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DAS PESSOAS NATURAIS DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE O conceito personalidade está umbilicalmente ligado ao de pessoa. Todo aquele que nasce com vida torna-se uma pessoa, ou seja, adquire personalidade. Esta é, portanto, qualidade e atributo do ser humano. A personalidade é, portanto, o conceito básico de ordem jurídica, que a estende a todos os homens, consagrando-a na legislação civil e nos direitos constitucionais de vida, liberdade e igualdade. Clóvis Beviláque a define: a aptidão, reconhecida pela ordem jurídica a alguém, para exercer direitos e contrair obrigações. CAPACIDADE JURÍDICA O art. 1º do novo Código Civil entrosa o conceito de capacidade com o de personalidade, ao declarar que toda “pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. Afirmar que o homem tem personalidade é o mesmo que dizer que ele tem capacidade para ser titular de direitos. Todavia, embora se interpenetrem, tais atributos não se confundem, uma vez que a capacidade pode sofrer limitação. “Enquanto a personalidade é um valor, a capacidade é a projeção desse valor que se traduz em um quantum”. Pode-se dizer mais ou menos capaz, mas não se pode dizer mais ou menos pessoa. CAPACIDADE DE DIREITO É a capacidade que todos têm e adquirem ao nascer com vida, é a capacidade de direito ou de gozo, também denominada capacidade de aquisição de direitos. Essa espécie de capacidade é reconhecida a todo ser humano, sem qualquer distinção. Estende-se aos privados de discernimento e aos infantes em geral, independentemente de seu grau de desenvolvimento mental. Podem estes, assim, herdar bens deixados por seus pais, receber doações, etc. CAPACIDADE DE FATO Nem todas as pessoas têm, contudo, a capacidade de fato, também denominada capacidade de exercício ou de ação, que é a aptidão para exercer, por si só, os atos da vida civil. Por faltarem a certas pessoas alguns requisitos materiais, como maioridade, saúde, desenvolvimento mental, etc., a lei, com o intuito de protegê-las, malgrado não lhes negue a capacidade de adquirir direitos, sonega-lhes o de se autodeterminarem. De os exercer pessoal e diretamente, exigindo sempre a participação de outra pessoa, que as represente ou assiste. Assim, os recém-nascidos e os amentais possuem apenas a capacidade de direito, podendo, por exemplo, como já se afirmou, herdar. Mas não têm a capacidade de fato ou de exercício. Para propor qualquer ação em defesa da herança recebida, precisam ser representados pelos pais e curadores, respectivamente. Quem possui as duas espécies de capacidade (de direito + de fato) tem capacidade plena. Quem só ostenta a de direito, tem capacidade limitada e necessita como visto, de outra pessoa que substitua ou complete sua vontade. São, por isso, chamados de incapazes. CONCEITO DE PESSOA NATURAL Dispõe o art. 1º do Código Civil: “Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.” O Título I do Livro I do Código Civil de 2002, concernente às pessoas, dispõe sobre as “pessoas naturais”, reportando-se tanto ao sujeito ativo como ao sujeito passivo da relação jurídica. Pessoa natural é, portanto, o ser humano considerado como sujeito de direitos e deveres. Para qualquer pessoa ser assim designada, basta nascer com vida e, desse modo, adquirir personalidade. COMEÇO DA PERSONALIDADE NATURAL o O NASCIMENTO COM VIDA Prescreve o art. 2º do Código Civil: “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.” De acordo com o sistema adotado, tem-se, pois, o nascimento com vida como o marco inicial da personalidade. Respeitam-se, porém, os direitos do nascituro, desde a concepção, pois desde esse momento já começa a formação do novo ser. Ocorre o nascimento quando a criança é separada do ventre materno, não importando que tenha o parto sido natural, feito com auxílio de recursos obstétricos ou mediante intervenção cirúrgica. Para se dizer que nasceu com vida, todavia, é necessário que haja respirado. Se respirou, viveu, ainda que tenha perecido em seguida. Por isso, muitas vezes, torna-se de suma importância saber se o feto, que