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MATÉRIA: NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 1. Atos processuais 1.1. Ato processual O processo é um procedimento realizado em contraditório que visa à tutela jurisdicional adequada, efetiva e tempestiva (art. 5º, XXXV, LV e LXXVIII, da CF). O procedimento é uma sequência de atos processuais estruturada a partir de posições jurídicas outorgadas às partes e ao juiz pelo legislador. Afora a estruturação legal do procedimento, pode ainda o juiz – valendo de normas abertas (art. 139, VI) – adequar o processo às necessidades evidenciadas pelo direito material. Nosso Código permite ainda, em determinadas situações, acordos processuais entre as partes rendo por objeto a adequação do procedimento (art. 190). Em regra, o procedimento é previsto pelo legislador (art. 318). Os atos processuais, portanto, têm a sua forma prevista em lei, nada obstante a prática por outro modo que não lhe subtraia a finalidade legal é igualmente considerada válida no processo civil (arts. 188 e 277). É o que a doutrina chama de sistema de instrumentalidade das formas processuais. Além de os atos processuais terem a sua sequência determinada pelo legislador, pode o juiz eventualmente inverter a ordem da prática de determinados atos e mesmo prorrogar prazos processuais (art. 139, VI). É nessa linha igualmente que se permite a programação de um calendário processual, oriundo de um prévio diálogo e de um comum acordo entre o juiz e as partes, para a prática dos atos processuais (art. 191). De acordo com o art. 190, versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. É por essa razão que, além de controlar de ofício a validade dos acordos processuais nos casos de nulidade, de inserção abusiva em contrato de adesão ou em caso de manifesta vulnerabilidade (art. 190, parágrafo único), tem o juiz de controlar a validade dos acordos à luz do direito fundamental ao processo justo. Tendo em conta as bases democráticas em que se assenta o estado Constitucional, os atos processuais devem ser públicos (arts. 5º, LX, 93, IX, da CF, e 11 e 189 do CPC), sendo admitido o segredo de justiça apenas quando: I) em que o exija o interesse público ou social; II – que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes; III – em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade; e IV – que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo. Nesses casos, o direito de consultar os autos de processo que tramite em segredo de justiça e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e aos seus procuradores. O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário e partilha resultante de divórcio ou separação (art. 189, §2º). Os atos processuais devem ser escritos em língua portuguesa, sendo que o documento redigido em língua estrangeira somente poderá ser juntados aos autos quando acompanhado de versão para a língua portuguesa tramitada por via diplomática ou pela autoridade central, ou firmada por tradutor juramentado (art. 192). Os atos processuais podem ser praticados por suporte físico ou eletrônico (arts. 193 e SS). Compete ao Conselho Nacional de Justiça e, supletivamente, aos tribunais, regulamentar a prática e a comunicação oficial de atos processuais por meio eletrônico e velar pela compatibilidade dos sistemas, disciplinando a incorporação progressiva de novos avanços tecnológicos e editando, para esse fim, os atos que forem necessários para sua regulamentação, respeitadas as linhas fundamentais traçadas pelo CPC (art. 196). Os atos processuais podem ser praticados ainda por videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real (arts. 236. §3º). 1.2. Atos das partes e pronunciamentos do juiz As partes manifestam-se no processo por seus advogados e, eventualmente, de forma pessoal mediante interrogatório livre (art. 139, VIII) e depoimento pessoal (arts. 385 e ss.). Os atos das partes produzem imediatamente a constituição, a modificação ou a extinção de direitos processuais (art. 200). Essa é a regra da eficácia imediata dos atos processuais das partes, cujos corolários são: I – a desnecessidade de qualquer ato judicial ulterior para outorgar-lhe eficácia e; II – a adoção da regra da preclusão consumativa. Apenas excepcionalmente se exige para eficácia da desistência da ação a homologação do ato por sentença (art. 200, parágrafo único). A desistência do recurso, porém, independe de homologação (art. 998). O efeito processual típico ligado à transação e à renúncia – extinção do processo com resolução de mérito (art. 487, III) – só se verifica após a homologação sentencial. A fim de comprovação da prática de seus atos em juízo, podem as partes exigir recibos de suas manifestações (petições e arrazoados) e documentos entregues em cartório ou secretaria (art. 201). No Código vigente os atos normativos do juiz são chamados de pronunciamento judicial (arts. 203 – 205) – que podem ser catalogados basicamente em cinco espécies: 1 – sentenças; 2 – decisões interlocutórias; 3 – despachos; 4 – acórdãos; e 5 – decisões monocráticas. Sentença é todo ato processual que resolve definitivamente uma questão processual ou de mérito de acordo com os arts. 485 e 487, colocando fim à atividade de conhecimento ou de execução (art. 203, §1º). Nessa linha, a sentença pode ser total – quando resolver toda a controvérsia posta em juízo – ou parcial, quando resolvê-la apenas em parte (como é o caso, por exemplo, da sentença que leva ao julgamento antecipado parcial do mérito, art. 356). Com a previsão de sentenças parciais de mérito e da possibilidade de cisão do julgamento da causa, o direito brasileiro rompeu com o mito da unidade e da unicidade do julgamento da causa. Decisão interlocutória é todo ato judicial que resolve, sem colocar fim à atividade de conhecimento ou de execução, questões processuais ou de mérito ao longo do procedimento (art. 203, §2º). As decisões interlocutórias podem tanto tratar de questões processuais como questões de mérito. Ainda que o processo continue para o esclarecimento da outra parte do mérito ainda não resolvida definitivamente ou ainda que o processo continue para efeitos de cumprimento de sentença, aquilo que foi decidido por sentença não pode voltar a ser decidido pelo mesmo juiz (art. 505, ressalvado o disposto nos incisos desse dispositivo). Despachos são atos de simples impulso do procedimento, sem qualquer conteúdo decisório (art. 203, §3º). Os despachos, portanto, são um dos instrumentos pelos quais o procedimento ganha impulso, tendo em conta que o direito brasileiro adotou a regra do impulso oficial (art. 2º). Embora a condução do processo toque ao juiz, os atos meramente ordinatórios que visam a impulsioná-lo, como a juntada de petições e documentos e a vista obrigatória independem de despacho e podem ser praticados de ofício por um auxiliar do juízo, de ofício ou a requerimento da parte, quando necessário. Acórdãos são julgamentos colegiados realizados pelo tribunal (art. 204). Decisões monocráticas são decisões tomadas individualmente pelos relatores dos processos nos tribunais visando à economia processual, seja porque a postulação é inadmissível, seja porque sobre o mérito há jurisprudência dominante ou porque há precedente (art. 932, IV e V). 1.3. Forma,tempo e lugar dos atos processuais O sistema da instrumentalidade das formas permite ao juiz considerar a finalidade do ato e a ausência de prejuízo aos fins de justiça do processo para analisar a validade de um ato processual, nada obstante o desvio formal (arts. 188 e 277). A violação relevante à forma implica invalidade processual. Vários atos processuais têm forma legalmente prescrita (art. 246). As sentenças, ainda, têm de ser redigidas de acordo com a forma legal (art. 489). Mesmo determinados recursos têm forma pré-determinada de redação – a demonstração da repercussão geral da questão constitucional no recurso extraordinário, por exemplo, tem de ser exposta preliminarmente (art. 1.035, §2º). Ao lado da forma, nosso Código disciplina o tempo (arts. 212 a 216) e o lugar (art. 217) dos atos processuais. Os atos processuais devem ser praticados nos dias úteis das seis às vinte horas, observadas as particularidades pertinentes (arts. 212). Tendo o ato de ser praticado por petição em processo não eletrônico, tem-se que praticá-lo durante o período em que o fórum ou o tribunal encontrarem-se abertos, observando-se o horário estabelecido na lei de organização judiciária local. Se eletrônicos, podem ser praticados até as vinte e quatro horas do último dia do prazo (art. 213). Conforme o art. 217, os atos processuais devem ser praticados na sede do juízo (fórum ou tribunal), ressalvados aqueles que podem ser realizados fora por deferência (por exemplo, oitiva do depoimento pessoal do Presidente da República, art. 454, I), no interesse da justiça (inspeção judicial, arts. 481) e por força de obstáculo arguido pelo interessado e acolhido pelo juiz (oitiva do interditando impossibilitado de comparecer em juízo, art. 451, II). 