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aula 05 fatos juridocos 2a parte

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CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS 
AULA 05: FATOS JURÍDICOS (2ª Parte) = NEGÓCIO JURÍDICO 
Prof. Lauro Escobar 
www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AULA 05 
 
= FATOS JURÍDICOS – 2ª Parte = 
 
 
Professor Lauro Escobar 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
 
 
 
CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS 
AULA 05: FATOS JURÍDICOS (2ª Parte) = NEGÓCIO JURÍDICO 
Prof. Lauro Escobar 
www.pontodosconcursos.com.br | Professor Lauro Escobar 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Temas que serão abordados nesta aula  FATOS E ATOS JURÍDICOS 
(2ª Parte). Ato Jurídico. Negócio Jurídico. Conceito. Classificação. Requisitos. 
Modalidades. Elementos Constitutivos. Elementos Essenciais: gerais e especiais 
(particulares). Elementos Acidentais: condição, termo e encargo (ou modo). 
Validade e Defeitos do Negócio Jurídico. Invalidade: Nulidade Absoluta e Relativa 
(nulidade e anulabilidade). Conversão do Negócio Nulo. Invalidade. Confirmação. 
Conversão do Negócio Nulo. Interpretação. Forma e Prova dos Negócios Jurídicos. 
Legislação a ser consultada  Código Civil: arts. 104 até 184 (Negócio 
Jurídico); art. 185 (Atos Jurídicos Lícitos); arts. 212 até 232 (Prova). 
Meus Amigos e Alunos 
Como esta aula é continuação da anterior, devemos recordar que a 
expressão fato jurídico é bem ampla; ela refere-se a todo acontecimento natural 
ou humano que a lei atribui efeitos jurídicos. Já analisamos o fato jurídico 
natural (também chamado de fato jurídico em sentido estrito), sua classificação, 
a prescrição e a decadência, etc. Hoje vamos nos ater ao FATO JURÍDICO 
HUMANO, que é o acontecimento que depende da vontade humana (há quem 
diga que o termo “vontade humana” seria uma redundância, pois somente o 
homem teria vontade; no entanto a expressão tem sido aceita normalmente pela 
doutrina), abrangendo tanto os atos lícitos como os ilícitos. 
Apesar de grande, a aula de hoje é mais “light” do que a anterior, pois é 
menos teórica e mais dinâmica. Além disso, estaremos diante de muitos casos 
Aula 05 
Fatos Jurídicos – 2ª Parte 
Negócio Jurídico 
CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS 
AULA 05: FATOS JURÍDICOS (2ª Parte) = NEGÓCIO JURÍDICO 
Prof. Lauro Escobar 
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que vivenciamos em nosso dia a dia. Por causa disso, nunca é demais lembrar que 
este é um curso preparatório PARA CONCURSOS. Portanto, não devemos nos 
perder em fatos particulares que podem ocorrer em nossas vidas, mas que não 
trazem nenhuma repercussão nos concursos. O importante agora é conhecer 
cada um dos institutos dos quais falaremos e as suas peculiaridades. 
 
Sumário 
 
ATO JURÍDICO (Sentido Estrito) .......................................................... 05 
NEGÓCIO JURÍDICO ............................................................................. 06 
Classificação dos Negócios Jurídicos ................................................ 08 
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS .............................................................. 12 
Elementos de existência, validade e eficácia ........................................ 13 
Elementos Essenciais Gerais ............................................................ 14 
Capacidade do Agente ................................................................. 15 
Objeto ........................................................................................ 17 
Consentimento ........................................................................... 18 
Defeitos relativos ao Consentimento ................................................ 20 
Erro ou Ignorância ...................................................................... 22 
Dolo ............................................................................................ 27 
Coação ....................................................................................... 31 
Estado de Perigo ......................................................................... 33 
Lesão .......................................................................................... 35 
Fraude contra Credores ............................................................... 38 
Simulação ................................................................................... 43 
Elementos Essenciais Especiais ........................................................ 48 
Forma Prescrita ou Não Defesa em Lei ......................................... 48 
Elementos Naturais .......................................................................... 50 
Elementos Acidentais ....................................................................... 51 
Condição .................................................................................... 51 
Termo ......................................................................................... 57 
Modo ou Encargo ........................................................................ 60 
Invalidade do Negócio Jurídico ............................................................ 62 
Ato Inexistente, Nulo e Ato Anulável ........................................... 62 
Conversão do Negócio Nulo ......................................................... 70 
Prova do Negócio Jurídico .................................................................... 72 
RESUMO ESQUEMÁTICO DA AULA ......................................................... 79 
Bibliografia Básica ............................................................................... 89 
EXERCÍCIOS COMENTADOS (FCC) ........................................................ 90 
EXERCÍCIOS COMENTADOS (CESPE) .................................................. 130 
CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS 
AULA 05: FATOS JURÍDICOS (2ª Parte) = NEGÓCIO JURÍDICO 
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Como vimos, o fato jurídico humano (que depende da vontade) pode ser 
subdividido em ato jurídico (em sentido amplo) e ato ilícito. O ato jurídico lícito é 
o praticado em conformidade com a ordem jurídica. Sua consequência é a 
obtenção de um direito. Já a prática do ato ilícito gera o dever de reparar os danos. 
Vamos analisar as particularidades de cada item desta subdivisão: 
1. ATO LÍCITO (também chamado de ato jurídico em sentido amplo ou ato 
jurídico voluntário). É o praticado em conformidade com a ordem jurídica. 
Subdivide-se em: 
a) Ato Jurídico em Sentido Estrito (stricto sensu), também chamado de 
ato jurídico meramente lícito ou ato não-negocial: há uma conduta humana 
(voluntária, consciente e lícita), no entanto os efeitos são os impostos pela 
lei e não pelas partes interessadas. Tem por objetivo a mera manifestação 
de vontade do agente, sem conteúdo negocial, que determina a produção de 
efeitos legalmente previstos. A vontade é importante para a realização do 
ato, mas não quanto à produção dos efeitos desde ato, pois eles decorrem da 
lei, não havendo regulamentação da autonomia privada. O ato surge como 
mero pressuposto de efeito jurídico preordenado pela lei sem função e 
natureza de autorregulamento. Exemplos mais comuns: o reconhecimento 
de filiação, a emancipação voluntária feita pelos pais, a fixação de domicílio, 
o perdão, a confissão, etc. 
b) Negócio Jurídico: há um comportamento humano e os efeitos desse 
comportamento são ditados pela própria manifestação de vontade; os efeitos 
são desejados pelas partes. Há, portanto, autonomia privada; 
autorregulação de interesses particulares, em maior ou menor grau. As partes 
podem definir os efeitos que vão ocorrer em função da conduta praticada. 
Exemplosmais comuns: contratos de uma forma geral (compra e venda, 
locação, etc.) e testamentos. 
2. ATO ILÍCITO (também chamado de fato jurídico involuntário). É o praticado 
em desacordo com a ordem jurídica. Quando a conduta (consciente e voluntária) 
do ser humano transgride um dever jurídico, acarreta consequências jurídicas 
alheias à vontade do agente (efeitos jurídicos impostos pela lei). Daí dizermos 
“fato jurídico involuntário”. Observem: não é a conduta que é involuntária, mas 
sim os efeitos decorrentes dessa conduta, como a reparação do dano, pois 
esta independe da vontade de quem praticou a conduta (esse ponto será 
aprofundado na próxima aula, oportunidade em que analisaremos o ato ilícito e a 
sua consequência, ou seja, a responsabilidade civil). O ato ilícito, embora seja um 
fato jurídico (pois causa repercussão no direito) não é ato jurídico, pois a 
característica essencial do ato jurídico é que este tem de ser lícito. O ato ilícito, ao 
invés de direitos, cria deveres (indenização, reparação do dano). 
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AULA 05: FATOS JURÍDICOS (2ª Parte) = NEGÓCIO JURÍDICO 
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 Observação. Parte da doutrina ainda se refere ao “ato-fato jurídico”, que 
seria uma categoria intermediária entre o ato da natureza e o fato do homem. 
Ocorre nas situações em que um ser humano pratica uma conduta lícita, sendo 
que esta gera uma consequência jurídica, independentemente da vontade de 
produzi-los. Exemplo clássico: criança de 10 anos que compra um doce em uma 
padaria ou um salgado na lanchonete da escola. Outro exemplo: o doente mental 
que pinta um quadro que se torna uma obra de arte; ao fazê-lo, ele adquire a 
propriedade dessa obra, no entanto, não importa para o direito se ele teve vontade 
de fazê-lo, basta a consequência do ato. 
Vamos agora analisar o ato jurídico em sentido estrito e o negócio 
jurídico, que são espécies do gênero ato jurídico lícito (ou ato jurídico em sentido 
amplo). 
 
ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO 
 
Como vimos, no ato jurídico em sentido estrito há uma realização de 
vontade do agente, mas as suas consequências são as previstas em lei e não 
as que porventura queiram as partes. Por isso ele é pobre em conteúdo. Quem 
pratica um ato jurídico em sentido estrito obtém apenas o efeito já 
preestabelecido na lei e não os desejados pelas partes interessadas. 
O exemplo clássico é o reconhecimento de um filho. Digamos que 
uma pessoa (“A”) teve um relacionamento amoroso fora do casamento. Desse 
relacionamento nasceu um filho (“B”). “A” quer apenas reconhecer “B” como seu 
filho. Mas ao fazê-lo, independentemente da sua vontade (e também da vontade 
do filho), surgem diversos efeitos legais, obrigatórios, como o direito ao nome, 
poder familiar, obrigação de prestar alimentos, direitos sucessórios, etc. Assim, 
reconhecido um filho, os efeitos decorrentes do ato não dependem da vontade 
da pessoa que fez o reconhecimento, mas sim da lei. Por tal motivo, não se pode 
reconhecer um filho sob condições, a termo ou com encargos. 
Vamos supor que no exemplo dado, o pai reconhece o filho, mas faz 
algumas ressalvas: eu quero reconhecê-lo como meu filho, mas... eu sou casado... 
tenho outros filhos com minha esposa... não gostaria que esta pessoa reconhecida 
fosse meu herdeiro... (Pergunto: isso pode?) Mais... também não gostaria que 
esta pessoa tivesse o meu nome... afinal de contas é um filho havido fora do 
casamento... (Pergunto: isso pode?) E mais... além disso... não gostaria de ter 
que pagar a pensão alimentícia... Mas o resto eu aceito... (Pergunto novamente: 
isso pode? Aliás... o que seria este “resto”?). Resposta a todas as indagações: 
NÃO!!! Lógico que o pai não pode fazer isso. Uma vez reconhecido um filho, o pai 
não pode dizer que não deseja que ele seja seu herdeiro, ou que não tenha o seu 
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nome, ou se escuse de pagar a pensão alimentícia. Como vimos, a situação 
“reconhecer um filho”, traz como consequências legais e obrigatórias todos 
aqueles efeitos acima citados. O pai pode desejar ou não aqueles efeitos. Tanto 
faz... Os efeitos ocorrerão independentemente da vontade do agente, pois eles 
são impostos pela lei. 
Outros exemplos: 01) Emancipação voluntária: os pais que comparecem ao 
tabelionato de notas para emancipar o filho (com dezesseis anos completos) não 
podem estabelecer que a emancipação produzirá efeito apenas para uma 
determinada situação, ou que terá um tempo certo de duração; o único poder de 
disposição que eles possuem é o de manifestar a vontade de emancipar o filho, 
pois todos os efeitos decorrentes da emancipação estão previstos em lei. 02) 
Quando uma pessoa estabelece residência em determinado local, com ânimo de 
ficar terá como consequência legal a fixação de seu domicílio civil, embora não 
tenha se manifestado nesse sentido. 03) Quando uma pessoa notifica outra, 
obtém o efeito previsto na lei de constituir o devedor em mora. Ainda que o 
notificante não queira este efeito, ele ocorre independentemente de sua vontade. 
 Resumindo Ato jurídico em sentido estrito é o que gera consequências 
jurídicas previstas em lei, independentemente da vontade das partes 
interessadas, não havendo regulamentação da autonomia privada. A 
doutrina acrescenta que estes atos são unilaterais, ou seja, basta uma única 
manifestação de vontade para que se tornem perfeitos. 
É interessante acrescentar que a doutrina ainda dá uma “complicada” na 
classificação, subdividindo o ato jurídico em sentido estrito em duas espécies: 
a) Atos materiais (ou reais): simples atuação humana que lhe dá existência 
imediata; não se destinam ao conhecimento de determinada pessoa, não há um 
destinatário. Ex.: fixação e transferência de domicílio, ocupação, abandono de 
coisas (derrelição), descoberta de tesouro, acessão, etc. 
b) Participações: atos de mera comunicação, sem conteúdo negocial; o 
agente pratica o ato para dar conhecimento a outrem (destinatário 
determinado) de que tem certo propósito ou que ocorreu determinado fato. Ex.: 
notificações, intimações, interpelações, oposições, etc. 
 
NEGÓCIO JURÍDICO 
 
Negócio Jurídico é uma espécie do gênero ato jurídico em sentido amplo. 
É o ato destinado à produção de efeitos jurídicos, desejados pelo agente e 
tutelados pela lei. O agente escolhe os efeitos jurídicos que pretende alcançar. 
Trata-se de toda manifestação de vontade com o propósito de atingir, dentro do 
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campo da autonomia privada, os efeitos jurídicos pretendidos, ou seja, os 
sujeitos de direito podem autorregular seus interesses, nos limites estabelecidos 
pela lei. É necessário acrescentar que esta manifestação de vontade deve ser feita 
sem haja qualquer vício (que veremos mais adiante). 
O exemplo clássico de negócio jurídico é o contrato. Vamos tomar 
como exemplo o contrato de locação. Nele, uma das partes se compromete a 
fornecer a outra, durante certo lapso tempo, o uso e gozo de uma coisa infungível. 
Por outro lado, a outra parte se obriga a remunerar este uso. Trata-se do aluguel. 
Os efeitos deste negócio devem ser totalmente previstos e desejados pelas 
partes. Qual o valor da locação? Qual o prazo da locação? Qual o dia que deve 
ser efetuado o pagamento? Qual o local em que o pagamento vai ser efetuado? O 
locatáriodeve pagar o IPTU? E o condomínio do prédio? Quais as obrigações de 
cada parte durante o contrato? Todos estes itens (entre outros) são os efeitos do 
contrato. Todos eles podem ser “negociados” entre os contratantes (ao menos em 
tese). E, como regra, eles devem estar previstos e desejados pelas partes 
interessadas. A mesma situação pode ocorrer em todas as espécies de contratos. 
Por isso que o negócio jurídico é o principal instrumento que as pessoas têm para 
realizar seus interesses. 
 Lembrando O contrato é apenas uma das várias espécies de negócio 
jurídico. Aliás, o contrato é exemplo típico de um negócio jurídico bilateral. No 
entanto, o negócio jurídico também pode ser unilateral. Neste caso o exemplo 
clássico é o testamento. Quais os efeitos de um testamento? – Resposta: Tudo 
aquilo que o testador desejar (desde que não contrarie a lei, a moral e os bons 
costumes)! Embora no testamento se produza os mais diversos e variados efeitos, 
temos apenas a vontade do testador, daí ele ser unilateral (diferentemente de um 
contrato, em que se leva em consideração a vontade de ambos os contratantes). 
 DISTINÇÃO  Negócio Jurídico X Ato Jurídico em Sentido Estrito 
Vamos reforçar a ideia: não devemos confundir negócio jurídico com o 
ato jurídico em sentido estrito. Ambos decorrem de uma manifestação de vontade. 
No entanto no ato jurídico em sentido estrito o efeito da manifestação da vontade 
está previsto na lei e não pode ser alterado. Este não é exercício de autonomia 
privada. Logo, o interesse objetivado não pode ser regulado pelo particular e a 
sua satisfação se concretiza no modo determinado pela lei. Já no negócio jurídico, 
o efeito da manifestação da vontade é o desejado pelas partes; o fim procurado 
pelas partes baseia-se na autonomia da vontade privada. O negócio leva em 
consideração o fim procurado pela parte (ou partes) e a esse fim a ordem jurídica 
adapta os efeitos. 
 Resumindo: no ato jurídico em sentido estrito a pessoa pratica uma conduta 
e os efeitos desta conduta são automáticos, independente da vontade de quem o 
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pratica; já no negócio jurídico a pessoa pratica uma conduta e os efeitos da 
conduta são os desejados pelas partes. 
No contrato de adesão existe autonomia privada? Alguns autores afirmam 
que o contrato de adesão é mais fruto da “autoridade privada” do que da 
autonomia privada. No entanto, embora limitada, existe autonomia, ainda que 
seja apenas para assinar ou não o contrato (autonomia mínima). 
 
CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS 
 
A classificação dos negócios jurídicos é muito grande. Levando-se em 
consideração o que tem caído nos concursos públicos e segundo a melhor doutrina 
sobre o tema (embora não haja uma uniformidade), classificamos os negócios 
jurídicos em: 
A) QUANTO AO NÚMERO DE MANIFESTAÇÕES DE VONTADE 
1. Unilaterais: quando a declaração de vontade emana de uma ou mais 
pessoas, mas sempre na mesma direção visando um único objetivo. Ou seja, o 
ato se aperfeiçoa com uma única manifestação de vontade (uma parte), 
havendo apenas um polo na relação jurídica. Por tal motivo é desnecessária a 
aceitação de terceiros para que o ato seja válido e produza efeitos. Ex.: 
testamento, renúncia, desistência, promessa de recompensa, confissão de dívida, 
instituição de uma fundação, etc. Os negócios unilaterais podem ser subdivididos 
em: 
a) Receptícios (endereçada): quando a declaração é dirigida a determinada 
pessoa, com a finalidade de se levar ao seu conhecimento a intenção do 
declarante para que possa produzir os efeitos desejados. Ex.: a revogação de 
mandato (ou seja, de uma procuração). Se eu revogo uma procuração, devo 
comunicar isso à pessoa a quem eu outorguei os poderes. Percebam que o ato 
é unilateral (pois a revogação só depende da minha vontade), mas eu devo 
comunicar a minha decisão à outra parte para gerar efeitos jurídicos (por isso 
o ato é chamado de receptício). Outros exemplos: a proposta de um contrato, 
a escolha nas obrigações alternativas. Alguns contratos possuem um duplo 
objeto alternativo: eu posso escolher uma coisa ou outra. Feita a escolha devo 
comunicar à outra parte para surtir efeitos. 
b) Não-receptícios (não endereçada): quando a declaração de vontade não é 
dirigida a uma pessoa determinada, sendo que o conhecimento do fato por parte 
da outra pessoa é irrelevante. Ex.: testamento. Quando eu faço o meu 
testamento, nada mais precisa ser feito; não preciso comunicar ninguém desse 
fato, nem mesmo os beneficiados. Outros exemplos: revogação de testamento 
e renúncia de herança. Basta que eu renuncie à herança de forma expressa; 
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não é necessário que os demais interessados na herança sejam comunicados 
deste fato para que o ato seja válido e operante. 
Obs.: ficou claro que pessoa não se confunde com parte? Por esse motivo é que 
podemos ter mais de uma pessoa praticando um ato unilateral. No entanto todas 
elas devem figurar no mesmo polo, integrando a mesma parte na relação 
jurídica. 
2. Bilaterais: quando a declaração de vontade emana de duas 
manifestações de vontade em sentido contrário, mas coincidentes sobre o 
objeto (consentimento mútuo ou acordo de vontades). Neste caso há dois polos 
na relação jurídica. Exemplo clássico: compra e venda. Neste contrato temos 
duas manifestações de vontade que estão em polos opostos (comprador e 
vendedor), mas que firmam consentimento em relação ao objeto da venda. Outros 
exemplos: além dos contratos em geral (locação, seguro, transporte, etc.) um 
bom exemplo é o perdão (“A” pode perdoar “B”; mas este perdão somente surtirá 
efeitos se “B” aceitar o perdão). O negócio jurídico bilateral ainda pode ser 
subdividido em: 
a) simples: quando somente uma das partes aufere vantagens, enquanto a 
outra arca com os ônus (ex.: doação, depósito gratuito, etc.). 
b) sinalagmático: quando há uma reciprocidade de direitos e obrigações 
para as partes (gera obrigações para ambas), estando elas em situação de 
igualdade (ex.: compra e venda, locação, etc.). 
Obs.: mais uma vez percebam que pode haver várias pessoas no polo ativo e 
outras várias no polo passivo e ainda assim teremos apenas duas partes. 
3. Plurilaterais (ou plúrimos): contratos que envolvem uma pluralidade de 
sujeitos (ou polos), buscando um fim comum para todos eles. Se um imóvel é 
locado a um grupo de pessoas, o contrato é bilateral pois se de um lado temos o 
locador, do lado oposto temos todos os inquilinos (que estão no mesmo polo). Já 
nos contratos plurilaterais, temos várias partes (que estariam dispostas como 
em um círculo). Exemplo: no contrato de constituição de sociedade cada sócio é 
uma parte autônoma; assim se houver algum defeito em relação a um sócio, esse 
vício não se estende para os demais. Outro exemplo: consórcios de bens (móveis 
ou imóveis), etc. 
B) QUANTO ÀS VANTAGENS PATRIMONIAIS (vantagem x sacrifício) 
1. Gratuito: uma das partes suporta o sacrifício e a outra aufere vantagem; 
a pessoa assume determinada obrigação sem aguardar qualquer espécie de 
contraprestação. São atos de liberalidade. Ex.: doação simples. 
2. Oneroso: ambos os contratantes possuem ônus e vantagens recíprocas; 
há uma prestação e uma contraprestação. A pessoa somente assume a obrigação 
por esperar em contrapartida a outra obrigação. Ex.: locação (paga-se o aluguel 
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e usa-se a coisa alheia), compra e venda (paga-se o preço para se obter a coisa), 
etc. Os contratos onerosos se dividem em: 
a) comutativos: as prestações de cada um dependem de um acontecimento 
certo e determinado (ex.: locação). 
b) aleatórios: há uma incerteza em relação às vantagens e sacrifícios das 
prestações; depende de um acontecimento incerto, havendo, portanto, uma 
álea ou risco. Ex.: o contrato de seguro, para a seguradora é aleatório, pois o 
pagamento ou não da indenização depende de um fato específico previsto no 
contrato: o sinistro. 
 Observações 
01) Alguns autores referem-se aos negócios bifrontes: são aqueles que a 
rigor são gratuitos, mas podem se tornar onerosos de acordo com a vontade das 
partes. Ex.: o contrato de mútuo (empréstimo de coisa fungível) em regra é 
gratuito, mas as partes podem combinar uma remuneração. Outros exemplos: 
depósito e mandato. A conversão só é possível se o contrato é definido na lei como 
gratuito, pois a vontade das partes não pode transformar o contrato oneroso em 
benéfico. Além disso, nem todos os contratos gratuitos podem ser convertidos 
(ex.: a doação ficaria totalmente desfigurada se isso ocorresse). 
02) A doutrina também se refere aos negócios neutros: quando não houver 
atribuição patrimonial específica no negócio jurídico, não podendo ser 
caracterizado nem como oneroso, nem como gratuito (ex.: instituição de bem de 
família voluntário por meio de escritura pública). 
03) Todo negócio oneroso é bilateral, pois a prestação de uma das partes 
envolve uma contraprestação. Mas nem todo negócio bilateral é oneroso. Ex.: 
doação pura e simples é negócio bilateral (possui duas vontades: doador e 
donatário), porém gratuito. 
C) QUANTO AO TEMPO EM QUE DEVAM PRODUZIR EFEITOS 
1. Inter vivos: destinados a produzir efeitos durante a vida dos interessados. 
Ex.: locação, compra e venda, mandato, casamento, etc. 
2. Causa mortis: somente produz efeitos (criando o direito) após a morte 
do declarante; o evento morte é pressuposto de sua eficácia. Ex.: testamento, 
codicilo (que é uma disposição de última vontade de pequenas coisas, como um 
anel, roupas, livros), etc. 
 Observações 
01) O contrato de seguro de vida (ao contrário do que parece) é negócio 
jurídico inter vivos, sendo que o evento morte funciona apenas como um termo. 
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02) Os negócios jurídicos causa mortis são sempre típicos e nominados 
(definidos em lei); ou seja, as partes não podem realizar negócios atípicos ou 
inominados desta natureza. 
D) QUANTO A SEUS EFEITOS 
1. Constitutivos: sua eficácia opera-se ex nunc (ou seja, o negócio se torna 
eficaz a partir de sua conclusão ou celebração). Ex.: contrato de compra e venda. 
2. Declarativos (ou declaratórios): sua eficácia é ex tunc (ou seja, se 
efetiva a partir do momento em que se operou o fato a que se vincula a declaração 
de vontade, retroagindo no tempo). Ex.: divisão de condomínio, partilha, 
reconhecimento de filho, etc. 
 Obs.: ainda na aula de hoje falarei mais sobre os efeitos ex tunc e ex nunc. 
Estas expressões em latim merecem uma atenção toda especial da nossa parte 
(não só no Direito Civil, mas no Direito como um todo). 
E) QUANTO À SUBORDINAÇÃO 
1. Principais: são aqueles que têm existência própria e não dependem de 
qualquer outro. Ex.: compra e venda, locação, doação, etc. 
2. Acessórios: são aqueles que têm a sua existência subordinada à de um 
contrato principal. Exemplo clássico: fiança. A fiança só existe por causa de um 
contrato principal; ela não tem existência jurídica autônoma (lembrem-se da 
regra: “o acessório segue o principal”). Se eu sou o locador de um imóvel, quero 
que o locatário (inquilino) apresente um fiador, que ficará responsável pelo 
pagamento da dívida, caso o locatário não cumpra com a obrigação. Logo o 
contrato de locação é o principal e a fiança é o contrato acessório, que somente 
existe por causa do principal. Outro exemplo: cláusula penal (que é a multa que 
pode ser pactuado no contrato, caso este não seja cumprido). 
F) QUANTO ÀS FORMALIDADES 
1. Solenes (formais): a lei exige uma forma especial para se aperfeiçoarem; 
devem obedecer a uma solenidade específica, prevista em lei. A doutrina faz uma 
pequena distinção: 
a) Atos ad solemnitatem: quando a forma é exigida como condição de 
validade do ato; a formalidade é a própria essência ou substância do ato. Ex.: 
escritura pública de compra e venda de imóvel acima de 30 vezes o maior salário 
mínimo vigente (art. 108, CC); testamento público ou cerrado que devem ser 
escritos ou provado, respectivamente, pelo tabelião, etc. 
b) Atos probationem tantum: a lei não determina uma forma para ser 
celebrado o ato, mas determina o modo que o ato deve ser provado em juízo, se 
isso for necessário em um processo; a solenidade é tida apenas como prova do 
ato. Nesse sentido, estabelece o parágrafo único do art. 227, CC que: “qualquer 
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que seja o valor do negócio jurídico, a prova testemunhal é admissível como 
subsidiária ou complementar da prova por escrito”. 
2. Não solenes (forma livre): a lei não exige formalidades para seu 
aperfeiçoamento, podendo ser celebrado por qualquer forma, inclusive verbal. Ex.: 
locação, compra e venda de bens móveis, etc. Em regra os contratos têm forma 
livre, salvo exceções expressas na lei. 
G) QUANTO ÀS PESSOAS 
1. Impessoais: independe de quem sejam as partes e de eventual qualidade 
especial destas para a prática do ato. Ex.: contrato uma pessoa para pintar um 
muro (qualquer pessoa pode pintar um muro; não há uma habilidade especial para 
isso). 
2. Intuitu personae: o ato se realiza em função das qualidades especiais de 
uma pessoa. Ex.: desejo ser operado por cirurgião de minha confiança; desejo ser 
defendido no Tribunal do Júri pelo advogado “X”; quero que o famoso pintor “Z” 
pinte um quadro para mim, etc. 
H) QUANTO À CAUSA 
1. Causais: estão vinculados a uma causa. Ex.: o registro da escritura de um 
imóvel está sempre ligado à existência da escritura de compra e venda deste 
imóvel; se a compra e venda for defeituosa, o registro também o será. 
2. Abstratos: estão desvinculados de qualquer outro negócio. Ex.: compro 
uma casa pagando com um cheque; a emissão deste é desvinculada; se a compra 
e venda for considerada nula, o cheque continuará valendo, principalmente se 
estiver nas mãos de terceiros. 
 Obs.: Como se percebe, a mesma espécie de negócio jurídico pode se 
enquadrar em mais de uma categoria de classificação, sem que haja 
incompatibilidade nisso. 
 
