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AULA 2 Princípios e elementos do Estado moderno

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Princípios e Elementos do Estado
Soberania Estatal, Estado-Nação e a Tarefa de Governar
Arnaldo Provasi Lanzara
(UFF)
*
O Estado Absolutista
Contexto de mudança no sistema de Estados – séculos XVII e XVIII
Processo de conformação dos Estados nacionais: fortalecimento do governo territorial; absorção de territórios menores e mais fracos por outros maiores e mais fortes.
Os Estados se estruturam de forma mutuamente independente, definindo-se como soberanos e travando com os demais uma luta inerentemente indefinida, competitiva e repleta de riscos pelo poder.
*
Afirmação da “capacidade do Estado”. Capacidade de que?
Capacidade para firmar sua soberania e ordem política interna, tornando o governo mais unitário, contínuo, calculável e eficaz.
Estruturação de um centro político e administrativo interno a um determinado território, capaz de monopolizar a tarefa de governo, impondo-se aos demais centros subordinados no mesmo território.
Grandes centros políticos e administrativos (séculos XVII e XVIII): Londres, Paris, Madrid.
*
Impulso do governante no sentido da obtenção de uma autoridade mais efetiva e exclusiva.
Emergência da tarefa de governar. Em que consiste tal tarefa? 
IMPORTANTE: Em iniciar uma ação política coletiva, em participar na determinacão de uma política pública e fiscalizar a sua execução, em atender às necessidades da sociedade em geral e modelar o seu futuro.
 Governo: previsibilidade e planejamento.
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Contexto social e econômico
Intensificação das atividades comerciais e financeiras decorrentes da dinâmica interna dos sistemas produtivos e da expansão ultramarina. 
Emergência das “economias políticas nacionais”.
A mercantilização da economia favoreceu sobremaneira a centralização política e administrativa e vice-versa. Absolutismo e capitalismo orientado pelo Estado ou “capitalismo politicamente orientado”.
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O Declínio do Ständestaat
A tônica do momento era vencer as resistências internas ao poder exercido diretamente pelo soberano.
Domesticar a nobreza, especialmente a de extração agrária, e subordiná-la aos ditames do monarca.
Consolidação dos grupos urbanos vinculados ao comércio e as corporações: fazer representar sua autonomia e ao mesmo tempo construir as bases para a manutençao da ordem interna; segurança das atividades mercantis.
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O governante pode assegurar a construção e manutenção de estruturas cada vez mais amplas e uniformes, em escala territorial, para a regulamentação e apoio das atividades econômicas urbanas de um modo que nenhum outro orgão poderia fazer.
Centralização dos recursos para a manutenção da ordem interna e para proteger os interesses dos grupos comerciais urbanos mais ricos na expansão dos mercados externos.
As cidades foram aos poucos delegando seu poder de representação para uma autoridade centralmente constituída e dotada de maior capacidade logística e militar.
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As cortes judiciais locais foram cedendo espaço para estruturas jurídicas centralmente instituídas.
Inovação institucional: a ideia de que o governante, por um ato de sua vontade soberana, podia produzir novas leis e fazê-las respeitar através do seu próprio sistema cada vez mais preponderante e eficaz de tribunais.
As leis passaram a ser uniformemente aplicadas em todo o território, tornando as regulações que partiam das corporações locais obsoletas.
Um direito público. Através das suas regulações, o governante dirigia-se de um modo cada vez mais claro e convincente a toda a população do território.
Lei e “vontade soberana”: assimilação do direito romano por uma variedade de monarquias nacionais.
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O governo das cidades: dos envolvimentos políticos aos interesses econômicos
A delegação de poderes para o soberano territorial tornou o cidadão menos preocupado com as questões políticas e mais “ocupado” com as atividades comerciais.
Para os cidadãos mais abastados, a política interna das cidades afigurava-se como algo digno de ser desprezado – pelo menos enquanto a lei e a ordem fossem mantidas pelo soberano inconteste.
Os direitos urbanos, típicos das corporacões medievais, foram aos poucos perdendo seu sentido coletivo, cedendo espaço para as intitulações e outorgas individuais: o “burguês endinheirado” que se “aristocratiza”
Mercantilismo e aprimoramento dos instrumentos de regulação econômica pelo soberano. O capital torna-se um importante aliado do poder absoluto.
