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Cels o Luiz Caus E v o l u ç ã o d o s a n e a m e n t o n o E s p í r i t o S a n t o C e s a n ~ 2 0 1 2 Cels o Luiz Caus E v o l u ç ã o d o s a n e a m e n t o n o E s p í r i t o S a n t o C e s a n V i t ó r i a , E S ~ 2 0 1 2 Águas Limpas àsFontes e ChafarizesDas 1 ª e d i ç ã o C374d Caus, Celso Luiz. Das fontes e chafarizes às águas limpas : evolução do saneamento no Espírito Santo / Celso Luiz Caus. – Vitória : CESAN, 2012. 528 p. : Il., fotografias, gráficos e tabelas ; 20 x 26 cm. ISBN : 978-85-65901-01-7 1. CESAN – História. 2. Saneamento – (ES). 3. Saneamento – História – Brasil. 4. Hidrografia – (ES). 5. Departamento de Água e Esgotos – (ES). I. Título. CDD : 363.6198152 CDU : 628.198.152/.398.152 CIP – Catalogação na fonte Biblioteca de Apoio Maria Stella de Novaes Arquivo Público do Estado do Espírito Santo Co o r d e n a ç ã o g e r a l Coordenadoria de Comunicação Empresarial da Cesan P r o d u ç ã o MP Publicidade E d i ç ã o e r e v i s ã o Linda Kogure P r o j e t o g r á f i c o e d i a g r a m a ç ã o Link Editoração F o t o s Sagrilo(415, 416, 417, 418, 419, 420, 421, 422, 424, 425, 426, 427, 452 e 458) , Celso Luiz Caus (33, 60, 63, 64, 65, 69, 70, 73, 75, 83, 86, 89, 94, 95, 100, 101, 102, 283, 285 e 293), Edson de A. Quintaes (138), Helder Faria Varejão (87, 88, 165, 175, 201, 204, 244, 245, 273, 276, 284, 364, 365 e 392), Ana Nery Correa Barbosa (74), acervos da Cesan, do Arquivo Público do Espírito Santo, da Ufes, de Terezinha de Novaes Rocha (90), de Dalton Ramaldes (96), de Fernando César Costa (141), de Jaciel dos Santos Silva (284, 286 e 287), da família de Jonas Hortelio da Silva Filho (122) e fotos restauradas por José Tatagiba (28, 34, 36, 50, 55, 72, 79, 81 e 133). I m p r e s s ã o GSA Gráfica e Editora Ti r a g e m 2.000 exemplares Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan) Avenida Governador Blay, 186, 3º andar, Centro, Vitória, ES CEP 29010-150 – telefone + 55 (27) 2127.5000 Para Antônio Caus e Alira Nico Caus, meus amados pais. Eliana Barbosa Caus, minha querida esposa. Káryn Barbosa Caus Pelição e Kélvyn Barbosa Caus, os brilhos da minha vida. João Guilherme Pelição e Rafaella Oliveira de Morais, pelo afeto. Meus queridos irmãos Célia, Sérgio, Lurdinha, Ângela, Gilmar e Soraia, por tudo. Hamilton Coelho Filho (in memoriam), meu primeiro mestre e engenheiro da Cesan. A Deus, por tudo; Neivaldo Bragato, pela oportunidade; diretoria da Cesan, pelo apoio; Biblioteca da Cesan, especialmente o Júlio César da Silva Rocha; área de Patrimônio da Cesan; Paulo César Fontinelli, pelo apoio; Ângela Zorzal; Márcia Brito e o pessoal da Comunicação; equipe do Planejamento da Cesan, sobretudo o Sérgio Rabelo; Ana Cristina Munhós de Souza; área de meio ambiente, especialmente o Luciano Firme de Almeida; Elmo Luiz Campo Dall’ Orto; empregados que já se foram, aposentados que construíram a base da Cesan e os que estão na ativa; Arquivo técnico da Cesan, em especial a José Pedro da Rocha; Arquivo Público do Estado; e a todos que contribuíram para a concretização desta publicação. Muito obrigado! A g r a d e c i m e n t o s S u m á r i o Palavra do governador 11 Apresentação 13 Prefácio 17 Introdução 21 PA RT E 1 Cap. I C o l o n iz aç ão, f o n t es e ch a fa r i z es 2 7 Novo Arrabalde 39 Cap. II Fi m da e r a d o s ch a fa r iz es 4 9 Primeira década do século XX: captação das águas no Rio Duas Bocas e construção do primeiro reservatório da capital 49 Década de 1910 – Um projeto de água para Vila Velha: o reservatório do Cercadinho 72 Década de 1920 – O Estado arrenda os serviços de água e esgotos a uma empresa privada e depois os retoma 75 Década de 1930 – Estudos e projetos da barragem de Duas Bocas da nova adutora e do segundo reservatório da capital 82 Década de 1940 – Transferência dos serviços de água e esgoto para a Prefeitura de Vitória 90 Década de 1950 – Reversão e transferência dos serviços públicos de água e esgotos da Prefeitura de Vitória para o Estado. Criação do Departamento de Água e Esgoto (DAE) 97 De 1960 a 1967 – Atuação do Departamento de Água e Esgoto (DAE) 115 Cap. III Ju cu e Sa n ta M a r i a : p r i n ci pa i s m a n a n ci a i s da Gr a n d e Vi t ó r i a 1 2 7 Bacia hidrográfica de Duas Bocas 129 Rio Jucu, maior abastecedor de água da Grande Vitória e as intervenções desde o período colonial 131 Atuação do Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS) 136 Rio Santa Maria da Vitória – A degradação e suas consequências 144 A degradação dos mananciais do interior do Estado e suas consequências 151 S u m á r i o PA RT E 2 Cap. IV D o t e m p o da Ces a n 1 5 7 Década de 1960 A criação da Cesan 157 Saneamento no Brasil – Aspectos relevantes 166 Plano Nacional de Saneamento (Planasa) 168 Primeiro relatório do sistema de água e esgotos elaborado para a Cesan pelo Consórcio Sondotécnica e pelo escritório técnico Enaldo Cravo Peixoto 171 Primeiro Plano Diretor para o Sistema de Abastecimento de Água e Esgoto Sanitário de Vitória, Vila Velha e Cariacica 180 Conceição da Barra: primeiro sistema de abastecimento de água do interior do Estado 200 Década de 1970 A sequência das concessões e as primeiras obras 203 Principais estudos e projetos realizados e previstos na década de 70 229 Construção das instalações em Cobilândia para suporte à operação, manutenção, almoxarifado e transporte 258 Construção das instalações em Santa Clara para suporte à área de projetos obras e licitação 260 Construção da primeira Estação de Tratamento de Água de Duas Bocas 264 Construção do novo sistema de produção de água da Grande Vitória no Rio Jucu 267 Construção e ampliação do novo sistema de distribuição de água da Grande Vitória no Rio Jucu 278 Captação no Canal Marinho é desativada 282 Abastecimento aos conjuntos habitacionais 288 Primeiro sistema completo de esgotamento sanitário 292 Primeiro abastecimento da Serra Sede com captação nas nascentes das encostas do Morro Mestre Álvaro 292 Sistema de abastecimento de água de Guarapari 298 Década de 1980 Principais estudos e projetos 305 Construção do sistema de produção e distribuição de água de Carapina no Rio Santa Maria da Vitória 318 Programa para Atendimento a Comunidades de Pequeno Porte (CPP) 333 Outras obras 356 Programa de Desenvolvimento Operacional (PECOP) 368 Esgotamento sanitário 370 Década de 1990 Escassez de recursos financiados 375 Financiamento do Banco Mundial 375 Reestudo do Planejamento Global (Plano diretor) e Projeto Técnico do Sistema de Abastecimento de Água da Grande Vitória 382 Ampliação do sistema de abastecimento de água da Grande Vitória 387 Outros estudos, projetos e programas 401 Período institucional do setor 405 Primeira década de 2000 A retomada dos investimentose a Cesan no cenário nacional 407 Esgotamento sanitário: conclusão das grandes estações de tratamento da Região Metropolitana e de Domingos Martins 408 Programa Águas Limpas 412 Programa Águas Limpas é ampliado 430 Fortalecimento institucional da Cesan 448 Desempenho administrativo e operacional 450 Indicadores gerais da empresa 460 Década de 2010 Metas de cobertura de água e esgotamento sanitário 465 Águas Limpas dobram a capacidade dos reservatórios de água dos últimos 100 anos 466 Cesan alcança o dobro da cobertura média nacional em esgotamento sanitário 471Programa de Saneamento Rural (Pró-Rural) 479 De 1967 a 2012: aonde a Cesan chegou 484 Pérolas 503 Anexos 511 Referências 523 Sobre o autor 527 F o n t e s d e m u i t o s a b e r F o n t e s d e m u i t o s a b e r Todos os capixabas, que amam tanto esta nossa terra, merecem ler este livro. Em pri-meiro lugar, porque esta obra, assinada por Celso Luiz Caus e editada pela Cesan, faz justiça a pessoas que – ao longo de décadas – trabalharam arduamente para ofe-recer ao nosso povo um serviço de inestimável valor. Em segundo lugar, pela rique-za dos conhecimentos históricos aqui reunidos.Toda pesquisa sobre os diversos aspectos da evolução histórica do nosso estado é uma nova oportunidade que nos é dada de conhecer melhor o patrimônio de ex- periências, conquistas e realizações que herdamos do passado. São exemplos memo- ráveis de trabalho e visão que servem de orientação e inspiração para nossos contem- porâneos e, em especial, para aqueles que têm como missão e compromisso contri- buir para aumentar cada vez mais a qualidade de vida em nossa terra. Penso que conhecer e estudar o que se fez pelo Espírito Santo antes de nós não é dever apenas do governante, mas de todos os cidadãos, porque saber mais e melhor faz parte da própria essência da cidadania. Só assim podemos entender, por exemplo, que caminhos aquela Vitória dos tempos coloniais trilhou, até se transformar nesta capital linda e moderna da qual tanto nos orgulhamos. É com essa convicção que convido os capixabas a lerem este livro. Mais que tra- tar de fontes e chafarizes, ele faz justiça a homens públicos com os quais teremos uma eterna dívida de gratidão, pelo maravilhoso trabalho que realizaram. O programa de saneamento que estamos executando dá continuidade a esse esforço histórico de pro- moção do bem-estar e da qualidade de vida para todos os capixabas. E, assim, miran- do nos melhores exemplos do passado, estamos construindo o Espírito Santo do pre- sente e pavimentando o caminho para um futuro mais próspero e feliz. P a l a v r a d o g o v e r n a d o r Renato Casagrande Governador do Espírito Santo P a l a v r a d o g o v e r n a d o r 11 U m n o v o e n f o q u e s o b r