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Direito Aplicado à Gestão Everaldo Asevedo Mattos Graduado em Direito pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL). Professor no Ensino Superior dos cursos de Hotelaria, Marketing, Gestão de Recursos Humanos e Processos Gerenciais do Centro Universitário Jorge Amado (UniJorge). Professor e tutor da disciplina de Direito Empresarial no curso de Administração a Distância da Universidade Salvador (UNIFACS). Autor de conteúdos didáticos para EaD. SOCIEDADE BAIANA DE EDUCAÇÃO E CULTURA – ASBEC Presidência do Conselho de Administração José Eugênio Barreto da Silva Presidência Viviane Brito de Lucca Silva Direção de Operações e Expansão Lila Lopes Direção Administrativo-Financeira Marcelo Adler Assessoria de Governança Silvio Bello CENTRO UNIVERSITÁRIO JORGE AMADO – UNIJORGE Reitoria Viviane Brito de Lucca Silva Pró-Reitoria de Educação a Distância Simone de Oliveira Branco Coordenação Acadêmica Arlete Lima da Cruz Coordenação de Desenvolvimento e Produção de Conteúdos Karen Sasaki Assessoria de Educação a Distância José Maria Nazar David AYMARÁ EDIÇÕES E TECNOLOGIA LTDA. Diretoria-Geral Áureo Gomes Monteiro Júnior Diretoria de Produção Editorial Júlio Röcker Neto Gerência de Produção Editorial Jeferson Freitas Gerência de Produção Gráfico-Visual Paulo Sezerban Gerência de Patrimônio Intelectual Célia Suzuki Coordenação de Produção Editorial Jurema Ortiz Edição Gustavo Bitencourt Revisão Gláucia Rodrigues Isabela Domingues Noriê Winkler Pesquisa de Imagens Susan Rocha Projeto Gráfico Cynthia Amaral Diagramação Fábio Rocha Ilustração Felipe Grosso Tratamento de Imagens Sandra Ribeiro M444 Mattos, Everaldo Asevedo. Direito aplicado à gestão / Everaldo Asevedo Mattos; ilustrações Felipe Grosso. – Curitiba: Aymará, 2008. : il. – (Série EAD – UniJorge). ISBN 978-85-7841-023-0 (Material impresso) ISBN 978-85-7841-024-7 (Material virtual) 1. Direito empresarial. I. Grosso, Felipe. II. Título. III. Série. CDU 347.72 Dados internacionais para Catalogação na Publicação (CIP) (Mônica Catani M. de Souza , CRB-9/807, PR, Brasil) Apresentação Seja bem-vindo a este nosso fluxo de construção de aprendizado da dis- ciplina de direito aplicado à gestão. Com essa disciplina – essencial para o desempenho de suas ativida- des profissionais –, queremos oferecer conhecimentos sobre leis e institutos de importante repercussão em sua futura atuação como gestor, com especial atenção para a teoria geral dos contratos; o estudo da relação de emprego, da relação entre empregado e empregador, do contrato de trabalho, dos principais direitos trabalhistas e das principais relações de trabalho; para o entendimento da constituição e gestão de uma sociedade limitada e das noções básicas dos princípios que regem a administração pública e a atividade tributária. Na construção desse aprendizado, buscamos sempre associar as infor- mações estudadas à efetiva atuação profissional, tanto de gestor de recursos humanos quanto de pequenas e médias empresas, sempre contextualizando- as de forma que torne a sua aplicação o mais prática possível. Nesse sentido, em alguns momentos, você terá de se colocar no papel de futuro administrador e responder a atividades, estudar casos e tentar elaborar um material que, cer- tamente, será muito útil e proveitoso para o desempenho de suas atividades profissionais. Bons estudos! Conteúdos da disciplina CAPÍTULO 1 – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Princípios gerais do direito contratual Requisitos essenciais dos contratos Formação dos contratos Extinção e revisão judicial dos contratos CAPÍTULO 2 – DIREITO APLICADO À GESTÃO Princípios do direito individual do trabalho Relação de trabalho e relação de emprego Empregado e empregador Terceirização CAPÍTULO 3 – DIREITO DO TRABALHO: CONTRATO DE TRABALHO Salário e remuneração Jornada de trabalho, repouso semanal e férias Modalidades de contrato de trabalho Extinção do contrato de trabalho CAPÍTULO 4 – DIREITO SOCIETÁRIO: NOÇÕES DE TRIBUTAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Introdução ao direito societário: constituição de sociedade contratual Aspectos da sociedade limitada Dissolução de sociedade contratual Noções de tributação e administração pública Capítulo 1 TEORIA GERAL DOS CONTRATOS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO CONTRATUAL Conteúdo programático Noções de direito Princípios gerais do direito contratual Objetivos Compreender algumas noções introdutórias sobre o direito. Compreender os princípios gerais que regem as relações contratuais. 6 O que é O direitO? Para chegar a um conceito minimamente satisfatório sobre uma área do co- nhecimento tão rica e em permanente transformação, como é a ciência jurídica, vamos a uma breve contextualização histórica. Ao longo da história da sociedade, o ser humano foi confrontado com a necessidade de estabelecer regras de convivência, normas de conduta que per- mitissem o convívio social. Na Grécia Antiga, Aristóteles e outros filósofos estive- ram entre os primeiros a reconhecer que o homem, como animal político, nasceu para viver em sociedade. A fim de garantir um mínimo de paz e harmonia social, o próprio homem reconheceu sua necessidade de se submeter a regras, ordens e convenções. Na Antiga Roma, surgiu o que até hoje se conhece como direito romano, com suas normas que procuraram regulamentar inicialmente o direito de propriedade, abordando o direito de vizinhança (o direito de propriedade perante seus vizinhos) e a transmissão de bens, por exemplo, e depois vários outros aspectos da vida em sociedade. Assim surgiram outras normas voltadas a prevenir possíveis conflitos familiares, como as que se referiam aos direitos dos herdeiros, e normas estipulan- do atividades consideradas criminosas e sua respectiva punição. O direito romano foi um dos primeiros conjuntos de regras e princípios cria- dos para estipular, por exemplo, como se daria a transmissão da herança de um soldado morto em batalha, a punição de alguém que roubasse, a ordem de su- cessão dos imperadores, etc. É considerado o mais importante na consolidação da civilização ocidental, por ser construído a partir de uma escola de pensadores não vinculados a crenças religiosas específicas, mas, sim, ao estudo das relações dentro da própria sociedade, a exemplo de Aristóteles, Sócrates e Platão. Com esse olhar breve sobre a história do mundo ocidental, já é possível entender melhor e até mesmo esboçar um conceito de “direito”: Conjunto de regras, princípios e instituições criados com o intuito de pre- venir e solucionar conflitos e, assim, regular a vida humana em sociedade, buscando garantir a paz e a harmonia social. Mas de onde surgem essas normas que aceitamos que regulem nossa vida em sociedade? Por que se decidiu criar, no Brasil e em diversos outros países, um Código de Defesa do Consumidor? Por que determinados crimes passaram a ser classificados como hediondos? 7 Direito Aplicado à Gestão – Capítulo 1 Para todas essas perguntas, a resposta pode ser resumida da seguinte for- ma: determinados fatos ocorreram repetidamente ao longo da história. Diante dis- so, a sociedade, ou pelo menos uma parte significativa dela, passou a atribuir a esses fatos determinados valores. Da interação entre fatos e valores nasceu a necessidade de se criarem normas jurídicas que regulamentassem as relações das pessoas com esses fatos de forma unificada, cabendo ao Poder Legislativo eleito elaborar a norma que irá regulamentar aquele determinado fato, levando em consideração, obviamente, o contexto social, político e econômico. Assim, retornando às questões propostas, podemos avaliar alguns fatos e valores que estão relacionados a esses aspectos. Vejamos: Por que se decidiu criar, no Brasil e em diversos outros países, um Códi- go de Defesa do Consumidor?Fato: Surge uma sociedade de consumo, em que conglomerados empre- sariais dominam o mercado e submetem os consumidores ao seu domínio econômico. Valores: Isso levou uma ampla parcela de pessoas a demandar mecanismos para controlar a atividade dessas empresas, especialmente quanto à responsabilidade delas com relação aos produtos que colocam no mercado. Norma: Com o tempo, surge o Código de Defesa do Consumidor. Por que determinados crimes passaram a ser classificados como hedion- dos? Fato: A escalada do narcotráfico, por exemplo, foi acompanhada pelo aumento do número de vítimas de sequestros e homicídios relacio- nados a essa atividade criminosa. Valores: Isso levou a população a exigir atitudes mais enérgicas na punição desses traficantes, sequestradores e assassinos, o que acarretou, entre outras consequências, o surgimento, no Brasil, da Lei dos Crimes Hediondos. Norma: As penas impostas a esse tipo de infrator foram agravadas, bem como as condenações a eles impostas. E assim surge o direito: da atribuição de determinado valor a um fato social, que resulta em uma norma, princípio ou instituição voltada a regular, de forma unificada, a relação de uma comunidade com aquele determinado fato. E assim também surgiram, mais especificamente, o direito contratual e a teo- ria geral dos contratos, que veremos a seguir. 