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Professor Luiz Figueira Pinto - UFRRJ Página 1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Instituto de Veterinária - Departamento de Medicina e Cirurgia Disciplina de Obstetrícia (IV-332) Professor Luiz Figueira Pinto Anatomia Obstétrica 1. Introdução A Obstetrícia (do grego obstetrix = que significa estar à frente) pode também ser denominada de Tocologia (do latim tocus = que significa parto). É o ramo da medicina que cuida da fêmea durante a gravidez, o parto e o puerpério. Trata-se de uma especialidade no campo da clínica cirúrgica que exige um adequado conhecimento da anatomia pélvica, da técnica operatória e da anestesiologia. E, por estar relacionada à procriação requer constante atualização em fisiopatologia da reprodução. A disciplina Obstetrícia Veterinária é de grande importância ao se considerar que 25 a 30% das patologias dos animais de produção acometem a esfera reprodutiva, além de que toda fêmea que atinge a idade adulta, e conseqüentemente a maturidade sexual, deverá receber cuidados pré-nupciais ou pré-natais preventivos e/ou curativos. Para o obstetra é de grande importância o adequado conhecimento da anatomia descritiva e topográfica da pélvis, pois o perfeito domínio deste conhecimento básico permite ao tocólogo compreender a origem de certas distocias maternas e fetais e proceder às manobras obstétricas adequadas, com as melhores condições de preservação das estruturas moles do canal do nascimento e do corpo do feto, o que contribui para a manutenção da vida e o retorno ao estado de saúde tanto da parturiente quanto do produto. Dessa forma, o obstetra estará atuando com a premissa máxima da propedêutica médica – Primum non nocere, enunciada por Hipócrates. 2. Estudo da Anatomia Obstétrica A anatomia obstétrica compreende o estudo da pélvis, das glândulas mamárias, da circulação fetal, dos anexos embrionários e fetais, e do cordão umbilical. Partes duras: ossos e articulações da pélvis Anatomia Pélvica Partes moles: aparelho genital, plexo vásculo- nervoso, ligamentos. Anatomia Obstétrica Glândulas Mamárias Circulação Fetal Anexos Embrionários e Fetais Cordão Umbilical Professor Luiz Figueira Pinto / UFRRJ Página 2 2 2.1- Estudo da Pélvis Óssea Dura A pélvis óssea no sentido tocológico é o cinturão pélvico que rodeia parcialmente a cavidade pélvica. É a parte menos flexível da pélvis, mas que permite certa ampliação no momento do parto. Durante o parto o sacro se desvia algo para cima e os ângulos internos do ílio se afastam ocorrendo ampliação nos diâmetros vertical e transversal do canal do nascimento. Quanto mais curto e móvel se apresentar o sacro mais fácil será o parto. Observa-se que no momento do parto há um aumento do diâmetro da via fetal e uma diminuição do volume do feto, principalmente do volume cefálico nos primatas, por apresentarem as suturas cranianas que permitem a compressão do crânio sem prejuízo funcional das estruturas nervosas. 2.1.1 – O osso Ílio O ílio é um osso par e irregularmente triangular que apresenta duas faces, a dorsal e ventral; três bordos, o anterior, o medial e o esterno; e três ângulos, o interno, o externo e o acetabular. Estas estruturas constituem o corpo e a asa do ílio. A face dorsal é côncava e constitui a superfície glútea do ilíaco, onde se inserem os músculos glúteos e dorsais. Apresenta ainda a linha glútea, que é proeminente na vaca, e que em seu bordo interno se continua com a espinha isquiática. A face ventral é convexa, sendo denominada de face pélvica. Apresenta sulcos produzidos pelos vasos e nervos obturadores. Possui uma parte triangular, rugosa, e que serve de inserção ligamentar; e outra quadrangular, onde se localiza a linha iliopectínea, por onde correm os vasos iliofemurais; e o tubérculo do Psoas, onde se inserem os tendões dos músculos psoas menor. O bordo anterior é côncavo, grosso e rugoso, serve de apoio ligamentar para os músculos dorsais, e é denominado de crista do ilíaco. O bordo