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Física Geral e Experimental II Calor e Primeira Lei da Termodinâmica Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. José Agostinho Gonçalves de Medeiros Revisão Textual: Profa. Esp.Vera Lídia de Sá Cicarone 5 A proposta desta aula é apresentar os conceitos e ideias relacionadas ao conceito de temperatura e que envolvam as mudanças de estado da matéria (sólida, líquida ou gasosa) devido às transferências de energia. Estes conceitos estão relacionados ao estudo da Termodinâmica. Ao fim desta aula esperamos que seja capaz de interpretar, conceituar e calcular: • Temperatura, Lei zero da termodinâmica; • Principais escalas termométricas; • Dilatação; • Estados de um gás ideal; • Primeira lei da termodinâmica. Nesta unidade, voltaremos nossa atenção para as primeiras Leis da Termodinâmica, a Lei Zero e a Primeira Lei da Termodinâmica. As leis estudadas nesta unidade estudam as relações e situações que envolvam as mudanças de temperatura ou estado da matéria (sólida, líquida ou gasosa) devido às transferências de energia. Apresentaremos uma definição de temperatura e breve descrição do principio de funcionamento dos termômetros. Algumas das consequências da transmissão de energia de um sistema para outro são abordados nesta unidade. Para cada um dos conceitos apresentados são fornecidos exemplos e exercícios resolvidos para fixar os conceitos apresentados. Os alunos devem ter especial atenção aos pontos destacados e aos exercícios resolvidos. Calor e Primeira Lei da Termodinâmica · Calor e primeira lei da termodinâmica · Temperatura e lei zero da termodinâmica · Escalas termométricas e termômetros · Dilatação térmica · Descrição macroscópica de um gás ideal · Calor · Calor específico · Calor latente · Trabalho e primeira lei da termodinâmica · Calor e primeira lei da termodinâmica · Temperatura e lei zero da termodinâmica · Escalas termométricas e termômetros · Dilatação térmica · Descrição macroscópica de um gás ideal · Calor · Calor específico · Calor latente · Trabalho e primeira lei da termodinâmica 6 Unidade: Calor e Primeira Lei da Termodinâmica Contextualização Ondas e Termodinâmica Durante a sua existência a humanidade dependeu da sua própria força muscular, por um período de tempo muito grande, para realizar os trabalhos necessários para a sua sobrevivência. Posteriormente aprendeu a utilizar a força animal para fazer parte do seu trabalho, mas foi com o desenvolvimento dos motores, que o avanço tecnológico ganhou velocidade e proporcionou um aumento da qualidade de vida. Com os motores, surgiram os automóveis, sonho de consumo de muitas famílias e com certeza de muitos adolescentes. Os motores de combustão que movem os automóveis são máquinas térmicas que transformar energia sob a forma de calor em trabalho mecânico. Os motores de combustão interna operam com um ciclo de quatro tempos, consiste na admissão da mistura gasosa de combustível e ar no cilindro, compressão, explosão e exaustão dos gases queimados. A explosão é gerada por uma faísca gerada pela vela de ignição, a mistura gasosa se expande e empurra o pistão. O trabalho realizado pelos pistões se transmite através de uma biela a um eixo. O motor de quatro tempos opera em um ciclo denominado “Ciclo Otto”. O rendimento teórico máximo neste ciclo é 67%, isto é, 67% da energia é usada para produzir trabalho, o resto vai para a atmosfera, sob a forma de calor. Em uma máquina térmica ideal, o rendimento máximo é obtido em um ciclo de Carnot. Então ao desfrutar das vantagens de um passeio de carro, devemos lembrar que o desenvolvimento de novos e melhores motores foi possível devido ao estudo das leis da termodinâmica 7 Calor e primeira lei da termodinâmica Na sociedade moderna, os fenômenos relacionados com calor e temperatura fazem parte do nosso cotidiano e dos meios de produção e geração de energia para lares domésticos e para a indústria. A geração de calor