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SECRETARIA DA ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA “Dr. Luiz Camargo Wolfmann” CRIMINOLOGIA AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA – ASP AGENTE DE ESCOLTA E VIGILÂNCIA PENITENCIÁRIA – AEVP São Paulo 02/2015 2 GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO GERALDO ALKMIN Governador do Estado LOURIVAL GOMES Secretário de Estado LUIZ CARLOS CATIRSE Secretário Adjunto AMADOR DONIZETI VALERO Chefe de Gabinete 3 COORDENADORIAS REGIONAIS DE UNIDADES PRISIONAIS HUGO BERNI NETO Coordenador de Unidades Prisionais da Região Metropolitana de São Paulo NESTOR PEREIRA COLETE JUNIOR Coordenador de Unidades Prisionais do Vale do Paraíba e Litoral JEAN ULISSES CAMPOS CARLUCCI Coordenador de Unidades Prisionais da Região Central do Estado CARLOS ALBERTO FERREIRA DE SOUZA Coordenador de Unidades Prisionais da Região Noroeste do Estado ROBERTO MEDINA Coordenador de Unidades Prisionais da Região Oeste do Estado SOLANGE APARECIDA G. DE MEDEIROS PONGELUPI Coordenadora de Saúde do Sistema Penitenciário MAURO ROGÉRIO BITENCOURT Coordenador de Reintegração Social e Cidadania 4 ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA “Dr. LUIZ CAMARGO WOLFMANN” LEDA MARIA GONZAGA Diretor Técnico III FABIANO DORETTO PAGIORO Diretor Técnico II GISELE ANGÉLICA SILVEIRA RODRIGUES Diretor Técnico I JONAS CANDIDO Diretor Técnico I VALÉRIA RONCATTI Diretor Técnico I 5 SECRETARIA DA ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA “Dr. Luiz Camargo Wolfmann” CRIMINOLOGIA Elaboração Técnica/Criação Maria Bernardete Plens – Secretaria da Segurança Pública Silvio João Gonçalves – Penitenciária de Marabá Paulista Revisão 2015 André Luiz Alves – CDP de Mauá Maria Bernardete Plens – Secretaria da Segurança Pública Coordenação EAP Avany Viana de Oliveira Contribuição Fernando Guimarães Barbosa – Penitenciária Feminina de Santana 6 Sumário Apresentação ........................................................................................................................................ 7 Criminologia ........................................................................................................................................... 8 1. Método ........................................................................................................................................... 8 1.1. Empirismo .................................................................................................................................. 8 1.2. Interdisciplinariedade ............................................................................................................... 8 2. Objeto. ............................................................................................................................................ 9 2.1. Delito ................................................................................................................................... 9 2.2. Delinquente........................................................................................................................ 9 2.3. Vítima ................................................................................................................................. 9 2.4. Controle Social .................................................................................................................. 9 3. Funções. ........................................................................................................................................ 9 3.1. Explicar: ............................................................................................................................. 9 3.2. Prevenir: ............................................................................................................................. 9 3.3. Intervir: ............................................................................................................................... 9 5. Escolas Criminológicas.............................................................................................................. 11 5.1. Escola Criminológica Clássica – século XVIII ............................................................ 11 5.2. Escola Criminológica Positiva – Século XIX - Surgimento da fase científica. ...... 12 5.2.1. Antropologia Criminal ................................................................................................. 12 6. Teorias Sociológicas da Criminalidade ................................................................................... 14 6.1. Escola de Chicago (teoria do consenso) .................................................................... 15 6.2. Teoria da Aprendizagem ou Ação Diferenciada (teoria do consenso) .................. 17 6.3. Teoria da Sub-Cultura Delinquente ou Contracultura (teoria do consenso) ......... 17 6.4. Teoria da Anomia ........................................................................................................... 18 6.5. Teoria do Etiquetamento ou Rotulação (teoria do conflito)...................................... 18 7. Criminologia Crítica ou Radical (teoria do conflito). .............................................................. 19 8. Criminologia Clínica. .................................................................................................................. 20 8.1. Conceito tradicional ........................................................................................................ 20 8.2. Concepção Moderna. ..................................................................................................... 20 8.3. Concepção Crítica. ......................................................................................................... 20 9. Classificação dos Criminosos ................................................................................................... 21 10. Exame Criminológico ............................................................................................................. 22 11. Vitimologia ............................................................................................................................... 22 12. Vitimização .............................................................................................................................. 23 12.1. Vitimização no sistema penitenciário. ..................................................................... 24 12.2. Cifra Negra .................................................................................................................. 25 13. Prisionização ........................................................................................................................... 26 14. Controle Social e Direito ........................................................................................................ 28 15. O Papel do Agente de Penitenciário ................................................................................... 31 15.1. O Papel do Agente de Segurança Penitenciária ................................................... 31 15.2. O Papel do Agente de Escolta e Vigilância Penitenciário ....................................32 16. Política Criminal. ..................................................................................................................... 33 17. Assuntos a serem refletidos sob a ótica da Criminologia ................................................ 34 17.1. Reflexo das drogas frente à criminalidade. ............................................................ 34 17.2. Crime Organizado ...................................................................................................... 37 17.3. Criminalidade Feminina. ............................................................................................ 39 18. Referências Bibliográficas ..................................................................................................... 42 7 Apresentação O estudo da criminologia, atualmente, é ferramenta imprescindível para a preparação e desenvolvimento dos profissionais envolvidos em segurança pública, incluindo neste rol os servidores do Sistema Prisional. A prisão é uma das formas de resposta de que o Estado faz uso como alternativa de se efetivar o controle social da criminalidade. Mesmo diante das insistentes críticas a respeito da pena de prisão, no Brasil, ainda não se vislumbrou outra forma de punição que fosse equiparada à prática de crimes graves ou violentos. O presente trabalho possui como foco principal desenvolver no aluno o conhecimento teórico e científico da criminalidade, visando sua formação profissional, a necessidade da busca incansável pela prevenção e proporcionar- lhe uma visão global sobre o sistema penitenciário paulista e a criminalidade. Optamos por relacionar os temas levando-se em conta as mudanças sofridas pelo estudo da criminalidade com o passar dos anos. Primeiramente, destacando a figura do crime e do criminoso. Em segundo momento, a vítima e o controle social. Por fim, trouxemos alguns temas que possuem reflexo direto na atuação penitenciária e que julgamos imprescindíveis para a compreensão e combate da criminalidade. 