medial é côncavo e apresenta a escotadura ciática maior e a espinha isquiática. O bordo esterno é côncavo e rugoso e apresenta um sulco para os vasos iliolombares. O ângulo interno constitui a porção medial da asa do ílio, e se denomina de tuberosidade sacral. Ventromedialmente se articula com o sacro formando a articulação sacro-ilíaca, de grande importância no parto. O ângulo externo é rugoso devido às inserções musculares. Constitui a porção lateral da asa do ílio formando a tuberosidade coxal. O ângulo acetabular pertence ao corpo do ílio e forma 2/5 do acetábulo, onde se une ao ísquio e ao púbis. No exame obstétrico se realiza a inspeção clínica em procura de simetria entre as tuberosidades coxais, a fim de descartar lesão óssea e irregularidade no canal do nascimento. Neste aspecto verifica-se que os eqüinos apresentam mais comumente lesão no ângulo esterno do ílio provocada por quedas. E, ao se avaliar um canal do nascimento, por meio de palpação interna, se pesquisa na região acetabular a presença de irregularidades ósseas, por se constituir em uma região mais susceptível as fraturas ósseas. A presença de calo ósseo na região do corpo do ílio próximo ao acetábulo pode resultar em diminuição do diâmetro do canal do nascimento. Professor Luiz Figueira Pinto / UFRRJ Página 3 3 2.1.2 – O osso Ísquio O osso Ísquio é um osso par e quadrangular que forma a parte caudal do piso ventral da pélvis. Apresenta duas faces, quatro bordos e quatro ângulos. A face pelviana é lisa e côncava nas fêmeas, enquanto que a face ventral é rugosa e serve de apoio para a inserção dos músculos adutores dos membros posteriores. O bordo anterior constitui o rebordo posterior do buraco obturador, que se completa com o osso púbis. O bordo posterior forma o arco isquiático, que pode ser avaliado por inspeção e palpação externa quando de um exame obstétrico. Serve de referencial anatômico e topográfico quando de uma anaplastia vulvar. O bordo lateral apresenta a escotadura ciática menor, que se une a escotadura ciática maior do ílio e serve de apoio para a inserção do ligamento ciático. O bordo medial forma a sínfise isquiática com o seu homólogo e que se continua com a sínfise pubiana formando a sínfise pélvica. O ângulo ântero – interno se denomina ramo sinfisário e se articula com o púbis. O ângulo ântero – externo se denomina ramo acetabular e apresenta a espinha isquiática, que é proeminente na vaca e na porca. O ângulo posterior – interno se une com o ísquio homólogo, enquanto o ângulo posterior – externo forma a tuberosidade isquiática. 2.1.3 – O osso Púbis É o menor dos ossos da pélvis e forma a parte cranial do assoalho pélvico. Em sua descrição encontram-se duas faces, pélvica e ventral; três bordos, anterior, medial e posterior; e quatro ângulos, medial, acetabular e posterior. A face pelviana é lisa e côncava nas fêmeas. Na vaca jovem pode haver uma tuberosidade pronunciada na parte cranial da sínfise púbica, o que pode ser causa de contusão ou laceração das partes moles do canal do nascimento, em uma distocia. A face ventral é convexa e rugosa, onde se inserem ligamentos. Encontra-se nesta região o sulco púbico que aloja o plexo vásculo nervoso oriundo do buraco obturador. No bordo anterior encontra-se a eminência iliopectínea, que serve de apoio para o músculo pectínio, e o tubérculo púbico que serve de inserção para os músculos abdominais e o ligamento mediano do úbere. O bordo medial, denominadosínfise púbica, constitui a porção cranial da sínfise púbica, que se articula com o púbis oposto. Os ângulos púbicos internos formam os ramos púbicos sinfisários e os ângulos externos o ramo acetabular e o ramo isquiático. 