1.4. Invalidades processuais As infrações relevantes à forma dos atos processuais resultam em invalidades processuais – ou nulidades, na linguagem tradicional empregada pelo legislador (arts. 276 e ss.). A principal tarefa de um Código de Processo Civil preocupado com a viabilização de uma efetiva e tempestiva tutela aos direitos no terreno das invalidades processuais certamente está em evitar que invalidades sejam decretadas. Com isso, evita-se o custo temporal que a repetição dos atos inevitavelmente implica, promovendo-se nessa perspectiva um processo com duração razoável (arts. 5º, LXXVIII, da CF, e 4º, CPC). Daí a salutar insistência no Código na viabilização de prévia sanação dos atos viciados (art. 352) e na necessidade de aproveitamento tanto quanto possível dos atos processuais (arts. 282 e 283). Inexistem invalidades processuais de pleno direito no processo civil. A infração à forma será relevante quando comprometer a finalidade legal do ato (art. 277) e causar prejuízo aos fins de justiça do processo (arts. 282, §§ 1º e 2º, e 283, parágrafo único). Vale dizer o ato praticado com violação de forma só será decretado inválido se, e somente se, não atingir a sua finalidade e comprometer os fins de justiça do processo. Do contrário, os arts. 277, 282, §§ 1º e 2º, e 283, parágrafo único, impedem que o vício se transforme em invalidade. O art. 278 refere que a nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade em que couber à parte falar nos autos, sob pena de preclusão, sendo que o seu parágrafo único dispõe que não se aplica esta previsão às nulidades que o juiz deva decretar de ofício, nem prevalece a preclusão provando a parte legítimo impedimento. É necessário, antes da decretação de qualquer invalidade, viabilizar- se a possibilidade de as partes sanarem os vícios eventualmente existentes nos atos processuais (art. 352). O art. 281 refere que, anulado o ato, consideram-se de nenhum efeito todos os subsequentes que dele dependam, todavia a nulidade de uma parte do ato não prejudicará as outras que dela sejam independentes. O art. 283 estabelece que o erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos atos que não podem ser aproveitados. Isso quer dizer que, sempre que possível, deve-se aproveitar determinado ato reduzindo-se a sua eficácia. É o que o próprio Código faz, por exemplo, quando refere que a citação ordenada por juiz incompetente é eficaz para interromper a prescrição (art. 240). Aproveita-se o ato para aquilo que ele pode ser aproveitado, descartando-se para o fim que não pode ser alcançado pela existência de determinado defeito normal. 1.5. Prazos A observação dos prazos constitui direito das partes e representa garantia de segurança e igualdade ao longo do processo. Nosso Código cuida do tema nos arts. 218 e ss. Existem prazos que podem ser livremente modificados pelas partes – esses prazos são chamados de dilatórios e ingressam na área dos acordos processuais (art. 190). Existem outros, porém, como os prazos para o oferecimento de defesa e para o exercício do direito ao recurso, que são chamados de prazos peremptórios, porque só podem ser modificados mediante a observância de certas condições. Esses prazos também podem ser adaptados pelo juiz e pelas partes às especificidades da causa (art. 139, VI), mas com a peculiaridade de que não podem ser encurtados sem a oitiva das partes (art. 222, §1º). Quanto ao descumprimento, os prazos podem ser próprios ou impróprios. A inobservância dos prazos próprios gera preclusão temporal, isto é, gera a impossibilidade de se praticar o ato posteriormente, salvo alegação e prova de justa causa. Os prazos impróprios existem para moldar o cumprimento de deveres – por essa razão, o seu descumprimento não gera a impossibilidade de prática posterior do ato. São exemplos de prazos impróprios os prazos que o juiz tem para decidir questões incidentais e para prolatar sentenças (art. 226). O mesmo se diga dos prazos do serventuário (art. 228). A preclusão pode ser temporal (perda da faculdade processual em função do decurso de um prazo próprio sem o seu exercício, art. 507), lógica (extinção da faculdade processual à vista de um comportamento contraditório, isto é, da prática de um ato incompatível com aquele que se pretende realizar) ou consumativa (consumação da faculdade processual em face do seu já exercício). Os prazos processuais podem ser comuns ou particulares: prazos em que algo deve ser feito pelas partes ou prazos em que não se pode exigir a atuação das partes antes de um lapso temporal mínimo (exemplo, art. 357, §9º). O prazo flui – corre – a partir do momento em que existe. Conta-se o prazo a partir do momento em que é computado para fins de da própria extinção (art. 231). O prazo para a parte, para o seu advogado, para a advocacia pública, para Defensoria Pública e para o Ministério Público flui desde a citação e as intimações (art. 230). Considera-se o dia em que começa a correr o prazo: quando, I – a data de juntada aos autos do aviso de recebimento, quando a citação ou a intimação for pelo Correio; II – a data de juntada aos autos do mandado cumprido, quando a citação ou a intimação for por oficial de justiça; III – a data de ocorrência da citação ou da intimação, quando ela se der por ato do escrivão ou do chefe de secretaria; IV – o dia útil seguinte ao fim da dilação assinada pelo juiz, quando a citação ou a intimação for por edital; V – o dia útil seguinte à consulta ao teor da citação ou da intimação ou ao término do prazo para que a consulta se dê, quando a citação ou a intimação for eletrônica; VI – a data de juntada do comunicado de que trata o art. 232 ou, não havendo esse, a data de juntada da carta aos autos de origem devidamente cumprida, quando a citação ou a intimação se realizar em cumprimento de carta; VII – a data de publicação, quando a intimação se der pelo Diário da Justiça impresso ou eletrônico; VIII – o dia da carga, quando a intimação se der por meio da retiradados autos, em carga, do cartório ou da secretaria (art. 231). Obviamente, a citação por hora certa, como praticada por oficial de justiça, tem o início do seu prazo marcado para a data de juntada aos autos do mandado cumprido (art. 231, §4º). Havendo mais de um réu, o prazo para contestar fluirá a partir da última das datas a que se referem os incisos I a IV do caput do art. 231, §1º. Havendo mais de um intimado, o prazo flui e é contado individualmente. Os prazos podem ser contados em minutos, horas, dias, meses ou anos. Os prazos processuais contados em dias contam-se excluindo o dia do começo e incluindo o do vencimento (art. 224). Os prazos contados em meses e anos expiram no dia de igual número do de início ou no imediato, se faltar a exata correspondência (art. 132, §3º, do CC). Os dias do começo e do vencimento do prazo serão protraídos para o primeiro dia útil seguinte, se coincidirem com dia em que o expediente forense for encerrado antes ou iniciado depois da hora normal ou houver indisponibilidade de comunicação eletrônica. A contagem do prazo terá início no primeiro dia útil que se seguir ao da publicação. Considera-se como data da publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informação no Diário da Justiça eletrônico (art. 224, §2º). Não se considerará intempestivo o ato processual praticado antes do início da contagem do prazo (art. 218, §4º). Na contagem de prazos processuais em dias – a regra não se aplica, portanto, aos prazos prescricionais e decadenciais, bem como a quaisquer outros prazos que pertençam igualmente ao direito material – não se computam os dias feriados. Vale dizer: só se computam os dias úteis (art. 219). Importante ver ainda o art. 224, §1º. A interrupção do prazo importa em contar-se o prazo que ainda flui e devolvê-lo à parte por inteiro depois de cessada a causa de interrupção (por exemplo, art. 1026). A suspensão coloca em suspenso o prazo durante a sua fluência e a cessação da causa suspensiva devolve à parte tão – somente o que faltava do prazo para a sua própria ultimação (por exemplo, art. 221). 1.6. Comunicação dos atos processuais A comunicação dos atos processuais pode ocorrer por três formas típicas: cartas (arts. 260 e ss.), das quais são espécies as cartas de ordem, rogatórias, precatórias e arbitrais (art. 69, §1º), citação (arts. 238 e ss.) e intimações (arts. 269 e ss.). A Consolidação das Leis do Trabalho, o Código de Processo Penal e algumas leis extravagantes (por exemplo, art. 7º, I, Lei 12.016/2009, Lei do Mandado de Segurança) ainda aludem à notificação, como espécie distinta, em que se comunica à parte a necessidade de praticar ato futuro – reservando-se o termo intimação para a comunicação de ato já praticado no passado. A distinção, todavia, inexiste no sistema do Código de Processo Civil (a alusão à notificação nos arts. 27, 35, 69, §2º, I, e 230, existe apenas para completar casos que estão fora do sistema do Código de Processo Civil). Citação é o ato pelo qual alguém é chamado para integrar o processo na qualidade de parte (art. 238). Para a validade do processo é essencial a citação do réu ou do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de improcedência liminar do pedido (arts. 330 e 332). Transitada em julgado a sentença favorável ao réu proferida antes da citação, incumbe ao escrivão ou chefe de secretaria comunicar-lhe do resultado (arts. 241, 331, §3º, e 332, §2º). O comparecimento espontâneo do réu ou do executado, contudo, supre a ausência da citação. No procedimento comum, a citação é realizada para o comparecimento à primeira audiência (art. 334), ressalvadas as exceções legais (art. 334, §4º). Daí que, comparecendo o réu, tem o juiz de assinalar em regra a data da primeira audiência. Apenas nas exceções legais é que se considera o dia do comparecimento espontâneo o termo inicial para o oferecimento da contestação (art. 335, III). No procedimento diferenciado