8 Criminologia Cabe definir a Criminologia como ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, tendo a função de explicar e prevenir o crime e intervir na pessoa do infrator. O Criminologista é alguém engajado no estudo científico do crime e dos criminosos. Normalmente está nas Universidades, lecionando e realizando pesquisas. O criminologista é um produtor de conhecimentos. As características da Criminologia • Método: empírico e interdisciplinar. • Objeto: análise do delito, do delinquente, da vítima e do controle social. • Funções: explicar e prevenir o crime e intervir na pessoa do infrator. 1. Método 1.1. Empirismo O empirismo é o conhecimento adquirido através das percepções; pela origem das ideias, por onde se percebe as coisas, independente de seus objetivos e significados; pela relação de causa-efeito por onde fixamos na mente o que é percebido, atribuindo à percepção causas e efeitos. Portanto, é uma doutrina ou um sistema que só reconhece a experiência como guia seguro, onde o conjunto de conhecimento é adquirido somente pela prática. O saber empírico atualmente é aberto, provisório, porque o homem não é um objeto da história, mas o sujeito do acontecer. A criminologia é uma ciência do “ser”, empírica. Seu método é indutivo, baseado na análise e, principalmente, na observação da realidade. 1.2. Interdisciplinariedade A interdisciplinariedade consiste na interação da Criminologia com outras ciências com a finalidade de conhecer a realidade para só assim explicá- 9 la. A criminologia constitui a instância superior das diversas ciências – como Biologia Criminal, Psicologia Criminal, Sociologia Criminal, Psiquiatria Forense, Direito Penal, Antropologia etc., que estudam o comportamento desviante. Pretende integrar e coordenar as informações setoriais, eliminando possíveis contradições internas do sistema. 2. Objeto. 2.1. Delito: toda conduta prevista na Lei Penal como crime. 2.2. Delinquente: a pessoa do infrator, qual a motivação, biopsicossocial, que o levou ao cometimento do crime. 2.3. Vítima: a pessoa na qual recai a conduta criminosa. O papel da vítima na dinâmica delitiva face aos problemas de ordem moral, psicológica e jurídica. 2.4. Controle Social: conjunto de mecanismos e sanções sociais que buscam normatizar a convivência social. 3. Funções. 3.1. Explicar: Através das várias ciências (interdisciplinariedade) e da observação prática (empirismo) se valer de métodos mais seguros para entender o objeto de estudo da criminologia (crime, criminoso, vítima e controle social). 3.2. Prevenir: Conjunto de ações que visam evitar a ocorrência do delito. 3.3. Intervir: Combater o crime e evitar a reincidência com um conjunto de ações que visam produzir uma transformação qualitativa, positiva, construtiva, do infrator e avaliar os diferentes modelos de resposta do crime. Em resumo, a função direta da criminologia é advertir a sociedade e os poderes públicos sobre o crime, o criminoso, a vítima e o controle social, 10 reunindo um centro de conhecimentos seguros que permita compreender cientificamente o problema criminal, preveni-lo e intervir com eficácia e de modo positivo no criminoso. Indica um diagnóstico especializado sobre o crime. 4. Histórico No contexto histórico, há de ser observado o Código de Hamurabi, 1.700 anos a.C., como o conjunto de Leis mais antigo do mundo. Daí percebe-se que, desde aquela época, já deveria haver a tipificação anterior ao fato; até mesmo as pessoas analfabetas não poderiam alegar ignorância, uma vez que os escribas (tradutores) eram utilizados para tal finalidade. Desde os antigos gregos se pensava no fenômeno “crime” como um desvio, uma anormalidade, ou mesmo uma patologia da conduta humana. Os criminosos eram expulsos das cidades e o pensamento reinante era de que o que gerava a criminalidade eram as desigualdades econômicas, uma vez que a maioria dos delitos era contra o patrimônio (furtos/roubos, etc.). A civilização latina do século III d. C., até o ano de 1200, via crimes dessa natureza como “coisa do demônio”, fruto da depravação ou de bruxaria, uma vez que o catolicismo exaltava a pobreza, execrando da sociedade pessoas que infringissem os dogmas da Igreja. A Inquisição da Idade Média é farta de exemplos de castigos e condenações para criminosos comuns e hereges. Mais tarde, o crime recebeu várias conceituações dos penalistas, filósofos, moralistas, sociólogos, políticos, como segue: para o penalista, não é senão o modelo típico descrito na norma penal, uma hipótese, produto do pensamento abstrato; já para o patologista social, é considerada uma doença, epidemia. Para o moralista, um castigo do céu. Para o expert em estatística, um número, uma cifra. Enfim, para o sociólogo, uma conduta irregular ou desviada. O estudo da criminologia, desde o seu surgimento, também passou e continua passando por várias transformações conforme se verificará quando do estudo das escolas criminológicas; onde o estudo do crime passou de figura central para um dos quatro objetos a serem estudados pela criminologia para a compreensão do fenômeno criminal. 11 5. Escolas Criminológicas 5.1. Escola Criminológica Clássica – século XVIII As idéias consagradas pelo Iluminismo1 acabaram por influenciar Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria, quando de sua obra intitulada Dos delitos e das penas, em 1764. Beccaria foi a primeira voz a se levantar contra a tradição jurídica e a legislação penal de seu tempo. Teve que enfrentar o velho regimepenal, que consistia num sistema caótico, cruel e arbitrário. Etapa Pré-Científica da Criminologia: ainda não se falava em ciência, uma vez que não havia objeto de estudo. A importância dessa Escola era tão somente penalizar, não se preocupando com o estudo do crime e do criminoso. Diante disso, não buscava a identificação dos fatores e sim objetivava a aplicação do castigo como instrumento de controle do crime, sendo as penas aplicadas como fator de retribuição e na mesma intensidade do delito. Por outro lado, faltava a ideia de “prevenção”, objeto de suma importância para a não ocorrência do delito, sendo legitimado o uso sistemático do castigo. Há que se mencionar que na época foi uma revolução, pois era mais branda do que as penas cruéis existentes até então. Nesse período, não se levava em conta as questões sociais, mas somente a ideia de que o Homem era dotado de livre arbítrio, pois agia e atuava movido pelo prazer. O crime era considerado fator individual e isolado, no qual o delinquente era livre e soberano para tomar as decisões e assumir os riscos, cabendo somente a pena como forma de solução para o caso. Faltava na Escola Clássica uma preocupação em indagar as causas do comportamento criminoso, já que atribuía a origem do ato delitivo a uma “decisão livre” do seu autor, incompatível com a existência de outros fatores ou causas que pudessem influir no seu comportamento. Sua falha estava na carência de uma genuína teoria da criminalidade, 1 O iluminismo, também conhecido como Século das Luzes foi um movimento cultural da elite intelectual européia do século XVIII que procurou mobilizar o poder da razão, a fim de reformar a sociedade e o conhecimento herdado da tradição medieval. Abarcou inúmeras tendências e, entre elas, buscava-se um conhecimento apurado da natureza, com o objetivo de torná-la útil ao homem moderno e progressista. http://pt.wikipedia.org/wiki/Iluminismo 12 deixando de lado o problema criminal, menosprezando o exame da pessoa do delinquente e o meio ou relacionamento social, como se fosse possível conceber o delito por um acaso ou por mero prazer. Assim, a Escola Clássica foi absolutamente incapaz de oferecer aos Poderes Públicos bases de informações necessárias para um programa político criminal de prevenção e luta contra o crime. 5.2. Escola Criminológica Positiva – Século XIX - Surgimento da fase científica. A Escola Criminológica Positiva surgiu no início do século XIX, contrapondo-se ao individualismo da Escola Criminológica Clássica. Essa priorizava os interesses sociais em relação aos individuais, defendendo enfaticamente o corpo social contra a ação do delinquente. Nessa Escola, sobressaíram-se Cesare Lombroso, Enrico Ferri e Rafael Garófalo, que defendiam respectivamente a existência de um estudo Biológico, Sociológico e Psicológico, objetivando dar respostas para a origem do criminoso. Para Lombroso, a pessoa já nascia propensa ao cometimento de crime (criminoso nato) em função de determinadas características biológicas e físicas. Ferri, além das características acima, achava que a predisposição para a criminalidade só ocorreria se fosse ativada pelo meio social. Defendia que “se o meio social possui a capacidade para influenciar negativamente na conduta delitiva do individuo, tal meio poderia agir também de forma positiva para reintegrá-lo à sociedade”. Já para Garófalo, o individuo já nascia criminoso, mas teria que ser influenciado pelo meio social ou possuir alguma patologia. Por outro lado, contrariando Ferri, defendia a irrecuperabilidade do criminoso patológico, ou seja, seria uma doença que não teria cura, devido ao estado mórbido dos seus neurônios. 