2.1.4 – Acetábulo É uma cavidade cotilóide que aloja a cabeça do fêmur, formando a articulação coxo – femural. Formado pela fusão do ângulo acetabular do ílio, ângulo ântero – externo do ísquio e o ramo acetabular do púbis. Geralmente estão presentes nesta articulação os ligamentos transverso, redondo e acessório, que promovem a inserção da cabeça femural na cavidade acetabular. Nos bovinos pode estar presente apenas o ligamento redondo ou mesmo sem qualquer ligamento. Professor Luiz Figueira Pinto / UFRRJ Página 4 4 2.1.5 – Buraco Obturador Acidente anatômico localizado no assoalho da pélvis e constituído pela união da borda posterior do púbis com a borda anterior do ísquio. Encontra-se preenchido pelos músculos obturadores internos e externos e dá passagem a um complexo vásculo nervoso (artéria, veia e nervo obturadores). 2.1.6 – Sacro É uma unidade óssea constituída pela fusão de cinco vértebras. A sua forma de crucifixo lhe gerou a denominação (sacro= sagrado). Em sua face dorsal forma a espinha sacral, formada pela fusão das apófises espinhosas das vértebras fusionadas. Os bordos laterais formam a asa do sacro, formada pela fusão das apófises transversas das vértebras. Na porção ventral do bordo anterior, que corresponde à primeira vértebra sacral, encontra-se o Promontório. Este é um ponto de referencia importante em pelvimetria e pode se constituir em um obstáculo para o parto, por contribuir na diminuição do diâmetro da abertura de entrada do canal do nascimento. 2.1.7 – Articulações a) Articulação sacro – ilíaca: diartrose entre as asas do sacro e as tuberosidades sacrais. Esta articulação tem a finalidade de oferecer estabilidade à pélvis e certa mobilidade articular na hora do parto. É de grande importância para a dilatação do canal do nascimento no parto, seja quando da passagem do feto com a parturiente em estação, ou quando a parturiente se coloca em decúbito e apoia a tuberosidade coxal de encontro ao solo, o que permite a mobilidade do ílio oposto. b) Articulação lombo – sacra: articulação formada pela última vértebra lombar e a primeira vértebra sacral. De importância obstétrica no emprego da anestesia epidural em cabra, porca e cadela. c) Articulação sacro – coccigea: articulação efetuada entre a ultima vértebra sacral e a primeira vértebra coccígea. De importância obstétrica no emprego da anestesia epidural em vaca e égua. d) Sínfise ísquio – púbica: articulação sinestosada nos machos, mas que apresenta certa mobilidade nas fêmeas no momento do parto. e) Articulação Coxo – Femural: diartrose entre o acetábulo e a cabeça femural. A vaca apresenta uma predisposição à luxação coxo –femural em decorrência da conformação anatômica da cavidade cotilóide, que é rasa, da musculatura do membro pélvico ser fraca e por faltarem ligamentos articulares. Professor Luiz Figueira Pinto / UFRRJ Página 5 5 2.2 - Estudo da Pélvis Óssea Mole 2.2.1 – Ligamentos Os ligamentos pélvicos complementam a pélvis óssea, mantém a relação entre a pélvis e a coluna vertebral e auxiliam no trabalho das articulações, principalmente o da articulação sacro – ilíaca. Compreendem os ligamentos sacros – ilíacos, com suas porções dorsal, lateral e ventral, o sacro – isquiático, e o tendão pré-púbico. O ligamento sacro – ilíaco dorsal é uma estrutura ligamentar forte, em forma de cinta, que se insere na tuberosidade sacral e no vértice da espinha sacral. O ligamento sacro – ilíaco lateral forma uma lamina triangular espessa que se insere na frente da tuberosidade sacral, por cima da escotadura ciática maior e por baixo no bordo lateral do sacro. Este ligamento se une dorsalmente ao ligamento sacro – ilíaco dorsal, para proporcionar firmeza e rigidez à articulação sacro – ilíaca. O ligamento sacro – ilíaco ventral envolve a articulação sacro – ilíaca ventralmente e preenche o ângulo entre a asa do sacro e a face ventral da porção medial do ílio. O ligamento sacro – isquiático, também denominado sacro – ciático ou simplesmente ligamento isquiático, se apresenta como uma extensa folha ligamentar quadrangular que completa a parede lateral da cavidade pélvica, e forma o arcabouço do canal do nascimento. Este ligamento sofre o processo de embebimento hormonal no momento do parto, o que proporciona um relaxamento ligamentar, que iguala o diâmetro da abertura caudal ao da abertura