para execução de quantia certa fundada em título executivo extrajudicial, o dia do comparecimento serve como termo inicial do prazo para os embargos à execução (art. 239, §1º). Pode o réu comparecer, ainda, apenas para alegar a nulidade da citação. Nesse caso, sendo acolhida, marcará o juiz, conforme o caso, a primeira audiência, assinalará prazo para a contestação ou para os embargos à execução. Não sendo acolhida a alegação, o réu será considerado revel no procedimento comum ou a execução prosseguirá (art. 239, §2º). Ainda quando ordenada por juízo incompetente, a citação válida produz três efeitos: a demarcação da litispendência, a constituição da litigiosidade da coisa e a constituição em mora do demandado, ressalvadas as exceções legais (por exemplo, arts. 397 e 398, do CC). No direito vigente, a prevenção decorre sempre da propositura da ação (isto é, do seu registro e distribuição, art. 59). No que tange à interrupção da prescrição, é preciso perceber que não se trata propriamente um efeito da citação – é um efeito do despacho que determina a citação do demandado, retroagindo para o momento em que proposta a ação (art. 240, §1º). O mesmo vale para a decadência (art. 240, §4º). Isso porque o demandante não pode ser prejudicado pela demora imputável exclusivamente ao serviço judiciário. A citação far-se-á pela comunicação pessoal ao réu – ou, eventualmente, a seu representante legal ou ainda ao seu procurador legalmente autorizado – da existência da ação proposta em detrimento de sua esfera jurídica, convocando-o a participar do processo na qualidade de parte. O Código permite ainda, na ausência do citando, a citação na pessoa de seu mandatário, administrador, preposto ou gerente, quando a ação se originar de atos por ele praticados. Refere o Código, ainda, que o locador, que se ausentar do Brasil sem cientificar o locatário que deixou na localidade onde estiver situado o imóvel procurador com poderes para receber citação, será citado na pessoa do administrador do imóvel encarregado do recebimento dos aluguéis, que será considerado inclusive habilitado para representa-lo em juízo (art. 242, §2º). Essa comunicação pode ocorrer em qualquer local onde se encontre o réu (art. 243), desde que obedecidas as garantias constitucionais e legais para tanto. Assim, por exemplo, não se admite possa o oficial de justiça, para efetivar a citação, ingressar sem permissão (ou autorização judicial) na casa do réu, já que isso violaria frontalmente o disposto no art. 5º, XI, da CF. Da mesma forma, salvo casos excepcionais (para evitar o perecimento de direito), a lei processual veda a citação do réu que se encontre em circunstâncias especiais, tais como: a quem estiver participando de ato de culto religioso; ao cônjuge, companheiro ou a qualquer parente do morto, consaguineo ou afim, em linha reta ou na linha colateral em segundo grau, no dia do falecimento e nos sete dias seguintes; aos noivos, nos três primeiros dias seguintes ao casamento; aos doentes, enquanto grave seu estado (art. 244). A essas pessoas – e a outras, como os militares em serviço ativo e os mentalmente incapazes (para os quais a lei exige procedimento especial, arts. 245) – a citação realizada fora dos parâmetros fixados em lei é nula, invalidando, ademais, o processo como um todo. No que tange ao conhecimento dos termos da demanda, o Código de Processo Civil concebe duas formas de citação: a citação real e a citação ficta. A primeira se faz diretamente à parte no processo ou a seu representante legal com poderes para representar o réu pessoalmente. Já a citação ficta ocorre quando a ciência do réu sobre a propositura da ação ocorre por mera ficção legal. Por duas formas, autorizadas em lei, pode dar- se a citação ficta: a citação por edital e a citação com hora certa. Seja como for,quando a citação for ficta e não comparecendo o réu para defender-se no processo, a fim de evitar prejuízo à sua defesa, prevê o CPC a nomeação de curador especial, que será responsável pela defesa do revel citado por edital ou com hora certa (art. 72, II). A esse curador concedem-se, ademais, para poder oferecer defesa adequada ao revel, poderes especiais, permitindo-lhe fundamentalmente a defesa por negativa geral (art. 341, parágrafo único). No que concerne às formas pelas quais a citação pode ser realizada, o Código de Processo Civil prevê cinco meios: pelo correio; por oficial de justiça; pelo escrivão ou chefe de secretaria; por edital; e por meio eletrônico (art. 246). O ideal é que a citação ocorra sempre por meio eletrônico. Para que isso possa ocorrer, prevê o legislador o dever de as empresas públicas e privadas, ressalvadas as microempresas e as empresas de pequeno porte, manter cadastro junto aos sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito de recebimento de citações e intimações. Esse dever grava igualmente a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e as entidades da administração indireta (art. 246, §2º). Não ocorrendo por meio eletrônico, a citação deverá ocorrer pelo correio para qualquer comarca do país, exceto nas ações de estado, quando o citando for incapaz, for pessoa de direito público, quando o citando residir em local não atendido pela entrega domiciliar de correspondência ou quando o autor, justificadamente, a requerer por outra forma (art. 247). A carta contendo a citação obedecerá aos requisitos do art. 248. Nos condomínios edilícios ou loteamentos com controle de acesso, será válida a entrega do mandado feita a funcionário da portaria responsável pelo recebimento de correspondência, que, entretanto, poderá recusar o recebimento, se declarar, por escrito, sob as penas da lei, que o destinatário da correspondência está ausente. Não sendo admissível citação pelo correio ou sendo essa frustrada, a citação será feita por meio de oficial de justiça (art. 249). Acaso apareça o citando em cartório ou secretaria, pode ainda o escrivão ou chefe de secretaria citá-lo. Sendo o caso de citação por oficial de justiça, esse receberá mandado de citação (que deverá preencher os requisitos do art. 250, sob pena de nulidade), devendo, então, procurar o réu onde se encontrar – ressalvadas as situações e locais acima apontados – e promover sua citação, mediante leitura do mandado e entrega da contrafé, certificando no mandado essa entrega ou sua recusa, bem como a ciência do réu sobre a citação (art. 251). Ainda, conforme prescreve o art. 255, nas comarcas contíguas de fácil comunicação e nas que se situem na mesma região metropolitana, o oficial de justiça poderá efetuar, em qualquer delas, citações, intimações, notificações, penhoras e quaisquer outros meios executivos. Dispensa-se nesse caso o emprego de carta precatória. A citação por oficial de justiça pode dar azo a uma forma de citação ficta, a chamada citação com hora certa. Esta é admitida quando a citação tradicional, por oficial – acima vista -, não puder ser concluída porque, após procurar o réu por duas vezes em seu domicílio ou residência – ou ainda em outro local em que pudesse, normalmente, ser encontrado -, o oficial de justiça não logrou encontra-lo, suspeitando que ele tenta ocultar- se para evitar a citação. Nesse caso, deve o oficial de justiça intimar qualquer pessoa da família ou, na falta dessa, algum vizinho, de que voltará àquele local, no dia útil imediato, em hora determinada, para citar o réu. Nos condomínios edilícios ou loteamentos com controle de acesso, será válida a intimação feita a funcionário da portaria responsável pelo recebimento de correspondência. Então, e sendo desnecessário para isso novo despacho judicial ou mesmo prévia comunicação ao juízo, no dia subsequente e na hora e lugar marcados, voltará o oficial para proceder à citação. Encontrando o réu, efetivará a citação pessoal, na forma anteriormente descrita. Caso contrário, não encontrando o réu no local determinado, e sem que haja plausível justificativa para a ausência dele, a critério do próprio oficial (posteriormente sujeito ao crivo judicial), considerar-se-á citado o réu, certificando o fato no mandado e deixando a contrafé com alguém da família ou algum vizinho, cujo nome também constará na certidão. A citação com hora certa será efetivada mesmo que a pessoa da família ou o vizinho, que houver sido intimado, esteja ausente, ou se, embora presente, a pessoa da família ou o vizinho se recusar a receber o mandado (art. 253, §2º). Tem de constar no mandado a advertência de que, havendo revelia, será nomeado curador especial ao réu (art. 253, §4º). Feita a citação com hora certa, o escrivão ou chefe de secretaria enviará ao réu, executado ou interessado, no prazo de dez dias, contado da data da juntada do mandado aos autos, carta, telegrama ou correspondência eletrônica, dando-lhe de tudo ciência (art. 254). Por fim, é possível citação por edital, que pode ser essencial ou acidental. Ela é essencial quando responde à especificidade do direito material debatido em juízo, porque aí ela é da essência do procedimento que visa à tutela do direito. É o caso da ação de usucapião, da ação de recuperação ou substituição de título ao portador e de todas aquelas ações em que seja necessária, por determinação legal, a provocação, para a participação no processo, de interessados incertos ou desconhecidos (art. 259). Nesses casos, é indispensável a realização da citação por edital. Acidentalmente, a citação por edital serve para promover a citação quando for desconhecido