5.2.1. Antropologia Criminal A Antropologia Criminal surgiu no século XIX, tendo como fundador Cesare Lombroso. Considerada a Certidão de Nascimento da Criminologia, 13 buscou as causas do comportamento criminoso na própria raça, daí o conceito de “criminoso nato”. A principal causa da delinquência, segundo a Antropologia Criminal, são os traços atávicos, ou seja, as marcas primitivas que permanecem no corpo do indivíduo ou em seu caráter (em sua formação moral). Por essa concepção, os indivíduos criminosos são essencialmente diferentes dos demais, pertencem a uma outra categoria de pessoas e devem ser mantidos separados, segregados, tratando-se de pessoas perigosas que oferecem risco à sociedade. A contribuição principal de Lombroso para a Criminologia não reside tanto em sua famosa tipologia (onde destaca a categoria do "delinquente nato") ou em sua teoria criminológica, mas no método que utilizou em suas investigações: o método empírico. Sua teoria do delinquente nato foi formulada com base em resultados de mais de quatrocentas autópsias em delinquentes, e seis mil análises de delinquentes vivos. A ideia de atavismo (herança mediata) aparece estreitamente unida à figura do delinquente nato e foi observada com o estudo de vinte e cinco mil reclusos de prisões europeias. Segundo Lombroso, criminosos e não criminosos se distinguem, entre si, em virtude de uma rica gama de anomalias e estigmas de origem atávica ou degenerativa. Lombroso apontava as seguintes características corporais do homem delinquente: protuberância occipital, órbitas grandes, testa fugídia, arcos superciliares excessivos, zígomas salientes, prognatismo inferior, nariz torcido, lábios grossos, arcada dentária defeituosa, braços excessivamente longos, mãos grandes, anomalias dos órgãos sexuais, orelhas grandes e separadas, polidactia, etc. As características anímicas, segundo Lombroso, são: insensibilidade à dor, tendência à tatuagem, cinismo, vaidade, crueldade, falta de senso moral, preguiça excessiva, caráter impulsivo. Apesar de inconsistentes, suas ideias tiveram ampla repercussão no mundo, especialmente entre policiais, juízes e juristas. Como exemplo, temos um Juiz da época chamado Marquês de Moscardi, que redigia na sentença: “ouvidas as testemunhas de defesa e acusação, visto o rosto e a cabeça do acusado, condeno-o” 14 Apesar de a teoria estar atualmente superada do ponto de vista científico, a opinião pública e a mídia são constantemente influenciadas por ela, proferindo expressões como: “bandido é bandido e o lugar dele é na cadeia”, “pau que nasce torto, morre torto”, etc. 6. Teorias Sociológicas da Criminalidade As teorias sociológicas constituem o paradigma (modelo) dominante nos estudos criminológicos e contribuem decisivamente para o conhecimento do problema criminal de maneira interessante e reveladora. Boa parte do êxito dos modelos sociológicos se baseia na utilidade prática da informação que norteia a implantação de Políticas Criminais. Os períodos pós-guerras (1ª e 2ª) caracterizam-se pelos avanços tecnológicos, mão-de-obra especializada, energia elétrica e atômica, informática, meios de comunicação de massa levando notícias do mundo em tempo cada vez menor, conquistas na educação, novos mercados, novas potências e o imperialismo econômico, e têm como consequências: 1. Desumanização das sociedades; 2. individualismo exagerado; 3. O hedonismo (busca do prazer a qualquer custo); 4. Os movimentos estudantis contestatórios dos anos 60; 5. A busca de novos valores, mais humanistas; 6. As lutas pelos direitos humanos; e 7. O repensar artístico e filosófico. O pensamento criminológico moderno foi influenciado por dois movimentos: as Teorias do Consenso e as Teorias do conflito. As Teorias do consenso, também denominadas teorias de integração, defendiam a ideai de que os objetivos da sociedade eram atingidos quando havia o funcionamento perfeito de suas instituições, com as pessoas convivendo e compartilhandoas metas sociais comuns, concordando com as regras impostas pela sociedade. São exemplos de teorias de consenso: a Escola de Chicago, a teoria da associação diferenciada, a teoria da anomia e a teoria da subcultura 15 delinquente. Já as teorias de conflito defendem a idéia de que a harmonia social decorre da força e da coerção, onde há uma relação entre dominantes e dominados, não existindo voluntariedade entre os personagens para a pacificação social, a qual decorrerá de imposição ou coerção. São exemplos dessa teoria: a teoria crítica ou radical e a teoria do etiquetamento. 6.1. Escola de Chicago (teoria do consenso) A Escola de Chicago é o berço da moderna sociologia americana, que teve seu início nas décadas de 20 e 30, no Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago. A Escola de Chicago inicia um processo de estudos que tem no meio urbano seu foco de análise principal, constatando a influência no meio ambiente na conduta delituosa e apresenta um paralelo entre o crescimento populacional das cidades e o conseqüente aumento da criminalidade. Para seus defensores, a cidade produz a delinquência. Sob a ótica destes, existem áreas bastante definidas onde a criminalidade se concentra e outras com índices bem reduzidos. As principais teorias criminológicas oriundas da Escola de Chicago são: Teoria Ecológica, Teoria Espacial, Teoria das Janelas Quebradas e a Teoria da Tolerância Zero. 6.1.1 – Teoria Ecológica ou Desorganização Social (teoria do consenso) Faz uma análise levando em conta a expansão das cidades e suas modificações sob o efeito da industrialização, representando um contexto no qual são visíveis novos fenômenos sociais, que abarcam desde mudanças nas ordens econômica, demográfica e espacial, até alterações dos costumes e formas de interação e de controle social. O crime resultaria da desorganização social, o que acontece em determinadas zonas urbanas super povoadas, muito pobres e próximas a grandes centros comerciais, onde se acumula riqueza. Nessas zonas ocorreriam a desorganização social e o enfraquecimento do controle social, com as seguintes consequências: 16 • Deterioração dos grupos "primários" (ex. família) e a crise dos valores tradicionais; • Superficialidade nas relações interpessoais; • Constante alteração de moradia. 6.1.2 – Teoria Espacial (teoria do consenso) A teoria espacial foi criada na década de 1940 e trata da reestruturação arquitetônica e urbanística das grandes cidades como medida preventiva da criminalidade. Oscar Newman, arquiteto, publicou a obra Defensible Space em que defendeu os modelos adequados de construção como maneira de prevenção do crime, pois seriam favoráveis construções que permitissem uma maior vigilância pelas pessoas e a utilização de barreiras que desestimulassem a ação criminosa por aumentar os riscos para o infrator. 6.1.3 – Teoria das Janelas Quebradas (teoria do consenso) A teoria das Janelas Quebradas é original dos Estados Unidades, Chicago, apresentada em 1982 na universidade de Harvard com a publicação na revista Atlantic Monthly de um estudo em que, pela primeira vez, estabelecia-se uma relação de causalidade entre desordem e criminalidade, custo título era The Police anda Neiborghood Safety (A Polícia e a Segurança da Comunidade). O estudo foi realizado com base em um experimento com um automóvel deixado em um bairro de classe alta de Palo Alto, Califórnia. Durante a primeira semana de teste, o carro não foi danificado. Porém, após o pesquisador quebrar uma das janelas, o carro foi completamente destroçado e roubado por grupos vândalos, em poucas horas. De acordo com seus defensores, caso quebre uma janela de um edifício e não haja imediato conserto, logo todas as outras serão quebradas. A teoria defende a repressão dos menores delitos para inibir os mais graves, incutindo assim a política da tolerância zero implementada em Nova Iorque, promovendo assim a redução dos índices de criminalidade. 6.1.4 – Teoria da Tolerância Zero (teoria do consenso) 17 A teoria da tolerância zero é uma estratégia indireta de combate ao crime, baseada na teoria das janelas quebradas. Ela é baseada em decisões desprovidas de discricionariedade por parte das autoridades policiais de uma organização, as quais agem seguindo padrões predeterminados de punições em muitos casos independentemente da culpa do infrator ou da situação particular (diferencial) que se encontre. A coerção policial é extremamente dura com delitos menores visando diminuir (coibir) a prática de delitos mais graves. 