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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ CAMPUS DE ITAJUBÁ RELATÓRIO DAS AULAS EXPERIMENTAIS Guilherme Soares -2016014234 Lucas Carvalho Meirelles - 2017000529 Melina Faria Brito -30881 Thiago Pinto Fonseca - 28553 MCM003P – MATÉRIAS PARA CONSTRUÇÃO MECÂNICA 23 DE MAIO DE 2017 ITAJUBÁ-MG 1 Introdução Desde o início da civilização, os matérias e energia são utilizados para melhorar a condição de vida da espécie humana. A transformação de matérias em bens acabados é uma das atividades mais importantes na economia moderna. Por conta disso é indispensável uma etapa de planejamento do processo de produção, selecionando diversos matérias, satisfazendo as necessidades técnicas exigidas. A natureza e comportamento dos matérias estão basicamente associados aos tipos de átomos e seus respectivos arranjos. Ou seja, a forma com que os elementos se arranjam no espaço determinará as características do material, sendo constituído por um ou mais elementos químicos. Os matérias metálicos possuem uma estrutura cristalina, tendo os átomos arranjados de maneira ordenada. Estes, geralmente são bons condutores elétricos e térmicos. São formados por um ou mais elementos metálicos, podendo também conter elementos não metálicos na liga, como o carbono no aço. O estudo dos matérias visa conhecer suas composições, estruturas internas e propriedades, e também a regularidade de suas alterações sobre influencia térmica, química ou mecânica. Não só revelando a estrutura interna e as propriedades, como também estabelece a dependência entre elas, determinando o processo de fabricação e a composição ideal para obter as características físicas e mecânicas desejadas. Para isso podem serem utilizadas técnicas de usinagem e tratamentos variados, além da adição de elementos específicos, satisfazendo as necessidades exigidas à cada peça. Tais como dureza, tenacidade, resistência à corrosão, ductilidade, maleabilidade, entre outros. É possível com isso fazer um melhor aproveitamento dos matérias, proporcionando uma economia na fabricação ou criando ligas mais adequadas para cada situação. Com o conhecimento das técnicas de usinagem e suas consequências na estrutura interna, atrelado com as propriedades de cada microestrutura é possível identificar a composição de uma amostra. 2 Objetivo Estudar e observar o comportamento de uma amostra metálica a partir dos processos de têmpera, laminação, normalização, recozimento e revenimento, e também através de ensaios de dureza. Determinar quantitativamente os microconstituintes da amostra utilizada. 3 Materiais e Métodos Os matérias utilizados foram uma máquina para embutimento (EMP-30), máquina para o lixamento e polimento, forno elétrico de 6 tubos, máquina DDP e Ema Nexus3200 para medir durezas. Figura 1 – Forno Elétrico de 6 tubos O experimento foi feito a partir de o recebimentos de amostras, em que efetuamos o processo de têmpera, laminação, normalização, têmpera com revenimento e o recozimento. Na primeira amostra foi feito apenas o embutimento para a finalidade de um melhor manuseio, utilizando a máquina EMP-30, processo que demora em média 15 minutos. Em seguida foi efetuado o processo de lixamento na amostra para remover as impurezas utilizando as lixas p200, p400, p600, p800, p1200, em seguida o processo de polimento em velocidade alta. Com a amostra já polida foi feito o ataque com nital durante 3 segundos. Assim levando a amostra para o microscópio para sua análise final com uma ampliação de até 200 vezes. Figura 2- Máquina EMP-30 A têmpera foi realizada de modo que se aqueceu a amostra no forno em temperaturas acima da zona crítica do aço e logo depois se jogou a amostra na água para efetuar sua têmpera e depois o processo de revenimento onde a amostra foi aquecida para diminuir suas tensões internas. No recozimento, a amostra como recebida foi aquecida no forno em uma temperatura acima de sua zona crítica e depois resfriada dentro do mesmo.A normalização se deu através do aquecimento da amostra como recebida no forno em uma temperatura