morreu durante o parto, respirou e viveu, ainda que durante alguns segundos, principalmente se, por exemplo, o genitor, recém-casado pelo regime de separação de bens, veio a falecer, estando vivos os seus pais. Se o infante chegou a respirar, recebeu, nos poucos segundos de vida, todo o patrimônio deixado pelo falecido pai, a título de herança, e a transmitiu em seguida, por sua morte, à sua herdeira, que era a sua genitora. Se, no entanto, nasceu morto (natimorto), não adquiriu personalidade jurídica e, portanto, não chegou a receber nem a transmitir a herança deixada por seu pai, ficando esta com os avós paternos. A SITUAÇÃO JURÍDICA DO NASCITURO Três grandes teorias procuram definir a situação jurídica do nascituro: o A natalista: Afirma que a personalidade civil somente se inicia com o nascimento com vida. Nascer com vida, respirar. o A da personalidade condicional: sustenta que o nascituro é pessoa condicional, pois a aquisição da personalidade acha-se sob dependência de condição suspensiva, o nascimento com vida, não se tratando propriamente de uma terceira teoria, mas de um desdobramento da teoria natalista, uma vez que também parte da premissa de que a personalidade tem início com o nascimento com vida. o A concepcionista: admite que adquire-se a personalidade antes do nascimento, ou seja, desde a concepção, ressalvados apenas os direitos patrimoniais, decorrentes de herança, legado e doação, que ficam condicionados ao nascimento com vida. DAS INCAPACIDADES No direito brasileiro, não existe incapacidade de direito, porque todos se tornam, ao nascer, capazes de adquirir direitos (CC, art. 1º). Há, portanto, somente incapacidade de fato ou de exercício. Incapacidade, destarte, é a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil, imposta pela lei somente aos que, excepcionalmente, necessitam de proteção, pois a capacidade é a regra. A incapacidade pode ser absoluta e relativa, conforme o grau de imaturidade, deficiência física ou mental da pessoa e, supre-se através dos institutos da representação e da assistência. O art. 3º do Código Civil menciona os absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os seus direitos e que devem ser representados, sob pena de nulidade do ato. O art. 4º do Código Civil enumera os relativamente incapazes, dotados de algum discernimento e por isso autorizados a participar dos atos jurídicos de seu interesse, desde que devidamente assistidos por seus representantes legais, sob pena de anulabilidade, salvo algumas hipóteses restritas em que se lhes permite atuar sozinhos. INCAPACIDADE ABSOLUTA, art. 3º CC A incapacidade absoluta acarreta a proibição total do exercício, por si só, do direito. O ato somente poderá ser praticado pelo representante legal do absolutamente incapaz. A inobservância dessa regra provoca a nulidade do ato, nos termos do art. 166, I, do CC. “Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I – os menores de dezesseis anos; II – os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III – os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.” o Observação: A nossa lei não considera os chamados intervalos lúcidos. Assim, se declarado incapaz, os atos praticados pelo privado de discernimento serãonulos, não se aceitando a tentativa de demonstrar que, naquele momento, encontrava-se lúcido, visto que a incapacidade mental é considerada um estado permanente e contínuo. O procedimento de interdição. Natureza jurídica da sentença O procedimento de interdição é especial de jurisdição voluntária e segue o rito estabelecidos nos arts. 1.177 do CPC, bem como as disposições da Lei dos Registros Públicos (Lei n. 6.015/73). É obrigatória o exame pessoal do interditando, em audiência, ocasião em que será minuciosamente interrogado pelo juiz acerca de sua vida, negócios, bens e do mais que lhe parecer necessário para ajuizar do seu estado mental. Também será obrigatório a nomeação de um perito médico para proceder o exame do interditando. É nulo o processo em que não se realizou o referido interrogatório ou não foi feito o exame pericial. Decretada a interdição, será nomeado um