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- “Fratura Exposta” é uma expressão que se refere a um amplo espectro de lesões, desde perfuração na pele em fratura oblíqua longa até esmagamento do membro com fratura multifragmentar. - Diferenciar o tipo de trauma é importante, pois o prognóstico das fraturas expostas é determinado, de forma mais específica, pela extensão/quantidade de tecidos desvitalizados produzida pelo trauma e pelo tipo e grau de contaminação bacteriana, e não apenas pela caracterização da fratura como fator isolado. - “Fratura exposta é aquela onde o hematoma fraturário tem comunicação com o meio externo.” - A fratura exposta é definida como a condição em que há ruptura na pele e nos tecidos moles subjacentes, ou seja, o invólucro, permitindo a comunicação óssea direta ou de seu hematoma fraturário com o ambiente. - O conceito de comunicação com o meio externo deve ser entendido em sentido mais amplo, pois, em diversas situações, a comunicação pode estar Giovanna Lopes mascarada. Isso se refere, principalmente, às fraturas cuja comunicação ocorre pela boca, pelo tubo digestivo, pela vagina e pelo ânus, os últimos dois com grande frequência nas fraturas do anel pélvico. - Tem-se a fratura e o hematoma contaminado tem contato com o meio externo. Nesse caso abrangem-se as fraturas verdadeiramente expostas (com osso para fora), de tíbia, por exemplo, uma fratura do ramo da mandíbula que perfurou o assoalho da boca, uma fratura de cóccix que migrou para a ampola retal (extremamente grave). Fratura de diáfise do fêmur com laceração grande do joelho, é considerada exposta, pois nesse caso vê-se a presença de gotículas de gordura, indicativo de contato do meio externo com a medula do osso. - Fraturas expostas são tecidos lesionados e isquêmicos, circundados por hematomas contaminados por bactérias. Isto propicia um ambiente ruim para cicatrização e consolidação (tanto para a parte óssea quanto para as partes moles); - Qual indicativo clínico de que a fratura é uma fratura exposta? Em fraturas expostas podem ser encontradas gotículas de gordura presentes na ferida, advindas da medula óssea. - Maior tendência a fratura exposta em membro inferior, em especial a TÍBIA, por não possuir coxim gorduroso em sua região anterior, o que predispõe a fraturas quando há impacto. O úmero é menos propenso a fratura em comparação ao osso da tíbia, pois possui muito mais músculos que fazem seu revestimento. - Qual o grande problema das fraturas expostas? Infecções. O principal microorganismo causador de infecções em fraturas expostas é o Staphylococcus aureus. Há ainda a menção de contaminações por Enterococcus nos casos em que tem o contato com fezes e em outros casos pode ocorrer infecção secundária por Pseudomonas. - O diagnóstico de fratura exposta é evidente na maioria dos casos, pois é possível visualizar fragmentos ósseos pela ferida. Entretanto, pode ser difícil se a abertura for pequena, se estiver distante do local da fratura ou projetar-se por outros sítios, como vagina e reto. - Quando a fratura ocorre no mesmo segmento do membro com ferida, deve ser considerada fratura exposta, até provar-se o contrário. - O trauma que produzir fratura do osso e ruptura de todo o envelope de partes moles que o protege deve ser de alta magnitude. Essa alta energia absorvida pelo osso e seu invólucro determina destruição tecidual – em maior ou menor magnitude –, tendo como consequências imediatas a contaminação e a desvascularização. - A contaminação bacteriana é o fator diferencial mais claro e importante, determinante da própria definição de fratura exposta, gerando o risco potencial de infecção local. - A desvascularização, por esmagamento ou arrancamento de tecidos moles, torna esses tecidos e o osso que eles cobrem mais suscetíveis a infecção, por privá-los do suprimento sanguíneo indispensável para o processo de combate à infecção, cicatrização das partes moles e consolidação óssea, ou seja, a diminuição da vascularização local faz com que haja aumento no potencial de infecção e diminuição do potencial de formação de calo ósseo, diferenciando as fraturas expostas das demais. - Apesar dos fatores descritos, é o grau de destruição tissular (envelope de partes moles) que orienta a decisão a respeito do método a ser empregado para a estabilização efetiva da fratura, assim como em relação à perda da função da estrutura acometida, uma vez que podem estar comprometidos músculos, tendões, nervos e outras estruturas. - Qualquer traumatismo produz sangramento e destruição celular, porém, nas fraturas expostas, a