8 O cOntratO e O direitO cOntratual O contrato, acordo voltado a estipular direitos e obrigações entre pessoas, também existe desde a Roma Antiga, já tendo seus pressupostos básicos, seus limites e sua eficácia definidos pelo próprio direito romano. Ao longo da história, com a queda dos Estados totalitários e o surgimento dos Estados democráticos, as relações particulares entre as pessoas se intensificam e precisam ser regula- mentadas por contratos. O direito contratual surge da necessidade de princípios para nortear essas relações fundadas em instrumentos contratuais e solucionar eventuais conflitos. Princípios gerais do direito contratual Para o direito, princípios são noções básicas, fundamentos que norteiam a criação, aplicação e interpretação das normas jurídicas (leis, decretos, etc.). Os princípios gerais do direito contratual são os seguintes: Autonomia da vontade Consensualismo Força obrigatória dos contratos Relatividade dos efeitos dos contratos Boa-fé objetiva Função social do contrato Autonomia da vontade Em direito contratual, a autonomia da vontade das partes contratantes con- siste na liberdade de: escolher se querem celebrar contrato ou não; escolher a outra parte com quem desejam se vincular mediante contrato; estipular livremente as cláusulas contratuais e a forma do contrato. É claro que, segundo o objetivo primordial do direito, que é estipular normas de conduta para regular a vida humana em sociedade e preservar a harmonia social, essa autonomia sofre algumas limitações, especialmente decorrentes de normas de ordem pública, dos bons costumes, da possibilidade de revisão judicial dos contratos e do próprio princípio da função social dos contratos, como veremos mais adiante. Consensualismo Segundo esse princípio, se as partes estão de acordo com os termos do contrato, isso é suficiente para que ele seja válido, não sendo necessária qualquer 9 Direito Aplicado à Gestão – Capítulo 1 outra solenidade, exceto quando exigida por lei. É o caso, por exemplo, do contrato de compra e venda de imóveis de valor superior a 30 salários mínimos, que somen- te pode ser celebrado mediante escritura pública, conforme previsto no artigo 108 do Código Civil. Força obrigatória dos contratos Uma noção popular, originária do antigo direito romano, é a de que “o contra- to faz lei entre as partes”. É justamente esse o princípio da força obrigatória: uma vez celebrado, o contrato não pode ser alterado por vontade de apenas uma das partes contratantes, nem mesmo pelo Poder Judiciário. A exceção se dá pela pos- sibilidade de revisão judicial do contrato para reequilibrar a relação contratual, afe- tada por circunstâncias extraordinárias e imprevistas, que tornaram o cumprimento da obrigação de uma das partes excessivamente oneroso. Essa possibilidade será estudada adiante. Relatividade dos efeitos dos contratos Os efeitos desejados com a celebração do contrato limitam-se às partes que efetivamente concordam com seus termos. Dessa forma, ele não pode atingir ter- ceiros que não se vincularam a ele expressamente. Também não pode o objeto do contrato incidir sobre bens de terceiros. Esse princípio, contudo, também sofre algumas exceções previstas em lei, retratadas, por exemplo, nas estipulações em favor de terceiros (artigos 436 a 438 do Código Civil), como ocorre na contratação de um seguro de vida, em que o beneficiário não é o segurado, mas, sim, outra pessoa, que, em muitos casos, nem sequer tem conhecimento do contrato. Boa-fé objetiva A boa-fé objetiva é o dever das partes de agir de forma correta, eticamente aceita, antes, durante e mesmo depois de terminada a relação contratual. Esse princípio surge também como interpretação a ser adotada na solução de eventual disputa entre as partes contratantes, devendo, nessa situação, o juiz a que foi sub- metida a decisão do embate analisar o conflito à luz da boa-fé, que deve orientar como as pessoas irão agir. Por exemplo, digamos que num contrato de locação não foi expressamente prevista a data de pagamento do aluguel, porém o locador concordou em sempre receber até o dia 5 de cada mês. Se o locador, sem acerto prévio, começar a cobrar juros ou multa a partir do dia 1.o, estará agindo de má-fé. Função social do contrato O princípio da função social do contrato é uma limitação ao princípio da auto- nomia da vontade, uma vez que o Código Civil brasileiro prevê, no artigo 421, que a liberdade de contratar deverá ser exercida nos limites da função social do contrato. Isso significa que sempre deve prevalecer o interesse social e não o particular. 10 PROjETO DE LEI FEDERAL N.O 1.151 De autoria da Deputada Federal Marta Suplicy (PT-SP). Disciplina a união civil entre pessoas do mesmo sexo e dá outras providências. justificativa O presente projeto de lei visa o reconhecimento das relações entre pes- soas do mesmo sexo, relacionamentos estes que cada vez mais vêm se im- pondo em nossa sociedade. A ninguém é dado ignorar que a heterossexualidade não é a única for- ma de expressão da sexualidade da pessoa humana. O Conselho Federal de Medicina, antecipando-se à Organização Mundial da Saúde, já em 1985 tornou sem efeito o código 302, o da Classificação Internacional de Doenças, não con- siderando mais a homossexualidade como “desvio ou transtorno sexual”. A so- ciedade vive uma lacuna em relação às pessoas que não são heterossexuais. Elas não têm como regulamentar a relação entre si e perante a sociedade, tais como pagamento de impostos, herança, etc. Essa possibilidade de parceria só é reconhecida entre heterossexuais. E os outros tantos? Realidade e direitos Esse projeto pretende fazer valer o direito à orientação sexual, hetero, bi ou homossexual, como expressão dos direitos inerentes à pessoa hu- mana. Se os indivíduos têm direito à busca da felicidade, por uma norma imposta pelo direito natural a todas as civilizações, não há por que continuar negando ou querendo desconhecer que muitas pessoas só são felizes se Leia alguns trechos da justificativa do Projeto de Lei Federal n.o 1.151, que está em tramitação no Senado e que regulamentaria a união civil entre pessoas do mesmo sexo. O texto mais completo pode ser encontrado em http://www.ggb.org. br/projetolei_1151.html. Apesar de causar estranhamento, essa determinação está de acordo com o objetivo maior do direito, que é regular a vida humana em sociedade. Assim, evita- -se que os particularescometam desmandos em seus contratos. Tal princípio justi- fica, por exemplo, a intervenção estatal na aquisição da Varig pela Gol, ou na fusão da Antarctica com a Brahma, a fim de evitar, nos dois casos, a monopolização dos setores da aviação e de comercialização de bebidas, respectivamente. Ao conhecer esses princípios que norteiam os contratos, durante e após a sua vigência, é possível agir de acordo com o direito, e de forma ética, em nosso dia a dia, no que se refere às relações de negócios. Leitura complementar 11 Direito Aplicado à Gestão – Capítulo 1 ligadas a outras pessoas do mesmo sexo. Longe de escândalos ou ano- malias, é forçoso reconhecer que essas pessoas só buscam o respeito às uniões enquanto parceiros, respeito e consideração que lhes são devidos pela sociedade e pelo Estado. [...] Solidariedade A possibilidade de oficializar a união civil entre pessoas do mesmo sexo permitirá, como nas uniões heterossexuais, que em períodos de crise os casais possam ser ajudados. Os casais heterossexuais casados, quando passam por problemas, enfrentam vários fatores que impedem uma ruptura imediata. Uma parceria legalizada será sinal de que o casal [...], para suas famílias, amigos e sociedade, deseja manter uma relação de compromisso. Isso será enfatizado pelo status formal e legal da união. Muitos casais homossexuais acham uma injustiça que mesmo depois de muitos anos de coabitação ain- da sejam considerados – legal, econômica e socialmente – meramente como duas pessoas que dividem uma residência. Relacionamentos estáveis proverão segurança e um sentimento de per- tencer. A maioria dos homossexuais sozinhos não é reconhecida pelas famílias. As pessoas com orientação homossexual possuem a mesma necessidade de segurança e proximidade que pessoas com orientação heterossexual e devem ter direitos ao mesmo apoio nas relações permanentes. O projeto de união civil entre pessoas do mesmo sexo não vai resolver todos esses problemas nem fazer com que todas as famílias aceitem essa situação, mas certamente poderá ter um efeito estabilizador. [...] Diferenças e semelhanças entre união civil e casamento A possibilidade de regularizar uma situação de união já existente tornará esses relacionamentos mais estáveis, na medida em que serão solucionados problemas práticos, legais e financeiros. A vida social dos casais homosse- xuais também será afetada, fazendo com que sejam mais bem aceitos pela sociedade e até pelas próprias famílias. Esse projeto procura disciplinar a união civil entre pessoas do mesmo sexo e não se propõe dar às parcerias homossexuais um status igual ao do casamento. O casamento tem um status único. Esse projeto fala de “parceria” e “união civil”. Os termos “matrimônio” e “casamento” são reservados para o casamento heterossexual, com suas implicações ideológicas e religiosas. Está entendido, portanto, que todas as provisões aplicáveis aos casais ca- sados também devem ser direito das parcerias homossexuais permanentes. 