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
 
Alguns elementos do negócio jurídico são chamados de essenciais porque 
constituem elementos de existência e validade. Se o negócio possui tais 
elementos ele será válido e produzirá efeitos. Se faltar alguns desses elementos o 
negócio será inválido e não produzirá efeitos. Já outros elementos são chamados 
de acidentais, pois são requisitos de eficácia do negócio. 
Para alguns autores como Pontes de Miranda, o negócio jurídico é 
dividido em três planos, o que gera um esquema gráfico como uma escada com 
três degraus, denominada, em sua homenagem, de escada ponteana. Vejamos.CURSO REGULAR DE DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS 
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PRIMEIRO DEGRAU = Plano da existência. É onde se encontram os seus 
elementos mínimos. Sem eles, o negócio simplesmente não existe. São os 
substantivos (partes ou agentes, objeto, vontade e forma) sem qualquer adjetivo. 
Se faltar um desses elementos o negócio simplesmente não existe. 
SEGUNDO DEGRAU = Plano da validade. Neste plano os substantivos recebem 
os adjetivos. Não basta haver partes... elas devem ser capazes. Não basta haver 
objeto, ele deve ser lícito, possível, determinado ou determinável. Não basta haver 
vontade, esta deve ser manifestada de forma livre e consciente e sem que 
prejudique terceiros (isenta de vícios). Não basta haver forma... ela deve ser 
prescrita ou não defesa em lei. Se surgir algum vício acerca da validade, o negócio 
jurídico será nulo (arts. 166 e 167, CC) ou anulável (art. 171, CC). 
TERCEIRO DEGRAU = Plano da eficácia. São as consequências do negócio 
jurídico, seus efeitos práticos no caso concreto. São elementos acidentais: 
condição, termo e encargo. 
 Dúvida doutrinária: O atual Código Civil adotou a tricotomia existência-
validade-eficácia? Resposta: Não! Nosso Código nada trata sobre o plano 
da existência. Observem que o art. 104, CC já começa a tratar do plano de 
validade. Além disso, como veremos, o Código apenas disciplinou regras sobre 
nulidade relativa e a absoluta, não se referindo à inexistência do negócio. 
CONCLUSÃO: segundo a doutrina dominante, o plano da existência ficou 
embutido implicitamente no plano da validade. 
Vamos agora apresentar um gráfico geral e panorâmico dos 
elementos constitutivos do negócio jurídico. A seguir vamos analisar cada 
um destes elementos de forma pormenorizada. 
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS 
 I. Elementos Essenciais: são os que dizem respeito à existência e 
validade do negócio jurídico; são indispensáveis, pois lhes dão a estrutura e a 
substância. 
A) Gerais (comuns a todos os negócios): 
1. Partes ou agentes: capazes. 
2. Objeto: lícito, possível, determinado ou determinável. 
3. Vontade (consentimento): livre e consciente, sem prejudicar 
terceiros (sem vícios). 
B) Especiais (aplicáveis somente a alguns negócios): 
1. Forma: prescrita ou não defesa em lei. 
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II. Elementos Naturais: são os efeitos ou as consequências decorrentes 
do próprio negócio jurídico. 
 III. Elementos Acidentais: são elementos facultativos; podem ou não ser 
estipulados e dizem respeito, não à existência ou validade propriamente dita do 
negócio jurídico, mas sim a sua eficácia. 
1. Condição. 
2. Termo. 
3. Modo ou Encargo. 
 