curador ao interdito, sendo a sentença de natureza declaratória. Para assegurar a sua eficácia erga omnes, a sentença deve ser registrada em livro especial no Cartório do 1º Ofício do Registro Civil da comarca em que for proferida, bem como deverá ser publicada três vezes na imprensa local e na oficial. É nulo o ato praticado pelo enfermo ou deficiente mental depois dessas providências. o A interdição de pessoas idosas; Embora comum o pedido de interdição de pessoa idosa, a velhice ou senilidade, por si só, não é causa de limitação da capacidade, salvo se motivar um estado patológico que afete o estado mental e, em consequência, prive o interditando do necessário discernimento para gerir os seus negócios ou cuidar de sua pessoa. Nesse caso, a incapacidade advém do estado psíquico, e não da velhice. INCAPACIDADE RELATIVA, art. 4º CC A incapacidade relativa permite que o incapaz pratique atos da vida civil, desde que assistido por seu representante legal, sob pena de anulabilidade (CC, art. 171, I). Certos atos, porém, pode praticar sem a assistência de seu representante legal, como ser testemunha, aceitar mandato, fazer testamento, exercer empregos públicos para os quais não for exigida a maioridade, casar, ser eleitor, celebrar contrato de emprego, etc. “Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I – os maiores de dezesseis anos e menores de dezoitos anos; II – os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III – os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV – os pródigos Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial”. Como as pessoas supramencionadas já têm razoável discernimento, não ficam afastadas da atividade jurídica, podendo praticar determinados atos por si sós. Estes, porém, constituem exceções, pois elas devem estar assistidas por seus representantes para a prática dos atos em geral, sob pena de anulabilidade. o Hipótese de perda da proteção legal: para os absolutamente incapazes a proteção legal é incondicional. Os maiores de 16 anos, já tendo discernimento suficiente para manifestar sua vontade, devem, em contrapartida, para merecê-la proceder de forma correta, conforme o Art. 180, CC: “Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir- se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quanto inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior”. o Obrigações resultantes de atos ilícitos: Art. 928, CC, o incapaz (amental ou menor de qualquer idade) “responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de o fazer ou não dispuserem de meios suficientes”. Acrescenta o parágrafo único que a indenização prevista nesse artigo, “que deverá ser equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem”. Desse modo, se a vítima não conseguir receber a indenização da pessoa encarregada de sua guarda, que continua responsável em primeiro plano (art. 932, I), poderá o juiz, mas somente se o incapaz for abastado, abundante, rico, condená-lo ao pagamento de uma indenização equitativa. Adotou-se, pois, o princípio da responsabilidade subsidiária e mitigada dos incapazes. o Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos e os deficientes mentais de discernimento reduzido: O novo Código. Incluiu os ébrios habituais, os toxicômanos e os deficientes mentais de discernimento reduzido no rol dos relativamente incapazes. Somente, porém, os alcoólatras, ou dipsômanos (individuo que possui desejo incontrolável de consumir bebidas), e os taxicômanos, isto é, os viciados no uso e dependentes de substâncias alcoólicas ou entorpecentes, bem como os fracos de mente, são assim considerados. Os usuários eventuais que, por efeito transitório dessas substâncias, ficarem impedidos de exprimir plenamente sua vontade estão elencados no art. 3º, III, do aludido estatuto como absolutamente incapazes. Os deficientes mentais de discernimento reduzido são os fracos de mente ou fronteiriços. Estabeleceu-se, assim, uma gradação para a debilidade mental: quando privar totalmente o amental do necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil, acarretará a incapacidade absoluta (art. 