ou a sua supressão quando ligamos um ar condicionado está diretamente conectada com a questão energética, que é um dos grandes desafios do século XXI, pois vivemos o dilema da produção e do consumo cada vez maior de energia e devemos arcar com a consequências diretas disso no meio ambiente e no clima do planeta. Em física, as relações e situações que envolvem as mudanças de temperatura ou de estado da matéria (sólida, líquida ou gasosa) devido às transferências de energia estão atreladas ao estudo da Termodinâmica. É sempre bom frisar que, em física, as divisões em subdisciplinas, tais como Mecânica, Termodinâmica, Eletromagnetismo, existem puramente para fins didáticos e para tornar o conhecimento modular. Há um grande debate que afirma que uma abordagem mais holística seria, de fato, mais realista, pois os problemas que enfrentamos no dia a dia não aparecem modularmente. Neste caso, o desenvolvimento da termodinâmica ocorreu em paralelo com uma descrição da matéria do ponto de vista atômico e estatístico. Veremos, a seguir, os conceitos básicos das grandezas e fenômenos apresentados pela Termodinâmica e iremos utilizar uma abordagem mais prática e direta em vez de uma mais focada na teoria e em suas formulações. Temperatura e lei zero da termodinâmica As grandezas básicas utilizadas no estudo da Termodinâmica são: temperatura, calor e energia interna. Apesar de essas grandezas parecerem muito familiares para nós, há uma certa confusão na definição de cada uma. Boa parte dessa confusão vem do fato de que podemos sentir a temperatura dos objetos ao tocá-los e, a partir dessa “sensação” de quente ou frio, podemos ser traídos pelos nossos sentidos e, assim, interpretarmos ou descrevermos um fenômeno da forma incorreta ou incompleta. Ao retirarmos um prato quente do forno, percebemos que o recipiente pode estar a uma temperatura bem maior que a do alimento que vamos consumir, mas, na verdade, eles podem estar à mesma temperatura, pois o que ocorre é que o material do recipiente pode transferir muito mais rapidamente a energia térmica para nossa mão do que a comida que ingerimos. Esse estado de energia em que se encontram os objetos pode ser verificado ao medirmos a temperatura com um tipo de termômetro apropriado, calibrado e com uma escala que nos permite ter os estados relativos de “quentura” ou “frieza” dos objetos. Fo nt e: A us tin P os t/W ik im ed ia C om m on s 8 Unidade: Calor e Primeira Lei da Termodinâmica O conceito de temperatura envolve dois outros conceitos: contato térmico e equilíbrio térmico. Dois objetos estão em contato térmico se cada um deles puder transferir energia para o outro quando houver uma diferença de temperatura. O equilíbrio térmico é aquela situação em que dois objetos não poderão trocar energia, nem pela transferência de calor nem pela radiação eletromagnética quando forem colocados em contato térmico. Pensemos na seguinte situação: utilizamos um termômetro e o colocamos em contato com um objeto A até que o equilíbrio térmico seja atingido; nesse momento lemos a escala de temperatura e a anotamos. A seguir realizamos o mesmo procedimento com um objeto B, obtemos a leitura e verificamos que a temperatura é a mesma de A. Sendo assim, nos dois casos, o termômetro entrou em equilíbrio térmico com os objetos A e B e, se A e B forem colocados em contato, também estarão em equilíbrio térmico por terem a mesma temperatura, pois, assim, não haverá troca de energia entre eles. A situação acima ilustra o que conhecemos por lei zero da termodinâmica. “Se dois objetos A e B estão separadamente em equilíbrio térmico com um terceiro objeto, C, então A e B estão em equilíbrio entre si.” A Lei zero permite a construção de instrumentos de medida da temperatura, estes instrumentos são colocados em contato com umsistema, onde a temperatura possa ser controlada até que o conjunto sistema-termômetro fique em equilíbrio. Podemos então associar um número a esta dada condição