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Direito Penal Princípios Penais

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CARREIRA JURÍDICA 2014 
Direito Penal 
Fábio Roque 
1 
CULPABILIDADE 
 
TEORIAS. EVOLUÇÃO HISTÓRICA. 
IMPUTABILIDADE. EXIGIBILIDADE DE 
CONDUTA DIVERSA. 
 
ANOTAÇÕES DE AULA 
 
1. Culpabilidade. 
 
Para uma boa parcela da doutrina brasileira a 
culpabilidade não é elemento do crime (teoria 
bipartida), tendo o crime apenas como fato 
típico e ilicitude. 
A primeira noção de culpabilidade que se tem é 
da teoria psicológica. Para esta teoria, 
defendida por Franz Von Liszt e Beling, a 
culpabilidade seria constituída pelo elemento 
psicológico – dolo ou culpa. Para esta teoria a 
imputabilidade não é elemento da 
culpabilidade. A imputabilidade é considerada 
para estes como um pressuposto da para 
análise da culpabilidade e não elemento 
constitutivo dela. 
A teoria psicológico-normativa, defendida entre 
outros por Edmund Mezger, Bertold 
Freudenthal, Goldschimitd e Frank. Para esta 
teoria, a culpabilidade seria constituída pelos 
elementos psicológicos/subjetivos (dolo e 
culpa), além dos elementos normativos: 
imputabilidade e exigibilidade de conduta 
diversa. 
Para esta segunda teoria a consciência da 
ilicitude estava embutida no dolo. Atualmente, 
o dolo é o binômio consciência e vontade, 
sendo que a consciência não é da ilicitude, 
mas sim a consciência de saber o que se está 
fazendo. 
Adota-se atualmente a teoria normativa ou 
teoria normativa pura que tem como grande 
defensor Hans Welzel, criador do finalismo. 
Toda conduta humana é destinada a um fim e, 
portanto, toda conduta humana é dolosa ou 
culposa, necessariamente. 
Welzel retirou o dolo e a culpa da culpabilidade 
e os colocou na conduta humana, elemento do 
fato típico. Ao fazer isso, Welzel retira a 
consciência da ilicitude do dolo, para entender 
que culpabilidade é imputabilidade, 
exigibilidade de conduta diversa e a potencial 
consciência da ilicitude. 
Este é o atual estágio da culpabilidade – 
culpabilidade normativa. Dolo e culpa fazem 
parte da conduta humana penalmente 
relevante, ao passo que a culpabilidade é 
constituída de elementos normativos. 
 
CULPABILIDADE 
Teoria 
psicológica 
Teoria 
psicológico-
normativa 
Teoria 
normativa ou 
normativa pura 
Franz Von 
Liszt/Beling 
Mezger Welzel 
Dolo/culpa Dolo/culpa 
Imputabilidade 
Exigibilidade de 
conduta diversa 
Imputabilidade 
Exigibilidade de 
conduta diversa 
Potencial 
consciência da 
ilicitude 
 
2. Conceito atual de culpabilidade 
 
A culpabilidade é um juízo de reprovação 
pessoal que recai sobre o autor do fato típico e 
ilícito, que podendo se comportar conforme ao 
direito, opta livremente por comportar de forma 
contrária a ele. 
 
 
 
 
 
 
 
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2.1. Juízo de reprovação pessoal 
 
Culpabilidade é reprovabilidade. Dizer que há 
culpabilidade, é dizer que a conduta é 
reprovável. A conduta do doente mental não é 
reprovável, porque o agente não sabe o que 
faz. No caso do menor de idade, há uma 
presunção legal. 
Tipicidade e ilicitude são juízos de valor em 
relação ao fato, já a culpabilidade é um juízo de 
valor em relação ao autor do fato. 
 
2.2. Autor do injusto penal. 
 
A análise dos elementos é feita nesta ordem: 
fato típico, ilicitude e culpabilidade. Logo, ao se 
analisar a culpabilidade, já se tem em mente 
que o fato é típico e ilícito – injusto penal. 
 