e o s a n e a m e n t o Com o lançamento do livro Das fontes e chafarizes às águas limpas: evolução do saneamento no Espírito Santo, a Cesan deixa marcada na história a comemo-ração dos seus 45 anos. Escrito por Celso Luiz Caus, um dos nossos mais anti-gos e respeitados engenheiros, trata-se de um investimento para materializar e preservar o valor da cultura pelo resgate da memória da Companhia e de toda a trajetória do saneamento no Espírito Santo. A Cesan sempre se preocupou em preservar sua história. O primeiro livro publicado pela Companhia, A Cesan e sua história, foi escrito em 1994 por Dal- va Broedel, também da nossa equipe de empregados. Após 18 anos o mundo é outro. A Cesan e o saneamento conquistaram outra feição em todos os senti- dos. Nesta obra, Celso Caus amplia a pesquisa e extrapola o foco institucional, norteando-se pela evolução do saneamento. Da origem da distribuição de água em Vitória e em Vila Velha, com os cha- farizes, que tiveram dupla função: distribuir água e embelezar as cidades à moda artística europeia, o livro percorre toda a evolução dos sistemas de saneamento, passando pelas obras do Governo de Jerônimo Monteiro (1908-1912), quando os capixabas da capital pela primeira vez tiveram água encanada em suas moradias, até os dias de hoje, em que a Cesan, por meio do Programa Águas Limpas, uni- versalizou o abastecimento nos 52 municípios capixabas atendidos pela Empresa. Quanto aos sistemas de esgotamento sanitário, os municípios do Espírito Santo onde a Cesan atua deram um salto de qualidade. Da estaca zero, dos sé- culos passados, em que o esgoto era lançado in natura e em tonéis no mar, ao A p r e s e n t a ç ã o Neivaldo Bragato Presidente da Cesan A p r e s e n t a ç ã o 13 U m n o v o e n f o q u e s o b r e o s a n e a m e n t o aumento da cobertura de 20% para 60%, em menos de 10 anos, entre 2003 e 2012, com meta de atingir 70% em 2014 e a sonhada universalização na pró- xima década, em 2025. O leitor também conhecerá os rios que abastecem a Região Metropolitana de Vitória, com informações técnicas, a situação da degradação e as interven- ções históricas ocorridas desde o período colonial até a atual década nos prin- cipais sistemas. Os rios do interior do Estado também estão contemplados, incluindo a substituição dos primitivos mananciais por outros mais distantes dos centros urbanos e pela construção de barragens, uma das consequências da deteriora- ção ambiental das últimas décadas. O livro registra ainda aspectos relevantes do saneamento no Brasil, como o Plano Nacional de Saneamento (Planasa) e o período institucional do setor até ser sancionada a Lei 11.445 da Política Nacional de Saneamento. E muito sobre a criação da Cesan e do órgão que a antecedeu, o Departamento de Água e Esgotos (DAE). Ricamente ilustrado com fotografias, gráficos e tabelas, Das fontes e chafa- rizes às águas limpas pretende contribuir com um novo enfoque do saneamen- to pela ótica de sua contribuição ao desenvolvimento econômico, social e am- biental do Espírito Santo. 14 U m a o b r a s e m p r e c e d e n t e s Tenho participado da evolução do saneamento básico no Estado do Espírito San-to desde 1964, quando atuei no primeiro Plano Diretor de Esgotamento Sani-tário de Vitória como estagiário de engenharia. Em 1966 ingressei no Departa-mento de Água e Esgotos do Estado do Espírito Santo (DAE) que, em 1967, se tornou Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan), onde permaneci até 1971. Foi na Cesan que nasceu a minha motivação para aprofundar os estu- dos na área de saneamento básico por meio da convivência com os excelentes fun- cionários dessa empresa, resultando em especialização, mestrado e doutorado, o que me possibilitou atuar como professor no Departamento de Hidráulica e Sa- neamento da Ufes, de 1971 a 2003. Atualmente sou professor titular na Faculda- de de Aracruz e consultor. Em 1999, fui diretor presidente da Cesan quando o engenheiro Celso Luiz Caus coordenava os estudos relativos ao planejamento (Plano Diretor) e ao projeto técni- co do sistema de abastecimento de água da Grande Vitória. Porém, nos aproxima- mos, de fato, em 1984, quando ele coordenava os projetos de engenharia do Progra- ma de Abastecimento de Água de Comunidades de Pequeno Porte (CPP), hoje, de- nominado Programa Pró-Rural da Cesan. A dimensão social desse programa é fantástica, pois beneficia as populações ru- rais sem água potável para consumo. Eu e o Celso saíamos de madrugada de Vitória rumo ao interior, à comunidade a ser contemplada com o sistema de abastecimen- to de água. Na comunidade, definíamos o manancial abastecedor, íamos de casa em casa contando o número de moradores, o que permitia quantificar a vazão de água P r e f á c i o 17 P r e f á c i o Robson Sarmento* U m a o b r a s e m p r e c e d e n t e s requerida pela população, parâmetro essencial para a elaboração do projeto de enge- nharia para qualquer sistema de abastecimento de água. Não me esqueço das advertências feitas por ele inúmeras vezes, quando estávamos com sede e fome: não beba essa água (bebíamos guaraná sem gelo porque não havia energia elétrica), não coma verduras e não coloque os pés na água, pois o córrego que a população utiliza contém o parasita transmissor da esquistossomose. Também des- taco uma situação em que coletamos amostra de água da nascente que iria suprir a co- munidade de Estrela do Norte. Não era possível chegar à nascente, pois a várzea esta- va inundada, mas Celso não viu qualquer dificuldade e logoviabilizou um trator para chegarmos ao local. Poderia enumerar vários outros eventos semelhantes aos citados. Afinal, sempre foi notório o compromisso do Celso de levar água potável até àquelas comunidades carentes. Assim foi meu encontro com o Celso durante as elaborações e implantações dos mais simples aos mais complexos projetos de sistemas de abasteci- mento de água para o nosso Estado. O currículo do Celso: engenheiro civil pela Ufes, especialista em engenharia sanitá- ria e saúde pública pela Fundação e Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), atuando na Cesan há 37 anos, ocupando várias gerências, assessorias e Diretoria de Relações com o Cliente e membro do Conselho Estadual de Recursos Hídricos desde o seu início, o lhe permite es- crever Das fontes e chafarizes às águas limpas: evolução do saneamento no Espírito Santo. O texto apresenta a evolução do saneamento no Espírito Santo. Na sequência, está um resumo do conteúdo. A partir de 1643, um aqueduto levou água da Fon- te Grande para a cozinha do convento São Francisco na cidade alta de Vitória. Em 1828, foi construído o primeiro chafariz na Rua Barão de Monjardim. Ao término do século XIX, Vitória contava com cinco chafarizes. Em 1909, foi feita a captação 18 de água em Duas Bocas no município de Cariacica. Os serviços de esgotos são descri- tos, contemplando desde os carregadores do Centro de Vitória (que descartavam os dejetos no mar) até o presente dia. O desenvolvimento institucional descreve a ope- ração do Estado no sistema de água e esgoto, passando pela iniciativa privada, Prefei- tura de Vitória e retorno ao Estado com a criação do Departamento de Água e Esgo- to (DAE) até a criação da Cesan. As principais obras abrangem 45 anos de existência do saneamento no Estado. Além disso, são abordados: as concessões dos serviços de água e esgoto, os planos diretores de água e esgoto, sistemas construídos, principais relatórios, estudos e projetos, evolução do atendimento à população com serviços de água e esgoto. A evolução em epígrafe inclui as décadas do período de 1910-2010. O livro é ilustrado com mapas, gráficos, plantas e fotografias cuidadosamente elaborados, o que torna sua leitura mais atrativa. Das fontes e chafarizes às águas limpas: evolução do saneamento no Espírito Santo constitui-se numa obra-prima para a literatura capixaba sem precedentes no tema. Pelo conteúdo, profundidade e complexidade dos detalhes, ele é um livro no- tável, uma bibliografia que soma o que sabemos sobre o saneamento básico no Esta- do do Espírito Santo. Certamente, o livro é uma fonte de inspiração constante para futuras obras desse tipo. Ao Celso, minha gratidão por ter o privilégio de escrever este prefácio e, como capixaba, os sinceros agradecimentos pelo livro. Finalmente, o meu respeito e ad- miração pela pessoa e pelo profissional que você é. Que Deus o acompanhe sempre. *Ex-diretor presidente da Cesan; engenheiro; especialista; mestre; Ph.D e professor aposentado da Ufes e professor titular Faculdade de Aracruz. P r e f á c i o 19 A l o n g a t r a j e t ó r i a Quando comecei na Cesan como estagiário de engenharia, a Companhia existia há ape-nas sete anos e meio. Tive o privilégio de presenciar, participar e acompanhar nesses 37 anos o impulso da nossa competente Cesan. No final de 1969 tinha cerca de 50 mil ligações de água e, no término de 2011, as ligações somavam 347.763 na Gran-de Vitória e 180.728 no interior.Em setembro de 2011, recebi o convite do presidente da empresa, Neivaldo Bragato, para escrever um livro sobre a Cesan. Não hesitei, pois era uma forma de retribuir tudo o que aprendi. Por outro lado, seria a oportunidade de revisitar a história e reencontrar os responsáveis por grande parte do que foi construído e a razão de estarmos aqui. Conhe- cer a história é sem dúvida, o melhor caminho para entender o presente e mudar o futuro. Imediatamente comecei a pensar no que escrever e para quem. Primeira respos- ta: aos empregados que ainda estão