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Componentes de um Sistema de Serviços de Saúde: População, Infraestrutura, Organização, Prestação de Serviços, Financiamento e Gestão Rodrigo Ribeiro (RESUMO) INTRODUÇÃO O conjunto de atividades voltadas para a solução de problemas de saúde constitui a política de saúde, que representa a resposta organizada da sociedade, em especial do Estado, aos problemas de saúde. O traço mais marcante do desenvolvimento da política de saúde é a multiplicação dos elos sociais de interdependência entre agentes públicos e agentes privados, com o objetivo de um empenho duradouro e coletivo para definir e controlar problemas de saúde. Com a Constituição Federal de 1988, a saúde passa a integrar o sistema de seguridade social, respondendo às reivindicações de um importante movimento popular. Em 1988, a Constituição criou, formalmente, o Sistema Único de Saúde (SUS). Os legisladores optaram por uma organização sistêmica das ações e dos serviços de saúde. CONCEPÇÃO DE SISTEMA Define-se sistema, como qualquer conjunto de elementos que interagem com vistas a alcançar objetivos comuns. Nessa definição, tão importante quanto a existência de elementos-parte é a existência de fluxos (de matéria, energia, informação etc) entre os elementos. Se os fluxos são restritos a seus componentes, fala-se de sistema fechado. Se há fluxos entre os ambientes interno e externo ao conjunto, fala-se de sistema aberto. A sinergia do sistema diz respeito a boa integração entre seus componentes e faz com que seja possível cumprir sua finalidade e atingir seu objetivo com eficiência. A falta de sinergia, por sua vez, causa o mau funcionamento do sistema e leva a sua falência e morte. Ainda que os sistemas possam ser estudados mediante a observação de cada uma de suas partes, o mais importante é adotar uma visão holística, observando o sistema como um todo, um fenômeno único e irredutível a suas partes. Resumindo, a ideia de sistema, remete a um conceito dinâmico e não hierárquico de conjunto, que não privilegia nem as partes nem o todo. SISTEMA DE SAÚDE E SISTEMA DE SERVIÇOS DE SAÚDE A noção de sistema é bastante utilizada na área da saúde. Os conceitos de sistemas de saúde e de sistemas de serviços de saúde são tanto usados como sinônimos quanto como noções distintas, em que o segundo é um subsistema do primeiro. Sistema de saúde designa o conjunto dos elementos interligados que expressam, determinam e condicionam o estado de saúde de indivíduos e populações. Já sistema de serviços de saúde nomeia o conjunto dos elementos inter-relacionados que operacionalizam a resposta social aos problemas de saúde, ou seja, a política de saúde. O sistema de saúde é definido como a parte da sociedade que tem a finalidade específica de “melhorar continuamente a quantidade e a qualidade de vida dos cidadãos no que se refere ao fenômeno saúde- doença”. Para isso, tem a função essencial de realizar ações de saúde, em vários níveis: promoção, proteção (ou prevenção de doenças e agravos), recuperação e reabilitação da saúde. Essas ações são executadas pelo sistema de serviços de saúde ou por outros subsistemas da sociedade. Estruturalmente, o sistema de saúde é composto por três elementos: a população, a prestação de serviços e os benefícios obtidos. Agregam-se aos componentes fundamentais os insumos (recursos materiais e humanos) e as restrições (recursos financeiros e opções políticas). Com a criação do SUS, em 1988, ressurge a ideia de organizar os serviços de saúde em um sistema. Todas as ações de saúde passam a ser de responsabilidade do Ministério da Saúde, na esfera federal, e das secretarias estaduais ou municipais da saúde, nos estados e municípios, respectivamente. A implantação do SUS encontra, contudo, um contexto bastante desfavorável: uma profunda crise econômica, que reduz a possibilidade de expansão do investimento em saúde, e a opção política da sociedade brasileira pelo neoliberalismo. Do ponto de vista da organização sistêmica, não há dúvida que o SUS representa um avanço: não só tem comando único, como estabelece mecanismos inovadores de coordenação de ações entre as três esferas de governo, representados pelas Comissões Intergestores Tripartite (ministério, secretarias estaduais e secretarias municipais), no plano federal, e Comissões Intergestores Bipartites (secretaria estadual e secretarias municipais), no plano estadual. No entanto, esses mecanismos administrativos de coordenação não são suficientes para dar ao SUS o grau de integração necessário ao cumprimento de sua finalidade. As tentativas de construção real do SUS estão focadas na organização de um sistema que, de fato, seja um conjunto bem articulado de elementos que promova e recupere a saúde das pessoas. As