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CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 1 AULA 01 = PESSOAS NATURAIS = Professor Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 2 Temas que serão abordados nesta aula PESSOAS NATURAIS. Personalidade. Direitos da Personalidade. Capacidade e Incapacidade. Emancipação. Registro. Subitens PESSOA NATURAL. Conceito. Existência. Personalidade: Início, Individualização e Extinção. Nascituro. Direitos da Personalidade. Nome. Estado. Domicílio. Morte (real e presumida). Ausência. Capacidade: Classificação. Incapacidade. Emancipação. Registro e Averbação. Legislação a ser consultada Código Civil: arts. 1° até 39 (Pessoas Naturais) e 70 até 78 (Domicílio). Sumário 1. PERSONALIDADE DA PESSOA NATURAL ............................................... 03 1.1 Início ............................................................................................. 04 1.1.1 Nascituro ................................................................................ 07 1.1.2 Direitos da Personalidade ........................................................ 11 1.2 Individualização ............................................................................ 18 1.2.1 Nome ...................................................................................... 18 1.2.2 Estado ..................................................................................... 23 1.2.3 Domicílio ................................................................................. 24 1.3 Término da Personalidade .............................................................. 28 1.3.1 Morte Real ............................................................................... 29 1.3.2 Morte Presumida ..................................................................... 29 1.3.3 Comoriência ............................................................................ 33 2. CAPACIDADE CIVIL ............................................................................. 36 2.1 Absolutamente Incapazes .............................................................. 38 2.2 Relativamente Incapazes ............................................................... 39 2.3 Capacidade Plena ........................................................................... 46 3. EMANCIPAÇÃO .................................................................................... 46 Aula 01 Pessoas Naturais CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 3 4. REGISTRO E AVERBAÇÃO ..................................................................... 51 RESUMO ESQUEMÁTICO DA AULA ............................................................ 53 Bibliografia Básica .................................................................................. 57 EXERCÍCIOS COMENTADOS (FCC) ............................................................ 57 EXERCÍCIOS COMENTADOS (CESPE) ........................................................ 93 CAROS AMIGOS E ALUNOS Após a análise da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (que não faz parte do Código Civil, mas está previsto em nosso edital), hoje vamos abordar o tema “PESSOAS”, que é o primeiro ponto da Parte Geral do Código Civil. Lembrem-se que estamos às ordens no fórum para esclarecer eventuais dúvidas. Ok? Então vamos começar... Denomina-se SUJEITO DE DIREITO o titular de interesses juridicamente protegidos. Trata-se de todo ente físico ou jurídico, suscetível de direitos e obrigações. Para a doutrina tradicional é sinônimo de PESSOA. No Brasil temos duas espécies de pessoas: as naturais e as jurídicas, sendo que ambas possuem aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. Na aula de hoje veremos somente as PESSOAS NATURAIS. Elas também são conhecidas como Pessoas Físicas. No entanto a expressão “Pessoa Natural”, além de ser mais técnica, é a preferida em concursos. Abordaremos os três aspectos da pessoa natural e seus desdobramentos: a) Personalidade; b) Capacidade; e c) Emancipação. Na próxima aula veremos as Pessoas Jurídicas. PERSONALIDADE DA PESSOA NATURAL Personalidade é o conjunto de caracteres próprios da pessoa, reconhecida pela ordem jurídica a alguém, sendo a aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. É atributo da dignidade do homem. Prevê o art. 1° do Código Civil que: “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. Assim, o conceito de pessoa inclui homens, mulheres e crianças. Ou seja, qualquer ser humano sem distinção de idade, saúde mental, sexo, cor, raça, credo, nacionalidade, etc. Por outro lado exclui os animais (que gozam de proteção legal, mas não são sujeitos de direito), os seres inanimados, etc. Lembrando que as pessoas jurídicas (que estudaremos na próxima aula) também possuem personalidade, pois o Direito lhes confere aptidão para a prática dos atos jurídicos em geral. Concluindo: pessoa natural (ou física) é o próprio ser humano. CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 4 Observação. Os examinadores preferem a expressão “personalidade civil”, pois é assim que está no art. 2°, CC. Mas não é raro cair “personalidade jurídica” ou somente “personalidade”, como sinônimos. INÍCIO DA PERSONALIDADE Há muita polêmica doutrinária envolvendo o início da personalidade. As três principais teorias são: a) Teoria Natalista: a personalidade jurídica começa com o nascimento com vida. A adoção desta teoria de forma absoluta leva à conclusão de que o nascituro não é considerado pessoa, tendo apenas uma expectativa de vida e de direitos. b) Teoria Concepcionista: a personalidade tem início desde a concepção. Ou seja, no momento em que o óvulo fecundado pelo espermatozoide se junta à parede do útero. A partir desse momento o nascituro já é considerado como pessoa, e, como tal, tem todos os direitos resguardados pela lei, sendo considerado sujeito de direitos. c) Teoria da Personalidade Condicional: o nascituro possui personalidade jurídica desde o momento da concepção, no entanto isso é condicionado ao nascimento com vida. Nascendo com vida a personalidade retroage ao momento de concepção do nascituro, conferindo a ele uma tutela jurídica que atinge o passado. Essa corrente defende que o nascituro possui direitos, entretanto estes estariam subordinados a uma condição suspensiva que seria o próprio o nascimento com vida. Se não nascer com vida não houve personalidade. No Brasil a doutrina se manifesta de forma divergente, pois, se por um lado a lei estabelece que a personalidade civil tem início com o nascimento com vida, o mesmo dispositivo, logo a seguir assegura ao nascituro (falaremos sobre essa expressão mais adiante) direitos desde sua concepção. Na doutrina brasileira há ferrenhos defensores das três teorias. No concurso como eu faço? Em uma prova objetiva o aluno deve se limitar ao texto expresso da lei (Art. 2°, CC: A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro). Na dúvida ou omissão da banca opte pela teoria natalista, que ainda é a mais aceita nos concursos.Já em uma prova dissertativa cite as três teorias, expondo que no Brasil há ferrenhos defensores principalmente da teoria da concepção e da natalidade, abordando os aspectos mais relevantes de cada uma. Lembrem-se: a tendência atual é proteger, cada vez mais, o nascituro e seus direitos desde a concepção. As principais bancas examinadoras (ESAF, FCC, CESPE e FGV) já perguntaram isso em provas sendo que o gabarito, até agora, vem optando pela teoria natalista. CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 5 Outra coisa que se indaga é se o nascituro possui “personalidade jurídica formal ou material”. Neste tópico tem-se acolhido o que leciona a professora Maria Helena Diniz. Para ela a personalidade jurídica se classifica em: Personalidade jurídica formal: é a aptidão para ser titular de “direitos da personalidade” (ex.: direito à vida, direito à gestação saudável, etc.); em relação a esta o nascituro tem desde a concepção. Personalidade jurídica material: é a aptidão para ser titular de “direitos patrimoniais”; quanto a essa o nascituro só a adquire a partir do nascimento com vida. Concluindo: para as principais bancas examinadoras dos últimos concursos, chega-se à conclusão de que o nascituro possui apenas os requisitos formais da personalidade civil. Para muitos autores o Supremo Tribunal Federal teria adotado a corrente natalista, quando apreciou a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3510, considerando constitucional o art. 5° da Lei n° 11.105/2005 (Lei de Biossegurança) que trata do uso de células-tronco embrionárias em pesquisas científicas para fins terapêuticos. Da longa ementa, destaca-se o seguinte trecho: “O Magno Texto Federal não dispõe sobre o início da vida humana ou o preciso instante em que ela começa. Não faz de todo e qualquer estágio da vida humana um autonomizado bem jurídico, mas da vida que já é própria de uma concreta pessoa, porque nativiva (teoria natalista, em contraposição às teorias concepcionista ou da personalidade condicional). E quando se reporta a “direitos da pessoa humana” e até dos “direitos e garantias individuais” como cláusula pétrea está falando de direitos e garantias do indivíduo-pessoa, que se faz destinatário dos direitos fundamentais “à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”, entre outros direitos e garantias igualmente distinguidos com o timbre da fundamentalidade (como direito à saúde e ao planejamento familiar)”. Analisando a Lei Pelo Código Civil, podemos afirmar que a personalidade da pessoa natural ou física se inicia com o nascimento com vida, ainda que por poucos momentos. Esta é a primeira parte do art. 2° do CC. Se a criança nascer com vida, ainda que por um instante, já adquire a personalidade. 