do termômetro. Quando o termômetro em contato com um outro sistema, indicar o mesmo valor, a lei zero permite afirmar que este sistema possui a mesma temperatura medida anteriormente em outro sistema. Escalas termométricas e termômetros Os termômetros são equipamentos que medem a temperatura do sistema e baseiam-se no princípio de que alguma propriedade física muda no sistema quando este sofrer mudanças de temperatura, como, por exemplo, o volume de um líquido, as dimensões de um sólido, a pressão de um gás, o volume de um gás, a resistência elétrica de um condutor e a cor emitida por um objeto. Os termômetros mais comuns são os que funcionam com um líquido – mercúrio, álcool. Esse líquido é inserido em um pequeno duto chamado capilar e, quando o líquido sofrer mudanças de temperatura, ele vai expandir ou contrair. Em cima desses pontos de referência, pode-se inserir uma escala em que as temperaturas medidas serão lidas. Os pontos de referência são aqueles em que o sistema está numa temperatura constante e assim permanecerá se o sistema não for perturbado. 30oC A B 30oC 9 A escala mais conhecida, hoje em dia, é a escala de temperatura Celsius, em que uma mistura de água e gelo em equilíbrio térmico é mantida à pressão atmosférica. Nesse sistema, atribui-se a essa temperatura o valor 0o C, que corresponde ao ponto de congelamento da água. O outro ponto de referência vem de uma mistura de vapor d’água e água em equilíbrio térmico também na pressão atmosférica; o valor atribuído nessa escala é 100oC, que é o ponto de evaporação da água. Com esses extremos atribuídos, faz-se uma coluna espaçada uniformemente e com 100 segmentos iguais para criar a escala Celsius e, assim, cada mudança de segmento corresponde a um acréscimo ou diminuição de um grau Celsius. O nome Celsius foi dado em homenagem ao astrônomo sueco Anders Celsius (1701–1744), que foi o primeiro a propor essa escala em 1742. Em geral, termômetros desse tipo têm menos acurácia e, dependendo do líquido utilizado, álcool ou mercúrio, pode haver diferenças, já que os coeficientes de expansão de cada líquido são diferentes e, quanto mais distantes dos pontos de calibração, maiores podem ser os desvios. Outro problema é que, dependendo do valor da temperatura, este pode estar além dos pontos de ebulição ou de congelamento do líquido utilizado. Nesse caso, fazem-se necessários outros tipos de termômetros, como, por exemplo, o termômetro a gás. Os termômetros a gás são recipientes de volume constante e preenchidos com um gás cuja pressão varia conforme a temperatura. No processo de calibração de um termômetro a gás, procede-se da mesma maneira quanto à utilização de dois pontos de referência (gelo e vapor). Traçam-se linhas de calibração e, ao extrapolá- las até cruzarem o eixo das temperaturas, percebe-se que todas cruzam quando T = - 273,15oC. Fo nt e: U w e W ./W ik im ed ia C om m on s Fo nt e: P . P et er lin /W ik im ed ia C om m on s A B V1 V2 P1 I2− I1 P0 P2 h/2 h 500 400 300 200 100 -200 -273,15oC -100 100 2000 T (oC) Pr es sã o 0 10 Unidade: Calor e Primeira Lei da Termodinâmica Essa temperatura corresponde ao valor negativo, que é um limite, ou seja, não haveria nada mais “frio” que -273,15oC. Essa temperatura denominamos de zero absoluto e, assim: É uma nova escala que tem um segmento (grau) igual aos graus Celsius. Mas, como, na prática, é complicado obter os pontos fixos de congelamento e ebulição d’água e reproduzir e garantir as mesmas condições de medidas em diferentes locais, utilizam-se dois novos pontos de referência: o ponto triplo d’agua - que é a combinação de água líquida, gelo e vapor d’água em equilíbrio e que ocorre a uma temperatura de 0,01oC - e uma pressão de 4,58 mm de mercúrio. Nessa nova escala, a unidade é o kelvin (K), e o ponto triplo está a 273,16 kelvins, abreviados 273,16 K. Observe que não há o símbolo de grau (o); lê-se, simplesmente, 273,16 kelvins e não 273,16 “graus” kelvins. O nome