dificuldades relacionadas à fragmentação do sistema não são exclusivas do SUS brasileiro. A resposta a essa fragmentação tem sido, em geral, a proposição de sistemas integrados de saúde. REDES E SISTEMAS DE SAÚDE Mais recentemente, os estudiosos e os formuladores de políticas de saúde têm lançado mão da teoria de redes (popularizada após a disseminação do uso dos computadores pessoais) para enfrentar as dificuldades relacionadas à integração dos sistemas de serviços de saúde. O precursor das proposições de organização de redes de atenção à saúde propõe a articulação de diversos serviços de saúde (serviços domiciliares, centros de atenção primária, centros de atenção secundária, hospitais e serviços suplementares) em um conjunto único e coordenado. Essas propostas são postas em prática com a implantação de sistemas nacionais de serviços de saúde. Atualmente, análises científicas e políticas apontam para a fragmentação dos sistemas de saúde, com o comprometimento da capacidade de resposta aos problemas de saúde, questionando sua efetividade e eficiência. Nesse contexto, destaca-se a incoerência entre a persistência de um sistema organizado para atender, sobretudo, a condições agudas de saúde e um perfil epidemiológico caracterizado pelo envelhecimento da população e pela alta prevalência das doenças crônicas. Dessa forma, a adequação da organização dos serviços ao atual perfil epidemiológico impõe um elevado grau de integração entre os diferentes serviços ou pontos de atenção. Para superar esse desafio de integração, os formuladores e os estudiosos de políticas de saúde buscam aplicar a ideia de redes à organização da atenção à saúde. Redes de atenção à saúde são organizações poliárquicas de conjuntos de serviços de saúde, vinculados entre si por uma missão única, por objetivos comuns e por uma ação cooperativa e interdependente, que permitem ofertar uma atenção contínua e integral a determinada população. A OMS identifica uma série de características das redes de serviços de saúde: articulação funcional de unidades prestadoras de distinta natureza; organização hierárquica segundo níveis de complexidade; uma região geográfica comum; comando de um operador único; normas operacionais, sistemas de informação e outros recursos logísticos compartilhados; e um propósito comum. Sendo assim, na área da saúde, rede significa sistema bem integrado, composto por elementos interdependentes, que tem o propósito de oferecer atenção contínua à saúde de uma população definida, incluindo desde as ações voltadas à prática clínica individual até as ações intersetoriais dirigidas aos determinantes sociais da saúde. COMPONENETES DE UM SISTEMA OU DE UMA REDE DE SERVIÇOS DE SAÚDE O sistema de saúde pode ser dividido em três elementos fundamentais: a população, a prestação deserviços e os benefícios obtidos, e mais dois elementos de suporte, os insumos (recursos materiais e humanos) e as restrições (recursos financeiros e opções políticas). Seus componentes são infraestrutura, organização, prestação de atenção de saúde, apoio econômico e gestão. Mais recentemente, Lobato e Giovanella propõem a seguinte composição para os sistemas de saúde: cobertura populacional e catálogo de benefícios, rede de serviços, organizações, recursos econômicos e humanos, insumos, tecnologia e conhecimento. Tratando de redes, seus componentes são a população, a estrutura operacional e o modelo de atenção. A estrutura operacional das redes de atenção, por sua vez, é composta de cinco elementos: a atenção primária à saúde; os pontos de atenção à saúde secundários e terciários; os sistemas de apoio; os sistemas logísticos; e o sistema de governança da rede de atenção à saúde. O modelo de atenção à saúde refere-se ao funcionamento das redes e à articulação das relações entre as subpopulações, estratificadas por riscos, e os diferentes tipos de intervenções sanitárias. Para descrição e análise da situação atual do SUS, Paim et al (2011) definem quatro componentes: financiamento, organização e oferta de serviços, infraestrutura e acesso e uso dos serviços. População A população é o componente mais importante de qualquer sistema ou rede de saúde, pois a relevância dos serviços de saúde é dada por sua capacidade de resolver problemas de saúde dos indivíduos e das coletividades. Os sistemas de saúde tem melhor desempenho quando são organizados territorialmente. Assim, as redes de saúde devem ter delimitadas suas áreas de abrangência com as populações pelas quais são responsáveis, de forma que a falta de delimitação da população sob sua responsabilidade é um dos maiores problemas dos atuais sistemas de saúde. A Estratégia de Saúde da Família no Brasil representa um esforço de fortalecimento da atenção primária e de transformação do sistema de