energia liberada desencadeia reações extremas no organismo, gerando, por parte deste, respostas imediatas para interromper o sangramento e iniciar o processo reparativo de maneira mais intensa. - Esse processo imediato após o trauma pode ser dividido nas seguintes fases: o Fase inflamatória. o Fase proliferativa. o Fase reparadora. - É o processo inicial de grande interação entre os leucócitos e a microcirculação, que, em decorrência do trauma, gera resposta enzimática, visando à agregação plaquetária e à vasoconstrição – sistema cascata – com o intuito de interromper o sangramento. - O efeito colateral dessa resposta é a isquemia tissular local, que produz hipoxia e a transformação acidótica do meio, favorecendo a ação dos macrófagos, os quais, então, proliferam. - Enquanto a função dos leucócitos é estabelecer a defesa contra infecção, a dos macrófagos é iniciar a remoção do tecido necrótico presente por meio de importante atividade enzimática. Essa atividade é limitada; se a capacidade fagocitária é ultrapassada por excesso de tecido necrótico, toda a função dos leucócitos mononucleares – defesa contra infecção – fica comprometida, tornando a área ainda mais suscetível à infecção, pela hipoxia local. - Esses fatos descritos formam o substrato fisiopatológico para o entendimento da razão pela qual o debridamento cirúrgico é o melhor método de combate à infecção no curso do tratamento das fraturas expostas, apresentado mais adiante. - Após o controle hemorrágico do prejuízo tecidual inicial, há rápida transição para a fase proliferativa, na qual, sob o estímulo de fatores de crescimento/mitogênese celular, ocorre povoamento da área de lesão com fibroblastos e células endoteliais, com a função de sintetizar matriz extracelular, ou seja, colágeno. - Estando presente o substrato, células endoteliais proliferam, criando tecido de granulação, que, então, produz tecido cicatricial com diferentes características. - Cada um dos diversos tecidos lesionados recebe estímulos para sua cicatrização. No tecido ósseo, é o processo de consolidação da fratura que tem início. - A lesão das partes moles que envolvem e protegem o osso é a expressão das fraturas expostas. - Influência de vários fatores: o Aumento dos acidentes; o Desenvolvimento industrial; o Aumento do número de motociclistas; o Aumento das populações urbanas; o Aumento da violência. - Contudo, mais do que um sinal visual de diagnóstico, é preciso entender qual o seu significado e o que isso representa na avaliação geral da fratura e em seu prognóstico. - A fratura é o resultado de força violenta aplicada contra o corpo, e o potencial de lesão ao organismo pode ser representado pela clássica equação K=MV2/2, em que K é a energia cinética a ser absorvida; M, a massa; e V, a velocidade. É necessário compreender que a energia absorvida afeta não só o osso, mas também os tecidos moles que o envolvem, determinando lesões de vários graus de complexidade. A velocidade é fator determinante para gravidade da fratura. - Após o impacto entre o objeto e o membro afetado, há absorção de energia até certo momento, quando, então, esta é dissipada como explosão, que fratura o osso e, em formato de onda de energia, lesa as partes moles. A onda inicia com o descolamento periosteal e, dependendo de sua magnitude, rompe a barreirados tecidos moles, produzindo a fratura exposta. - À ruptura, segue-se vácuo, promovendo contaminação do interior da ferida. Isso explica o porquê de não julgar a contaminação da ferida apenas pelo seu tamanho. - As lesões de tecidos moles e ósseas estão relacionadas ao impacto de alta ou baixa energia entre o objeto e o segmento corporal que dissipa a energia, sendo o impacto o causador de maior ou menor lesão. - As causas das fraturas expostas são muito variadas, porém, de maneira geral, podem ser agrupadas em três aspectos: o Corpo parado atingido por objeto em movimento. o Corpo em movimento atingindo objeto parado. o Corpo em movimento atingido por objeto ou corpo em movimento. - A fratura exposta originada por trauma de baixa energia pode ser representada por queda da própria altura com apoio do membro superior, como a fratura dos ossos do antebraço. - É possível considerar como energia intermediária aquela resultante de projétil de arma de fogo (PAF), enquanto o atropelamento por automóvel a 35 km/h ou mais determina um altíssimo grau de energia. - Hoje, é sabido que o conhecimento e a análise do mecanismo de lesão informam e alertam o médico a procurar lesões não evidentes no início do atendimento e que podem passar despercebidas. - Classificar