Kelvin é uma homenagem a William Thomson, conhecido como Lord Kelvin. Na prática e pelo princípio da incerteza da física quântica, 0 K, ou seja, o zero absoluto não se atinge, pois, nessa temperatura, as moléculas cessariam seu movimento e o tempo para atingir isso seria infinito. Uma outra escala também muito conhecida é a escala Fahrenheit, desenvolvida por um cientista de mesmo nome, por volta de 1708, na qual se atribuiu o valor de 32oF para o ponto de congelamento da água e 212oF para o ponto de ebulição. E, para converter a escala Fahrenheit para Celsius, temos: Observe que, na variação de temperatura em Celsius, Kelvin e Fahrenheit, para cada 1 grau Celsius, varia-se 0,5555 grau Fahrenheit e 1 kelvin. As equações acima, utilizam valores aproximados em relação aos valores apresentados na próxima figura. Figura 5 – Escalas termométricas mais utilizadas. 273,15CT T= + 9 32 5F C T T= + ℉ 5 9C T T F∆ = ∆ = ∆ 11 Na prática utilizamos os pontos fixos do gelo, que corresponde a um sistema com água e gelo em equilíbrio térmico, e o ponto fixo do vapor, que corresponde a um sistema com vapor de água. Desta forma: Figura 6 – Escalas termométricas: ponto fixo do gelo e do vapor. Exemplo: 1 - Quando estamos em estado febril, atingimos 38oC. Essa temperatura, em kelvins e OF, corresponde, respectivamente, a: a) 211,15 K e 99,4 oF b) 211,15 K e 100,4 oF c) 311,15 K e 99,4 oF d) 311,15 K e 100,4 oF e) 211,15 K e 98,4 oF Resolução: De graus Celsius para kelvins: De graus Celsius para graus Fahrenheit: 273,15 273,15 38 273,15 311,15 C C T T T T K = − = + = + = ( )5 32 9 9 932 38 32 100,4 5 5 C F F C T T T T = − = + = + = ℉ 12 Unidade: Calor e Primeira Lei da Termodinâmica Dilatação térmica Em engenharia e arquitetura, é de suma importância o conhecimento das propriedades físico-químicas dos materiais envolvidos na construção e design de peças, em construções, pavimentações, etc. Os efeitos do calor, frio, gelo e outras intempéries climáticas, ou seja, as mudanças bruscas de temperatura afetam diretamente as dimensões dos objetos, portanto, no projeto, essas alterações dimensionais devem ser levadas em conta. A expansão térmica ou dilatação térmica é uma consequência da mudança da separação média entre os átomos de um objeto. Se a mudança nas dimensões for relativamente pequena quando comparada com as dimensões iniciais, pode-se, em primeira aproximação, considerar que a expansão ou contração é proporcional linearmente à mudança de temperatura. Assim sendo, definimos o coeficiente médio de expansão linear como: E para efeito de cálculo temos: Ou, ainda: • Lf é o comprimento final e Li o comprimento inicial; • Tf e Ti são as temperaturas final e inicial, respectivamente; • é o coeficiente médio linear de expansão, cuja unidade é (oC)-1. Observe que, na expansão de um anel, a parte vazada vai se expandir como se houvesse material preenchendo o orifício (figura abaixo). Figura 7 - Expansão de um anel em que tanto a parte metálica quanto o orifício se expandem. i L L T α ∆ ≡ ∆ iL L Tα∆ = ∆ ( )f i i f iL L L T Tα− = − 13 Abaixo encontramos alguns valores médios do coeficiente de expansão para alguns materiais. Como as dimensões lineares mudam, é claro que a área e volume também mudam. E, assim, para uma mudança de área, temos: . .iA A Tβ∆ = ∆ E para o volume: . .iV V Tγ∆ = ∆ Tabela 1 - Coeficientes médios de expansão de alguns materiais Material Coeficiente Médiode Expansão Linear Material Coeficiente Médio de Expansão Volumétrica Alumínio 24 x 10-6 Álcool 1,12 x 10-4 Bronze e Latão 19 x 10-6 Benzeno 1,24 x 10-4 Cobre 17 x 10-6 Acetona 1,50 x 10-4 Vidro (comum) 9 x 10-6 Glicerina 4,85 x 10-4 Vidro (pyrex) 3,2 x 10-6 Mercúrio 1,82 x 10-4 Chumbo 29 x 10-6 Turpentina 9,00 x 10-4 Aço 11 x 10-6 Gasolina 9,60 x 10-4 Invar (Ni-Fe) 0,9 x 10-6 Ar a 0oC 3,67 x 10-3 Concreto 12 x 10-6 Hélio 3,665 x 10-3 Em que β e γ são os coeficientes médios de expansão superficial e volumétrica, respectivamente. Para