6.2. Teoria da Aprendizagem ou Ação Diferenciada (teoria do consenso) Para essa teoria o comportamento criminoso e a delinquência se aprendem do mesmo modo que o indivíduo aprende as condutas lícitas. O crime é aprendido na interação com pessoas ou grupos mediante um complexo processo de comunicação, isto é, o criminoso não só aprende a conduta delitiva, mas também absorve os valores do meio criminoso. Enfim, percebe-se que a conduta delitiva se faz diferente dependendo dos grupos ou pessoas com quem se convive ou interage, sendo mais acentuadas quanto mais próximas e íntimas são as relações. 6.3. Teoria da Sub-Cultura Delinquente ou Contracultura (teoria do consenso) Trata-se de uma teoria surgida nos anos 50 que advém das sociedades complexas, pluralistas em valores sociais, que compreendem uma cultura (contracultura) dentro da "cultura social geral", cujos padrões (modelos) morais e normativos são antagônicos (contrários), em que, cultura pode ser definida como “todos os modelos coletivos de ação, identificáveis nas palavras e na conduta dos membros de uma dada comunidade, dinamicamente transmitidos de geração para geração e dotados de certa durabilidade” (F. Dias). Tem importância destacada, pois estuda a origem das gangues e das organizações criminosas. O crime é o reflexo ou a expressão de outros sistemas de valores e normas de conduta (contraculturas) própria de minorias étnicas, raciais, políticas e culturais. Caracteriza-se ainda pela sua gratuidade: roubar pelo prazer de roubar, 18 independentemente de ganância e proveito, é uma atividade a que se atribui valor, audácia, prestígio e profunda satisfação pessoal. Neste sentido, é facilmente identificada na delinquência juvenil, onde a malícia substitui a intenção deliberada e clara na ação delitiva. 6.4. Teoria da Anomia O termo anomia tem origem grega "anomos", onde o "a" representa ausência (inexistência) e o "nomos" significa norma. Ou seja, anomia corresponde à ausência de normas. Foi com esse entendimento que Emile Durkhein usou a palavra pela primeira vez tentando explicar certos fenômenos sociais em seu famoso estudo sobre a divisão do trabalho social. Segundo essa teoria, a existência do crime é inevitável em qualquer sociedade, porém dentro de um limite de tolerância. Ainda na visão dessa teoria, o delito é comportamento normal; o anormal é o aumento ou decréscimo súbito da taxa de criminalidade. A anomia consiste na perda da efetividade das normas e valores vigentes em uma sociedade, como consequência do rápido desenvolvimento econômico e profundas alterações sociais. Em suma, o conjunto de normas, que constituem o principal mecanismo para regulação das relações entre os componentes de um sistema social, se desmorona. Durkhein, o principal expoente dessa teoria, qualificou tal situação de anomia no sentido de ausência de normas. 6.5. Teoria do Etiquetamento ou Rotulação (teoria do conflito) De acordo com Labeling Approach, a Teoria do Etiquetamento, surgida nos EUA da década de 1960, os criminosos não são produtos de descobertas, mas sim entes inventados pela lógica distorcida do sistema penal vigente, pois há proporcionalmentemais pobres nas cadeias do que membros de outras classes. A população criminosa é constituída por meio de um processo de seleção, onde se atribui qualidade criminal à determinada pessoa, que passa a ser responsabilizada criminalmente e estigmatizada. Portanto, constata-se que o 19 Direito Penal é um direito desigual por excelência, fazendo desconstituir o mito de que o Direito Penal é igual para todos, pois quanto mais próximos dos níveis mais baixos da escala social, mais fácil de ser criminalizado pelo sistema, como: desempregados, subempregados, sem qualificação profissional ou educacional, os com problemas escolares e familiares. Enfim, o enfoque principal dessa corrente é que o desvio de comportamento e a criminalidade não são uma qualidade intrínseca da conduta, e sim uma etiqueta atribuída a determinados indivíduos, através de um processo de seleção, ou seja, ocorre um pré-conceito em relação à pessoa humana. Dessa forma, o indivíduo se converte em delinquente não porque tenha realizado uma conduta negativa, mas porque determinadas instituições sociais (polícia, juízes, instituições penitenciárias) etiquetaram naquele indivíduo a imagem de delinquente como forma legal e legítima de subjulgar as classes menos favorecidas. 7. Criminologia Crítica ou Radical (teoria do conflito). Essa perspectiva criminológica, mais recente, afirmou-se em plena década de 1970. Trata-se de um questionamento sobre a reação da sociedade perante o fenômeno do crime, ou seja, indagar as causas do crime e pesquisar a reação social. A atenção da criminologia crítica se dirigiu principalmente para o processo de criminalização, identificando nele um dos maiores nós teóricos e práticos das relações sociais de desigualdades próprias da sociedade capitalista, tendo como um de seus objetivos principais, ampliar no campo do Direito Penal, de modo rigoroso, a crítica do direito desigual, com questionamentos do tipo: 1. Por que determinadas condutas são selecionadas como criminosas e outras não, embora possam ser mais prejudiciais à sociedade? 2. Por que determinadas pessoas são selecionadas como criminosas e delinquentes, enquanto outras, às vezes muito mais “perigosas”, não o são? 20 8. Criminologia Clínica. 8.1. Conceito tradicional Valendo-se dos conceitos, conhecimentos, princípios e métodos de investigação e prevenção médico-psicológicas e sócio-familiares, ocupa-se do criminoso, para nele investigar a dinâmica de sua conduta criminosa, sua personalidade e seu "estado perigoso" (diagnóstico); as perspectivas dos desdobramentos futuros (prognóstico) e, assim, propor estratégias de intervenção, com vistas à superação ou contenção de uma possível tendência criminosa, evitando-se a reincidência através de tratamento. Assim, as ideias centrais seriam o diagnóstico, o prognóstico e o tratamento. A conduta criminosa tende a ser compreendida como conduta anormal, desviada, como possível expressão de uma anomalia física ou psíquica, dentro de uma concepção pré-determinada do comportamento, onde ocupa destaque o prognóstico de periculosidade. 8.2. Concepção Moderna. O estudo da origem da delinquência e das terapêuticas penais adequadas fez surgir um conceito mais abrangente sobre a Criminologia, sendo uma ciência interdisciplinar que oferece um conjunto de princípios de análise de comportamento criminoso e estratégias de intervenção junto ao encarcerado, às pessoas envolvidas direta ou indiretamente com ele e com a execução de sua pena. Procura-se conhecê-lo como pessoa, suas aspirações e as verdadeiras motivações de sua conduta criminosa e as consequências de sua conduta nos ambientes familiar e social. A forma de avaliação do preso é considerada a partir das respostas dadas às estratégias de intervenção propostas (avaliações técnicas e observação dos profissionais envolvidos ativamente nessas estratégias, incluídos os agentes penitenciários). 8.3. Concepção Crítica. Sua preocupação é estudar os fatores sociais e individuais que promoveram e facilitaram a criminalização por parte do sistema penal, bem como 21 a vulnerabilidade do encarcerado perante o sistema punitivo (após a intervenção penal). As técnicas devem ser empregadas visando o seu fortalecimento social e psíquico, desenvolvê-lo como pessoa e como cidadão através de estratégias de reintegração social e de um diálogo cárcere-sociedade, onde o preso atue como sujeito desse processo. Consequências: 1. A sociedade passa a rever seus conceitos de crime e de homem criminoso e seus padrões éticos e humanos de relacionamento com ele. 2. O preso tem a oportunidade de se redescobrir como cidadão, aprimorando seus conceitos de deveres, direitos e qualidades. 9. Classificação dos Criminosos Crime, juridicamente, é todo fato típico, antijurídico (ilícito) e culpável, praticado por um ser humano. Em resumo, é um ato que viola uma norma moral e, para que seja considerado como tal, deve haver, antecipadamente, uma Lei que o estabeleça como crime. O criminoso é a pessoa que comete um fato definido na Lei Penal como crime, sendo classificados em: a) Criminosos ocasionais: são aqueles que decorrem da influência do meio, isto é, são pessoas que acabam caindo em "tentação" devido a alguma circunstância facilitadora. Não possuem tendência para o cometimento de crimes, demonstram arrependimento posterior e a possibilidade de não mais delinquir b) Criminosos habituais: são os profissionais do crime. Normalmente iniciam no crime durante a adolescência, ocorrendo a “evolução da vida criminosa” e, progressivamente, adquirindo habilidades mais sofisticadas. Praticam todo tipo de crime e fazem uso de violência com o intuito de intimidar a vítima, e não se arrependem do crime cometido (exemplo: evolução de furto para roubo). c) Criminosos impetuosos: são aqueles que cometem crimes movidos por impulso emotivo (forte emoção) e possuem arrependimento posterior (exemplo: 22 crimes passionais). d) Criminosos fronteiriços: são criminosos que estão em zona fronteiriça entre a doença mental e os indivíduos normais. Em geral, são pessoas frias, com desvios de personalidade, sem valores éticos e morais, que cometem crimes com extrema violência desmotivada (exemplo: psicopatas, estupradores, etc.). e) Criminosos com deficiência mental: são pessoas que possuem doença mental, isto é, alteração qualitativa das funções psíquicas que comprometem o entendimento e a auto-determinação do indivíduo, em geral agindo sozinhos, impulsivamente, sem premeditação e remorso (exemplo: esquizofrênicos, paranóicos, psicóticos, toxicômacos graves, etc.). 