2.3. Livre-arbítrio1 
 
Só é reprovável a conduta do agente que tem 
livre-arbítrio, aquele podia optar entre fazer e 
não fazer. 
O direito penal atual foi gestado no século 
XVIII. Nesta época surgem nomes como os de 
BECCARIA, CARRARA, FEUERBACH, que 
começam a desenvolver o direito penal. 
No século XIX, surge a escola positivista do 
direito penal: LOMBROSO (antropologia 
criminal), FERRI (sociologia criminal) e 
GAROFALO (criminologia). Estes autores 
negam o livre-arbítrio, trabalhando com a ideia 
de determinismo. Para os positivistas, os 
 
1
 O livre-arbítrio é idéia chave do direito penal. No 
tocante a culpabilidade, é possível afirmar que 
culpabilidade é a reprovabilidade de quem tem livre-
arbítrio. 
estudiosos que pregavam o livre-arbítrio 
compunham a chamada escola clássica. 
Atualmente, na Europa tem discutido que a 
neurociência pode determinar algumas 
condutas. Mas, para os concursos, é 
importante ter em mente que culpabilidade hoje 
é livre-arbítrio, estando ultrapassado o 
determinismo da escola positiva do direito 
penal. 
 
3. Elementos da culpabilidade 
 
3.1. Imputabilidade 
 
Imputar é atribuir responsabilidade penal a 
alguém. Para Francisco de Assis Toledo, 
imputabilidade é atribuibilidade. Imputável é 
aquele a quem se pode atribuir 
responsabilidade penal. 
A regra é que o agente seja imputável. A 
imputabilidade pode ser afastada pela 
menoridade, pela doença mental e pela 
embriaguez fortuita. 
È possível falar em inimputabilidade do índio? 
A princípio não é possível. O estatuto do índio 
refere-se ao índio integrado, índio não 
integrado e ao índio em vias de integração, 
sendo que a integração é em relação ao 
restante da comunidade brasileira. Diante 
desta classificação, antigamente entendia-se 
que índio integrado era imputável, o índio não 
integrado era inimputável, ao passo que o índio 
em vias de integração era submetido a um 
laudo antropológico. 
Esta situação não mais subsiste. Atualmente 
entende-se que ao índio aplicam-se as 
mesmas hipóteses de inimputabilidade que se 
aplicáveis aos demais cidadãos, não tendo 
tratamento diferenciado em relação ao índio, 
independente do nível de integração. 
 
 
 
 
 
 
 
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3 
A emoção e a paixão não excluem a 
culpabilidade, podem até atenuar a pena, mas 
não excluem a culpabilidade. Porém, se a 
emoção e a paixão chegarem a um grau 
elevado que se tornem doença mental poderão 
ensejar a exclusão da culpabilidade. 
 
3.2. Causas de exclusão da imputabilidade 
 
a) Menoridade: 
 
O menor de 18 anos de idade é considerado 
inimputável, por força pelo art. 27 do Código 
Penal e também no art. 228 da Constituição 
Federal. 
CP - Art. 27. Os menores de dezoito anos 
são penalmente inimputáveis, ficando 
sujeitos às normas estabelecidas na 
legislação especial. 
CF - Art. 228. São penalmente 
inimputáveis os menores de dezoito anos, 
sujeitos às normas da legislação especial. 
 
É possível reduzir a maioridade penal por 
emenda constitucional? A maioridade penal a 
partir de 18 anos está no rol dos direitos e 
garantias individuais. Vale lembrar que estes 
não estão apenas no art. 5º, mas espraiados 
pelo texto constitucional e o STF é pacifico 
neste sentido. 
Não há controvérsia, portanto, se se trata de 
cláusula pétrea. O que é discutido pela doutrina 
é a possibilidade de redução. Há autores como 
René Ariel Dotti que defende que a redução da 
maioridade penal não é possível por ser tratar 
de cláusula pétrea, cuja redução importaria em 
abolir o direito individual. Assim, para este 
autor, uma eventual redução da menoridade 
penal somente seria possível numa nova 
constituição. 
Para outros autores, como Pedro Lenza, o 
direito individual pode ser restringido, desde 
que não seja atingido o núcleo desse direito, 
não implicando a abolição deste direito. 
A emancipação civil não surte efeitos na esferapenal. Em todas as hipóteses de emancipação 
o agente mantém a condição de inimputável 
penalmente. 
Também não importa se o agente entende o 
caráter ilícito do fato, uma vez que a lei 
presume absolutamente. Em relação à 
menoridade, o critério para a aferição da 
inimputabilidade é um critério puramente 
biológico, também chamado de cronológico ou 
etário. 
Na dúvida quanto a idade do agente, o STJ 
entende que é necessário provar a menoridade 
por documento hábil (documento civil de 
identificação) 2, se não tiver documento deve 
ser feita a identificação criminal. 
 
b) Doença mental 
 
A definição de inimputável para o direito penal 
está prevista no art. 26 do CP: 
 
Art. 26. É isento de pena o agente que, 
por doença mental ou desenvolvimento 
mental incompleto ou retardado, era, ao 
tempo da ação ou da omissão, 
inteiramente incapaz de entender o 
caráter ilícito do fato ou de 
determinar‑se de acordo com esse 
entendimento. 
 