a fratura exposta é importante, porque permite a comparação dos resultados, mas, em especial, porque dá ao cirurgião a orientação quanto ao prognóstico da lesão e, com isso, orienta na escolha do melhor método de tratamento. - Isso diminui a incidência de complicações por antecipar os problemas e ajudar na prevenção de erros com soluções mais adequadas para cada caso. - No geral avaliam, em sua maioria: energia do trauma, grau de contaminação e padrão da fratura. - Os fatores críticos e fundamentais que devem ser avaliados para a classificação são: o Grau de lesão de partes moles. o Grau de contaminação. o Padrão da fratura. - Brumback, em 1992, acrescentou outros fatores que devem ser incluídos na análise de fratura exposta, para permitir uma classificação adequada. São eles: história e mecanismo de trauma, estado vascular do membro afetado e presença ou não de síndrome compartimental. Em seus estudos, o autor chama a atenção para o fato de que a lesão devastadora da perna com indicação para amputação pode estar associada a pequena lesão de pele. Assim, afirma-se que o tamanho da lesão de pele isolada é um parâmetro insuficiente para a classificação da fratura. Entretanto, a lesão extensa causada por objeto cortante, como uma lâmina de aço, pode estar associada a uma pequena lesão de partes moles/periósteo – vascularização óssea – e, assim, apresentar bom prognóstico. - A configuração das fraturas, sobretudo pelo desvio e pelo número de fragmentos presentes, reflete o grau de energia absorvido pelo osso e é útil na classificação. Entretanto, sempre deve estar em associação com a lesão de partes moles. - Proposta por Gustilo e Anderso, em 1976, após análise de 1.025 casos de fraturas expostas, essa classificação se tornou a mais utilizada em todo o mundo. - A classificação de Gustilo e Anderson envolve os seguintes tipos: o Tipo I. Ferida da pele de até 1 cm, com descolamento mínimo de periósteo e/ou partes moles. Contaminação mínima. Fratura transversa ou oblíqua curta. Lesão de dentro para fora. Lesão puntiforme, com contaminação mínima e trauma de baixa energia. O ferimento é causado pela angulação que o osso faz no momento do trauma e projeta-se em direção às partes moles (pele) e a perfura. Normalmente são exposições causadas pelo ponta do osso quebrado e parece ser inocente, pois esconde uma fratura. Pouca contaminação. Baixa energia. o Tipo II. Ferida na pele entre 1 e 10 cm. Descolamento de periósteo e/ou partes moles de moderado a extenso (retalhos, avulsão). Esmagamento mínimo ou moderado. Contaminação moderada. Fratura transversa ou oblíqua curta ou cominuição mínima da fratura. Ferimento maior que apresenta edema, lacerações/escoriações, maior acometimento e exposição dos tecidos moles em relação ao Gustilo l. Maior energia no trauma. Ferimento lacerado, com moderada exposição (até 10cm). Lesão de partes moles é moderada. Presença de edema, escoriação e sofrimento de pele. Sem retalhos ou avulsões. Energia moderada do trauma. o Tipo III. Ferida com mais de 10 cm. Extensa lesão de partes moles e descolamento do periósteo e/ou esmagamento. Contaminação significativa. Trauma de alta energia, fraturas multifragmentárias ou perda óssea. Explosões de partes moles, esmagamentos, extensa lesão de partes moles, sempre envolvem traumas de alta energia. São sempre lesões de alta energia. Alta contaminação. Extensa lesão de partes moles. Lesões por esmagamento com comprometimento arterial (não precisa ser exuberante, lesionou artéria, já é tipo IIIc), lesões por tiro sempre serão tipo III devido à alta energia. o Tipo IIIA. Nesse grupo, após debridamento, é obtida a cobertura óssea com partes moles de maneira adequada, apesar de lacerações e retalhos presentes. Fratura segmentar e por PAF ou ocorrida no campo é incluída aqui. Nestas lesões é possível obter cobertura óssea (fechar o ferimento) com as partes moles de maneira adequada, apesar das lacerações (não há necessidade de enxerto). Fraturas de alta energia, alta contaminação, que podem ser fechadas sem pressão. Cobertura óssea adequada com partes moles, apesar de extensa lesão nestas. o Tipo IIIB. Lesão extensa, que não permite cobertura óssea no primeiro tempo, necessitando, com frequência, de reconstrução com retalhos e enxertias posteriores. Neste tipo de lesão não há como restituir a cobertura óssea em primeiro tempo, normalmente requer retalhos e enxertos posteriormente para sua reconstrução. Fraturas de alta energia, alta contaminação, que não podem ser fechadas sem pressão. Extensa lesão de partes moles com desnudamento