na ativa e aos recém-chegados para que tenham acesso à longa trajetória da construção da Cesan, e que este livro seja útil na constru- ção da Cesan de hoje e do futuro. Toda concepção e execução se voltaram também aos empregados aposentados – verdadeiros profissionais em prol do saneamento – que construíram a base da empresa e, certamente, por tudo que vivenciaram, devem se encontrar nas páginas a seguir. Segunda resposta: concluí que seria importante ampliar o escopo aos pesquisa- dores, estudantes e ao público em geral. Por isso, a pesquisa abrangeu o período ante- rior à Cesan, a fase atual e a projeção futura. Assim, na Parte I, está uma síntese histó- rica desde o período da colonização até a criação da Cesan, sem deixar de contextua- lizar o cenário dos recursos hídricos e do meio ambiente na Grande Vitória e no in- I n t r o d u ç ã o 21 I n t r o d u ç ã o Celso Luiz Caus A l o n g a t r a j e t ó r i a terior do Estado. Na Parte II, mais técnica, apresenta a evolução da Cesan, enfocan- do também o Plano Estratégico do Governo do Estado do Espírito Santo 2011-2014. O desafio de pesquisar a evolução do saneamento no Espírito Santo trouxe sur- presas. Umas delas foi encontrar o registro da primeira construção abastecida com água encanada em domicílio, em Vitória, a partir de 1643, um aqueduto que trouxe água da Fonte Grande para a cozinha do convento São Francisco. Nos primórdios da Vila de Vitória estão as fontes de água potável que, no iní- cio do século XIX, de tão precárias precisaram de reformas. Em 1828, na antiga Rua São João, hoje Barão de Monjardim, foi construído o primeiro chafariz do Estado. Em Vila Velha, mais precisamente na orla da Prainha, a água era obtida da fonte de Inhoá, considerada de excelente qualidade e tão importante que recebeu a visita de D. Pedro II, em 1860. No fim do século XIX e início do século XX, Vitória contava com cinco cha- farizes, cujo triste período foi finalizado, em 1909, com a canalização das águas de Duas Bocas, notadamente no Rio Pau Amarelo, em Cariacica. E Jerônimo Mon- teiro construiu o primeiro reservatório da capital no Morro de Santa Clara. Os serviços foram estendidos para Vila Velha, e construído o reservatório no Morro do Cercadinho, próximo à Prainha. Hoje, a realidade é outra com a universaliza- ção dos serviços de água. Em Das fontes e chafarizes às águas limpas também mostro a trajetória dos servi- ços de esgoto, pioneiramente no Centro de Vitória, desde os carregadores que trans- portavam e lançavam os dejetos na maré até o recente aumento da cobertura de es- 22 goto de 20% para 60% em menos de 10 anos, com meta de 70% em 2014 e a univer- salização em 2025. Na parte institucional, descrevo a operação do sistema de água e esgoto pelo Es- tado, passando pela iniciativa privada, Prefeitura de Vitória e o retorno ao Estado, com a criação do Departamento de Água e Esgoto (DAE) até a criação da Cesan. Estão descritas as atuações de cada órgão notadamente nas suas realizações de estu- dos, projetos, obras e operação. Estruturei a evolução da Cesan por décadas, com a sequência das concessões dos serviços, planos diretores de água e esgoto, sistemas construídos, principais rela- tórios, estudos e projetos, evolução do atendimento até chegar à universalização do atendimento com água e o alcance da cobertura de 60% com esgotamento sanitário, o dobro da média nacional. Relacionei as principais obras construídas ao longo dos 45 anos na Grande Vitó- ria e no interior, e situei também as dificuldades e as conquistas relativas aos recursos financiados, incluindo a linha de financiamento do Banco Mundial, nos anos 1990, e a retomada dos investimentos a partir da década de 2000, cujo fortalecimento,de- sempenho administrativo e operacional, e os indicadores gerais da empresa destaca- ram a Cesan no cenário nacional. Os gráficos, mapas, desenhos esquemáticos e fotografias permitem, em função do que foi construído pelos seus empregados ao longo dos anos, visualizar as conquistas da Ce- san. Espero ter contribuído para o registro da evolução do saneamento no Espírito Santo. Boa leitura! I n t r o d u ç ã o 23 P a r t e I24 C o l o n i z a ç ã o , f o n t e s e c h a f a r i z e s 25 PAr te 1 C o l o n i z a ç ã o , f o n t e s e c h a f a r i z e s 27 O fontesfontesC o l o n i z a ç ã o, Capítulo I histórico 23 de maio de 1535 marcou a chegada de Vasco Fernandes Coutinho e sua tripulação de 60 homens. Do batismo das terras de sua Capitania habitada somente por índios, surgiu o nome Espírito Santo em homenagem ao dia dedicado à terceira pessoa da Santíssima Trindade, segundo o historiador José Teixeira de Oliveira. Fun- dada a Vila do Espírito Santo, hoje, Vila Velha, ainda em 1535, passou de Vila à Ca- pitania. Depois, de Província (1822) a Estado (1889). À primeira vista, o local parecia ser a foz de um grande rio, mas era uma baía ma- rítima entre os morros Piratininga e Moreno. Ao longe, avistaram as pequenas ilhas que, posteriormente, foram doadas a alguns parceiros. A atual Ilha do Boi a Dom Jorge de Menezes e, a Ilha do Frade, para Valentim Nunes. A do Frade tem esse nome porque, tempos depois, os beneditinos tomaram posse dela. A atual Ilha de Vitória, chamada de Santo Antônio, a maior de todas, coube a Duarte de Lemos, em 15 de julho de 1537, por sua luta vitoriosa contra os indígenas na ocupação do território. Conhecida como Ilha do Mel, Ilha de Santo Antônio, Ilha de Duarte de Lemos e Vila Nova, em 8 de setembro de 1551, batizaram-na de Ilha da Vitória pelo sucesso conseguido numa sangrenta batalha contra os índios. e C h a f a r i z e s P a r t e I28 Duarte de Lemos edificou a Capela de Santa Luzia na sede de sua fazenda e deu início à agricultura. Entre 1537 e 1540 construiu um engenho de açúcar, cujas plan- tações ocupavam principalmente a parte lateral oeste do Morro de São Francisco. Casas foram erguidas na parte mais alta da ilha, formando o primeiro núcleo habita- cional. Como havia muitas “capixabas” – roças de milho, ou roças velhas, na expres- são indígena – o termo capixaba passou a denominar os moradores da Ilha. Depois, ampliou-se para toda a população do Espírito Santo. Ao que parece, Vasco Coutinho e Duarte de Lemos tiveram desavenças. A his- toriografia registra que os dois se encontraram em Portugal para “passar uma escri- tura de doação da Ilha de Santo Antônio perante o notário geral da Corte”, em 22 de agosto de 1540, conforme José Teixeira de Oliveira. Duarte de Lemos só retor- nou ao Brasil na comitiva de Tomé de Souza, em 1550, que o nomeou delegado da Capitania de Porto Seguro. Capela de Santa Luzia erguida por Duarte de Lemos C o l o n i z a ç ã o , f o n t e s e c h a f a r i z e s 29 É possível que Vasco Coutinho só tenha retornado ao Espírito Santo, em 1547, ao ser informado sobre as condições deploráveis de suas terras brasileiras. O que hou- ve? A incompatibilidade entre brancos e índios e o desgoverno de Dom Jorge de Me- nezes, o substituto dos sete anos de ausência do donatário. Diante dos constantes ataques indígenas, iniciou-se, no Brasil, o movimen- to de catequização dos índios. D. João III confiou a missão à Companhia de Je- sus, fundada pelo espanhol Inácio de Loyola, na França, em 1534. O padre Afon- so Brás, possuidor de qualidades de carpinteiro e arquiteto, foi designado para a Capitania do Espírito Santo, chegando à Vila de Vitória em abril de 1551. Cons- truiu uma casa, depois conhecida como Porto dos Padres, próximo ao atual Porto de Vitória e à Rua General Osório. A Vila de Vitória, fundada em 1551, está entre as seis mais antigas do Brasil. Como já mencionado, o núcleo urbano originou-se na parte alta. Com topografia montanhosa e rochosa, suas ruas eram sinuosas e estreitas. Circundada pelo mar, a parte mais baixa sempre alagava. Atesta o historiador Mário Freire: “A preocupação em evitar as baixadas paludo- sas nesta ilha, [...] e, ao mesmo tempo, o cuidado de melhor defesa contra constan- tes assaltos de indígenas ou de invasores teriam, provavelmente, determinado a fun- dação de Vitória no alto da colina.” Os jesuítas também se instalaram na parte alta da ilha e construíram sua igreja e um colégio. Em 1552, quando visitavam Vitória, o governador geral Tomé de Souza e o padre Manoel da Nóbrega encontraram o Colégio Jesuíta e a Igreja São Tiago em fase embrionária. Um ano depois, Afonso Brás foi substituído pelo padre Brás Lou- renço, que chegou na mesma expedição de José de Anchieta, em 1553. Quase uma década depois, em fevereiro de 1561, faleceu Vasco Fernandes Cou- tinho. Seu corpo foi sepultado na Capela Nossa Senhora do Rosário, perto da Prai- nha. Seu sucessor, Vasco Coutinho Filho, tomou posse em 1563, ficando no cargo até a sua morte, em 1589. Foi sucedido pela esposa, Luísa Grimaldi, a única mulher que governou o Espírito Santo por quase quatro anos. Ela doou uma área de terra aos recém-chegados frades franciscanos para que construíssem o Convento de São Fran- cisco, no Morro da Fonte Grande. Na encosta do morro foram erguidas a residência e a capela e, na parte mais alta, o convento, iniciado em 1591, pelo frade franciscano Antônio dos Mártires. O mor- P a r t e I30 ro foi batizado de Fonte Grande por possuir uma das maiores fontes de água da região. Foi a primeira cons- trução abastecida com água canalizada em domicí- lio, em Vitória, a partir de 1643. Descreve o historia- dor Luiz Derenzi: “O guardião frei Paulo de Santo An- tônio deve ter sido o primeiro entendido na arte de ni- velar, topógrafo, digamos assim, na