sólido temos que: 2β α= e 3γ α= Exemplo: um dispositivo eletrônico foi feito com dois parafusos, um de aço de 0,010 m e outro de latão com 0,030 m, e a separação entre eles é de 5,0 µ m a 27oC. A temperatura em que os dois parafusos se tocam vai ser de: a) 14,4 oC b) 24,4 oC c) 34,4 oC d) 44,4 oC e) 54,4 oC ( )( )α −1oC ( )( )γ −1oC 14 Unidade: Calor e Primeira Lei da Termodinâmica Resolução: Assim, a temperatura final vai ser 27 + 7,4 = 34,4oC Assim, a temperatura final vai ser 27 + 7,4 = 34,4oCDescrição macroscópica de um gás ideal Para a descrição de um gás, é útil conhecer as seguintes quantidades: V, volume; P, pressão; T, temperatura; e a sua relação com uma amostra do gás com massa m. Para valores baixos de pressão, há uma equação de estado muito comum, que é chamada de equação de estado de um gás ideal. n é o número de mols: em que m é a massa do gás e M a massa Molar (cada elemento tem a sua). Em uma massa molar encontramos NA = 6,022 x 10 23 átomos ou moléculas e NA é o número Avogadro. R é chamada de constante universal dos gases e seu valor é: Se a pressão for expressa em atmosferas e o volume em litros, então: Exemplo: um gás ideal ocupa um volume de 100 cm3 a 20oC e 100 Pa. O número de mols no recipiente vai ser: a) 4,11×10-3 mol b) 4,11×10-4 mol c) 4,11×10-5 mol d) 4,11×10-6 mol e) 4,11×10-7 mol 6 , , 5,0 1 0LATAO AÇO L I L A I AL L L T L T mα α −∆ +∆ = ∆ + ∆ = × ∆T a L a LL I L A I A = + 5 0, , , x 10-6 ( )( ) ( )( ) 6 6 6 5,0 10 7,4 19 10 0,030 11 10 0,010 oT C - - - ´D = = ´ + ´ PV nRT= mn M = 8,314 . JR mol K= .0,08214 . L atmR mol K= 15 V = 100 cm3 = 1,00 x 10-4 m3, P = 100 Pa e T = 20oC = 293 K Exemplo: uma lata de spray contém um propelente a duas vezes a pressão atmosférica, isto é, 202 kPa, e um volume de 125,00 cm3 a 22oC e é arremessada numa fogueira que eleva a temperatura a 195oC. A nova pressão será de: a) 220 kPa b) 320 kPa c) 420 kPa d) 520 kPa e) 620 kPa Solução: A equação de estado garante que: Como não há uma variação de volume, temos que Vi = Vf, então: 468 202 320 295 f f i i T P P kPa kPa T = = = n PV RT mol= = ≈( )( , ) , , 100 1 00 8 314 4 11 x (1,00 x10 x 293 x 10 -4 -6 f fi i i f P VPV T T = fi i f PP T T = 16 Unidade: Calor e Primeira Lei da Termodinâmica Calor No momento da Revolução Industrial, na metade do século XIX, a criação das máquinas a vapor foi consequência do fato de que a mecânica e a termodinâmica não eram tão distintas e, nos processos térmicos, havia a transferência de energia para realizar trabalho mecânico. Nesse contexto, foram criados dois conceitos: Calor e Energia Interna A Energia interna é toda energia de um sistema que está associada aos componentes microscópicos – átomos e moléculas – quando vistos de um referencial em repouso. Calor é a TRANSFERÊNCIA de energia pela fronteira de um sistema devido à diferença de temperatura entre o sistema e suas proximidades. Em 1843, James Prescott Joule, mostrou a equivalência mecânica do calor. Ele montou um aparato em que havia um recipiente com água e pás que revolucionavam quando impulsionadas por duas massas de água em queda e, a partir do atrito entre as pás e a água, ele observou o aumento de temperatura. Da energia potencial mgh x 2, ele tirou o equivalente em mudança de temperatura e descobriu que 4,18 J de energia mecânica provocavam o aumento de 1 g de água de 1oC. Experimentos mais recentes e precisos mostraram que 4,186 J realizam o aumento de energia e, consequentemente, aumento de temperatura. Assim determinou-se uma nova unidade: Não se deve confundir cal com calorias; na verdade, 1 caloria = 1000 cals !!! Fo nt e: W ik im ed ia C om m on s 1 4,186 cal J≡ 17 Exemplo: uma pessoa de 80 kg, ao subir uma escada de 20 m, vai perder: a) 375 calorias b) 3750 calorias c) 3,75 calorias e) 37,50 calorias f) 0,375 calorias Solução: E = m.g.h = 80.9,8.20 = 15680 J Cal = 15680/4,186 = 3745,82 cals Calorias = 3745,82/1000 = 3,75 calorias Calorias = 3745,82/1000 = 3,75 caloriasCalor