 
2
 No processo penal, questão de estado se prova de forma 
documental, da mesma forma que se prova na legislação 
civil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O critério para aferição da inimputabilidade é 
biopsíquico, também chamado de 
biopsicológico ou etiológico. 
É necessária a doença mental, mas além desta 
o agente não entende o caráter ilícito do fato 
ou mesmo entendendo o caráter ilícito, em 
razão da doença não consegue determinar-se 
de acordo com essa compreensão. 
A inimputabilidade por doença mental somente 
pode ser aferida no caso concreto para saber 
se em razão desta doença mental o agente não 
compreendia o caráter ilícito, ou mesmo que 
entendesse, não conseguia determinar-se 
conforme este entendimento em decorrência 
da doença. 
Para o doente mental não se aplica pena e sim 
medida de segurança. O inimputável não é 
condenado, mas sim absolvido3. 
O semi-imputável ou fronteiriço é aquele que 
por perturbação mental ou por 
desenvolvimento mental incompleto ou 
retardado não era inteiramente capaz de 
entender o caráter ilícito do fato ou de 
determinar‑se de acordo com esse 
entendimento 
O semi-imputável é condenado, por ser parcial 
a sua imputabilidade e, portanto, parcial 
culpabilidade. Vale lembrar que não existe 
semi-imputabilidade por menoridade, apenas 
para doença mental. 
A semi-imputabilidade tem natureza jurídica de 
causa de diminuição de pena, razão pela qual 
juiz condena, mas aplica redução de pena. O 
juiz pode também converter essa condenação 
em medida de segurança, se entender que é 
mais adequado ao tratamento da doença. 
 
 
3
 É a sentença absolutória imprópria, na qual o agente é 
absolvido, mas por ser inimputável por doença mental a 
ele é aplicada uma medida de segurança. 
Essa conversão pode ocorrer no momento da 
sentença, como também posteriormente na 
fase de execução. 
Antes da reforma de 1984, aplicava-se no 
Brasil o sistema do duplo binário, o qual 
permitia aplicar ao semi-imputável a pena e a 
medida de segurança. Esta sistema foi 
substituído pelo sistema vicariante, no qual se 
aplica pena ou medida de segurança, não se 
admitindo mais a cumulação. 
 
 Medida de segurança4: 
 
No Brasil, só existe medida de segurança para 
o doente mental. Há dois tipos de medida de 
segurança: internação e tratamento 
ambulatorial. 
Na internação, o doente mental fica no hospital 
de custódia e tratamento psiquiátrico. Já o 
tratamento ambulatorial não exige internação. 
De acordo com o art. 97 do CP, se o fato 
praticado for apenado com detenção o juiz 
pode aplicar o tratamento ambulatorial. A 
contrario sensu, se o fato for punido por 
reclusão o juiz aplicaria a medida de 
internação. 
 
Art. 97. Se o agente for inimputável, o juiz 
determinará sua internação (artigo 26). Se, 
todavia, o fato previsto como crime for 
punível com detenção, poderá o juiz 
submetê‑lo a tratamento ambulatorial. 
 
Este dispositivo tem recebido severas críticas, 
porque leva em consideração a gravidade do 
fato. A crítica doutrinária é no sentido de que a 
 
4
 Sobre o tema, válida a leitura do texto disponível 
<http://jus.com.br/revista/texto/10216/medida-de-
seguranca> 
 
 
 
 
 
 
 
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aplicação da medida de segurança deve levar 
em conta o grau de periculosidade do 
inimputável, pouco importando se se trata de 
reclusão ou detenção. Neste sentido: 
Guilherme Nucci. 
A medida de segurança tem um prazo mínimo 
estabelecido no CP: 
Art. 97 § 1o A internação, ou tratamento 
ambulatorial, será por tempo 
indeterminado, perdurando enquanto não 
for averiguada, mediante perícia médica, a 
cessação de periculosidade. O prazo 
mínimo deverá ser de um a três anos. 
 
