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Direito Processual Civil Procedimentos Especiais Prof.: Moisés João Rech Problema • Caio faleceu deixando bens a seus herdeiros. • Ajuizada a ação de inventário para a descrição de toda herança, foi nomeado inventariante. • Contudo, suspeita-se que o inventariante estaria ocultando propositalmente o patrimônio do de cujus e praticando má administração. • Nesse caso, o que os herdeiros poderão fazer? Problema • Mévio sofreu processo de interdição e foi constituído curador para a administração de seus bens e interesses. • Contudo, os herdeiros de Mévio suspeitam de má administração dos bens e locupletamento por parte do curador. • Diante disso, buscam uma medida judicial para esclarecer a gestão patrimonial de Mévio praticada por seu curador. • Que medida judicial poderão tomar? Ação de exigir contas • Sempre que a administração de bens, valores ou interesses de determinado sujeito seja confiada a outrem, haverá a necessidade de prestação de contas, ou seja, da relação pormenorizada das receitas e despesas no desenvolvimento da administração. (Neves). • O objetivo da ação é liquidar o relacionamento jurídico (administração de coisa alheia), para que se determine a existência ou não de saldo, para a condenação da parte devedora. (Theodoro Jr.). Objeto da ação • O objetivo da ação é esclarecer as situações que resultam da administração dos bens alheios. • Todos os indivíduos que administram bens alheios devem prestar contas aos titulares (ex.: curador e curatelado). • Sua atividade é predominantemente cognitiva, e apenas parcialmente executiva. • O objetivo é o reconhecimento do credor e a condenação do devedor do saldo reconhecido em juízo. Natureza Jurídica • A ação de exigir contas é bifásica: (a) acertamento do dever de prestar contas (condenação de prestar = obrigação de fazer); (b) fixação do saldo a ser cobrado (condenação do saldo = obrigação de pagar). • Sua natureza é de processo de conhecimento (cognição), e a ação exercida é condenatória. • O montante fixado no saldo final formará título executivo judicial (art. 552 e 515, I). • O título executivo será executado nos próprios autos pelo cumprimento de sentença (art. 513, ss.). Competência e Legitimidade • O foro competente é o do lugar onde ocorreu a administração do interesse alheio (art. 53, IV, “b”). • Nas relações de consumo, a competência é da foro do consumidor (ex.: contratos bancários e de cartão de crédito). • A legitimidade ativa é atribuída ao titular do direito administrado. • A legitimidade passiva é atribuída ao administrador do interesse alheio. Legitimados Exemplos de que deve prestar contas: (a) Administrador judicial (art. 159 e ss., 869, e 22, III, ‘p’ e ‘r’, e 23, Lei 11.101/05). (b) Advogado (art. 34, XXI, Lei 8.906/94). (c) Curador (arts. 570 e 756, §1º, V, CPC, e 1.755 e 1.774, CC). (d) Gestor de negócios (ex.: cônjuge, art. 861, CC). (e) Inventariante (arts. 553 e 618, VII, CPC). (f) Mandatário (art. 668, CC). (g) Pais (arts. 1.637 e 1.689, II, CC). (h) Sucessor provisório (art. 44, CC). (i) Tutor (art. 553, CPC e 1.755, CC). Ação de prestar contas • A ação de prestar contas é proposta por quem tem faz a administração dos bens alheios (ex.: curador). • No antigo CPC/73 havia a ação de exigir e de prestar contas. No atual CPC/15 há apenas a ação de exigir contas. • A ação de prestação de contas é regulamentada pelo rito comum. • Obs.: a ação de exigir/prestar contas é dúplice, pois tanto autor como réu assumem posição de ataque e defesa. • O réu ou o autor poderão sair credores ou devedores, a depender do saldo remanescente a ser apurado. Procedimento • A primeira fase busca apurar a existência de obrigação, por parte do réu, em prestar contas. • A segunda fase busca apurar as contas, para chegar a um saldo final. • A existência da segunda fase pressupõe a solução positiva da primeira. • A primeira fase se encerradas por decisão interlocutória, a segunda por meio de sentença. Petição inicial e citação • Petição inicial deve conter, além do art. 319, as razões e documentos comprobatórios das quais se exige as contas (art. 550, §1º). • O valor da causa é o valor de alçada. • Deferida a inicial, cita-se o réu para em 15 dias (art. 550, caput): (a) apresente as contas; (b) contesta; (c) apresentar as contas e contestar; (d) manter-se revel; (e) contestar sem negar a obrigação de prestar as contas; (f) contestar negando a obrigação de