acima de sua zona crítica e resfriada ao ar.A última amostra foi laminada e nela foram efetuados 2 cortes, um na vertical e outro na horizontal, para uma visão melhor da orientação dos grãos. Logo depois foram efetuados os processos de embutimento, lixamento, polimento, ataque com nital e a análise do microscópio de todas as amostras. Na amostra como recebida foi feito o processo de medir dureza na escala Brinell onde foi efetuado 3 testes usando a máquina máquina DDR. Figura 3 - máquina DDR Já na amostra laminada foi feito o processo de medir dureza na escala Vickers onde foi efetuado 3 testes usando a máquina NEXUS 3200, usando as configurações do fabricante. Figura 4 - máquina NEXUS 3200 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4.1 Os aços SAE 1020 Os aços carbonos são ligas metálicas constituídas basicamente de ferro, carbono, silício e manganês, apresentando também outros elementos inerentes ao processo de fabricação, em percentuais controlados. O aço SAE 1020 é um aço hipoeutetóide, constituído de perlita e ferrita, com teor de carbono de 0,2%. Figura 5 – O Aço 1020 O aço carbono SAE 1020 é um dos aços mais utilizado, devido a sua baixa temperabilidade, excelente forjabilidade e soldabilidade, porém sua usinagem é relativamente pobre. Este tipo de aço pode ser aplicado em cementação com excelente relação custo beneficio comparado com aços utilizados para o mesmo propósito. A microestrutura presente neste aço no seu estado normalizado é perlita fina e ferrita. Este aço é indicado para parafusos, trefilados duros, chassis, discos de roda, peças em geral para máquinas e veículos submetidos a esforços pequenos e médios. É um aço altamente tenaz, particularmente indicado para fabricação de peças que devam receber tratamento superficial para aumento de dureza, principalmente cementação. Utilizado ainda para eixos em geral, forjados. As principais aplicações do aço 1020 são na indústria ferroviária, automobilística, naval e aeronáutica, fabricação de chapas, placas para produção de tubos, construção civil, latas de folhas de flandres (Branco, 2007). Segundo o Manual dos Aços Gerdau, a dureza Brinell (HB) do aço SAE 1020 seria: Figura 6 – dureza do aço SAE 1020 Entre os materiais de construção, o aço tem uma posição de relevo, pois combina resistência mecânica, trabalhabilidade, disponibilidade e baixo custo. Assim sendo, é fácil compreender a importância e a extensão da aplicação dos aços em todos os campos da engenharia, nas estruturas fixas, como de edi fícios, ponte, como nas móveis, na indústriaferroviária, automobilística, naval, aeronáutica,etc.(Rodrigues,2014). 4.2 Tratamentos Térmicos Entende-se por tratamento térmico como um conjunto de operações de aquecimento e resfriamento a que são submetidos os metais, sob condições controladas de temperatura, tempo, atmosfera e velocidade de resfriamento, com o objetivo de alterar as propriedades destes metais ou conferir-lhes certas características pré-determinadas, adequando-os a determinadas aplicações na engenharia. (Chiaverini, 1996) Os principais objetivos dos tratamentos térmicos são os seguintes: - remoção de tensões internas, oriundas de resfriamento desigual, trabalho mecânico, etc; - aumento ou diminuição da dureza; - aumento da resistência mecânica; - melhora da ductibilidade; - melhora da usinabilidade; - melhora da resistência ao desgaste; - melhora da resistênciaà corrosão; - modificação das propriedades elétricas e magnéticas. Os tratamentos térmicos podem ser classificados da seguinte forma: -Tratamentos térmicos que atuam em todo o volume do material, cujos principais são: recozimento, normalização, têmpera, revenido e tratamentos subzero. -Tratamentos que atuam somente na superfície dos materiais, sendo este grupo de tratamentos térmicos subdivididos em dois grandes grupos, o grupo onde ocorre transformação estrutural no material e o grupo onde ocorre difusão termoquímica. 