ou incerto o réu, quando for ignorado, incerto ou inacessível – aí inserido o país estrangeiro que recuse o cumprimento de carta rogatória brasileira – seu paradeiro ou ainda nos demais casos contemplados pela lei. O réu será considerado em local ignorado ou incerto se infrutíferas as tentativas de sua localização, inclusive mediante requisição pelo juízo de informações sobre seu endereço nos cadastros de órgãos públicos ou de concessionárias de serviços públicos (art. 256, §3º). São requisitos da citação por edital: a afirmação do autor ou a certidão do oficial informando a presença das circunstâncias autorizadoras; a publicação do edital na rede mundial de computadores, no sítio do respectivo tribunal e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, que deve ser certificada nos autos; a determinação pelo juiz, do prazo, que variará entre vinte e sessenta dias, fluindo da data da publicação única, ou havendo mais de uma, da primeira; a advertência de que será nomeado curador especial em caso de revelia. O juiz poderá determinar que a publicação do edital seja feita também em jornal local de ampla circulação ou por outros meios, considerando as peculiaridades da comarca, da seção ou da subseção judiciárias (art. 257, parágrafo único). O prazo do edital não se confunde com o prazo para a defesa: apenas depois de escoado o prazo a que alude o art. 257, III, é que começará a fluir o prazo para a defesa, na forma do art. 355. Se o autor requerer a citação do réu por edital, invocando dolosa e falsamente o desconhecimento ou incerteza quanto à sua pessoa ou a ignorância, incerteza ou inacessibilidade de sua localização, ser-lhe-á imposta multa no importe de cinco vezes o valor do salário mínimo, que reverterá em benefício do citando (art. 258) – tudo, obviamente, sem prejuízo da eventual sanção criminal aplicável (art. 347, do CP) e da nulidade da citação. Conforme define o Código de Processo Civil, intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e dos termos do processo (art. 269). O juiz determinará de ofício as intimações em processos pendentes, salvo disposição em contrário (art.271). As intimações podem ocorrer: por meio eletrônico; por publicação oficial; pelo escrivão ou pelo chefe de secretaria, pessoalmente ou pelo correio, sendo possível inclusive por ato do advogado da parte contrária; por oficial de justiça, inclusive por hora certa; por edital. As intimações realizam-se, sempre que possível, por meio eletrônico, na forma da lei. Nessa linha, tem o Ministério Público, a Defensoria Pública e a advocacia pública o dever de manter endereços eletrônicos para viabilizar as intimações eletrônicas. A intimação da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de suas respectivas autarquias e fundações de direito público será realizada perante o órgão de Advocacia Pública responsável por sua representação judicial. Quando não realizadas por meio eletrônico, consideram-se feitas as intimações pela publicação dos atos no órgão oficial. Os advogados poderão requerer que, na intimação a eles dirigida, figure apenas o nome da sociedade a que pertençam, desde que devidamente registrada na Ordem dos Advogados do Brasil. Sob pena de nulidade, é indispensável que da publicação constem os nomes das partes, de seus advogados com o respectivo número da inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, ou, se assim requerido, da sociedade de advogados. A grafia dos nomes das partes não deve conter abreviaturas. A grafia dos nomes dos advogados deve corresponder ao nome completo e ser a mesma que constar da procuração ou que estiver registrada junto à Ordem dos Advogados do Brasil. Constando dos autos pedido expresso para que as comunicações dos atos processuais sejam feitas em nome dos advogados indicados, o seu desatendimento implicará nulidade. A retirada dos autos do cartório ou da secretaria em carga pelo advogado, por pessoa credenciada a pedido do advogado ou da sociedade de advogados, pela Advocacia Pública, pela Defensoria Pública ou pelo Ministério Público implicará intimação de qualquer decisão contida no processo retirado, ainda que pendente de publicação. O advogado e a sociedade de advogados deverão requerer o respectivo credenciamento para a retirada de autos por preposto. Não sendo possível a prática imediata do ato diante da necessidade de acesso prévio aos autos, a parte limitar-se-á a arguir a nulidade da intimação, caso em que o prazo será contado da intimação da decisão que a reconheça (art. 272, §9º). Se inviável a intimação por meio eletrônico e não houve na localidade publicação em órgão oficial, incumbirá ao escrivão ou chefe de secretaria intimar de todos os atos do processo os advogados das partes: pessoalmente, se tiverem domicílio na sede do juízo; por carta registrada, com aviso de recebimento, quando forem domiciliados fora do juízo (art. 273). Presumem-se válidas as intimações dirigidas ao endereço constante dos autos, ainda que não recebidas pessoalmente pelo interessado, se a modificação temporária ou definitiva não tiver sido devidamente comunicada ao juízo, fluindo os prazos a partir da juntada aos autos do comprovante de entrega da correspondência no primitivo endereço (art. 274, parágrafo único). É facultado aos advogados promover a intimação do advogado da outra parte por meio do correio, juntando aos autos, a seguir, cópia do ofício de intimação e do aviso de recebimento. O ofício de intimação deverá ser instruído com cópia do despacho, da decisão ou da sentença. A intimação será feita por oficial de justiça quando frustrada a realização por meio eletrônico ou pelo correio. A certidão de intimação deve conter: a indicação do lugar e a descrição da pessoa intimada, mencionando, quando possível, o número de sua certeira de identidade e o órgão que a expediu; a declaração de entrega de contrafé; a nota de ciente ou a certidão de que o interessado não a apôs no mandado. Caso necessário, a intimação poderá ser efetuada com hora certa ou ainda por edital (art. 275, §2º). 2. Petição inicial 2.1. A propositura da ação, a distribuição da petição inicial e a instauração do processo A propositura da ação dá início ao processo. No processo civil brasileiro, considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada em juízo (art. 312). Uma vez protocolada, essa é submetida ao registro e, havendo mais de um juízo, é determinada a sua distribuição (art. 284). Saber quando se considera exercido o direito de ação é importante por várias razões, sendo que dentre elas figuram os marcos para a perpetuação da competência (art. 43), para prevenção do juízo (art. 59) e para a interrupção da prescrição (art. 240). 2.2. Requisitos da petição inicial De acordo com o art. 319, a petição inicial indicará: o juízo a que é dirigida; os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu; o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; o pedido com as suas especificações; o valor da causa; as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação. Além disso, a petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação (art. 320) – como, por exemplo, a procuração outorgada ao advogado. É necessário perceber, ainda, que os conceitos de partes, causa de pedir e pedido são fundamentais para a correta individualização da ação, já que são seus elementos, segundo o próprio Código de Processo Civil (art. 337, §2º) – nossa legislação adotou o critério da tríplice identidade para identificação das ações. Por consequência, esses conceitos são importantes para a identificação da litispendência e da coisa julgada, pois, como também diz o Código de Processo Civil, há litispendência quando se repete ação que está em curso, e há coisa julgada quando se repete ação que foi decidida por sentença de que não caiba recurso (art. 337, §§3º e 4º). 2.2.1. Partes Parte é quem pede e contra quem se pede tutela jurisdicional. A petição inicial deve identificar quem são as partes no processo (art. 319, II). Não dispondo dessas informações, poderá o autor requerer que o juiz o auxilie, determinando as diligências necessárias para a sua obtenção (tem- se aí o dever de auxílio do juiz decorrente da necessidade de colaboração no processo, art. 319, §1º). É por essa razão que o art. 319, §2º, refere que, a despeito de não estarem completas as informações, a petição inicial não será indeferida se for possível a citação do réu. As partes no processo tendencialmente refletem as partes na relação de direito material que se afirma existente ou inexistente em juízo (ressalvados os casos de legitimação extraordinária, art. 18). O art. 319, II, exige apenas a identificação das partes – quem pede e contra quem se pede tutela jurisdicional, isto é, a identificação das pessoas que irão litigar. Saber se as partes são legítimas para a causa ou não é uma questão que tem de ser decidida pelo juízo durante o processo. 