12 Após conceituar o “direito” a partir de seu surgimento histórico, você deu o primeiro passo no estudo da teoria geral dos contratos, conhecendo os princípios gerais do direito contratual, que farão parte das próximas discussões. A possibilidade para casais de gays e lésbicas registrarem suas parce- rias implicará na aceitação por parte da sociedade de duas pessoas do mesmo sexo viverem juntas numa relação emocional permanente. Aspectos jurídicos O projeto de lei que disciplina a união civil entre pessoas de mesmo sexo vem regulamentar, por meio do direito, uma situação que há muito já existe de fato. E, o que de fato existe, de direito não pode ser negado. A criação desse novo instituto legal é plenamente compatível com o nosso ordenamento jurídico, tanto no que se refere a seus aspectos formais quanto de conteúdo. É instituto que guarda perfeita harmonia com os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil – constitucionalmente garanti- dos – de construir uma sociedade livre, justa e solidária e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (artigo 3.o, I e IV, da Constituição Federal). A figura da união civil entre pessoas do mesmo sexo não se confunde nem com o instituto do casamento, regulamentado pelo Código Civil brasileiro, nem com a união estável, prevista no parágrafo 3.o do artigo 226 da Constitui- ção Federal. É mais uma relação entre particulares que, por sua relevância e especificidade, merece a proteção do Estado e do direito. O projeto estabelece com clareza os direitos que visa proteger nessa relação. As formalidades nele previstas servem não só como uma garan- tia entre os próprios contratantes, mas também perante terceiros; servem, ainda, como um indicador, para a sociedade, de quão sério é o tema nele tratado e da expectativa de durabilidade e estabilidade que têm em suas relações. Para sua melhor adequação ao ordenamento jurídico, propõem-se algumas pequenas, porém significativas, alterações de legislações específi- cas, como em alguns artigos: da lei de registros públicos, da lei de benefícios previdenciários, do estatuto dos servidores públicos federais e da lei dos estrangeiros. A sociedade brasileira é dinâmica e abarca uma diversidade de relações; o direito brasileiro deve acompanhar. [...] GRUPO GAY DA BAHIA. Projeto de Lei Federal n.o 1.151. Disponível em: <http://www.ggb.org.br/projetolei_1151.html>. Acesso em: 7 abr. 2008. (Adaptado). Síntese 13 Direito Aplicado à Gestão – Capítulo 1 O princípio pelo qual duas ou mais vontades bastam para gerar o contrato vá-1. lido, não se exigindo qualquer solenidade especial para a formação do vínculo de contrato, é: autonomia da vontade;a) consensualismo;b) força obrigatória dos contratos;c) boa-fé objetiva;d) relatividade dos efeitos do contrato.e) Assinale F para as alternativas falsas e V para as verdadeiras:2. O princípio da autonomia da vontade particulariza-se no direito contratual ( ) na liberdade de contratar, que tem como única limitação as normas de ordem pública. O princípio da força obrigatória dos contratos é aquele que se baseia na ( ) regra de que as condições estabelecidas no contrato deverão ser fielmen- te cumpridas. Em observância ao princípio da relatividade dos efeitos do contrato, não ( ) podem as partes contratantes estipular no contrato vantagem em favor de terceiro que a ele não se vinculou. O princípio da função social do contrato, ao preservar a prevalência do ( ) interesse social sobre o interesse particular, mesmo na celebração dos contratos, acaba por instituir limitação ao exercício da autonomia da von- tade das partes contratantes. Durante as atividades do nosso dia a dia, é comum nos depararmos com si-3. tuações em que não sabemos se existe norma de conduta própria, prevista em direito, ou em que simplesmente discordamos da norma que conhecemos. Você se lembra de ter vivenciado alguma situação desse tipo? Compartilhe sua experiência apresentando-a no fórum Direito: fato, valor e norma, para que possamos conversar a respeito do tema e, eventualmente, encontrar a melhor norma de conduta a ser adotada em relação à situação apresentada. Está em discussão no Brasil o projeto de lei que tramita no Congresso Nacional 4. prevendo o reconhecimento da união civil entre pessoas do mesmo sexo. Qual a sua opinião sobre o assunto? Pesquise e leia o projeto de lei em questão, reúna seus próprios argumentos e expresse suas opiniões no fórum Direitos em debate. Vamos analisar como esse fato pode se tornar uma norma e as repercussões que pode ter. Atividades 14 Anotações DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais.23. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. GRUPO GAY DA BAHIA. Projeto de Lei Federal n.o 1.151. Disponível em: <http://www.ggb. org.br/projetolei_1151.html>. Acesso em: 7 abr. 2008. KRUSHEWSKY, Eugênio. Teoria geral dos contratos civis. Salvador: JusPodivm, 2006. VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. Referências Capítulo 1 TEORIA GERAL DOS CONTRATOS REqUISITOS ESSENCIAIS DOS CONTRATOS Conteúdo programático Requisitos essenciais dos contratos Objetivo Promover a compreensão dos requisitos essenciais aos contratos em geral. 16 CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Pelo presente instrumento particular, como CONTRATANTE, GESTÃO DE SUCESSOS LTDA., sediada na cidade de Salvador, estado da Bahia, na Rua 01, n.o 01, inscrita no CNPJ/MF sob o n.o 00.000.001/0001-01, neste ato por seu representante legal abaixo assinado; e como CONTRATADA, EXCELÊNCIA EM TREINAMENTO LTDA., sediada na cidade de Salvador, estado da Bahia, na Rua 10, n.o 10, inscrita no CNPJ/MF sob o n.o 00.000.010/0001-10, neste ato por seu representante legal abaixo assinado; resolvem celebrar o presente CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS, mediante as seguin- tes cláusulas e condições: DO OBJETO 1.1. Constitui objeto do presente contrato a prestação, pela CONTRATADA, de servi- ços de treinamento dos empregados da CONTRATANTE. 1.1.1. Os serviços de treinamento mencionados no item 1.1. consistirão no desen- volvimento, em conjunto pela CONTRATANTE e CONTRATADA, de palestras motivacionais e cursos de aperfeiçoamento profissional a serem ministrados junto aos empregados da CONTRATANTE. 1.1.2. Por força do contrato ora celebrado, a CONTRATADA se obriga a: a) realizar os treinamentos solicitados nos termos aprovados pela CONTRATANTE, res- ponsabilizando-se, inclusive, pela elaboração e fornecimento de todo o material didático; b) indicar à CONTRATANTE profissionais para ministrarem os cursos/palestras apro- vados; c) entregar, até o dia 05 do mês subsequente, relatório contendo os dados referentes aos cursos/palestras ministrados no mês anterior; d) apresentar, junto com a nota fiscal a ser entregue à CONTRATANTE até o dia 10 do mês subsequente ao vencido, os comprovantes de pagamento dos valores devidos aos profissionais envolvidos na prestação dos serviços ora contratados e os compro- vantes de cumprimento das obrigações trabalhistas pertinentes. 1.1.3. Por força do contrato ora celebrado, a CONTRATANTE se obriga a: a) reunir-se periodicamente com a CONTRATADA, a fim de definir os novos cursos/pa- lestras a serem ministrados e de avaliar o correspondente material didático a ser produzido pela CONTRATADA e as indicações apresentadas por esta de profissionais responsáveis por realizar o curso/palestra; b) contratar diretamente os profissionais necessários para ministrar os cursos ou palestras aprovados; c) disponibilizar as instalações e os equipamentos necessários à realização dos cursos/palestras; d) pagar, até o dia 15 do mês subsequente, a remuneração devida à CONTRATADA, que será composta da seguinte forma: (I) R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por cada palestra ministrada; e (II) R$ 10.000,00 (dez mil reais) por cada dia de curso ministrado. E, por assim estarem justas e contratadas, as partes assinam o presente instrumento em 02 (duas) vias de igual teor e forma, na presença de duas testemunhas. Salvador, 1.o de janeiro de 2008. GESTÃO DE SUCESSOS LTDA. EXCELÊNCIA EM TREINAMENTO LTDA. Como você viu anteriormente, o contrato é um instrumento que estipula direitos e obrigações entre particulares. O direito reconhece seus efeitos e sua eficácia e, com o princípio da força obrigatória, o contrato pode “fazer lei entre as partes contratantes”. Observe este modelo de contrato: 17 Direito Aplicado à Gestão – Capítulo 1 A fim de reconhecer a validade de tal instrumento, o direito contratual prevê, no artigo 104 do Código Civil, requisitos mínimos e essenciais a serem observados na celebração de qualquer contrato. Observe: Um casal decide comprar um imóvel que foi posto à venda por três irmãos, que o herdaram de seus pais, recentemente falecidos. Quantas pessoas estão envolvidas nessa relação? E quantas partes deverão constar no contrato de compra e venda? Após analisar a situação, você pode ter respondido que o contrato envolverá a participação de cinco pessoas: o ca- sal e os três irmãos. No entanto, constariam apenas duas partes: os compradores (o casal) e os vendedores (os três irmãos). Artigo 104 – A validade do negócio jurídico requer: I – agente capaz; II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III – forma prescrita ou não defesa em lei. Requisitos subjetivos Os requisitos subjetivos referem-se ao agente (ou sujeito) e são condições impostas pela lei às partes, as quais, caso não sejam observadas, podem levar à anulação do contrato. São eles: Existência de duas ou mais partes Capacidade legal Consentimento das partes envolvidas Assim, fica claro que não existe vinculação entre a quanti- dade de partes e a quantidade de pessoas numa relação contratual. 