Vila de Vitória. Foi o construtor do aqueduto que trouxe água da Fonte Grande para a cozinha do convento.” A gestão de Luísa Grimaldi registrou outro trun- fo: a vitória sobre a invasão de Thomas Cavendish, o corsário inglês expulso da Ilha, em 1592. Naquele mes- mo ano registrou-se a construção de dois fortins no lu- gar mais estreito da baía, em frente ao atual Morro do Penedo, então chamado Pão de Açúcar. Noventa anos depois, em 1682, construiu-se, no local, o Forte de São João para defender a entrada da baía. No início do século XVII, o aspecto da ilha per- manecia semelhante ao do início da sua ocupação: ca- sas construídas de taipa, cobertas com sapé ou palha de pindoba formavam o núcleo urbano. O desenvolvi- mento da ilha ocorria de maneira lenta, fruto de suces- sivas administrações mal preparadas, descaso do Go- verno de Portugal, tributos cobrados para recuperar as finanças portuguesas e constantes invasões. Em 1674, a Capitania, decadente pelo desinteresse dos herdeiros de Vasco Cou- tinho, foi vendida ao coronel Francisco Gil de Araújo. Ele reconstruiu os engenhos e o Forte São João, já que este sofrera muitos danos na batalha contra os holandeses. Na entrada da baía, em Vila Velha, edificou-se o Forte São Francisco Xavier, onde, hoje, está a guarnição do Exército. Mesmo com toda disposição, Francisco Gil de Araú- jo não conseguiu erguer a Capitania. Mudou-se para Salvador, onde faleceu em 1685. No final do século XVII, a situação ainda era de extrema pobreza. Diante desse cenário, Derenzi traduz: “Fecha-se o século com mais um compasso de espera morti- C o l o n i z a ç ã o , f o n t e s e c h a f a r i z e s 31 ficante. E a vila não se faz cidade, sem ruas, sem escolas, onde as notícias, de longe em longe, chegam com os veleiros arribados e por bandosafixados pelos capitães-mores impertinentes.” O único destaque fica para as obras dos jesuítas e dos franciscanos. A população, em 1751, era de 1.390 habitantes, quase o dobro do quarto do sé- culo anterior. Em 3 de setembro de 1758, surgiu, em Lisboa, uma onda de protestos contra o monopólio do vinho, época em que o Rei Dom José sofrera um atentado. A culpa por fomentar tal rebelião foi atribuída aos jesuítas. Um ano depois, em 3 de setembro de 1759, sob a influência do ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, Convento de São Francisco: primeira construção com água canalizada a partir de 1643 P a r t e I32 o Marquês de Pombal, publicou-se o decreto de expulsão dos jesuítas de Portugal e de suas colônias. O decreto tachava aqueles religiosos de traidores, rebeldes e adver- sários da Coroa portuguesa. Em 1760, os jesuítas foram expulsos do Espírito Santo, a exemplo do que ocorreu no Brasil. No final do século XVIII, a população da Vila de Vitória contava com 7.225 ha- bitantes, dos quais 4.898 eram escravos. No início do século XIX, com a queda dos regimes absolutistas e o desejo de países – como a França e a Inglaterra de conquistarem novos mercados – Portugal anunciou nova diretriz: priorizar a ocupação do interior, abrindo estradas e ligando os núcleos povoados na colônia brasileira. Parte dessa missão coube a Francisco Al- berto Rubim, nomeado em 12 de junho de 1812, responsável pela abertura de par- te da atual BR-262. Até parte do século XIX, o Espírito Santo pertencia à jurisdição da Bahia. Sua separação foi assinada em 1809. De acordo com Derenzi, “[...] na Vila de Vitória, os mangues, os banhados urbanos, as fontes de água potável, o aspecto das casas, as praças e os cais de atracação de barcos, reclamavam providências, necessárias ao conforto dos pobres moradores, insulanos.” Coube a Rubim aterrar alguns alagadiços, facilitando a locomoção dos pedes- tres, reparar as fontes de água potável, levantar a planta da zona urbana e realizar um novo censo populacional da Capitania, que contava com 24.587 almas, incluin- do 12.100 escravos. Eram 3.729 casas e 75 engenhos. Rubim governou o Espírito Santo durante sete anos. Proclamada a Independência do Brasil, a Ilha de Vitória passou à categoria de ci- dade, em 17 de março de 1823. Posteriormente, ficou conhecida como Vitória, Ci- dade Presépio. Em 1828, na antiga Rua São João, atual Barão de Monjardim, foi construído o primeiro chafariz do Estado. A água brotava de fontes da mata do Maciço Central, do Morro do Vigia. Foi restaurado em 1938. É o único que restou. A cidade tinha cerca de 900 casas. Em Vila Velha, mais precisamente na orla da Prainha, a água era obtida da Fonte de Inhoá, considerada de excelente qualidade. Inhoá, em tupi, significa cen- topeia. Em 1844, preocupado com a saúde pública, o vice-presidente da Província, José Francisco de Andrade e Almeida Monjardim, disse em seu pronunciamento à C o l o n i z a ç ã o , f o n t e s e c h a f a r i z e s 33 Assembleia: “Julga a Câmara da Vila do Espírito Santo que as obras mais necessárias àquele município são [...] a pequena ponte que dá passagem para a fonte de Inhoá, e o conserto desta fonte, cujo mau estado faz com que se misture a água potável com as de lavar, o que muito deve prejudicar a saúde pública.” A Fonte de Inhoá foi tão importante que recebeu a visita do imperador D. Pe- dro II, em 28 de janeiro de 1860. A agenda imperial incluiu também o Convento da Penha, a Igreja do Rosário e a Câmara. Pouco a pouco, a pioneira fonte de Vila Velha ampliou seu status e passou a ser canalizada. Primeiro, virou caixa d’água de Inhoá, cuja obra foi sancionada (lei nº 25) pelo presidente da Província, Francisco Ferreira Coelho, em 1871. O custo gi- rou em torno de 1:386$000 réis. Dois anos depois, em contrato firmado com Hen- rique Gonçalves Laranja, Vila Velha teve água canalizada da Fonte de Inhoá para o chafariz da Praça da Matriz. Primeiro chafariz da Capichaba, 1828 P a r t e I34 Possível chafariz em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário, Vila Velha C o l o n i z a ç ã o , f o n t e s e c h a f a r i z e s 35 Vista geral do Convento e Prainha, 1905 Bomba de água manual na praça em frente ao Palácio P a r t e I36 Mapa da Província do Espírito Santo C o l o n i z a ç ã o , f o n t e s e c h a f a r i z e s 37 Abastecimento de água em Vitória: chafariz do Largo de Santa Luzia até 25 de setembro de 1909 Em Vitória, no final do século XIX e início do século XX, o abastecimento de água era feito por meio de chafarizes e por carroças, que transportavam água em barris. Quem necessitava de água enfrentava filas, munido de baldes, panelas, talhas ou latas. Em tempos de estiagem, os moradores buscavam água em canoas no Rio Marinho. Eram cinco chafarizes: da Fonte Grande, da Capixaba, da Lapa, da Ladeira do Chafariz e de São Francisco, cujas águas foram canalizadas de fontes da encosta que circunda a baía de Vitória. Além da sua função pública, os chafarizes eram também monumentos artísticos e arquitetônicos. P a r t e I38 Antigo chafariz na Villa Moscoso C o l o n i z a ç ã o , f o n t e s e c h a f a r i z e s 39 Após a proclamação da República, a nova Constituição Política do Estado foi proclamada em 2 de maio de 1892. No dia seguinte, José de Melo Carvalho Muniz Freire assumiu o Governo. Com a nova Constituição, foi extinta a Intendência e cria- do o Governo Municipal de Vitória. Cleto Nunes Pereira foi eleito para presidir o Conselho Municipal, em 27 de novembro, tomando posse no dia 19 de dezembro. Após muitos anos de insucessos, somente em 1891, surgiram os primeiros estu- dos para o sistema canalizado de abastecimento de água. Foi assinado contrato com a Companhia Brasileira Torrens, que apenas iniciou a construção do alicerce do re- servatório de Santa Clara, em Vitória, além de uma pequena represa no Rio Formar- th (era assim a grafia na época), em Viana. A Torrens abandonou a obra, rescindiu o contrato e, mais uma vez, frustrou a expectativa da população. A canalização das águas da Fonte Grande – para a construção do Reservatório de Santa Clara – começou no Governo de Muniz Freire (1892-1896) e chegou a ter até pedra fundamental, datada de 23 de outubro de 1893. Porém, nada prosseguiu. O único imóvel que dispunha de água encanada era a fábrica de cerveja Serrat & Schi- midt, construído em 1884. A água era da Fonte dos Cavalos. Um detalhe que chamava atenção era o apelido dado aos carregadores de deje- tos, ”Os Tigres”, que lançavam os dejetos nas marés durante a noite. Novo Arrabalde Em 1896, ainda no governo Muniz Freire, a meta era a expansão urbana norteada pelos princípios de higiene e salubridade adotados em São Paulo e Rio de Janeiro. Por isso, criou-se a Comissão de Melhoramentos da Capital. Para coordenar os tra- balhos, contratou-se o engenheiro sanitarista Francisco Saturnino de Brito que ini- ciou o levantamento topográfico da área litorânea do nordeste da Ilha. Chamado de “Projeto de um Novo Arrabalde” pretendia ampliar a mancha urbana habitacio- nal de Vitória, com a ocupação das praias. O projeto incluiu estudos específicos so- bre saneamento, como abastecimento de água e drenagem. Para o sistema de esgoto, inicialmente definiu-se um sistema separador de cole- ta mas, logo em seguida, o autor adotou um sistema unitário, indicando um sistema de propulsão mecânica e a abertura de um canal axial à grande avenida. P a r t e I40 Capa do Projeto “Um Novo Arrabalde” e Relatório da Commissão de Melhoramentos da Capital C o l o n i z a ç ã o , f o n t e s e c h a f a r i z e s 41 P a r t e I42 “O abastecimento d’água aoNovo Arrabalde importa em um volume de cerca de 4.500.000 litros, tomando a base de 300 litros por