1. Nascimento: quando a criança é separada do ventre materno (parto natural ou por intervenção cirúrgica), mesmo que ainda não tenha sido cortado o cordão umbilical (isso significa a separação da criança do corpo da mãe e não o nascimento em si). 2. Com vida: há nascimento e há parto quando a criança, deixando o útero materno, tenha respirado. Segundo a Resolução n° 01/88 do Conselho Nacional de Saúde, nascer com vida significa respirar e ter batimentos cardíacos CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 6 (funcionamento do aparelho cardiorrespiratório). É nesse momento que a personalidade civil terá início em sua plenitude, com todos os efeitos subsequentes, conforme veremos. Para se saber se nasceu viva e em seguida morreu, ou se já nasceu morta, é realizado um exame chamado de docimasia hidrostática de Galeno, que consiste em colocar o pulmão da criança morta em uma solução líquida; se flutuar é sinal que a criança chegou a dar pelo menos uma inspirada e, portanto, nasceu com vida; se afundar, é sinal que não chegou a respirar e, portanto, nasceu morta, não recebendo e nem transmitindo direitos. No entanto, atualmente a medicina dispõe de técnicas mais modernas e eficazes para tal constatação (ex.: ultrassom). Não caiam em pegadinhas Apesar de polêmica, esta questão tem sido muito comum em concursos. Geralmente o examinador coloca uma alternativa dizendo que a personalidade se inicia somente com a concepção (gravidez) da mulher. Ou que a criança somente teria personalidade se nascer com “forma humana” (ou seja, não tenha anomalias ou deformidades). E até mesmo que a personalidade somente teria início com a “ruptura do cordão umbilical ou quando desprendida a placenta”. Nenhuma dessas hipóteses foram aceitas pelo nosso Direito. Outra situação que não foi acolhida pelo nosso Direito é a teoria da viabilidade. Para essa teoria, não basta que a criança nasça com vida para adquirir a personalidade... é necessária, também, a viabilidade de vida extrauterina. Ou seja, só se atribui a personalidade se a criança for viável (que é a perfeição orgânica suficiente para continuar com vida após o nascimento: perspectiva de sobrevivência). O exemplo clássico é o da criança anencéfala. Apesar do plenário do Supremo Tribunal Federal recentemente ter decidido (8x2) que não pratica o crime de aborto tipificado no Código Penal a mulher que decide pela “antecipação do parto” em casos de gravidez de feto anencéfalo, se a mulher decidir a levar a gravidez até o fim e se a criança nascer com vida, ela terá personalidade. Ainda que morra momentos após o nascimento, pois são indiferentes as perspectivas de sobrevivência e evolução. Nesse curto espaço de tempo entre o nascimento e a morte ela teve personalidade, com todos os seus efeitos, conforme veremos adiante. Curiosidade Vejamos o que diz o art. 29, da Resolução n° 01/88 do CNS: Art. 29 Além dos requisitos éticos genéricos para pesquisa em seres humanos, as pesquisas em indivíduos abrangidos por este capítulo conforme as definições que se seguem, devem obedecer as normas contidas no mesmo. 1. Mulheres em idade fértil: do início da puberdade ao inicio da menopausa; 2. Gravidez: período compreendido desde a fecundação do óvulo até a expulsão ou extração do feto e seus anexos; CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 7 3. Embrião: produto da concepção desde a fecundação do óvulo até o final da 12a semana de gestação; 4. Feto: produto da concepção desde o início da 13a semana de gestação até a expulsão ou extração; 5. Óbito fetal: morte do feto no útero; 6. Nascimento vivo: é a expulsão ou extração completa do produto da concepção quando, após a separação, respire e tenha batimentos cardíacos, tendo sido ou não cortado o cordão, esteja ou não desprendida a placenta; 7. Nascimento morto: é a expulsão ou extração completa do produto da concepção quando, após a separação, não respire nem tenha batimentos cardíacos, tendo sido ou não cortado o cordão, esteja ou não desprendida a placenta; 8. Trabalho de parto: período compreendido entre o início das contrações e a expulsão ou extração do feto e seus anexos; 9. Puerpério: período que se inicia com a expulsão ou extração do feto e seus anexos até ocorrer a involução das alterações gestacionais (aproximadamente 42 dias); 10. Lactação: fenômeno fisiológico da ocorrência de secreção láctea a partir da extração do feto e de seus anexos. NASCITURO O termo nascituro significa “aquele que há de nascer”. É o ser que já foi gerado ou concebido, mas ainda não nasceu, emboratenha vida intrauterina e seja dotado de humanidade (possui natureza humana). Tecnicamente (teoria natalista) ele não tem personalidade, pois ainda não é pessoa sob o ponto de vista jurídico. Apesar de não ter personalidade jurídica, a lei põe a salvo os direitos do nascituro desde a concepção. Trata-se da segunda parte do art. 2°, CC. Na realidade o nascituro tem uma expectativa de direito. Ex.: o nascituro tem o direito de nascer e de viver (o aborto é considerado como crime: arts. 124 a 127 do Código Penal, salvo raríssimas exceções previstas em lei). Proteção ao Nascituro. Apesar de juridicamente (corrente natalista) ainda não ser considerado como pessoa, pode-se dizer que o nascituro: É titular de direitos personalíssimos tais como vida, honra, imagem, proteção pré-natal, etc. Pode ser contemplado por doação (art. 542, CC) ou por testamento (herança ou legado) e por seu quinhão hereditário (art. 1.798, CC), sem prejuízo do recolhimento do imposto de transmissão. Pode ser parte em um processo judicial (ativa ou passiva). Nesse caso sua mãe irá representá-lo em juízo. Se a mãe não tiver o poder familiar e o pai for falecido, será nomeado um curador ao nascituro (curador ao ventre); se a mãe estiver sob curatela, o curador dela também será o do nascituro (art. 1.779, e seu parágrafo único, CC). Com o nascimento com vida ele passa a ter a titularidade da pretensão do direito material (que até então era apenas uma expectativa), mas continuará sendo representado por seus pais. CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 8 Além disso, o art. 8° do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n° 8.069/90 – ECA) e a Lei n° 11.804/08 determina que a gestante tem condições de obter judicialmente os alimentos para garantia do bom desenvolvimento do feto (alimentos gravídicos), adequada assistência pré-natal, como consultas médicas, remédios, etc., pois não é justo que a genitora suporte todos os encargos da gestação sem a colaboração econômica do seu companheiro. Finalmente entende-se plenamente cabível o exame de DNA para se determinar a paternidade, como decorrência da proteção que lhe é conferida pelos direitos da personalidade. Estabelece o parágrafo único do art. 1.609, CC que o reconhecimento do filho “pode preceder o seu nascimento ou ser posterior ao seu falecimento se ele deixar descendentes”. Na realidade o principal direito do nascituro é o de ter direito à sucessão. Se ele já foi concebido no momento da abertura da sucessão (morte do de cujus) legitima-se a suceder de forma legítima (conferir arts. 1.784 e 1.798, CC). Também se legitimam a suceder por testamento “os filhos ainda não concebidos de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão” (art. 1.799, I, CC). Trata-se da chamada prole eventual. Assim, sendo conferidos cada vez mais direitos, nota-se um enorme crescimento da teoria concepcionista (ainda não adotada para efeito de concursos) para considerar o nascituro como uma pessoa natural, garantindo assim, mais segurança à família. Justifica-se esta posição porque somente uma pessoa pode ser titular de direitos... e o art. 2°, CC afirma que o nascituro tem direitos... logo, tendo direitos, ele já poderia ser considerado como tendo personalidade. A situação fica ainda mais definida (segundo os seguidores desta teoria) com o art. 542, CC que estabelece: “A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal”. Ainda assim, será uma “doação condicional”, pois somente se concretizará se o nascituro nascer com vida. Isso ocorrendo, receberá o direito, no entanto, as obrigações