cranial. Este relaxamento proporciona o aparecimento de um sinal clínico de proximidade do parto, que é o relaxamento da anca, facilmente identificado na vaca. Na inserção deste ligamento identificam- se os bordos dorsal, ventral e posterior. O bordo dorsal é lateral ao sacro e às apófises transversas das três primeiras vértebras coccígeas. O bordo ventral se insere na espinha ciática e na tuberosidade isquiática, enquanto o bordo posterior se fusiona com a cabeça vertebral dos músculos semimembranosos. Nos cães identifica-se o ligamento sacro-tuberoso, que é uma estrutura forte formado pelo espessamento da porção caudal do ligamento isquiático, e que se insere no bordo lateral do sacro e na tuberosidade isquiática. O tendão pré – púbico é o tendão de inserção dos músculos abdominais, exceto dos transversos abdominais. È fortemente aderido ao bordo anterior cranial dos ossos púbis e bastante desenvolvido na vaca, o que pode modificar as dimensões da pélvis e dificultar o trabalho de parto. 2.2.2 – Nervos A inervação da pélvis é promovida pela ramificação dos nervos ciático, pudendo obturador e femural. O nervo ciático ou isquiático é o maior nervo do corpo animal, e é constituído pelas raízes nervosas de L5, L6, S1 e S2. Emerge pelo forame ciático maior e segue como uma larga cinta plana e que se fusiona em sua origem com o nervo glúteo posterior. O nervo pudendo fornece ramificações para a bexiga, uretra e reto, com o seu ramo pudendo interno; e para o esfíncter anal, músculo isquiocavernoso, clitóris e vulva, com o seu ramo pudendo externo. O nervo obturador é um nervo motor que inerva os músculos obturador externo, pectínio, adutor e a porção reto interno do quadríceps femural. É o nervo mais vulnerável no momento do parto por se dispor de encontro à face ventral do ílio e sofrer compressão pelo feto em sua passagem pelo canal do nascimento. A ocorrência de traumas por compressão do nervo obturador Professor Luiz Figueira Pinto / UFRRJ Página 6 6 acarreta em paresia ou paralisia, o que mantem a vaca em decúbito lateral, e constituir o quadro clínico da a síndrome da vaca caída. O nervo femural é derivado da raiz dos nervos lombares L4 e L5 e se continua pelo nervo safeno. 2.2.3 – Artérias e Veias a vascularização da pélvis é promovida pela artéria ilíaca interna, também denominada artéria hipogástrica, ramo da aorta abdominal. As veias são satélites e se reúnem na veia cava caudal Artérias Lombares (ultimo par) Artéria umbilical Artéria hemorroidal media Artéria Pudenda Interna Artéria perineal Artéria do bulbo Artéria Ilíaca Interna ramos espinhais Artéria coccigea Artéria sacra lateral Artéria glútea posterior media Artéria coccigea externa Artéria glútea anterior Artéria iliolombar Artéria iliacofemuralArtéria obturadora Professor Luiz Figueira Pinto / UFRRJ Página 7 7 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Instituto de Veterinária - Departamento de Medicina e Cirurgia Disciplina de Obstetrícia (IV-332) Professor Luiz Figueira Pinto Anatomia Obstétrica (parte II) Partes moles do canal do nascimento: o aparelho reprodutor feminino 1. Introdução As partes moles do canal do nascimento compreendem a vulva, o vestíbulo vaginal, a cérvice e o útero. Estas estruturas podem apresentar modificações em seu trajeto criando obstáculos à passagem do feto no parto. Com exceção da vulva estas estruturas estão localizadas na cavidade pélvica, sendo mantidas anatomicamente por ligamentos e um tecido conjuntivo ricamente hidratado. A condição hormonal na gestação modifica fisiologicamente a situação topográfica destes órgãos, de modo que o útero se desloca completamente para a cavidade abdominal, e a vulva adquire dimensões avantajadas para permitir a passagem do feto. a. Vulva ou pudendo feminino É a porção externa da genitália feminina. Nos animais domésticos está constituída por um par de lábios vulvares bem desenvolvidos, pigmentados e não pilosos, ao contrário da mulher que está constituída por dois pares de lábios