específi co Se Joule fizesse um experimento com outra substância que não água, ele obteria outros resultados, isso porque vimos que, quando queremos aumentar a temperatura em 1oC de água, precisamos de 4186 J, mas se fosse 1 kg de cobre iríamos precisar somente de 387 J. A maneira de se medir essa propriedade das substâncias é pela grandeza calor específico, que é a capacidade de calor, ou seja, a energia necessária para aumentar a temperatura de uma amostra de 1oC por unidade de massa: Dessa definição, podemos relacionar a energia Q transferida entre uma amostra de massa m e o ambiente para que ocorra um aumento ou diminuição de temperatura ∆T. Q=mc∆T Para exemplo de algumas substâncias, mostramos a tabela abaixo: Tabela 2 - Calor Específico de substâncias a 25oC e Pressão Atmosférica Substância Calor Específico c J/kg.oC cal/g.oC Sólidos Alumínio 900 0,215 Berílio 1830 0,436 Cádmio 230 0,055 Cobre 387 0,092 Germânio 322 0,077 . . Qc m c T ≡ ∆ 18 Unidade: Calor e Primeira Lei da Termodinâmica Ouro 129 0,030 Ferro 448 0,107 Chumbo 128 0,030 Silício 703 0,168 Prata 234 0,056 Outros sólidos Latão 380 0,092 Vidro 837 0,200 Gelo (- 5oC) 2090 0,50 Mármore 860 0,21 Madeira 1700 0,41 Líquidos Álcool 2400 0,58 Mercúrio 140 0,033 Água (15oC) 4186 1,00 Gás Vapor (100oC) 2010 0,48 Uma técnica para se determinar o calor específico consiste em colocar uma amostra a uma temperatura Tx num recipiente com água, desde que Tx > TH2O, e medir a temperatura de equilíbrio. Essa técnica, chamada de calorimetria, envolve a conservação de energia. Sendo assim: E o calor específico vai ser: Exemplo: uma bala de prata atinge uma parede de madeira a 200 m/s. A variação de temperatura da bala vai ser de: a) 55,5oC b) 65,5oC c) 75,5oC d) 85,5oC e) 95,5oC 21 . 2 K m v= 21 .200 2 85,5 .234 o mQ K T C mc mc m D = = = = FRIO QUENTEQ Q=− ( ) ( ) 2 2 2. .H O H O f H O x x x f m c T T c m T T − = − 19 Calor latente A matéria, quando recebe ou perde uma quantidade suficiente de energia, pode passar por uma mudança de fase, que é uma reestruturação microscópica de suas moléculas que irá definir a distância média entre elas e seu nível de ligação. Assim sendo, tomando uma substância em estado sólido, cuja estrutura e dimensões são bem definidas, à medida que cedemos energia a esse sistema, ele sofrerá uma mudança de estado chegando à liquefação (derretimento) e, se continuarmos a fornecer mais energia ao sistema, haverá a vaporização ou ebulição do líquido e a substância passará para o estado gasoso. No processo de mudança de estado descrito acima, a energia cedida vai deixar de aumentar a temperatura do sistema até que todas as moléculastenham energia suficiente para serem rearranjadas. A transferência de energia vai ser tanto maior quanto maior for a quantidade de matéria, isto é, a massa da substância passando pela mudança de estado. A razão de energia cedida ou tirada do sistema vai ser definida como o calor latente para causar a transformação de fase: O valor do calor latente L de uma substância depende da natureza da mudança de fase como também das suas propriedades. A energia para mudança de fase vai ser: Temos que o calor latente de fusão Lf é usado quando a mudança de fase é de sólido para líquido, e o calor latente de vaporização Lv é usado quando a mudança é de líquido para gás. Tabela 3 - Calor latente de fusão e vaporização Substância Ponto de Fusão oC Calor Latente de Fusão J/kg Ponto de Ebulição oC Calor Latente de Ebulição J/kg Hélio - 269,65 5,23 x 103 -268,93 2,09 x 104 Nitrogênio -209,97 2,55 x 104 -195,81 2,01 x 105 Oxigênio -218,79 1,38 x 104 -182,97 2,13 x 105 Álcool Etílico -114 1,04 x 105 78 8,54 x 105 Água 0,00 3,33 x 105 100,00 2,26 x 106 Enxofre 119 3,81 x 104 444,60 3,26 x 105 Chumbo 327,3 2,45 x 104 1750 8,70 x 105 Alumínio 660 3,97 x 105 2450 1,14 x 107 Prata 960,80 8,82 x 104 2193 2,33 x 106 Ouro 1063,00 6,44 x 104 2660 1,58 x 106 Cobre 1083 1,34 x 105 1187 5,06 x 106 Consideremos 