18 Existência de duas ou mais partes Voltando ao exemplo, o casal tem interesse de comprar conjuntamente um imóvel, onde poderão construir sua vida a dois. Por terem esse interesse comum, constituem uma parte do contrato: os compradores. Do outro lado, os três irmãos querem vender o imóvel herdado de seus pais e também têm um interesse co- mum, compondo, dessa forma, a outra parte do contrato: os vendedores. O entendimento dessa distinção é importante para a fixação do primeiro re- quisito subjetivo de validade dos contratos, que é a existência de duas ou mais partes. Obviamente, se o contrato é um acordo de vontades, que estipula direitos e obrigações entre particulares, é necessário que existam ao menos dois centros de interesse diferentes. Capacidade legal Não basta que haja duas ou mais partes dispostas a celebrar contrato para que ele seja considerado válido no plano subjetivo. O artigo 104 do Código Civil reproduzido na página anterior deixa claro que essas partes devem ser capazes. O segundo requisito subjetivo dos contratos é a capacidade das partes contra- tantes para praticar os atos da vida civil. Para o direito brasileiro, em regra, todas as pessoas são capazes de direitos e deveres na ordem civil a partir do nascimento, conforme assegurado pelos artigos 1.o e 2.o do Código Civil. O direito civil definiu nos artigos 3.o e 4.o as pessoas que, por terem anulada, diminuída ou ainda não plenamente madura a sua capacidade de manifestar sua vontade, são consideradas absoluta ou relativamente incapazes, a depender do grau dessa anulação, diminuição ou incapacidade. Observe o quadro a seguir: INCAPACIDADE ABSOLUTA INCAPACIDADE RELATIvA Artigo 3.o – São absolutamente incapa- zes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: os menores de dezesseis anos;I – os que, por enfermidade ou II – deficiê ncia mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; os que, mesmo por causa transi-III – tória, não puderem exprimir sua vontade. Artigo 4.o – São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: os maiores de dezesseis e menores I – de dezoito anos; os ébrios habituais, os viciados em II – tóxicos e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento re- duzido; os excepcionais, sem desenvolvi-III – mento mental completo; os IV – pródigos. Pródigo Pessoa considerada inábil para gerenciar os próprios bens, por gastar de maneira exces- siva e irresponsável. 19 Direito Aplicado à Gestão – Capítulo 1 Perceba que, apesar de o novo Código Civil ser recente, tendo entrado em vigor em2003, a terminologia utilizada não está de acordo com os termos que têm sido mais aceitos socialmente. Os termos “ébrios” para se referir a alcoólicos, “viciados” para dependentes químicos e “excepcionais” para pessoas com deficiência não conferem com as discussões atuais sobre linguagem inclusiva. Entretanto, muitos acreditam que houve um grande avanço em relação ao Código anterior – por exemplo, por não serem mais considerados os surdos como incapazes absolutos, ou pela inclusão do nível de discernimento como critério – nos artigos 3.o e 4.o. O Código de 1916, em vez de “deficiência mental”, mencionava “loucos de todo o gênero”, expressão que foi substituída pelo termo “psicopata” com o Decreto- -Lei n.o 24.559, de 1934 (DONZELE, 2004). A distinção entre “incapacidade absoluta” e “incapacidade relativa” é impor- tante, uma vez que a lei também permite a essas pessoas efetuarem contratos quando quiserem ou necessitarem, mediante a observação de determinadas re- gras. Assim, instituiu-se a necessidade de as pessoas consideradas absolutamen- te incapazes serem representadas por seu pai, mãe ou tutor na prática de atos da vida civil. É o que ocorre quando uma vítima de acidente ou enfermi- dade entra em coma. Nessa situação, seu representante legal exerce, em seu nome, os atos civis que lhe cabem, inclusive assinando os documentos necessários. As pessoas consideradas relativamente incapazes devem ser necessaria- mente assistidas por seu pai, mãe, tutor ou curador. Uma pessoa de 17 anos que ingressa na faculdade precisa apresentar, ao lado de sua assinatura, a assinatura do pai, da mãe ou do tutor no contrato de prestação de serviços com a instituição. Se não forem observadas essas regras de representação ou assistência, o contrato é considerado nulo. Isso ocorre tanto para pessoas consideradas absolu- tamente incapazes – quando o responsável legal não assinar o contrato como re- presentante – como para pessoas consideradas relativamente incapazes – quando sua assinatura não estiver acompanhada pela assinatura de seu assistente. 20 Em determinadas situações, ainda que a parte em questão satisfaça as regras genéricas de capacidade previstas na legislação civil, pode ser que não seja legitimada a contratar, por não preencher alguma regra de capacidade específica prevista em lei. Se, por exemplo, um pai vende um bem a um de seus filhos, esse contrato somente será considerado válido se for obtido o consentimento do cônjuge e dos demais filhos do vendedor, conforme determina o artigo 496 do Código Civil. Consentimento das partes envolvidas Além da capacidade legal, geral ou específica, as partes contratantes devem consentir com o contrato, sendo esse consentimento, portanto, o terceiro requisito subjetivo dos contratos. E o acordo deve ser manifestado de forma expressa e livre. Desse modo, o silêncio não caracteriza o consentimento, exceto nos casos em que a lei assim estabelecer ou não exigir manifestação expressa e existirem outras circunstâncias que demonstrem a vontade da parte de estabelecer o contrato. Um locatário que recebe as chaves de um imóvel e passa a morar nele e pagar aluguel, independentemente de ter assinado um contrato formal, está manifestando sua vontade de estabelecer esse vínculo. Uma vez preenchidos esses três requisitos, considera-se o contrato válido no plano subjetivo. Em contratos com pessoas jurídicas, para uma maior segurança quanto à legitimidade da pessoa que assinou o contrato, é aconselhável que ela forneça, junto com as vias assinadas do contrato, cópia do contrato social da empresa ou de procuração em que se possa confirmar que ela tem poderes para isso. Requisitos objetivos Os requisitos objetivos referem-se, como o nome já diz, ao objeto do con- trato. São quatro aspectos que esse objeto deve possuir para que o contrato seja válido: 21 Direito Aplicado à Gestão – Capítulo 1 Licitude Você acha que é possível contratar alguém para assassinar ou roubar? Ou para administrar um cassino, ou um ponto de venda de drogas ilícitas? A resposta para ambas as perguntas é “não”. Conforme determina o Código Civil – ainda que em oposição ao princípio da autonomia da vontade –, o objeto do contrato deve ter licitude, ou seja, não pode ser contrário à lei, à moral, aos princípios de ordem pública e aos bons costumes. Possibilidade material E seria possível contratar uma empresa para construir uma nave espacial que navegue à velocidade da luz? Ou um consultor para ministrar um curso presencial, no mesmo dia, no Brasil e na Austrália? Ou uma equipe de biólogos para capturar um unicórnio? É óbvio que a resposta às perguntas acima também é “não”. O objeto do con- trato não precisa ser apenas lícito e possível juridicamente, mas também possível materialmente. É importante ter em mente que essa possibilidade material deve existir no momento da celebração do contrato, para que ele não seja considerado nulo. Assim, é possível contratar a compra de um apartamento localizado em um prédio ainda em construção, com a promessa de entrega para uma determinada data futura. Pode ocorrer, no entanto, um imprevisto, por exemplo, um terremoto derrubar parte da construção do prédio, atrasar a data de entrega do imóvel pro- metida no contrato. Nesse caso, o contrato não é invalidado, e a impossibilidade de cumprimento do prazo estipulado será tratada de acordo com as regras pertinentes à extinção dos contratos, que estudaremos mais adiante. Determinabilidade A determinabilidade do objeto do contrato significa que devem constar informações mínimas referentes ao gênero, à espécie, à quantidade e às caracte- rísticas individuais do que se quer contratar. A descrição deve ser suficiente para garantir que o credor exija do devedor o cumprimento daquilo a que se obrigou. Assim, tanto se pode contratar a compra de um automóvel Celta 1.0 2006/2007, zero quilômetro, quatro portas, com ar-condicionado, na cor branca, quanto encomendar uma reprodução do quadro Campo de trigo com corvos, de Vincent van Gogh, com 70 cm x 90 cm. Em ambas as situações, em maior ou menor grau, estão presentes elementos suficientes para exigir de quem vende aquilo que ele se comprometeu a entregar. Licitude Possibilidade material Determinabilidade Economicidade 22 Requisito formal Ao contrário do que ocorre nos requisitos subjetivos e objetivos de validade dos contratos, no que diz respeito à forma, o direito contratual optou pela liberdade, pelo amplo exercício do princípio da autonomia da vontade, estipulando que o con- trato poderá ser celebrado da forma que melhor convier às partes, mesmo de modo verbal, de acordo com o princípio do consensualismo, que determina que o simples acordo de vontades faz nascer o contrato (artigo 107 do Código Civil). Em casos excepcionais previstos em lei, o contrato deve adotar forma solene, a exemplo do caso já mencionado de compra e venda de imóvel de valor superior a 30 salários mínimos, que deve ser celebrado mediante escritura pública e não por instrumento particular. Ao estipular o objeto de um contrato, deve-se determiná-lo da forma mais específica possível, definindo também, detalhadamente, em cláusulas contratuais distintas, as obrigações de cada parte, a fim de garantir ao credor a noção clara do que pode ser exigido e, ao devedor, o conhecimento exato daquilo que se comprometeu a cumprir. Ainda que isso não seja exigido por lei, na prática, o contrato deve contar com a assinatura de duas testemunhas, que certificam que as disposições foram convencionadas de comum acordo entre as partes. Da mesma forma, a lei não exige o reconhecimento da firma das partes ou de seus representantes como requisito de validade do contrato. Entretanto, especialmente nos casos em que o valor representativodo objeto contratado é elevado, isso é aconselhável, principalmente quando se tratar de contratação envolvendo pessoas jurídicas. Economicidade Por último, ainda que não mencionada expressamente no artigo 104 do Có- digo Civil, a economicidade do objeto do contrato também é condição essencial para a sua validade. É preciso que o objeto tenha valor econômico, ou seja, ele deve ser passível de conversão, direta ou indiretamente, em dinheiro. Objetos que não podem ser convertidos financeiramente não interessam ao direito contratual. 