10. Exame Criminológico O exame criminológico é um estudo multiprofissional (jurídico, social, psicológico e psiquiátrico) destinado à individualização da pena, ou seja, determinar a inserção de cada preso no grupo com o qual conviverá no curso da mesma, bem como nortear o processo de cumprimento de pena, servindo de parâmetro para este. E por último, destina-se a analisar objetivamente a possibilidade do sentenciado obter a progressão de regime e/ou livramento condicional. Tudo isto estava previsto nas Leis 7210/84 e 7209/84. O exame criminológico por si só, visto de forma isolada, não garantia que o preso estivesse apto ou não para conviver em sociedade. Contudo, era tido como um instrumento necessário e fundamental, pautado por teorias e técnicas científicas, que serviam para auxiliar o juiz a ter uma visão mais ampla da pessoa a ser julgada e, assim, possibilitar uma decisão mais justa. Há que salientar que nos dias atuais tal instrumento só é utilizado mediante requisição Judicial, uma vez que foi extinto através da Lei 10.792/03. 11. Vitimologia A Vitimologia teve como marco de nascimentoo sofrimento dos judeus na Segunda Guerra Mundial e esta intimamente relacionada com a Criminologia. Vitimologia nada mais é do que a ciência que se ocupa do estudo da vítima e da vitimização, cujo objeto é a existência de menos vítimas na sociedade, quando 23 esta tiver real interesse nisso. O estudo da vítima é realizado desde o momento do delito levando-se em conta as consequências que por ela são suportadas. Atualmente, já começa a ser estudada e compreendida em quase todos os espaços culturais do Universo. Aceita, combatida, discutida, mas passou a fazer parte obrigatória da pauta de todos os encontros científicos sobre estudos criminológicos e afins. A importância do estudo da vitimologia é analisar a vítima em face de sua relação com o criminoso, para ao final aferir o dolo e a culpa deste, como também a responsabilidade da vítima ou sua contribuição, ainda que involuntária, para o evento criminoso. Não se pode esquecer também a contribuição do estudo da vítima para a compreensão do fenômeno da criminalidade, orientado de forma mais coerente para o seu enfrentamento a partir da vítima atingida e dos danos sofridos por ela. A classificação de vítimas para Benjamin Mendelsohn é sintetizada como: • Vítima inocente ou ideal: é a vítima inconsciente, isto é, aquela que não concorre de forma alguma para a ocorrência do delito. • Vítima provocadora: é a vítima que induz o criminoso a praticar o crime, iniciando ou provocando o fato delituoso. Por sua própria conduta ela incita ou colabora com a ação delituosa e existe uma culpabilidade recíproca onde a pena pode ser reduzida ao agente do delito. • Vítima agressora, simuladora ou imaginária: é a pessoa que em decorrência de uma anomalia psíquica ou mental, acredita ser vítima da ação criminosa, o que acaba justificando a legítima defesa de seu agressor. 12. Vitimização Vitimização é o caminho, interno e externo, que segue um indivíduo para se converter em vítima. É o conjunto de etapas cronológicas que se submete o indivíduo para ser tornar vítima. Podemos destacar o processo sobre o seguinte aspecto: • vitimização primária: danos causados à vítima decorrente do crime 24 (material, físico, psicológico, etc); • vitimização secundária: sofrimento causado à vítima pela dinâmica que gerencia os sistemas de justiça criminal. (Delegacia, Ministério Público, Penitenciárias, etc); • vitimização terciária: desamparo devido à omissão do Estado e da sociedade. A contar do momento em que o Estado monopolizou a distribuição da Justiça, a vítima foi neutralizada; porém, a Vitimologia deve ter como meta a orientação para a maior proteção dos indivíduos, como exemplo, há de se destacar a Lei n.º 9.099/95, que se preocupou com a reparação do dano à vítima. “... a lei 9.099/95, no âmbito da criminalidade pequena e média, introduziu no Brasil o chamado modelo consensual de Justiça Criminal. A prioridade agora não é o castigo do infrator, senão, sobretudo a indenização dos danos e prejuízos causados pelo delito em favor da vítima”. (GOMES, op. Cit., p. 430). Assim, a Lei propõe uma inversão, a pena privativa de liberdade como exceção para casos especiais, com maior destaque para as penas alternativas. Resta claro que ainda há muito a se explorar; porém, é mister concluirmos pela ascensão do papel da vítima como elemento estrutural do Estado Democrático de Direito. 12.1. Vitimização no sistema penitenciário. O sistema penitenciário, por sua vez, é um contexto de vitimização para preso, funcionários, ou quem dele se serve. A vitimização dos profissionais da Área de Segurança, em função de suas atribuições cotidianas, já vem se tornando pauta de discussões pelos órgãos competentes, profissionais da área e sociedade civil. Dentre concordâncias e dissensões, o objetivo não é outro senão buscar soluções, tudo isso devido à grande diversidade de profissionais envolvidos, quais sejam: funcionários da área administrativa, técnicos, Agentes de Segurança, Agentes de Escolta e Diretores, ou seja, pessoas de diferentes habilitações profissionais e de 25 diferentes Unidades Penitenciárias, onde é função cumprir o papel de reintegrar o preso à sociedade, tudo isso correlacionado com a farta legislação do país, por leis estaduais, por manuais de procedimentos internos das Unidades Penitenciárias, sem haver um comprometimento no papel Segurança versus Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Por outro lado, no que se refere aos encarcerados, é certo que a função reintegradora tem como antagonista a opinião pública que, influenciada pela mídia, fomenta o pânico social, visando à implementação de ações repressoras através de reformas pontuais na lei penal, de modo a satisfazer o clamor popular. Daí o aparecimento de leis de cunho ideológico como é o caso da Lei dos Crimes Hediondos, que promoveu um endurecimento nas penas privativas de liberdade cominadas, bem como de políticas oportunistas que prometem o fomento de uma segurança pública de curto prazo. Ademais, altos índices de reincidência e o agravamento da periculosidade dos egressos apenas aprofundam o problema da criminalidade nas sociedades que utilizam a prisão como método primordial de punição criminal, ensejando uma tomada de posição em relação à questão social. Em sistemas fechados, como o penitenciário, as formas de tentar abrandar o processo de vitimização seria, por exemplo, incrementar o sistema progressivo das penas privativas de liberdade, fazendo cumprir o papel dos técnicos na reintegração do preso, assegurando a disciplina e a ordem institucional, integrando corpo técnico e de segurança, o que favoreceria o abrandamento desse processo, sem desconsiderar o papel da sociedade no que se refere ao controle social. Em síntese, nem todos têm plena consciência do processo de vitimização a que estão sujeitos, seja como vítima, seja como agressor. 12.2. Cifra Negra A estatística criminal é ferramenta indispensável para se identificar o liame causal entre os fatos que influenciam a criminalidade e os ilícitos criminais praticados. Por outro lado, esses dados devem ser verificados com estrema cautela sendo que muitos crimes não são comunicados aos órgãos do Poder 26 Público por diversos fatores, sendo os principais ligados a inércia ou desinteresse da vítima. Diante da não comunicação de delitos praticados (cifra negra) haverá 2 (dois) dados distintos e conflitantes para a aferição da criminalidade: a criminalidade real e a criminalidade revelada. A cifra negra, zona escura ou dark number, representa a diferença existente entre a criminalidade real e a criminalidade registrada pelos órgãos públicos. A Cifra negra é o número de delitos que por algum motivo não são levados ao conhecimento das autoridades públicas, contribuindo para uma estatística distorcida da realidade criminal. 13. Prisionização Prisionização é o processo de adoção, em maior ou menor grau, dos usos e costumes, bem como hábitos e conduta geral da prisão. É um processo inevitável para o preso, que perde seu “status” de pessoa, sua identidade e se transforma em um “anônimo”. Ao mesmo tempo, absorve uma “cultura paralela”, com definição de regras próprias, de uma nova ética, de uma moral e de costumes próprios da prisão, com critérios de felicidade também próprios. O convívio na prisão é uma vida em massa, que desorganiza a personalidade, gerando a aquisição de uma nova identidade (de preso/ ladrão, como é chamado), bem como de um sentimento de inferioridade e empobrecimento psíquico. Por conta da prisionização, a vida carcerária para o preso acarreta diretamente em três perdas básicas: • Perda da identidade: o preso não é mais chamado pelo nome, e sim pelo delito que cometeu,pela alcunha (apelido) que o identifica como criminoso ou pelo número de matrícula; • Perda da privacidade: o preso passa a fazer tudo diante dos demais (vigiado o tempo todo); • Perda da independência: tudo o que necessita precisa pedir para o Agente ou demais funcionários. 