Este prazo mínimo é o marco a partir do qual 
se torna obrigatória a realização de perícias 
periódicas para avaliar se ocorreu a cessação 
da periculosidade. Se subsiste a 
periculosidade, a medida de segurança é 
mantida, do contrário, se houver cessação da 
periculosidade, igualmente cessará a medida 
de segurança. 
A medida de segurança não tem prazo 
máximo, sendo estabelecida por prazo 
indeterminado. 
A jurisprudência do STF orienta-se no sentido 
de que quando a constituição federal proibiu a 
pena de caráter perpetuo disse menos do que 
queria (“minus dixit quam voluit”). O que a 
constituição quis dizer foi que são proibidas as 
sanções penais de caráter perpétuo. Sanção 
penal é gênero do qual são espécies a pena e 
a medida de segurança, de modo que a 
medida de segurança também não pode ser ter 
caráter perpétuo. Para o STF5, o limite por 
analogia é o do art. 75 do CP: 
 
5
 MEDIDA DE SEGURANÇA - PROJEÇÃO NO TEMPO - 
LIMITE. A interpretação sistemática e teleológica dos artigos 
75, 97 e 183, os dois primeiros do Código Penal e o último da 
Lei de Execuções Penais, deve fazer-se considerada a garantia 
constitucional abolidora das prisões perpétuas. A medida de 
segurança fica jungida ao período máximo de trinta anos 
(HC 84219, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira 
Art. 75. O tempo de cumprimento das 
penas privativas de liberdade não pode 
ser superior a trinta anos. 
 
Turma, julgado em 16/08/2005, DJ 23-09-2005 PP-00016 
EMENT VOL-02206-02 PP-00285) 
 
EMENTA: PENAL. EXECUÇÃO PENAL. HABEAS 
CORPUS. RÉU INIMPUTÁVEL. MEDIDA DE 
SEGURANÇA. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. 
EXTINÇÃO DA MEDIDA, TODAVIA, NOS TERMOS DO 
ART. 75 DO CP. PERICULOSIDADE DO PACIENTE 
SUBSISTENTE. TRANSFERÊNCIA PARA HOSPITAL 
PSIQUIÁTRICO, NOS TERMOS DA LEI 10.261/01. WRIT 
CONCEDIDO EM PARTE. I - Não há falar em extinção da 
punibilidade pela prescrição da medida de segurança uma vez 
que a internação do paciente interrompeu o curso do prazo 
prescricional (art. 117, V, do Código Penal). II - Esta Corte, 
todavia, já firmou entendimento no sentido de que o prazo 
máximo de duração da medida de segurança é o previsto no 
art. 75 do CP, ou seja, trinta anos. Precedente. III - Laudo 
psicológico que, no entanto, reconheceu a permanência da 
periculosidade do paciente, embora atenuada, o que torna 
cabível, no caso, a imposição de medida terapêutica em hospitalpsiquiátrico próprio. IV - Ordem concedida em parte para 
extinguir a medida de segurança, determinando-se a 
transferência do paciente para hospital psiquiátrico que disponha 
de estrutura adequada ao seu tratamento, nos termos da Lei 
10.261/01, sob a supervisão do Ministério Público e do órgão 
judicial competente. (HC 98360, Relator(a): Min. RICARDO 
LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 04/08/2009, 
DJe-200 DIVULG 22-10-2009 PUBLIC 23-10-2009 EMENT 
VOL-02379-06 PP-01095) 
 
EMENTA: PENAL. HABEAS CORPUS. RÉU 
INIMPUTÁVEL. MEDIDA DE SEGURANÇA. 
PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. PERICULOSIDADE DO 
PACIENTE SUBSISTENTE. TRANSFERÊNCIA PARA 
HOSPITAL PSIQUIÁTRICO, NOS TERMOS DA LEI 
10.261/2001. WRIT CONCEDIDO EM PARTE. I – Esta Corte 
já firmou entendimento no sentido de que o prazo máximo 
de duração da medida de segurança é o previsto no art. 75 
do CP, ou seja, trinta anos. Na espécie, entretanto, tal prazo 
não foi alcançado. II - Não há falar em extinção da punibilidade 
pela prescrição da medida de segurança uma vez que a 
internação do paciente interrompeu o curso do prazo 
prescricional (art. 117, V, do Código Penal). III – Laudo 
psicológico que reconheceu a permanência da periculosidade do 
paciente, embora atenuada, o que torna cabível, no caso, a 
imposição de medida terapêutica em hospital psiquiátrico 
próprio. IV – Ordem concedida em parte para determinar a 
transferência do paciente para hospital psiquiátrico que disponha 
de estrutura adequada ao seu tratamento, nos termos da Lei 
10.261/2001, sob a supervisão do Ministério Público e do órgão 
judicial competente. (HC 107432, Relator(a): Min. RICARDO 
LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 24/05/2011, 
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-110 DIVULG 08-06-2011 
PUBLIC 09-06-2011 RMDPPP v. 7, n. 42, 2011, p. 108-115 
RSJADV set., 2011, p. 46-50) 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 Em prova do ano de 2012, o CESPE6 
entendeu que o prazo máximo seria o máximo 
 
