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Módulo 2 — Cinemática Unidimensional Objetivos: Entender as definições de velocidade e acelera- ção escalares média e instantânea; saber utilizar os fundamentos do cálculo diferencial em questões de cinemática básica; conhe- cer as equações horárias do movimento com aceleração cons- tante e saber utilizá-las convenientemente. O curso de Física 1, a grosso modo, trata do estudo do mo- vimento. Em uma primeira abordagem, o movimento será estu- dado sem se preocupar com as suas causas. Trataremos apenas a forma do movimento. A parte da mecânica que investiga o movimento puro é chamada cinemática. Em primeiro lugar, trabalharemos apenas o movimento em uma direção. A cinemática tem uma abordagem determinística, ou seja, devemos, a partir de um dado movimento, escolher va- riáveis que forneçam a posição, velocidade e aceleração de um móvel que descreve esse movimento. Assim, utilizaremos tanto o estudo gráfico quanto o matemático para os diversos tipos de movimento. Posição: Para estudarmos o movimento de uma partícula precisamos identificar onde essa partícula está. Na figura abaixo, vamos considerar o eixo x como sendo a trajetória percorrida pelo homem, e queremos saber sua posição num instante de tempo qualquer t. Como pode ser observado o homem repre- senta uma partícula em movimento e a figura mostra o momento em que o ele se encontra na posição x(t) caminhando na direção x, a partir da origem definida no ponto x=0. Deste exemplo podemos obter também a idéia de trajetória que significa o conjunto de sucessivas posições ocupadas pela partícula no decorrer do tempo. Em outras palavras, é o cami- nho percorrido pela partícula em relação ao referencial. Nesse caso o referencial é a superfície da Terra na posição x=0. Uma partícula em repouso nunca varia sua posição, de forma que se isso for representado em um gráfico de posição por tempo, o resultado é uma reta horizontal, paralela ao eixo dos tempos. Observe que, para essa descrição gráfica é necessário que se adote um eixo de coordenadas e portanto um referencial. Vale ressaltar que o simples fato de assumirmos esta descrição como a fenomenologicamente correta estamos definindo desde já o es- paço (euclidiano unidimesional) e os entes (escalares e vetores) que descrevem essa natureza. Considere agora uma partícula num movimento mais com- plexo, na qual varie sua posição de forma linear com o tempo. A representação gráfica desse movimento é uma reta com incli- nação diferente de zero. A velocidade escalar média (v) é definida matemáticamente como a inclinação da reta acima (no caso, o coeficiente b). As- sim, v = ∆x ∆t Complicando um pouco mais o movimento, consideraremos agora um movimento no qual a posição da partícula varie com o tempo de forma quadrática. Universidade de Brasília - Física 1 - Prof. Pedro Henrique O conceito de velocidade média permanece o mesmo, com a ressalva de que ela não é constante, como no exemplo ante- rior. Para esse movimento, e outros mais complicados, é mais interessante saber o conceito de velocidade instantânea. A velocidade instantânea num determinado tempo t é de- finida como a inclinação da reta tangente à curva posição vs. tempo no instante t. É expressa matematicamente por v = lim ∆t→0 ∆x ∆t (Módulo 2 - Eq. 1) Podemos interpretar a velocidade instantânea como a velocidade média num intervalo de tempo muito pequeno. Observe que pelo resultado Módulo 2 - Eq. 1, temos que a velocidade instantânea tem exatamente a mesma definição que a derivada do espaço no tempo, ou seja: v(t) = dx(t) dt Derivada: Considere uma função x = x(t) qualquer. Chama-se derivada da função x(t) o limite: lim ∆t→0 x(t+ ∆t)− x(t) ∆t Usualmente, esse limite é representado por d dt x(t). Neste curso, adotaremos esta notação. Exemplos e Propriedades Seja a função x(t) = a + bt + ct2. De acordo com a definição de derivada: d dt x(t) = lim ∆t→0 a+ b(t+ ∆t) + c(t+ ∆t)2 − (a+ bt+ ct2) ∆t = lim ∆t→0 b∆t− 2ct∆t+ c∆t2 ∆t = lim ∆t→0 (b+ 2ct+ c∆t) Daí, d dt x(t) = b+ 2ct (Módulo 2 - Eq. 2) Sendo f e g duas funções, podemos definir as seguintes proprie- dades para as seguintes derivadas: 1. d dt (f ± g) = df dt ± dg dt 2. d dt (f · g) = df dt · g + dg dt · f 3. d dt ( f g ) = df dt · g − dg dt · f g2 É um bom exercício demonstrar as propriedades acima. Treine, também, a derivada utilizando o limite para a função: x(t) = (A+ t)n. Repare que a solução será: x(t) = n(A+ t)n−1. Além disso, podemos definir a variação da velocidade no tempo, chamada aceleração. A aceleração escalar