2.2.2. Causa de pedir O autor, por meio da causa de pedir, e o réu, por meio da alegação de defesas indiretas na contestação, podem trazer fatos essenciais a juízo a fim de delimitar o litígio que deve ser examinado pelo juiz (art. 141). O Código de Processo Civil cataloga os fatos essenciais em fatos constitutivos e em fatos impeditivos, modificativos e extintivos do direito. É importante, portanto, saber a natureza de determinado fato – até mesmo porque o autor tem o ônus de provar os fatos constitutivos e o réu os demais (art. 373). Os fatos constitutivos são aqueles que dão vida auma vontade concreta da lei e à expectativa de um bem por parte de alguém, exemplificando-os fazendo referência ao empréstimo, ao testamento, ao ato ilícito e ao matrimônio. Os fatos extintivos são aqueles que fazem cessar uma vontade concreta da lei e a consequente expectativa de um bem. Por exemplo: pagamento; remissão de dívida; perda da coisa devida. Existindo uma circunstância que impeça um determinado fato de produzir o efeito que lhe é normal, há fato impeditivo. Já os fatos modificativos são aqueles que pressupõem válida a constituição do direito, mas tendem a alterá-lo. Assim, por exemplo, a moratória concedida ao devedor. Se o autor pede o pagamento da dívida, e o réu alega que foi parcelada, somente podendo ser exigida em parte, o fato é modificativo; se o réu alega pagamento, o fato é extintivo; se o réu alega exceção de contrato não cumprido, o fato é impeditivo. Costuma-se dividir a causa de pedir em remota e próxima. A primeira seria o título aquisitivo do direito (a origem do direito). Já a segunda seria a ameaça ao direito que se pretende evitar ou a violação ao direito que se pretende reparar. É possível, contudo, que a petição inicial invoque mais de uma causa de pedir. Isso pode ocorrer quando: são invocados fatos de igual estrutura, que repercutem na esfera jurídica de uma pessoa: pede-se anulação de contrato, alegando-se que o réu, por diversas vezes, violou determinada cláusula de contrato; são invocados fatos de igual estrutura, que conduzem a efeitos jurídicos que repercutem em diferentes esferas jurídicas: dois autores, proprietários de casas vizinhas, afirmam que o réu, por culpa, causou danos a seus imóveis; são invocados fatos de estrutura diferente: pede-se o despejo do réu com base no não pagamento do aluguel e no uso indevido do imóvel. Assim como é vedado ao juiz julgar a causa genericamente, fundamentando de forma vaga e desligada do caso concreto a sua decisão (art. 489, §§ 1º e 2º. Do CPC), também é defeso à parte alegar genericamente na petição inicial o sue direito. Isso quer dizer que a parte tem o ônus de sustentar justificadamente suas posições jurídicas na petição inicial (art. 319, III, do CPC) – e o mesmo vale, por uma questão de igualdade (arts. 5º, I, CF/1988, e 7º do CPC), para o réu na contestação (art. 336 do CPC). Não tendo a parte desempenhado adequadamente o seu ônus de alegar justificadamente, tem o juiz o dever de determinar o esclarecimento das suas alegações (art. 321 do CPC). Sob outro ângulo, para atender ao art. 319, III, do CPC, é correto afirmar que o autor deve afirmar um fato e apresentar o seu nexo com o efeito jurídico. Não atende ao art. 319, III, do CPC, a simples indicação, reprodução ou paráfrase de texto normativo: é preciso que a parte contextualize as suas afirmações, mostrando qual a sua relação concreta com o caso que pretende ver julgado a seu favor (analogicamente, art. 489, §1º, I, do CPC). Ademais, assim como é vedado ao juiz valer-se de postulados como a proporcionalidade, a razoabilidade e a ponderação sem justificar adequadamente a maneira como essas normas incidem para solução de conflitos entre outras normas, também é vedado à parte invocar semelhantes normas sem justificar apropriadamente por qual razão incidem e como contribuem para interpretação e aplicação de outras normas (analogicamente, art. 489, §2º, do CPC). O mesmo vale obviamente para a aplicação dos princípios: é preciso mostrar quais são os estados de coisas que os princípios visam a promover e de que modo essas finalidades determinam ou não a solução do caso apresentado na petição inicial (analogicamente, art. 489, §1º, I, e §2º, do CPC). Por fim, embora não conste no rol do art. 319, constitui requisito da petição inicial e, especificamente, requisito concernente à causa de pedir, a discriminação das obrigações contratuais controvertidas e a quantificação do valor incontroverso do débito nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação decorrente de empréstimo, financiamento ou alienação de bens (art. 330, §2º). Obviamente, o valor incontroverso não constitui matéria judicializada e, portanto, não pode modo algum ser alcançado pelo resultado do processo – pela simples razão de que não compõe o mérito da causa. Por essa razão, o valor incontroverso deverá continuar sendo pago no tempo e modo contratados, de acordo com o direito material que rege a espécie (art. 330, §3º). 2.2.3. Pedido O pedido tem duas faces essenciais, uma vez que divide-se em pedido imediato e pedido mediato – o primeiro concerne à técnica processual, ao passo que o segundo diz respeito à tutela do direito. Assim, quando se alude ao pedido imediato, pensa-se na espécie de sentença – e consequentemente no tipo de pedido – que é requerida ao órgão jurisdicional. Nesse sentido fala-se em pedido declaratório, constitutivo, condenatório, mandamental e executivo. O pedido declaratório é aquele por meio do qual o autor pede a declaração da existência ou inexistência de uma relação jurídica ou de seus efeitos (art. 19, I), podendo excepcionalmente ser requerida uma declaração sobre um fato - o fato da falsidade ou inautenticidade documental (art. 19, II). O pedido é constitutivo quando se postula a criação, extinção ou a modificação de uma situação jurídica. Exemplos: renovação, alteração ou anulação de um negócio jurídico (por exemplo, por força do art. 157 do CC – alegação de lesão). Há pedido condenatório quando se pede que o juiz condene o réu ao pagamento de certa quantia – por exemplo, ao pagamento de uma indenização. Nessa perspectiva, do ponto de vista teórico, não há qualquer distinção entre a sentença condenatória que exige a propositura de ação de execução e a sentença condenatória que pode ser executada como uma simples fase posterior no próprio processo em que se desenvolveu a atividade de conhecimento. Dito de outro modo: constitui uma opção técnica ligada à política processual ter um processo autônomo de execução ou anexar a fase destinada à atividade executiva ao processo em que igualmente se desenvolveu a fase de conhecimento. O Código vigente adotou adequadamente a segunda opção (arts. 513 e ss.). O pedido é mandamental quando o autor pede que o juiz ordene sob pena de coerção indireta (por exemplo, multa coercitiva). Quando isso ocorre, pede-se algo diverso da simples condenação, pois o autor não quer apenas ter a possibilidade de requerer a execução – por expropriação – desejando que o juiz ordene que o réu faça (ou não faça) alguma coisa sob pena de coerção indireta. Em outros termos: nesse último caso deseja-se que a sentença pressione o réu (atue sobre a sua vontade) a fazer ou não fazer algo (art. 497). Por fim, há o pedido executivo, que faz surgir a sentença executiva, que tem por objetivo corrigir as linhas que separam as esferas jurídicas do autor e do réu por meio da atuação direta sobre o seu patrimônio por meio de técnicas processuais atípicas que independem de uma fase de cumprimento de sentença estruturada a partir da técnica expropriatória. O pedido executivo é apropriado, segundo o desenho legislativo, para a tutela do direito à coisa (art. 498) e para a tutela destinada a suprir a prestação da declaração de vontade (art. 501). O pedido mediato é o bem da vida pretendido pelo autor. Havendo dúvida a respeito do alcance do pedido, deve o juiz interpretá-lo considerando o conjunto da postulação e de acordo com o princípio da boa – fé (art. 322, §2º). Embora o Código enuncie esse postulado interpretativo do pedido como um parágrafo do art. 322, é certo que esse se aplica não só para a interpretação do pedido mediato, mas constitui uma norma geral para interpretação de todo e qualquer pedido. 2.2.3.1. Pedido certo O pedido tem de ser certo(art. 322). É claro que o pedido de técnica processual é sempre certo, ainda que possa o juiz variar de ofício a técnica executiva para prestação da tutela do direito (arts. 497 e 498). Ainda que se exija pedido certo, admite-se que certas postulações encontram-se implícitas – são os chamados pedidos implícitos (arts. 322, §1º, e 323). Assim é que estão compreendidos no principal os juros legais, a correção monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os honorários advocatícios. Ainda, na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em prestações sucessivas, essas serão consideradas incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa do autor e serão incluídas na condenação, enquanto durar a obrigação, se o devedor, no curso do processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las (art. 323). 2.2.3.2. Pedido determinado Além de certo, o pedido mediato deve ser também determinado (art. 324). Vale dizer: tem o autor de dimensionar o seu alcance na petição inicial. É lícito ao autor, no entanto, formular pedido genérico: nas ações universais, se não puder individuar os bens demandados; quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato; quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu (art. 324, §1º). O mesmo vale para o réu que formula reconvenção (art. 324, §2º). Ações universais são aquelas em que o bem da vida postulado em juízo é uma universalidade (fática ou jurídica). Constitui uma universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária (art. 90 do CC – por exemplo, uma biblioteca). Constitui uma universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma mesma pessoa, dotado de valor econômico (art. 91 do CC – por exemplo, o patrimônio e a herança). Exemplo clássico de situação que depende de ato a ser praticado pelo réu para se determinar o valor da condenação é o da ação de exigir de contas (arts. 550 e ss.). Sendo o pedido indeterminado, admite-se a prolação de sentença genérica. A obrigação constante da sentença genérica tem de ser liquidada antes de ser submetida a cumprimento (arts. 509 e ss.). 