6
 CESPE/UNB – DELEGADO DE POLICIA CIVIL: 
Com relação às causas extintivas da punibilidade, julgue 
os itens a seguir:“Tratando-se de sentença na qual é 
imposta medida de segurança ao acusado inimputável, o 
tempo de seu cumprimento, independentemente da 
cessação da periculosidade, não poderá ultrapassar o 
limite máximo da pena abstratamente aplicada ao crime”. 
Nesse sentido é o entendimento do STJ: HABEAS 
CORPUS. PENAL. EXECUÇÃO PENAL. (1) 
IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DE RECURSO 
ESPECIAL. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. (2) 
SENTENÇA. MEDIDA DE SEGURANÇA. PRAZO 
INDETERMINADO. IMPOSSIBILIDADE. (3) 
TRIBUNAL DE ORIGEM. REFORMA DA 
SENTENÇA. LIMITE DE DURAÇÃO. PENA 
MÁXIMA COMINADA IN ABSTRATO AO DELITO 
COMETIDO. PRINCÍPIOS DA ISONOMIA E DA 
PROPORCIONALIDADE. ENTENDIMENTO 
COMPARTILHADO POR ESTE SUPERIOR 
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. (4) WRIT NÃO 
CONHECIDO. 1. É imperiosa a necessidade de 
racionalização do emprego do habeas corpus, em 
prestígio ao âmbito de cognição da garantia 
constitucional, e, em louvor à lógica do sistema recursal. 
In casu, foi impetrada indevidamente a ordem como 
substitutiva de recurso especial. 2. O tempo de duração 
da medida de segurança não deve ultrapassar o limite 
máximo da pena abstratamente cominada ao delito 
praticado, à luz dos princípios da isonomia e da 
proporcionalidade. 3. Hipótese em que o Juiz fixou o 
tempo mínimo e o Tribunal a quo determinou o tempo 
máximo de cumprimento da medida de segurança, esta 
última de acordo com a pena máxima em abstrato 
cominada ao delito cometido. Acórdão vergastado de 
acordo com o entendimento deste Sodalício. 4. Writ não 
conhecido. (HC 167.136/DF, Rel. Ministra MARIA 
THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, 
julgado em 02/05/2013, DJe 10/05/2013) PENAL. 
MEDIDA DE SEGURANÇA. LIMITE DE DURAÇÃO. 
PENA MÁXIMA COMINADA IN ABSTRATO AO 
DELITO COMETIDO. ORDEM CONCEDIDA. 1. Fere 
o princípio da isonomia o fato de a lei fixar o período 
máximo de cumprimento de pena para o imputável, pela 
prática de um crime, e determinar que o inimputável 
cumprirá medida de segurança por prazo indeterminado, 
condicionando o seu término à cessação da 
periculosidade. 2. Em razão da incerteza da duração 
máxima da medida de segurança, está-se claramente 
tratando de forma mais severa o infrator inimputável 
quando comparado ao imputável, para o qual a lei limita o 
poder de atuação do Estado. 3. O limite máximo de 
duração de uma medida de segurança, então, deve ser 
o máximo da pena abstratamente cominada ao delito 
no qual foi a pessoa condenada. 4. Na espécie, o 
paciente foi condenado por tentativa de estupro, cuja pena 
da pena cominada ao fato, destoando da 
jurisprudência do STF. 
 
Importante lembrar que se o inimputável for 
perigoso, violento e após 30 anos internado, 
não tiver cessada a sua periculosidade, o STF 
entende que cessa a intervenção penal. No 
entanto, isto não significa dizer que não vai 
haver internação, esta ocorrerá, mas não terá 
natureza penal. 
É possível a internação compulsória, nos 
moldes da lei 10.216/01 (lei de reforma 
psiquiátrica). 
c) Embriaguez 
 
Há cinco modalidades de embriaguez: 
 Preordenada 
 Dolosa ou voluntária 
 Culposa ou involuntária 
 Fortuita 
 Patológica 
 