vulvares, os pequenos e os grandes lábios. O encontro dos lábios vulvares forma uma linha de união em forma de fenda e disposta em direção dorso- ventral, denominada de rima vulvar, e que constitui a abertura do canal vaginal. Nos mamíferos quadrúpedes a porção superior da rima vulvar constitui a comissura dorsal, enquanto que em sua porção inferior encontra-se a comissura ventral da vulva, que envolve o clitóris. O exame obstétrico da vulva consiste em se verificar a homogeneidade e simetria da rima vulvar, suas dimensões, coloração da pele e da mucosa vulvar, presença ou não de secreções, nodosidades, tumores, feridas, lacerações ou cicatrizes. Na vaca é comum a ocorrência de tumores, como papilomas e carcinomas, e cicatrizes provenientes de suturas indevidas; enquanto que nas éguas, é essencial verificar o posicionamento da comissura dorsal em relação com o assoalho pélvico, que devem coincidir, a fim de se descartar a presença de lacerações que possibilitem a ocorrência de pneumovagina. Na realização de suturas de contenção, quando da redução de prolapso vaginal ou uterino, deve-se evitar o tecido vulvar para a fixação dos fios de sutura, a fim de se evitar a formação de fibroses, que podem prejudicar a dilatação da vulva no parto. A referência anatômica da fixação das suturas consiste em se fixar os pontos de sutura na região de transição entre a parte pilosa e a região glabra (não-pilosa), lateralmente à a vulva. b. Vestíbulo vaginal Nos animais domésticos, o vestíbulo vaginal é longo e situado internamente, enquanto que na mulher é curto e constitui uma parte do pudendo feminino. Encontram-se as seguintes estruturas anatômicas no vestíbulo vaginal: Professor Luiz Figueira Pinto / UFRRJ Página 8 8 Óstio ou meato externo da uretra: localizado no assoalho do vestíbulo vaginal, e constitui o limite com a vagina; Divertículo sub-uretral: localizado imediatamente após o meato uretral externo, como uma depressão em fundo de saco; Desembocadura dos ductos de Gartner: também denominados ductos epoóforos longitudinais, situados a cada lado da desembocadura da uretra, e bastante desenvolvidos nos ruminantes domésticos; Glândulas vestibulares maiores ou de Bartholin: situadas nas paredes laterais, e tem a função de lubrificação no coito; Glândulas vestibulares menores: situadas na parede ventral; Clitóris: órgão erétil da fêmea cuja origem embriológica é a mesma do pênis. Situa-se no assoalho do vestíbulo vaginal e próximo à comissura ventral da vulva, envolvido pelos lábios vulvares. A sua porção saliente constitui a glande do clitóris, que está protegido por uma prega da mucosa, o prepúcio do clitóris. A glande está presa ao corpo do clitóris, o qual é constituído pela união de dois ramos provenientes da tuberosidade isquiática. c. Vagina È o órgão copulador feminino. Consiste em uma estrutura tubular que se estende horizontalmente através da cavidade pélvica, desde o colo do útero até o vestíbulo vaginal. A separação anatômica entre o vestíbulo vaginal e a vagina se faz por uma prega transversal, denominada prega himenal, ou simplesmente hímen, presente nas virgens e nulíparas, como ocorre nas espécies humana, eqüina e suína. Nas fêmeas que já pariram o hímen constitui as carúnculas himenais. A vagina e o vestíbulo vaginal constituem a parte mole do canal do nascimento. O canal vaginal possui uma grande capacidade de dilatação limitada apenas pela parede óssea da pélvis. Fisiologicamente se dilata quando da penetração do pênis ou da passagem do feto. Normalmente o seu espaço é virtual estando as paredes dorsal e ventral colabadas, ficando a cavidade vaginal reduzida a uma fenda transversal. Relaciona-se dorsalmente com o reto; lateralmente, com a parede pélvica; e, ventralmente com a bexiga e a uretra. Mede cerca de 15 a 20 cm, e o vestíbulo de 7 a 10 cm, de comprimento, na vaca. Em sua porção caudal forma um fundo de saco que se denomina fórnix vaginal, tendo no centro o cérvix. Podem estar presentes na parede vaginal os canais de