2.2.3.3. Pedido alternativo O pedido é fixo quando o direito material permite apenas um modo de realização da prestação, ao passo que pode ser alternativo quando, pela natureza da obrigação, o devedor puder cumprir a prestação de mais de um modo (art. 325). O Código de Processo Civil, quando alude à natureza da obrigação, está fazendo referência às obrigações alternativas (arts. 252 a 256 do CC) e às obrigações facultativas, isto é, às obrigações com faculdade de substituição da prestação. O direito brasileiro consagrou em toda a sua extensão a regra da atipicidade dos meios executivos (arts. 139, Iv, 536, 537 e 538), com o que tornou a atividade executiva mais maleável e adaptável às necessidades do caso concreto. Diz o parágrafo único do art. 325, parágrafo único, ainda que quando, pela lei ou pelo contrato, a escolha couber ao devedor, o juiz lhe assegurará o direito a cumprir a prestação de um ou de outro modo, ainda que o autor não tenha formulado pedido alternativo. Em regra, se outra coisa não se estipulou, a escolha cabe ao devedor nas obrigações alternativas (art. 252 do CC). Quando o autor formula pedido alternativo, o valor que deve ser atribuído à causa corresponde ao do pedido com maior valor econômico (art. 292, VII). O pedido alternativo não deve ser confundido com a cumulação alternativa de pedidos (art. 326). Na cumulação, existe uma ordem de preferência expressa pelo autor: o autor quer a procedência do pedido principal, mas também lhe serve a procedência do pedido alternativo. 2.2.3.4. Cumulação de pedidos O autor pode cumular pedidos na petição inicial. A cumulação pode ser simples ou eventual. A cumulação simples é caracterizada pela autonomia entre os pedidos (art. 327), ao passo que a cumulação eventual é caracterizada pela dependência – o pedido formulado de maneira sucessiva ou alternativa só será examinado se o juiz acolher ou rejeitar o pedido formulado de forma principal ou prioritária. 2.2.3.4.1. Cumulação simples O art. 327 permite a cumulação simples de pedidos. O juiz tem o dever de examinar todos os pedidos formulados em regime de cumulação simples, sendo por essa razão hipoteticamente possível a procedência simultânea de todos os pedidos cumulados. Por essa razão, na cumulação simples, o valor da causa corresponde à soma de todos os pedidos cumulados (art. 292, VI). Sucumbindo o autor quanto a qualquer um dos pedidos cumulados, tem interesse recursal. É admissível a cumulação simples de pedidos desde que os pedidos sejam compatíveis entre si, que o juízo seja absolutamente competente para conhecer de todos os pedidos cumulados e seja adequado para todos os pedidos o mesmo procedimento. O art. 327 sugere que a cumulação simples deve apresentar pedidos cumulados contra o mesmo réu. O juízo tem de ser absolutamente competente para conhecer de todos os pedidos cumulados. Se o juiz é relativamente incompetente, incidem as normas sobre prevenção e conexão, não havendo óbice à cumulação. Pode ocorrer de o juiz ser absolutamente competente para conhecer apenas um ou alguns dos pedidos cumulados. É possível ao demandante cumular pedido que siga o procedimento comum com pedido sujeito a procedimento especial, desde que p demandante opte pela adoção do procedimento comum, sem prejuízo do emprego das técnicas processuais diferenciadas previstas nos procedimentos especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados, que não forem incompatíveis com as disposições do procedimento comum (art. 327, §2º). Se a cumulação comprometer a defesa do demandado ou a rápida solução do litígio (por analogia, art. 113, §1º, já que o litisconsórcio facultativo simples implica cumulação objetiva), pode o juiz intimar o autor para que escolha qual o pedido que deve ser analisado no processo, não conhecendo dos demais. Pode o réu, ainda, requerer a inadmissibilidade da acumulação simples por idênticos fundamentos, inclusive em momento anterior à contestação, mediante mero requerimento nos autos, hipótese em que se interrompe o prazo para resposta à demanda (por analogia, art. 113, §2º). Trata-se de possibilidade que se adjudica ao demandado como decorrência direta do direito fundamental à paridade de armas no processo civil (art. 5º, I, da CF). 2.2.3.4.2. Cumulação sucessiva Há cumulação sucessiva de pedidos quando o autor formula dois pedidos pretendendo o acolhimento de ambos, sendo o acolhimento do primeiro pedido pressuposto lógico e essencial para análise do pedido sucessivo. Acolhendo o primeiro pedido e julgando improcedente o segundo, a parte deve ser considerada parcialmente sucumbente (art. 86) e há, evidentemente, interesse em recorrer. Em sendo o caso, todavia, de cumulação sucessiva, a fixação do valor da causa obedece à soma de todos os pedidos cumulados (art. 292, VI). 2.2.3.4.3. Cumulação alternativa Há cumulação eventual alternativa de pedidos – ou simplesmente cumulação eventual – quando o autor formula pedido subsidiário, cuja apreciação só se dará na impossibilidade de acolhimento do pedido principal. É o assunto regulado no caput do art. 326. Além da cumulação alternativa com ordem prioritária, o legislador consagrou igualmente a cumulação alternativa sem ordem prioritária no parágrafo único do art. 326 (é lícito formular mais de um pedido, alternativamente, para que o acolha um deles). No fundo, o parágrafo único do art. 326 constitui uma espécie de atipicização da regra do pedido alternativo (art. 325). Havendo cumulação alternativa, o valor dacausa corresponde ao valor do pedido principal (art. 292, VIII). 2.2.3.5. Modificações da causa de pedir e do pedido O art. 329 refere que o autor poderá: até a citação, aditar ou altera o pedido ou a causa de pedir, independentemente do consentimento do réu; até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a causa de pedir, com o consentimento do réu, assegurado o contraditório mediante a possibilidade de manifestação deste no prazo mínimo de quinze dias, facultado o requerimento de prova suplementar – obviamente por quaisquer das partes. A mesma possibilidade de modificação da causa de pedir e do pedido aplica-se à reconvenção. No direito anterior, porém, dizia-se que em nenhuma hipótese seria admitida modificação da causa de pedir e do pedido do saneamento da causa. O direito vigente não repetiu semelhante vedação, na medida em que, versando a causa sobre direitos disponíveis e sendo as partes capazes, nada obsta à modificação acordada da causa de pedir e do pedido (art. 190). Não foi deferido ao órgão judicial qualquer juízo de valor a respeito da conveniência ou não da realização do acordo processual sobre a modificação da causa de pedir e do pedido. Assim, o juiz só poderá negar validade a acordo dessa ordem nos casos expressamente mencionados no art. 190, parágrafo único. No mais, o art. 329 fala em aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir. O Código não veda a possibilidade de a parte autora pretender reduzir a causa de pedir ou o pedido. A redução da causa de pedir e do pedido pelo autor é lícita e não se submete aos limites temporais da citação e do saneamento da causa. Com efeito, o pedido pode ser reduzido em virtude de: desistência da ação no tocante a uma parte do pedido ou a um dos pedidos (quando houver cumulação de pedidos); renúncia a uma parte do direito postulado; transação parcial na pendência do processo; convenção de arbitragem em relação a uma parte do objeto do litígio e; recurso em relação a uma parte da sentença. Em todos esses casos, fica claro que há autorização legal para a redução do pedido, de modo que a sua ocorrência não fica subordinada aos limites temporais definidos pelo art. 329. 2.2.4. Valor da causa Ao litígio posto em juízo deve ser dado um valor. Ainda que o litígio não tenha valor econômico imediatamente aferível, ou não configure propriamente um litígio – por não haver conflito entre as partes -, toda causa que deva ser objeto de prestação jurisdicional deve ser valorada (art. 291). O valor da causa – que é requisito obrigatório da petição inicial (arts. 291 e 319, V) – pode ser legal ou estimado. O art. 292 encarrega-se de estabelecer critérios para que sejam fixados os valores de algumas causas. Na ausência de critérios legais para que seja fixado o valor da causa, o autor deve proceder por estimativa. O valor da causa sempre deve retratar o estado fático – jurídico da causa que existe no momento da apresentação da petição inicial. Quando se pedirem prestações vencidas e vincendas, tomar-se-á em consideração o valor de umas e outras. O valor das prestações vincendas será igual a uma prestação anual, se a obrigação for por tempo indeterminado ou por tempo superior a um ano. Se por tempo inferior, será igual à soma das prestações. O juiz corrigirá, de ofício e por arbitramento, o valor da causa, quando verificar que não corresponde ao conteúdo patrimonial em discussão ou ao proveito econômico perseguido pelo autor. Nesse caso, determinará de imediato o recolhimento das custas correspondentes. Não estando o réu de acordo com o valor atribuído à causa, poderá impugná-lo em preliminar de contestação (art. 293). Não o fazendo, incide a preclusão. Perceba-se, portanto, que o direito vigente eliminou o incidente de impugnação ao valor da causa, seguindo uma linha de simplificação formal que visa à economia processual e daí à duração razoável do processo (art.s 5º, LXXVIII, da CF, e art. 4º do CPC). O juiz decidirá a respeito, preferencialmente no saneamento da causa (art. 357, I), impondo, se for o caso, a complementação das custas. 