3º, II); quando, porém, causar apenas a sua redução, acarretará a incapacidade relativa. Da mesma forma, poderão os viciados em tóxicos que venham a sofrer redução da capacidade de entendimento, dependendo do grau de intoxicação e dependência, ser considerados, excepcionalmente, absolutamente incapazes pelo juiz, que procederá à graduação da curatela, na sentença, conforme o nível de intoxicação e comprometimento mental. Assim também procederá o juiz se a embriaguez houver evoluído para um quadro patológico, aniquilando a capacidade de autodeterminação do viciado. Nesse caso, deverá ser tratado como doença mental, ensejadora de incapacidade absoluta, nos termos do art. 3º, II. No entanto, preceituam os arts. 1.772 e 1.782 que, pronunciada a interdição dos deficientes mentais, dos ébrios habituais e dos viciados em tóxicos, o juiz assinará, segundo o estado ou o desenvolvimento mental do interdito, os limites da curatela, que poderão circunscrever-se à privação do direito de, sem curador, praticar atos que possam onerar ou desfalcar o seu patrimônio. o Os excepcionais sem desenvolvimento mental completo: Consideram-se relativamente incapazes não apenas os portadores da “Síndrome de Down”, mas todos os excepcionais sem completo desenvolvimento mental. Aplicam-se também os arts. 1.772 e 1.782, já mencionados, pelos quais o juiz que decretar a interdição das referias pessoas assinará, segundo o estado ou o desenvolvimento mental do interditando, os limites da curatela. Excepcional: é o indivíduo que tem deficiência mental (índice de inteligência significativamente abaixo do normal), deficiência física (mutilação, deformação, paralisia, etc) ou deficiência sensorial (cegueira, surdez, etc) e, por isso, incapacitado de participar em termos de igualdade do exercício de atividades normais. Só os que não têm desenvolvimento mental completo são considerados relativamente incapazes. o Pródigos: é o indivíduo que dissipa o seu patrimônio desvairadamente, gasta imoderadamente, dissipando o seu patrimônio com o risco de reduzir-se à miséria. Trata-se de um desvio de personalidade, comumente ligado à prática do jogo e à dipsomania (alcoolismo), e não, propriamente, de um estado de alienação mental. Se, no entanto, evoluir a esse ponto, transformando-se em enfermidade ou deficiência mental,com prejuízo do necessário discernimento, poderá ser enquadrado como absolutamente incapaz (CC, art. 3º, II). O pródigo só passará à condição de relativamente incapaz depois de declarado como tal em sentença de interdição. Justifica-se a interdição do pródigo pelo fato de encontrar-se permanentemente sob o risco de reduzir-se à miséria, em detrimento de sua pessoa e de sua família, podendo ainda transformar-se num encargo para o Estado, que tem a obrigação de dar assistência às pessoas necessitadas. A curatela do pródigo (CC, art. 1.767, V) pode ser promovida pelos pais ou tutores, pelo cônjuge ou companheiro, por qualquer parente e pelo Ministério Público. Quanto aos efeitos da interdição do pródigo, só interfere em atos de disposição e oneração do seu patrimônio. Pode inclusive administrá-lo, mas ficará privado de praticar atos que possam desfalca-lo, como “emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado”. EFEITOS DA INCAPACIDADE ABSOLUTA Acarreta a proibição total, pelo incapaz, do exercício do direito. Fica ele inibido de praticar qualquer ato jurídico ou de participar de qualquer negócio jurídico. Estes serão praticados ou celebrados pelo representante legal do absolutamente incapaz, sob pena de nulidade, art. 166, I, CC. EFEITOS DA INCAPACIDADE RELATIVA Permite que o incapaz pratique atos da vida civil, desde que assistido por seu representante legal, sob pela de anulabilidade (art. 171, I). Certos atos, porém, pode praticar sem a assistência deste. Quando necessário a assistência, ambos participam do ato: o relativamente incapaz e seu representante. Se necessário for assinar algum documento, ambos os assinarão. Se faltar de um deles, o ato será anulável. CESSAÇÃO DA INCAPACIDADE Cessa a incapacidade quando desaparece a sua causa. Assim, no caso da loucura e da