27 Em decorrência disso, há uma verdadeira desorganização de sua personalidade com uma série de graves consequências, destacando-se entre elas as seguintes: a) Perda da identidade e aquisição de nova identidade; b) Sentimento de inferioridade; c) Infantilização, regressão; d) Estreitamento do horizonte psicológico; e) Pobreza de experiências, dificuldades de elaboração de planos a médio e longo prazo; f) Dependência, busca de proteção; g) Imediatismo, busca de soluções fáceis e rápidas; h) Projeção de culpa no outro, sobretudo na figura da autoridade; i) Sentimento de perseguição. Os Técnicos, Dirigentes, Agentes Penitenciários e Agentes de Escolta e Vigilância Penitenciários, bem como demais servidores, também sofrem com esse processo. Assim como ocorre com os presos, o processo pode atingir os servidores penitenciários com maior ou menor intensidade. • Os Técnicos, quando esquecem que o preso é uma pessoa e o seu poder de opinar é exercido de forma indiscriminada, arbitrária ou padronizada. • Os Dirigentes, quando se deixam levar pela valorização da segurança, em detrimento da reintegração do homem encarcerado. • Os Agentes e demais servidores, quando consideram que a sociedade é incapaz de compreender o problema e a realidade carcerária e se esquecem da importância de seus papéis sociais, como se estivessem distantes dessas questões. É fato que, tanto a vitimização quanto a prisionização podem atingir indistintamente presos e funcionários, devido a características inerentes à estrutura e ao funcionamento das Unidades Penitenciárias, bem como ao tipo de trabalho e, sobretudo, ao ambiente no qual ele é realizado. Porém, o comportamento do servidor é fator determinante para minimizar seus efeitos, 28 estando sempre atentos com o que ocorre a sua volta, tanto no serviço quanto fora dele. Deverá sempre prezar pela não acomodação ou rotinização do trabalho, valorizando sua importância a si mesmo e para os outros. E principalmente, quando fora do trabalho, possuir total dedicação à sua família, à religião, aos amigos e demais atividades como: esporte, lazer e cultura. A medida visa o relaxamento físico e psicológico, com o distanciamento do aprisionamento constante que podem se tornar os muros da prisão. 14. Controle Social e Direito O Controle Social é a integração da sociedade com a administração pública, com a finalidade de solucionar os problemas e as deficiências sociais com mais eficiência. O Controle Social é um instrumento democrático, no qual há a participação dos cidadãos no exercício do poder, colocando a vontade social como fator de avaliação, para a criação de metas a serem alcançadas no âmbito de algumas políticas públicas, ou seja, é a participação do Estado e da sociedade conjuntamente, onde o eixo central é o compartilhamento de responsabilidades, com o intuito de tornar mais eficazes alguns programas públicos. Portanto, por um lado temos os controles formais, exercidos pelos diversos órgãos públicos que atuam na esfera criminal, como as polícias, Ministério Público, sistema penitenciário, etc. Nesta esfera, o Direito Penal pode ser considerado o ponto central nessa relação, posto que é, através de suas normas, que se realiza a parte mais substancial desse controle, pela tipificação das figuras delituosas consideradas mais nocivas à vida do agrupamento e pela segregação do criminoso do seio dessa sociedade. Por outro lado, temos o controle informal que é o do dia-a-dia das pessoas dentro de suas famílias, escola, profissão, opinião pública, etc. A imensa maioria da população não delinque, pois sucumbe às barreiras desse primeiro controle. O sistema informal vai socializando a pessoa desde a sua infância (ex: âmbito familiar), e ele é, em geral, sutil e não possui uma pena, além de ser mais ágil na resolução dos conflitos que os mecanismos públicos. O desprezo social 29 (ex: a punição informal com o afastamento das amizades ou de alguns membros da própria família) são sanções que, para a grande maioria, são mais que suficientes para inibir a prática de um crime. Assim, Controle Social é uma maneira de estabelecer um compromisso entre o poder público e a sociedade, com a finalidade de encontrar saída para os problemas econômicos e sociais. O aumento da repressão do sistema formal não significa que automaticamente irá ocorrer a redução dos índices de criminalidade. O sistema só funciona corretamente com uma melhor distribuição de funções entre os mecanismos informais e formais no controle da criminalidade. O que existe hoje é um excesso de atribuições para levar as pessoas a não cometerem delitos, sobrecarregando o sistema de controle formal. Isso fica patente quando se aprova uma lei penal desproporcionalmente severa e o resultado prático é nulo, continuando a espécie de delito tratado pela nova lei penal a ser praticado na mesma velocidade pelos infratores. Daí a importância de se fortalecerem os chamados controles informais (ética, família, religião, etc.), porquanto o sistema de controle formal acaba sobrecarregado de uma missão que, em tese, deveria ser mais bem compartilhada com o sistema informal. A família é uma peça fundamental nesse intricado problema. Uma família desestruturada pode gerar adultos problemáticos para enfrentarem a complexidade da convivência social, aproximando-os das drogas e do alcoolismo desenfreado, o que possibilita o aparecimento de oportunidades para a prática de delitos. Nesse contexto, a aplicação efetiva das normas de proteção de crianças e adolescentes da Lei Federal 8069/90, com o acompanhamento de psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais, impediria que muitos adolescentes optassem, posteriormente, pelo caminho do crime. Enfim, com a integração dos controles sociais: informal (prévio) e formal (posterior-estatal) e com uma equilibrada divisão dessas missões, ocorrerá uma importante contribuição para se reduzir os índices de criminalidade de forma mais eficiente. 30 31 15. O Papel do Agente de Penitenciário O objetivo da lei de execução penal é efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado (art. 1º da LEP). Em respeito ao mandamento legal, a SAP tem como missão promover a execução administrativa das penas privativas de liberdade, das medidas de segurança detentivas e das penas alternativas à prisão, cominadas pela justiça comum, e proporcionar as condições necessárias de assistência e promoção ao preso, para sua reinserção social, preservando sua dignidade como cidadão. Após a análise de ambos os dispositivos legais, chega-se a conclusão de que todos os servidores da Secretaria de Administração Penitenciária Paulista, independente da função ou cargo que ocupem, devem desempenhar as suas atribuições com o intento de cumprir as disposições de sentença judicial e proporcionar condições para a reinserção da pessoa preso, seja direta ou indiretamente, ou simplesmente como auxiliar ou facilitador para que a missão seja cumprida. 15.1. O Papel do Agente de Segurança Penitenciária O Agente de Segurança Penitenciário é um agente público, representante do poder executivo, responsável pela aplicação do cumprimento da pena imposta pelo Juiz de Direito e, para tanto, deverá ser cumpridor das normas relacionadas às atividades e principalmente aplicador da Lei de Execução Penal às pessoas custodiadas, fazendovaler os direitos, bem como fiscalizando as obrigações. É também responsável pelo controle social da criminalidade. Portanto, o seu papel é mais do que o de um cidadão comum tendo em visto que por estar investido num cargo público possui o atributo da responsabilidade funcional, assim sendo é um agente formal do controle da criminalidade. Seu objetivo fundamental é zelar pelo cumprimento do mandamento judicial, evitar fugas e agir como agente facilitador, para que os técnicos e demais responsáveis possam aplicar a terapêutica penal, visando minimizar os efeitos negativos da pena no condenado e possibilitar seu retorno ao convívio social de forma positiva, evitando-se assim sua reincidência. Por sua vez, como “produtor de conhecimentos”, poderá ter uma visão de 32 Criminologista, e através do método da observação, fornecer dados visando auxiliar na criação de regras e normas necessárias ao bom andamento das atividades desenvolvidas. 