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Aula 2 Civil VI Espécies de aceitação

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Espécies de aceitação
Quanto à forma a aceitação da herança pode ser:
Expressa
Definida como aquela feita por declaração escrita.
Tácita
Quando o herdeiro passa a agir como se tivesse aceitado.
Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por declaração escrita; quando tácita, há de resultar tão-somente de atos próprios da qualidade de herdeiro.
§ 1º Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração e guarda provisória.
§ 2º Não importa igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da herança, aos demais coerdeiros.
Presumida
Quando o herdeiro não renuncia expressamente dentro do prazo estipulado pelo juiz.
Art.1.807. O interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a herança, poderá, vinte dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de trinta dias, para, nele, se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por aceita.
Quanto ao titular a aceitação pode ser:
Direta
Feita pelo próprio herdeiro.
Indireta
Quando o herdeiro morre antes de aceitar e tal direito é transmitido a seus sucessores.
Art. 1.809. Falecendo o herdeiro antes de declarar se aceita a herança, o poder de aceitar passa-lhe aos herdeiros, a menos que se trate de vocação adstrita a uma condição suspensiva, ainda não verificada.
Parágrafo único. Os chamados à sucessão do herdeiro falecido antes da aceitação, desde que concordem em receber a segunda herança, poderão aceitar ou renunciar a primeira.
Características da aceitação
A aceitação é ato unilateral que, via de regra, se aperfeiçoa com a manifestação de vontade de seu titular. Assim, são características da aceitação:
Renúncia ou repúdio da herança
Augusto, um jovem de 25 anos, nunca teve um relacionamento muito fácil com o Senhor Pedro, seu pai. Com o falecimento de Pedro, que era viúvo, Augusto torna-se herdeiro de metade dos bens do seu pai, cabendo a outra metade à Daniele, sua irmã mais velha.
Augusto renuncia sua parte, ou seja, repudia a quota a que teria direito no acervo hereditário, sem indicar quem receberá a parte renunciada. 
A renúncia da herança é sempre absoluta, abdicativa (devolve-se ao monte sucessível a quota que receberia por herança) e expressa, não podendo ser presumida pelo silêncio da parte e nem tácita pela prática de atos compatíveis com a condição de renunciante.
VOCÊ SABIA?
É ato tão solene que exige redução a termo nos autos do inventário ou apresentação de escritura pública, na forma do art. 1.806/CC.
Art. 1.806. A renúncia da herança deve constar expressamente de instrumento público ou termo judicial.
Não se admite Renúncia Prévia no direito brasileiro.
Espécies de renúncia
É uma divisão meramente doutrinária, pois, no Direito brasileiro, será sempre a renúncia abdicativa.
Renúncia Abdicativa (Própria): É a renúncia propriamente dita, quando o renunciante abre mão em favor do monte hereditário, não indicando nenhum coerdeiro como beneficiário da sua parte da herança. Como consequência, quem renúncia, não cabe cobrança de tributo pela transmissão da herança, porque nem ingressa no patrimônio do renunciante.
Renúncia Translativa (Imprópria): Sobre ela não incidem as regras da renúncia do Direito Civil brasileiro. Importa na prática de dois atos consecutivos: aceitação + cessão de direitos. Neste caso, incide dupla carga tributária, pois ocorre uma transmissão causa mortis, com a aceitação e uma doação posterior transmitindo o bem por ato inter vivos.
Impõe-se à renúncia as seguintes limitações:
a) Capacidade do renunciante;
b) A renúncia não pode prejudicar credores do renunciante:
- Art. 1.813. Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à herança, poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante. - § 1º A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias seguintes ao conhecimento do fato. - § 2º Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao remanescente, que será devolvido aos demais herdeiros.
Efeitos da renúncia: Ao renunciar, a quota parte do renunciante volta ao monte hereditário para ser distribuída entre os demais herdeiros, da mesma classe sucessória, se não tiver nenhum herdeiro dessa classe, serão chamados os da classe seguinte, para herdar por direito próprio. Art. 1.810. Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros da mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos da subsequente. Não existe direito de representação do herdeiro renunciante. Art. 1.811. Ninguém pode suceder, representando herdeiro renunciante. Se, porém, ele for o único legítimo da sua classe, ou se todos os outros, da mesma classe, renunciarem a herança, poderão os filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça. A renúncia, assim como a aceitação, são irrevogáveis: Art. 1.812. São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da herança.
A ordem de vocação hereditária. A capacidade sucessória passiva, na sucessão legitima e testamentária.
