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O Fato Punível em Direito Penal

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DIREITO PENAL I
UNISINOS
Prof. Tomás Grings Machado
O Fato punível em direito penal – noções elementares
Conceito de crime
Formal – segundo esse conceito, o crime é toda a ação ou omissão proibida pela lei sob a ameaça de uma sanção. O crime é compreendido enquanto a exclusiva violação da lei penal
Críticas 
i) este conceito não esclarece qual a natureza das condutas contrárias à lei penal e nem o porquê dessas condutas serem punidas, isto é, não há qualquer preocupação com o objeto, com o conteúdo do crime – conceito estritamente legalista e positivista; ii) não se analisa o conteúdo do fenômeno criminoso, mas apenas o seu aspecto formal (legal); iii) não se leva em conta as razões pelas quais uma conduta passa a ser considerada como um crime
Material – o crime é, sob o aspecto material, exclusivamente, um desvalor da vida social, nada mais do que uma ação ou omissão que se procura evitar, justamente pelo fato de representar um desvalor da vida social. Ou seja, busca-se conceituar o crime a partir do seu objeto e não quanto a sua forma.
Nesses termos, o crime é todo o comportamento humano que lesione um interesse que seja apto a comprometer as condições sociais de existência e de continuidade de convívio social.
Críticas
i) o conceito material é fruto de exclusivas compreensões pré-legais (para um comportamento ser considerado como criminoso apenas exige-se que esse comportamento represente um desvalor social); ii) o desvalor de uma conduta não é suficiente para converter essa conduta em crime, daí a necessidade de também respeitar o princípio da legalidade, como forma de delimitação do conceito 
Analítico – segundo esse conceito o crime nada mais é do que um fato típico, ilícito e culpável. Isto é, o crime resta definido não a partir de seus elementos, mas sim a partir de seus requisitos.
Todavia, convém salientar que o crime é um todo unitário, insuscetível de fragmentação, isto é, não se pode entendê-lo a partir da análise isolada de cada um dos seus requisitos, devendo, para uma efetiva compreensão do crime realizar uma análise conjunta dos três requisitos que fazem parte do conceito de crime.
Fato típico
Ação – deve ser entendida como ação propriamente dita e omissão. Trata-se, de forma muito breve, de uma conduta impulsionada e conduzida pela vontade do agente e sempre dirigida à obtenção de um fim (maiores detalhes ver ponto sobre a Ação em direito penal).
Tipicidade – nada mais é do que a verificação de que a conduta ajusta-se perfeitamente ao tipo penal, ao modelo legal de crime. Tipicidade é, portanto, o enquadramento perfeito da ação à descrição presente na norma penal. (maiores detalhes ver ponto sobre a Tipicidade).
é a conformidade, a perfeita correspondência, da conduta concretamente praticada à descrição abstrata contida na norma.
Encaixe da conduta (ação/omissão) aos elementos previstos pela norma penal
Juízo de tipicidade positivo – fato típico
Juízo de tipicidade negativo – fato atípico
Ilicitude/Antijuridicidade – é tudo aquilo que se mostra contrário ao direito por não existir qualquer permissão ou autorização legal para a realização conduta (ex. legítima defesa, estado de necessidade. (maiores detalhes – Direito Penal II)
Culpabilidade – é o juízo de reprovação que recai sobre a conduta ilícita do agente imputável, que tem ou pode ter consciência da ilicitude, sendo-lhe exigível comportamento conforme ao direito (maiores detalhes – Direito Penal II)
Objeto jurídico e objeto material do crime
Objeto jurídico – é compreendido como sendo o interesse ou valor (bem jurídico) atingido pela conduta criminosa e que é protegido pela lei penal (bem jurídico-penal)
É possível crime sem objeto jurídico?
Objeto material – é a pessoa ou coisa sobre a qual recai diretamente a conduta criminosa
É possível um crime sem um objeto material?