acompanham esse direito. Ou seja, ficará obrigado ao pagamento de impostos, como o da transmissão do bem (ITCMD, IPTU, etc.). Assim, mesmo sendo recém-nascido, houve o fato gerador (transmissão o bem), passando, a partir daí a ser sujeito passivo de obrigação tributária. Polêmicas à parte, o que se pode afirmar, sem medo de errar, é que o nascituro é titular de um direito eventual. Exemplo: homem falece deixando a esposa grávida. Não se pode concluir o processo de inventário e partilha enquanto a criança não nascer. O nascituro, nesta hipótese, tem direito ao resguardo à herança. Os direitos assegurados ao nascituro estão em estado potencial, sob condição suspensiva: só terão eficácia se nascer com vida. A representação do nascituro se dá por intermédio de seus pais. Nascendo com vida, as expectativas de direito se transformam em direitos subjetivos, retroagindo ao momento de sua concepção. CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 9 Mas há um problema, de ordem filosófica, religiosa e jurídica envolvendo o nascituro. Isto devido ao avanço da medicina, com as técnicas de fertilização in vitro. Indaga-se: qual o momento em que podemos usar o termo nascituro de uma forma técnica? Uma corrente afirma que a vida tem início legal no momento da penetração do espermatozoide no óvulo, mesmo que fora do corpo da mulher. Para outra corrente a vida somente teria início com a concepção no ventre materno (embora ainda não se possa considerar como sendo uma pessoa). Isto porque é com a nidação (fixação do óvulo fecundado no útero) que se garante eventual gestação e o nascimento. Portanto, temos o embrião com a união do espermatozoide com o óvulo; já nascituro é a fixação do embrião (óvulo fecundado) no útero materno. Com isso, o embrião humano congelado não pode ser considerado como nascituro (embora tenha proteção jurídica como pessoa virtual, com uma carga genética própria). Com o objetivo de regulamentar o art. 225, §1°, inciso II da CF/88, foi editada inicialmente a Lei n° 8.974/95, proibindo e considerando como crime a manipulação genética de células humanas, a intervenção em material genético humano e a produção, guarda e manipulação de embriões humanos destinados a servir como material biológico disponível. No entanto foi aprovada a Lei n° 11.105/05, dividindo opiniões: trouxe esperança para alguns e indignação para outros. Pela nova lei é permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias, obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro, desde que: a) sejam inviáveis, ou estejam congelados há três anos ou mais; b) haja consentimento dos seus genitores. Importância de se nascer com vida Como vimos, o nascituro tem expectativa de vida, sendo imprescindível que ele nasça vivo, nem que seja por um segundo. Se nascer vivo, adquire personalidade. Será um sujeito de direitos e obrigações. No entanto, caso nasça morto, nenhum direito terá adquirido e/ou transmitido. Observem. Demonstração Ordem de vocação hereditária 1. Descendentes (em concorrência com o cônjuge sobrevivente): filhos, netos, bisnetos, etc. 2. Ascendentes (em concorrência com o cônjuge sobrevivente): pais, avós, bisavós, etc. 3. Cônjuge sobrevivente. 4. Colaterais até o 4° grau: irmãos, sobrinhos, tios, primos, tio-avô, etc. A B X Y Z CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 10 Levando em consideração o quadro demonstrativo acima, suponhamos que X comprou um apartamento e a seguir se casou com Y pelo regime de separação parcial de bens. Faleceu um ano depois, deixando viúva grávida, pais vivos e apenas aquele apartamento para ser partilhado. Para saber quem será oproprietário do imóvel devemos aguardar o nascimento de Z. Não se pode fazer a partilha antes de seu nascimento. Vejamos as situações que podem ocorrer a partir daí. Situações 1) Se Z (filho de X - descendente) nascer morto, o apartamento irá para A e B, que são os pais (ascendentes) de X (observe o quadro da ordem de vocação hereditária). Neste caso Y (que é o cônjuge sobrevivente) também terá direitos sucessórios, pois atualmente é considerado herdeiro necessário e concorre com os ascendentes do falecido. 2) Se Z (descendente) nascer vivo, herdará o imóvel, em concorrência com sua a mãe Y, pois como vimos atualmente o cônjuge é considerado herdeiro necessário e também concorre na herança com os descendentes do falecido. Observem que neste caso os pais de X nada herdarão. 3) Se Z nascer vivo e logo depois morrer, os bens irão todos para sua mãe. Isto porque inicialmente Z herdará parte dos bens de seu pai; no instante em que nasceu vivo, ele foi um ‘sujeito de direito’. Morrendo a seguir, transmite tudo o que recebeu a seus herdeiros. Como não tinha descendentes e nem cônjuge (até porque era recém-nascido) e seu pai já havia falecido, seu único herdeiro será o ascendente remanescente, ou seja, sua mãe. Neste caso A e B nada herdarão. É necessário dizer ainda, que todo nascimento deve ser registrado, mesmo que a criança tenha nascido morta ou morrido durante o parto. Se for natimorta, o assento será feito no “Livro ‘C’ Auxiliar". Neste livro irá constar apenas: “o natimorto de Dona Fulana...”. Ou seja, não há previsão expressa que se possa dar nome ao natimorto. No entanto, parte da doutrina entende que o “natimorto tem humanidade” e por isso teria sim, direito a um nome. Sobre o tema, esclarece o Enunciado 01 da I Jornada de Direito Civil do CJF: “A proteção que o Código confere ao nascituro alcança o natimorto, no que concerne aos direitos da personalidade, tais como o nome, imagem e sepultura”. Essa é a tendência de nosso Direito. Em São Paulo houve uma revisão das normas da Corregedoria Geral, facultando o direito de atribuição de nome ao natimorto, sem necessidade de duplo registro (nascimento e óbito). Por outro lado, é inquestionável que se a criança nasceu viva e logo depois morreu (chegou a respirar), serão feitos dois registros: o do nascimento (constando o nome da criança, pois naqueles poucos segundos a criança teve personalidade) e o do óbito. CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 11 Observações 01) Durante nosso curso, às vezes, vamos mencionar a expressão “Jornadas do CJF”. Na realidade estas “jornadas” foram encontros de pessoas ligadas ao Direito Civil, promovidas pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal (CJF), sob os auspícios do Superior Tribunal de Justiça, em que foram aprovados alguns enunciados, que têm sido acolhidos pelo mundo jurídico nacional. Quando nos referirmos a elas, vamos mencionar qual jornada foi essa e o número do enunciado (como fizemos acima). 02) Segundo a doutrina, nascituro é uma expressão mais ampla do que feto, pois este seria o nascituro somente depois que adquiriu a forma humana. 03) É importante salientar que a expressão natimorto não é considerada juridicamente técnica. O vocábulo é composto pelas palavras latinas natus (nascido) e mortus (morto), não tendo previsão no Código Civil. Possui um duplo sentido. Os dicionários jurídicos conceituam o natimorto como sendo "aquele que nasceu sem vida (morreu dentro do útero) OU aquele que veio à luz, com sinais de vida, mas, logo morreu (morreu durante o parto)". Portanto, qualquer uma dessas situações está correta para conceituar natimorto. DIREITOS DA PERSONALIDADE (arts. 11 a 21, CC) De uma forma geral, a doutrina classifica os direitos subjetivos em pessoais, reais e da personalidade. Vejamos. Direitos Pessoais: derivam da relação de uma pessoa com outra pessoa (proteção do cumprimento forçado das obrigações). Direitos Reais: derivam da relação da pessoa com a coisa (proteção da propriedade). Direitos da Personalidade: derivam da relação da pessoa consigo mesmo (bens que o cidadão guarda dentro de se corpo e intelecto). Eles são atributos inerentes ao ser humano. Adquirindo personalidade (aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações), o ser humano já adquire os chamados direitos da personalidade, ou seja, o direito de defender o que lhe é próprio, como sua integridade física ou corporal (vida, corpo, órgãos, voz, imagem, liberdade, identidade, alimentos, etc.), intelectual (liberdade de pensamento, autoria científica, artística e intelectual, etc.), moral (honra, segredo pessoal ou profissional, privacidade, imagem, opção religiosa, orientação sexual, etc.). Os direitos da personalidade são subjetivos e seu titular pode exigir de todos que sejam respeitados. Por isso dizemos que eles são erga omnes (ou seja, extensíveis e oponíveis contra todos). Observem que a relação dos direitos da personalidade não é taxativa (é apenas exemplificativa). Lembrem-se: a dignidade é um direito fundamental, CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 12 previsto em nossa Constituição, que também prevê que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente dessa violação (confiram também o art. 5°, inciso X, CF/88). É interessante deixar claro uma nuance: os direitos fundamentais foram criados para proteger os indivíduos do Estado; tem origem e finalidade na necessidade de criar limites ao poder político na sua capacidade para ofender a pessoa como indivíduo e cidadão. Já os direitos da personalidade foram criados para proteger os indivíduos de si mesmos e de terceiros; são reconhecimentos da dignidade da pessoa. Estabelece o art. 11, CC que com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. Assim, nem mesmo o agente pode rejeitar esses direitos, colocando-se em uma situação de risco e renunciando expressamente qualquer indenização futura decorrente de uma lesão. No entanto nesse caso, levando-se em consideração o art. 945, CC, pode haver uma redução no valor da indenização. Sobre o tema, vejamos o Enunciado 04 da I de Direito Civil do CJF: “O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral”. Apesar do Código fazer referência a apenas três características a respeito do direito da personalidade (intransmissibilidade, irrenunciabilidade e impossibilidade do seu exercício sofrer limitação voluntária) a doutrina lhe dá maior extensão, afirmando que eles são: Inatos: os direitos da personalidade já nascem com o seu titular e acompanham até sua morte; alguns direitos ultrapassam o evento morte (honra, memória, imagem, direitos autorais, etc.). Absolutos: são oponíveis contra todos (erga omnes), impondo à coletividade o dever de respeitá-los, independentemente de qualquer registro ou possibilidade de alegação de boa-fé de terceiros. A violação do direito da personalidade resta caracterizada pelo simples atentado ao bem jurídico tutelado, independentemente da intensidade da dor e do sofrimento impostos ao titular, sendo suficiente para se dar direito ao lesado o direito de reparação por dano moral. O dano moral é decorrência da violação do direitoda personalidade, caracterizado o prejuízo pelo simples atentado aos interesses jurídicos personalíssimos, independente da dor e do sofrimento causados ao titular (que servirão apenas para fins de fixação do quantum indenizatório). Intransmissíveis: pertencem de forma indissolúvel ao próprio titular; não podem ser transmitidos entre vivos ou causa mortis. Neste tópico, cabe uma CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 13 observação: embora estes direitos sejam intransmissíveis em sua essência, os efeitos patrimoniais dos direitos da personalidade podem ser transmitidos. Ex.: a autoria de uma obra literária é intransmissível; porém podem ser negociados os direitos autorais sobre esta obra. Outro exemplo: cessão da imagem mediante retribuição financeira. Além disso podem ser protegidos os direitos da personalidade da pessoa morta. Irrenunciáveis: não podem ser abandonados nem abdicados; o seu titular não pode abrir mão deles. Proibição de limitação voluntária ao exercício dos direitos da personalidade: ninguém pode se obrigar a deixar de exercer esses direitos; disso decorre que eles são inalienáveis. Indisponíveis: não podem ser cedidos, a título oneroso ou gratuito a terceiros. Vitalícios: acompanham a pessoa desde seu nascimento (ou da concepção para a teoria concepcionista) até a morte. Imprescritíveis: a proteção do direito da personalidade pode ser reclamada judicialmente a qualquer tempo; vale durante toda vida, não correndo os prazos prescricionais e não se extingue pelo não uso ou inércia de seu titular. No entanto o direito à indenização pela violação do direito da personalidade prescreve em três anos (art. 206, §3°, V, CC). Impenhoráveis: se não podem ser objeto de cessão ou venda, também não pode recair penhora sobre os mesmos. Inexpropriáveis: ninguém pode removê-los de uma pessoa, nem ser objeto de usucapião. Atenção Já vi provas de concursos em que foram colocadas algumas das expressões acima nas alternativas e a afirmação foi considerada como errada. Isto porque apesar de serem consideradas corretas pela doutrina, não estavam previstas expressamente na lei. Portanto, cuidado... leiam bem o cabeçalho da questão e comparem bem as alternativas. Se houver ambiguidade, fiquem com o texto expresso da lei. Vamos agora analisar os demais dispositivos legais acerca dos Direitos da Personalidade Estabelece o art. 12, CC: Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Observem: cessar a ameaça ou lesão e perdas e danos. CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 14 O parágrafo único desse artigo também prevê a possibilidade de defesa do direito do morto, por meio de ação promovida por seus sucessores, ou seja, pelo cônjuge sobrevivente (embora não mencionado na lei, estende-se esse direito também aos companheiros), parentes em linha reta (descendentes ou ascendentes) e os colaterais até quarto grau (irmãos, tios, sobrinhos, primos, etc.). Percebe-se, assim, que os direitos da personalidade se estendem desde a concepção, para além da vida da pessoa natural, tutelando a personalidade do morto. Os parentes dele podem pedir indenização em nome próprio, se provarem que os efeitos do ato ilícito repercutiram também em suas pessoas. Ou seja, o ato envolve determinada pessoa (que no caso já faleceu), mas também pode causar sofrimento a outras pessoas a ela ligadas por estreitos laços de parentesco que não foram diretamente atingidas. É o que se chama de dano reflexo (ou por ricochete). O corpo, como projeção física da individualidade humana, é inalienável. O art. 13 e seu parágrafo único, CC prevê o direito de disposição de partes, separadas do próprio corpo em vida para fins de transplante, ao prever: Salvo por exigência médica, é defeso (proibido) o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes. A interpretação deste dispositivo, a contrário senso, permite concluir que o ato de disposição que não acarreta diminuição permanente da integridade física e não atenta contra os bons costumes é permitido, como a disposição (ainda que onerosa) de cabelo e unhas (segundo fiquei sabendo o famoso “Zé do Caixão” leiloou suas unhas). Acrescente-se, ainda, a doação de sangue e leite materno. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial (conferir com o art. 199, §4°, CF/88). Em hipótese alguma será admitida a disposição onerosa de órgãos, partes ou tecido do corpo humano. Segundo o art. 14, CC, é válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. Completa o parágrafo único estabelecendo que o ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo. Resumindo. A disposição sobre o próprio corpo: a) é proibida quando importar diminuição permanente da integridade física (salvo por exigência médica), ou contrariar os bons costumes; b) é válida se não importar diminuição permanente da integridade física ou contrariar os bons costumes; c) é válida com o objetivo científico ou altruístico, para depois da morte, ou, em vida, para fins de transplante. Lembrando que o Código Civil adotou o chamado princípio do consenso afirmativo (termo usado pela doutrina e que caiu em alguns CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 15 concursos), segundo o qual o titular do direito pode manifestar sua vontade em ser doador de órgãos, mas a qualquer tempo pode revogar esta intenção. OBSERVAÇÃO A Lei n° 9.434/97 (regulamentada pelo Decreto n° 2.268/97 e posteriormente alterada pela Lei n° 10.211/01) trata do assunto, estabelecendo as regras para transplantes. Permite-se a doação voluntária nas seguintes hipóteses: a) órgãos duplos (rins) e b) partes recuperáveis de órgão (fígado) ou de tecido (pele, medula óssea), sem que sobrevenham mutilações ou deformações. O art. 15, CC trata do direito do paciente, proibindo que uma pessoa seja constrangida a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. Trata-se do princípio da autonomia do paciente (ou consentimento esclarecido). Não há mais a chamada supremacia do interesse médico-científico, que se invocava em nome da coletividade, em face ao interesse individual. Atribui-se à pessoa a opção ao tratamento médico ou intervenção cirúrgica para corrigir ou atenuar determinado mal ou doença. Todo procedimento médico deve ser precedido de esclarecimentos e concordância do paciente. O direito não pertence ao médico, à ciência, ou à família, mas, exclusivamente, ao paciente que após ser informado do seu estado de saúde e das alternativas terapêuticas, decidirá se se submete ou não ao tratamento ou à intervenção cirúrgica. Mesmo que saiba ou tenha consciência de que isso abreviará a sua expectativa da vida. Excetuam-se algumas hipóteses (ex.: a pessoa não consegue expressar a sua vontade) em que o direito se desloca para a família do enfermo. E em situações extremas, à presença do estado de necessidade, em evidente risco de vida, pode o médico realizar a intervenção necessária sem o consentimento de quem de direito. Notem agora que os artigosde 16 a 19 do Código Civil tutelam o direito ao nome (falaremos sobre ele logo adiante, em um item especial) e contra o atentado de terceiros, expondo-o