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Análise Metalográfica Para efeito de comparação inicia-se esta seção com a microscopia da amostra como recebida após passar por um polimento, mas ainda sem ataque disposta abaixo na Figura 7 com aumento de 200x. Figura 7 – Amostra como Recebida sem Ataque com aumento de 200x Pode-se observar inúmeras inclusões no aço porém ainda não é possível observar sua microestrutura, portanto foi realizado um ataque com Nital com 4% de ácido nítrico para que sua microestrutura seja observável na microscopia. Após o ataque a amostra foi secada e então levada ao miscroscópio. Na Figura 8 com aumento de 200x abaixo pode-se observar a microestrutura da amostra como recebida, nota-se uma quantidade alta de perlita com ferrita em seus sítios. Pela análise da microestrutura observada pode-se sugerir que se trata de um aço hipoeutetóide devido a presença de perlita e ferrita apenas. Figura 8 – Amostra como Recebida com Ataque com aumento de 200x Ao aumentar a ampliação para 500x pode-se observar a textura lamelar da perlita compostas de cementita e ferrita como pode ser observado na Figura 9 abaixo. Figura 9 – Amostra como Recebida com Ataque com aumento de 500x Ao realizar o tratamento mecânico de laminação seccionou-se o aço transversalmente e longitudinalmente. Abaixo estão dispostas nas Figuras 10 e 11 com aumentos de 200x e 500x respectivamente a seção longitudinal do aço laminado a frio: Figura 10 – Seção Longitudinal da Amostra Laminada com Ataque com aumento de 200x Figura 11 – Seção Longitudinal da Amostra Laminada com Ataque com aumento de 500x A seguir estão dispostas nas Figuras 12 e 13 com aumentos de 200x e 500x respectivamente a micrografia da seção transversal da amostra laminada: Figura 12 – SeçãoTransversal da Amostra Laminada com Ataque com aumento de 200x Figura 13 – Seção Transversal da Amostra Laminada com Ataque com aumento de 500x Ao confrontar as diferentes seções fica evidente o aspecto alongados nas Figuras 10 e 11 os quais foram causados pelo trabalho mecânico a frio que encruou os grãos da amostra na direção da aplicação da laminação. Em outra amostra foi realizado o tratamento de normalização que consiste em levar a amostra ao forno aquecê-la a 900 C para austenitiza-la por inteiro e então deixa-se a peça resfriar ao ar. Este tratamento diminui a granulação do material resultando em propriedades melhores quando comparada ao recozimento. Conforme a literatura esperava-se uma estrutura mais homogênea e refinada. Figura 14 –Amostra Normalizada com Ataque com aumento de 200x Figura 15 –Amostra Normalizada com Ataque com aumento de 500x Neste caso as imagens registradas não ficaram elucidativas devido ao baixo contraste, mas ainda assim é possível perceber uma maior homogeneização da microestrutura. Em outra amostra foi realizado o tratamento de recozimento, que é utilizado quando se deseja apagar as texturas ou aliviar tensões resultantes de tratamentos térmicos ou mecânicos aos quais o material pode ter sido submetido anteriormente. Neste tratamento a peça é levada ao forno e austenitizada por inteiro. Após isso, desliga-se o forno e deixa-se a peça resfriando junto a ele. Neste tratamento os grãos esperados são maiores do que o tratamento de normalização devido ao material passar mais tempo no forno ocasionando o crescimento dos grãos. Nas Figura 16 e 17 abaixo observa-se a microestrutura da amostra recozida nos respectivos aumentos 200x e 500x: Figura 16 –Amostra Recozida com Ataque com aumento de 200x Figura 17 –Amostra Recozida com Ataque com aumento de 500x É notável na peça observada o contraste entre uma região a qual ficou com uma granulação mais refinada e outra com uma granulação bem mais grosseira. Em outro ensaio temperou-se uma das amostras, neste tratamento a peça é levada ao forno austenitizada por completo e resfriada rapidamente, neste ensaio foi realizado uma têmpera em água. Ao resfriar a peça recém saída do forno rapidamente em água, o aço que estava em uma estrutura CFC passa rapidamente para uma estrutura CCC resultando no aprisionamento do carbono e em uma microestrutura diferente, a mastensita que é extremamente dura e com muitas tensões internas resultantes do resfriamento. Para que se alivie