15.2. O Papel do Agente de Escolta e Vigilância Penitenciário O Agente de Escolta e Vigilância Penitenciário é um agente público, representante do poder executivo, responsável pela escolta das pessoas presas, em movimentações externas, e pela guarda da unidade prisional visando a não ocorrência de fugas e arrebatamento de custodiados pela Secretaria de Administração Penitenciária. Portanto, o seu papel é mais do que o de um cidadão comum tendo em visto que por estar investido num cargo público possui o atributo da responsabilidade funcional, assim sendo é um agente formal do controle da criminalidade. Seu objetivo fundamental é zelar pelo cumprimento do mandamento judicial, escoltar e vigiar pessoas presas para que não ocorram fugas, crimes e atos irregulares praticados pelos recolhidos. Quando no cumprimento de seu dever institucional, seus atos deverão ser pautados em leis e regulamentos que disciplinam a conduta do agente público e, especificamente, do AEVP. Há que destacar também que a pessoa presa deverá cumprir as normas e procedimentos previamente estabelecidos e, não o fazendo, arcarão com seus atos criminosos ou irregulares. Por outro lado, não se pode jamais esquecer que a pessoa presa é também detentora de direitos os quais deverão ser respeitados em sua plenitude e, atos abusivos ou criminosos deverão ser punidos. Além dos direitos específicos referentes ao sexo e condições de saúde dos custodiados, deverão ser levados em conta procedimentos específicos visando respeitas as diferenças de gênero. Por sua vez, como “produtor de conhecimentos”, poderá ter uma visão de Criminologista, e através do método da observação, fornecer dados visando auxiliar na criação de regras e normas necessárias ao bom andamento das atividades desenvolvidas. 33 16. Política Criminal. "A Política Criminal é a ciência ou a arte de selecionar os bens (ou direitos) que devem ser tutelados jurídica e penalmente e escolher os caminhos para efetivar tal tutela..." (ZAFFARONI, 1999:132). Evidentemente, isto implica na crítica dos caminhos já eleitos. Desta forma a Política Criminal age para efetivar a tutela dos bens jurídicos, ao mesmo tempo em que exerce a crítica, como forma de aprimoramento de tal tutela. Assim, busca fornecer orientação aos legisladores para que o combate à criminalidade se faça racionalmente, com o emprego de meios adequados. Analisando e questionando ao ordenamento em vigor, busca promover sua alteração e adequação às políticas recomendadas. Para atingir as suas finalidades, a Política Criminal atua por intermédio da prevenção geral e da prevenção especial. Na prevenção geral, o fim intimidativo da pena dirige-se a todos os destinatários da norma penal, visando impedir que os membros da sociedade pratiquem crimes. A pena atua psiquicamente sobre a generalidade dos membros da comunidade, afastando-os da prática de crimes através da ameaça penal determinada pela lei, da aplicação das penas e da sua efetiva execução. Funciona como uma coação psicológica, uma intimidação. Já na prevenção especial, a pena visa o autor do delito, retirando-o do meio social, impedindo-o de delinquir e procurando corrigi-lo. A pena atua preventivamente sobre o delinquente, a fim de evitar que, futuramente, ele cometa novos crimes. Na verdade, o que se visa na prevenção especial é a prevenção da reincidência. Deve-se notar também que o objetivo da política criminal não se esgota apenas na infração penal. Vai além. Para a prevenção da criminalidade, a política criminal atua em todas as áreas, – políticas, sociais, culturais, econômicas – visando sempre impedir a prática de crimes. Dentre as providências para fins de prevenir a criminalidade, encontra-se a produção de leis justas e humanas, adequadas à realidade social e às necessidades do momento. Dessa forma, quem faz a política criminal acontecer é o legislador, tipificando crimes e estabelecendo as respectivas penas. Existe no Brasil o CNPCP - Conselho Nacional de Política Criminal e 34 Penitenciária, órgão ligado ao Ministério da Justiça, Brasília/DF. Podemos citar como algumas das propostas deste órgão: incentivo da remição pelo estudo, a ampliação das defensorias públicas, políticas públicas de combate às DSTs dentro dos presídios, ampliação do número de Centrais de Penas e Medidas Alternativas, criação de Varas de Execução especializadas em penas e medidas alternativas, promoção de incentivos fiscais para o ingresso de indústrias nas Penitenciárias, melhorar as condições do cárcere, estimular a criação de serviços de inteligência penitenciária, dentre muitas outras. A política criminal deve transformar a experiência criminológica em estratégias de ação dos poderes constituídos, capazes de compreender o fenômeno "crime-criminoso-vítima" e as formas de controle social da criminalidade e de tornar mais eficazes as formas de prevenção do delito. 17. Assuntos a serem refletidos sob a ótica da Criminologia 17.1. Reflexo das drogas frente à criminalidade. O tráfico e o consumo de drogas, que são interdependentes, estão entre os mais graves problemas contemporâneos, sob qualquer aspecto que se encare. Ou seja, tanto do ponto de vista policial, quanto do familiar, social, sanitário, comportamental e até mesmo filosófico, são males que devem merecer combate constante, permanente e incansável, e de toda a sociedade. O dependente quase sempre perde a família, o emprego, os amigos, mas não a droga. Todavia, para consegui-la, é preciso conseguir o dinheiro, muito dinheiro, sempre mais dinheiro. E quando o status social do dependente não lhe permite isso, quase de imediato ele parte para a violência do roubo. Progressivamente, começa a ser violento contra aqueles que não aceitam sua situação: sua família, seus amigos, colegas de trabalho e, finalmente, contra si mesmo. O uso de drogas vem crescendo a cada dia, atingindo praticamente todas as classes sociais. As drogas são substâncias químicas, naturais ou sintéticas, que provocam alterações psíquicas e físicas a quem as consome e levam à dependência física e psicológica. Seu uso sistemático traz sérias consequências físicas, psicológicas e sociais, podendo levar à morte em casos 35 extremos, em geral por problemas circulatórios ou respiratórios. É o que se chama overdose. Fica a cargo da Portaria 344/98 da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde mencionar a relação das substâncias consideradas ilícitas. E exposto na mídia de todo país várias notícias sobre a prisão de pessoas por tráfico de drogas. E ainda mais, são vistos também outros crimes em função do tráfico como roubos, latrocínios, furtos e homicídios. Uma rede interligada de crimes que tem uma única causa, o tráfico de drogas. A categoria de mortes por causas violentas é a principalresponsável pela mortalidade entre jovens. Dentre as causas, as mortes por homicídio ocupam posição de destaque - em especial nos grandes centros urbanos brasileiros. Para a mídia e a opinião pública, homicídios associados ao uso e venda de drogas é a face mais atemorizante e visível da violência urbana. O imaginário público é assolado por chacinas, execuções e confrontos entre quadrilhas de traficantes como ilustrações dramáticas que parecem, crescentemente, tomar conta do cotidiano dos grandes centros urbanos brasileiros. Existem várias maneiras pelas quais os crimes podem estar associados à questão das drogas. A primeira delas está relacionada com os efeitos das substâncias tóxicas no comportamento das pessoas. Outra forma de associação decorre do fato de tais substâncias serem comercializadas ilegalmente, gerando então violência entre traficantes, corrupção de representantes do sistema da justiça criminal e ações criminosas de indivíduos em busca de recursos para a manutenção do vício. O que ainda assombra nossa sociedade é que muitas pessoas, que são conhecidas como “mulas” do tráfico, não têm consciência das consequências de seus atos por pensarem que traficar drogas é igual a vender bebidas ou cigarros, o que na verdade é bem diferente, tendo em vista a consequência do tráfico na sociedade, resultando num emaranhado de crimes resultantes de sua ação. Desta forma, é responsável também o usuário de drogas, que pensa que somente satisfaz as suas vontades (vício), pouco importando as consequências que surgirão provenientes de sua compra ilegal. 