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1 Fraturas expostas – Amanda Loureiro Gama Fraturas Expostas Considerações Iniciais: ❖ É importante diferenciar os traumas de alta energia e os de baixa energia, pois o prognóstico da lesão é determinado pela extensão/quantidade de tecidos desvitalizados provocados pelo trauma e pelo tipo e grau de contaminação bacteriana. ❖ Objetivos do tratamento: prevenção da infecção, obtenção da consolidação óssea e cicatrização de partes moles -> recuperação funcional do membro acometido. Definição: ❖ É uma fratura na qual há ruptura na pele e nos tecidos moles subjacentes, ou seja, o invólucro, permitindo a comunicação óssea direta, ou do seu hematoma, com o meio ambiente. Observação 1: prestar atenção nas fraturas cuja comunicação ocorre através de boca, tubo digestivo, ânus e vagina. Observação 2: quando uma fratura ocorre no mesmo segmento do membro com uma ferida, é considerada fratura exposta até que se prove ao contrário Significado de uma fratura exposta: ❖ As três principais consequências de uma fratura exposta são: desvascularização e perda da função. Sendo a contaminação da área de lesão por bactérias do ambiente externo a mais importante delas. ❖ Contaminação: a desvascularização, o esmagamento ou arrancamento de tecidos moles tornam o tecido mais susceptível a infecções -> privação da irrigação -> dificuldade na cicatrização ❖ Desvascularização: a destruição tissular da proteção do osso pode afetar a vascularização no local da fratura ❖ Perda da função: ausência de músculos, tendões e nervos. Fisiopatologia dos traumatismos de partes moles: ❖ Fase inflamatória: Trauma -> processo de interação entre leucócitos e a microcirculação -> resposta enzimática -> agregação plaquetária e vasoconstrição -> interrupção do sangramento ->isquemia tissular local -> hipóxia e transformação acidótica do meio -> proliferação e ação dos macrófagos. Leucócitos: produzem defesas contra a infecção Macrófagos: inicia a remoção do tecido necrótico presente -> essa função é limitada, então quando o tecido necrótico for maior do que a capacidade de fagocitar dos macrófagos esse meio vai prejudicar a ação dos leucócitos e vai favorecer o processo infeccioso. Conclusão: debridamento cirúrgico é a melhor forma de combater a infecção no curso do tratamento. ❖ Fase proliferativa e fase reparativa: 2 Fraturas expostas – Amanda Loureiro Gama Ocorre após o controle hemorrágico, aonde fatores de crescimento e de mitogênese celular irão povoar a área da lesão com fibroblastos e células endoteliais, com a função de sintetizar colágeno Depois disso, vai ser criado tecido de granulação, onde posteriormente será criando tecido cicatricial com diferentes características. Etiologia, mecanismo de lesão e características: A energia cinética (EC=mv²/2) afeta não só estrutura óssea, como também partes moles. Após o trauma, o osso absorve a energia cinética, que se dissipa e dependendo da sua magnitude, vai romper a barreira de tecidos e criar a fratura exposta. Essa ruptura causa a contaminação no interior da ferida. Observação 1: não tem como julgar a contaminação apenas pelo tamanho da ferida Existem três principais causas para essas fraturas: ❖ O corpo parado é atingido por um objeto em movimento ❖ O corpo em movimento é atingido por um objeto parado ❖ O corpo em movimento é atingido por um corpo ou objeto em movimento. Observação 2: o conhecimento e a análise do mecanismo de lesão informam ou alertam o médico para procurar lesões não-evidentes inicialmente e que poderiam passar despercebidas. Classificação: nesse caso, dita orientação no que diz respeito a prognóstico e tratamento, pretendendo diminui o número de complicações e erros. Existem fatores que devem ser observados: 1. Grau de lesões de partes moles 2. Grau de contaminação 3. Padrão da fratura Observação: Brumback (1992) acrescentou a essa lista outros fatores: história e mecanismo de trauma, estado vascular do membro afetado e a presença ou não de síndrome compartimental ❖ Classificação de Gustillo e Anderson 3 Fraturas expostas – Amanda Loureiro Gama ❖ Classificação de Tscherne para lesões de partes moles associadas à fraturas fechadas Tratamento Atendimento pré-hospitalar: ❖ Cobertura da ferida – isolamento do meio externo com curativo estéril ❖ Imobilização provisória – talas, órteses ou similares. ❖ Objetivo: proteção da lesão