Vocação hereditária
Já vimos, anteriormente, que pelo que determina o princípio da saisine, os herdeiros passam a ocupar o lugar do morto logo após a abertura da sucessão, mas antes de tudo, precisamos saber que são esses sucessores e para tal será estabelecida uma ordem de vocação hereditária, isto é, a ordem de chamamento dos herdeiros a suceder o patrimônio do morto.
Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo.
É facultado ao autor da herança dispor de seu patrimônio em testamento? Resp.: Sim, mas para tanto, deve respeitar o limite imposto por lei de 50% caso possua herdeiros necessários (como já vimos na aula anterior, são descendentes, os ascendentes e o cônjuge, conforme artigos 1.845 e 1.846 do Código Civil)
Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança.
Assim, para definirmos a herança deixada por alguém é importante lembrar que deve ser separada a meação do cônjuge, se for casado em algum tipo de regime de bens que comunique patrimônio.
Ordem de vocação hereditária
O artigo 1.829, do Código Civil, traz um rol de herdeiros legítimos que serão chamados a suceder. Cada inciso do artigo 1.829 é considerado uma classe de sucessores e a classe mais próxima exclui a mais remota. Assim, enquanto existirem herdeiros elencados no inciso I (descendentes) os do inciso II (ascendentes) não serão chamados.
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.
Suponha-se que o autor da herança tenha deixado um patrimônio no valor de R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais) e nenhum bem particular. A divisão do patrimônio deixado seria:
Figura 1 – divisão dos bens comuns do de cujus quando este não deixou nenhum bem particular.
Suponha-se agora que o consorte falecido tenha deixado, além desses bens comuns, R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) em bens particulares. A divisão de seu patrimônio ocorreria da seguinte maneira:
Figura 2 – Divisão dos bens comuns do de cujus quando este deixou bens particulares.
Figura 3 – Divisão dos bens particulares do de cujus.
Outra regra fundamental é que o grau mais próximo exclui o mais remoto. Assim, se o filho tiver capacidade sucessória, por exemplo, os netos não serão chamados a suceder.
Legitimação para suceder
Em primeiro lugar, devemos verificar a legitimação, tanto na sucessão legítima como na testamentária,que é a constatação da personalidade de quem reclama a vocação hereditária, representada pela existência da pessoa, física ou jurídica, no momento da abertura da sucessão.
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.
Ana e Luiz estavam casados há oito anos e não haviam filhos. Tentaram diversos métodos e optaram pela inseminação artificial. Com todo o procedimento pronto, Luiz sofreu um acidente de carro e veio a falecer. Ana resolveu que continuaria o procedimento de inseminação artificial utilizando os embriões excedentários. De acordo com o Art. 1.798, o filho decorrente dessa inseminação artificial post mortem será herdeiro legítimo dos bens de Luiz?
Resp.: Há um conflito em relação à inseminação artificial post mortem. De acordo com o artigo 1.597, IV do Código Civil, seria permitida a inseminação artificial, utilizando embriões excedentários, a inseminação artificial, mesmo após a morte do marido.
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:
(...)
IV — havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga;
Porém, em conformidade com o artigo 1.798 do Código Civil, como este filho não estava concebido no momento da abertura da sucessão não estaria legitimado a suceder legitimamente seu pai. Assim, o princípio constitucional da igualdade entre os filhos estaria ferido.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
(...)
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
A III Jornada de Direito Civil aprovou o enunciado 267
267 – Art. 1.798: A regra do art. 1.798 do Código Civil deve ser estendida aos embriões formados mediante o uso de técnicas de reprodução assistida, abrangendo, assim, a vocação hereditária da pessoa humana a nascer cujos efeitos patrimoniais se submetem às regras previstas para a petição da herança.
Assim, concluímos que a inseminação artificial post mortem é permitida no Brasil e para o filho concebido post mortem requerer a herança deve fazê-lo mediante ação de petição de herança que prescreve, em 10 anos contados da abertura da sucessão, como veremos posteriormente.
Legitimação testamentária
Na sucessão testamentária estão legitimados a suceder os indicados nos artigos 1798 e 1799 do Código Civil:
Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder:
III- As pessoas jurídicas cuja a organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação;
II- As pessoas jurídicas;
I- Os filhos ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão.
OBS.: Na hipótese do beneficiário seja prole eventual, este terá prazo de 02 anos a contar da abertura da sucessão, para que seja concebido, como pode ser observado no Art. 1.800 do CC.