média é defi- nida de forma análoga à velocidade, ou seja: a = ∆v ∆t , que tem valor instantâneo a = lim ∆t→0 ∆v ∆t , ou analogamente, utilizando a notação anteriormente introdu- zida: a = dv(t) dt ou a = d2x(t) dt2 . Pergunte-se Repare que definimos as grandezas físicas velocidade média, velocidade instantânea, aceleração média e aceleração instantâ- nea a partir da grandeza posição. Resumidamente, se derivarmos a posição em relação ao tempo teremos a velocidade instantânea. Se derivarmos a velocidade em relação ao tempo teremos a ace- leração instantânea. Um bom exercício é pensar no contrário. Se for dado a função aceleração igual a: a(t) = (A+ t)n. Como seria a função velocidade? Perceba que neste caso é ne- cessário informar a velocidade inicial da partícula. No caso da velocidade inicial ser igual a v0, o exemplo acima terá a solução: v(t) = (A+ t)n+1 n+ 1 + v0 Equações Horárias Vamos agora obter as equações horárias do movimento com ace- leração constante usualmente descritas nos livros-texto. Essas equações referem-se ao caso de aceleração constante. Consi- dere um objeto com velocidade inicial v0 no instanto t = 0. Sua velocidade v no instante t é dada por: a = a = v − v0 t− 0 ⇒ v = v0 + at (Módulo 2 - Eq. 3) Uma vez que a aceleração é constante, a média da velocidade é dada por v = 1 2 (v + v0) (Módulo 2 - Eq. 4) Universidade de Brasília - Física 1 - Prof. Pedro Henrique Substituindo v como encontrado em Módulo 2 - Eq. 3, temos: v = v0 + 1 2 at. Agora, lembrando que v¯ = ∆x ∆t e substituindo,vem: x− x0 t = v0 + 1 2 at, ou ainda, x = x0 + v0t+ 1 2 at2 Da equação da velocidade, acima apresentada, temos que t = v − v0 a . Substituindo na equação dos espaços: x− x0 = v0 ( v − v0 a ) + 1 2 a ( v − v0 a )2 a(x− x0) = vv0 − v20 + 1 2 (v2 − 2vv0 + v0) 1 2 v2 − 1 2 v20 = a(x− x0), ou ainda v2 = v20 + 2a∆x (Módulo 2 - Eq. 5) Vale verificar que dx(t) dt = d dt (x0 + v0t+ 1 2 at2) = v0 + at 1. Exercício Resolvido 2.1: Uma partícula alfa (núcleo de um átomo de Hélio) move-se no interior de um tubo reti- líneo oco com 2,0 m de comprimento, que é parte de um acelerador de partículas. (a) Qual a aceleração da partícula, supondo que seja constante, se ela entra com velocidade escalar 1, 0× 104 m/s e sai com 5, 0× 106 m/s? (b) Quanto tempo ela percorre no tubo? Solução: (a) Escolhemos como eixo x o eixo do tubo, como sen- tido positivo o do movimento da partícula e a origem como a entrada do tubo. São dados v0, v e x; procu- ramos a. Reescrevemos a equação Módulo 2 - Eq. 5 com x0 = 0 e substituímos os dados: a = v2 − v20 2x = (5, 0× 106 m/s)2 − (1, 0× 104 m/s)2 2(2, 0 m) = +6, 3× 1012m/s2. (b) Utilizamos agora a equação Módulo 2 - Eq. 4, resol- vida em x0 = 0, o que dá: t = 2x v0 + v = 2(2, 0 m) 1, 0× 104 m/s + 5, 0× 106 m/s t = 8, 0× 10−7 s = 0, 80µs. 2. Exercício Resolvido 2.2: Um foguete é lançado do re- pouso, de uma base submarina situada 125 m abaixo da superfície da água. Ele se move verticalmente para cima, com aceleração desconhecidamas suposta constante (os efeitos combinados de seus motores, da gravidade da Terra, do empuxo e da resistência da água) e alcança a superfície após 2,15 s. Quando ele rompe a superfície seus motores são automaticamente desligados (para tornar mais difícila detecção) e continua a subir. Qual a altura máxima que ele alcança? Solução: Poderíamos analisar o movimento do foguete no ar como se fosse um projétil em queda livre, desde que conhecessemos a velocidade inicial dessa parte do movi- mento. para resolver este problema, portanto, devemos analisar a parte subaquática do movimento, a fim de de- terminar a velocidade como a velocidade inicial da porção aérea. Essas partes devem ser trabalhadas separadamente, pois a aceleração muda na superfície da água. No movimento subaqueatico, conhecemos o desloca- mento, o tempo e a velocidade inicial (zero). A acele- ração não é necessária, mas queremos conhecer a veloci- dade final; a equação Módulo 2 - Eq. 4 fornece a relação adequada: v = 2(y − y0) t = 2(125 m) 2, 15 s = 116 m A velocidade na superfície é de 16 m/s, para cima. Ana- lisemos agora a porção do movimento correspondente à queda livre para cima. considerando aquela velocidade como velocidade inicial. Aplicamos a equação Módulo 2 - Eq. 5 na sua forma usual num movimento de queda livre, e encontramos a altura máxima determinando o ponto no qual a velocidade se anula: y − y0 = v 2 0 − v2 2g = (116 m/s)2 − 0 2(9, 8 m/s2) = 687 m. Universidade de Brasília - Física 1 - Prof. Pedro Henrique
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