2.2.5. Requerimento de provas Tem o demandante o ônus de indicar na petição inicial os meios de prova que pretende mostrar a veracidade do que alega em juízo. Não estando especificados os meios de prova com que as partes pretendem provar suas alegações até o momento oportuno para a organização do processo, tem o juiz de intimá-las a fim de que essas as especifiquem, a fim de que o juiz possa decidir a respeito (art. 321). 2.2.6. Opção ou não de audiência de conciliação ou de mediação A fim de facilitar a solução consensual do litígio (art. 3º, §2º), o legislador desenhou o procedimento comum de modo a proporcionar às partes uma oportunidade de diálogo antes de se encontrar bilateralmente estabelecido o litígio no processo, - isto é, antes de oferecida a contestação. A oportunidade para tanto é a audiência de conciliação ou de mediação (art. 334). Essa audiência, no entanto, não será realizada se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual ou se a natureza do direito não admitir a autocomposição (art. 334, §4º, I). Daí a razão pela qual tem o autor de manifestar expressamente a sua opção ou não pela realização da audiência de conciliação ou de mediação (art. 319, VII). 2.3. Emenda à petição inicial Chama-se emenda à petição inicial a possibilidade que o juiz confere à parte autora, no momento em que lhe é apresentada a petição inicial, de sanar eventual incorreção ou até mesmo omissão nela contida. Se a petição inicial não possui os requisitos dos arts. 319 e 320, ou apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, o juiz deverá determinar que o autor a emende ou complete-a no prazo de quinze dias, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado. Esse dever está hoje expressamente previsto no art. 321 e é uma especificação do dever geral de colaboração do juiz para com as partes (art. 6º). Quando a petição inicial pode ser emendada, é proibido ao juiz indeferi-la sem dar o direito de emendá-la. Não atendida a determinação de emenda, cumpre ao juiz extinguir o processo sem resolução de mérito, indeferindo a petição inicial (art. 321, parágrafo único). Indeferida, pode o autor apelar, facultado ao juiz, no prazo de cinco dias, retratar-se (art. 331). 2.4. Indeferimento da petição inicial Pode o juiz indeferir a petição inicial quando considerá-la inepta, quando não for possível julgar o mérito por falta de legitimidade para a causa ou de interesse processual, quando a determinação de emenda não for atendida e quando o advogado, postulando em causa própria, não declinar sua qualificação e endereço (art. 330). Em nenhum desses casos há resolução de mérito (art. 485). Os casos em que o juiz pode antes da citação do réu resolver o mérito da causa entram nas hipóteses que são catalogadas pelo Código como de improcedência liminar do pedido (art. 332). Considera-se inepta a petição inicial quando lhe faltar pedido ou causa de pedir, quando o pedido for indeterminado, fora das hipóteses em que permitido, quando da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão e quando contiver pedidos incompatíveis (art. 330, §1º), ressalvada a possibilidade de cumulação alternativa (art. 326). Embora o Código tenha abolido a categoria das condições da ação, o julgamento que entende que a parte é ilegítima para a causa ou de que o autor não tem interesse processual determina a extinção do processo sem resolução de mérito (art. 330, II e III). Mesmo nas questões que o juiz pode conhecer de ofício, como a legitimidade e o interesse (art. 337, §5º), tem o juiz de primeiro oportunizar o contraditório antesde decidi-las (arts. 5º, LV, da CF, e 9º do CPC). Posto que não se trate propriamente de determinar emenda à petição inicial, tendo em conta que o problema aí está apenas em oportunizar ao autor que convença o juiz da ausência de qualquer defeito de legitimidade ou interesse, é possível veicular o dever de diálogo judicial mediante emenda à petição inicial, porque o que interessa é viabilizar o contraditório sobre a questão da legitimidade ou do interesse. Inexistindo oportunidade para o contraditório, há violação do dever de diálogo do juiz, inerente à colaboração no processo civil (arts. 6º, 9º e 10). Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, sendo facultado ao juiz, no prazo de cinco dias, retratar-se. Se não houver retratação, o juiz mandará citar o réu para responder ao recurso. Sendo a sentença reformada pelo tribunal, o prazo para a contestação começará a correr da intimação do retorno dos autos (art. 331, §2º). Sendo oportuna a designação de audiência de conciliação ou de mediação, contudo, deverá o juiz fazê-lo, caso em que o prazo para a contestação obedecer ao disposto no art. 335, I. Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença (art. 331, §3º). 2.5. Improcedência liminar do pedido Refere o art. 332: nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar: enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local. O seu §1º ainda refere: o juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição. Alguém poderia imaginar que o julgamento liminar de improcedência não poderia levar em consideração questões sobre as quais o autor não teve a oportunidade de se manifestar (arts. 5º, LV, da CF, e 10 do CPC). Isso poderia levar à conclusão de que, acaso o autor não tenha se pronunciado sobre a aplicação do precedente, da jurisprudência, da decadência ou da prescrição ao seu caso na petição inicial, teria o juiz de oportunizar que o autor se pronunciasse sobre a aplicação do precedente ou da jurisprudência ao seu caso ou sobre a decadência do direito ou a prescrição da pretensão. No entanto, como nesse caso a apelação excepcionalmente viabiliza a retratação do juiz de primeiro grau (art. 332, §3º), pode o contraditório ser exercido eficazmente na apelação, inclusive com a possibilidade de o juiz se retratar e reconhecer que o precedente não é aplicável, que a orientação jurisprudencial não alcança o caso, que não há decadência ou prescrição. E é justamente por essa razão que o art. 332, §1º, dispensa o contraditório prévio no julgamento da improcedência liminar que declara a decadência ou a prescrição. Do julgamento de improcedência liminar caberá apelação (art. 1.009). Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença (arts. 332, §2º). Interposta, o juiz poderá retratar-se em cinco dias. Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do processo, com a citação do réu; se não houver retratação, determinará a citação do réu para apresentar contrarrazões, no prazo de quinze dias (art. 332, §4º). Havendo cumulação de pedidos, sujeitando-se um ou alguns deles à improcdência liminar, caberá o recurso de agravo de instrumento de decisão parcial (art. 1.015, II). 2.6. Deferimento da petição inicial Estando em termos a petição inicial, isto é, não sendo o caso de seu indeferimento (art. 330), nem de improcedência liminar do pedido (art. 332), o juiz deferirá a petição inicial e determinará a citação do réu. No procedimento comum, a citação do réu é para o comparecimento em audiência de conciliação ou de mediação (art. 334). A citação só não será para a audiência – e sim para a apresentação de defesa (art. 335) – quando todas as partes manifestarem expressamente desinteresse na composição consensual (arts. 334, §4º, I) ou quando, pela natureza do direito debatido em juízo, não se admitir a autocomposição (art. 334, §4º, II). 3. Atitudes do réu 3.1. Atitudes do réu Simetricamente ao direito fundamental de ação (art. 5º, XXXV, da CF) encontra-se o direito fundamental de defesa (art. 5º, LV, da CF). Daí que, não sendo o caso de designar audiência de conciliação ou mediação ou não tendo sido possível obter a autocomposição, tem o juiz de oportunizar que o réu exerça o seu direito de defesa (art. 335). Como decorrência do direito fundamental ao processo com duração razoável (art. 5º, LXXVIII, da CF), repetido como norma fundamental do processo civil pelo Código (art. 4º), nosso legislador procurou eliminar na maior medida possível o formalismo desnecessário, na medida em que o processo com duração razoável é processo em que se promove a economia processual. O Código eliminou as exceções e os incidentes de defesa: a incompetência relativa é matéria de contestação (art. 337, II), bem como a impugnação ao valor da causa (arts. 293 e 337, III) e a impugnação ao benefício da gratuidade judiciária (arts. 100 e 337, XIII). A reconvenção, que antes tinha de ser formulada em peça apartada, hoje tem de ser na contestação (art. 343). A provocação da intervenção forçada de terceiros continua sendo matéria de contestação (arts. 126 e 131). A ação declaratória incidental foi abolida, tendo sido alargado os limites objetivos da coisa julgada nas hipóteses legais (art. 503, §1º), além de a alegação de impedimento ou de suspeição do juiz hoje ser suscetível de apresentação por simples requerimento (art. 146). Visando à defesa, pode o réu tomar as seguintes atitudes: oferecer contestação (arts. 335 e ss.); oferecer reconvenção (art. 343); nada fazer com o que será decretada a sua revelia (arts. 344 e ss). Dependendo da atitude do réu e de seu conteúdo, tem o juiz de determinar providências preliminares à organização do processo (arts. 347 e ss.). Ainda, acaso concorde com o pedido do autor, poderá reconhecê-lo juridicamente, provocando a extinção do processo com resolução de mérito (art. 487, III, a). Ao reconhecer juridicamente o pedido, o autor concorda com as jurídicas que o autor extrai da causa de pedir, reconhecendo a procedência do pedido formulado. O reconhecimento jurídico do pedido não se confunde, portanto, com a confissão (arts. 389 e ss.), que é admissão de fato contrário ao interesse e cujo valor é probatório, não vinculando o convencimento judicial. O reconhecimento jurídico do pedido independe de prazo, podendo ocorrer ao longo de todo o processo. 