surdez-mudo, por exemplo, desaparece a incapacidade, cessando a enfermidade físico-psíquica que as determinou. Se esta for a menoridade, cessará em dois casos: 1) maioridade, aos 18 anos completos; 2) pela emancipação, que pode ser voluntária, judicial e legal (art. 5º e parágrafo único). Voluntária: é concedida pelos pais, se o menor tiver 16 anos completos, art. 5º parágrafo único; Judicial: é a concedida por sentença, ouvido o tutor, em favor do tutelado que já completou 16 anos; Legal: é a que decorre de determinados fatos previstos na lei, como o casamento, o exercício de emprego público efetivo, a colação de grau em curso de ensino superior e o estabelecimento com economia própria, civil, comercial ou a existência de relação de emprego, tendo o menor 16 anos completos. As emancipações voluntária e judicial devem ser registradas em livro próprio do 1º Ofício do Registro Civil da comarca do domicílio do menor, anotando-se também, com remissões recíprocas, no assento de nascimento (CC, art 9º, II; LRP, art. 107, parágrafo 1º. Antes do registro, não produzirão efeitos. A emancipação legal (casamento, emprego público, etc) independe de registro e produzirá efeitos desde logo, isto é, a partir do ato ou do fato que a provocou. Obs: o casamento válido produz efeito de emancipar o menor, porém, se a sociedade conjugal logo depois se dissolver pela viuvez ou pelo divórcio, não retornará ele à condição de incapaz. Obs: a união estável, todavia, não é causa de emancipação. EXTINÇÃO DA PESSOA NATURAL Art. 6º do Código Civil, “ a existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva”. Somente com a morte real termina a existência da pessoa natural, que pode ser também simultânea (comoriência). Doutrinariamente, pode-se fala em: morte real, morte simultânea ou comoriência, morte civil e morte presumida. o Morte real: Art. 6º do CC, responsável pelo término da existência da pessoa natural. A sua prova faz-se pelo atestado de óbito ou por ação declaratória de morte presumida, sem decretação de ausência (art. 7º), podendo, ainda, ser utilizada a justificação para assento de óbito prevista no art. 88 da LRP (Lei. 6.015/73) quando houver certeza da morte em alguma catástrofe, não sendo encontrado o corpo do falecido. o Morte simultânea ou comoriência: Art. 8º do CC, este que, se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião (não precisa ser no mesmo lugar), não se podendo averiguar qual deles morreu primeiro, presumir-se-ão simultaneamente mortos. Quando duas pessoas morrem em determinado acidente, somente interessa saber qual delas morreu primeiro se uma for herdeira ou beneficiária da outra. Do contrário, inexiste qualquer interesse jurídico nessa pesquisa. O principal efeito da presunção de morte simultânea é que, não tendo havido tempo ou oportunidade para a transferência de bens e direitos entre comorientes, um não herda do outro. Não há, pois, transferência de bens e direitos entre comorientes. Por conseguinte, se morrem em acidente casal sem descentes e ascendentes, sem se saber qual morreu primeiro, um não herda do outro. Assim, os colaterais da mulher ficarão com a meação dela, enquanto os colaterais do marido ficarão com a meação dele. o Morte presumida: A morte presumida por der: com declaração de ausência e sem declaração de ausência. Com declaração de ausência: Presume-se a morte, quanto aos ausentes nos casos em que a lei autoriza. É requerida para que se reconheça que o ausente se encontra desaparecido, autorizando-se a abertura da sucessão provisória e, depois a definitiva (Art. 6º, 2ª parte, CC). Sem declaração de ausência: Art. 7º, do CC, pretende-se que se declare a morte de quem “estava em perigo de vida”, e que se supõe ter ocorrido, sem decretação de ausência. INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NATURAL Principais elementos para a individualização da pessoa natural: o Nome: designação que a distingue das demais e a identifica no seio da sociedade. o Estado: indica a sua posição na família e na sociedade política. o Domicílio: sua sede jurídica. NOME O vocábulo nome é empregado em sentido