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NICOLAU MAQUIAVEL (1469-1527) 1) Biografia Maquiavel em sua infância e juventude teve sólida educação e formação humanística com a presença de um tutor. Ele era empírico, pois se baseava em experiências antigas da historia para aprender lições de outros líderes. Seu pai era formado em Direito e sua mãe possuía boa formação no âmbito literário. Maquiavel viveu a juventude sob o esplendor político da República Florentina durante o governo de Lourenço de Médici e entrou para a política aos 29 anos de idade no cargo de Secretário da Segunda Chancelaria. Nesse cargo, Maquiavel observou o comportamento de grandes nomes da época e a partir dessa experiência retirou alguns postulados para sua obra. Depois de servir em Florença durante 14 anos foi afastado de suas funções públicas sob a acusação de ser um dos responsáveis pela política contrária ao governo de Médice (preso e torturado). Depois que foi liberto, refugiou-se em sua casa de campo, onde escreveu muitas de suas obras. Morre aos 58 anos. RESUMO: 1. Infância e juventude: contato com as humanidades 2. Maturidade e experiência política 3. O ostracismo (exílio) 4. Morre aos 58 anos. 2) Teses da Política Medieval (antes de Maquiavel): 1) O fundamento (justificativa) do Poder Político é divino. O poder possui justificativa baseada na vontade de Deus. PODER = capacidade de imposição de vontade. 2) A comunidade política é harmônica, natural/divina, superior aos indivíduos (por ser divina) e hierárquica. Harmônica – Os conflitos são obras diabólicas e vistos como algo errado. Uma comunidade deve se espelhar no céu, onde não há contradição. A harmonia vem da vontade divina e por isso deve ser respeitada e inquestionada. O governante tem o papel de destruir o conflito, garantindo assim a harmonia e a ordem da sociedade. Natural/Divina – Porque essa era a lei natural das coisas, qualquer revolução é um pecado. Superior aos indivíduos – A comunidade não reconhece a vontade individual, pois os indivíduos possuem funções predestinadas por Deus. COMUNIDADE x SOCIEDADE (segundo Ferdinand Tronnos) A comunidade é uma reunião de corpos com deveres estabelecidos naturalmente, ou por um poder superior (divino). Já a sociedade é uma reunião de indivíduos (os indivíduos possuem autonomia sobre si mesmos) Hierárquica – Sociedade estamental, onde não há mobilidade social. Pluralismo Jurídico, cada grupo com determinado código de direitos e deveres. 3) O Bom governante consiste em preparar os súditos para ingressar no reino de Deus; o bom governante deve possuir as virtudes cristãs (promover obrigações e punir desonestidades). Os súditos não devem se preocupar com questões mundanas/públicas, pois assim estariam se afastando do reino dos céus. O bom governante deve ser orientado pela palavra de Deus (textos bíblicos e igreja) 4) A liberdade humana é uma conquista interior. A verdadeira liberdade é a vida eterna, através da salvação da alma e pela atuação dentre os preceitos católicos. 5) A legitimidade do poder político consiste na obediência à tradição e linhagem. (idéia de louvar o passado). O monarca ascende ao trono por via natural; A legitimidade dos governos é baseada nos vínculos sanguíneos, na sua linhagem. 3) A Revolução Maquiaveliana O renascimento do século XIV ao XVIII promoveu uma onda de transformações na sociedade européia, o homem fazia uma transição chamada Feudo-capitalista, onde a prática econômica de subsistência dava lugar ao mercantilismo praticado pelas grandes nações recém unificadas. O antropocentrismo, consequência da mudança econômica e política da Europa, influenciou Maquiavel na construção de uma obra chamada “O Príncipe”. Maquiavel agregando suas experiências promoveu uma revolução no modo de pensar da política, introduzindo o realismo político. Para Nicolau, uma cidade esta dividida entre dois desejos opostos, o desejo de uma elite em oprimir e comandar e o desejo do povo de não ser oprimido, esse pensamento entra em confronto com o pensamento medieval, pois este tinha como princípio uma sociedade harmônica e homogênea, não tecida de lutas internas que a obrigam a criar uma instituição superior (Estado) para que possa unificá-la e dar identidade. Sendo assim, o Estado nasce nas lutas sociais e é obra da própria sociedade para dar a si mesma unidade e identidade. 4) Alguns desafios da Florença Renascentista Ausência de exército regular e vizinhos fortes; Coma inexistência de um exército em Florença, foram contratadas milícias que para Maquiavel não eram vistas como algo bom, uma vez que são movidas pelo dinheiro Comércio e declínio da vida pública; Florença era uma cidade estrategicamente posicionada na rota do comércio internacional, daí seu desenvolvimento. Na medida em que o comércio crescia, o interesse pela vida pública dos cidadãos se desvalorizava. INTERESSES PRIVADOS > INTERESSES PÚBLICOS Instabilidade política/institucional As estruturas estatais não eram estáveis e havia uma certa fragilidade político-institucional para garantir a ordem. Para Maquiavel, o Estado deve ser o poder político caracterizado pela capacidade de impor sua vontade sobre as outras, ele é o mantedor da ordem, por intermédio de boas leis e boas armas. 