saúde em uma rede bem integrada. Todo sistema de saúde necessita de pessoal e recursos físicos, materiais e imateriais para a prestação de serviços. Infraestrutura Os recursos essenciais podem ser classificados em quatro categorias: trabalhadores da saúde; estabelecimentos; medicamentos, equipamentos e outros insumos; e conhecimento. Trabalhadores de Saúde “Profissionais de saúde” é uma expressão que designa aquelas pessoas que detêm o direito exclusivo de exercício de uma atividade laboral, com autonomia para (auto)regulá-la. A expressão “trabalhadores da saúde” designa as pessoas que estão, de fato, exercendo atividades laborais direta ou indiretamente relacionadas com a saúde. Inclui os profissionais de saúde, mas também profissionais de outras áreas. Trabalhadores de saúde seriam então as pessoas que atuam nos serviços de saúde, compondo e conformando os sistemas. O sucesso das ações de saúde depende, portanto, das pessoas que realizam suas atividades laborais em organizações de saúde. As desigualdades regionais e entre os setores públicos e privados são apenas alguns dos problemas relativos aos trabalhadores de saúde. Além desses problemas de cobertura, a produtividade dos trabalhadores é baixa, em particular nas regiões com maiores necessidades. Suas causas mais comuns são a falta de trabalho em equipe, as dificuldades de manutenção de equipamentos e de suprimento de insumos, a ausência de supervisão e o planejamento inadequado. Há também problemas de qualidade técnica. Por fim, uma das dimensões do desempenho que apresenta mais problemas é o fato da rotatividade dos trabalhadores ser intensa, e os profissionais raramente permanecem tempo suficiente para criar vínculos com as comunidades a que atendem. Outros problemas comuns são a baixa remuneração, a precarização do emprego, o descompromisso com a população e a falta de condições adequadas de trabalho. Estabelecimentos Os estabelecimentos representam a infraestrutura física da rede de saúde. São os locais destinados à realização de ações de saúde, coletivas ou individuais. Há uma grande variedade de estabelecimentos, considerando os tipos de serviços, os portes e as densidades tecnológicas. Exemplos de tipos de estabelecimentos assistenciais: unidade de saúde da família, posto de saúde, centro de saúde, consultório isolado, unidade móvel, ambulatório de especialidade, unidade de vigilância em saúde, farmácia, pronto- socorro, hospital etc. Exemplos de tipos de estabelecimentos administrativos: secretaria de saúde, central de regulação de serviços de saúde e cooperativa. Medicamentos, equipamentos e outros insumos 1) Medicamentos São os insumos que mais tem sido objeto de políticas públicas no Brasil. Em 1970 foi criada a Central de Medicamentos (Ceme) destinada a promover e organizar o fornecimento, por preços acessíveis, de medicamentos as pessoas que não pode adquirir os medicamentos por causa da sua condição econômica. Em 1976, a Ceme elaborou a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) e em 1987, o Programa de Farmácia Básica. Porém em 1997 a Ceme foi extinta. Em 1998, o Ministério da Saúde editou a Política Nacional de Medicamentos propondo assegurar o acesso universal aos medicamentos essenciais, garantindo a qualidade, eficácia e segurança dos mesmos e promover o seu uso racional. Em 1999 estabeleceu-se no país o medicamento genérico, facilitando o acesso aos medicamentos e ampliando o mercado farmacêutico. Em 2011 foi regulamentada fazendo com que a assistência farmacêutica passasse a ser de responsabilidade do SUS. Logo o SUS deve receber prescrição feita por profissional no exercício regular de suas funções no SUS, em conformidade com a Rename e os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas. Em 2003, os programas Farmácia Popular e Aqui tem farmácia popular ampliou a oferta de medicamentos para DM e HAS a preços subsidiados. Em 2011 o Programa Saúde Não Tem Preço tornou gratuito esses medicamentos e mais 14 outros farmacos foram subsidiados. Apesar da crescente estruturação das políticas a assistência farmacêutica ainda apresenta problemas de acesso, problemas relativos a racionalidade do uso, problemas de gestão e dificuldades de operacionalização pela Anvisa do monitoramento de preços, do controle da qualidade, da anuência prévia a concessão de patentes e da restrição da propaganda. 2) Vacinas e soros Em 1973 foi criado o Programa Nacional de Imunização (PNI), nascido na campanha da erradicação da varíola. Com o PNI já se conseguiu controlar a poliomielite e reduziu a incidência de sarampo, difteria, coqueluche e tétano, entre outras. O Brasil tem uma importante capacidade produtiva, de modo que 95% das doses de vacinas aplicadas pelo SUS são produzidas por laboratórios públicos brasileiros. 