periosteal e exposição óssea. o Tipo IIIC. Qualquer fratura associada à lesão arterial que necessita de reparo cirúrgico para manter a viabilidade do membro. Fraturas expostas segmentares, lesões ocorridas no campo e em ambientes altamente contaminados, lesões por PAF e de alta energia são, de imediato, classificadas como de grau III. Lesões com acometimentos vasculares que necessitam de reparo para manter viabilidade do membro. Lesão arterial requerendo reparo. Exemplo: fraturas por tiro lesando vasculatura. - Lesões que sempre são Gustilo III: ESMAGAMENTOS, LESÕES COM ACOMETIMENTO VASCULAR COM NECESSIDADE DE REPARO PARA MANTER VIABILIDADE DO MEMBRO (Gustilo lllC) e FERIMENTOS POR ARMAS DE FOGO. - Fraturas expostas segmentares, lesões ocorridas no campo e em ambientes altamente contaminados, lesões por PAF e de alta energia são, de imediato, classificadas como de grau III. - A assistência e, lógico, o tratamento ao paciente com fratura exposta iniciam no local do trauma. - Os cuidados imediatos envolvem a cobertura da ferida, isolando-a do meio externo através de curativo estéril ou, até mesmo, com material “limpo” – na ausência de material adequado –, seguida de imobilização provisória com talas, órteses ou similares. Essas manobras simples ajudam a prevenir o aumento da lesão de partes moles, pela mobilidade dos fragmentos ósseos, assim como protegem-na do meio externo. - Na fratura exposta os ferimentos não podem, em hipótese alguma, serem explorados fora do ambiente cirúrgico devido ao alto risco de infecção. - Muito tempo é perdido desde o atendimento inicial ao politraumatizado até que ele esteja no centro cirúrgico, o doente é socorrido pelo SAMU, passa por avaliação da cirurgia geral, passa por exames de imagem (tomografias, fast, raios-x, etc). O ideal é que o paciente receba a antibióticoprofilaxia o mais breve possível para prevenir a infecção e também é fundamental que haja lavagem exaustiva da ferida. - Utilizar antibióticosda classe das cefalosporinas de 1ª e 2ª geração. Quando o acidente ocorrer em áreas rurais há o risco de contato com fezes e de superinfecção por Clostridium, associa-se então quinolonas como Ciprofloxacino e Norfloxacino. - Muitos portadores de fraturas expostas são, na realidade, politraumatizados ou polifraturados e, com frequência, encontram-se em quadro clínico instável. - Objetivos: -Prevenir infecção; -Cuidar das partes moles; -Cuidar da cicatrização óssea; -Restaurar a anatomia; -Recuperar funcionalmente o paciente; - O primeiro atendimento deve ser realizado conforme as recomendações do Advanced Trauma Life Support (ATLS), em que a primeira atenção é dada à ressuscitação, quando necessária, seguida da estabilização clínica do paciente. - Como que a gente vai fazer em via pública? NÃO MEXER NO FERIMENTO. Nunca se faz a exploração em via pública, então é curativo e PS. - Administração de antibiótico: isso é muito importante para evitar a bacteremia cirúrgica (por exemplo, quando for lavar a ferida pois isso “espalha” as bactérias). Pensa-se em que? Estafilococo, então usa-se as cefalosporinas de 1ª geração. Claro que se o local for mais contaminado ou o paciente demorar para chegar, deve-se pensar em outras bactérias então vai subindo o espectro, pensa em cefalosporina de 2ª geração, associa com quinolona... áreas rurais sempre pensar em Clostridium, então as quinolonas já podem começar a ser usadas. Para tratamento pós-operatório já vai depender da flora bacteriana. - Reavaliar o paciente, ou seja, abrir e olhar. - Exame de imagem: Radiografia de tórax, FAST e bacia. E claro, o que mais for necessário, por exemplo, se houve uma fratura exposta no pé, tem que fazer uma radiografia do pé. - Concomitante a essa fase inicial de atendimento, institui-se a cobertura da ferida com curativo estéril e a imobilização provisória, caso isso não tenha sido realizado pela equipe de resgate. - É preciso sempre ter em mente que a sala de atendimento de emergência é um local potencialmente contaminado e, por motivos óbvios, não constitui área adequada para exame ou manipulação da ferida, o que só deve ser feito em ambiente adequado no centro cirúrgico. - A ferida coberta deve ser assim mantida. Inspeções subsequentes devem ser evitadas, pois contribuem para o aumento da infecção local. - É necessário identificar todas as variáveis envolvidas, como agente causal, mecanismo de trauma, localização e tempo decorrido, assim como dados gerais do paciente. - O exame físico completo e detalhado deve ser realizado de forma rotineira, chamando a atenção para a pesquisa de pulsos