5) Teses de Maquiavel 1) O fundamento do poder político é mundano, humano e arbitrário. A política é assunto mundano; As ações na política são resultados humanos e o poder envolve imposição de vontade (Deus não resolve); Maquiavel inaugura a Era do REALISMO POLÍTICO, desprovido dos mandamentos religiosos e voltado fortemente para os resultados das ações humanas. ASSUNTOS MUNDANOS → LÓGICA MUNDANA 2) A comunidade pode ser transformada, pois provém de uma criação humana (não universal) e é desarmônica. As hierarquias sociais são artificiais, não são criadas por Deus, são construções humanas, podendo ser alteradas/modificadas. O conflito é a mola propulsora da sociedade. Segundo Maquiavel, uma sociedade não se desenvolve sem conflitos. Ele acredita que é absolutamente necessária a existência do conflito, pois a possibilidade de uma nação permanecer em liberdade é, justamente devido a existência conflituosa (modo de resistência de grupos sociais reprimidos). 3) O bom governo é aquele que garante bem estar público – proteção, paz, possibilidade de enriquecimento, segurança e conforto. Distinção entre virtudes políticas e morais/religiosas. O bom governante é aquele que possui a Virtú (capacidade de agir segundo os ditames da necessidade) e com ela consegue dominar a Fortuna (o acaso). O governante deve lutar para assegurar sua GLÓRIA e o sucesso do Estado. Deve ter uma ética quanto às conseqüências, tendo sempre que colocar o interesse público acima do privado (lutar pelo bem estar comum). INTERESSES PÚBLICOS > INTERESSES PRIVADOS. O papel do príncipe é de administrar o conflito social, mantendo-o sempre vivo. Poder bélico é um recurso, mas esgotável, desgasta governo; Fazer mal de uma vez (esquecido) e bem a conta gota (querem sempre mais); Essência humana é ruim; Tem que parecer respeitar a lei (imagem pública), mas pode desrespeitá-la se necessário. 4) A Liberdade humana A liberdade humana é construída a partir da obediência à lei, mas requer um aparato institucional capaz de contemplar a tensão permanente entre os grupos, pois a liberdade pode ser ampliada via conflito. Essa liberdade é então construída a partir da luta perpétua contra a tirania que ao mesmo tempo tenciona e mantém a ordem. E Por outro lado, a anarquia deve ser evitada, pois a liberdade absoluta se anula, já que sem certo nível de ordem,não há a possibilidade de haver liberdade. Maquiavel é legitimador de um Estado Republicano, daí a fundamentação na idéia de liberdade ativa de seus cidadãos, colocando, novamente o interesse público acima do privado. 5) A legitimidade do poder político consiste por manter uma boa imagem pública. Pouco importa como o governante chegou ao poder, o interesse está no que ele vai fazer daqui para frente. 6) O Conflito É mola propulsora da sociedade, pois além de normal ele é desejado. Segundo Maquiavel, uma sociedade não se desenvolve sem conflitos, pois a possibilidade de uma nação permanecer em liberdade é, justamente, devido a existência conflituosa (modo de resistência de grupos sociais reprimidos). 7) Virtú e Fortuna A) Virtú → Na Visão da ANTIGUIDADE CLÁSSICA Significa o conjunto de adjetivos que todo príncipe deve ter se quiser conquistar e manter Estados. Ela é fundamental a qualquer príncipe, sem ela não se governa. Foram definidas, inicialmente, quatro qualidades: Sabedoria, justiça, coragem e temperança. Mais tarde, foram atribuídas outras quatro: Honradez, magnanimidade, liberalidade e MORALIDADE. → Na visão de MAQUIAVEL Eis a dura tarefa de Maquiavel: contrapor-se aos ideais cristãos e aos da Antiguidade Clássica de MORALIDADE. Através de seu realismo político, Maquiavel afirma que praticar a “virtú tradicional” seria condenar o Príncipe à ruína. A Virtú maquiaveliana está relacionada com a capacidade de agir segundo os ditames da necessidade, independentemente de se praticar uma boa ou má ação. Ou seja, a Virtú é a flexibilidade que permitirá ao Príncipe tomar uma escolha, dentro de um leque de ações determinadas, não necessariamente comprometidas com as idéias de bondade, moralidade e justiça. B) A Fortuna Maquiaveliana Representaria o acaso, algo que os homens não poderiam prever e que, por isso mesmo, poderia lhes ser fatal caso os pegasse desprevenidos. A Fortuna seria um fenômeno essencial na política, pois da mesma forma que pode trazer a GLÓRIA sem esforço, pode trazer a RUÍNA com a força de sua surpresa. Cabe ao governante saber utilizá-la/conquistá-la, já que ao mesmo tempo em que a Fortuna surge, ela se vai. O que restará será (ou não) um governo bem estruturado para impedir que a fortuna acabe. Maquiavel, portanto, defende a importância de VIRTÚ para enfrentar as intempéries da FORTUNA. 8) A história é “MAGISTRA VITAE” = MESTRE DA VIDA A história é: 1. Fonte de lições/ ensinamentos, minimiza instabilidade política. Mas cada sociedade tem características únicas, sendo assim, só porque uma medida deu certo em um lugar, não significa que dará em outro. Príncipe deve adaptar e interpretar os fatos do passado, realizações de outros governantes. 2. Cíclica, pois os eventos sempre mudam, mas a essência é a mesma. 3. Feita por grandes homens, de grandes atos. Atos bons devem ser seguidos e ruins (não deram certo) lembrados, para não se repetirem.
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