I. ELEMENTOS ESSENCIAIS GERAIS 
 
Como vimos, os elementos essenciais do negócio jurídico estão previstos 
na lei (art. 104, CC). São eles: agente capaz (elemento subjetivo), objeto 
lícito, possível, determinado ou determinável (elemento objetivo) e forma 
prescrita ou não defesa em lei. 
Apesar de não estar previsto expressamente no art. 104, CC, a doutrina 
ainda acrescenta o consentimento (vontade livre e consciente que corresponda 
efetivamente ao que almeja o agente). Isso porque caso não haja o 
consentimento, o negócio estará viciado, tornando passível de anulação. A 
capacidade, o objeto e a vontade são chamados de elementos gerais, porque são 
elementos comuns a todos os negócios jurídicos. Já a forma é elemento especial, 
pois diz respeito apenas alguns negócios. Nem todos os negócios jurídicos exigem 
uma forma especial. 
A) CAPACIDADE DO AGENTE 
Se todo negócio jurídico pressupõe uma declaração de vontade, a 
capacidade do agente é indispensável, pois é a aptidão para intervir nos 
negócios jurídicos. Trata-se da capacidade de fato ou de exercício (pessoa 
dotada de consciência e vontade reconhecida pela lei como apta a exercer todos 
os atos da vida civil), já analisada anteriormente. Os arts. 3° e 4° do Código Civil 
apresentam o rol dos incapazes (absoluta ou relativamente). Já analisamos quem 
são essas pessoas. Se alguém ficou com dúvida, retorne a aula sobre pessoas 
naturais. É imprescindível o conhecimento dessa matéria para a compreensão do 
que falaremos a seguir. 
No caso de eventual incapacidade, esta deverá ser suprida pelos meios 
legais. Enquanto os absolutamente incapazes são representados em seus 
interesses por seus pais, tutores e curadores, os relativamente incapazes (embora 
já possam participar pessoalmente dos negócios jurídicos) devem ser assistidos 
pelas pessoas a quem a lei determinar. O ato praticado pelo absolutamente 
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incapaz sem representação é nulo. Já o ato realizado pelo relativamente incapaz 
sem assistência é anulável. Ainda hoje veremos a distinção entre o ato nulo e o 
anulável. Lembrando que o vício da incapacidade é um instrumento que age a 
favor do incapaz, para protegê-lo. 
 Incapacidade  
 Absolutamente incapazes (art. 3°, CC)  Devem ser representados  
Falta de representação  Negócio Jurídico Nulo (art. 166, I, CC). 
 Relativamente incapazes (art. 4°, CC)  Devem ser assistidos  Falta 
de assistência  Negócio Jurídico Anulável (art. 171, I, CC). 
Estabelece o art. 1.634, CC: Compete aos pais, quanto à pessoa dos 
filhos menores: (...) V. representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida 
civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes 
o consentimento. 
É interessante acrescentar que o art. 105, CC determina que a 
incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra 
em benefício próprio, nem aproveita aos outros interessados. Isto porque a 
intenção da lei é proteger o incapaz contra a maior experiência e má-fé de 
terceiros que desejam tirar proveito desta situação. Assim não pode uma pessoa 
capaz realizar um negócio com um relativamente incapaz e ele próprio (o capaz) 
requerer a invalidade do negócio com fundamento de que a outra parte era 
incapaz. A incapacidade é uma exceção (forma de defesa) pessoal. Por isso 
somente pode ser alegada pelo próprio incapaz ou seu representante legal. 
Lembrando que se a pessoa for absolutamente incapaz, o ato por ele praticado 
será nulo (art. 166, I, CC), pouco importando se a incapacidade tenha sido 
invocada pelo capaz ou pelo incapaz. Isso porque o art. 168, parágrafo único, CC 
não permite, nem mesmo ao juiz suprir essa nulidade, ainda que os contratantes 
assim pactuem. 
Mas, como quase tudo, aqui também há uma exceção. Se a obrigação for 
indivisível (ex.: entregar um cavalo), ainda que as demais partes sejam capazes, 
não será possível separar o interesse dos contratantes. Neste caso, a incapacidade 
de um deles poderá tornar anulável o ato praticado, mesmo que o vício tenha sido 
alegado por uma pessoa capaz. Portanto, nesta hipótese, o vício se estenderá para 
toda a obrigação, sendo o negócio anulado. 
Resumindo 
 Pessoa sabia da incapacidade relativa da outra parte  o vício não pode 
ser alegado em benefício próprio. 
 Pessoa não sabia da incapacidade relativa  o vício pode ser alegado. 
Regra: a anulação não aproveita aos demais cointeressados. Exceção: 
aproveita aos demais se a obrigação for indivisível. 
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Há outro ponto interessante que iremos aprofundar mais à frente. Se o 
menor entre 16 e 18 anos praticar um ato sem assistência, escondendo 
dolosamente a sua condição de relativamente incapaz, não poderá alegar este 
vício para anular o negócio e escapar da obrigação contraída (art. 180, CC). 
Atenção  Não confundir incapacidade com falta de legitimação, que é a 
incapacidade para a prática de um determinado ato. Ex.: uma pessoa maior e 
capaz não está legitimada a vender um bem, ainda que seja de sua propriedade 
exclusiva, a um descendente seu, enquanto não obtiver o consentimento de seu 
cônjuge e dos demais descendentes (art. 496, CC). 
 Recordando A pessoa jurídica deve ser representada por uma pessoa 
física (ou natural) ativa e/ou passivamente, exteriorizando sua vontade, nos atos 
judiciais ou extrajudiciais. Ou seja, é necessário que haja uma pessoa natural para 
assumir os compromissos e assinar os contratos da pessoa jurídica, exprimindo 
sua vontade e executando os seus objetivos. Em regra, essa pessoa é a indicada 
no estatuto ou no contrato social da pessoa jurídica. Na sua omissão, a 
representação será exercida por seus diretores. Trata-se, assim, de uma 
representação imprópria. 
REPRESENTAÇÃO 
Os artigos de 115 a 120 CC tratam da representação. Esta é uma 
relação jurídica pela qual certa pessoa se obriga diretamente perante terceiro, por 
meio de ato praticado em seu nome por um representante. O art. 115, CC 
delimita as situações possíveis para a sua realização: conferido por lei ou pelo 
próprio interessado. São espécies de representantes: 
a) Legais: a própria norma jurídica confere poderes para uma pessoa 
administrar bens alheios; servem aos interesses do incapaz. Ex.: pais, tutores e 
curadores, em relação aos bens dos filhos, tutelados e curatelados. 
b) Convencionais (ou voluntários): são aqueles que têm um mandato, 
expresso ou tácito, verbal ou escrito do representado. Ex.: procuração outorgada 
(fornecida) a um advogado para patrocinar um processo judicial. Somente nesta 
espécie de representação é possível o substabelecimento. Substabelecer 
significa transferir a outra pessoa os poderes que o mandatário recebeu do 
mandante. Ex.: “A” (representado ou mandante) outorgou poderes para “B” 
(representante ou mandatário) defender seus interesses em um processo 
trabalhista conta a empresa “X”. Como no dia designado para a audiência “B” não 
irá comparecer, pode substabelecer (transferir) os poderes que recebeu para “D”, 
que é outro Advogado. 
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b) Judiciais: são as pessoas nomeadas pelo Juiz para exercer certo cargo 
em um determinado processo. Ex.: administrador judicial de uma falência, 
inventariante, etc. 
Nos termos do art. 118, CC o representante deve provar às pessoas com 
quem tratar (em nome do representado) a sua qualidade e a extensão de seus 
poderes, sob pena de não o fazendo, responder pelos atos que excederem à 
representação. Prevê o art. 116, CC que a manifestação de vontade pelo 
representante, ao efetivar um negócio em nome do representado, nos limites dos 
poderes que lhe foram conferidos, produz efeitos jurídicos em relação ao 
representado. Ou seja, o representante pratica o ato; mas é o representado que 
irá adquirir os direitos ou assumir as obrigações decorrentes da representação. 
O art. 117, CC autoriza o chamado “contrato consigo mesmo” (ou 
autocontrato), isto é, uma só pessoa está revestida das duas qualidades jurídicas 
diferentes, de forma simultânea: ora por si, ora representando um terceiro. Mas 
isso somente é possível se houver permissão da lei ou do representado, sob pena 
de anulação. O exemplo clássico ocorre no cumprimento do chamado mandato 
em causa própria, onde o mandatário é também o beneficiário. Ex.: A confere 
mandato para B para vender seu apartamento, com autorização para que B venda 
o imóvel para ele mesmo = B. Neste caso, quando for feita a escritura, B intervirá, 
ora representando A (como mandatário), ora em seu próprio nome (comprando o 
imóvel). Notem, que mesmo nesta hipótese, B manifesta sua vontade sob dois 
ângulos diferentes (como vendedor, representando A e como comprador, em 
nome próprio). Observem que são duas vontades jurídicas diferentes. 
Já o art. 119, CC prevê que se o representante concluir um negócio e 
houver um conflito de interesses com o representado, sendo que tal fato era ou 
devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou, o negócio também será 
anulável. 
B) OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO OU DETERMINÁVEL 
O direito somente atribui efeitos à vontade humana quando se procura 
alcançar objetivos lícitos. Assim, além da capacidade das partes, para que um 
negócio jurídico se repute válido e perfeito, deverá versar sobre um objeto lícito, 
ou seja, não atenta contra a lei, a moral e os bons costumes. Ex.: na locação de 
um imóvel para fins residenciais, este é o objeto do contrato. Assim, eu não posso 
desvirtuar o que foi pactuado e explorar naquele imóvel (que era para fins 
residenciais) uma atividade ilícita, como por exemplo, a exploração da 
prostituição. Desta forma, se o objeto do contrato foi ilícito, nulo será o negócio 
jurídico. Outro exemplo: compra e venda de objeto roubado. Também neste caso 