ao desprezo público, ao ridículo, acarretando dano moral ou patrimonial. O art. 20, CC tutela, de forma autônoma, o direito à imagem e os direitos a ele conexos. Esse direito é tão importante que a própria Constituição Federal também trata do tema, assegurando a inviolabilidade da imagem e prevendo indenização para o caso de violação (art. 5°, incisos X e XXVIII, letra “a”, CF/88). Divide-se em: a) imagem-retrato (objetiva): é a representação física da pessoa, implicando o reconhecimento de seu titular por meio de fotografia, escultura, desenho, pintura, interpretação dramática, cinematográfica, televisiva, sites, etc.; b) imagem-atributo (subjetiva): refere-se ao conjunto de caracteres e qualidades cultivadas pela pessoa, como a habilidade, competência, lealdade, respeitabilidade, boa fama etc.; é a repercussão social da imagem. Decorre daí CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 16 que uma inscrição indevida do nome da pessoa em órgão de restrição ao crédito macula sua imagem subjetiva. O direito à imagem se refere ao direito de ninguém ver seu rosto estampado em público ou comercializado sem seu consenso e o de não ter sua personalidade alterada, material ou intelectualmente, causando danos à sua reputação. Como normalmente ocorre, há certas limitações ao direito de imagem, com dispensa da anuência para sua divulgação. Vejamos algumas situações: a) pessoas famosas (ex.: artistas, políticos, etc.), pois elas têm sua imagem divulgada em razão de sua atividade; mas mesmo assim, não pode haver abusos, pois a sua vida íntima deve ser preservada; b) necessidade de divulgação da imagem por questões de segurança pública (ex.: publicação da fotografia de um perigoso marginal procurado pela polícia); c) quando se obtém uma imagem, mas a pessoa é tão somente parte do cenário, pois o que se pretende divulgar é o acontecimento em si (ex.: um congresso, uma exposição de objetos de arte, a inauguração de uma obra pública, um hotel ou um restaurante, reportagens sobre tumultos, enchentes, shows, etc.). Há diversas decisões de que não cabe direito de imagem em fotografia de acontecimento carnavalesco, pois a pessoa que dele participa, de certa forma, “renuncia a sua privacidade”. Na prática, todas estas questões são delicadas. Caberá ao Juiz, diante de um caso concreto, decidir se houve abuso e se há direito à indenização. Recomendamos o aluno, para fins de concurso, novamente se ater ao texto legal. O titular de um direito de personalidade, quando este for violado, poderá pleitear reparação de danos patrimoniais e morais. E se ele já for falecido o direito será exercido pelo cônjuge, ascendente ou descendente (trata-se do art. 20, parágrafo único, CC). Ficou famoso um caso em que uma empresa elaborou um “álbum de figurinhas” estampando a fotografia de jogadores de futebol. Como no caso havia o intuito de lucro da empresa e não houve o consentimento dos atletas, concluiu-se que foi uma prática ilícita, sujeita à indenização. Súmulas a esse respeito: Súmula 221 do STJ: ”São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação”. Súmula 403 do STJ: “Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais”. Finalmente, no art. 21, CC, nossa legislação tutelou o direito à intimidade (art. 5°, X, CF/88), prescrevendo que a vida privada da pessoa natural é inviolável (ex.: inviolabilidade de domicílio, de correspondência, bancário, conversas telefônicas, etc.), prevendo a possibilidade de se requerer medidas visando a proteção (impedir ou fazer cessar) dessa inviolabilidade. Insere-se nesse CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 17 tópico o chamado “direito ao esquecimento”, ou seja, o direito que uma pessoa tem de que não sejam revolvidos fatos e ocorrência de seu passado, que não interessam a mais ninguém. Nesse sentido é o Enunciado 531 da VI Jornada de Direito Civil do CJF: “A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento”. OBSERVAÇÕES 01) Recomendamos o aluno uma atenção especial comparativa entre os arts. 12 e 20, CC. Observem que o art. 12 é mais genérico (direitos da personalidade em geral) e o art. 20 é específico em relação ao direito de imagem, sendo que neste os colaterais foram excluídos. Além disso, embora o dispositivo não especifique, entende a doutrina que o companheiro(a) também é parte legítima. 02) O Código Civil não exauriu a matéria referente aos direitos da personalidade. O tratamento é bem genérico e a enumeração exposta é meramente exemplificativa (e não taxativa), deixando margem para que se estenda a proteção a situações não previstas expressamente, acompanhando, assim, a rápida evolução dos costumes do mundo atual e tendo como fundamento a dignidade da pessoa humana. 03) Segundo jurisprudência do STJ, se houver violação aos direitos da personalidade (intimidade, imagem, honra, etc.) é devida indenização também por danos morais, pois estes são presumidos pela simples violação ao bem jurídico tutelado (STJ, REsp 1.292.141/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi: “Sempre que demonstrada a ofensa injusta à dignidade da pessoa humana, dispensa-se a comprovação de dor e sofrimento para a configuração de dano moral”). Exemplo clássico: a inscrição indevida do nome do consumidor em cadastro de proteção ao crédito implica violação a direito da personalidade, uma vez que tem maculada sua honra e imagem perante a sociedade. O dano moral, nesse caso, é presumido e, portanto, não precisa ser provado. No entanto, é de se acrescentar que um mero dissabor não pode ser alçado ao patamar do dano moral, mas somente aquela agressão que exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas aflições ou angústias no espírito de quem ele se dirige. 04) Embora agora não seja o momento de aprofundar, mas é interessante deixar claro que a Pessoa Jurídica também pode ser titular de direitos da personalidade no tange à honra, imagem e nome, pois o art. 52, CC estabelece que “aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade”. Atenção Biografias Não Autorizadas Questão interessante e que certamente será objeto de indagações em concurso é o tema referente às “biografias não autorizadas”. Quanto a isso, o Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgar a Ação Direta de CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 18 Inconstitucionalidade (ADI) 4815, decidiu, por unanimidade de votos, a inexigibilidade de autorização prévia do indivíduo biografado para a publicação de biografias em livros, filmes, novelas, séries, etc. Para a relatora, Ministra Cármen Lúcia, essa autorização seria uma forma de censura, e estaria em desacordo com os direitos fundamentais à liberdade de expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação. O Ministro Luís Roberto Barroso salientou que existe um conflito entre a liberdade de expressão e o direito à informação, de um lado, e o direito à privacidade, à honra e à imagem, de outro, porém, a ConstituiçãoFederal dá preferência à liberdade de expressão. No entanto, os direitos do biografado não ficarão desprotegidos, pois se houver abuso na liberdade de expressão deverá existir retificação, direito de resposta, indenização e, dependendo da situação, até responsabilização penal. O STF entendeu ser igualmente desnecessária autorização de pessoas retratadas como coadjuvantes nas biografias ou de seus familiares em casos de pessoas falecidas ou ausentes. INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NATURAL Individualiza-se a pessoa natural de três formas: nome, estado e domicílio. Vejamos cada um deles. A) NOME (ou nome civil) O nome é o principal elemento de identificação. Desde os primórdios da humanidade, serve como sinal exterior identificador, pelo qual se designa e se reconhece uma pessoa, apresentando peculiaridades nos diferentes povos, influenciando diretamente a vida de cada pessoa desde seu nascimento até o fim da personalidade, inclusive com reflexos após a morte. É pelo nome que ela fica conhecida no seio da família e da comunidade em que vive. O nome é regulado pelo Código Civil e pela Lei n° 6.015/73 (Lei de Registros Públicos). É considerado com um direito fundamental do homem desde o seu nascimento. Trata-se de um direito da personalidade. Como é matéria de ordem pública, o Ministério Público intervém em todos os procedimentos judiciais ou administrativos. Prevê o art. 16, CC que toda pessoa tem o direito ao nome, nele compreendido o prenome e o sobrenome. Trata-se de um direito absoluto (oponível erga omnes), obrigatório (toda pessoa deve ter registro civil com nome), indisponível (não pode ser cedido, alienado e nem renunciado a qualquer título), imprescritível (não correm prazos prescricionais) e personalíssimo, essencial para o exercício de direitos e cumprimento das obrigações. Há uma proteção especial da lei em relação ao nome, mediante as ações judiciais. A lei protege a honra da pessoa, proibindo que o seu nome seja usado ou empregado