periféricos/perfusão distal à fratura. Da mesma forma, deve-se executar a análise neurológica. - A avaliação radiográfica completa deve ser realizada após estabilização adequada e segura do paciente. Apenas indivíduos instáveis ou com risco de vida devem ter seus exames de diagnóstico por imagem postergados ou transferidos para centro cirúrgico. - Nos pacientes com fraturas expostas, são administradas, nessa fase inicial, antibioticoprofilaxia e tetanoprofilaxia. - Por muitos e muitos anos foram utilizados os fixadores externos para estabilizar as fraturas, fazia 7 dias de antibióticos e depois somente fixava-se definitivamente com placas e parafusos, porém agora há a recomendação de tratar definitivamente o paciente já em primeiro momento após a limpeza e debridamento exaustivo da lesão, de modo a transformar a ferida contaminada em ferida limpa. - Na fase hospitalar, a ferida deve ser avaliada uma única vez pelo ortopedista que efetua o tratamento, para confirmar o diagnóstico e a classificação inicial da fratura. - Completa documentação visual e descritiva da lesão deve ser obtida, sempre que possível, com fotografia da lesão inicial. - O curativo estéril deve ser refeito, e subsequentes avaliações são contraindicadas, assim como exploração e limpeza na sala de emergência. - Culturas iniciais da ferida não são realizadas de forma rotineira. - É clara a evidência científica quanto aos benefícios da cobertura da ferida com curativo estéril mesmo sem soluções antissépticas adjuvantes. Tais cuidados devem ser realizados no atendimento inicial ao paciente ainda no local do acidente. - Na sala de cirurgia a ferida será lavada exaustivamente e debridada. Alguns livros falam sobre 10L de soro, para algumas fraturas 10L de soro é um exagero e para outras é pouco, tudo depende do tipo de trauma e varia de paciente para paciente. - Em alguns casos durante o episódio traumático o osso fraturado raspa no asfalto e é necessário que se quebre a ponta desse osso que está com asfalto aderido a ele. Após o debridamento cirúrgico ocorre a estabilização da fratura. - Na ferida podem ser visualizados zonas de necrose, zona de estase (zona intermediária que pode evoluir para necrose ou para uma zona com hiperemia). A pele desvitalizada é fácil de ser visualizada e removida, porém deve-se tomar cuidado com a retirada excessiva de pele durante o debridamento, pois ela funciona como um curativo biológico. - Ossos, tendões e nervos expostos dão problema, se visualizar tendões expostos deve-se cobrir com pele/enxerto. Músculos inviáveis devem ser identificados e removidos, pois são sítios de foco infeccioso. - Como identificar se um músculo ainda está saudável/viável? 4 CÕs: - Contratilidade - Consistência - Capacidade de sangrar - Cor - O uso de antibióticos é considerado um importante método complementar no tratamento da contaminação existente nas fraturas expostas, já que essas feridas estão contaminadas com bactérias. - Em lesões agudas, existe contaminação bacteriana, mas ainda não infecção. Assim, o uso de antibióticos é profilático. Entretanto, a presença de microrganismos no foco da fratura reforça o caráter terapêutico dos antibióticos. - A eficácia da antibioticoterapia administrada de forma precoce é bem documentada na literatura. - Atualmente, as cefalosporinas continuam como escolha ideal no manuseio inicial das fraturas expostas. - Durante a década de 1970, os estudos mostravam taxa de infecção global nas fraturas expostas variando de 2,1 até 9,4%. Os primeiros relatos de Gustilo e Anderson, em 1976, apresentavam, após antibioticoterapia, as seguintes taxas: 0% nas fraturas do tipo I; 3,8% no tipo II e 9% no tipo III. - É universalmente aceito que a administração intravenosa de antibióticos deve ser iniciada o mais cedo possível após o acidente, mas a duração tem sido alvo de muita controvérsia, variando entre diversos autores, de um a sete dias. - Hoje, é utilizada a terapêutica intravenosa de 48 a 72 horas, exceto em indivíduos com infecção precoce, quando o esquema inicial deve ser mantido até que se tenha o resultado das culturas. Só, então, o regime adequado deve ser iniciado. - O uso de antibióticos profiláticos em fraturas expostas é justificado na literatura atual. - Na mais recente atualização sobre o tema, apresentada em 2005 pela Eastern Association for the Surgery of Trauma como diretrizes para o uso de antibióticos em cirurgia traumato-ortopédica, concluiu-se que o emprego de antibióticos é eficaz e apresenta evidências de Nível I. Nesse mesmo estudo, foi relatado também que, nas fraturas tipos I e II, a