habitante”, com população es- timada em 15 mil habitantes e vazão de 53 litros por segundo. A captação estudada era do córrego de Jucutuquara, onde duas nascentes produziam 4,7 litros por segun- do. Adotaram-se para estudo e segurança, 4,4 litros por segundo para abastecer so- mente 1.267 habitantes. As nascentes ficavam nas cotas de 90 e de 68,8 metros e fo- ram reunidas na cota de 68,8 metros e numa tubulação de 100 milímetros de aço até o reservatório de Jucutuquara. O autor do projeto fez ainda referência a uma possí- Anteprojeto de esgoto do Novo Arrabalde, 1896 C o l o n i z a ç ã o , f o n t e s e c h a f a r i z e s 43 vel captação nas cabeceiras do Rio “Fonte Limpa”, na Serra do Mestre Álvaro, com vazão de 55 litros por segundo, medida por flutuador. Por segurança, sugeriu 20 li- tros por segundo. O comprimento da adutora seria de aproximados 12.500 metros. Desses estudos não foi possível identificar até que ponto houve fidelidade ao pro- jeto ao longo dos trabalhos de urbanização do Novo Arrabalde. Sabe-se que, na dé- cada de 1920, houve captação no Córrego Jucutuquara. Saturnino de Brito (Campos, 1864 – Pelotas, 1929) é considerado pioneiro da engenharia sanitária e ambiental no Brasil. Foi responsável por importantes projetos urbanísticos de cidades brasileiras, como Vitória, Santos, Petrópolis. Campos, Reci- fe, Natal, Pelotas e Rio de Janeiro. Entre 1896 e 1929, realizou projetos para mais de 40 cidades de diferentes regiões do país. Tinha preocupação com as condições sani- tárias e ambientais causadoras de graves surtos epidêmicos humanos. Em 1930, as ca- pitais com sistemas de água e esgotos, em parte, deveu-se aos seus esforços. Foi elei- to patrono da engenharia sanitária brasileira pelo Congresso da Associação Brasilei- ra de Engenharia Sanitária e Ambiental. Em 1996, completa- ram-se 100 anos do “Projeto de um Novo Arrabalde para Vi- tória (ES)”, elaborado por Saturnino de Brito. Em 1901, Vitória ainda era abastecida por cinco chafari- zes. A população havia passado para cerca de 12 mil pessoas. Em 1905, no Governo de Aristides Navarro, passou-se a fornecer um barril por família a preço variável, com água vinda do Rio Jucu. Entre 1905 e 1907, com a mancha urbana se expandin- do, os chafarizes já não ficavam tão próximos das novas áre- as, por isso, o transporte de água era feito por bondes movi- dos a tração animal. O primeiro sistema de abastecimento de água da capital vindo das cabeceiras do Rio Duas Bocas, de Cariacica, foi im- plantado entre 1909 e 1912. Em seu trajeto, a adutora de cerca de 18 Km transpunha obstáculos, inclusive a travessia no fundo da baía de Vitória. Naquela época, não havia a Ponte Florentino Avidos (Cinco Pontes), inaugurada em 1928. A água chegava, en- tão, ao reservatório construído no final da ladeira Santa Clara, com grandes blocos de pedra e rejuntado com óleo de baleia, com volume de 3.600 metros cúbicos, concluí- do somente em 1909, no Governo Jerônimo Monteiro. Saturnino de Brito P a r t e I44 Captação no Córrego Fradinhos e construção de barragem, década 1920 Arrabalde de Vitória: início do século XX Construção da linha adutora do Córrego Fradinho, década 1920 C o l o n i z a ç ã o , f o n t e s e c h a f a r i z e s 45 Descarga da linha adutora do Córrego Fradinhos, década 1920 Planta da Ilha, 1896 Planta de Vitória: projeto do Novo Arrabalde 48 P a r t e I F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 49 s chafarizes Capítulo II Primeira década do século XX – Captação das águas na cabeceira do Rio Duas Bocas e construção do primeiro reservatório da capital omente na gestão de Jerônimo de Souza Monteiro (1908-1912), os capixabas de Vi- tória, depois de longa espera, finalmente conseguiram desfrutar de água encanada em suas casas, vinda das cabeceiras do Rio Duas Bocas, a cerca de 16 km, no muni- cípio de Cariacica. Os serviços prestados pela Diretoria da Viação e Obras Públicas estavam sob o comando de Ceciliano Abel de Almeida. Em seu relatório enviado ao governador, em 30 de junho de 1909, Abel de Almeida apresentava informações so- bre os serviços de sua Diretoria, sobretudo, o abastecimento de água. Como o Executivo estadual criou a Prefeitura Municipal de Vitória, Ceciliano Abel de Almeida teve que se desvincular do seu cargo, já que fora nomeado prefeito, o primeiro de Vitória, também em 1909. Com quatro longos meses de seca, o Governo foi obrigado a adotar medidas em tempo hábil para regularizar o fornecimento de água em domicílio, uma vez que os poucos chafarizes atendiam 12 mil pessoas. chafarizesf i M D a e r a D o s 50 P a r t e I A alternativa emergencial foi contratar o empreendedor Antenor Guimarães por cinquenta réis pelo barril de 16 litros. O contratante recebeu a subvenção de 400$000. A distribuição era feita em seis pipas até as primeiras horas da noite. Enquanto isso, as águas das duas nascentes dos morros da Lapa e de São Francis- co foram captadas e canalizadas em uma caixa na encosta do morro de São Francisco para abastecer o Palácio da Presidência, as repartições públicas e algumas casas parti- culares. O fato ocorreu em agosto de 1908. Quase um semestre depois, em janeiro de 1909, as duas nascentes secaram. No final da Rua 7 de Setembro, montou-se uma bom- ba para retirar – de um poço – água não potável para abastecer a caixa do morro de São Francisco. O local, hoje, abriga o Arquivo Público estadual. Uma segunda bomba foi assentada na Rua General Osório, junto à Escola Modelo, nos fundos de uma casa. Diante da caótica situação e de acordo com o pensamento do Governo de dotar Vitória de um dos serviços mais reivindicados pela população desde 1828, em tom animador, Abel de Almeida relatou ao governador: Felizmente o abastecimento d’água em Vitória já é um fato do qual não é lícito se duvidar, e a situação aflitiva da população desaparecerá para sempre; os expedientes de bombas e poços que aqui, a maior parte das vezes, só dão água insuficiente e de ínfima qualidade, estarão, de todo, abolidos. Como espírito-santense e como o mais obscuro dos auxiliares do patriótico Governo de V. Exa., só me resta o gratíssimo dever de sin- ceramente congratular-me com V. Exª. pela próxima realização do me- lhoramento, que marca, por si só, o fim de uma era de entorpecimento e o começo do franco progresso da Capital do nosso estremecido Estado. O impulso tomou fôlego com os estudos direcionados ao abastecimento de água em Vitória. A Companhia Brasileira Torrens já havia iniciado a construção da represa Jerônimo Monteiro e seus auxiliares F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 51 Barragem no Rio Formate Sul, Km 34, haveria possibilidade de se fornecer 2.400.000 litros em 24 horas ao re- servatório da cidade. Na altitude de 171,5 metros, a vazão do rio era de 7 metros cú- bicos por segundo. A confirmação ocorreu em duas fases: outubro daquele ano e ja- neiro de 1909. Com aquela vazão, evidenciou-se que o Braço Sul não só tinha con- dição de realizar o abastecimento de água como também de montar a usina elétrica. A partir de janeiro de 1909, Abel de Almeida, em companhia de Augusto Fer- reira Ramos e Raul Ribeiro, visitou outros mananciais, como o Rio Borba, a cerca de 8 Km de Viana, numa cota de 150 metros, com vazão suficiente para abastecer a ci- dade. Visitaram também o Duas Bocas. Este foi escolhido para atender a capital, já que abastecia a Vila de Cariacica há 15 anos. Mais: com água de qualidade superior e facilidade para transportar material pela Estrada de Ferro Vitória Diamantina e a baía da Vitória.Outra vantagem: demandava menos desapropriações se comparado aos demais rios. Além disso, sua perenidade fora confirmada por informações de mo- radores que viviam no local, alguns há mais de 100 anos. no Rio Formate e de outras obras destinadas ao assentamento de tubos, no final do sé- culo XIX. Ceciliano visitou o manancial, em 24 de junho de 1908, observou a boa qua- lidade da água, porém, duvidou da quantidade. Tudo se esclareceu com as informações dos moradores antigos, inclusive do proprietário da área onde a represa fora construída. Em agosto de 1908, Ceciliano visitou o Braço Sul do Rio Jucu e verificou que, na altitude de 102 metros, nas proximidades do primeiro túnel da Estrada de Ferro 52 P a r t e I Na já citada mensagem ao governador, Ceciliano Abel de Almeida finalizou: Enfim, já sendo esse rio empregado no abastecimento da Villa de Cariaci- ca, com resultados esplêndidos, devido à excellência de suas águas, e sendo attestada a sua perennidade por pessoas respeitabilíssimas que fornecem informações seguras, que remontam há mais de 100 anos, não se pode es- perar senão, que o seu aproveitamento traga a Victoria todo o beneficio que costumam offerecer às populações as águas potáveis de bôa qualidade. O Rio Santa Maria da Vitória foi descartado porque a altitude necessária para abastecer Vitória ficava há mais de 50 km de distância, sem mencionar a necessida- de de grandes desapropriações. Seria utilizada a Cachoeira da Fumaça, do Santa Ma- ria, para a instalação da usina elétrica, caso o Braço Sul do Jucu não apresentasse, sob muitos aspectos, maiores conveniências. Enfim, os estudos concluíram que a instalação da usina elétrica seria no Braço Sul do Rio Jucu e a captação da água pelo Rio Duas Bocas. O contrato firmado com Augusto Ramos, em 13 de novembro de 1908, foi ho- mologado pelo Congresso no dia 16 do mesmo mês. Os objetivos eram executar a captação no Braço Sul, alimentar o reservatório com 2.400.000 litros por dia, ou seja, 27,8 litros por segundo, e manter potência de 400 cavalos elétricos na usina distri- buidora. Os serviços foram iniciados em 17 de dezembro de 1908. Com os levantamentos realizados por Abel de Almeida, a captação de água pas- sava para as cabeceiras de Duas Bocas, denominadas Pau Amarelo, onde o compri- mento da adutora era menor. Aditamento de contrato há mais de 100 anos Decidiu-se pela captação no Rio Duas Bocas e, como medida compensatória pelo encurtamento da adutora e pela mudança da captação, estabeleceu-se um adita- mento, em 6 de agosto de 1909, ao contrato original. O contratado obrigou-se às seguintes cláusulas: 1. Fornecer ao reservatório de distribuição 3.600.000 litros ao invés de 2.400.000 litros. 