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O enfraquecimento da aristocracia agrária
A comercialização da economia também afetou o poder do elemento feudal, dos potentados rurais.
Enfraquecimento dos grupos agrários face ao poder do monarca e da burguesia ascendente. Fatores econômicos (comercialização da agricultura), políticos (perda do prestígio militar) e culturais (o estilo de vida aristocrático versus o modo de vida burguês).
Diminuição do prestígio do poder local e absorção da aristocracia pela corte, subordinada diretamente ao monarca; o papel destacado da magistratura na absorção do elemento aristocrático. 
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Absolutismo ou Absolutismos: algumas tendências nacionais
França (séculos XVII e XVII)
Monarquia nacional fortemente centralizada num sentido político e administrativo: o monarca dotado de amplas prerrogativas e sua corte.
Identificação da pessoa do governante com o mundo “público”.
A corte francesa exibia a opulência e o poder inconteste do monarca; era a extensão natural do seu poder.
A pequena nobreza territorial foi absorvida diretamente pelo Estado para desempenhar tarefas administrativas: emergência de um corpo de funcionários que se encarregavam de irradiar o comando do centro político e administrativo para os departamentos e províncias.
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Prússia (século XVIII)
O monarca e a emergência de um “sistema administrativo”: estruturação de um complexo de orgão públicos, empenhados em atividades administrativas que eram mais contínuas, sistemáticas, penetrantes e visíveis quando comparadas com o caso francês.O direito público se materializa nesse corpo visível de instituições estatais.
Uma precoce separação entre o domínio do monarca e as competências do corpo administrativo: profissionalização da burocracia.
O Estado transcendia a pessoa do soberano, através da despersonalização e da objetivação do seu poder. O direito público modelou o Estado como uma entidade artificial, organizacional, funcionando através de indivíduos (funcionários) que deveriam demonstrar sua lealdade aos interesses do Estado
*
O Surgimento da Sociedade Civil
Fenômeno de desintegração do poder das antigas corporações em decorrência do aumento do poder absoluto do Estado .
As instituições do Estado se tornaram mais públicas (visíveis) e condensadas pelas regulações que partiam diretamente do monarca e do seu corpo administrativo. 
O Estado afastara-se da sociedade mais vasta, instalando-se num nível mais elevado e próprio, onde pessoal e funções, especificamente políticos, estavam concentrados.
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O Estado passa então a regular e estruturar a sociedade.
Vista sob a ótica do poder do Estado, a sociedade afigurava-se como uma multidão de particulares, de indivíduos privados.
O Estado dirigia-lhes em sua capacidade de súditos, contribuintes, recrutas, etc; mas não os considerava qualificados para tomar parte ativa das tarefas públicas.
Corolário: a sociedade civil passa a ser vista como um objeto do Estado.
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Imperfeição dos controles soberanos exercidos pelo Estado
Contradições típicas da soberania como um ato da “vontade do soberano”. o “Paradoxo de Rousseau” (Wanderley Guilherme dos Santos)
O que cada cidadão deseja como soberano (o governo de que é elemento constitutivo) - a saber , impostos com que financiar a produção de bens públicos, redistribuição de renda com o objetivo de minimizar as desigualdades, etc. – esse mesmo cidadão repudia como súdito, pois, nesta capacidade, deseja pagar o mínimo de impostos, desaprovaegoisticamente ver sua renda ser diminuída em benefício de quem quer que seja, etc.
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O paradoxo e o papel do Estado. “Ironias do Estado” (Helmut Willke): Exercer sua autoridade sobre os interesses particulares e ao mesmo tempo promover tais interesses, principalmente os interesses econômicos.
Como isso se processou no campo econômico? Duas estratégias mutuamente benéficas para o Estado absolutista e para os interesses (comerciais) dos particulares: 
manter a população ocupada, pacífica e despreocupada com as questões políticas;
 gerar riqueza tributável, necessária ao sustento das tarefas de governo.
Como conciliar as exigências do governo com as exigências da sociedade civil?