em situações agressivas à intimidade de quem se vê exposto à veiculação pública que provoque depreciação ética, moral ou jurídica, mesmo que a intenção na publicação ou representação não revele intuito difamatório (art. 17, CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 19 CC). A proibição não alcança a liberdade de informação, nos limites estabelecidos pelos arts. 5°, IV, V e X, CF/88 (já analisamos o problema das biografias não autorizadas). Além disso, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial sem autorização (art. 18, CC), ou seja, o nome pode ser usado desde que haja autorização para tanto, gratuita ou onerosa. As pessoas jurídicas também possuem nome, sendo direito obrigatório (devem ter), absoluto (oponível erga omnes) e exclusivo (como forma de proteger seu patrimônio e relações jurídicas, o que não se aplica às pessoas naturais, que constantemente convivem com homônimos). No entanto, em relação a elas o nome pode ser negociado, sendo disponível, cessível, renunciável e transmissível. No entanto o art. 1.164, CC ressalva que em se tratando de sociedade empresária, o nome empresarial não pode ser objeto de alienação, só podendo ser utilizado pelo adquirente do estabelecimento se o contrato de aquisição assim o permitir e precedido do seu próprio, com a qualificação de sucessor. Relevância Jurídica Para os cidadãos: em suas relações intraparticulares. Para o Estado: necessidade de particularizar os indivíduos da sociedade. Elementos constitutivos do nome Prenome (ou nome próprio) é o nome individual da pessoa, servindo para individuá-lo dos restantes filhos dos mesmos pais. Pode ser simples (ex.: João, José, Rodrigo, Laura, Aparecida, etc.) ou composto (ex.: José Carlos, Antônio Pedro, Ana Maria, etc.). Tratando-se de gêmeos com o mesmo nome, a lei de registros públicos exige que seja um prenome composto diferenciado. Patronímico ou Sobrenome (nome de família ou apelido de família) identifica a procedência da pessoa, o tronco familiar do qual provém, indicando sua filiação ou estirpe; serve para individualizá-lo dos demais integrantes da sociedade. Também ser simples ou composto. Atualmente, pelo princípio constitucional da igualdade, não há uma ordem rigorosa na colocação do sobrenome (pode ser primeiro do pai ou da mãe). Agnome é o sinal distintivo entre pessoas da mesma família com nomes iguais, que se acrescenta ao nome completo (ex.: Júnior, Filho, Neto, Sobrinho, etc.). PSEUDÔNIMO (que significa em latim “nome falso”) ou codinome Consiste em um “nome fictício” atrás do qual se abriga um determinado autor de obra cultural ou artística, para o exercício desta atividade específica, resguardando sua vida privada (ex.: geralmente autores de livros, atores , cantores, etc.). Um exemplo clássico é o de Malba Tahan, famoso escritor de CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 20 contos, lendas e costumes árabes. Quem não leu “O Homem que Calculava”? E as “Lendas do Deserto”? Muitos pensavam que ele era árabe de tanto que conhecia e escrevia sobre o tema. Mas ele era “brasileiríssimo”; um professor de matemática chamado Júlio César de Mello e Souza, que usava este pseudônimo. A lei de direitos autorais já consagrava o pseudônimo como um direito moral do autor. Agora consta, de forma expressa, como um direito inerente à personalidade do autor (art. 19, CC), gozando da mesma proteção que se dá ao nome, quando usado para atividades lícitas. Não devemos confundir pseudônimo com anonimato, que é a manifestação de vontade sem qualquer indicação ou referência a seu autor, não sendo possível a sua individualização, prática esta vedada nos termos do art. 5°, IV, CF/88. Questão interessante é a do heterônimo. Esta é uma palavra de origem grega que indica “outros nomes”. Conceitualmente é diferente de pseudônimo, pois o heterônimo indica diversas personalidades de uma mesma pessoa. O exemplo clássico é de Fernando Pessoa (Fernando Antônio Nogueira Pessoa), que usou diversos heterônimos, como Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alexander Search (que só escrevia em inglês) entre outros, cada um com uma espécie de abordagem e maneira de escrever, com tendências e características distintas e peculiares. Fernando Pessoa também chegou a criar semi-heterônimos (quando o heterônimo tem características semelhantes ao seu próprio criador) como Bernardo Soares, Barão de Teive, Vicente Guedes, José Pacheco, Pero Botelho, Antônio Mora, entre outros. Coisa de gênio... Em relação ao nome há outros elementos facultativos como: a) nome vocatório: designação pela qual a pessoa é conhecida (ex.: Aghata Cristie no lugar de Dame Agatha Mary Clarissa Miller Cristie Mallowan; Pontes de Miranda no lugar de Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, etc.); b) axiônimo: designação que se dá à forma cortês de tratamento ou à expressão de reverência (ex.: Excelentíssimo, Professor, Doutor, ou que representam os títulos de nobreza ou eclesiásticos: Duque, Visconde, Bispo, Monsenhor, etc.); c) alcunha (ou epíteto) é o apelido, geralmente tirado de uma particularidade física, moral ou de uma atividade (ex.: Tiradentes, Zé do Caixão, etc.). Vocês sabiam que o nome correto do Cazuza é Agenor de Miranda Araújo Neto?; d) hipocorístico: são os diminutivos (ex.: Zezinho, Glorinha, Cidinha, etc.). Não tenho visto estas expressões caírem em concursos. Já caiu em concurso: a proteção do pseudônimo de autor de obra artística,literária ou científica necessita de registro público? Resposta: Não! Primeiro porque o art. 19, CC não faz esta exigência. Segundo porque a própria Lei de Direitos Autorais (Lei n° 9.610/98) estabelece em seu art. 18 que: “A proteção aos direitos de que trata esta lei independe de registro”. Assim, embora o CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 21 registro seja autorizado pela lei, ele não é obrigatório, bastando apenas a sua notoriedade. Em regra, o nome é imutável. Ou seja, uma vez registrado não pode mais ser alterado, No entanto... o princípio da inalterabilidade do nome sofre diversas exceções em casos justificados. A lei e a jurisprudência admitem a retificação ou a alteração de quaisquer de seus elementos. Na prática há um maior rigor quanto à modificação do prenome e um menor rigor em relação ao sobrenome. A propósito, vejam a alteração que a Lei n° 9.708/98 fez na Lei de Registros Públicos (LRP – Lei n° 6.015/73), em especial no art. 58: “O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios”. O parágrafo único deste mesmo dispositivo estabelece outra possibilidade: “A substituição do prenome será ainda admitida em razão de fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime, por determinação, em sentença, de Juiz competente, ouvido o Ministério Público”. Outro exemplo é o previsto no art. 56 da própria LRP que permite que o interessado, no primeiro ano, após completar a maioridade civil, altere seu nome, desde que não prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será publicada pela imprensa (trata-se da única hipótese legal em que a alteração do nome não precisa ser motivada). No entanto o art. 57 determina que qualquer alteração posterior de nome, somente será feita por exceção e motivadamente, após audiência do Ministério Público, e por sentença do Juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração na imprensa. Vejamos outras situações: Casamento: atualmente o art. 1.565, §1°, CC permite que qualquer dos nubentes acrescente ao seu, o sobrenome do outro. União estável: a lei permite que os conviventes adotem o patronímico de seus parceiros, desde que haja concordância recíproca. Quando expuser seu portador ao ridículo ou situações vexatórias. Quando houver evidente erro gráfico (ex.: Nerson, Osvardo, Crovis, etc.). Quando causar embaraços comerciais, profissionais, eleitorais e até morais (ex.: homônimos). Uso notório e prolongado de um nome diverso do que figura no registro: admite-se a alteração do nome adicionando-se o apelido ou alcunha, como no caso de Edson Pelé Arantes do Nascimento, Luiz Inácio Lula da Silva, etc. Acréscimo de sobrenome de padrasto ou madrasta (art. 57, §8° LRP: parágrafo inserido pela Lei n° 11.924/09 – “Lei Clodovil Hernandez”): CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 22 depende de autorização judicial e deve haver o consentimento do padrasto ou madrasta. Importante: a pessoa que modificou o seu nome, para acrescer o do padrasto ou madrasta, continua a ser filho de seus pais, de quem irá suceder e reclamar alimentos e demais efeitos jurídicos. O fundamento do dispositivo legal é o afeto entre as partes. Adoção, reconhecimento de filho, divórcio, serviço de proteção de vítimas e testemunhas (sentença do juiz, após ouvir o Ministério Público: coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime), tradução ou adaptação de nomes estrangeiros (Lei n° 6.815/80), etc. Transexual Questão que atualmente tem grande incidência