amplo, indicando o nome completo. Integra a personalidade, individualiza a pessoa, não só durante a sua vida como também após a sua more, e indica a sua procedência familiar. Preceitua o art. 16 do CC que, “toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendido o prenome e o sobrenome”, abrangendo o direito de usá-lo e de defendê-lo contra usurpação, como no caso de direito autoral, e contra exposição ao ridículo. O uso desses direitos é protegido mediante ações, que podem ser propostas independentemente da ocorrência de dano material, bastando haver interesse moral. O uso do pseudônimo: Os literatos e os artistas, muitas vezes, identificam-se pelo pseudônimo ou codinome, um nome fictício adotado, diferente do seu nome civil verdadeiro. Assim, o pseudônimo adotado para atividades lícitas goza de proteção que se dá o nome. Art. 19, a tutela do nome, destarte, alcança o pseudônimo, propiciando direito à indenização em caso de má utilização, inclusiva em propaganda comercial, ou com o intuito de obter proveito político, artístico eleitoral ou religioso. o Elementos do NOME: prenome e sobrenome(apelido familiar). Prenome: é o nome próprio de casa pessoa e serve para distinguir membros da mesma família. Pode ser simples (João, Pedro) ou composto (Maria Júlia). Irmãos não podem ter o mesmo prenome, a não ser que seja duplo, estabelecendo a distinção. O prenome pode ser livremente escolhido pelos pais, desde que não exponha o filho ao ridículo.Sobrenome: é o sinal que identifica a procedência da pessoa, indicando a sua filiação ou estirpe=ascendência. Enquanto o prenome é a designação do indivíduo, o sobrenome é o característico de sua família, transmissível por sucessão. É também conhecido como patronímico, sendo ainda chamado de apelido familiar. o Visão geral das exceções ao princípio da inalterabilidade do nome. A lei prevê as seguintes: substituição do prenome por apelidos públicos e notórios; correção de evidente erro gráfico; retificação de nome que possa expor o seu portador ao ridículo; substituição do prenome ou do nome completo como medida de proteção à testemunho de crime que corre risco de vida; atribuição ao adotado do sobrenome do adotante; adição intermediária de apelidos ou de sobrenome materno, especialmente para evitar homonímia; inclusão do nome de família do padrasto ou madrasta, havendo motivo ponderável; acréscimo ao seu do sobrenome do outro cônjuge, por qualquer dos nubentes; renúncia pelo cônjuge, no divórcio, do nome de casado; direito ao uso, pelo filho, do sobrenome do genitor ou genitora que o reconheceu; direito ao uso, pelo companheiro ou companheira, do patronímico de seu companheiro ou companheira. o A jurisprudência admite ainda, as seguintes exceções: substituição do prenome oficial pelo prenome de uso; tradução de nomes estrangeiros, retificação do nome e do sexo de transexuais; exclusão do sobrenome paterno em virtude de abandono do filho pelo genitor. DOMICÍLIO A noção de domicílio é de grande importância no direito. Como as relações jurídicas se formam entre pessoas, é necessário que estas tenham um local, livremente escolhido ou determinado pela lei, onde possam ser encontradas para responder por suas obrigações. Todos os sujeitos de direito devem ter, pois, um lugar certo no espaço, de onde irradiam sua atividade jurídica. Esse ponto de referência é o seu domicílio (do latim domus, casa ou morada). Uma pessoa pode ter um domicílio e mais de uma residência. Pode ter também mais de um domicílio, pois o Código Civil brasileiro admite a pluralidade domiciliar. Para tanto, basta que tenha diversas residências onde, alternadamente viva, como dispõe o art. 71, ou além do domicílio familiar, tenha também o domicílio profissional, como prescreve o art. 72 do CC. Espécies de domicílio: Domicílio necessário ou legal: do incapaz, é o do seu representante legal; do servidor publico, é o lugar em que exerce permanentemente sua funções; do militar, é onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; do marítimo, é onde o navio estiver matriculado; do preso, é o lugar em que cumpre a sentença. Domicílio voluntário