3) Sangue e hemoderivados A epidemia de AIDS e a criação do SUS mudaram o perfil de falta de controle de qualidade do sangue e hemoderivados. A constituição de 1988 através do artigo 199 vedou todo tipo de comercialização de órgãos, tecidos e substâncias humanas, incluindo sangue e seus componentes. Em 2001 a Política Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivados passa a orientar a estruturação da Rede Nacional de Serviços de Hemoterapia e Laboratórios de Referencia para controle de qualidade a fim de garantir a autossuficiência. Em 2004, a empresa brasileira de hemoderivados e biotecnologia foi criada. Atualmente a hemorrede nacional ainda tem umaprodução abaixo da necessidade do país, que tem recorrido a importação de hemoderivados. 4) Equipamentos Estão concentrados no setor privado não contratado pelo SUS. Mais concentrado no SE e nas capitais, a desigualdade é a principal característica da oferta de equipamentos. Existe uma expansão da indústria nacional a partir de 1990, mas a demanda também é crescente. Por isso o Governo Federal tem buscado estimular o investimento privados, nacional e estrangeiro, na indústria de equipamentos. Conhecimento A maior parte do conhecimento relevante para profissionais e gestores da saúde está no senso comum, mas parte significativa tem origem na prática científica. Em todo o mundo, os investimentos em pesquisa em saúde são vultosos e crescentes. Em 2004 o Brasil adotou uma Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde e uma Agenda Nacional de Prioridade de Pesquisa em Saúde, aumentando o investimento público e a produção científica. Porém o fortalecimento da base cientifica e tecnológica no SUS ainda é um desafio. Organização dos serviços de saúde Organização se refere a disposição dos recursos humanos e tecnológicos mobilizados para a realização das ações de saúde. No Brasil, tem papel importante na organização dos serviços as secretarias estaduais e municipais, além do Ministério da Saúde. Há também um forte setor privado, de planos e seguros de saúde, que organiza seus recursos de acordo com a lógica do lucro. A organização no SUS se esquematiza em assistência a saúde, vigilância em saúde, políticas e programas especiais e política de humanização da atenção especializada. Prestação de serviços ou modelo de atenção a saúde Prestação de serviços é o conjunto dos processos de trabalho por meio dos quais os trabalhadores de saúde atendem as demandas e as necessidades dos usuários e da população. Isso engloba ações de promoção da saúde, de prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças e agravos, e de reabilitação da saúde. Não se pode esquecer que a estrutura do sistema é essencial para a realização das práticas técnico-assistenciais da prestação de serviço. Na prática a prestação de serviços tem como modelo dominante de atenção sustentado pela lógica do atendimento a demanda espontânea. Esse modelo é centrado na figura do médico e apresenta com características principais o individualismo, o biologista, o curativismo, o mercantilismo, a anistrocidade da prática médica, a mercantilização de problemas sociais, o consumismo de produtos e serviços diagnósticos e terapêuticos, e a participação passiva e subordinada dos consumidores. Em contraste existe o modelo sanitarista caracterizado por intervenções dirigidas e problemas da saúde inalcançáveis pela atenção médica individual (campanhas e programas tradicionais de saúde pública). O SUS tem experimentado modelos alternativos de atenção a saúde como o modelo em defesa da vida e as ações programáticas de saúde, que focalizam a micropolítica dos processos de trabalho em saúde, o modelo de promoção a saúde e as cidades saudáveis, que enfatizam a formulação de macropolíticas sociais, e a vigilância da saúde e a estratégia de saúde da família, que privilegiam os aspectos técnicos e organizacionais das práticas de saúde, e a oferta organizada, a organização de distritos sanitários ou a distritalização e o acolhimento. A implantação de qualquer um deles é complexa e exige mudanças não apenas de ordem técnica, mas também de ordem política. Financiamento Ao longo do sec XX a maioria dos países optou por algum tipo de seguro para financiar os sistemas de saúde. existem 3 tipos de modelo de financiamento - seguridade social, o seguro social e o seguro privado. Seguridade social, a exemplo do NHS britânico, é baseado no princípio da saúde como direito humano, que assegura o acesso universal aos serviços por meio de mecanismos de adscrição territorial de clientela e de referência e contrarreferência, financiado principalmente por impostos diretos, como o imposto de renda. O seguro social é regido pela ética da solidariedade, assegura o acesso aos serviços as pessoas que contribuem