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UFRRJ / IV - Departamento de Medicina e Cirurgia Disciplina: Obstetrícia Veterinária (IV-332) Professor Responsável: Luiz Figueira Pinto Cuidados com o Recém Nato 1. Introdução A prática obstétrica inclui procedimentos preventivos direcionados ao desenvolvimento de uma gestação fisiológica, que resulte em uma eutocia e o nascimento de recém natos (RN) fortes e saudáveis. Os cuidados obstétricos preventivos garantem uma eficiência reprodutiva adequada a uma exploração animal moderna e podem ser consideradas antes do nascimento, durante o nascimento e após o nascimento. 2. Cuidados Antes do Nascimento Os cuidados antes do nascimento compreendem a orientação na cobertura (cuidados pré- nupciais) e os cuidados pré-natais das gestantes. Os cuidados pré-nupciais são direcionados no sentido de se escolher parceiros isentos de enfermidades transmissíveis e defeitos genéticos, que apresentem uma maturidade orgânica e um bom estado de saúde que permita à mãe desenvolver adequadamente a gestação e parir de modo eficiente um ou mais fetos de tamanho adequado à sua espécie e raça. As fêmeas não devem ser cobertas precocemente, estando somente liberadas após alcançarem a maturidade orgânica, o que ocorre na idade adulta. O critério adotado para as vacas é o peso corpóreo, que deve ter atingido um mínimo de 240 kg, para as Zebuínas, e 320 kg, para as Holandesas; enquanto que para as éguas o critério é a idade, que fica estabelecido entre os 2,5 e 3,5 anos. Para as cadelas e gatas, o referencial adotado é a repetição do ciclo estral sendo consideradas aptas àquelas que já alcançaram o terceiro cio. Na espécie bovina sabe-se que o touro é o responsável pela transmissão de características da pélvis de suas descendentes, devendo ser eliminado da reprodução aquele que comprovadamente imprima em sua prole medidas pélvicas inadequadas a uma boa parição. Nos pequenos animais deve-se adequar o tamanho do macho com o da fêmea, além de se permitir cópulas suficientes e em dias próximos para se garantir fetos de proporções e maturidade adequadas. O macho deve ser trazido às fêmeas que já tenham evoluído do pro-estro para o estro. Uma vez iniciado o período gestacional, as gestantes devem ser atendidas em suas necessidades nutricionais basais e suplementadas de acordo com sua atividade rotineira e com a fase gestacional. O desenvolvimento do feto segue graficamente uma curva sigmóide evidenciando um crescimento acentuado no terço final da gestação, quando a fêmea deve ser suprida com um fornecimento maior de alimento. A fêmea gestante não pode estar com o seu peso corpóreo abaixo nem tampouco acima da média, devendo receber uma alimentação balanceada, de forma quantitativa e qualitativa, que garanta um bom desenvolvimento fetal sem comprometer a economia orgânica materna. Além disto, preconiza-se uma diminuição de sua atividade de trabalho rotineira. Em relação aos bovinos, a vaca leiteira gestante deve ser “seca” quando atinge o 7o mês de gestação para se ter um período de descanso da lactação de dois meses a fim de se garantir um bom desenvolvimento corpóreo, com níveis de cálcio e de glicose suficientes para um bom trabalho de parto e uma nova fase lactacional. 2 Durante todo o período gestacional deve ser evitado o emprego de drogas terapêuticas, tais como antibióticos, antiinflamatórios, carrapaticidas, vermífugos e outros, pois estas substâncias podem apresentar efeitos indesejáveis tanto ao organismo materno quanto ao embrião ou feto. O uso de acupuntura, fitoterápicos ou medicamentos homeopáticos podem ser empregados com critério. Certos manejos que possam estressar o organismo materno, como mudança de pastagens, de residências ou intromissão de novos animais deve ser evitados. Nos pequenos animais não se recomenda qualquer vacinação durante a gravidez, enquanto que nos bovinos é recomendada a aplicação de vacina antibacteriana, em duas doses, 30 dias antes do parto, a fim de se melhorar a qualidade imunogênica do colostro. Nesta época, a vaca deve ser conduzida para um pasto maternidade onde possa ser assistida e tenha água potável à vontade, sol, sombra, ventilação, pasto limpo e se sinta segura em relação a invasão de predadores. O mesmo deve ser realizado em relação aos pequenos ruminantes e às éguas. Para as cadelas e as gatas deve ser preparado um local previamente onde elas possam preparar o “ninho”. 