um determinado autor 
recorre a outros textos para compor os 
próprios, certamente tem um motivo muito 
claro – a construção de significados específicos 
(crítica, reflexão, releitura, entre outras 
questões). Percorrer o caminho inverso, ou 
seja, buscar esse motivo e reconstruir o 
processo de produção leva a desvendar tais 
significados, pois um texto completa outro, 
lança luz sobre o outro. É o exercício da leitura 
que irá garantir tudo isso. 
 
 
1.3.3.1 Textos e atividades 
 
1) Leia, com atenção, o texto seguinte para responder ao que se pede. 
 
Sem adjetivos 
 
“Eu sabia que estava com um cheiro de 
suor, de sangue, de leite azedo. Ele [delegado 
Fleury] ria, zombava do cheiro horrível e mexia 
em seu sexo por cima da calça com olhar de 
louco.” 
De Rose Nogueira,

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