do meio externo e prevenção da continuidade da lesão de partes moles. Atendimento inicial: fase hospitalar: ❖ Seguir de acordo com os comandos do ATLS ❖ Ressuscitação e estabilização do paciente, quando necessário. ❖ Se não tiver sido realizada a imobilização e a cobertura da ferida no local do acidente, fazer nesse momento. ❖ Não manipular a ferida em sala de emergência -> centro cirúrgico ❖ Exame completo: pulsos/perfusão, exame neurológico ❖ Após estabilização -> exame radiográfico completo ❖ Início da ATB profilaxia e fazer tetanoprofilaxia. Observação 1: no que diz respeito a ferida, deve ser feita uma monitorização constante e realização da cultura -> colhidas no perioperatório em casos mais graves com alto grau de contaminação. Antibioticoprofilaxia: escolha de acordo com a classificação de Gustillo e Anderson. 4 Fraturas expostas – Amanda Loureiro Gama O tratamento deve ser feito de 48-72hrs. Em casos de paciente com infecção precoce estabelecida, manter o tratamento até o resultado da cultura sair. Eficácia do antibiótico local: ❖ Vários autores preconizam a utilização de cimento acrílico + antibiótico (cadeira de pérolas) no tratamento das feridas das fraturas expostas. Tratamento Cirúrgico: Debridamento cirúrgico: reduzem o risco de infecção quando realizado nas primeiras 4 horas após o acidente. ❖ Ajuda na prevenção de infecção hospitalar e não hospitalar ❖ Deve ser feito no centro cirúrgico e não na sala de emergência ❖ Tem objetivo de: remover corpos estranhos, remover tecidos necróticos, reduzir contaminação bacteriana e criar uma ferida vascularizada ❖ Prestar atenção na viabilidade dos tecidos para evitar ressecção de tecidos sadios e deixar tecidos necrosados. ❖ Pesquisar os 4 “C” em toda a área do trauma – cor, consistência, circulação e contratilidade. ❖ Fragmentos ósseos que perderam suas inserções musculares devem ser descartados ❖ 48-72hrs depois pode existir um second look para observar a viabilidade de tecidos antes duvidosa ❖ Antes do debridamento deve ser realizada limpeza na ferida com uso abundante de soro fisiológico (10L de SF ou ringer lactato) Ferimentos nas fraturas expostas: O fechamento das feridas pode ser primário ou de maneira secundária. Isso vai depender do tipo de ferida, do mecanismo de trauma, etc. O cirurgião nesses casos deve analisar os seguintes aspectos: ❖ Ferida limpa, que não tenha ocorrido em ambientes contaminados ❖ Todos os tecidos necróticos e corpos estranhos devem ter sido removidos ❖ Tecidos viáveis ❖ Sutura sem tensão ❖ Ausência de espaço morto Observação 1: as fraturas tipo I podem ser fechadas, as fraturas tipo 2 devem ser adequadas a seu caso e a tipo III não devem ser fachadas primariamente. Observação 2: a complicação desse fechamento primário é a infecção da ferida, que pode evoluir para osteomielite. Opções para tratamento definitivo dos ferimentos em fraturas expostas: A. Fechamento primário - sutura 5 Fraturas expostas – Amanda Loureiro Gama B. Fechamento primário – enxerto de pele e enxerto vascularizado total C. A ferida permanece aberta e será complementada om procedimento secundário C.1. Fechamento retardado por sutura direta C.2.Fechamento por enxerto de peleou enxerto vascularizado local C.3. Fechamento por segunda intenção C.4. Fechamento por enxerto vascularizado a distância Enxerto ósseo: Deverá ser aplicado naqueles pacientes com vascularização adequada, capaz de incorporar o enxerto, sem infecção e com estabilidade óssea mantida Fixação das fraturas Objetivo: evitar a perpetuação da lesão de partes moles provocada pelos fragmentos ósseos e diminuir a formação de espaço morto e hematoma, permitindo melhor cuidado com a ferida e melhor mobilização e conforto do paciente. Essa estabilização também diminui os riscos de infecção. A escolha do método de fixação depende da personalidade da fratura: ❖ Padrão, tipo e grau de cominuição da fratura ❖ Localização anatômica ❖ Grau de lesões de partes moles e tratamento inicial ❖ Grau de contaminação ❖ Estado geral do paciente ❖ Tempo de evolução desde o acidente Fraturas expostas da tíbia: ❖ Fixadores externos: tratamento de escolha nas fraturas expostas graves -> fixadores unilaterais com pinos de meia rosca: ✓ Complicação: retardo de consolidação e pseudo-artrose. ✓ Existem duas dificuldades nesse tratamento: infecção no trajeto dos pinos e aceitação do paciente. ✓ Cabe ao cirurgião