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@odontista – Bons estudos e continue acompanhando nosso IG :) 1 Clínica 6 - Estudos Cárie Dentária – Diagnóstico e Decisão de Tratamento A cárie não é infecciosa, pois o microorganismo não consegue causar a doença por si só. Não é transmissível porque não basta ter o microorganismo e passar de pessoa pra pessoa, se não há dieta rica em substrato. Além disto, não preciso necessariamente considerá-la multifatorial porque é sempre dependente de carboidrato fermentável. O S. mutans produz mutano que é um polissacarídeo hidrofóbico. A sacarose é mais cariogênica, porque é um dissacarídeo que possui uma enzima capaz de fermentar e produzir a PEC (película extracelular). A idéia de cárie como infecciosa partiu de um experimento com ratinhos germ-free que passaram por dieta sacarolítica, inoculados ou não com microorganismos “patogênicos” ou S. mutans. o Ratos germ free + sacarose: saudável. o Ratos s. mutans + sacarose: doença. o Ratos s. mutans + sacarose + penicilina: inibição da doença cárie. A tríade de Keyes é um conceito ultrapassado que surgiu a partir desta experiência. A tríade descreve que a doença cárie surge como resposta à susceptibilidade do hospedeiro, microbiota cariogênica e dieta rica em carboidrato que servirá como substrato. Além disso, pode-se adicionar o tempo como quarta variável na tríade. O excesso de açúcar altera o ambiente de maneira a desequilibrá-lo, causando estresse, produção e manutenção de um ambiente ácido. Com a queda do pH, há aumento da colonização por microorganismos acidúricos e acidogênicos. Estes, por sua vez, produzem uma matriz polissacarídica extracelular responsável pelo desenvolvimento da doença. Podemos dizer que, quanto mais microorganismos, maior o seu efeito devido à sinergia existente pelo “quorum sensing” bacteriano causando um desequilíbrio nos processos des-re, desencadeando a doença cárie. Conceito atual: A doença cárie não é uma doença infecciosa, mas sim uma disbiose polimicrobiana (desequilíbrio da ecologia de microorganismos residentes) causada pelo consumo de açúcar. Teoria ecológica da cárie Doença cárie: A formação do biofilme se dá da seguinte maneira: como resposta natural do organismo humano, há naturalmente a formação da película adquirida e colonização por colonizadores iniciais. Com a dieta rica em carboidratos, há uma maior produção de matriz polissacarídica extracelular e um aumento da colonização pelo S. mutans. Com a queda do pH decorrente desta colonização, há seleção das bactérias acidúricas e acidogênicas, formando um biofilme mais patológico e cariogênico, causador da doença cárie. Microbiota natural: No caso da formação de biofilme natural, há a formação da película adquirida e colonização inicial. Com a dieta balanceada, irá ocorrer a formação da PEC em níveis normais, insuficientes para desequilibrar o pH oral e propiciar meio para colonização de S. mutans em grande quantidade. Assim, há um esspessamento do biofilme não cariogênico, uma redução leve no CO2 e a colonização tardia. Este biofilme é natural e não patogênico. Homeostase bacteriana: A homeostase, ou seja, o equilíbrio de colonização bacteriana na cavidade oral é algo benéfico. A diversidade de colonizadores atua como efeito protetor. O equilíbrio é altamente dinâmico entre a @odontista – Bons estudos e continue acompanhando nosso IG :) 2 microbiota residente e as condições do ambiente. Os S. não mutans e actinomyces têm papel principal neste equilíbrio e manutenção da estabilidade do ambiente. Sinais de cárie: o 01 semana: Sinais não visíveis clinicamente. Alterações a nível estrutural. Dissolução parcial da superfície dos cristais. Espaços intercristalinos mais largos. o 02 semanas: Sinais visíveis pós secagem. Modificações clínicas no esmalte visíveis pós secagem. Áreas esbranquiçadas não cavitadas. o 03 semanas: Modificações clínicas no esmalte visíveis sem secagem. Não cavitadas. o + de 04 semanas: Cavitação já visível. Diagnóstico de cárie: o Ocorrência da doença. Sim ou não? o Prevalência da doença. Onde se encontra? Quais os dentes? o Severidade. Cavitada ou não cavitada? A secagem também indica o grau de desmineralização do esmalte: lesões que necessitam de secagem para serem vistas apresentam menor grau de perda mineral do que aquelas que são visíveis sem secagem. O esmalte hígido apresenta cristais de