geral: escolhido livremente. Domicílio voluntário especial: fixado com base no contrato, sendo denominado, conforme o caso, foro contratual ou de eleição. DOMICÍLIO PESSOA JURÍDICA Não possui residência, mas sede ou estabelecimento. Trata-se de domicílio especial, que pode ser livremente escolhido, no seu estatuto ou atos constitutivos. Não sendo, o seu domicílio será o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações. Art. 75, IV, CC. DIREITOS DA PERSONALIDADE São direitos subjetivos da pessoa de defender oque lhe é próprio, ou seja, a sua integridade física (vida, corpo), intelectual e moral. Os direitos da personalidade são: inalienáveis, irrenunciáveis, imprescritíveis, absolutos (oponíveis erga omnes), impenhoráveis e vitalícios. O Código Civil disciplina: os atos de disposição do próprio corpo, arts 13 e 14; o direito à não submissão a tratamento médico de risco, art. 15; o direito ao nome e ao pseudônimo, arts. 16 a 19; a proteção à palavra e à imagem, art. 20 e; a proteção a intimidade. DA AUSÊNCIA Ausente é a pessoa que desaparece de seu domicílio sem dar notícia de seu paradeiro e sem deixar um representante ou procurador para administra-lhe os bens, art. 22, CC. A situação do ausente passa por três fases, quais sejam: a 1ª da curadoria do ausente, 2ª da sucessão provisória e a 3ª da sucessão definitiva. o A curadoria dos bens do ausente: desaparecido o indivíduo sem que tenha deixado procurador com poderes para administrar os seus bens, o juiz nomear-lhe-á curador, art. 22 CC. A curadoria fica restrita aos bens, não produzindo efeitos de ordem pessoal, e prolonga-se por um ano, durante o qual serão publicados editais, de dois meses, convocando o ausente a reaparecer. Cessa a curadoria: pelo comparecimento do ausente; pela certeza da morte do ausente e pela sucessão provisória. o Sucessão provisória: Inicia-se cento e oitenta dias após a publicação da sentença que a determinar. Os bens serão entregues aos herdeiros, como se o ausente fosse falecido, porém em caráter provisório. Os colaterais terão que prestar garantia da restituição deles para serem imitidos na posse. Essa fase cessa pelo comparecimento do ausente. Converte-se em definitiva: quando houver certeza da morte do ausente; dez anos depois de passada em julgado a sentença de abertura da sucessão provisória e; quando o ausente contar oitenta anos de idade e houverem decorrido cinco anos das últimas notícias suas, arts. 37 e 38 CC e art. 1.167 CPC. o Sucessão definitiva: A sua abertura e o levantamento das cauções prestadas poderão ser requeridos pelos interessados dez anos depois de passada em julgado a sentença que concedeu a abertura da sucessão provisória ou provando-se que o ausente conta oitenta anos de idade e decorreram cinco anos das últimas notícias suas. Constitui causa da dissolução da sociedade conjugal, art. 1.571, parágrafo 1º, CC. RETORNO DO AUSENTE Aberta a sucessão definitiva, os sucessores deixam de ser provisórios, adquirindo o domínio dos bens, mas de modo resolúvel, porque, se o ausente regressar, receberá os bens existentes no estado em que se acharem, ou sub-rogados em seu lugar ou prelo que os herdeiros houverem recebido pelos bens alienados, art. 39 CC. Se o retorno do ausente ocorrer antes, ou seja, durante o período da sucessão provisória, e ficar provado que o desaparecimento foi voluntário e injustificado, perderá ele, em favor dos sucessores, sua parte nos frutos e rendimentos, art. 33, parágrafo único CC. Caso contrário, cessarão imediatamente as vantagens dos sucessores imitidos na posse provisória, que terão de restituí-la ao que se encontrava desaparecido, bem como tomar as medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a este, art. 36 CC. Ao retornar o ausente no período da curadoria de seus bens, esta cessará automaticamente, recuperando ele todos os seus bens. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 18. Ed. São Paulo: Saraiva, 2002. V. 1 e 2. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2013 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil. 7. ed São Paulo: Atlas, 2007 Vanessa Miranda