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O desafio político da sociedade civil
O advento do Estado nacional e a reconfiguração das identidades sociais: a burguesia não se reconhece mais como um estado e sim como classe.
Sistema absolutista: concentração distinta, “pública” e soberana de prerrogativas de governo; constituía um meio adequado para a transformação de uma parte da burguesia – a parte mais abastada – numa classe.
Regulações do Estado absolutista: proteção a determinados monopólios e restrições à competição; interferências no funcionamento do mercado.
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De aliada do Estado absolutista, a burguesia passa a questionar o papel regulador do Estado, em defesa da suposta “autonomia” do mercado.
Mas essa autonomia reivindicada pela classe burguesa ascendente era dirigida menos contra o sistema absolutista do que a favor dele.
Repertório variado de demandas e protestos que caracterizava a burguesia durante as fases finais do absolutismo. De um lado pocisionava-se a burguesia agrária, mercantil e a incipiente burguesia industrial, de outro, os estratos burgueses médios ascendentes: profissionais liberais, literatos , intelectuais e membros das corporações remanescentes (artesãos). 
Papel revolucionário da mídia impressa em difundir as novidades relacionadas à classe burguesa ascendente.
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Constituição de uma “opnião pública” nacional e translocal; emergência de um público não identificado com o Estado.
Um público para opinar sobre qualquer assunto e qualificado para criticar o funcionamento do próprio Estado.
Uma “esfera pública” construída de cima para baixo – mediante a autoridade política e administrativa do Estado – perpassada por um “domínio público” formado por membros da sociedade civil que transcendiam seus interesses e preocupações particulares: “uma opnião esclarecida”.
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Dissidências e ameaças potenciais ao poder soberano do Estado
Qualquer tentativa de institucionalizar a crítica e a controvérsia, e de atribuir a ambas um papel na fixação do rumo das ações do Estado, representava para o sistema absolutista um desafio mais direto do que a exigência de uma “classe” de que se respeitasse a capacidade de “autorregulação” do mercado.
Função do “debate público”: acirrar os ânimos de certos setores da sociedade civil, especialmente dos círculos sociais mais radicalizados.
O ataque burguês aos privilégios, aos direitos particulares adquiridos e associados a grupos específicos. 
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O triunfo da burguesia
Adesão da opinião burguesa ao iluminismo secular – com seu agressivo racionalismo, seu antitradicionalismo e sua ênfase na emancipação. Pretensão universalista dos valores da burguesia.
Cada vez mais o pessoal do Estado passou a ser recrutado no seio da própria pequena e média burguesia.
Consolidar um “novo público” mais coincidente com os interesses prevalecentes na sociedade civil.
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A legitimação desse “novo público” se daria em decorrência da representação de opiniões preponderantes na sociedade civil, a qual, mais tarde, se converteria no eleitorado das democracias representativas modernas.
Burguesia como força dominante na sociedade civil: legitimar seus instrumentos de representação.
As leis daí promulgadas deveriam salvaguardar a suposta “autonomia” do mercado e a sua capacidade de “autorregulação”. Caráter abstrato e universal das normas: as leis protegeriam as vantagens de mercado da classe detentora de capital, mas sem a destacar como politicamente privilegiada.
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Advento de um projeto constitucional do Estado que refletisse as reivindicacões e aspirações da burguesia reconhecida como “público”.
Desdobramentos históricos: 
importância das ideias de nacionalidade e soberania nacional; 
 a extensão em que o proletariado nascente, apesar de seu antagonismo inerente com a classe burguesa, se viu lutando em nome e a favor do plano político burguês.
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Crise do antigo regime (absolutista) e rupturas revolucionárias; elementos de mudança e de continuidade. Alexis de Tocqueville: O Antigo Regime e a Revolução.
Ponto Importante: A burguesia, ao apresentar e realizar seu programa político, tinha de se proteger contra as implicações democrático-populares potenciais de ideias tais como a soberania do povo ou a igualdade dos cidadãos.
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O Estado Constitucional do Século XIX
Legalidade do Estado Moderno e seu embasamento nas noções de justiça e legitimidade das reivindicações de indivíduos e coletividades.
Caráter abstrato do sistema jurídico do absolutismo fundamentado no direito romano, cuja validade promanava exclusivamente da vontade do soberano.