Culpabilidade é livre-arbítrio. Entende-se que a 
pessoa completamente embriagada não tem 
esse livre-arbítrio. Mas, em regra, o 
embriagado é culpável. 
Quando se fala em embriaguez, trabalha-se 
com a teoria da ação livre na causa (“actio 
libera in causa”). Significa dizer que na 
embriaguez, o livre-arbítrio não é aferido no 
momento da prática da conduta, mas sim se 
 
máxima cominada é de reclusão de 6 anos e 8 meses. Não 
obstante, encontra-se internado há mais de 15 anos. 5. 
Ordem concedida para declarar extinta a medida de 
segurança aplicada em desfavor do paciente, em razão de 
seu integral cumprimento. (HC 91.602/SP, Rel. Ministra 
ALDERITA RAMOS DE OLIVEIRA 
(DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/PE), 
Rel. p/ Acórdão Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS 
MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 20/09/2012, DJe 
26/10/2012) 
 
 
 
 
 
 
 
 
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7 
ação foi livre no momento da ingestão da 
substância. 
 Embriaguez preordenada é aquela em 
que o sujeito quer ingerir, quer 
embriagar-se e quer praticar o crime. 
Neste caso, não há exclusão da 
culpabilidade do agente. Alem disso, 
constitui circunstância agravante, 
prevista no art. 61, inciso II, l do CP7. 
 
 Embriaguez dolosa ou voluntária é 
aquela em que o sujeito quer ingerir a 
substancia e embriagar-se, mas não 
para praticar o crime. P.ex.: o sujeito 
quer fazer uma farra e ajusta com a 
namorada que vai beber e ela retorna 
dirigindo o veiculo. Após embriagar-se o 
sujeito não entrega a chave, resolve 
dirigir e comete crime na condução do 
veículo. Não se exclui a culpabilidade 
deste agente. 
 
 Embriaguez culposa ou involuntária é 
aquela em que o sujeito quer ingerir a 
substância apenas socialmente, mas 
acaba se embriagando e vem a praticar 
o crime. Neste caso, também não se 
exclui a culpabilidade. 
 
 Embriaguez fortuita é aquela em que o 
agente não quer ingerir a substância, 
seja por que não sabia o que estava 
ingerindo, seja porque foi obrigado a 
ingeri-la. P.ex.: trote de calouros. Esta 
sim, sendo completa, exclui a 
culpabilidade do agente. Se for 
incompleta, o agente responde pelo 
crime,com pena diminuída. 
 
 Embriaguez patológica é o vício. O 
viciado pode ser considerado 
inimputável, uma vez que o vício é 
considerado doença mental, segundo a 
 
7
 “ART. 61. São circunstâncias que sempre agravam a 
pena, quando não constituem ou qualificam o crime, II – 
ter o agente cometido o crime: l) em estado de 
embriaguez preordenada”. 
Organização Mundial de Saúde. Deste 
modo, a embriaguez patológica não 
exclui a culpabilidade, mas a doença 
mental poderá excluí-la. 
 
4. Exigibilidade de conduta diversa 
 
É o segundo elemento da culpabilidade. 
Somente há reprovabilidade da conduta do 
agente que poderia agir de outro modo. 
O CP não tem as expressões inexigibilidade de 
conduta diversa, tampouco exigibilidade de 
conduta diversa. Há, contudo, institutos 
previstos no CP que materializam esta 
inexigibilidade: coação moral irresistível e 
obediência hierárquica. 
Coação irresistível e obediência 
hierárquica 
Art. 22. Se o fato é cometido sob coação 
irresistível ou em estrita obediência a 
ordem, não manifestamente ilegal, de 
superior hierárquico, só é punível o autor 
da coação ou da ordem. 
A coação moral irresistível e a obediência 
hierárquica são hipóteses de inexigibilidade de 
conduta diversa. É extremamente controverso, 
mas prevalece que existem causas 
supralegais de inexigibilidade de conduta 
diversa. Segundo este entendimento, sempre 
que se possa dizer que não se poderia exigir 
outra conduta do agente, estar-se-ia diante de 
hipótese de inexigibilidade conduta diversa. 
Exemplo: a mãe que trabalha como diarista 
que precisa trabalhar para sustentar as filhas, 
que ao sair e trancava as crianças. Houve um 
incêndio na casa do vizinho, o fogo se alastrou 
e as crianças morreram queimadas. A mãe foi 
indiciada pelo homicídio, mas o promotor 
entendeu que era hipótese de inexigibilidade 
de conduta diversa, não dava para exigir da 
mãe outra conduta.

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