haverá a nulidade absoluta do ato. 
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Além disso, o objeto deve ser possível, realizável. Se o negócio implicar 
prestações impossíveis, também será considerado nulo. Esta impossibilidade pode 
ser jurídica (proibida pelo ordenamento jurídico: venda de herança de pessoa viva 
– art. 426, CC) ou física (desrespeito às leis naturais ou físicas: ir à lua e voltar 
em duas horas, etc.). Segundo a doutrina, para tornar nulo o negócio, a 
impossibilidade deve ser absoluta, ou seja, impraticável por quem quer que seja 
(atinge a todos sem distinção). Se a impossibilidade for apenas relativa, isto é, 
puder ser realizada por alguém (mesmo que não seja o devedor), não haverá 
obstáculo para o negócio, que continua válido. 
Finalmente deve ser o mesmo determinado ou, ao menos, 
determinável. Determinado é o objeto previamente descrito, qualificado e 
individualizado no início do negócio (compra do cavalo “furacão”). Determinável 
é o objeto que ainda não está individualizado, mas o será no futuro. Em outras 
palavras: o objeto deve ser previamente conhecido e individualizado ou devem 
existir critérios que permitam sua futura individualização. Assim, admite-se a 
venda de coisa incerta (mas não indeterminada). No entanto ela deve ser indicada 
ao menos pelo gênero e pela quantidade, ainda que não seja mencionada a 
qualidade, pois esta pode ser determinada posteriormente pela escolha. 
Art. 106, CC 
Um aspecto que deve ser levado em consideração em relação ao objeto é 
o art. 106, CC. Vejamos: “A impossibilidade inicial do objeto não invalida o 
negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que 
ele estiver subordinada”. Explicando melhor: 
Primeira parte do dispositivo: quando da celebração do contrato havia um 
vício relativo em relação ao objeto, mas, durante a execução do contrato, este 
defeito deixou de existir. Assim, nosso Código, consagrando o princípio da máxima 
utilidade, prevê que tal vício deixa de existir (ex.: a prestação pode ser realizada 
por outra pessoa). Reforçando:o defeito deve ser relativo, pois se for absoluto o 
negócio será considerado nulo. 
Segunda parte do dispositivo: se o negócio jurídico, contendo objeto 
impossível, tiver sua eficácia subordinada a um evento futuro e incerto, e aquela 
impossibilidade cessar antes de realizada aquela condição, o negócio será válido. 
ATENÇÃO  Objeto ilícito, impossível, ou indeterminado  Negócio 
Jurídico Nulo (art. 166, II CC). 
C) CONSENTIMENTO (Vontade). Da Interpretação do Negócio Jurídico. 
A manifestação de vontade exerce papel imprescindível no negócio jurídico, 
sendo um elemento básico. Portanto, é necessário que esta vontade seja 
espontânea, livre de qualquer vício. 
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Inicialmente perguntamos: o que interessa mais ao Direito: a intenção 
ou a ação? Resposta: para o Direito o mais importante é a ação, ou seja, a 
vontade declarada, pois a intenção, isoladamente, não tem valor algum. 
Somente após a manifestação de vontade declarada (por escrito, palavras, gestos 
ou sinais) é que a intenção será levada em consideração. Portanto, a declaração 
de vontade é constituída de dois elementos: a) interno: real intenção do agente; 
b) externo: vontade declarada. 
O ideal é que a pessoa declare exatamente aquilo o que desejava. Deve 
haver uma perfeita harmonia entre o que ela queria e o que ela fez. Mas nem 
sempre um contrato traduz a exata vontade das partes. Por isso, algumas vezes 
ele deve ser interpretado, para se chegar a real intenção das partes. 
INTERPRETAR o negócio jurídico é delimitar o alcance da declaração de 
vontade. No entanto as cláusulas contratuais não devem ser interpretadas de 
forma isolada, mas sim dentro do contexto do contrato, em conjunto com as 
demais cláusulas. 
O consentimento pode ser expresso ou tácito. Será expresso quando for 
declarado por escrito ou verbalmente, mas de maneira explícita. Será considerado 
tácito se resultar de um comportamento do agente que demonstre, 
implicitamente, sua anuência, sua concordância com a situação, desde que o 
negócio, por sua natureza ou por disposição legal, não exija forma expressa. 
O silêncio pode importar em anuência, se as circunstâncias e os 
usos o autorizarem e não for necessária a declaração de vontade expressa 
(art. 111, CC). Ou seja, o silêncio somente terá valor jurídico, como um fato 
gerador de um negócio, se a lei assim o permitir. Caso contrário o silêncio não 
tem força de declaração de vontade. Portanto, no Direito, não é totalmente aceito 
o brocardo: “quem cala consente”. Em alguns casos (raros) ele se aplica, como na 
hipótese da doação pura, onde o silêncio do beneficiário é considerado como 
aceitação, concluindo o contrato. Na prática é o Juiz, diante de um caso concreto, 
que deverá verificar se o silêncio representou ou não a vontade. No dizer de 
Machado de Assis: “O silêncio... é um tumulto”. 
Outro princípio básico relativo às declarações de vontade é de que se 
atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal 
da linguagem (art. 112, CC). Ou seja, os negócios, de uma forma geral, podem 
conter alguma cláusula duvidosa ou algum ponto controvertido, sendo necessária 
uma interpretação. Pelo Código esta interpretação deve procurar se situar mais 
na vontade real dos contratantes (teoria da vontade ou voluntarista), 
procurando as consequências e os efeitos desejados por eles, indagando sua real 
intenção, do que no sentido literal do negócio (que seria o exame gramatical de 
forma “fria” de um texto do contrato). Trata-se de um reflexo da teoria da 
confiança, que mantém íntima relação com o princípio da boa-fé objetiva. 
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Além disso, os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme 
a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração (art. 113, CC). Trata-se de 
referência à boa-fé objetiva que representa um dever de conduta das partes, de 
acordo com a lealdade, honestidade, confiança, etc. (a expressão “boa-fé” deriva 
do latim bona fide, que significa boa confiança, ou seja, é a convicção de alguém 
que acredita estar agindo de acordo com a lei, na prática ou na omissão de 
determinado ato). A boa-fé se presume; de forma contrária, a má-fé precisa ser 
demonstrada. 
O art. 114, CC estabelece uma ressalva. Os negócios jurídicos 
benéficos (também chamados de gratuitos, pois envolvem uma liberalidade, 
onde uma das partes se obriga e a outra aufere vantagens, como na doação pura 
e simples) e a renúncia (ato unilateral em que a parte abre mão de um direito, 
faculdade ou vantagem) interpretam-se estritamente. Ou seja, segundo a lei 
tais atos se limitam apenas ao que foi estabelecido pelas partes, sem incluir outras 
questões. Isto é, nem o Juiz poderá dar a estes negócios uma interpretação mais 
ampla, devendo ficar restrito ao que foi estipulado pelas partes. Um exemplo 
clássico disso é a fiança nos contratos de locação: sua natureza é gratuita, 
portanto é considerado um negócio jurídico benéfico; por tal motivo, se houver 
alguma dúvida quanto a sua abrangência, esta deve ser resolvida fazendo-se uma 
interpretação restritiva, ou seja, em favor daquele que prestou a fiança (no caso 
o fiador), não se ampliando as obrigações do mesmo (confiram o art. 819, CC). 
Acrescente-se que há outros dispositivos estabelecendo regras sobre 
a interpretação da vontade. O art. 423, CC, por exemplo, prevê que quando 
houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, acolhe-se a 
interpretação mais favorável ao aderente. Merece destaque especial também o 
art. 47 do Código de Defesa do Consumidor (CDC) que dispõe que “as cláusulas 
contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor”. 
Outros: a intenção das partes pode ser apurada pelo modo como vinham 
executando o contrato até então; na dúvida deve-se interpretar o contrato de 
forma menos onerosa para o devedor; as cláusulas contratuais devem ser 
entendidas como um todo e não interpretadas de forma isolada, etc. Finalmente, 
se uma cláusula contratual permitir duas interpretações diferentes, prevalecerá a 
que possa produzir algum efeito, pois não se deve supor que os contratantes 
tenham celebrado um contrato inútil e sem seriedade. 
DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
Defeitos do negócio jurídico são os vícios relativos à formação da vontade 
ou à sua declaração, tornando-o passível de anulação. Pode ser grave (quando 
vicia o ato de forma definitiva) ou leve (quando o ato pode ser remediado pelo 
interessado). 
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Podemos dizer que um ato é válido (quanto ao consentimento) “quando 
eu faço exatamente aquilo que eu queria fazer, desejando seus efeitos, sem que 
esta conduta prejudique terceiros”. Ou seja, às vezes eu posso ter feito algo que 
não era o que eu queria fazer (e quantas vezes isso ocorre conosco...); quero 
comprar algo e me engano... ou sou enganado. Outras vezes quero fazer algo e 
faço aquilo que eu queria fazer. Mas o que eu fiz afeta direitos de terceiros, 
prejudicando essas pessoas, que não foram partes do negócio principal, mas que 
foram lesados com a minha conduta. É importante notar que em qualquer uma 
destas duas situações (fiz algo que não queria ou fiz algo que eu queria, mas 
prejudiquei interesses de terceiros)surgem os chamados defeitos relativos à 
vontade. 
Assim, se existe uma vontade, porém sem a correspondência com aquela 
que o agente quer exteriorizar, o negócio jurídico será viciado ou deturpado, 
tornando-se anulável (art. 171, II, CC), se no prazo decadencial de 04 anos 
for movida ação de anulação (art. 178, II, CC). São os chamados vícios de 
consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão). Nestes casos há 