36 Assim, nossa sociedade clama por uma atitude dos poderes públicos, não só falando do judiciário, que vem atuando com mãos de ferro para prevenir e reprimir o tráfico de drogas, mas também dos governantes, que deveriam ensinar e incentivar as pessoas a denunciarem o tráfico de drogas, dando estudo e qualidade de vida a todos. As drogas podem ser classificadas de acordo com a ação que exercem sobre o sistema nervoso central, e se dividem em: depressoras, estimulantes, perturbadoras ou, ainda, combinar mais de um efeito. Depressoras – diminuem a atividade cerebral, deixando os estímulos nervosos mais lentos. Fazem parte desse grupo o álcool, os tranquilizantes, o ópio (extraído da planta Papoula somniferum) e seus derivados, como a morfina e a heroína. Estimulantes - aumentam a atividade cerebral, deixando os estímulos nervosos mais rápidos. Excitam especialmente as áreas sensorial e motora. Nesse grupo estão as anfetaminas, a cocaína (produzida das folhas da planta da coca, Erytroxylum coca) e seus derivados, como o crack. Perturbadoras - fazem o cérebro funcionar de uma maneira diferente, muitas vezes com efeito alucinógeno. Não alteram a velocidade dos estímulos cerebrais, mas causam perturbações na mente do usuário. Incluem a maconha, o haxixe (produzidos da planta Cannabis Sativa), os solventes orgânicos (como a cola de sapateiro) e o LSD (ácido lisérgico). Drogas com efeito misto - combinam dois ou mais efeitos. A droga mais conhecida desse grupo é o ecstasy – metileno dioxi-metanfetamina (MDMA), que produz uma sensação ao mesmo tempo estimulante e alucinógena. Prevenção e tratamento - Os especialistas afirmam que o melhor modo de combater as drogas é a prevenção. Informação, educação e diálogo são apontados como o melhor caminho para impedir que adolescentes se viciem. Para usuários que ainda não estão viciados, o tratamento recomendado são a psicoterapia e a participação em grupos de apoio. Para combater o vício, além das terapias, são usados medicamentos que reduzem os sintomas da abstinência ou que bloqueiam os efeitos das drogas, devendo também o usuário ser inserido em atividades físicas, culturais e de artes. 37 17.2. Crime Organizado O conceito de organização criminosa no Brasil é trazido pela Lei nº 12.850, de 02 de agosto de 2013. Além da definição, a lei dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado. De acordo com o parágrafo 1º, do artigo 1º da referida lei: Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenadas e caracterizadas pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. São inúmeras as organizações criminosas existentes atualmente pelo mundo afora, cada uma com características e peculiaridades próprias, amoldadas às próprias necessidades e facilidades que encontram no âmbito territorial em que atuam, como condições: políticas, territoriais, econômicas, sociais etc. As organizações criminosas tradicionais podem ser concebidas como um organismo ou empresa, cujo objetivo seja a prática de crimes de qualquer natureza, ou seja, são empresas voltadas à prática de atividades ilegais. Os principais elementos das organizações criminosas clássicas são: estrutura hierárquico-piramidal (chefe, subchefes, gerentes, aviões e operacionais); divisão de tarefas; membros restritos; participação ou envolvimento de agentes públicos; orientação para obtenção de dinheiro ou poder e domínio territorial. Já as principais atividades de execução desenvolvidas pelas organizações são: diversificação das atividades; mescla de atividades lícitas com atividades ilícitas e o uso de violência. As organizações acabam por criar as suas próprias leis, definindo um código de comportamento ao qual devem se adequar todos os integrantes, e que delimita as regras, a hierarquia, a distribuição de tarefas e as compensações que seus membros acabam por receber diante da participação e das tarefas executadas. 38 A partir da década de 1980, com maior força desde o início do século XXI, as organizações criminosas acabaram por experimentar um novo modelo, em contraste com o formato original. Esse novo modelo é impulsionado pela globalização e pela facilidade encontrada pelas pessoas para se locomoverem no globo terrestre. Estão divididas basicamente em: Grandes ou Transnacionais; Médias; Pequenas e as Temporárias. As Grandes ou Transnacionais concentram as suas atividades nas grandes cidades, principalmente nos centros financeiros. São as máfias italianas (Cosa Nostra, Camorra, etc.); as máfias russas; os cartéis colombianos (Medelín, Cali, FARCs, etc.); as máfias nigerianas etc. As Médias concentram as suas atividades nas cidades médias, podendo ser intermunicipais ou interestaduais. O problema da atuação interestadual está no domínio territorial, sendo que uma organização dominante de um território, no Brasil, consegue, via de regra, impedir o ingresso de outra alienígena. As Pequenas estão fixadas no território de uma cidade e confundem-se muitas vezes com quadrilhas especializadas (assalto, tráfico de entorpecentes etc.). Não se pode confundir uma organização criminosa pequena com uma quadrilha, sendo que a primeira possui estrutura organizacional. Ex. A quadrilha com quatro ou cinco componentes para assaltar bancos. Combinam a agência, armam-se, preparam precariamente o plano e o executam. Já a organização com a mesma finalidade teria o cuidado de estudar o esquema de vigilância, perceber os dias de maior movimentação financeira, tentar arrebanhar servidores da agência, distribuir e planejar a tarefa de cada integrante etc. É importante destacar que uma quadrilha que se organize pode vir a se tornar, um dia, uma organização criminosa. Já os Grupos temporários se formam sob o comando de um líder, com vasta influência criminosa. Ele reúne pessoas que para trabalharem temporariamente para a prática de alguns delitose em seguida o grupo se dissolve. Esse modelo surgiu na China na década de 1990 e busca campos férteis para a realização de crimes, levando-se em conta a deficiência do Estado no local onde pretendem praticá-los. 39 17.3. Criminalidade Feminina. Estudos datam que desde a época colonial as mulheres já integravam o sistema carcerário. No entanto não havia cárceres exclusivamente femininos. Sendo assim as “mulheres eram confinadas junto com os homens, “frequentemente dividindo a mesma cela” O perfil das mulheres presas era predominantemente de prostitutas e escravas. (Angotti, 2012, p19). Os relatos da época já mencionavam problemas como: abandono, várias doenças, abusos sexuais, promiscuidade, além de problemas específicos pelo fato de serem vigiadas por guardas masculinos em sua maioria. Embora a problemática dos presídios femininos já fosse discutida desde o final do século XIX, somente na década de 1940 é que nascem os primeiros estabelecimentos prisionais femininos em alguns Estados brasileiros. “O ‘aproveitamento das habilidades das internas’ e a ‘absorção’ de suas “potências femininas” como parte do plano de recuperação moral pelo trabalho e pelo desenvolvimento de “sentimentos” próprios da mulher compunha a proposta de cárcere feminino...” (Angotti, 2012, p.266). A população prisional brasileira está aumentando de forma assustadora nos últimos anos, agravada ainda mais quando se fala da população feminina. Entre os anos de 2000 e junho de 2011, mês em que foi realizado o último balanço do sistema carcerário nacional pelo DEPEN (Departamento Penitenciário Nacional), o número geral de presos no Brasil cresceu 121%, já que, em 2000, a população carcerária totalizava 232.755 detentos, enquanto que, em junho de 2011, contabilizava 513.802 presos. Nesse ínterim, só o número de detentas (mulheres) cresceu 252% uma vez que, em 2000, as mulheres representavam 4,3% da população carcerária nacional (ou 10.112 detentas), índice que em 2011 subiu para 7,4% (ou 35.596 detentas). No mesmo período, o crescimento do número de homens presos foi de 115%, ou seja, duas vezes menor que o das mulheres. No decorrer desses dez 40 anos e meio, enquanto a população masculina dobrou a população feminina mais que triplicou. Situação esta que se justifica por diversos fatores, dentre eles o maior envolvimento das mulheres no cometimento de delitos previstos na Lei de Drogas e Entorpecentes. O machismo muito provavelmente também está presente no tema “risco de ser preso”. Os homens estariam “usando” as mulheres para o transporte de drogas, o que diminui o risco deles frente à prisão. A mulher, com isso, fica muito mais exposta. Por detrás disso tudo, estaria a causa machista (o homem se sente dono da mulher, inclusive para gerar para ela o alto risco de prisão em razão da posse de drogas). Apesar de representar a minoria do número de detentos no país, o crescimento da população carcerária feminina tem sido vertiginoso, provando que a mulher vem se envolvendo cada vez mais no universo da criminalidade e, por conseguinte, compõe cada dia mais o sistema carcerário saturado. Figura 01: Crescimento da população carcerária nos últimos 10 (dez) anos. Sexo 2000 2012 Número de vagas em 2012 Aumento da população Geral 232.755 547.577 309.074 236% Homens 222.643 513.643 287.150 230% Mulheres 10.112 36.039 21.924 356% Figura 02: Dados referentes à população carcerária em 2014. Quantidade de vagas em presídios (2014) 357.219 Quantidade de mandados de prisão a cumprir 373.991 Quantidade de pessoas presas 567.000 Falta de vagas em presídios 210.000 Presos que estão em Regime Aberto 148.000 41 0 5 10 15 20 25 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Estado Capital Figura 03: Dados referentes à polução carcerária de São Paulo em 2014. Total de pessoas presas em 09/06/2014 216.925 Média mensal de pessoas encaminhadas as unidades prisionais do Estado em 2013 9.411 Figura 04: Número de homicídios cometidos por 100 mil habitantes no Estado de São Paulo e na Cidade de São Paulo. A Organização Mundial da Saúde considera situação epidêmica quando a taxa de homicídios é superior a 10 casos por 100 mil habitantes. 42 18. 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