estas tensões é realizado o tratamento térmico de revenimento ao qual leva-se a peça ao forno em uma temperatura abaixo da zona crítica fornecendo aos átomos de carbono energia cinética para que aliviem tensões excessivas. O aspecto da microestrutura que se é esperado são lamelas retilíneas que se dão em diversas direções gerando um aspecto bem singular. Nas Figuras 18, 19 e 20 dispostas abaixo observa-se a amostra sem ataque, com ataque e aumento de 500x e com ataque e aumento de 200x respectivamente: Figura 18 –Amostra Temperada e Revenida com Ataque com aumento de 500x Figura 19 –Amostra Temperada e Revenida com Ataque com aumento de 200x Figura 20 –Amostra Temperada e Revenida com Ataque com aumento de 200x A Figura 21 é bastante elucidativa e revela a microestrutura da martensita com um aspecto bem refinado e parecido com o apresentado por COLPAERT, 1974. Para determinar o percentual de carbono da amostra foi feito uma malha sobre a foto do aço recozido e então contou-se os quantos cruzamentos se davam na perlita e quantos se encontravam na ferrita, dado que a densidade da perlita e da ferrita são muito semelhantes os resultados obtidos em percentual de volume serão praticamente os mesmos da massa. A malha está disposta na Figura 21 abaixo: Figura 21 –Malha da amostra Recozida Foram contabilizados 119 cruzamentos dos quais 42 se encontram nas perlitas e 77 nas ferritas. Então foi realizada a regra da alavanca para determinação do percentual de carbono em massa: Perlita = 42/119 = 0,353; Ferrita= 77/119=0,647 0,353= (X-0,022) / (0,77-0,022) ; X = 0,2420 Portanto conclui-se por este método que o aço em questão se enquadra nas especificações de um SAE 1020. 5.2 Análise de Dureza Foi realizado o ensaio de microdureza nas amostras como recebida e na laminada, na amostra original foi encontrado um valor médio de 91,25 HRB, enquanto na amostra laminada foi encontrado um valor de 269,25 HV. Ao se comparar com os valores apontados na revisão bibliográfica para aço 1020 laminado (120 a 170 HB), e realizar a conversão para as escalas Rockwell B e Vickers, obtendo-se os valores aproximados 170HV e 85 HRB, pode-se observar que os valores obtidos em laboratório, tanto para a amostra laminada quanto para a amostra como recebida, foram superiores ao da literatura. Isso pode ter acontecido devido a uma possível laminação anterior ao recebimento da amostra no laboratório, a qual pode ter levado à elevação da dureza do material. 6 CONCLUSÃO Com a análise das imagens podemos concluir que o aço é o SAE 1020 pela quantidade de perlita e ferrita. Os valores de dureza obtidos em laboratório foram superiores aos da literatura. Isso pode ter acontecido devido a uma possível laminaçãoanterior ao recebimento da amostra no laboratório, a qual pode ter levado à elevação da dureza do material. Pode também ter ocorrido um erro causado na medição de dureza sendo por mau manuseio do equipamento, má calibração ou algum tipo de interferência externa ou interna. Podemos concluir pelas imagens que o processo de recozimento aumentou os grãos, causando uma maior probabilidade de rachaduras na amostra depois de efetuar o processo de têmpera. Já a normalização diminuiu o tamanho dos grãos sendo assim perfeita para corrigir erros de cementação de peças que ficaram tempo de mais no forno. Além disso, analisando os dados percebemos que laminação tem um efeito de encruamento sobre a peça aumentando, assim, a sua dureza. Em geral, pode-se dizer que o experimento se deu de maneira satisfatória, pois foi possível atingir seus objetivos. 7 REFERÊNCIAS BRANCO, F. K.. Influência da Microestrutura na Anisotropia de Chapas Metálicas de Diferentes Aços Estruturais. 2007. Projeto de Iniciação Científica; 2007, FEI, Centro Universitárioda FEI, São Paulo, 2007. COLPAERT, HUBERTUS – Metalografia dos Produtos Siderúrgicos Comuns; 3ª edição, Editora: Edgard Blucher Ltda. 1974. PIRATINI, GERDAU–AÇOS FINOS. "Manual do aço." (1998). RODRIGUES, Luciano Monteiro et al. Estudo da microestrutura e da microdureza dos aços 1020 e 1060. Cadernos UniFOA, v. 1, n. 2, p. 39-44, 2014.