23 Direito Aplicado à Gestão – Capítulo 1 MARIDO TENTA vENDER MULHER POR R$ 100 NA INTERNET Ministra Nilcéia Freire pediu punição para o Mercado Livre. Oferta já saiu do ar São Paulo – Não importa se foi consentido, piada de mau gosto ou trote. Para a ministra da Secretaria Especial de Política para Mulheres, Nilcéia Freire, o anúncio publicado no site de vendas pela Internet Mercado Livre de um suposto marido que vendia a mulher por R$ 100 (já retirado do ar) foi ofensivo, fere a digni- dade e reforça o estereótipo de que a mulher é objeto dos homens. Como protesto, [a ministra] denunciou o Mercado Livre no Conselho Nacional de Autorregulamen- tação Publicitária (Conar). “O anúncio contraria a ética de nossa sociedade.” O anúncio pode causar divertimento ou repulsa, mas não passa des- percebido. A começar pelo título: “Vendo minha esposa, ótimo estado de con- servação”. Continuando a leitura, entende-se que um homem, com o apelido Breno_Bonin, oferece Neuza, a quem estiver disposto a pagar o preço pedido. O casal é do Mato Grosso do Sul. Tem até uma foto de Neuza, que Breno achou não ter sido suficiente para atrair possíveis “compradores”. Faltava a descrição dos atrativos: “1,60 m, 65 quilos, loira”, “muito boa de cama, ótima na cozinha, limpa a casa que é uma beleza, nunca teve filhos, não tem problemas com o sexo e nem entrou na menopausa ainda [sic], tem apenas 35 anos. Chama-se Neuza e é uma mulher de ouro”. Se é tão boa assim, por que vendê-la? “Breno” explica: “Preciso muito de dinheiro”. Mas vai logo avisando: “Depois que conseguir dinheiro vou kerer compra-la de volta [sic]”. Por meio de nota, o Mercado Livre informa que proíbe anúncios de produtos e serviços que firam a moral e os bons costumes. Para isso, diz que monitora o conteúdo do site usando ferramentas de busca e incentiva usuá- rios a denunciar infrações. E afirma que o grande número de produtos (cerca de 1 milhão) impede que ofertas ilegais sejam retiradas em tempo real. A ministra ficou sabendo do anúncio por meio de denúncia. “Queremos que o Conar examine a ação e imponha alguma penalidade.” A assessoria de imprensa do Conar informou que se o anúncio foi considerado irregular será impedido de ser veiculado e vai criar jurisprudência para casos semelhantes. MAIA JUNIOR, Humberto. Marido tenta vender mulher por R$ 100 na Internet. Disponível em: <http://estadao.com.br/tecnologia/internet/noticias/2007/mai/05/37.htm>. Acesso em: 5 mar. 2008. Leitura complementar A partir do entendimento dos requisitos essenciais a serem observados para a celebração válida de contratos, conseguimos estabelecer algumas medidas mí- nimas a serem adotadas, para que contratos adequados às exigências legais e seguros para os contratantes possam ser celebrados. Síntese 24 Além das que já foram apontadas, quais outras medidas de segurança você 1. acredita que podem ser adotadas no que se refere à discriminação das par- tes, do objeto, ou à escolha da forma do contrato? Compartilhe sua opinião apresentando-a no fórum Celebrando contratos válidos, para que possamos trocar ideias a respeito do tema. Assinale F para as alternativas falsas e V para as verdadeiras:2. O contrato a ser celebrado com a escola de primeiro grau em que os pais ( ) desejam matricular seu filho de 10 anos de idade deve ser assinado pelo pai ou pela mãe da criança, na qualidade de seu representante, sob pena de nulidade do contrato. Uma pessoa pode locar seu imóvel para a instalação de um local de pros-( ) tituição. Considera-se válido o contrato verbal celebrado entre a empresa de ( ) moto- boys e a empresa contratante para a realização de entregas de documen- tos em uma determinada área pré-acordada, mediante o recebimento, ao fim de cada mês, do valor estipulado no contrato. É válido um contrato em que uma microempresa contrata um adolescente para 3. produzir um programa de controle de estoque de mercadorias que ainda não existe no mercado? Existem medidas específicas a serem adotadas por essa microempresa na celebração do contrato? Compartilhe sua opinião no fórum Estudo de caso 1, para que possamos trocar ideias a respeito do tema. No caso apresentado na leitura complementar, seria possível que o marido 4. viesse a celebrar um contrato com alguém interessado em “comprar” sua espo- sa? Por quê? Justifique sua resposta com base em tudo o que você aprendeu até agora e compartilhe sua opinião no fórum Estudo de caso 2, para que possamos trocar ideias a respeito do tema. BRASIL. Presidência da República. Código Civil brasileiro atualizado 2007. 1. ed. São Paulo: Escala, 2007. DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. DONZELE, Patricia Fortes Lopes. A incapacidade no novo Código Civil. Disponível em: <http://www.cesuc.br/revista/ed-6/incapacidade.pdf>. Acesso em: 7 abr. 2008. KRUSHEWSKY, Eugênio. Teoria geral dos contratos civis. Salvador: JusPodivm, 2006. MAIA JUNIOR, Humberto. Marido tenta vender mulher por R$ 100 na Internet. Disponível em: <http://estadao.com.br/tecnologia/internet/noticias/2007/mai/05/37.htm>. Acesso em: 5 mar. 2008. VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. Atividades Referências Capítulo 1 TEORIA GERAL DOS CONTRATOS FORMAÇÃO DOS CONTRATOS Conteúdo programático Formação dos contratos Objetivos Promover a compreensão das diversas possíveis etapas de formação dos contratos. Estabelecer os requisitos e as consequências da elaboração de proposta ou de contrato preliminar. 26 Definidos os requisitos essenciais de validade dos contratos, podemos passar ao estudo das diversas possibilidades de formação contratual, que podem incluir negociações preliminares, proposta ou contrato preliminar. Contudo, é importan- te ter em mente, desde o início, que as partes não são obrigadas a passar por todas essas fases para formação de um contrato válido, podendo adotar apenas uma ou algumas delas, como veremos a seguir. Negociações preliminares Sendo o contrato um exercício da autonomia da vontade das partes, nor- malmente, antes de sua efetivação, existe uma negociação dos termos especí- ficos, especialmente no que diz respeito aos direitos e obrigações atribuídas a cada parte. É justamente essa fase inicial – em que ainda não existe contrato, mas apenas um esboço, uma intenção ainda não formalizada – que denomina- mos de “negociações preliminares” ou “tratativas”. Durante essa fase, ainda não existe vínculo entre as partes nem sequer obrigação de contratar, mesmo que os possíveis futuros contratantes já tenham trocado minutas, ou seja, esboços do contrato que desejam assinar. Ao final das negociações, apesar das inúmeras minutas trocadas, as partes podem não conseguir chegar a um consenso, optando por não celebrar o contrato. Nesse caso, não se pode considerar que essa desistência resulte em prejuízo passível de indenização. Imagine o seguinte: uma empresa está em processo de negociação, já em fase avançada, com outra organização que pretende contratar seus serviços. Por se tratar de um negócio importante, a diretoria opta por contratar mais pessoas eoferecer-lhes treinamento especializado, a fim de conseguir realizar o serviço que se comprometerá a fazer. Em um dado momento, a empresa contratante, sem for- necer nenhuma explicação, desiste do negócio e decide não assinar o contrato, ao passo que a primeira se vê prejudicada com essa desistência. O que poderia ser feito nesse caso? A empresa prejudicada poderia pedir uma indenização? Se, ao longo das tratativas, uma das partes criou expec- tativa de que o contrato seria realmente efetuado, a ponto de contrair despesas, abrir mão de outras oportunidades, ou mesmo alterar sua dinâmica de negócios, mesmo não havendo responsabilidade contratual, a parte que desistiu sem apresentar justificativa deve indenizar a parte prejudi- cada pelas perdas e danos que esta possa ter sofrido. 