Falta de Legitimação para Ser Herdeiro Testamentário e/ou Legatário
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos;
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento.
Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder.
As hipóteses e o procedimento de exclusão da sucessão. ​Distinção entre falta de legitimação para suceder, indignidade e deserdação. Os requisitos da indignidade e deserdação e seus efeitos jurídicos.
Exclusão do herdeiro/legatário
Existem duas formas de exclusão: indignidade e deserdação. Ambos os institutos têm natureza punitiva, restritiva de direitos e por isso os efeitos da exclusão são pessoais, não atingindo os herdeiros do excluído que herdam como se este fosse pré-morto, ou seja, por representação. Diferente da Renúncia, os herdeiros do excluídos, poderão herdar por representação. Não abrange a linha sucessória. Não cabe interpretação analógica, seja na hipótese de indignidade ou de deserdação.
Indignidade
1- São sujeitos passivos da Indignidade os herdeiros (de qualquer espécie) e os legatários. Art. 1.814.
Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:
I - que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.
2- As causas de indignidade são apenas as hipóteses do art. 1.814/CC.
3- É de iniciativa de qualquer herdeiro ou legatário interessado na exclusão. Art. 1.815. A exclusão do herdeiro ou legatário, em qualquer desses casos de indignidade, será declarada por sentença.
Parágrafo único. O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se em quatro anos, contados da abertura da sucessão.
4-Prazo para a propositura da Ação de Exclusão por Indignidade é de 04 anos a contar da abertura da sucessão e independe da sentença penal condenatória. O reflexo da coisa julgada material da sentença penal na sucessão: À semelhança da lei anterior, o artigo 935 prevê que a responsabilidade civil independe da criminal, impedindo questionamentos sobre a existência do fato delituoso ou sua autoria, não podendo mais serem rediscutidos no juízo orfanológico. Acolhidas as teses de defesa deduzidas na ação penal de negativa de autoria ou de atipicidade do fato, não pode o sucessor ser excluído da sucessão. Contrariamente, se o pedido da condenação na ação penal foi julgado procedente, ou reconhecida a prescrição da pretensão punitiva, o sucessor poderá ser excluído da sucessão por indignidade, se movida a ação cabível, distribuída por dependência ao inventário.
5- A pena de indignidade não ultrapassa a pessoa do apenado, os seus herdeiros não serão prejudicados. Mas o indigno, de forma alguma pode se aproveitar dessa herança.
Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão.
Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à administração dos bens que a seus sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens.
6- O terceiro de boa-fé que adquiriu a propriedade daquele que é posteriormente declarado indigno, não fica prejudicado.
Art. 1.817. São válidas as alienações onerosas de bens hereditários a terceiros de boa-fé, e os atos de administração legalmente praticados pelo herdeiro, antes da sentença de exclusão; mas aos herdeiros subsiste, quando prejudicados, o direito de demandar-lhe perdas e danos.
Parágrafo único. O excluído da sucessão é obrigado a restituir os frutos e rendimentos que dos bens da herança houver percebido, mas tem direito a ser indenizado das despesas com a conservação deles.
7- É facultado ao autor da herança,quando possível reabilitar o indigno. 
Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será admitido a suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato autêntico.
Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em testamento do ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite da disposição testamentária.
Deserdação. Art. 1.961 a 1.965 do CC.
1ª Art. 1.961. Os herdeiros necessários podem ser privados de sua legítima, ou deserdados, em todos os casos em que podem ser excluídos da sucessão.
2ªAs causas de deserdação são as hipóteses do art. 1.814, bem como as do art. 1.962 e 1.963 do CC.
Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes:
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;
IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade.
Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos ascendentes pelos descendentes:
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do neto, ou com o marido ou companheiro da filha ou o da neta;
IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave enfermidade.
3ª É de iniciativa do próprio do autor da herança. Deve ser expressamente manifestada através de Testamento. Art. 1.964. Somente com expressa declaração de causa pode a deserdação ser ordenada em testamento.
4ª O prazo para a propositura da Ação de Exclusão por Deserdação é de 4 anos a contar da Abertura do Testamento. Caso os agentes que deveriam ter promovido a ação, perdendo o prazo, não o fazem dentro do prazo correto previsto em lei, a vontade do autor da herança não será aceita. Art. 1.965. Ao herdeiro instituído, ou àquele a quem aproveite a deserdação, incumbe provar a veracidade da causa alegada pelo testador.
Parágrafo único. O direito de provar a causa da deserdação extingue-se no prazo de quatro anos, a contar da data da abertura do testamento.

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