utilização desses medicamentos deve ser de apenas 24 horas e, nos tipos III, por 72 horas com evidências de Nível II. - É recomendada a utilização por 24 horas após cada retorno ao centro cirúrgico para debridamento. - Patzakis e colaboradores demonstraram que o emprego monoclonal de ciprofloxacino ou clindamicina no tipo III apresentou índices de infecção até 60% maior do que na utilização do esquema tradicional. - Vários antibióticos podem ser misturados ao cimento ósseo durante a polimerização do metilmetacrilato – ou outros agentes carreadores – e manter sua atividade antibacteriana intacta. - Partindo desse conhecimento,alguns autores preconizam a utilização de cimento acrílico e antibiótico (cadeia de pérolas) no tratamento das feridas das fraturas expostas. - O objetivo é preencher espaços deixados pela perda óssea ou de músculos e, ao mesmo tempo, manter altas concentrações de antibióticos em um sítio com lesão vascular, como profilaxia contra o desenvolvimento bacteriano. - A concentração de antibiótico local chega a ser seis vezes maior do que por via oral ou endovenosa, sendo que a absorção sistêmica é desprezível, minimizando efeitos colaterais. - O debridamento cirúrgico precoce é de extrema importância no tratamento das fraturas expostas. Contudo, apenas recentemente trabalhos específicos vêm comprovando sua eficácia em reduzir a incidência de infecção, quando realizado nas primeiras quatro a seis horas após o acidente. - Sudkamp, entre outros autores, afirma que o debridamento cirúrgico é o ato médico mais eficaz, apresentando influência positiva na evolução das fraturas expostas. - Somando-se ao fato de ajudar a eliminar a contaminação bacteriana da ferida, é essencial evitar a associação da contaminação hospitalar, muito mais grave do que agentes contaminantes não hospitalares. - É importante enfatizar que o debridamento cirúrgico e/ou a limpeza mecânica da ferida devem ser feitos em ambiente cirúrgico e não na sala de emergência. - A realização do debridamento cirúrgico tem como objetivos: o Remover corpo estranho. o Remover tecidos desvitalizados. o Reduzir a contaminação bacteriana. o Criar ferida vascularizada. - Para alcançar tais metas, o cirurgião deve realizar uma análise criteriosa da viabilidade dos tecidos em questão, para evitar ressecção excessiva de tecidos sadios e preservação de tecidos necrosados. - Deve-se avaliar com cuidado todas as estruturas, a pele, a área subcutânea e, em especial, a musculatura lesada, já que a permanência de tecidos desvitalizados consiste em um excelente meio de cultura, sobretudo para germes anaeróbios. - Os critérios dos 4C – cor, consistência, circulação e contratilidade – devem ser pesquisados em toda a área traumatizada, pois definem, na prática e com precisão, as características de viabilidade tecidual. - O avanço das técnicas de reconstrução e microcirurgia tanto para partes moles como para tecidos ósseos tem permitido debridamento inicial mais agressivo. - Turen, Dirschl e Webb e outros autores consideram o primeiro debridamento da fratura exposta como cirurgia oncológica, defendendo a ressecção agressiva de todo o material desvitalizado, morto ou contaminado. Dependendo do maior ou menor grau de energia absorvida pelo osso, há associação ou não de cominuição óssea. Fragmentos ósseos desprovidos de suas inserções musculares são considerados desvitalizados e devem ser removidos, mesmo que isso resulte em perda óssea – “gaps ósseos”. Em contrapartida, fragmentos viáveis, com suas inserções musculares preservadas, devem ser mantidos. - Na maioria dos casos, a ferida resultante do trauma inicial permite acesso ao debridamento de maneira eficaz, porém, em certas situações, há necessidade de realizar extensão da ferida proximal e distalmente, para obter melhor exposição do foco de fratura. Essas extensões devem ser bem planejadas e executadas de maneira tal que se otimize a incisão e não promova desperiostização ainda maior dos fragmentos ou que haja maior comprometimento vascular. - Apesar dos avanços tecnológicos ocorridos nas últimas décadas e de o refinamento das técnicas cirúrgicas atuais ser de grande importância, nenhum método é tão difícil de aprender e tão fácil de esquecer como a arte do debridamento cirúrgico inicial no tratamento das fraturas expostas. Infelizmente, tal afirmação ainda é verdadeira no século XXI. - É instituída a limpeza exaustiva e rigorosa da lesão como primeiro ato cirúrgico, sem, no entanto, explorar a ferida nesse momento. - Deve-se evitar que substâncias químicas irritantes entrem em contato com a