27 Direito Aplicado à Gestão – Capítulo 1 Devem-se guardar sempre as minutas que foram trocadas antes de chegar ao texto final do contrato. Isso porque, caso exista algum tipo de conflito a ser resolvido judicialmente, se uma das partes desistir injustificadamente, ou mesmo se houver alguma disputa após a assinatura, as minutas fornecem informações sobre as intenções das partes, auxiliando o juiz a interpretar o contrato e a relação que ele formaliza. Proposta Evoluindo um pouco nas negociações, pode ocorrer de, após um certo tem- po, uma das partes optar por encaminhar à outra uma proposta de contratação, contendo todos os elementos necessários para a avaliação do negócio que se quer formalizar, estipulando ou não um prazo para que seja avaliada. A proposta é uma declaração de vontade pela qual uma das partes – deno- minada “proponente” ou “policitante” – propõe à outra – nesse caso, denominada “oblato” – os termos de um contrato, bastando que seja aceita para efetivá-lo. Ao contrário do que ocorre durante a fase das negociações preliminares, em que não existe qualquer obrigação de contratar para nenhuma das partes em negociação, no caso da proposta considera-se o proponente responsável pelos termos que declarou. Ele somente será desvinculado dessa obrigação caso a proposta seja recusada pelo oblato, caso acabe o prazo estipulado para a aceitação sem haver resposta ou caso ocorra uma das hipóteses previstas no artigo 428 do Código Civil brasileiro, descritas a seguir: Artigo 428 – Deixa de ser obrigatória a proposta: se feita sem prazo a pessoa presente, não foi ime-I – diatamente aceita. Considera-se também presen- te a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante; se feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decor-II – rido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; se feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida III – a resposta dentro do prazo dado; se antes dela ou simultaneamente, chegar ao co-IV – nhecimento da outra parte a retratação do pro- ponente. Uma vez aceita a proposta, ela passa a ter efeito de um contrato efetivo. Assim, pode-se dizer que a aceitação válida da proposta vincula as partes aos ter- 28 mos dela, como se tivessem efetivamente celebrado um contrato. Para esclarecer o que o direito contratual entende por aceitação válida da proposta, vamos pensar no seguinte: Pessoas ausentes Aquelas que não estejam na presença umas das outras ou que não possam responder imediatamente – via telefone, por exemplo – à proposta apresentada. Digamos que a aceitação da proposta foi enviada dentro do prazo estipulado, mas, devido a um atraso no serviço de correio, por exemplo, chega às mãos do proponente somente duas semanas depois do fim do prazo. Ainda assim, o proponente é obrigado a cumprir a proposta? E se ele já tiver assinado contrato com outro? No exemplo mencionado, a fim de se desobrigar de cumprir o que assumiu na proposta enviada, o proponente deve comunicar imediatamente ao oblato que recebeu a aceitação com muito atraso. Caso contrário, conforme previsto no artigo 430 do Código Civil brasileiro, pode se ver obrigado a pagar uma indenização por perdas e danos decorrentes de não celebrar o contrato proposto. Caso o oblato aceite a proposta fora do prazo estipulado ou a devolva ao proponente com sugestões de alteração de seus termos, considera-se que o oblato está apresentando nova proposta, passando a figurar como novo proponente e conferindo ao antigo a oportunidade de avaliar os novos termos. Na fase de negociações preliminares, se houver troca de minutas de contrato entre as partes, para que elas não sejam consideradas como propostas, é sempre aconselhável que seja apresentada expressamente essa condição, fazendo constar no rodapé a informação “não vale como proposta”, por exemplo. SE A PROPOSTA FOI FEITA SEM PRAzO ESTIPULADO, ENTRE PESSOAS AUSENTES SE O PROPONENTE ESTIPULOU PRAzO PARA ANÁLISE DA PROPOSTA É considerada válida a aceitação que chegar ao conhecimento do proponente num prazo razoável a contar do recebimento da proposta pelo oblato. Para definir o que seria um prazo razoável, cada caso é analisado, sob o princípio da boa-fé objetiva, que deve reger as relações contratuais. Considera-se válida a aceitação ex- pedida pelo oblato dentro do prazo estipulado, independentemente da data em que o proponente a recebeu. 29 Direito Aplicado à Gestão – Capítulo 1 Contrato preliminar O contrato preliminar também é chamado de “promessa de contrato” ou “pré-contrato”. O seu objetivo é indicar a futura celebração de um contrato definitivo. Esse instrumento do direito contratual pode parecer sem qualquer utilidade. No entanto, casos que envolvem altas somas em dinheiro, por exemplo, as nego- ciações preliminares podem se desenrolar por um longo período. Assim, o pré- -contrato é importante, pois define claramente o compromisso de efetivar o contrato definitivo e indica, inclusive, se for de interesse das partes, os elementos básicos e já acordados do negócio em discussão entre elas. Dessa forma, uma vez assinado o contrato preliminar, não poderá qualquer das partes, injustificadamente, desistir da contratação, sob pena de ser obrigada a assinar o contrato definitivo ou pagar à outra parte indenização por perdas e danos, independentemente do estágio em que se encontram as negociações. Outra vantagem é que, apesar de haver a mesma necessidade de observar os requisitos subjetivos e objetivos que há em qualquer outro contrato, o Código Civil brasileiro, no artigo 462, prevê que a forma do pré-contrato pode ser definida livremente e é totalmente desvinculada da forma que a lei eventualmente exigir para o contrato definitivo. Você já observou como é comum, no mercado imobiliário, assinar contratos de promessa de compra e venda de imóveis? Eles são utilizados especialmente quando o pagamento é parcelado. Esse contrato pode ser celebrado por instrumento particular, e não necessariamente por instrumento público, ao contrário do que é exigido para a celebração de contrato de compra e venda definitivo. Qual seria a função desse tipo de contrato? O que ele pode garantir para ambas as partes? Com base nas informações que vimos, já podemos delimitar algumas diferen- ças entre as negociações preliminares, a proposta e o contrato preliminar no que diz respeito às obrigações. Observe: NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES PROPOSTA CONTRATO PRELIMINAR Não estipulam quaisquer obrigações entre as par- tes, nem mesmo a de celebrar o contrato em negociação. Obriga o proponente a cumprir o que propôs, caso o oblato aceite a proposta. Obriga ambas as partes a celebrarem o contrato definitivo que se encontra em negociação. 30 RESCISÃO DE CONTRATO DE TRABALHO PRELIMINAR GERA DEvER DE INDENIzAR A Justiça do Trabalho de Minas Gerais reconheceu a uma reclamante, que teve o seu pré-contrato de trabalho injustificadamente rescindido pela em-presa, o direito a uma indenização por danos materiais para cobrir os prejuízos sofridos. É que, na expectativa da contratação, já acertada com a reclamada, a reclamante pediu demissão do antigo emprego, sendo mais tarde informada de que não seria mais contratada, em razão dos problemas financeiros enfren- tados pela empresa. Entendendo estar configurado o ato ilícito e a culpa da empresa pelo rompimento do contrato preliminar de trabalho, o juiz de primeiro grau con- denou-a ao pagamento de danos materiais correspondentes aos valores de aviso prévio, indenização do seguro-desemprego, multa de 40% do FGTS e 1/12 de férias. A 2.a Turma do TRT manteve a decisão, pois ficou constatado no processo que houve a formação do contrato preliminar (pré-contrato) entre as partes, motivando a reclamante a pedir demissão do seu emprego anterior, ante a expectativa gerada pela ré. A prova documental revela envio de e-mail informando a data de início do trabalho na empresa e combinando um período de treinamento em outra cidade. A Turma concluiu, portanto, que a contratação da reclamante já havia se consumado, faltando apenas a formalização do contrato. “Não pode a re- clamada tentar exonerar-se de sua responsabilidade ao argumento de que a reclamante pediu demissão por sua única e exclusiva vontade” – destaca o relator do recurso, desembargador Márcio Flávio Salem Vidigal. O desembargador explica que, nos termos da legislação civil, a proposta de contrato obriga o proponente nos termos estipulados. Ele concluiu que a em- presa reclamada quebrou o princípio da boa-fé ao invocar problemas financeiros. “Ora, problemas dessa natureza não se apresentam da noite para o dia, pois de certo já era de conhecimento prévio da reclamada. E considerando que tal proce- dimento causou danos à reclamante, aquela deve ressarci-los”, frisa. ESTADO DE MINAS GERAIS. Justiça do Trabalho. Tribunal Regional do Trabalho – 3.a Região. Rescisão de contrato de trabalho preliminar gera dever de indenizar. Disponível em: <http://as1.mg.trt.gov.br/pls/noticias/ no_noticias.Exibe_Noticia?p_cod_noticia=995&p_cod_area_noticia=ACS>. Acesso em: 6 mar. 2008. Para saber mais sobre o que acontece antes de se chegar a uma decisão judicial, você pode consultar o processo no site do TRT, 3.a Região. Acesse http://www.mg.trt.gov.br e, no menu Processos, clique em Consulta unificada. Ali, digite o número do pro- Leitura complementar 31 Direito Aplicado à Gestão – Capítulo 1 Analisamos alguns procedimentos para a formação dos contratos. Desse modo, podemos ter subsídios para escolher, durante a realização dos futuros ne- gócios, o meio mais adequado à formalização de contratos com empresas ou pes- soas. cesso (00230), o ano (2007) e a vara em que ele foi julga- do (105). Cada etapa, desde a distribuição do processo, é descrita em ordem cronológica. Mesmo sendo difícil entender a linguagem jurídica a princípio, procure ler atentamente, pesquisar na Internet ou em dicionários as expressões que você desconhece. Assim, você vai perdendo o receio e, aos poucos, vai perceber que o direito não é tão complicado quanto pode parecer. Síntese Como sócio de uma empresa, você é procurado por uma multinacional para 1. apresentar uma proposta de realização da auditoria anual de balanço e contas. Recebida a solicitação, você envia sua proposta, via fax, no dia 13 de setem- bro, informando que a empresa dispõe do prazo de 10 dias para analisar os termos do documento apresentado. Com base na situação descrita, assinale a alternativa incorreta: Você será obrigado a cumprir a proposta se a multinacional expedir sua a) aceitação até o dia 23 de setembro, ainda que tenha sido expedida via correio e somente chegue a seu conhecimento no dia 27 do mesmo mês. Se a proposta for reenviada a você com alterações em seus termos, sig-b) nifica que a multinacional está apresentando nova proposta, salvo se ela deixar bem claro que não é essa sua intenção, mas, sim, apenas continuar as negociações. Uma vez aceita a proposta, caso a multinacional venha a desistir injustifica-c) damente do contrato, sem que você tenha dado início à prestação de seus serviços, você não terá direito ao pagamento de qualquer indenização por perdas e danos. Caso você não receba qualquer resposta referente à proposta apresenta-d) da, ela será considerada não aceita e sua empresa não tem o direito de exigir o pagamento de qualquer tipo de indenização por perdas e danos. Considerando a situação descrita na atividade 1 e colocando-se na posição de 2. gestor da empresa de auditoria ou da multinacional, à sua escolha, como você sugere que devam ser estipulados, contratualmente, o objeto do contrato a ser celebrado entre essas empresas e as obrigações de cada uma? Defina sua Atividades 32 BRASIL. Presidência da República. Código Civil brasileiro atualizado 2007. 