Classificação dos crimes
Quanto ao elemento subjetivo 
Crime doloso – é o crime praticado com vontade livre e consciente para a obtenção de um resultado (ver mais detalhes no ponto sobre o Tipo Subjetivo Doloso)
Crime culposo – é o crime praticado de forma involuntária, isto é, sem que o agente tenha a vontade de produzir o resultado. Nesse caso o sujeito não quer o resultado, mas acaba dando-lhe causa por ter agido de forma culposa (ver mais detalhes no ponto sobre o Ilícito Culposo).
Somente há crime culposo quando previsto em lei
Crime preterdoloso – caracteriza-se por um misto de dolo e culpa. É a situação em que o agente quer um determinado resultado e age nesse sentido (dolo), porém, acaba por obter um resultado maior do que aquele pretendido e que não era desejado pelo autor (culpa)
Ex. art.129, § 3.º - lesão corporal seguida de morte.
Quanto ao resultado:
a.1 – Resultado Jurídico (evento jurídico) – é possível algum crime sem resultado jurídico?
1. Espécies
Dano (lesão) – o crime exige, para a sua consumação o efetivo prejuízo ao bem jurídico protegido pela norma penal
Ex. Furto – redução do patrimônio; sequestro – restrição da liberdade; homicídio – total destruição da vida
Perigo de dano (perigo de lesão) – são aqueles que se consumam independentemente da efetiva lesão ou dano ao bem jurídico
Perigo concreto: o perigo é elemento do tipo, é parte integrante da norma penal (precisa ser provado)
Ex.: art.136, art.137 – Rixa, art.250 incêndio Código Penal; abandono de recém nascido – art.134, art. 252
Perigo abstrato: nesses casos o perigo não se encontra descrito na lei penal. O perigo, nesses casos é motivação do legislador. Segundo a doutrina tradicional, os crimes de perigo abstrato são compreendidos como crimes de mera desobediência, justamente pelo fato de que o perigo é presumido de forma absoluta (juris et de jure) pelo legislador 
Determinadas condutas são consideradas abstratamente perigosas pelo legislador e por isso a sua simples prática é suficiente para justificar a punição.
Ex. art.270; 277, 253 Código Penal
a.2 – Resultado Natural – modificação do mundo natural.
1. Espécies
Crimes materiais – são os crimes constituídos de ação e resultado. O tipo penal exige a ocorrência de um resultado para a sua consumação. Constitui a maioria das leis penais.
Ex. 121, 171...
Crimes formais – são aqueles crimes cujo tipo penal se consuma independentemente da ocorrência do resultado que se encontra descrito pelo tipo penal. São crimes que possuem a descrição de um resultado naturalístico, mas que não é exigida a sua ocorrência para a sua consumação. Também conhecidos como crimes de consumação antecipada, isto é, são crimes que possuem o seu momento consumativo em um momento anterior ao da ocorrência do resultado naturalístico descrito pelo tipo penal.
Ex. ameaça (art.147), injúria (art.140), difamação (art.139) etc. 
Crimes de mera conduta – são crimes em que apenas encontramos descrita a conduta que o agente deve praticar para consumar o crime. São crimes onde não há a descrição de qualquer resultado naturalístico. A eventual produção de algum resultado exterior, separado espaço-temporalmente da ação em nada influencia na análise da consumação do crime. 
Ex. violação de domicílio (art.150), desobediência (art.330), regresso de estrangeiro expulso (art.338)
Quanto a ação
Crime comissivo – são aqueles crimes que necessitam, para a sua realização, de uma ação positiva, um fazer quando a lei diz para não fazer (violação de uma norma proibitiva).