em concurso é o caso do transexual. Uma pessoa pode ter a forma de um sexo (ex.: masculino), mas a mentalidade de outro (feminino). Notem que esta é uma situação diferente da do homossexual, pois este se sente atraído pela pessoa do mesmo sexo, mas não tem intenção de mudar de sexo. A jurisprudência vem acompanhando as modificações havidas nesta área. Atualmente há a possibilidade de cirurgia para a mudança de sexo em nosso País. Chama-se de transgenitalização a cirurgia para adaptar o corpo (sexo biológico) à mente (sexo psíquico) da pessoa. Há inúmeras decisões judiciais garantindo o direito dos transexuais de realizar a cirurgia de transgenitalização pelo SUS (Sistema Único de Saúde). O Conselho Federal de Medicina reconhece o transexualismo como um “transtorno de identidade sexual” e a cirurgia como uma solução terapêutica. Para tanto, editou a Resolução n° 1.652 autorizando as cirurgias de mudança de sexo, mas isto depende muito de caso a caso e de um acompanhamento médico e psicológico multidisciplinar. A cirurgia traz reflexos na possibilidade de retificação do assento de nascimento. Não só no que diz respeito ao nome (prenome), mas também no que concerne ao sexo (pois se trata de um estado individual, informado pelo gênero biológico). Em decisão recente, o Superior Tribunal de Justiça entendeu deve ser expedida uma nova certidão civil, sem que nela conste qualquer anotação sobre a decisão judicial e nem mesmo o termo “transexual”. Isto porque tais observações na certidão significariam na continuidade da exposição da pessoa a situações constrangedoras e discriminatórias. No entanto, a informação de que o nome e o sexo foram alterados judicialmente deve ser mantida nos livros cartorários, para não induzir terceiro de boa-fé em erro quando da habilitação de eventual e futuro casamento. Há quem sustente que nem esta informação deve ser mantida. Pergunta-se: e se o transexual casar sem revelar o fato de ser operado? O casamento será realizado da mesma forma, mas poderá ocorrer a anulação do casamento em razão do erro quanto à pessoa. Hipoteticamente CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 23 falando, teríamos uma possibilidade de caracterização do erro quanto à pessoa do cônjuge. A propósito, sobre o tema, recentemente vi cair em um exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) a seguinte assertiva, sendo a mesma considerada como verdadeira: “aquelas pessoas portadoras de uma incontrolável compulsão pela amputação de um membro específico de seu corpo, em razão do desconforto de estarem presos em um corpo que não corresponde à verdadeira identidade física que gostaria de ter, denominam-se... wannabes”. Na realidade essa expressão deriva do inglês “wanna” (to want = querer) e “be” (to be = ser). Ou seja, “querer ser”. Confesso que nunca tinha ouvido essa expressão com conotação sexual. Para mim era apenas a famosa música das “Spice Girls” (Wannabe), traduzida como “pretendente” (If you wannabe my lover...). Enfim... aprendi essa resolvendo uma questão de Direito da OAB. Vivendo e aprendendo... B) ESTADO Estado é a soma das qualificações da pessoa natural hábeis a identificá-la na sociedade e produzir efeitos jurídicos; é o modo particular da pessoa existir. Apresenta três aspectos: Individual (ou físico) é o modo de ser da pessoa quanto à idade, sexo, cor, altura, saúde, etc. Algumas dessas particularidades, como a idade exercem influência sobre a capacidade e o seu poder de praticar atos da vida civil (maioridade ou menoridade). Familiar indica a situação que a pessoa ocupa na família: a) quanto ao matrimônio (solteiro, casado, viúvo, divorciado); b) quanto ao parentesco consanguíneo (ascendentes: pai,mãe, avós; descendentes: filho, neto; colaterais: irmãos, tios, primos, etc.); c) quanto à afinidade (sogro, sogra, genro, nora, cunhados, etc.). Político identifica a pessoa a partir do local em que nasceu ou de sua condição política dentro de um País: nacional (nato ou naturalizado), estrangeiro, apátrida. Obs.: já vi cair em concurso o termo heimatlos. Trata-se de uma expressão de origem alemã que significa apátrida (pessoa que não é considerado nacional por qualquer País). O estado é regulado por normas de ordem pública (suas regras não podem ser alteradas pela vontade das partes). É irrenunciável, pois não se pode renunciar aquilo que é uma característica pessoal. É uno e indivisível, pois ninguém pode ser simultaneamente casado e solteiro; maior e menor, etc. Por ser um reflexo da personalidade, é inalienável, não podendo ser objeto de comércio. Trata-se de um direito indisponível (não se transferem as características pessoais) e imprescritível (o decurso de tempo não faz com que se percam as qualificações pessoais). As ações tendentes a afirmar, obter ou negar determinado estado, também são CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 24 chamadas de ações de estado (ex.: investigação de paternidade, divórcio, etc.), sendo consideradas personalíssimas. C) DOMICÍLIO O conceito de domicílio (domus, em latim, significa casa) surge da necessidade legal que se tem de fixar as pessoas em determinado ponto do território nacional, onde possam ser encontradas para responder por suas obrigações. Exemplo: vou ingressar com uma ação judicial! Onde essa ação será proposta? Resposta: em regra no domicílio do réu. E se uma pessoa morre, onde deve ser proposta a ação de inventário? Resposta: no último domicílio do “de cujus” (falecido). E assim por diante... O conceito de domicílio está sempre presente em nosso dia-a-dia, mesmo que não percebamos. Inicialmente, devemos fazer a seguinte distinção: a) Moradia ou habitação: é o local onde a pessoa se estabelece provisoriamente, sem ânimo de permanecer; é uma relação bem frágil entre uma pessoa e o local onde ela está (ex.: alugar uma casa de praia por um mês, aluno que ganha uma bolsa de estudos por três meses na França, casa usada apenas para ficar nos fins de semana, feriados ou férias, etc.). b) Residência: é o lugar em que o indivíduo se estabelece habitualmente, com a intenção de permanecer, mesmo que dele se ausente temporariamente; trata-se de uma situação de fato. c) Domicílio: é a sede da pessoa, tanto física como jurídica, onde se presume a sua presença para efeitos de direito e onde exerce ou pratica, habitualmente, seus atos e negócios jurídicos. É o lugar onde a pessoa estabelece sua residência com ânimo definitivo de permanecer (art. 70, CC), convertendo-o, em regra, em centro principal de seus negócios jurídicos ou de sua atividade pessoal; trata-se de um conceito jurídico. Por isso está previsto em diversos dispositivos esparsos em nossa legislação. Vejamos alguns: Art. 7°, LINDB: A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. Art. 327, CC: o pagamento, de uma forma geral, deve ser feito no domicílio do devedor (se o contrário não estiver previsto no contrato). Art. 1.785, CC: a sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido. Art. 46, CPC/2015: a ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens móveis serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu. CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 25 O domicílio possui dois elementos a) Objetivo: é o estabelecimento físico da pessoa; a fixação da residência. b) Subjetivo: é a intenção, o ânimo de ali permanecer em definitivo (a doutrina chama isso de animus manendi). Se uma pessoa viajou de férias para a praia, evidentemente que seu domicílio não foi alterado, pois falta a intenção de permanecer definitivamente neste local. Regra Básica: O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a residência com ânimo definitivo (art. 70, CC). É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida (art. 72, CC). Outras Regras A) Domicílio familiar: uma pessoa pode residir em mais de um local, tomando apenas um como sendo o centro principal de seus negócios; este local então será o seu domicílio. Mas se a pessoa tiver várias residências, onde alternadamente viva, sem que se possa considerar uma delas como sendo o seu centro principal, o domicílio pode ser qualquer delas o Brasil adotou o sistema da pluralidade domiciliar ou domicílio múltiplo (art. 71, CC). B) Domicílio aparente, ocasional ou eventual: pode ocorrer que uma pessoa não tenha uma residência habitual; ela não tem um ponto central de negócios. O exemplo clássico é o dos circenses e ciganos que a cada momento estão em uma localidade diferente (a doutrina os chama de adômidas). O domicílio destas pessoas então será o lugar onde elas forem encontradas (art. 73, CC). Trata-se de uma ficção jurídica, uma hipótese de aplicação da Teoria da Aparência, pois todo sujeito necessita de um local para ser encontrado e ter um domicílio. C) Domicílio profissional: o art. 72, CC considera como domicílio para efeitos profissionais o lugar onde a atividade é desenvolvida: “É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida. Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem”. D) Mudança de domicílio (art. 74, CC): muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar. Estabelece o parágrafo único do art. 74, CC que a prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades que deixa e para onde vai. No entanto essas declarações não podem ser impostas pelo Direito como condição essencial para a caracterização da mudança de domicílio, devendo ser aplicada a parte final do dispositivo que permite que, não se fazendo tais declarações, a transferência de domicílio decorre CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 26 da própria mudança, podendo ser aferida por alguma conduta da pessoa: matricular o filho em um novo colégio, abertura de conta bancária com novo endereço, transferir linha telefônica e assinatura de TV a cabo, etc. Observação: como se percebe a pessoa natural pode possuir duas modalidades de domicílio: o familiar e o profissional. E, diante da pluralidade domiciliar, ela pode ter dois domicílios familiares, ou dois profissionais, ou um familiar e outro profissional, ou um familiar e dois profissionais, etc. ESPÉCIES DE DOMICÍLIO 1) Domicílio Voluntário escolhido livremente pela própria vontade do indivíduo e por ele pode ser modificado (geral: art. 70, CC) ou estabelecido conforme interesses das partes em um contrato (especial: art. 78, CC). Também pode ser simples ou múltiplo (plural). 2) Domicílio Legal (ou necessário) é o que decorre da lei em razão da condição ou situação de certas pessoas. Deixa de existir a liberdade de escolha do domicílio (art. 76 e seu parágrafo único, CC): Incapazes (qualquer tipo de incapacidade): têm por domicílio o de seus representanteslegais (pais, tutores ou curadores). A doutrina costuma chamar de domicílio de origem aquele que o filho adquire ao nascer ou enquanto ele estiver sob o poder familiar. Servidor Público: seu domicílio é o lugar onde exerce permanentemente sua função. Cuidado: não se aplica ao servidor público de função temporária. Militar em serviço ativo: o domicílio do militar do Exército é o lugar onde está servindo; o da Marinha ou da Aeronáutica é a sede do comando a que se encontra imediatamente subordinado. Aplica-se este dispositivo, por analogia, também aos Policiais Militares estaduais. Cuidado: se o militar está reformado (aposentado) não tem mais domicílio necessário por este motivo. Preso: é o lugar onde a pessoa cumpre a sentença (o que não é necessariamente o local onde foi preso ou condenado). Cuidado: essa regra não se aplica ao preso provisório (prisão temporária ou preventiva); é necessário que haja uma decisão condenatória. Se o preso ainda não foi condenado, seu domicílio será o voluntário. Marítimos (são os oficiais e tripulantes da marinha mercante, chamados de “marinheiros particulares”): marinha mercante é a que se ocupa do transporte de passageiros e mercadorias. O domicílio legal é no lugar onde o navio estiver matriculado. Cuidado: os examinadores gostam de colocar como alternativa errada: “lugar onde o navio estiver ancorado”. CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 27 Observações 01) Para quem gosta de métodos de memorização: PIS-M² (preso, incapaz, servidor, militar e marítimo). 02) Como vimos, o Brasil possibilita a pluralidade domiciliar, por isso a existência do domicílio legal não inibe eventual domicílio voluntário. Ex.: funcionário público tem domicílio legal onde exerce suas funções (Município “A”), mas reside com ânimo definitivo (domicílio voluntário) no Município “B”. Nesse sentido a jurisprudência de nossos Tribunais: “Havendo mais de um domicílio, sendo um necessário e outro voluntário, é faculdade do autor a escolha do foro, tendo por base um ou outro domicílio”. 03) O art. 77, CC ainda traz uma situação especial para o Agente Diplomático do Brasil que, citado no estrangeiro, alega extraterritorialidade, sem indicar seu domicílio no país. Neste caso poderá ser demandado no Distrito Federal ou no seu último domicílio. O domicílio voluntário especial merece um destaque à parte. Segundo a doutrina ele pode ser subdividido: a) domicílio contratual: local especificado no contrato para o exercício e cumprimento das obrigações dele resultantes (art. 78, CC); b) domicílio (ou foro) de eleição ou cláusula de eleição de foro: escolhido pelas partes para a propositura de ações relativas às obrigações (art. 63, CPC/2015: As partes podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde será proposta ação oriunda de direitos e obrigações). Essas duas espécies de domicílio derivam de cláusula escrita (art. 63, §1°, CPC: A eleição de foro só produz efeito quando constar de instrumento escrito e aludir expressamente a determinado negócio jurídico). Quando se tratar de ação que verse sobre imóveis a competência é a da situação da coisa. A jurisprudência atual se posicionou no sentido de se negar o foro de eleição nos contratos de adesão, “quando constitui um obstáculo à parte aderente, dificultando-lhe o comparecimento em juízo”. Ou seja, a princípio a cláusula de eleição de foro não é abusiva. No entanto se isso criar alguma dificuldade na defesa do aderente deve ser considerada nula. A orientação do STJ entende ser cláusula abusiva, pois ela prejudica o consumidor, uma vez que o obriga a responder ação judicial em local diverso de seu domicílio (“é nula a cláusula que não fixar o domicílio do consumidor”). Lembrando que contrato de adesão (ou por adesão) é aquele que já está pronto, elaborado de forma unilateral. Ou você assina (adere) o contrato da forma como que ele foi redigido ou o mesmo não sai. Não é possível ficar discutindo as cláusulas contratuais. Por tal motivo a tendência é não ser possível colocar o foro ou domicílio de eleição no contrato (até porque ele não foi eleito; foi imposto por uma das partes). Estabelece o art. 63, §3°, do CPC/2015: “Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 28 pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu”. Domicílio Pessoa Natural – Resumo Regra = lugar onde estabelecer residência com ânimo definitivo (muda-se o domicílio transferindo a residência). Quando possui diversas residências = qualquer delas será o domicílio. Quanto às relações concernentes à profissão = lugar onde a profissão é exercida. Quanto às relações concernentes à profissão em lugares diversos = cada um deles constituirá domicílio. Sem residência habitual = lugar onde for encontrada. Agente diplomático do Brasil citado no estrangeiro = poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o teve. Domicílio Necessário Incapaz = é o domicílio de seu representante ou assistente. Servidor público = onde exercer permanentemente suas funções. Militar (em geral) = onde estiver servindo. Militar da Marinha ou Aeronáutica = sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado. Marítimo = onde o navio estiver matriculado. Preso = onde estiver cumprindo a sentença. TÉRMINO DA PERSONALIDADE DA PESSOA NATURAL Como vimos o início da personalidade se dá com o nascimento com vida, acompanhando o indivíduo durante toda a sua vida. E termina com o fim da existência da pessoa natural, ou seja, com a morte da pessoa (art. 6°, CC). Verificada a sua morte, desaparecem, em regra, os direitos e as obrigações de natureza personalíssima (ex.: dissolução do vínculo matrimonial, relação de parentesco, etc.). Já os direitos não personalíssimos (em especial os de natureza patrimonial) são transmitidos aos seus sucessores. Num sentido genérico podemos dizer que há três espécies de morte: a) real; b) civil; c) presumida. A doutrina acrescenta também a hipótese da Lei n° CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS AULA 01: PESSOAS NATURAIS Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 29 9.140/95 que reconheceu como mortos, para todos os efeitos legais, os “desaparecidos políticos” (morte legal). MORTE REAL A personalidade civil termina com a morte física, deixando o indivíduo de ser sujeito de direitos e obrigações. A morte, portanto, é o momento extintivo da personalidade. A morte real se dá com o óbito comprovado da pessoa natural. Tradicionalmente isso ocorre com a parada total do aparelho cardiorrespiratório. No entanto, a comunidade científica mundial, assim como o Conselho Federal de Medicina, tem afirmado que o marco mais seguro para se aferir a extinção da pessoa física é a morte encefálica, inclusive para efeito de transplante (Lei n° 9.434/97 – Lei de Transplantes). Isso porque a morte encefálica é irreversível. Inicialmente exige-se um atestado de óbito (para isso é necessário o corpo) que irá comprovar a certeza do evento morte, devendo o mesmo ser lavrado por profissional registrado no Conselho Regional de Medicina. Na ausência deste, a Lei n° 6.015/73 (Lei de Registros Públicos) permite que a declaração de óbito possa ser feita por duas testemunhas. Com este documento
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