1. ed. São Paulo: Escala, 2007. DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. ESTADO DE MINAS GERAIS. Justiça do Trabalho. Tribunal Regional do Trabalho – 3.a Região. Rescisão de contrato de trabalho preliminar gera dever de indenizar. Disponível em: <http://as1.mg.trt.gov.br/pls/noticias/no_noticias.Exibe_Noticia?p_cod_noticia=995&p_ cod_area_noticia=ACS>. Acesso em: 6 mar. 2008. KRUSHEWSKY, Eugênio. Teoria geral dos contratos civis. Salvador: JusPodivm, 2006. VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. posição, prepare as suas sugestões de cláusulas e envie-as para o fórum Ela- borando contratos: negociações preliminares, a fim de que, juntos, possamos construir uma minuta de contrato. Ainda com base na situação descrita na atividade 1, considere que se trata de 3. uma multinacional que tem faturamento anual na casa dos milhões de reais e que entrou em contato com sua empresa de auditoria em setembro para soli- citar a apresentação de uma proposta de auditoria do balanço e das contas do exercício a vencer no mês de dezembro. Você acredita que deveria sugerir, em vez da troca de propostas, a celebração de um contrato preliminar, enquanto são negociados os termos específicos dessa contratação? Compartilhe sua opinião no fórum Contrato preliminar: quando utilizar?. Referências Anotações Capítulo 1 TEORIA GERAL DOS CONTRATOS ExTINÇÃO E REvISÃO jUDICIAL DOS CONTRATOS Conteúdo programático Extinção e revisão judicial dos contratos Objetivos Promover a compreensão das diversas formas de extinção dos contratos. Fornecer subsídios para a elaboração da cláusula prevendo a possibilidade de resilição unilateral e das cláusulas resolutórias. Definir as hipóteses em que pode ocorrer a revisão judicial dos contratos. 34 Leia atentamente as seguintes cláusulas contratuais: O texto menciona dois possíveis motivos pelos quais o contrato poderia ser extinto. Com base nesse exemplo, pense sobre as seguintes questões: A extinção do contrato com base no que está previsto a) na primeira cláusula poderá ser justificada pelos mesmos motivos que constam na segunda cláusula? Se a contratante simplesmente não mais tiver interesse na contratação, com base em qual das duas cláusulas ela poderá pedir a extinção do contrato? E no caso de a contratada não cumprir alguma das b) obrigações que assumiu, com base em qual das cláusulas poderá a contratante extinguir o contrato? Se o contrato for extinto pelo motivo descrito na primeira c) cláusula ou pelo que é descrito na segunda, os efeitos serão os mesmos? A resposta para essa última pergunta é “não”, mas vamos explicar as razões disso mais adiante. Por enquanto, devemos ter em mente que, ainda que seja estipulado inicial- mente por prazo indeterminado,todo contrato é criado para ser extinto após cum- prir sua função. Assim, uma vez atingido seu objetivo inicial, ocorrerá naturalmente sua extinção, independentemente de ter sido celebrado com prazo determinado ou indeterminado. Contudo, existem outras formas de extinção dos contratos que não dependem de se atingirem seus objetivos: por vontade das partes (resilição), pelo descumpri- mento voluntário de alguma das cláusulas (resolução por inexecução culposa ou voluntária) ou pela impossibilidade de cumpri-las em decorrência de algum fato alheio à sua vontade (resolução por inexecução involuntária). 35 Direito Aplicado à Gestão – Capítulo 1 Se sua empresa assinou contrato com uma prestadora de serviços, mas, algum tempo depois, encontrou outra mais habilitada a atender às suas necessidades, como você deve proceder? resiliçãO Como já dissemos, ocorre a resilição do contrato quando uma ou ambas as partes assim decidirem, por não haver mais interesse de permanecerem vincula- das contratualmente, independentemente de alguma cláusula ter sido descumpri- da, de ter vencido o prazo ou de o objeto ter sido cumprido. A resilição pode ser considerada de natureza unilateral, quando desejada por apenas uma das partes; ou bilateral, quando desejada por ambas. Resilição bilateral De acordo com o artigo 472 do Código Civil, ocorre a resilição bilateral quando ambas as partes contratantes assinam um instrumento conhecido como “distrato”, que é um contrato destinado a regular a extinção de outro. Assim, em mais uma representação do princípio da autonomia da vontade, o direito con- tratual prevê que, do mesmo modo que as partes podem expressar livremente sua vontade de efetivar um contrato, podem querer se desvincular, bastando, para isso, assinar um distrato, que deve apresentar a mesma formalização do contrato. Resilição unilateral Pode ocorrer, contudo, de apenas uma das partes manifestar sua vontade de se desvincular do contrato, e a isso se denomina “resilição unilateral”. Em regra, segundo o princípio da força obrigatória dos contratos, ela não é possível se a outra parte não concordar; entretanto, se essa hipótese for prevista em lei – a exemplo das possibilidades e prazos de denúncia da locação previstos na Lei do Inquilinato – ou em cláusula do próprio contrato, a parte que deseja se desvincular pode notificar a outra de sua intenção, estipulando um prazo ao fim do qual ocorrerá a extinção. Apesar da aparente liberdade de prever no próprio contrato a resilição unila- teral, o direito determina, no artigo 473 do Código Civil, que quando uma das par- tes empreender investimentos altos, o direito à resilição unilateral pela outra parte somente poderá ser exercido depois de um certo tempo de relação contratual: Parágrafo único – Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos. Se o contrato for extinto de forma regular, por resilição unilateral, nenhuma das partes pode exigir indenização, da mesma forma que ocorre no distrato. 36 Resolução por inexecução culposa O que se pode fazer, por exemplo, quando um fornecedor sempre entrega as mercadorias em atraso, descumprindo o prazo definido em contrato? Pode ocorrer a resolução por inexecução culposa quando não for cumpri- da alguma das cláusulas do contrato. Dizemos que isso pode ocorrer, pois a parte prejudicada pode também optar por manter o contrato em vigor e exigir, judicial ou extrajudicialmente, que o devedor cumpra forçadamente a cláusula que foi desrespeitada. Se optar pela extinção do contrato, contudo, essa resolução ocorrerá de forma distinta, dependendo de estar ou não prevista, ou seja, de ser possível invocar uma cláusula resolutória expressa ou de ser necessário recorrer à cláusula resolutória tácita. Em ambos os casos, a parte prejudicada pode exi- gir indenização devido a eventuais perdas e danos que possa ter sofrido com a extinção do contrato. Cláusula resolutória expressa – Aquela que consta em contrato, prevendo que ele será automaticamente extinto no caso de descum- primento. Cláusula resolutória tácita – Mesmo não estando a resolução pre- vista no texto contratual, de acordo com o disposto no artigo 474 do Código Civil brasileiro, é inerente a todos os contratos a possibilidade de resolução pelo descumprimento de alguma de suas cláusulas, e a essa possibilidade chamamos “cláusula resolutória tácita”. Em certos casos, exige-se que a parte prejudicada notifique a outra que o contrato foi desrespeitado, informando um prazo para que esta cumpra ou prove que já havia cumprido a cláusula em questão. Isso ocorre quando o prazo não ficou claramente estabelecido na cláusula resolutória expressa. Se o prazo estiver bem definido, o contrato pode ser considerado extinto sem qualquer notificação. É uma grande desvantagem não prever expressamente no contrato a possibilidade de sua extinção caso uma das cláusulas não seja cumprida. Ainda de acordo com o artigo 474, ao recorrer à cláusula resolutória tácita, é necessário um processo judicial específico, o que pode ser bastante demorado. Por outro lado, se houver uma cláusula no contrato prevendo que ele será extinto em caso de descumprimento, ocorre a resolução de pleno direito, ou seja, sem necessidade de se notificar à parte infratora para que ela cumpra sua obrigação ou justifique o descumprimento. 