3. Cuidados ao Nascimento O trabalho de parto em uma exploração animal deve ser assistido para se poder intervir quando necessário. Deve ser garantido à parturiente condições mínimas para o seu progresso, o que inclui uma ambientação segura e tranqüila que proporcione conforto adequado durante todo o seu labor. Como cada parto é único e apresenta duração variável deve-se inspecionar o seu curso garantindo o progresso do nascimento dentro de parâmetros fisiológicos. Quando o parto é normal a própria mãe presta os primeiros atendimentos ao recém nato (RN). O objetivo do obstetra é identificar o momento em que o parto deixa de ser fisiológico e passa a ter um curso patológico, quando então dever ser realizado procedimento obstétrico específico, a fim de se garantir a vida da parturiente e a sobrevivência do produto. Em algumas situações um parto via vaginal pode ser tornar esgotante impedindo que a parturiente realize os primeiros cuidados com o recém nato, da mesma forma nos partos cesáreos, devendo então ser realizado os primeiros cuidados ao nascimento. Logo após o nascimento, entre um a cinco minutos, o filhote deve ser avaliado clinicamente para se determinar a sua viabilidade. Um sistema de escore, à semelhança do APGAR empregados em humanos, é preconizado para potros podendo ser adaptado para as demais espécies animais (Quadro 1). Um escore entre 7 e 8 traduz um estado clinico normal; e, entre 4 e 6 traduz depressão moderada; enquanto que um escore entre 0 e 3 denota depressão severa. Os cuidados serão maiores e mais urgentes quanto menor os valores de escore. Quadro 1 - Avaliação clínica do potro neonato (entre um a cinco minutos após o nascimento) Parâmetros Pontuação 0 1 2 Batimento cardíaco Ausente < 60/min. ≥60/min. Respiração Ausente Baixa, irregular. ≥60/min Tônus muscular Extremidade dos membros Alguma flexão dos membros Esternal Estimulação nasal Não responde Faz careta, refuga pouco. Tosse ou espirra Fonte: Adaptado de Martens (1982) in: Turner (1994) 3 a. Cordão umbilical: o cordão umbilical se rompe espontaneamente ou com ajuda da mãe nas eutocias. Quando necessário o cordão umbilical deve ser cortado com o auxilio de uma tesoura mantendo-se um coto de três a cinco centímetros de comprimento. Este não deve receber qualquer ligadura, exceto em casos de hemorragias, para não retardar o processo de mumificação e evitar a instalação de infecção anaeróbica. Posteriormente, após regularização das condições clinicas do RN, o curativo local pode ser feito com álcool hidratado, tintura de iodo ou acido pícrico a 0,5%, diariamente, até a sua queda e cicatrização do umbigo. b. Assistência Cardio-Respiratória: imediatamente a passagem do canal do nascimento o RN deve ter desobstruído as vias aéreas superiores para poder exercer o primeiro movimento inspiratório, promover a expansão pulmonar e realizar a hematose. As narinas do RN devem ser drenadas por gravidade mantendo-se a sua cabeça para baixo, podendo ser combinadas com massagens nasais externas, aspiração com pêra de borracha, sonda com seringa ou aspirador mecânico. A respiração normal precisa ser restabelecida dentro de dois a três minutos após o nascimento. Caso isto não ocorra, é necessário o estabelecimento de ventilação artificial por meio de mascara respiratória ou entubação orotraqueal visando a oxigenação do RN. A presença de mucosaspálidas e tempo de preenchimento capilar lentificado podem indicar colapso cardio- respiratório. Fluídos endovenosos podem ser dados a razão de 1ml para cada 30 gramas de peso