uma desavença entre a vontade real e a vontade declarada, sendo que o 
prejudicado é um dos contratantes. 
Existem outras hipóteses em que se tem uma vontade funcionando 
normalmente, havendo a correspondência entre a vontade interna e a 
manifestação, mas, no entanto, ela se desvia da lei ou da boa-fé. O que foi 
colocado no contrato infringe a lei e prejudica terceiros. Também são passíveis de 
anulabilidade no prazo decadencial de 04 (quatro) anos. São os chamados 
vícios sociais (fraude contra credores). A simulação também é considerada por 
parte da doutrina como um vício social, uma vez que objetiva iludir terceiros. 
Porém o atual Código resolveu discipliná-la em outro capítulo, referente à 
invalidade do negócio jurídico (e não no capítulo referente aos defeitos do 
negócio). 
Vamos, mais uma vez, apresentar um gráfico para melhor classificar os 
defeitos relativos à vontade. Depois vamos analisá-los um a um. E vamos ver 
qual a consequência deste ato viciado. Dependendo do vício o ato pode ser nulo, 
anulável ou até mesmo válido. Mais adiante, ainda na aula de hoje, veremos as 
diferenças entre o ato nulo e o anulável, as hipóteses que caracterizam uma e 
outra situação, bem como os efeitos decorrentes destas situações. Esses tópicos 
têm vital importância para efeito de concursos. 
DEFEITOS 
1) AUSENÊNCIA DE VONTADE  Negócio inexistente (ou nulo para 
outra corrente doutrinária). 
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2) VÍCIOS DE CONSENTIMENTO  A vontade não é expressada de 
maneira absolutamente livre; a vontade declarada não representa a real 
intenção do agente. Prejudicam a própria pessoa que exteriorizou a 
vontade  Erro ou Ignorância, Dolo, Coação, Lesão e Estado de Perigo. 
3) VÍCIOS SOCIAIS  há uma correspondência entre a vontade interna 
do agente e a sua manifestação, no entanto, a vontade manifestada não 
tem a intenção pura e de boa-fé que enuncia; o negócio é realizado em 
desconformidade com a lei, pois a intenção é de prejudicar terceiros que 
não participaram da relação negocial  Fraude contra Credores. Quanto à 
Simulação, devemos tomar cuidado. Embora muitos doutrinadores ainda 
afirmem ser um vício social, o atual Código Civil a coloca em outro capítulo 
(da invalidade do negócio jurídico: art. 167, CC), conforme veremos 
adiante. 
 Observação: em regra, o defeito deve ser alegado no prazo decadencial de 
quatro anos; se o prazo não for respeitado, o defeito não poderá ser mais 
alegado, sendo o ato convalidado por decurso de prazo. 
ERRO OU IGNORÂNCIA (arts. 138 a 144, CC) 
Este é o primeiro defeito relativo ao consentimento. O aluno que conseguir 
entender o seu alcance não sentirá dificuldade de entender todos os demais 
defeitos. Por isso muita atenção! 
Primeiramente: erro e ignorância são sinônimos? Não!! O Código Civil 
equipara o erro à ignorância quanto aos efeitos; ou seja, o Código não distingue 
um instituto do outro, mas afirma que as suas consequências são idênticas no 
campo do Direito. Assim, embora o Código não faça, a doutrina estabelece 
distinções entre eles (esta diferença já caiu em concursos). 
Erro é a falsa noção que se tem sobre um elemento que influencia a 
formação de vontade do declarante. Pode recair sobre as qualidades de uma coisa 
ou sobre uma pessoa. Ocorre quando o agente pratica o ato baseando-se em falso 
juízo ou engano. Pensei que era uma coisa... mas na realidade é outra. Já 
ignorância é o completo desconhecimento do declarante acerca do objeto ou 
da pessoa. Assim, às vezes usamos a expressão “erro”, mas queremos nos referir 
não só ao erro propriamente dito, como também à ignorância. 
Na verdade, o erro é um registro falso da realidade. Observem que no 
erro a pessoa se engana sozinha. Ninguém a induz a erro. Mas não é qualquer 
erro (ou ignorância) que torna o negócio anulável. Ele há de ser a causa 
determinante ou principal. Vejamos inicialmente um resumo sobre o tema. A 
seguir aprofundaremos o assunto. O erro (ou a ignorância) pode ser: 
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 Essencial ou Substancial  razão determinante para a realização do 
negócio  se a verdade fosse conhecida o negócio não seria realizado  
Ato Anulável. 
 Acidental ou Secundário  se a verdade fosse conhecida o negócio seria 
realizado, porém de forma menos onerosa  Ato válido. 
A) ERRO ESSENCIAL OU SUBSTANCIAL. Refere-se à natureza do próprio ato; 
recai sobre circunstâncias e aspectos principais, relevantes do negócio de forma 
que se eu soubesse do defeito jamais teria praticado o ato. O art. 138, CC 
estabelece que o erro, para dar ensejo à anulação do negócio jurídico, há de ser 
substancial, ou seja, essencial. 
Divisão doutrinária. Parte da doutrina entende que além da essencialidade 
do erro, deve haver a sua cognoscibilidade (qualidade do que é cognoscível; que 
pode ser conhecido ou percebido pela outra parte), baseado na chamada teoria 
da confiança, que tem tem por base a verificação da discrepância entre a vontade 
real do agente e a sua equivocada manifestação. Por isso, torna-se fundamental 
apreciar se o engano de um negociante poderia ter sido percebido pelo outro. A 
outra corrente doutrinária entende que na realidade o erro essencial deve ser 
escusável e real. Escusável porque ele é aceitável, desculpável dentro do que se 
espera de um homem médio, que atue com grau normal de diligência; tem por 
fundamento uma razão plausível, ou seja, qualquer pessoa com atenção ou 
diligência normal seria capaz de cometê-lo em face das circunstâncias. Ex.: é 
aceitável uma pessoa leiga confundir o diamante com zircônio. Mas não se admite 
esta confusão para um joalheiro, que tem conhecimento técnico para fazer a 
distinção (para ele seria um erro inescusável e, portanto, sem possibilidade de 
anular o ato). Real porque deve acarretar um prejuízo efetivo para o interessado. 
O Código Civil especificou as modalidades de erro substancial 
(hipóteses de anulação do negócio jurídico) no art. 139, CC. Vejamos: 
1. Erro sobre a natureza do negócio jurídico (error in ipso negotio)  o 
erro recai sobre a modalidade de contrato que foi celebrado. Pensei fazer um 
determinado contrato... mas fiz outro. Ex.: empresto um determinado bem para 
uma pessoa, mas ela entende que houve uma doação. Observem que não houve 
um acordo de vontades: uma das partes pensa que está realizando um contrato 
(empréstimo) e o consentimento do outro se dirige a outro contrato (doação). 
Outros exemplos: quero vender uma coisa, mas acabo doando; quero alugar um 
apartamento (o aluguel é oneroso), mas acabo fazendo um comodato (que é um 
empréstimo gratuito), etc. Esta situação é muito difícil de ocorrer na prática. No 
entanto pode muito bem cair em concursos... como já caiu. 
2. Erro sobre o objeto principal da declaração (error in ipso corpore)  
a manifestação de vontade recai sobre objeto diferente do que se tinha em 
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mente. Ex.: comprei um lote em um condomínio que pensava ser muito 
valorizado, no entanto trata-se de outro condomínio, que tem o mesmo nome, 
mas está situado em local diverso, muito distante de onde eu queria. Notem, mais 
uma vez, que ninguém me enganou. Eu errei sozinho (quando alguém me engana 
trata-se de outro defeito, o dolo, que veremos adiante). O erro, neste caso, atingiu 
a substância do ato; portanto o ato é anulável. No entanto, o art. 144, CC dispõe 
que o erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem 
a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade 
da vontade real do manifestante. Aproveitando o exemplo acima: comprei o lote 
no condomínio errado (erro substancial); no entanto o vendedor, entendendo a 
situação, acaba entregando o lote no condomínio onde eu queria inicialmente. Ora, 
o negócio acabou sendo executado conforme minha vontade inicial. Assim, não 
havendo qualquer prejuízo, não se anula o negócio. 
3. Erro sobre as qualidades essenciais do objeto principal (error in 
substantia ou in qualitate)  a pessoa adquire o objeto que imaginava; porém 
engana-se quanto as suas qualidades; o motivo determinante do contrato é a 
qualidade essencial de um objeto que depois se constata que não existe. Ex.: 
compro um relógio pensando que ele é de ouro, mas o mesmo é apenas 
“folheado”; compro uma blusa pensando que é de lã animal, mas na verdade é 
sintética (e a pessoa é alérgica e este tipo de tecido); compro um cavalo de carga 
pensando ele era um legítimo “puro-sangue” de corridas, etc. Observem que 
nestes exemplos eu também errei sozinho. 
4. Erro quanto à identidade ou à qualidade da pessoa a quem se 
refere a declaração de vontade (error in persona)  incide sobre a identidade 
(física ou moral) ou características da pessoa. Geralmente recaem nos contratos 
personalíssimos (intuitu personae). O negócio pode ser anulado, desde que a 
consideração pessoal seja condição essencial para a realização do negócio. 
Exemplo clássico: estou sendo processado por homicídio e contratei um Advogado 
certo de que ele é um famoso criminalista, excelente orador e especializado em 
fazer júri. No entanto constato que ele é um Advogado trabalhista. Notem que no 
caso de um contrato em que a prestação pode ser cumprida por qualquer pessoa 
(ex.: pintar um muro), mesmo que o contratante tenha se enganado na 
designação da pessoa, tal fato não será suficiente para a anulação do negócio. O 
erro quanto à pessoa também pode ser relativo ao: 
a) Casamento (pode ser anulado por “vício essencial sobre pessoa”): 
 Erro quanto identidade do outro cônjuge, sobre a sua honra, boa fama, etc. 
(ex.: casar-se com pessoa e descobrir depois se tratar de criminoso 
procurado, viciado em tóxicos, etc.). 
 Ignorância de defeito físico irremediável ou moléstia grave, transmissível. 
 