37 Direito Aplicado à Gestão – Capítulo 1 Caso fortuito ou de força maior – O Código Civil brasileiro define o caso fortuito ou de força maior, no parágrafo único de seu artigo 393, como sendo o “fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir”. Com base nesse conceito, pode-se entender como qual- quer fato imprevisível e inevitável, natural ou decorrente da atuação de terceiros ou do pró- prio Estado, alheio à vontade das partes, que torne impossível a manutenção do contrato, que será inevitavelmente extinto. Resolução por inexecução involuntária Imagine que uma empresa se comprometeu, em contrato, a entregar um re- latório dentro de um determinado prazo; porém, um curto-circuito na rede elétrica danifica os computadores e o trabalho é perdido. Como essa empresa deve agir? Como já mencionamos, é possível que alguma cláusula do contrato seja des- respeitada por uma das partes por motivos alheios à sua vontade. A esse caso chamamos “inexecução involuntária”. Ao contrário do que ocorre com a culposa, em casos de inexecução involun- tária, pode-se fazer constar no contrato uma cláusula que exima a outra parte de pagar à parte prejudicada indenização pelos eventuais prejuízos que esta venha a sofrer com a extinção do contrato. A inexecução involuntária pode ser justificada de duas formas: quando se trata de um caso fortuito ou de força maior ou quando existe onerosidade excessiva. Onerosidade excessiva – Ocorre quando os valores a serem gastos por uma das partes se tornam muito altos, devido a fatos não previstos e impossíveis de serem evitados. O artigo 478 do Código Civil determina que: Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordiná- rios e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contra- to. Uma indústria tem um contrato em que se compromete a fornecer brinquedos para uma loja de departamentos. No entanto, um terremoto faz com que sua fábrica seja destruída, e isso a impede de cumprir com a entrega. 38 No quadro a seguir, apresentamos de maneira esquemática as formas de extinção dos contratos que vimos: RESILIÇÃO RESOLUÇÃOPOR INExECUÇÃO CULPOSA RESOLUÇÃO POR INExECUÇÃO INvOLUNTÁRIA Quando ocorre Quando uma (resilição unilateral, nos termos do que estiver previsto na lei ou no contrato) ou ambas as partes (resili- ção bilateral, mediante a celebração de distrato) resolvem extinguir o con- trato, sem justo motivo. Quando uma das partes descumpre alguma das obriga- ções assumidas no contrato. Quando uma ou ambas as partes se veem impossibilita- das, por razões alheias à sua vontade, de continuar cumprin- do as obrigações assumidas em contrato, ou quando o cumprimento destas se torna excessivamente oneroso a uma delas. Efeitos Não gera o direito ao recebimento de qualquer indenização, salvo se essa possibilidade esti- ver prevista em contrato. Gera o direito ao recebimento, pela parte inocente, de indenização por perdas e danos. Se as partes tiverem se exi- mido, em cláusula contratual expressa, da obrigação de responder pelas consequên- cias da resolução por caso fortuito ou de força maior, a extinção do contrato, por esse motivo, não gerará o direito ao recebimento de qualquer inde- nização. No caso de impossibilidade de continuar cumprindo as obrigações assu- midas em contrato, em razão de terem se tornado excessivamente onerosas, não querendo extinguir de imediato o vínculo contratual, a parte prejudicada pode pedir a revisão judicial do contrato, caso a outra parte não concorde em revisá-lo de comum acordo, a fim de readequar a relação contratual desequili- brada à vontade das partes que levou à sua formação, conforme estudaremos adiante. Revisão judicial dos contratos Conforme estudamos no princípio da força obrigatória dos contratos, inicial- mente a revisão dos contratos só podia ocorrer mediante consenso entre as partes contratantes. Contudo, em flexibilização nesse princípio, surgiu no direito a possi- bilidade de revisão judicial dos contratos, que poderá ocorrer, como dissemos an- teriormente, quando um elemento inusitado e surpreendente ou uma circunstância nova surge no curso da relação contratual, colocando em extrema dificuldade um dos contratantes ou tornando excessivamente onerosa sua prestação em benefício da outra parte. Com a possibilidade de revisão judicial dos contratos, que tem o objetivo de readequar a relação contratual abalada, o direito previu alguns requisitos a serem observados por quem pretende invocar essa revisão: 39 Direito Aplicado à Gestão – Capítulo 1 CONTRATO ONEROSO A PRAzO OU DE DURAÇÃO O contrato a ser revisto deve ter sido estipu- lado por prazo determinado ou indeterminado, excluindo-se, obviamente, da possibilidade de revisão os contratos de cumprimento instan- tâneo, bem como aqueles estipulados a título gratuito (a exemplo da doação). ACONTECIMENTOS ExTRAORDINÁRIOS E IMPREvISÍvEIS A imprevisão justificadora do pedido de revisão judicial é aquela que refoge totalmente às pos- sibilidades de previsibilidade, analisadas à luz da boa-fé objetiva. Esse acontecimento extra- ordinário e imprevisível deve ser um fenômeno global, que atinge a sociedade em geral ou um segmento palpável da sociedade, e não algo que interfira apenas no negócio de uma das partes contratantes, a exemplo do simples desemprego ou da má gestão dos negócios da empresa. ONEROSIDADE ExCESSIvA DA PRESTAÇÃO DO DEvEDOR, EM BENEFÍCIO DO CREDOR Deve-se provar que a ocorrência dos aconteci- mentos definidos anteriormente aumenta o sacri- fício do devedor, tornando a prestação a que se obrigou excessivamente onerosa, e produz um benefício exagerado e injustificado ao credor. AUSêNCIA DE CULPA DO DEvEDOR Os acontecimentos causadores da onerosidade excessiva devem estar desvinculados da ativida- de negocial do devedor, que não deve contribuir, em hipótese alguma, para a má gestão de seus negócios; por exemplo, para o desequilíbrio por ele alegado na relação contratual. Existindo esses requisitos e desejando o devedor preservar o vínculo con- tratual, pode pedir a revisão judicial do contrato, buscando apenas a readequação deste aos seus justos termos, aqueles efetivamente buscados pelas partes quando primeiro expressaram sua vontade de se relacionarem contratualmente. CONSTRUTORA DEvE ARCAR COM vALOR DO IMóvEL NÃO ENTREGUE E DESPESAS DE PUBLICIDADE A construtora arca com os ônus advindos do descumprimento do prazo de entrega do imóvel e as despesas de publicidade, administração e correta- gem são perdas da empresa. O entendimento da 4.a Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) é de que, se a culpa é exclusiva da construtora, não se pode impor perda de valores ao comprador. A Construtora Tenda recorreu ao STJ contra decisão do Judiciário mineiro, que considerou abusiva multa por resci- são contratual, reduzindo-a de 40% para 5%. Leitura complementar 40 Com base na análise das diversas formas de extinção dos contratos, podemos obter subsídios que melhor nos guiarão na estipulação, durante a celebração de nossos contratos futuros, de cláusulas mais adequadas, prevendo expressamente as possibilidades de resilição unilateral ou de resolução do contrato celebrado por inexecução voluntária de uma das partes. Você contrata uma empresa de contabilidade para fazer uma audição das con-1. tas de sua pequena empresa. No contrato, fica acordado que todo o processo de auditoria será concluído em um mês, sendo o pagamento realizado em duas parcelas, uma no ato da assinatura do contrato e a outra ao fim dos serviços, após a entrega do relatório de auditoria pela empresa contratada. A empresa de contabilidade inicia os trabalhos em 15 de janeiro, mas, chegado o dia 15 de fevereiro, não entrega o relatório, conforme previsto em contrato. Síntese Atividades Alega que, sendo o objetivo principal dos compradores o de rescindir uni- lateralmente o contrato imobiliário, devem prevalecer, na íntegra, as cláusulas contratuais acertadas, entre as quais a que dispõe sobre a retenção de 40% sobre os valores pagos, em caso de desistência. Ressaltou não ser justo que a empresa arque com as despesas de corretagem, publicidade e propaganda feitas com a venda que foi desfeita. Pretende a empresa a retenção integral, ou seja, 40% do valor do bem. A compradora também se insurgiu contra a decisão mineira. Sônia San- tos reclama da retenção de 5% do valor do imóvel para atender às despesas de publicidade, administração e corretagem determinada pelo Tribunal de Jus- tiça estadual. Defende que a cláusula é nula, pois ofende o Código de Defesa do Consumidor. Ao analisar ambos os recursos, o ministro Aldir Passarinho Junior, relator do caso no STJ, deu razão à compradora: “Ora, se não houve re- ciprocidade na culpa, não vejo como se imputar perda de valores em desfavor da autora, que teve a rescisão decretada por inadimplência da construtora”. O ministro destacou que não se trata, no caso, de desistência da aqui- sição por mera vontade da compradora, mas por descumprimento do prazo na entrega da obra, “o que faz a construtora arcar, exclusivamente, com os ônus daí advindos. Devolve, corrigidamente, os valores recebidos e fica com o imóvel para si. As despesas que efetuou, nesse caso, são perdas suas”. Dessa forma, determinou à construtora o pagamento integral dos valores pagos. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Construtora deve arcar com valor do imóvel não entregue e despesas de publicidade. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp? tmp.area=368&tmp.texto=74754&tmp.ano=2004&tmp.mes=04>. Acesso em: 7 abr. 2008. 41 Direito Aplicado à Gestão – Capítulo 1 Com base nessa situação, assinale V para as alternativas verdadeiras e F para as falsas. Caso a empresa de contabilidade não entregue o relatório de auditoria no ( ) prazo, você poderá notificá-la de que deseja
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