prestar contas. Respostas do réu • Apresentação das contas (art. 550, §2º): (a) opera-se o reconhecimento do pedido e resolve-se a primeira fase (existência do dever de prestar contas); (b) o autor pode manifestar-se em 15 dias (art. 550, §2º); (c) passa-se à segunda fase (exame das contas), e encerra-se com sentença de aprova as contas. • Apresentação das contas e contestação: ocorre na hipótese de recusa pré-processual pelo autor das contas, somado com pedido de sucumbência pelo autor. • Contestação sem negar a obrigação de prestar contas: contestação de questões preliminares (art. 337). Respostas do réu • Revelia: a não apresentação das contas e da contestação decorre a possibilidade de julgamento antecipado da lide (art. 355 e 550, §4º). • Nesse caso, ocorrerá: (a) decisão (interlocutória) de condenação de prestar contas em 15 dias (art. 550, §5º); (b) caso não apresentadas as contas, o autor irá apresentá-las e o réu não poderá impugná-las (art. 550, §5º, in fine). • Contestação com negativa da obrigação de prestar contas: nessa hipótese, a primeira fase assume o rito comum (deixa de ser especial), e segue com produção de provas e decisão final. Decisão da primeira fase • A decisão da primeira fase tem como conteúdo o direito/dever de exigir contas. • O CPC/73 encerrava a primeira fase por sentença. • O CPC/15 alterou essa tradição, e a natureza jurídica da decisão da primeira fase é uma decisão interlocutória (art. 550, §5º). • A alteração se deu por motivos de celeridade: se sentença, apelaria, se interlocutória, agravaria. • O agravo de instrumento se processa no juízo ad quem, e os autos do processo prosseguem no juízo a quo. Procedimento da segunda fase • Após a decisão condenatória que reconhece o dever de prestar contas cabe ao réu: (a) prestar as contas; (b) não o fazendo, o autor as apresentará, sob pena de o réu não poder impugná-las. • O réu tem duas oportunidades de apresentar as contas: (a) nos 15 dias após a citação (art. 550, caput); (b) nos 15 dias após a decisão condenatória (art. 550, §5º). • As contas devem discriminar o crédito e o débito, bem como documentos comprobatórios. Contas do réu • Procedimento da apresentação das contas pelo réu: (a) abre prazo de 15 dias para o autor impugná-las (art. 550, 2º); (b) não havendo impugnação, segue sentença de aprovação das contas e fixação do saldo; (c) havendo impugnação, o juiz fixa prazo de resposta do réu; (d) a sentença é condenatória, pois pode fixar saldo contra o autor ou contra o réu (ação dúplice); (e) o recurso cabível é a apelação com efeito suspensivo (art. 1.012). Sentença • Toda sentença final da ação de exigir contas deve declarar o saldo final das contas (art. 552). • Após a declaração do saldo devedor, a sentença formará título executivo judicial (art. 552 e 515, I). • A sentença, embora seja declaratória quando ao saldo, é condenatória para a constituição de título executivo judicial. • Após a formação de coisa julgada, inicia-se a fase de cumprimento de sentença, nos mesmos autos. Questões • Qual o objetivo da ação de exigir contas? • Por que afirma-se que a ação de exigir contas é bifásica? • Por que a ação de exigir contas é dúplice? • Qual a natureza da decisão da primeira fase? • Cite trêsformas de administração de negócios/bens alheios que enseja a prestação de contas. Jurisprudência STJ, 3ª T., AgRg no Ag. 33.211/SP, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, ac. 13.04.1993, DJU 03.05.1993. STJ, 2ª Seção, REsp. 1.117.614/PR, Rel. Min. Maria Isabel Galloti, ac. 10.08.2011, DJe 10.10.2011. STJ, 3ª T., REsp. 1.238.737/SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, ac. 08.11.2011, DJe 17.11.2011. STJ, 2ª T., REsp. 476.783/RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, ac. 18.10.2007, DJU 13.11.2007. STJ, 4ª T., REsp. 10.022/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, ac. 03.12.1991, DJU 03.02.1992. Bibliografia BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. BUENO, Cassio Scarpinella. Comentários ao Código de Processo Civil. v. 3. São Paulo: Saraiva, 2017. NEGRÃO, Theotônio et al. Novo Código de Processo Civil e legislação processual em vigor. 47. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 10. ed. Salvador: Juspodivm, 2018. THEODORO Jr., Humberto. Curso de direito processual civil: procedimentos especiais: vol. II. 50 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
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