Crime comissivo por omissão – omissivo impróprio – é o crime em que a omissão se caracteriza pela não observância de um dever jurídico de evitar o resultado – art. 13, §2.º (mais detalhes no ponto sobre os crimes omissivos)
Crime omissivo – decorrem de uma omissão do sujeito. Nesses casos o sujeito não faz quando é obrigado, por lei, a realizar uma determinada ação – violação de uma norma preceptiva (mais detalhes no ponto sobre os crimes omissivos)
Quanto ao tempo da ação
Crime instantâneo – é aquele crime em quea ação ocorre em um determinado momento e a sua consumação é imediata e não se prolonga no tempo. Isto é, uma vez praticado o crime, a sua realização, a continuação da sua consumação não poderá ser mantida pelo agente. Ex. Furto; homicídio, lesão corporal...
Crime instantâneo de efeitos permanentes – é aquele cuja consumação ocorre imediatamente. Principal característica – duração das suas conseqüências, isto é, o autor segue se aproveitando do estado criado por ele por meio da prática do crime. Ex. Homicídio, roubo, furto...
Crime permanente – é aquele crime que ocorre a todo o momento, que caminha no tempo. Uma conduta que se prolonga no tempo, ou seja, enquanto perdurar a conduta do sujeito ativo do crime, esse crime estará sendo consumado. Nas palavras de Assis Toledo, no crime permanente, «o momento consumativo é uma situação duradoura, cujo início não coincide com o de sua cessação» (p.146).
ex. porte de entorpecentes; porte de arma; seqüestro (148); violação de domicílio.
Crime habitual – é o crime que exige que a conduta incriminada seja praticada de forma habitual, reiterada e repetitiva, de tal sorte que os atos praticados isoladamente não possuem qualquer relevância penal. Isso porque, o crime somente ocorrerá quando existir a repetição dessa conduta ao longo de um determinado período de tempo
art. 282 (exercício ilegal de medicina);art.284 (curandeirismo); 230 (rufianismo); 229 manutenção de casa de prostituição 
Quanto a estrutura do crime
Crime complexo – são os crimes que possuem mais de um bem jurídico protegido na mesma norma penal e que exige a ofensa a ambos os interesses para a consumação do crime.
Ex. Roubo – patrimônio e integridade física/ameaça/grave ameaça; extorsão mediante seqüestro – patrimônio e liberdade; latrocínio – patrimônio e vida... 
Crime simples – são os demais crimes que possuem apenas um bem jurídico protegido.
Crime unissubsistente – o crime é realizado por meio de uma única ação
Crime plurissubsistente – o crime é realizado por meio de diversas ações que podem ser fragmentadas no tempo – admitem a tentativa
Crime de concurso necessário – são aqueles crimes que para a sua realização exige-se a participação de duas ou mais pessoas. Também são chamados de crimes plurissubjetivos (mais detalhes no Penal II, quando do estudo do concurso de agentes)
Ex. art.288 (associação criminosa); art.137 (rixa)
Bibliografia consultada para a elaboração da presente síntese:
BITENCOURT, Cezar Roberto, Tratado de direito penal: parte geral, vol.1, 14.a ed., São Paulo: Saraiva, 2009.
BRANDÃO, Cláudio, Curso de direito penal: parte geral, Rio de Janeiro: Forense, 2008.
CALLEGARI, André Luís, Teoria Geral do Delito e da Imputação Objetiva, 2.a Ed. rev. e ampl., Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009.
COSTA JR., Paulo José da, Direito Penal: curso completo, São Paulo: Saraiva, 8.a ed., 2000.
DELMANTO, Celso, [et.al], Código Penal comentado, 7.a ed., Rio de Janeiro: Renovar, 2007.
FIGUEIREDO DIAS, Jorge de, Direito Penal: parte geral, t.I, Coimbra/São Paulo: Coimbra Editora/RT, 2007.
FRAGOSO, Heleno Cláudio, Lições de direito penal: parte geral, 16.a ed., Rio de Janeiro: Forense, 2003.
KREBS, Pedro, Teoria Jurídica do delito: noções introdutórias – tipicidade objetiva e subjetiva, Barueri: Manole, 2004.

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