4.2. Contestação A contestação corresponde ao campo mais amplo para a arguição da defesa. Se comparado com o direito anterior, o Código vigente aumentou o número de questões que ela pode veicular (art. 337), além de introduzir em determinadas hipóteses novos marcos como termo inicial de seu prazo (art. 335) e de permitir em um caso específico a sua apresentação perante foro diverso daquele em que foi proposta a ação (art. 340). O prazo para contestação é de quinze dias (art. 335). O termo inicial para fluência do prazo: da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer das partes não comparecer ou, comparecendo, não houver autocomposição; do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de conciliação ou de mediação apresentado pelo réu, quando ambas as partes expressamente manifestarem o desinteresse na autocomposição; em que se considerarealizada a citação, na forma do art. 231 (art. 335). No caso de litisconsórcio passivo, se todos se opuserem à realização da audiência de conciliação ou de mediação, o termo inicial para contestação será autônomo para cada um dos litisconsortes, vale dizer, para cada um dos réus, o termo inicial será a data da apresentação de seu respectivo pedido de cancelamento da audiência (art. 335, §1º). No caso de não ser possível autocomposição, e havendo o litisconsórcio passivo, o autor desistir da ação em relação ao réu ainda não citado, o prazo para a contestação correrá da data de intimação da decisão que homologar a desistência (art. 335, §2º). A contestação normalmente é apresentada diante do juiz da causa. Contudo, havendo alegação de incompetência relativa ou absoluta, a fim de facilitar o acesso à justiça do réu, a contestação poderá ser protocolada no foro do seu domicílio, fato que será imediatamente comunicado ao juiz da causa, preferencialmente por meio eletrônico (art. 340). No direito brasileiro, a contestação tem três características básicas: é uma defesa total (art. 336), formal (art. 337) e especificada (art. 341). A contestação é total porque incumbe ao réu alegar na contestação toda a matéria de defesa, expondo as razões com que impugna o pedido do autor, especificando ainda as provas que pretende produzir (art. 336). Vigora, assim, no direito processual civil brasileiro, a regra da eventualidade, segundo o qual toda e qualquer defesa que o réu tiver a opor ao pedido do autor deverá ser deduzida na ocasião da contestação, sob pena de preclusão. Como refere o art. 342, depois da contestação, só é lícito ao réu deduzir novas alegações quando: relativas a direito ou a fato superveniente; competir ao juiz conhecer delas de ofício (por exemplo, a decadência legal, art. 210, CC, e a existência de cláusulas abusivas em contratos de consumo, art. 51, CDC); por expressa autorização legal, puderem ser formuladas em qualquer tempo e grau de jurisdição (por exemplo, a existência de coisa julgada). Por força do caráter total imposto à contestação pela regra da eventualidade, cumpre ao réu nela arguir tanto defesas processuais como defesas materiais. Constitui defesa direta de mérito aquela pela qual o réu nega o fato constitutivo alegado pelo demandante ou nega a consequência jurídica pretendida pelo autor do fato constitutivo narrado (por exemplo, em uma ação de despejo, o réu alega que inexiste contrato de locação, que é o seu pressuposto, ou que o contrato é de comodato). Consiste em uma defesa indireta de mérito quando o réu opõe ao fato constitutivo afirmado pelo autor outro fato impeditivo (por exemplo, exceção de contrato não cumprido), modificativo (por exemplo, parcelamento da dívida) ou extintivo de seu direito (por exemplo, pagamento). Por essa razão, a propósito, tem o juiz de dar vista ao autor da contestação quando o réu alega qualquer espécie de defesa indireta (trata-se de providência preliminar, art. 350), a fim de resguardar-se o direito ao contraditório (art. 5º, LV, da CF, e 8º do CPC). Ademais, tem o réu de indicar as provas que espera produzir já na contestação. Tal como ocorre com a petição inicial, basta que aponte os meios de prova que pretende se valer para confortar as suas alegações, podendo especificá-la em momento posterior. Pretendendo produzir prova documental, contudo, deve o réu oferecê-la no momento de sua contestação (art. 434). A contestação tem uma ordem de alegação das matérias. É por essa razão que se diz que ela é formal – justamente porque apresenta uma forma específica de alegação das matérias. Refere o art. 337 que incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar: inexistência ou nulidade da citação; incompetência absoluta ou relativa; incorreção do valor da causa; inépcia da petição inicial; perempção; litispendência; coisa julgada; conexão; incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização; convenção de arbitragem; ausência de legitimidade ou de interesse processual; falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar; indevida concessão do benefício da gratuidade judiciária. Essas questões são consideradas questões preliminares pelo legislador. As questões preliminares arroladas pelo legislador têm em comum o fato de constituírem questões que podem e devem ser conhecidas de ofício pelo juiz (art. 337, §5º). Apenas a convenção de arbitragem e a incompetência relativa são questões que não podem ser conhecidas de ofício pelo juiz. Não alegada na contestação a incompetência relativa, prorroga-se a competência (art. 65). A ausência de alegação de convenção de arbitragem na contestação implica aceitação da jurisdição e renúncia à arbitragem (art. 337, §6º). Seguindo lição tradicional, nosso Código consagrou a teoria da tríplice identidade para arrolar os elementos da ação – ou da causa – e para identificar consequentemente a existência de litispendência e de coisa julgada (art. 337, §§1º a 4º). Uma ação é idêntica à outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido. No que tange à alegação de ilegitimidade passiva para a causa, o Código inova em relação ao direito anterior. No direito vigente, tornou-se atípica a necessidade de indicação da parte legítima, sendo um dever do réu fazê-lo em todos os casos em que alega ilegitimidade passiva, ressalvada a impossibilidade de indicação por desconhecimento (arts. 338 e 339). Não indicando quando possível, o réu arcará com as despesas processuais e indenizará o autor pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação. Diante da alegação do réu, o juiz facultará ao autor, em quinze dias, a alteração da petição inicial para a sua substituição (art. 339, §1º) ou para a inclusão do indicado pelo réu como seu litisconsorte passivo (art. 339, §2º). Aceita a indicação pelo autor, esse procederá à alteração da petição inicial no prazo de quinze dias para substituição do réu, sendo responsável pelas despesas processuais em que incorreu o réu originário (arts. 338, parágrafo único, e 339, §1º). Refere o art. 448 que, em sendo possível ao juiz resolver o mérito da causa em favor da parte a quem a extinção do processo sem o exame aproveitaria, deverá fazê-lo. A contestação tem de ser especificada (art. 341). O réu tem o ônus de manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas, salvo se: não for admissível, a seu respeito, a confissão; a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considera da substância do ato (por exemplo, a escritura pública da compra e venda do bem imóvel); e forem contrárias à defesa, considerada em seu conjunto. Vale dizer: é vedada a contestação genérica. Esse ônus de impugnação específica não se aplica, contudo, ao advogado dativo e ao curador especial. Nesses casos, é lícita a chamada defesa por negativa geral, em que é possível limitar-se a genericamente impugnar os fatos narrados pelo autor. A presunção gerada pela ausência de desempenho do ônus de impugnação específica é relativa. Isso quer dizer que pode ser afastada por prova em contrário realizada pelo demandado. Trata-se de presunção júris tantum. 4.3. Reconvenção Além de contestar, pode o réu aproveitar o processo já iniciado para propor uma ação contra o autor cujo nome é reconvenção. Ao contrário do que ocorria no direito anterior, o CPC de 2015 permite a formulação da reconvenção na própria contestação (art. 343). Não é necessário, portanto, que se formule o pedido reconvencional em uma petição exclusivamente a ele dedicado. É importante, contudo, que a reconvenção esteja bem identificada na contestação com a finalidade de facilitar o debate e a identificação das questões que dela surgem para
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