vivo, durante cinco a 10 minutos, ou até que os batimentos cardíacos, os movimentos respiratórios e o tempo de preenchimento capilar sejam restaurados. Neonatos exibindo disfunção neurológica, choque ou desidratação severa deve receber glicose parenteral por via endovenosa, na dose de 0,25 ml para cada 25 gramas de peso vivo, de solução de dextrose a 20%. c. Temperatura ambiente: um RN deve ser mantido em uma temperatura ambiente entre 25 a 32 oC e uma umidade relativa do ar entre 50 a 60%. Todo filhote em um parto assistido deve ser friccionado com um pano seco ou compressa cirúrgica, do sentido da cabeça para o tronco, para secá-lo e estimulá-lo. Posteriormente, podem ser empregados colchões térmicos, bolsas de água quente, lâmpadas, garrafas com água aquecida, etc, com o cuidado de não expor os animais a queimaduras ou a ambientes muito quentes. Um RN hipotérmico, com uma temperatura corpórea entre 23 e 35o C, pode estar evoluindo para uma depressão cardiocirculatória e respiratória, paralisia gastrintestinal e coma. 4. Cuidados após o Nascimento Todos os mamíferos necessitam ser amamentados logo após o nascimento, para obter fonte de nutrientes e energia. Devido aos diferentes tipos de placentas nos animais domésticos a necessidade do colostro é variável, chegando a ser essencial nos ruminantes e eqüinos, que se tornam dependentes da transferência passiva de imunoglobulinas. A qualidade do colostro está relacionada com os níveis de imunoglobulinas, que deve conter um mínimo de 3000mg Ig-G/dl, o que resulta em uma densidade do colostro maior que 1.060. Toda propriedade de criação animal deve manter colostro estocado sob refrigeração ou congelamento para o caso de aleitamento artificial dos RN órfãos. Após o nascimento os RN devem apresentar o reflexo de sucção nos primeiros 30 minutos de vida. Um potro ou bezerro RN normal geralmente mantém-se em decúbito esternal por um a 10 minutos, e depois se levantam e localizam o úbere da mãe em torno de uma a duas hora de nascimento. Caso isso não ocorra, deverão ser auxiliados com a contenção da mãe. O fato de o 4 RN demorar a se alimentar pode indicar debilidade causada por asfixia nos primeiros minutos de vida. O estômago dos RN possui uma capacidade volumétrica em torno de 50 ml/Kg. No caso de aleitamento artificial dos potros ou bezerros estes devem receber de um a dois litros de colostro através de mamadeira ou sonda gástrica, divididos em mamadas de hora em hora. Os cães inicialmente ingerem 10 ml cada quatro a seis horas, enquanto que os gatos ingerem 5 ml cada quatro a seis horas. Esta quantidade vai sendo gradualmente aumentada. O RN que não é amamentado nas primeiras horas apresenta ausência de atividade gastro- intestinal e não se beneficia do efeito laxativo do colostro. O RN deve expulsar o mecônio entre quatro a 12 horas após o seu nascimento. E, caso o bezerro ou potro não defecar neste período deve ser utilizado um enema via retal para auxiliar essa eliminação e evitar a ocorrência de cólicas fatais. Os cães e gatos devem ser estimulados por meio de massagens na região ano- perineal com algodão umedecido em água morna. Roteiro de Estudos: Cuidados com o Recém Nato 1. Quando que se iniciam os cuidados obstétricos visando um parto normal? 2. Qual o principal cuidado obstétrico pré-nupcial e por quê? 3. Quais os parâmetros de seleção pré-nupcial relacionados ao macho? 4. Quais os parâmetros de seleção pré-nupcial relacionados à fêmea? 5. Quais as condições ideais para a realização da cópula? 6. Quais os principais cuidados obstétricos no pré-natal? 7. Explique o papel educativo que o veterinário deve exercer no atendimento pré-natal. 8. Quando que se deve intervir com os cuidados obstétricos nos recém natos? 9. Quais os principais cuidados obstétricos ao nascimento? 10. Explique o escore empregado para avaliação de depressão respiratória. 11. Quais os principais cuidados obstétricos após o nascimento?
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