ferida, produzindo maior prejuízo tecidual. Acredita-se que a limpeza com solução salina abundante contribui de forma positiva para diminuir a contaminação bacteriana. - De forma rotineira, tricotomia é realizada durante a primeira irrigação, e, depois do preparo tradicional da pele, os campos estéreis são colocados. - Nos casos de lesões nos membros superiores ou inferiores, opta-se por deixar instalado o manguito pneumático, mas seu uso é restrito apenas a situações cujo sangramento é abundante e/ou este interfere no ato cirúrgico, dificultando-o. - Gustilo e colaboradores, em seus trabalhos, enfatizaram a importância do debridamento e sua associação com a lavagem exaustiva da ferida com solução salina como parte fundamental do tratamento das fraturas expostas. - De acordo com os autores, nos casos de limpeza com mais de 10 litros de solução salina, houve significativa diminuição na incidência de infecção. A ação básica da irrigação é a remoção de detritos, ou seja, uma ação mecânica. - Hoje, há unanimidade quanto à necessidade da irrigação das fraturas expostas, mas algumas questões ainda são controversas, como a maneira de executar a irrigação, qual solução utilizar, a associação ou não de antibióticos ou soluções antissépticas e o volume empregado. - Os sistemas de lavagens sob pressão (Jet Lavage®, Pulse Lavage®) apresentam a vantagem de permitir maior volume líquido em menor tempo e de forma constante. Entretanto, alguns estudos têm questionado sua validade, devido aos riscos de aumentar a lesão tecidual pela força do jato de irrigação e à possibilidade de introduzir profundamente material estranho na ferida, além de relatos quanto à diminuição da velocidade de consolidação das fraturas. - Alguns autores têm preconizado o uso de antibiótico diluído nos últimos 2 litros, mas não há confirmação científica de melhoria dos resultados. - Na experiência dos autores deste capítulo, é recomendada a utilização de soluções como Ringer lactato ou soro fisiológico, por fazerem parte da farmácia de qualquer centro cirúrgico, pelo baixo custo, por dispensar qualquer preparo e/ou armazenamento extra e, em especial, por apresentar resultados eficazes na literatura. - De acordo com as evidências atuais, a irrigação inicial deve ser feita com solução salina e sabão tipo Castile, alcalino, diluído. - Nos debridamentos seguintes, em feridas limpas, utiliza-se apenas a solução salina, enquanto, nas feridas infectadas, a associação com sabão é mais indicada. - Há consenso quanto à necessidade de promover limpeza exaustiva das feridas nas fraturas expostas como parte inicial do tratamento dessas lesões. Os autores são unânimes em afirmar que o procedimento diminui a incidência de infecção. - Lembrar das 3 zonas: • Zona central: tem mais lesão tecidual • Zona de estase: evolui melhor ou pior de acordo com o tipo de trauma • Zona de hiperemia: que é a zona de inflamação - Após irrigação, debridamento cirúrgico da ferida e estabilização da fratura, resta decidir como fechar a ferida ou como cobrir a exposição do osso, do tendão ou do nervo criada pelo trauma ou pela cirurgia. - A princípio, essas feridas, após o debridamento cirúrgico, devem ser deixadas abertas para posterior fechamento. Tal decisão, porém, pode ser alterada pelo julgamento do cirurgião no decorrer do ato cirúrgico, analisando-se diversos aspectos relacionados ao binômio osso/partes moles. - Nas feridas produzidas por baixa energia, minimamente contaminadas, sobretudo em membro superior, é possível optar pelo fechamento primário, mas, para isso, o cirurgião deve analisar de forma cuidadosa os seguintes aspectos: o Ferida limpa, não ocorrida em ambientes muito contaminados. o Todos os tecidos necróticos e corpos estranhos removidos. o Tecidos viáveis. o Sutura sem tensão. o Ausência de espaço morto. - As fraturas do tipo I costumam atender a esses requisitos. As do tipo II devem seranalisadas caso a caso, e as do tipo III não devem ser fechadas primariamente. - Brumback afirma que, sempre que houver dúvidas, “não há dúvida: deixe a ferida aberta (sem suturar)”. - Na maioria dos casos, a incisão realizada pelo cirurgião como extensão pode ser suturada primeiro, enquanto o restante da ferida deve ficar aberto para ser reavaliado após 24 a 48 horas, quando é realizado novo debridamento cirúrgico e/ou irrigação, e a ferida é fechada caso haja condições ideais para isso. - A grande complicação do fechamento primário dessas feridas é a infecção, que pode evoluir para osteomielite, a qual, como já se sabe, gera implicações graves para a evolução do tratamento, comprometendo