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Nota de Aula - CRIME TENTADO

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UNIVERSIDADE DE FORTALEZA 
Direito Penal I (PARTE GERAL) 
Período: 2013.1 
Nota de Aula 
Prof. Antonio Sergio 
 
CRIME TENTADO (CONATUS) 
 
1. CONCEITO: “o crime se diz tentando quando o agente inicia a execução, 
mas não consegue a consumação desejada por circunstâncias alheias à sua 
vontade (art. 14, II, CP)” (Luiz Flavio Gomes & Antonio Garcia-Pablos, 2009, p. 
344). A tentativa, portanto, “é a realização incompleta do tipo penal” 
(Mirabete, 2013, p. 144). Daí o crime tentado ser chamado de delito 
incompleto. 
 
2. REQUISITOS: são três: 
 
a) Início de execução do crime (atos executórios); 
b) Não consumação; 
c) Circunstâncias alheias à vontade do agente 
 
3. Natureza Jurídica da Tentativa: 
 
a) Sob o enfoque da tipicidade: a tentativa é uma norma de 
adequação típica por subordinação mediata ou indireta (norma de 
extensão temporal da figura típica); 
b) Sob o enfoque da teoria da pena: é uma causa de diminuição 
obrigatória da pena. 
 
4. Punibilidade da Tentativa: há três teorias acerca do assunto: 
 
a) Teoria subjetiva: o que importa (para a punição da tentativa) é a 
intenção do agente e, portanto, a tentativa deve ser punida com a 
mesma pena do crime consumado; 
b) Teoria da impressão: “a tentativa já afeta o sentimento de 
segurança jurídica” (Luiz Flavio Gomes & Antonio Garcia-Pablos, 
2009, p. 350). Pode-se punir a tentativa de forma mais branda que o 
crime consumado (é uma faculdade e não uma obrigação). 
c) Teoria Objetiva: fundamenta a tentativa no risco concreto criado 
para o bem jurídico. A punibilidade do crime tentado deve ser menor 
que o consumado (obrigatoriamente). O Código Penal, no artigo 
18, parágrafo único, adotou esta teoria, posto ser tentativa uma 
causa obrigatória de diminuição da pena. Excepcionalmente, pune-
se a tentativa como um delito autônomo, e, portanto, com a mesma 
pena do delito consumado, como é o caso dos chamados crimes de 
empreendimento (são os delitos de atentados), a exemplo do art. 
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352, CP. Acrescente-se que, ainda, no campo da excepcionalidade, 
não se pune sequer a tentativa no caso das Contravenções Penais. 
 
 OBS: Acerca da punibilidade do crime tentado, Luiz Flavio Gomes & 
Antonio Garcia-Pablos, 2009, p. 350 sintetiza o assunto: “em regra a tentativa é 
punida com a pena do crime consumado, diminuída de um a dois terços. 
Excepcionalmente, a tentativa tem a mesma pena do crime consumado (CP, art. 
352) ou não é punível (LCP, art. 4º)”. 
 
5. Critério para fixação da pena no crime tentado: O artigo 18, 
parágrafo único, CP, estabelece que o crime tentado seja punido com a pena do 
crime consumado, diminuído de 1/3 a 2/3. Como o juiz faz a graduação 
dessa diminuição? Luiz Flavio Gomes & Antonio Garcia-Pablos, 2009, p. 350, 
sintetiza o critério da seguinte maneira: “a regra de ouro é a seguinte: quando 
mais o crime se aproxima da consumação (para isso o juiz tem que levar em 
conta o plano do autor assim como o meio de execução escolhido), menor a 
diminuição. E vice-versa: quando mais distante da consumação, maior a 
redução da pena”. 
 
 
Diminuição máxima Diminuição mínima 
 da pena da pena 
(2/3)_______________________________________________________ (1/3) 
 
Menor proximidade Maior proximidade 
 da consumação da consumação 
 
6. Espécies de Tentativa: 
 
a) Tentativa perfeita ou acabada (ou crime falho): ”ocorre quando 
o sujeito, de acordo com seu plano, esgota o processo de execução, 
isto é, pratica em sua integralidade uma conduta objetivamente 
capaz de alcançar o resultado lesivo” (Luiz Flavio Gomes & Antonio 
Garcia-Pablos, 2009, p. 346). Ex: O agente, com uma arma 
municiada com dois projéteis, disparos os dois contra a vítima. 
b) Tentativa imperfeita ou inacabada: “o agente não consegue, por 
circunstâncias alheias à sua vontade, prosseguir na execução do 
crime” (André Estefam, 2013, 372). Ex: o agente, com uma arma 
municiada com dois projéteis, efetua o primeiro disparo, mas não 
consegue efetuar o segundo em função de terceiros lhe dominarem e 
tomarem a sua arma. 
c) Tentativa branca (ou incruenta): “é a que deixa a vítima incólume 
(leia-se: ocorre quando a vítima não é atingida fisicamente)” (Luiz 
Flavio Gomes & Antonio Garcia-Pablos, 2009, p. 347). 
d) Tentativa cruenta: a vítima é atingida fisicamente. 
e) Tentativa abandonada ou qualificada: ”nome dado por alguns 
doutrinadores à desistência voluntária e ao arrependimento eficaz” 
(André Estefam, 2013, p. 372). 
f) Tentativa inadequada ou inidônea: corresponde ao crime 
impossível. 
 
 
 
 
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7. Infrações que não admitem a tentativa: 
 
a) Crimes culposos (observe que na culpa imprópria se pode cogitar 
da tentativa, pois este é um tipo delitual de natureza dolosa punido a 
título de culpa) 
b) Crimes preterdolosos; 
c) Crimes unissubsistentes (são os delitos cometidos com um só ato 
e, portanto, não admite qualquer fracionamento, a exemplo do crime 
de injúria – art. 140, CP); 
d) Crimes omissivos próprios (o simples não fazer é suficiente para a 
consumação e, portanto, se o sujeito agir, não há crime); 
e) Contravenções penais (art. 4º da LCP); 
f) Crimes que a lei pune somente quando ocorre o resultado 
(crimes condicionados): Art. 122 e 164 CP; 
g) Crimes habituais (são delitos que exigem a reiteração da conduta, a 
exemplo do art. 284, CP – curandeirismo); 
h) Crimes de atentado ou de empreendimento: são aqueles em que 
a lei equipara a tentativa e a consumação, isto é, tentar praticar a 
conduta descrita no tipo já representa realização a norma por 
completo, a exemplo do art. 352, CP. 
i) Crimes de perigo abstrato: No porte ilegal de arma de fogo, ou o 
agente porta a arma de fogo em situação irregular, e o crime estará 
consumado, ou não o faz, e o fato será atípico. 
 
BONS ESTUDOS NOS LIVROS!

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