tamanho normal justapostos, enquanto esmalte desmineralizado apresenta cristais reduzidos com porosidade. o Atividade da doença. Ativa ou inativa? o Escolha da intervenção. Restaura ou não restaura? Mudanças significativas no diagnóstico de cárie: o Diagnóstico e tratamento da doença, baseado no reparo da lesão – Alterou-se essa perspectiva para promoção de saúde. Agora, nós tratamos a boca do paciente para que ela permaneça saudável ao invés de um tratamento meramente paliativo. o Tratamento odontológico padronizado – Alterado para um tratamento baseado no diagnóstico da atividade da doença. Cada paciente possui um perfil diagnóstico e tudo deve ser levado em consideração no tratamento. Cada caso deve ser tratado de uma maneira. o Diagnóstico tardio pelo desconhecimento da etiopatogenia (diiculdade/impossibilidade de prevenir ou retardar a progressão) – Hoje, preza-se por um diagnóstico precoce. Diagnóstico visual tátil: o Remoção do biofilme bacteriano: a doença pode estar camuflada pelo biofilme ou cálculos. Portanto, é necessário realizar o exame diagnóstico com os dentes completamente limpos. o Iluminação artificial: Somente um dente bem iluminado poderá ser diagnosticado, para visualização de lesões pequenas ou sombreamentos (cáries ocultas). o Superfícies dentárias secas (isolamento relativo): A importância da secagem prévia consiste no fato de que os índices de refração da água e da hidroxiapatita são muito semelhantes. Assim, o dente umedecido disfarça a lesão de cárie inicial. Quando secamos, observamos a diferença por conta de que a hidroxiapatita e o ar possuem índices de refração mais diferentes. Assim, o esmalte terá aparência branco calcário e as áreas com maior porosidade se destacarão. @odontista – Bons estudos e continue acompanhando nosso IG :) 3 IR hidroxiapatita: 1,62 IR água: 1,33 IR ar: 1,0 o Sonda “ball point” ou ponta romba: Sonda exploradora normalmente não é indicada para este exame, porque sua ponta aguda é capaz de fraturar esmalte sem suporte da lesão, o que não é desejável. o Espelho plano: para visualização de áreas indiretamente. Exame clínico: o Deve obedecer à ordem de: limpeza, secagem e sondagem para avaliação da textura. Métodos de diagnóstico clínico: A única forma de diagnóstico é esta inspeção visual e tátil que deve respeitar a análise dos seguintes aspectos: o Presença ou ausência da cavidade – não restaurar lesões não cavitadas. o Extensão da lesão. o Atividade da lesão. Podem existir casos de pessoas doentes sem lesões visíveis (cáries ocultas, sombreamentos, manchas brancas) ou de pessoas saudáveis com lesões visíveis, porém inativas, como cicatrizes. Atividade da lesão cariosa não-cavitada Características clínicas Ativa Inativa Cor Branca Branca pigmentada Textura Rugosa Lisa Reflexão da luz Opaca Brilhosa Atividade da lesão cariosa cavitada Características clínicas Ativa Inativa Cor Castanho claro ou amarelo Marrom Textura Amolecida ou coriácea Dura Atividade da lesão radicular Características clínicas Ativa Inativa Localização Junto à margemgengival Mais distante da margem gengival Aparência Amolecida ou coriácea Dura/brilhosa A paralização do processo carioso ocorre com a paralisação da disbiose e controle do biofilme. Tratamento não-restaurador 1. Controle do biofilme na área: orientação de higiene oral, melhora da escovação, remoção mecânica de cálculos, tártaros e manchamentos. 2. Disciplinar o consumo de açúcar: modificação dietética seguindo alguns passos. O primeiro deles seria a avaliação da dieta através do recordatório 24h, diário alimentar ou questionário de freqüência alimentar (para estudos epidemiológicos). O segundo passo seria observar as alterações nos hábitos alimentares do paciente, baseando-se no registro do paciente e na substituição de alimentos com açúcar por alternativas. Através destas ferramentas, podemos compreender um pouco da rotina de alimentação do paciente e formular sugestões de alteração para que seja menos agressivo aos dentes. o O recordatório 24h é feito sem aviso prévio, em que o entrevistado descreve com exatidão todos os alimentos/bebidas consumidos até a 24ªh anterior. Para conseguir uma orientação mais otimizada, seria necessário o desenvolvimento de mais de um recordatório por paciente, para estabelecer o que são hábitos e o que são atos esporádicos. Esta ferramenta é útil, pois facilita a memória do