Final do século XVIII e início do século XIX: novo corpus de pensamento jurídico baseado no direito constitucional e administrativo. Juridicismo liberal e excessiva sitematização da norma.
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Soberania e Sistema de Estados
Características do sistema de Estados:
Todo e qualquer Estado existe, em primeiro lugar, na presença de outros Estados como ele e em competição com ele.
O sistema de Estados modernos é composto de unidades soberanas, coordenadas e justapostas.
Princípio da soberania e da autodeterminação interna.
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Paz de Vestfália (1648): consagração do moderno sistema de Estados; novo sistema caracterizado pela coexistência de uma multiplicidade de Estados, cada um soberano dentro do seu próprio território.
Direito internacional e equilíbrio de poderes: direito que vigora entre os Estados e não acima deles.
Extensão desse sistema para além das fronteiras da Europa.
Noção abstrata e essencialmente fictícia de “concerto das nações”: suposto de que os Estados eram iguais em razão de sua soberania interna.
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Dinamismo do sistema de Estados: tensão entre as noções de soberania e razão de Estado (que articulavam e legitimavam o compromisso de cada Estado com o seu próprio engrandecimento) e a presença contínua e inevitável de outros Estados que limitavam essa “vontade de soberania”.
Soberania e território: os limites de soberania de um Estado eram os limites de sua capacidade para fazer valer determinada pretensão; “A força faz o direito”. Conjugação entre a ideia de nacionalidade e territorialidade.
A partir do século XIX, os Estados passaram a viver num mundo caracterizado por crescente instabilidade e risco.
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Unidade do Estado
Soberania unitária e interna – principal característica do Estado constitucional do século XIX.
Monopólio definitivo das atividades de governo.
Os Estados modernos são intrinsecamente monísticos e representam, nesse aspecto, um retorno à tradição romana , segundo a qual o poder do princeps derivava da vontade do populus.
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Propriedades da Unidade Estatal
O Estado passa a estar delimitado por uma fronteira geográfica que é militarmente defensável.
Existência de uma moeda e de um sistema fiscal unificado.
A emergência de uma “língua oficial” (que frequentemente se sobrepõe culturalmente a outras línguas e dialetos).
Uma tradição literária nacional.
Um sistema unificado de regras jurídicas e administrativas.
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Ironias do Estado Unitário
Resistências e contradições ao impulso centralizador do século XIX: tendências centrífugas e autonomistas.
Tensões entre os poder central e local no que se refere à execuçãoda administração e da justiça; conflitos governamentais verticais e horizontais.
Mais importante ainda eram as tensões que promanavam do própria sociedade civil; tensões que revelavam os limites da capacidade de regulação do Estado. Um Estado que se arroga ser a fonte de todas as relações de poder atua, de fato, como fiador de relações de poder que não se originam nele e que ele não controla.
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A “Modernidade” do Estado
A imagem de “construção do Estado”: um artifício projetado como invenção institucional.
O Estado pressupõe e complementa uma múltipla realidade social (abrangendo uma multiplicidade de interesses societais). Contudo, ergue-se como instituição que reivindica certa autonomia frente a esses interesses.
O Estado moderno dirige-se aos indivíduos em sua capacidade diferenciada e abstrata como cidadãos; acento universalista do Estado; tratamento uniforme no que diz respeito à lei, ao território e à cidadania.
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Natureza dos cargos públicos sob o Estado constitucional do século XIX: critérios universalistas e meritocráticos; natureza pública, impessoal e não patrimonial da burocracia.
O Estado como algo mais do que um mero artifício, mas, tal como dizia Weber, como uma “comunidade de vida e morte”; o Estado desperta emoções e sentimentos que são impassíveis de serem racionalmente explicados. 
O caráter comunitário do Estado: o advento do Estado-nação e a ideia de uma “comunidade nacional”.
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O Estado-nação
O Estado nacional e a ideia de uma “comunidade imaginada” (Benedict Anderson); uma comunidade politicamente construída.
Tal imaginação deu alento para se pensar o Estado e a comunidade dos seus cidadãos como uma única e mesma entidade.