Gartner, que consistem em vestígios embrionários dos ductos paramesonéfricos ou ductos de Wolff. Estas estruturas podem encistar projetando-se para a luz do canal do nascimento e dificultar a progressão do feto no parto. d. Cérvix ou colo uterino É uma estrutura essencialmente muscular que exerce a função de esfincter, e que se projeta caudalmente na vagina. É caracterizado por várias proeminências. Nos ruminantes estas proeminências têm a forma transversa ou espiralada com saliências fixas conhecidas por anéis, que apresentam vários graus de desenvolvimento nas diferentes espécies. Na vaca são proeminentes (geralmente 4 anéis), e na ovelha adaptam-se um no outro ocluindo a cérvix com segurança. Na porca os anéis dispõem-se em forma de saca-rolhas adaptando-se à extremidade torcida em espiral do pênis no macho. Na égua são características e visíveis as dobras na mucosa Professor Luiz Figueira Pinto / UFRRJ Página 9 9 e as alças que se projetam para dentro da vagina. A cérvix da égua é muscular, e não cartilaginosa. A cérvix permanece firmemente fechada, exceto durante o cio, quando relaxa levemente e permite a entrada do espermatozóide no útero, e também no parto para a saída do feto. As reentrâncias da cérvix têm a função de aumentar a superfície de contato para produção de muco pela mucosa. A maior atividade secretora destas células ocorre no cio, onde o muco facilitará a movimentação dos espermatozóides. As criptas cervicais são mais desenvolvidas na vaca do que em outras espécies domésticas. A secreção de muco cervical é estimulada pelos estrógenos ovarianos e inibida pela progesterona. As alterações mais favoráveis das propriedades do muco cervical, como aumento na quantidade, viscosidade, cristalização e pH, assim como a diminuição da viscosidade e do conteúdo celular, ocorrem durante o cio e a ovulação; elas se invertem durante a fase luteínica, na qual a penetração dos espermatozóides na cérvix é inibida. Durante a gestação, o muco que oclui o canal cervical é altamente viscoso, espesso, turvo e não se cristaliza; deste modo, age como barreira eficiente contra o trânsito espermático e invasão bacteriana no útero, prevenindo infecções uterinas. Na fase de dilataçãodo parto a cérvix se dilata por um mecanismo antagônico às metrossístoles, como todo esfincter em um órgão tubular, libera o tampão mucoso e permite a passagem do feto e das membranas fetais na fase de expulsão do parto. A dilatação do colo se dá da luz uterina para a luz vaginal em processo denominado de apagamento do colo, aonde cada anel cervical se dilata por vez. e. Útero: É o órgão na qual o ovo se implanta ou faz a nidação, e se desenvolve em embrião e em feto, até o nascimento. O útero permite o transporte espermático e possui mecanismos de controle luteolítico. É altamente especializado e adaptado para aceitar e nutrir o(s) produto(s) da concepção, desde a implantação ou nidação até o parto. Produz um fluido endometrial produzido pelas glândulas endometriais, denominado de leite uterino, que cria um ambiente favorável para a captação espermática e condições nutritivas para o blastocisto. É composto de dois cornos uterinos, um corpo e uma cérvix (colo). As proporções relativas, assim como a forma e disposição dos corpos, variam de espécie para espécie. O útero da porca é do tipo bicornual. Os cornos são dobrados ou convolutos, podendo atingir 4 a 5metros de comprimento, enquanto que o corpo uterino é curto. Este comprimento é uma adaptação anatômica para carregar satisfatoriamente a leitegada. O útero bipartido é típico da vaca, ovelha e égua. Estas fêmeas apresentam um septo que separa os dois cornos e um proeminente corpo uterino. Superficialmente o corpo do útero da vaca e da ovelha parece ser maior do que ele é realmente, isto porque as porções caudais dos cornos são ligadas pelo ligamento intercornual. Ambas as laterais do útero são unidas às paredes pélvicas e abdominal pelo ligamento largo. O útero é constituído por uma membrana mucosa interna (endométrio), uma camada intermediária de músculos lisos (miométrio) e uma fina camada serosa externa (perimétrio ou serosa). O endométrio é uma estrutura mucosa glandular que varia em espessura e vascularização, de acordo com a presença de hormônios ovarianos durante o ciclo estral e a gestação. O miométrio é uma porção muscular da parede uterina, constituído de fibras musculares transversais, oblíquas e circulares. O útero amplia o seu tamanho consideravelmente durante a gestação, por hipertrofias e hiperplasias celulares, sendo capaz de reabsorver rapidamente estas células no puerpério. Professor Luiz Figueira Pinto / UFRRJ Página 10 10 Durante a gestação o útero da vaca se dispõe com a sua curvatura maior em posição dorsal, o que torna o órgão instável e predisposto a torção uterina no terço final da gestação. Enquanto que na égua a disposição ventral da curvatura maior do útero favorece a ocorrência de defeito de posicionamento fetal na hora do parto. O útero convoluto da porca favorece a ocorrência de flexão uterina na hora do parto, de difícil diagnóstico. f. Ovidutos ou trompas uterinas: São dois tubos pares que recolhem os óvulos de cada ovário, permite a sua fertilização e a sua condução até o respectivo corno uterino. Os ovidutos são revestidos pelo mesossalpinge, que é uma prega peritonial derivada do extrato lateral do ligamento largo. A migração do óvulo e do ovo ou zigoto, em sua luz é possível graças à corrente de liquido peritoneal em direção ao útero, promovida pelo movimento dos cílios da mucosa e pela peristalse da camada muscular. O oviduto é dividido em infundíbulo, ampola e istmo. O infundíbulo constitui-se na porção proximal ovariana dos ovidutos e possui fímbrias ou franjas que envolvem os ovários e se movimentam em direção aos folículos dominantes permitindo que os ovócitos sejam capturados. A ampola tubárica é a porção intermediaria e mais dilatada das trompas e onde ocorre a fecundação. O ístmo liga-se diretamente ao corno uterino; durante o cio o ístmo contrai sua musculatura e movimenta seus cílios, no sentido corno-ampola, o que ajuda os espermatozóides a alcançarem o óvulo. Após a ovulação o sentido da peristalse se inverte e passa a ser no sentido ampola-corno, transportando o óvulo fecundado para o útero. O comprimento do oviduto de uma vaca é, em média, de 15 a 30 cm. A presença de disfunções nervosas ou de processos inflamatórios pode interferir na peristalse tubárica e no movimento ciliar e acarretarem gravidez ectópica ou tubárica. g. Ovários: Os ovários são dois órgãos nodulares de forma e volume variáveis com a espécie animal e com a fase do ciclo estral. Estão situados na entrada da pélvis, numa localização inconstante. Na égua, tem a forma de feijão, e estão situados imediatamente abaixo da 4ª ou 5ª vértebra lombar; na vaca, tem a forma de amêndoas, e estão localizados nos bordos laterais da entrada da pélvis, aproximadamente em frente às artérias ilíacas externas. E, na cadela, atrás do pólo caudal dos rins, abaixo da 3ª ou 4ª vértebra lombar, aproximadamente na metade da distancia entre a última costela e a crista do ílio. Na cadela estão comumente revestidos pela bolsa ovariana e por uma camada de gordura. Os ovários da porca assemelham-se a um cacho de uvas, em decorrência da presença dos múltiplos folículos salientes e dos corpos lúteos. Os ovários são constituídos pelo córtex, que contém folículos ovarianos e/ou corpos lúteos em vários estágios de desenvolvimento e regressão, e pela medula ovariana constituída de tecido conjuntivo fibro-elástico, e responsável pela foliculogênese, ovogênese, produção de estrógenos, formação de corpo lúteo e produção de progesterona. Cada ovário é sustentado pelo ligamento mesovário, proveniente do ligamento largo e que se projeta para o corno do útero formando o mesossalpinge e o ligamento próprio do ovário. Na cadela e gata encontra-se ainda o ligamento suspensório do ovário, de natureza mais fibrosa.
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