1,00 g de gelo a – 40,0oC, que deverá ser transformado em vapor a 120,0oC. Esse processo ocorrerá em várias etapas: QL m = ± .Q m L= ± 20 Unidade: Calor e Primeira Lei da Termodinâmica 1 – A primeira mudança pela qual o sistema passará é de -40,0oC para 0,0oC. O calor específico do gelo é 2090 J/kg. oC e a quantidade de calor cedida ao sistema vai ser: Gráfico 2 - Energia cedida em função da temperatura - gelo 2 – Quando atingir 0,0oC, a mistura gelo-água permanecerá nessa temperatura – mesmo que energia ainda esteja sendo fornecida ao sistema – até que o gelo derreta (fusão). Dessa maneira, a energia para fundir 1,00 g de gelo a 0,0oC é: Gráfico 3 – Energia cedida em função da temperatura, gelo + água 0 -10 -20 -30 Energia Cedida (J) T (o C) -40 0 100 200 300 400 Assim, a energia total cedida será 83,6 + 333 = 416,6 J 0 -10 -20 -30 Energia Cedida (J) T (o C) -40 0 20 40 60 80 ( )( )( )31,00 10 2090 40,0 83,6 gelo geloQ m c T J−= × ×∆ = × = 3 5. 1,00 10 3,33 10 333 gelo fusãoQ m L J −= = × × × = 21 3 – Enquanto estiver entre 0,0oC e 100,0oC, segue-se o curso normal e nenhuma mudança de fase ocorrerá. A energia fornecida ao sistema irá aumentar a temperatura, e a quantidade de energia cedida passará a ser: Gráfico 4 - Energia cedida em função da temperatura, água 4 – A 100oC, outra mudança de fase ocorrerá, e o sistema permanecerá na mesma temperatura enquanto a água for evaporando. A energia para converter 1,00 g de água em vapor vai ser: Gráfico 5 - Energia cedida em função da temperatura, água + vapor 100 80 60 40 20 -20 -40 0 Energia Cedida (J) T (o C) 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3 6. 1,00 10 2,26 10 2260 água evaporaçãoQ m L J −= = × × × = 5 – Finalmente, o vapor a 100oC é aquecido até atingir 120oC e a energia cedida para que ocorra essa mudança de temperatura vai ser: ( )( )( )3 31,00 10 2,01 10 20,0 40,2 vapor vaporQ m c T J−= × ×∆ = × × = 100 80 60 40 20 -20 -40 0 Energia Cedida (J) T (o C) 0 200 400 600 800 ( )( )( )3 31,00 10 4,19 10 100,0 419 água águaQ m c T J−= × ×∆ = × × = 22 Unidade: Calor e Primeira Lei da Termodinâmica A energia total cedida vai ser, então, 40,2 J + 3095,6 = 3135,8 J, isto é, para aquecer 1 g de gelo a -40,0oC, precisamos ceder essa quantidade de energia. Se desejássemos esfriar 1 g de vapor a -120,0oC para -40,0oC, essa seria a energia a ser retirada do sistema. Gráfico 6 – Energia cedida em função da temperatura, vapor 150 100 50 -50 0 Energia Cedida (J) T (o C) 0 500 1000 G elo G elo + Água Água Água + Vapor Vapor 1500 2000 2500 3000 Trabalho e primeira lei da termodinâmica Como vimos anteriormente, as variáveis de estado vão ser pressão, volume, temperatura e energia interna. Essas variáveis descrevem o estado macroscópico de um sistema isolado e só podem ser definidas se houver equilíbrio térmico interno. Quando houver transferência de energia, outras variáveis estarão envolvidas e, como há a transferência de energia através dos limites do sistema, essas variáveis estarão associadas a transformações no sistema. Uma importante variável de transferência em termodinâmica vai ser trabalho. Imaginemos um pistão preenchido com um gás conhecido e que possa se expandir e contrair sem resistência do mecanismo. Em equilíbrio, o sistema ocupa um volume V e exerce uma pressão P nas paredes do cilindro e no pistão. Se o pistão tiver uma área transversal A, a força exercida pelo gás no pistão será F = PA. Vamos, agora, imaginar que, num processo quase estático, o pistão seja empurrado para comprimir o gás, de maneira que o sistema permaneça em equilíbrio térmico. Conforme o pistão for empurrado para baixo, teremos que a força ˆF Fj= − através de um deslocamento ˆ d dy j=r , e o trabalho realizado no gás será: 23 Figura 9- Figura esquemática de um pistão. ˆ ˆ. . dW F dr Fj dyj Fdy PAdy= = − = − =− em que a magnitude de F será PA. Considerando a massa do pistão como desprezível, temos que A.dy é a mudança no volume do gás dV, e o trabalho passa a ser: dW PdV= − Se o gás for comprimido, dV será negativo e o trabalho executado no gás será positivo. Se o gás expandir, dV será positivo e o trabalho exercido no gás será negativo. Se o volume permanecer constante, o trabalho será zero. O trabalho total para uma mudança de volume de Vf para Vi é dado por : f i V V W PdV=− ∫ O trabalho realizado sobre um gás em um processo quase estático que leva o gás de um estado inicial a um estado final é negativo sob a área de um diagrama PV, calculado entre os estados inicial e final. 