para seu financiamento, por meio de descontos nos salários e de pagamentos editos pelas empresas (Inamps). O seguro privado que se baseia na ideia de que o cuidado a saúde é uma responsabilidade individual e que deve ser custeado por quem usa o serviço e no fato de que a incerteza inerente ao estado de saúde recomenda a formação de poupança para os momentos de necessidade (modelo dos EUA). O SUS é financiado por meio do orçamento da Seguridade Social. As principais fontes de recursos são a Contribuição Sobre o Lucro Líquido (CSLL) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Confins). A baixa participação dos gastos públicos no financiamento da saúde explica a situação de subfinanciamento do SUS. A gestão financeira do SUS se organiza por meio dos fundos - nacional, estadual e municipal - da saúde. Os fundos são uma modalidade de gestão que reúne em um só caixa todas as receitas que se destinam a realização de um determinado serviço. Esses recursos financeiros do SUS segue um ciclo orçamentário que começa com a elaboração pelo Poder Executivo do Plano Plurianual, da Lei de Diretrizes Orçamentárias e da Lei Orçamentária Anual. Essas peças são submetidas ao Poder Legislativo e uma vez aprovadas retornam ao Executivo para a elaboração e execução. O ciclo se fecha com o controle da gestão orçamentária e finanças pelo Poder Legislativo e dos Tribunais de Contas. Metade dos recursos do SUS é alocada nas ações de assistência especializada, o que é 3x mais que o destinado a atenção básica. Gestão ou governança e regulação Gestão inclui desde a elaboração de políticas até a execução das ações, passando pela definição de programas. As ações de gestão se desenvolvem em 3 dimensões: política, tecnica e administrativa. Na saúde, a dimensão política envolve decisões sobre a alocação de recursos, o comando das instituições gestoras e a organização dos processos de trabalho e do pessoal. A dimensão técnica abarca a formulação de políticas e programas de saúde tecnicamente consistentes, a incorporação das ações programadas a rotina organizacional e o fortalecimento das atividades de planejamento e avaliação. A dimensão administrativa engloba a formulação da política de pessoal, o fortalecimento da autonomia financeira da instituição gestora e a gestão ddd aquisição e manutenção de equipamentos e materiais. Governança designa o ato de governar, o exercício da autoridade política e o uso dos recursos institucionais para gerir os negócios do Estado e atender as necessidades da sociedade. É o ato de bem governar - com responsabilidade, efetividade, qualidade, legalidade e honestidade - as relações entre a população, os recursos e os serviços de saúde, de modo a articulá-los em função do objetivo de cuidar da saúde. A regulação são as disposições (em geral legais) que criam direitos e deveres, definindo responsabilidades. Na saúde são muitas as disposições regulatórias, a começar pela Lei Orgânica, passando pelos códigos de ética das profissões até chegar as inúmeras portarias ministeriais. O Conass define como funções essenciais de saúde pública o monitoramento, análise e avaliação da situação de saúde, a vigilância, investigação, controle de riscos e danos a saúde, a promoção da saúde, a participação social em saúde, o desenvolvimento de políticas e capacidade institucional de planejamento e gestão pública da saúde, a capacidadede regulação, fiscalização, controle e auditoria em saúde, a promoção e garantia do acesso universal e equitativo aos serviços de saúde. DESAFIOS PARA A EFETIVAÇÃO DE UM SISTEMA OU DE UMA REDE DE SAÚDE NO BRASIL Os desafios para a efetivar o SUS são os desafios de organização de um sistema integrado. As diferenças sociais ainda persistem no país o que dificulta a igualdade do acesso, é necessário priorizar uma atenção seguindo a equidade de acesso, é necessário dispor de estabelecimentos, unidades de prestação de serviços, pessoal capacitado e recursos de diversas ordens, e por fim de suporte financeiro e político ao SUS para que ele não se deteriore e desqualifique. A coexistência de planos privados está minando os esforços de construção do SUS universal, integral e igualitário. A constatação da incapacidade dos sistemas fragmentados de oferecer serviços e ações que tenham impacto positivo sobre os problemas de saúde do mundo contemporâneo estimula a reafirmação das políticas universais de saúde. Apesar do SUS ter atingido o estatuto de política de Estado e modelo exemplar no âmbito internacional, a fragilidade de seus suportes financeiros, organizacionais e tecnológicos interroga o futuro do SUS e da própria política de saúde, como resposta organizada da sociedade e do Estado aos problemas de saúde das pessoas.
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