O Estado-nação moderno assim se estrutura para manter o controle e a ordem sobre a complexa diversidade social, procurando dissipar as diferenças entre as comunidades sobre as quais se impunha para estabelecer uma ordem homogênea: uma mesma língua, um mesmo sistema educacional, jurídico, político, os mesmos símbolos de afirmação identitária, etc.
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A constituição de uma nova comunidade cultural (a nação identificada com o Estado implica o estabelecimento de relações de dominação, pois o espaço comum consiste na imposição do grupo hegemônico através do monopólio da violência).
Os cidadãos passam a se integrar num mesmo projeto político, unidos por uma vontade comum.
A nação se confunde com o Estado, pois o poder deste reside em todo povo.
Ascensão dos nacionalismos; para o bem e para o mal.
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A Legitimidade Jurídico-Racional
Como sistema de governo, o Estado defronta-se com o problema da legitimidade.
Tipologia clássica de Weber sobre as formas de legitimação: tradicional, carismática e racional-legal, sendo esta última a mais consentânea aos ditames do Estado moderno.
A legitimidade jurídico-racional emana da autoridade quando está em conformidade com as normas gerais válidas; a validade da norma é conferida por regras processuais exaradas na Constituição do Estado.
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Corolários: despersonalização do exercício do poder; refrear os impulsos arbitrários promanados de quem concentra o exercício do poder político.
O império da lei: transformar os direitos pessoais em direitos das pessoas.
Estreitamento da relação entre Estado e direito: um “Estado de Direito”; positividade da norma jurídica que é respaldada pelo próprio Estado. 
Emergência de um direito público e de um direito privado e nítida separação entre as duas esferas – o público e o privado.
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Garantias Constitucionais
Inspiração predominantemente liberal e antiautoritária do Estado constitucional do século XIX.
Obediência irrestrita aos princípios constitucionais.
Os cidadãos são dotados de direitos na esfera pública e na esfera privada.
Jürgen Habermas: preservar a pluralidade de opiniões presentes na esfera pública (liberdades de expressão e associação); direitos que compõem o status do indivíduo como pessoa livre; direitos referentes às transações de detentores de propriedade privada na esfera da sociedade civil.
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Obrigar legalmente o Estado a respeitar suas próprias leis: função da Constituição.
Questão da legalidade ou da legitimidade do Estado tal como definida por Weber.
Legalidade: observância das normas processuais estabelecidas para a formação e execução das decisões do Estado; procedimentalismo jurídico-racional; formalismo.
Legitimidade: questão do consentimento e da validade da norma segundo um critério objetivo que a qualifique; um direito comunicado que se assenta em decisões vinculantes.
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O Processo Político do Estado Constitucional
Conteúdo e a direção dos poderes de governo monopolizados pelo Estado.
A “civilidade” que o Estado instaura ao fortalecer o seu monopólio da coerção legítima.
Competição pacífica e regulamentada: institucionalização de uma oposição à liderança política vigente ou à orientação política do governo.
Emergência dos “direitos públicos” e a possibilidade de uma dissensão organizada.
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Essa “civilidade”, contudo, mascara formas mais tênues de coerção sistemática; em particular quando a dissidência política ou a resistência à exploração de camadas subalternas da população parecem ameaçar a distribuição interna do poder político e econômico.
Diferenciação do processo político: embora unitariamente constituído, o Estado constitucional é caracterizado por uma miríade de associações que reivindicam participação no processo político.
Centralidade das instituições representativas: o Parlamento se torna o mediador entre a variedade de opiniões individualmente sustentadas e a necessidade de filtrá-las para o encaminhamento do processo decisório.
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 Desafios colocados ao Estado Constitucional Liberal
Questões constitucionais: delimitação dos poderes, inclusive do próprio Estado.
Questões de política externa: a tese mistificadora do “doce comércio” e a corrida imperialista do final do século XIX.
Questões de administração econômica: o Estado deve garantir o bom funcionamento do mercado, interferindo o mínimo possível nas condições de reprodução do processo acumulativo.
Questão Social: o pauperismo, a agitação social e o protesto operário; constatações que denunciavam o caráter puramente abstrato da legalidade do Estado constitucional liberal e sua estrita afinidade com a sociedade civil burguesa da época.
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