24 Unidade: Calor e Primeira Lei da Termodinâmica Gráfico 7 – Diagrama pressão-volume. P Pƒ Vƒ Vi i V ƒ Pi Como abordado em mecânica, há duas maneiras de se transferir energia entre um sistema e o ambiente. Uma é pela aplicação de trabalho no sistema, que requer que haja um deslocamento a partir da aplicação de uma força externa. A outra maneira ocorre através de calor, quando houver diferença de temperatura entre um sistema e seu ambiente. Em ambos os casos, há variação da energia interna do sistema. Para melhor compreender essas ideias, suponha que um sistema passe por uma mudança de estado e que, nessa mudança, a energia transferida Q ocorra acompanhada de um trabalho W no sistema. É fácil de perceber que a mudança na energia interna do sistema será a soma de Q + W e, embora Q e W dependam do caminho seguido na transformação, a quantidade Q + W é independente, e a variação de energia interna Ei é expressa como: iE Q W∆ = + em que todas as unidades são em J. A equação acima é conhecida como Primeira Lei da Termodinâmica. Na mudança de estado, alguns dos membros da equação acima pode ser zero, dependendo da situação, como se pode observar na tabela abaixo. Tabela 4- Transformações gasosas – Primeira Lei da Termodinâmica Processo iE∆ Q W Adiabático W 0 iE∆ Isovolumétrico Q iE∆ 0 Isobárico - - -P(Vf – Vi) Isotérmico 0 -W -Q 25 Material Complementar Para complementar os conhecimentos adquiridos nesta Unidade, veja os vídeos indicados e consulte a bibliografia indicada. Textos: Termodinâmica I http://www.fem.unicamp.br/~em313/paginas/textos/apostila.htm Vídeos: Termodinâmica https://pt.khanacademy.org/science/physics/thermodynamics Livros: LANDULFO, EDUARDO. MeioAmbiente & Física, São Paulo. Editora Senac, 2005. SERWAY, JEWETT Jr. Princípios de Física, Vol.2. São Paulo - THOMPSON editora; 2004. SEARS E ZEMANSKY. Física II, Termodinâmica e Ondas. – 12a. Edição – São Paulo: Addison Wesley, 2003. HALLIDAY, RESNICK, WALKER. Fundamentos de física: gravitação, ondas e termodinâmica – 9ª. Edição - Rio de Janeiro. LTC editora, 2012. ALONSO, M. Física: Um curso universitário. – 12a. edição – São Paulo: Edgard Blucher, 2011 TIPLER, P.A. Física para cientistas e engenheiros: mecânica, oscilações e ondas, termodinâmica - 4a Ed. LTC - Livros Técnicos e Científicos S.A. Rio de Janeiro – 2000 NUSSENZVEIG, H. M. Curso de Física básica: fluidos, oscilações e ondas, calor, 4a ed. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 2002. V. 26 Unidade: Calor e Primeira Lei da Termodinâmica Referências ALONSO, M. Física: um curso universitário. – 12a. edição – São Paulo: Edgard Blucher, 2011. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: gravitação, ondas e termodinâmica – 9ª. Edição - Rio de Janeiro: LTC editora, 2012. LANDULFO, E. Meio Ambiente & Física. São Paulo: Editora Senac, 2005. NUSSENZVEIG, H. M. Curso de Física básica: fluidos, oscilações e ondas, calor. 4a ed. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 2002. V. SEARS; ZEMANSKY. Física II, Termodinâmica e Ondas. – 12a. Edição – São Paulo: Addison Wesley, 2003. SERWAY, R; JEWETT Jr., J. W. Princípios de Física, Vol.2. São Paulo - THOMPSON Editora; 2004. TIPLER, P.A. Física para cientistas e engenheiros: mecânica, oscilações e ondas, termodinâmica - 4a Ed. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos S.A., 2000. 27 Anotações
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