entrevistado. @odontista – Bons estudos e continue acompanhando nosso IG :) 4 o Já o diário alimentar possui potencial para prover informação mais acurada, em que o entrevistado anota alimentos no momento do consumo, não dependendo da memória, medindo o consumo atual e diminuindo a quantidade de erros. Porém, necessita da colaboração do paciente e de certo grau de escolaridade, além de que a análise dos dados pode ser mais trabalhosa. Além disto, o paciente tende a mudar os hábitos para registro. Nele, o paciente deve ser orientado a anotar tudo o que consumiu, dia, horário e quantidade. Devemos identificar a freqüência de consumo de açúcar, a freqüência alimentar, e relacionar as duas. o O aconselhamento deve ser focado no indivíduo, de maneira particularizada. Além disto, aconselhar a respeito de um hábito por vez, para que não fique sendo visto como “bronca”, mas como sugestão. 3. Utilização racional de fluoretos: O flúor atua como barreira protetiva para o desenvolvimento da cárie, pois diminui o pH crítico para ação bacteriana. Assim, o pH necessário para desmineralização do dente precisa ser ainda menor (mais ácido) para atuar de maneira prejudicial. Alem disso, quando a concentração de fluir é superior a 100ppm, reservatórios de fluoreto de cálcio são formados para ação residual. Quanto maior a concentração, maior o reservatório de fluoreto. o Quanto a não ingestão de líquidos ou ao não consumo de alimentos por 30 minutos após a aplicação do flúor, trata-se de um mito. O flúor deverá ser aplicado com rolete de algodão e pinça ou com o microbrush. Não deverá ser ingerido. o Além disso, podemos receitar o uso externo de solução de fluoreto de sódio a 0,2%, 100ml. Fazer bochechos de 10ml da solução 2x ao dia por 2 semanas. Tratamento restaurador: O tratamento restaurador é indicado quando há impossibilidade de acesso para higienização, alteração na função, dor, acometimento da estética ou quando há indicação para fortalecimento da estrutura dental remanescente. Artigo sobre infiltração marginal! Muito bom! o http://opalini.com/pt-br/noticias/post/restauracoes-infiltradas-um- conceito-que-deve-ser-apagado-da-odontologia-107/ Diagnóstico diferencial de lesão não cavitada - O termo mancha branca está em desuso, cada vez mais: Lesão não cavitada - “mancha branca” Fluorose Forma Acompanha o formato da gengiva Segue as estrias do esmalte Dentes acometidos Relacionado ao acúmulo de placa Dentes homólogos Região subgengival Está ausente Está presente Lesões de sombreamento em dentina: ICDAS4: Lesões com sombreamento subjacente à lesão dentinária, com ou sem ruptura de esmalte. Um estudo demonstrou análise de 25 dentes com este sombreamento. 88% deles, apresentaram envolvimento dentinário profundo, sugerindo necessidade de tratamento em todos os casos. Porém, outro estudo epidemiológico de Porto Alegre, RS, Brasil, analisou 95 dentes considerados ICDAS 4. 85% não possuíam imagem radiolúcida além da JAD, o que sugere tratamento não restaurador por provável ausência de cavidade. Portanto, o exame radiográfico é essencial para diagnóstico do envolvimento dentinário e decisão de tratamento. Lesões proximais: 1. Radiolucidez em ½ interna de dentina: lesão com cavidade. @odontista – Bons estudos e continue acompanhando nosso IG :) 5 2. Radiolucidez em ½ externa de dentina: lesão com/sem cavidade. Sugere-se afastamento dentário. 3. Radiolucidez até JAD: lesão sem cavidade. Os métodos de diagnóstico para superfícies proximais envolvem inspeção visual, com análise de dentes adjacentes extraídos, áreas de sombreamento, afastamento dental e análise do exame radiográfico. Lesões recorrentes: Aproximadamente 70% do tempo do dentista é gasto substituindo restaurações. No entanto, isto é influência da atividade de doença do paciente. De acordo com a odontologia restauradora convencional, não há uma melhora efetiva na saúde bucal do paciente visto que não há redução a prevalência da doença e, ainda, há maior número de dentes restaurados e perdidos. Além disto, a freqüência de visitas ao dentista está diretamente relacionada ao menor número de dentes hígidos. Além disto, indivíduos que mudam de dentista com mais freqüência, tendem a realizar mais tratamentos restauradores, ou seja, um sobre-tratamento. Isto consiste na dificuldade dos dentistas de obter diagnósticos consensuais.
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