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b) Testamento 
 Deixo uma joia para X, que salvou minha vida. Descubro, posteriormente, 
que foi Z e não X quem salvou minha vida. Se eu soubesse que foi Z quem 
me salvou, eu não teria doado aquela joia a X. Eu queria doar a joia a quem 
realmente salvou minha vida, ou seja, Z. Neste exemplo o defeito é chamado 
de “erro quanto ao fim colimado ou por falsa causa”. O art. 140, CC 
determina que o falso motivo (ou falsa causa) somente vicia a declaração 
de vontade, quando for expressamente declarado como razão determinante 
da realização do negócio. Ou seja, o motivo somente tem relevância jurídica 
se for instituído expressamente no contrato, como razão para celebração 
deste. Outro exemplo: um homem já idoso recebe a notícia de que teve um 
filho quando era mais moço, mas na ocasião a mãe não lhe informou do fato. 
O idoso, tentando ajudar esta pessoa lhe doa uma casa, mas estabelece o 
motivo: somente assim está procedendo porque esta pessoa seria seu filho. 
Desta forma, caso comprovado posteriormente que a pessoa não era seu 
filho, a doação pode ser anulada, pois havia um falso motivo que foi expresso 
como razão determinante do negócio, viciando, assim, a vontade. 
 Lembrando “Ninguém pode se escusar de cumprir a lei alegando que não 
a conhece”. Trata-se do Princípio da Obrigatoriedade (art. 3°, LINDB), que visa 
garantir a estabilidade e a eficácia do sistema jurídico, que ficaria comprometido 
se fosse admitida em toda e qualquer hipótese a alegação de ignorância de lei em 
vigor. 
Reforçando: somente o erro substancial, essencial, escusável, real, anula 
o negócio jurídico. O erro deve ser de tal forma que, caso a verdade fosse 
conhecida, o ato não seria realizado, importando efetivo prejuízo ao 
interessado. Mas o contratante que se achou em erro e promove a invalidade do 
contrato pode ser condenado a ressarcir eventuais prejuízos que causar à outra 
parte por não ter procedido com a diligência necessária ao prestar o seu 
consentimento. Somente a parte interessada (a que errou) pode arguir a anulação 
do ato. 
B) ERRO ACIDENTAL  é aquele concernente às qualidades secundárias ou 
acessórias da pessoa ou do objeto. Ocorrendo esta espécie de erro, o negócio 
jurídico não será anulado. O ato continua válido, produzindo efeitos, porque o 
defeito não incide sobre a declaração de vontade. Ele decorre do não-emprego da 
diligência ordinária que deve ter um “homem médio”. Mesmo sabendo do defeito, 
a pessoa teria realizado aquele negócio. Ex.: comprar um carro de ano de 
fabricação muito diferente é um erro essencial; porém comprar um carro de 
número de série diferente é apenas um erro acidental. Da mesma forma, comprar 
um carro usado com uma cor um pouco diferente (preto ou azul escuro) também 
é acidental, não anulando o negócio. Outros exemplos: compro uma casa 
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pensando que tem quatro janelas, mas só tem três; doei um relógio a uma pessoa 
pensando que ela é solteira, mas é casada, etc. 
O chamado erro de cálculo (que é a inexatidão material) também não é 
causa de anulação do negócio, mas de simples retificação da declaração de 
vontade, nos termos do art. 143, CC. Pode incidir sobre o peso, a medida, a 
quantidade, o valor do bem, etc. É uma espécie de erro acidental, não incidindo 
sobre a declaração de vontade e não viciando o consentimento. Ex.: comprei 12 
camisas, sendo que o valor de cada uma delas é de R$ 45,00; logo deveria pagar 
R$ 540,00, mas acabei pagando somente R$ 450,00. É evidente que houve um 
erro na elaboração aritmética dos dados do negócio, pois as partes sabiam do 
valor do negócio, errando apenas no momento da realização do cálculo final. 
 Erro de Fato X Erro de Direito 
O erro de fato é aquele que recai sobre uma circunstância de fato, uma 
situação concreta. Pode ser essencial ou acidental. Crê-se numa realidade que não 
é verdadeira. Tudo o que falamos acima se refere a ele. 
Já o erro de direito diz respeito à existência (ou não) de norma jurídica. 
Consiste na ignorância da lei, no falso conhecimento e também na sua 
interpretação errônea. Em regra, o erro de direito não admite escusa, não 
podendo ser alegado. No entanto ele é admitido de forma excepcional (e, por 
consequência, o negócio jurídico pode ser anulado), se o ato não implicar em 
recusa à aplicação da lei e for o motivo único ou principal do negócio jurídico (art. 
139,III, CC). Isto é, não pode o ato recair sobre a norma cogente (impositiva, de 
ordem pública), mas sim sobre normas dispositivas (sujeitas ao livre acordo das 
partes). Além disso, deve ser grave a ponto de afetar e viciar a manifestação de 
vontade do agente. Na realidade esse dispositivo foi uma novidade do atual CC, 
permitindo uma “brecha” para anulação de um contrato. 
 Art. 3° LINDB X Art. 139, III, CC 
É importante saber diferenciar esses dois dispositivos. O art. 3°, LINDB 
estabelece que: “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a 
conhece”. Ou seja, uma pessoa não pode alegar o desconhecimento da lei para 
fazer valer o seu pretenso “direito”. Já o art. 139, III, CC refere-se a uma ideia 
equivocada sobre as consequências jurídicas da norma, viciando um contrato. 
Exemplo clássico: eu contrato com uma pessoa a importação de determinada 
mercadoria. Após a celebração do contrato descubro que nosso País proíbe a 
importação dessa mercadoria (ex.: sementes transgênicas). Assim, eu não posso 
alegar o desconhecimento da norma para justificar a validade do contrato e 
possibilitar a entrada em nosso território das sementes (o art. 3°, da LINDB proíbe 
essa conduta). O que eu posso fazer é a alegar o desconhecimento da norma 
proibitiva para anular o contrato (art. 139, II, CC). Observem: como a ignorância 
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da lei foi a causa determinante do ato, pode ser alegada para anular o contrato, 
sem que se pretenda descumprir a lei. 
 Erro X Vício Redibitório 
Essa é uma distinção muito importante, pois já vi cair em diversos 
concursos. E pode confundir o candidato. O vício redibitório é o defeito oculto na 
coisa, que a torne imprópria para o uso a que se destina ou lhe diminua o valor. 
No vício redibitório não há qualquer erro no momento da celebração do negócio; 
o que há é um defeito no objeto (e não na vontade do adquirente), que não foi 
notado, já que era oculto. Já no erro há um engano por parte do adquirente; é um 
vício de ordem subjetiva, pois foi a vontade que foi viciada pela falsa percepção 
da realidade, não havendo vício no objeto. 
Nosso Código prevê outras duas espécies de erro. Vejamos. 
– Erro acidental in qualitate (art. 142, CC): “O erro de indicação da pessoa 
ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio 
quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou 
pessoa cogitada”. Como diz respeito às qualidades secundárias ou acessórias da 
pessoa (ex.: se é casada ou solteira) ou do objeto (ex.: comprei o lote 321, mas 
recebi o 213 por erro de digitação), não induz a anulação do negócio. 
– Erro na transmissão de vontade por meios interpostos (art. 141, CC): 
o negócio é anulável quando na transmissão da vontade do declarante verifica-se 
falha que a faz chegar ao seu destinatário com conteúdo diverso daquele emitido; 
é o erro por defeito de intermediação que altera a vontade declarada, como se 
tratasse de uma declaração direta. Ex.: uma pessoa utiliza rádio ou televisão para 
transmitir uma declaração de vontade, mas o veículo utilizado, devido a 
interrupção ou deturpação sonora, faz com que a divulgação saia com incorreções, 
acarretando uma desconformidade entre a vontade interna e a sua declaração ou 
manifestação. Somente anula o negócio se a alteração for substancial (art. 138, 
CC), ou seja, prejudicar o real sentido da declaração expedida. Caso contrário, 
será insignificante e o negócio será válido. 
DOLO (arts. 145 a 150, CC) 
Dolo é o artifício malicioso empregado por uma das partes ou por terceiro, 
com o propósito de enganar a outra parte do negócio, causando-lhe prejuízo e 
beneficiando o autor do dolo ou o terceiro. Para a sua caracterização exige-se a 
vontade de enganar alguém (a doutrina chama isso de animus decipiendi). 
O dolo inicialmente pode ser classificado em: 
 Dolus Bonus (dolo bom): é um comportamento tolerado nos negócios em 
geral. Consiste em reticências, realce e exageros nas boas qualidades da 
mercadoria ou dissimulações de defeitos. É o artifício que não tem a finalidade de 
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prejudicar ninguém... as pessoas não se sentem enganadas. Por tal motivo ele 
não é anulável, desde que não venha a enganar o consumidor, mediante 
propaganda abusiva. Aliás, o Código de Defesa do Consumidor proíbe a 
propaganda enganosa, apta a induzir o consumidor em erro. 
 Dolus Malus (dolo mau): consiste em manobras astuciosas (atos, 
palavras ou até o próprio silêncio) para enganar alguém e lhe causar prejuízo. 
Vicia o consentimento e por isso é anulável (na hipótese de ser essencial) ou 
obriga a satisfação de perdas e danos (na hipótese de ser acidental, como veremos 
adiante). O dolo mau pressupõe: a) prejuízo para o autor do ato; b) benefício 
para o autor do dolo ou terceiro; c) pode ser praticado pelo silêncio. 
 Observação. Não há critérios absolutos para se distinguir na prática o dolus 
bonus do dolus malus. É o Juiz quem vai decidir, analisando as peculiaridades de 
cada caso concreto. Exemplo disso é a “mensagem subliminar” (atua 
inconscientemente em face do consumidor, induzindo-o a determinado 
comportamento) que pode se caracterizar em comportamento doloso e prática 
comercial abusiva. 
O dolus malus se divide em: 
 Dolo Principal, essencial ou substancial (dolus causam): art. 145, CC 
 é aquele que dá causa ao negócio jurídico, sem o qual ele não se teria concluído, 
acarretando, então, a anulabilidade do negócio jurídico. Se não houvesse o 
induzimento, a pessoa não faria o negócio. Para que seja possível a anulação é 
necessário que: a) haja a intenção de induzir a outra parte a praticar um negócio 
lesivo; b) os artifícios maliciosos sejam graves, por indicar fatos falsos, suprimir 
ou alterar os verdadeiros ou por silenciar algum fato que se devesse relatar ao 
outro contratante; c) seja a causa determinante na declaração de vontade; d) 
haja uma relação de causa e efeito entre a indução do erro e a prática do negócio; 
e) se o dolo foi proveniente de terceiro, que seja do conhecimento do outro 
contratante. 
 Dolo Acidental (dolus incidens) art. 146, CC  leva a vítima a realizar o 
negócio jurídico, porém em condições mais onerosas (ou menos vantajosas), não 
afetando sua declaração de vontade (embora venha a provocar desvios). Não se 
constitui vício de consentimento porque não influi diretamente na realização do 
negócio. O negócio teria sido praticado de qualquer forma, independentemente 
das manobras astuciosas, embora de outra maneira, em condições menos 
onerosas à vítima. O dolo acidental leva a distorções comportamentais que podem 
alterar o resultado final do negócio, no entanto não anula o negócio, apenas 
obriga a satisfação de perdas e danos ou a uma redução da prestação 
pactuada. 
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 Dolo Essencial  dá causa ao negócio jurídico, sem o qual ele não teria sido 
concluído  Ato Anulável. 
 Dolo Acidental  realiza o negócio jurídico em condições mais onerosas  
não afeta a declaração de vontade  Ato válido, mas enseja indenização por 
perdas e danos. 
O dolo ainda pode ser classificado em: 
 Positivo (ou comissivo): resulta de uma ação dolosa; são os artifícios

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