2. Abreviar o prazo para o término dos trabalhos. F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 53 3. Levantar a planta topográfica e cadastral da cidade. 4. Fazer a captação no Rio Pau Amarelo a cerca de 3,5 km a montante (antes da bar- ragem) da atual represa e executada pelo Município de Cariacica. 5. Fornecer 800 cavalos elétricos ao invés de 400. 6. Empregar lâmpadas de 50 velas e focos de 800 velas em substituição às de 32 ve- las e focos de 500 na iluminação da cidade. 7. Fornecer em duplicata a turbina, a geradora e o transformador. Em virtude desse aditamento, o Estado concederia ao contratado a utilização por 35 anos de 130 Kilowatts, correspondentes à força de 200 cavalos elétricos, sem prejuízo da energia elétrica de 800 cavalos, e facilitaria sem prejuízo de seus interes- ses a montagem e exploração de fábricas ou empresas que utilizassem 130 kilowatts. Analisando as condições contratuais daquela época, esse aditivo, se fosse reali- zado na atual legislação de licitação, dificilmente obteria êxito e a primeira captação Represa para usina elétrica no Jucu 54 P a r t e I de água para a capital teria sido no Braço Sul do Rio Jucu e não no Rio Duas Bocas. A captação em Duas Bocas, notadamente no Rio Pau Amare- lo, ficou a montante da captação inicial da Vila de Cariacica. Com o desnível de 125 metros aproximados entre a captação e o reserva- tório da cidade localizado há 16 quilômetros, o diâmetro da aduto- ra fora dimensionado em 250 mm de aço. Nessa condição, a adu- tora veicularia 4 milhões de litros em 24 horas. Situação diferente foi definida para a travessia da baía de Vitória, em direção ao reser- vatório, feita em duas tubulações de 150 mm cada, com luva e ros- ca de construção especial. Já naquela época, utilizavam ventosas, registros de parada e descargas. A tubulação tinha proteção asfálti- ca, com juta alcotroada. As soldas do tubo de 250 mm foram feitas com chenulo desfibrado (filasse). Nas travessias aéreas, os pilaretes eram de alvenaria de pedra. O reservatório foi dividido em duas câ- maras. Os tubos para rede de distribuição eram de 250 mm de aço e ferro fundido para 8, 6, 5 e 4 polegadas. Para os diâmetros de 3 e 2 polegadas, utilizou-se o ferro galvanizado. Em 13 de março de 1909, chegaram da Antuérpia no navio ale- mão Asuncion, 689 tubos de aço, cinco barricas de asfalto, dois far- dos de juta, dois barris de bastão de madeira, 18 volumes contendo peças de chafariz, 25 sacos de cordas de cânhamo, duas caixas de iso- ladores e 85 peças de acessórios para os serviços destinados à água e à luz elétrica. Em 17 de maio, outro vapor alemão, o Macedônia, tra- zia mais materiais, incluindo cinco caixas com chumbo para os servi- ços de tubulação de água. Tanto o material para os serviços de água quanto de luz foram transportados pelas Estradas de Ferro Sul e Vitória Diamantina. Con- F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 55 Navio Asuncion: chegada dos tubos da adutora de Duas Bocas para os serviços de água de Vitória, 1909 56 P a r t e I Primeiros materiais que chegaram em Victoria para serviços de água, luz e esgotos, fevereiro de 1909 tudo, o transporte dos tubos Mannesmann, de 250 mm, com comprimento varian- do de 10 a 12 metros, pesando de 500 a 600 quilogramas, foram conduzidos tam- bém por carros de bois. O tubo adutor era todo Mannesmann e tinha quatro trechos principais: 1. Da represa inicial, ou seja, daquela que atendia Cariacica Sede até a atual, projeta- da no Rio Duas Bocas (Rio Pau Amarelo). Chegada dos tubos da adutora de Duas Bocas: próximo à ponte da Estrada de Ferro Leopoldina, 1909 F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 57 Primeira captação em Duas Bocas para atender a Sede de Cariacica, final do século XIX Filtros de água no Rio Pau Amarelo para abastecimento de Vitória, 1909 58 P a r t e I Filtros de água para abastecimento de Vitória: Rio Pau Amarelo, 1909 F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 59 Rio Pau Amarelo: filtros de água para abastecimento da capital, 1909 Filtros de água para abastecimento de Vitória: Rio Pau Amarelo, 1909 60 P a r t e I Antiga caixa de água e possíveis filtros no Rio Pau Amarelo Passagem do encanamento de Duas Bocas na Grota Grande 2. Desse último ponto até Guayamuns. Caixa de água e possíveis filtros no Rio Pau Amarelo F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 61 3. Travessia do canal (baía de Vitória). Primeira adutora para o Reservatório de Santa Clara, 1909 Condução de canalização para o Reservatório de Santa Clara, 1909 62 P a r t e I 4. Trecho situado na ilha de Vitória: do canal até o Reservatório de Santa Clara. Assentamento do encanamento de água para abastecer Vitória, 1909 Rio Duas Bocas: serviço de assentamento do encanamento de água para o abastecimento da capital, 1909 63 Pilar de apoio da primeira adutora de 250 mm de Duas Bocas, 190964 P a r t e I O primeiro teste da adutora foi realizado em 9 de julho de 1909 no trecho até Guayamuns, quando o reservatório estava quase concluído, assim como a travessia da adutora na baía. A rede de distribuição começava a ser implantada. É interessante comentar o diâmetro, o volume do reservatório e a vazão de água para a cidade, definidos pelo engenheiro Ceciliano Abel de Almeida. Como o desnível entre a captação e o Reservatório de Santa Clara era de apro- F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 65 ximados 125 metros, e o comprimento da adutora de 16 Km, então, o diâme- tro compatível para essa condição era realmente o de 250 mm e, consequente- mente, a vazão a ser veiculada de aproximados 46 litros por segundo. Com isso, definiu-se que o volume do Reservatório de Santa Clara seria de 4 milhões de litros por dia, ou seja, 4 mil metros cúbicos. Concluindo: os cálculos de enge- nharia estavam corretíssimos. Primeira adutora de 250 mm de Duas Bocas: chegada ao Reservatório de Santa Clara, 1909 66 P a r t e I Construção do Reservatório de Santa Clara, 1909 Caixa de água em construção: Reservatório de Santa Clara, 1908 F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 67 Reservatório de Santa Clara antes da cobertura, 1909 Construção do Reservatório de Santa Clara: parede divisória da caixa de água, 1909 68 P a r t e I Caixa de água de Santa Clara para abastecimento de Vitória, 1909 Reservatório de Santa Clara com a cobertura C o l o n i z a ç ã o , f o n t e s e c h a f a r i z e s 69 Os serviços de luz, água e esgoto contratados de Augusto Ferreira Ramos, ini- ciados em 17 de dezembro de 1908, totalizaram em média 623 trabalhadores entre março e julho de 1909. Também atuaram seis engenheiros, seis auxiliares técnicos, dois desenhistas e oito auxiliares de escritório. Os serviços de luz foram inaugurados em 23 de setembro de 1909. O de água teve até festa no Morro de Santa Clara, local do reservatório. Chegava, assim, o fim da era do abastecimento pelos chafarizes e das tropas de burros fretadas para trans- portar água pelas ruas, vielas e ladeiras. Além dos colégios e repartições públicas, no final do Governo Jerônimo Mon- teiro, 1.279 casas já eram abastecidas com água encanada. O centenário da Reserva de Duas Bocas No dia mundial da água – 22 de março de 2012 – comemorou-se o centenário da Reserva de Duas Bocas. Vale registrar também que o Governo Jerônimo Montei- ro, para proteger a captação e garantir a qualidade e quantidade da água que há três anos já atendia Vitória, tomou providências para desapropriar as terras da Reserva Biológica (Rebio). Foi necessária a retirada de moradores que viviam às margens da atual barra- gem maior que abastece, atualmente, em torno de 45 mil moradores de Cariacica Sede e bairros adjacentes. Caminhando 3,5 mil metros até uma antiga barragem – construída em 1918 – é possível verificar vestígios de construções no meio da mata. Uma área com plantações de jaqueiras demonstram que, no passado, hou- ve moradores no local. Ruínas e plantações de jaqueiras na Reserva 70 P a r t e I Ruínas da fundação de uma construção dentro da Reserva Biológica de Duas Bocas, 2012 Reserva Biológica de Duas Bocas: ruínas de um quitungo, 2012 F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 71 Um dos tanques auxiliares do primeiro sistema de esgoto de Vitória Esgotamento sanitário A conclusão dos serviços de esgoto ocorreu em 29 de janeiro de 1911. Consistia de tubos de manilhas, dois poços com estações elevatórias de 30 cavalos de força cada, que bombeavam para o Forte de São João, então, área distante da cidade. Um sifão colocado em ponto apropriado descarregava o esgoto diretamente no mar, em caso de falha no bombeamento. Vale um comentário: como naquela época não existiam leis ambientais, não havia punição para crime contra a natureza. 