acompanhar a evolução do paciente e dos orifícios de entrada dos pinos, além de fornecer constante orientação no que diz respeito a limpeza e cobertura do local. ❖ Haste intramedular bloqueada sem fresagem do canal medular: ✓ Existem estudos que comprovam sua eficácia em fraturas do tipo II e I e em alguns casos em fraturas do tipo III, tendo vantagem sobre a fixação externa na diminuição da incidência de energia ✓ O índice de consolidação nesses casos é alto, e em caso de retardo a melhor opção é trocar por uma haste com fresegem no canal medular. ✓ Deve ser evitada em fraturas de grande cominuição ❖ Haste intramedular com fresagem do canal medular: ✓ Ainda não existem estudos que comprovem seu benefício em detrimento do risco durante as duas semanas iniciais -> vascularização periosteal ainda não se refez. ❖ Fixação externa x fixação interna mínima: é associação de parafusos interfragmentares e fixadores externos, vem se mostrando eficaz em fraturas metafisiodiafisárias. 6 Fraturas expostas – Amanda Loureiro Gama ❖ Fixação interna: o uso de fixação interna deve ser avaliado nas fraturas expostas de tíbia pelo risco de infecção e extensão da cirurgia. ❖ Osteossíntese intramedular após fixador externo: a transição é segura após duas semanas de uso de fixador externo sem infecção local ou nos trajetos dos pinos. Ultrapassado esse período, recomenda-se transição em dois tempos (tira o fixador e depois coloca a haste. O intervalo entre uma coisa e outra dura de 2-3 semanas e se faz ATB terapia). Fraturas exposta intra-articular: fixação de MMII ❖ A osteossíntese estável dessas fraturas é a melhor maneira para alcançar os objetivos do tratamento dessas fraturas ❖ Tratamento conservador: feito em pacientes em que as fraturas se apresentam anatomicamente reduzidas e estáveis ou em casos especiais de pacientes com paralisia ou problemas neurológicos graves. ❖ A fixação interna imediata dessas fraturas depende da experiencia do cirurgião e de seus critérios ao analisar cada fratura. ❖ Nas lesões tipo I, pode se fazer a cirurgia imediata depois do cuidado adequado das lesões de partes moles ❖ Nos graus II e III devem ser analisadas as particularidades da fratura. ❖ Casos limítrofes: fixação com uso de aparelhos interfragmentares. ❖ Em certos casos, a montagem com anel e fios possibilita a estabilização de fragmentos metafisários sem dissecção excessiva e com os melhores resultados em comparação com técnica tradicionais. ❖ O advento dos fixadores híbridos veio oferecer ainda mais vantagens, tornando os fixadores circulares mais fáceis de utilizar e evitando as frequentes complicações dos fios maleáveis na região diafisária da tíbia. As fraturas do pilão tibial são de difícil manuseio. ❖ A redução anatômica, sem desvitalização dos fragmentos com parafusos ou fios, associada à fixação externa, tem sido o tratamento de escolha. ❖ Alguns utilizam a complementação com placa de suporte após cicatrização das partes moles. A extensa dissecção para a colocação de placa primariamente é contraindicada, com aumento de infecções e consequências desastrosas. Fraturas expostas do fêmur: ❖ Osteossíntese com haste intramedular: em fraturas grau I pode ser feita imediatamente e em pacientes grau II e III o risco de infecção é muito alto, então se faz só em paciente politraumatizado, em que o benefício é maior que o risco. ❖ Fixadores externos: é a melhor opção em casos de fraturas com alto grau de contaminação, cominuição ou quando a cobertura muscular é complicada, ❖ Placas: tem certas desvantagens que são – incisão grande, aumento do grupo de infecção, necessidade de enxertia óssea, alto índice de falha no implante e pseudo- artrose. Fratura exposta da pelve: ❖ Qualquer fratura da pelve com lesão de intestino grosso ou feridas externas comunicantes estão propensas a se contaminar com material fecal -> colostomia. Fraturas expostas dos ossos do antebraço e braço: 7 Fraturas expostas – Amanda Loureiro Gama ❖ Faz limpeza e fixação imediata ❖ Fraturas instáveis e/ou com associação com lesão vasculonervosa -> fixação com placa, com pequeno índice de complicações. Observação: fraturas feitas por projéteis de arma de fogo devem seguir o protocolo das demais fraturas de acordo com seu tipo e localização. Amputação x Salvação Valores maiores ou iguais a 7 são indicativos de amputação
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