72 P a r t e I Década de 10 – Um projeto de água para Vila Velha: o reservatório do Cercadinho Havia um porém. Vila Velha precisava ampliar seu abastecimento de água. Por isso, o então diretor de Agricultura, Terras e Obras do Estado, Antônio Francisco de Atha- íde, em 30 de julho de 1910, encaminhou projeto para Jerônimo Monteiro, propon- do: “A água de Vila Velha será recebida na linha adutora acima do sítio Guaymum, passando em Porto Velho e Porto de Argolas e daí pela linha de bondes até aque- la cidade que prospera.” A proposta foi aceita. Em mensagem à Assembleia Legis- lativa, de 23 de setembro do mesmo ano, Jerônimo Monteiro informou: “Tomei a deliberação de fazer a canalização d’água para a Vila do Espírito Santo pelo Conti- nente e diretamente do encanamento geral para aquele local, servindo na passagem os povoados de Argolas e Porto Velho.” Assim, foi construído o reservatório de água para a Sede da cidade no Mor- ro do Cercadinho. Região da caixa de água do Cercadinho, Vila Velha F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 73 Caixa de água do Cercadinho, Vila Velha Qualidade da água do Rio Duas Bocas Foram analisadas tanto a água de Duas Bocas como a do Jucu, consideradas de boa qualidade pelo mestre Daniel Henninger, da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. A análise foi feita por Theodor Peckolt e Gustavo Peckolt. A água de Duas Bocas apre- sentou-se límpida, transparente, incolor, sem cheiro e de sabor agradável. O exame científico não detectou vegetais microscópicos (Dermídeas, Leptorni- tes, Saprophitas ou outras, muito menos algas brancas) nem bactérias. Revelou-se, ainda, que a porcentagem dos elementos da água de Duas Bocas era de água potável, segundo o Congresso Internacional de Bruxelas e de acordo com a tabela do Labo- ratório Municipal de Paris. 74 P a r t e I A barragem no Rio Pau Amarelo Outra pequena barragem no Rio Pau Amarelo foi concluída em 1918. Está situada a montante e a cerca de 3 Km da barragem maior que foi construída em 1951. Como não foi submersa pelas águas represadas da barragem maior, permite visitação públi- ca com caminhada ecológica muito agradável. Barragem de 1918 no Rio Pau Amarelo: vista de frente Barragem no Rio Pau Amarelo em 1918: vista lateral F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 75 1918: ano registrado na parede lateral da barragem no Rio Pau Amarelo Década de 20 – O Estado arrenda os serviços de água e esgotos a uma empresa privada e depois os retoma 1922 – O arrendamento Com a crise financeira que o Estado enfrentava, sobretudo, pela queda do preço do café, nos anos 1920, todos os serviços públicos ficaram prejudicados, incluindo o abastecimento de água. Em 1922, o Estado arrendou serviços essenciais, como água, esgoto, energia, bonde e telefone. O que ocorreu? A empresa não conseguiu ampliar os sistemas e a população se impacientava com a situação, obrigando o Estado a re- tomar a responsabilidade dos serviços de água e esgoto. O engenheiro Florentino Avidos, que governou o Estado de 1924 a 1928, em um dos seus relatórios, registrou: “As longas crises que advieram, após a administração de 1908 a 1912, não permitiram a construção de obras necessárias para o desenvolvi- mento de nossa capital e nem, ao menos, a conservação dos grandes serviços de abas- tecimento de água, esgoto, eletricidade e viação urbana.” 76 P a r t e I 1925 – A retomada Em função desse estancamento, em 1925, o Governo voltou a retomar a responsa- bilidade pelos serviços de água e esgoto. Para isso, criou a Diretoria de Água e Esgo- tos subordinada à Secretaria de Viação e Obras Públicas. Construiu duas novas bar- ragens nos rios Bubu e Panelas, além de melhorias na adutora, elevando sua capaci- dade de produção. Outra adutora foi construída para levar mais águaao Reservató- rio de Santa Clara. Era de aço Manesmann também com diâmetro de 250 milíme- tros (10 polegadas), com subtração de três quilômetros. Mais duas travessias subma- rinas passaram a ser realidade. Com isso, a capacidade quase triplicou: de 3 mil para 8 mil metros cúbicos diários de água para os moradores de Vitória. Adutora do Rio Panelas transportada por carros de bois F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 77 Passagem da rede adutora do Rio Panelas em Itanguá Montagem da rede adutora do Rio Panelas na região de Guayamum para travessia submarina na baía de Vitória 78 P a r t e I Assentamento da rede adutora do Rio Panelas no fundo da baía de Vitória Adutora do Rio Panelas: travessia submarina entre a Ilha do Príncipe e o continente F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 79 Construção da rede adutora do Rio Panelas Tubos estocados na Ilha do Príncipe para travessia na baía de Vitória 80 P a r t e I Os serviços na tubulação submersa, sempre problemáticos, tiveram uma solu- ção: com a construção da Ponte Florentino Avidos, a adutora pôde ser transferida para ser apoiada na ponte, em 1929. Alguns bairros também passaram a contar com serviços razoáveis de água: Jucutuquara, Praia Comprida, Praia do Suá, em Vitória, Paul, em Vila Velha, e Campo Grande, em Cariacica. Adutora do Rio Panelas: travessia no mangue Construção da Ponte Florentino Avidos: passagem da rede adutora de 500 mm, 1929 F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 81 Cobertura em cimento armado do Reservatório de Santa Clara Rede de esgoto na Capixaba, 1926 Construção da rede de esgoto e drenagem na Esplanada Capixaba, 1926 82 P a r t e I Década de 30 – Estudos e projetos da barragem de Duas Bocas da nova adutora e do segundo reservatório da capital Ano: 1930. O abastecimento contemplava Vitória e alguns distritos de Vila Velha e Cariacica, como já mencionado. O país passava por transformações com a crise que culminou na Revolução de 30, na era Vargas. No Espírito Santo, em 22 de novembro de 1930, o capitão João Punaro Bley fora nomeado interventor federal. E o abaste- cimento de água e esgotamento sanitário continuava sendo administrado pela Dire- toria de Águas e Esgoto da Secretaria de Agricultura, Terras e Obras. Quatro anos depois, em 1934, a população beirava 48 mil habitantes e a vazão média de água distribuída era de 67 litros por segundo, com volume de 5.780 me- tros cúbicos por dia. Grande parte das tubulações estava em estado precário e, como consequência, as perdas do precioso líquido eram elevadas. Se compararmos a vazão distribuída de 1910, de 46 litros por segundo que correspondia a 4 mil metros cúbi- cos por dia, com o início dos anos 30, a nova vazão de 67 litros por segundo aumen- tou muito pouco, já que houve crescimento populacional e ampliação do atendimen- to para mais distritos de outros municípios. Pior: o abastecimento tornou-se insufi- ciente e a população gritava por falta de água. Não deu outra: mais uma vez, o Governo do Estado solicitou que a Direto- ria de Águas e Esgoto realizasse estudos e projetos para atender a demanda neces- sária. Foi, então, que o engenheiro Renato Leal, colega de turma do secretário de Agricultura, Terras e Obras, Augusto Seabra Moniz, entrou em ação. Quem co- mandava a Diretoria de Água e Esgoto era o engenheiro José Alves Braga. Os estudos concluíram que havia necessidade de captação das águas do Ribei- rão Duas Bocas, após a confluência dos córregos Panelas e Pau Amarelo, e a constru- ção de uma grande barragem de acumulação. A vazão de regularização da barragem foi estimada em 444 litros por segundo. Prevendo uma demanda maior para o futuro, com projeção para 1966, estudou- se outro manancial, o Mangaraí, afluente do Rio Santa Maria da Vitória. O Manga- F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 83 raí pertence à sub-bacia vizinha de Duas Bocas. Foram realizados os levantamentos topográficos e medições de vazão que apontaram 1.200 litros por segundo em época de estiagem, em 1935. Vencendo o divisor de águas do Mangaraí para Duas Bocas, a água seria distribuída por gravidade por uma segunda adutora de 20 polegadas (500 mm), semelhante à primeira. Era o que faltava. O projeto definitivo previa a desapropriação do restante da área da bacia, a cons- trução de uma barragem de terra com 17 metros de altura, 200 metros de extensão, duas adutoras de 500 mm cada e um reservatório de 4 mil metros cúbicos. Para a execução dos serviços, em 1935, constituiu-se a Comissão de Obras para o Reforço do Abastecimento de Água de Vitória (Coraav) ligada à Diretoria de Água e Esgotos. A primeira etapa do projeto teve inauguração em 27 de dezembro de 1936, com uma adutora de 20 polegadas (500 mm) de traçado mais curto. O segundo Re- servatório de Santa Clara, com 4 mil metros cúbicos, ficaria assentado na cota de 57 metros em área mais elevada que o primeiro reservatório de 1909. A programação de obras previa, na sequência, a construção da grande barragem de Duas Bocas, que somente foi concluída 15 anos depois, isto é, em 1951. O traçado mais curto da adutora de 20 polegadas (500 mm) pode ser observado no próprio projeto, pois seu traçado era mais retilíneo, parecendo uma tangente. O outro tra- jeto da adutora de 10 polegadas (250 mm) era mais longo, em curva, formando um “S”. Reservatório superior de Santa Clara 84 P a r t e I Planta do projeto da adutora de Duas Bocas, 1936 F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 85 86 P a r t e I A nova adutora tinha extensão total previs- ta de 17.400 metros, sendo os primeiros 1.400 metros em tubos de concreto armado de 600 mm de diâmetro até o dispositivo de quebra -pressão, e os restantes 16 mil metros em tu- bos de aço, de diâmetro de 500 mm até o se- Pilar de pedra para apoio da adutora de Duas Bocas (500 mm) construída em 1936 Adutora de Duas Bocas, com diâmetro de 500 mm, 1936 Transporte dos tubos de 500 mm do Porto para Duas Bocas F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 87 Queda da adutora de Duas Bocas de 500 mm na travessia do mangue próximo a Porto de Santana gundo reservatório de Santa Clara. Do total, quase 1.000 metros foram assen- tados sobre estacas em região de mangue. Estavam devidamente previstas caixas de passagem, objetivando não cortar a linha piezométrica, bem como retirar o ar da rede e diminuir a pressão estática que, em alguns pontos, chegava a quase 100 metros da coluna d’água. Mais tarde, em 1973, a Cesan estudou a remoção de 448 metros de trecho as- sentado em região de mangue, em Porto de Santana, para um desvio de 798 me- tros, contornando o mangue. A adutora assentada, em 1936, estava em péssimo estado de conservação nesse trecho, oxidada na parte superior e com constantes afloramentos de água. Foram observados reparos na rede, como soldas, tarugos de madeira e abraçadeiras cegas. A quantidade de tarugos de madeira era coloca- da porque a rede não suportava mais ser soldada. Também estavam em péssimo estado de conservação diversos quadros de concreto para apoio da rede, num to- tal de 43 confeccionados em concreto armado, e alguns escoramentos simples de alvenaria de pedra. As características da adutora, nesse trecho de mangue, eram de tubos de 500 mm, confeccionados em chapa de aço de 5/16 polegadas de es- pessura, sem costura, em barras de 11 a 12 metros de comprimento, com ponta e bolsa para chumbação, e assentados sobre quadros de concreto. A adutora, nesse trecho do mangue que passava por área apoiada em pilare- tes, acabou caindo devido ao seu péssimo estado de conservação e dos pilaretes de apoio. As fotos mostramo acidente: 88 P a r t e I Queda da adutora de Duas Bocas de 500 mm: travessia no mangue próximo a Porto de Santana Queda da adutora de Duas Bocas de 500 mm na travessia do mangue próximo a Porto de Santana F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 89 Em 2009, a Cesan concluiu a substituição de todo o trecho da adutora de 500 mm na atual área de influência que diminuiu, estando agora restrita da barragem até a região de Cariacica Sede e bairros adjacentes. Adutora de Duas Bocas substituída em 2009 Na sequência, estava prevista a construção da barragem e, em 1951, a segun- da adutora de 500 mm. Na projeção para 1966, previa-se a transposição da bacia do Mangaraí para Duas Bocas. A barragem foi concluída em 1951. As demais previsões não se concretizaram. 90 P a r t e I Década de 40 – Transferência dos serviços de água e esgoto para a Prefeitura de Vitória Por meio do Decreto 11.012, de 18 de dezembro de 1939, o Governo do Estado transferiu para a Prefeitura de Vitória os serviços de água e esgoto. O Executivo mu- nicipal passou a geri-los somente a partir de 1º de janeiro de 1940. Antes disso, a ad- ministração estava sob o comando, como já mencionado, do extinto Departamento Geral de Agricultura do Governo estadual. Da forma como foi feita, a transferência não permitia poderes sobre os bens ad- ministrados. Em 16 de dezembro de 1946, o Estado assinou a doação condicional à Prefeitura dos serviços de água e esgoto, reservando para si o direito de promover a reversão integral do patrimônio estadual, mas sem o direito de indenizar o erário municipal, se essa atitude fosse conveniente. Durante a administração municipal dos serviços de água, o prefeito e engenhei- ro Henrique de Novaes (22 de janeiro a 12 de novembro de 1945) iniciou a constru- ção da barragem de Duas Bocas, cujo volume girava em torno de 140 mil metros cúbicos. O engenheiro Henrique de Novaes nasceu, em 1884, em Cachoeiro de Itapemirim. Formou-se em engenharia pela Escola Politécnica do Rio de Janei- ro, em 1903. Trabalhou na Diretoria de Obras do Estado, na Usina Paineiras, nos serviços públicos da Prefeitura de Vitória, além de ter atuado como enge- nheiro e urbanista. Foi prefeito de Vitória duas ve- zes, sendo a primeira de 24 de maio de 1916 a 5 de janeiro de 1920. Durante seu último mandato, de 22 de janeiro a 12 de novembro de 1945, deixou a Pre- feitura para ocupar o cargo de senador da República. Engenheiro Henrique de Novaes F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 91 Em Vitória, em 1917, desenvolveu o projeto da Catedral Metropolitana com detalhes neogóticos. Prestou serviços no Rio de Janeiro, onde projetou e construiu o reservatório do Engenho de Dentro, conhecido, na época, como a “obra mais no- tável do Brasil em cimento armado”. Em Natal, construiu uma barragem com acúmulo de água que se transformou em piscina pública. Em agosto de 1921 foi nomeado Diretor de Obras contra as se- cas no Rio Grande do Norte. Em 1924, convidado pelo governador do Rio Gran- de do Norte, José Augusto Bezerra de Medeiros, passou a coordenar a então cria- da Comissão de Saneamento de Natal, quando elaborou o Plano Geral de Obras de Saneamento de Natal. Henrique de Novaes faleceu em Vitória, em 1950, aos 65 anos de idade. Retomando a barragem de Duas Bocas, a obra iniciou-se em 9 de julho de 1945. Foi concluída em 1951 no Governo Jones dos Santos Neves. O prefeito e engenheiro José Ribeiro Martins (de 7 de abril de 1951 a 5 de maio de 1953) deu a ordem para o enchimento da barragem que, para sua sur- presa, vazou em vários pontos com jatos violentos. Não há descrição detalhada desses pontos de vazamento. Porém, existe relato de carreamento de material só- lido e um acidente mais grave que ocorreu no maciço, a montante e nas proxi- midades da ombreira direita. O acidente provocou a formação de uma abertura no talude de montante, próximo à crista, além de um escorregamento que pode ter sido pelo efeito “piping”. Após obras de recuperação, a barragem apresentou novos vazamentos e sua capacidade de produção caiu pela metade, em condições de alimentar apenas a adutora de 500 mm construída em 1936. Com isso, a re- versão do Mangaraí para Duas Bocas e a construção da segunda adutora de 500 mm jamais aconteceram. Nas considerações preliminares sobre a barragem realizada pela empresa Enge- nharia Gallioli Ltda1 , consta: “Não foi construído o muro em seco que figura no desenho de outubro de 1934”. Constatou-se, no primeiro enchimento do reserva- tório, a duvidosa impermeabilidade da barragem reconstruída numa grande parte do talude de montante e aprofundada a cortina de montante. Sucessivas manifes- tações de permeabilidade perigosa da obra obrigaram o rebaixamento do nível da 1 A Engenharia Gallioli Ltda interpelou o engenheiro Manoel Vivacqua Vieira, da Soletec, anteriormente diretor da Koteca, que construiu a barragem e efetuou a primeira reconstrução de parte do maciço a montante. 92 P a r t e I água, dinamitando parte da estrutura do vertedouro e, repetindo, a permeabilidade perigosa, o nível foi rebaixado ainda mais para reduzir a acumulação de água num volume quase insignificante. Os rios abastecedores da barragem são o Pau Amarelo, Panela, Nanhu-Açu, Bi- quinha e Sertão Velho. A área de drenagem na seção da barragem é de aproximada- mente 30 Km². A bacia hidrográfica do Rio Duas Bocas, afluente do Santa Maria da Vitória, já nas proximidades da baía de Vitória é de aproximadamente 85 Km². A Reserva Biológica de Duas Bocas foi criada pela Lei nº 4503, de 2 de abril de 1991. Consta na placa ainda existente em Duas Bocas: “Construção iniciada em 09- 07-1945 na interventoria Jones dos Santos Neves continuada nas administrações Octaviano Lengruber Aristides Campos, Moacir Ubirajara, Carlos Fernando Monteiro Lindenberg e José Rodrigues Sette, sendo concluída a 8 de setembro de 1951 como parte das comemorações do IV centenário da fundação de Vitó- ria sob o Governo do Dr. Jones dos Santos Neves.” Planta do projeto da tomada de água de Duas Bocas F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 93 Planta do projeto da fundação e ferragem da tomada de água de Duas Bocas Barragem de Duas Bocas antes do enchimento, 1951 94 P a r t e I Tulipa (tomada de água e estravazor) da barragem de Duas Bocas Monumento de inauguração da barragem de Duas Bocas, 1951 F i m d a e r a d o s c h a f a r i z e s 95 Placa de inauguração do Governo do Estado: barragem de Duas Bocas, 1951 Placa de inauguração da Prefeitura de Vitória: barragem de Duas Bocas, 1951 96 P a r t e I Com a construção da barragem de Duas Bocas, algumas das menores e primiti- vas barragens ficaram submersas. Curiosamente na década de 1980, com o rebaixa- mento em nível crítico da água ocorrido em épocas de estiagem foi possível ver uma das barragens do Rio Pau Amarelo. A foto, a seguir, mostra esta barragem que em condições normais fica submersa. Barragem submersa no Rio Pau Amarelo que apareceu em época de grande estiagem, 1986 Atendendo ao Decreto 5.929, de 23 de fevereiro de 1935, foi prevista uma insta- lação completa para cloração das águas de Duas Bocas. Outro fato significativo é que a adutora de 500 mm foi totalmente substituída por outra de diâmetro de 400 mm no trecho da barragem até as imediações de Cariacica Sede. A conclusão aconteceu em 2009. Á área de influência de abastecimento de Duas Bocas que anteriormente ia até Vitória, com a expansão urbana, hoje atende a Sede de Cariacica e bairros adjacentes. 97 Década de 50 – Reversão e transferência dos serviços públicos de água e esgotos da Prefeitura de Vitória para o
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