o resultado final. A) Fechamento primário – imediato: • Sutura da ferida original na emergência. B) Fechamento primário – com enxertia: • Enxerto de pele. • Enxerto vascularizado local. C) Fechamento secundário – ferida permanece aberta: • Curativo adequado com gaze, materiais biológicos ou sintéticos ou vácuo. • Complementação realizada em procedimento posterior após debridamentos sucessivos. • C1: fechamento retardado por sutura direta. • C2: fechamento por enxerto de pele ou enxerto vascularizado local. • C3: fechamento por segunda intenção. • C4: fechamento por enxerto vascularizado a distância. - É importante ressaltar que inúmeros procedimentos secundários podem ser realizados mais tarde, desde que a ferida evolua de forma satisfatória após a cirurgia inicial. Por isso, é importante lembrar que as consequências podem ser desastrosas se o primeiro procedimento não for executado de maneira correta. - Não há dúvida de que as fraturas evoluem de forma mais rápida para a consolidação quando se encontram em ambiente/invólucro vascularizado e livre de infecção, o que, em última análise, é o objetivo principal do tratamento das fraturas expostas. - O fechamento primário das feridas nas fraturas expostas tem obtido cada vez mais adeptos, mas as indicações para tal procedimento ainda são limitadas. - A maioria dos ferimentos dos tipos Gustilo II e III é tratada por meio de procedimentos adjuvantes em fechamentos tardios. - Gopal e colaboradores preconizam a cobertura imediata das lesões, seja com retalhos locais ou a distância, demonstrando excelentes resultados, com baixo índice de infecção e perda do enxerto. Hoje, esses resultados são reproduzíveis, mas a maioria recomenda tal procedimento apenas em grandes centros, onde equipes de microcirurgia com experiência estão disponíveis 24 horas por dia. - Parret e Stanard demonstraram os mesmos resultados com a cobertura entre três e cinco dias após a primeira cirurgia, sendo esta a atual recomendação de maior evidência na literatura atual. - Vários autores têm relatado diminuição no número de retalhos utilizados no tratamento das feridas das fraturas expostas, e as evidências apontam para o uso da terapia a vácuo (fechamento assistido a vácuo). Esse método tem sido bastante eficaz na cicatrização de feridas extensas com tratamento definitivo ou entre o debridamento e o fechamento secundário. Com base em estudos recentes, acredita-se que o estímulo à angionese obtida pela pressão negativa associado à dificuldade de crescimento bacteriano pela pressão são os fatores responsáveis pelo excelente poder de cicatrização com seu uso. - A utilização de enxerto ósseo autólogo esponjoso como adjuvante no tratamento de fraturas fechadas multifragmentárias é amplamente defendido em todo o mundo, com excelentes resultados comprovados na literatura; porém, sua utilização em fraturas expostas ainda é controversa em alguns aspectos. - Ainda que satisfatório em alguns casos, o uso imediato do enxerto está associado a alto índice de infecção, absorção e falha na consolidação das fraturas. - Vários estudos comparativos estão em andamento. Portanto, hoje, ainda não há critério estabelecido/confirmado cientificamente quanto ao prazo ideal para a enxertia óssea. - A princípio, o enxerto ósseo autólogo esponjoso deve ser aplicado em pacientes com vascularização local adequada capaz de incorporar o enxerto, sem infecção e com estabilidade óssea mantida. Nesses casos, o cirurgião precisa estar familiarizado com os acessos cirúrgicos para cada área afetada, para não agravar a vascularização local e também não colocar o enxerto em áreas com vascularização comprometida. - Existe consenso de que o enxerto ósseo autólogo continua sendo o padrão- ouro e sobre o melhor momento para a aplicação de enxerto ósseo, ou seja, na restauração do envelope de partes moles e na presença de vascularização local. - Após a irrigação, a limpeza e o debridamento da ferida, está indicada a estabilização das fraturas. - A fixação óssea, restaurando o comprimento, o alinhamento e a rotação, evita a perpetuação da lesão das partes moles produzida pelos fragmentos ósseos e diminui a formação de espaço morto e hematoma, permitindo cuidado mais adequado das feridas e melhor mobilização e conforto do paciente. - Tais fatos encontram amplo suporte na literatura, com evidências experimentais e clínicas de que a estabilização das fraturas expostas reduz a proliferação bacteriana e, como consequência, os índices de infecção. - A escolha do método ideal de fixação, seja ele interno ou externo, é inteiramente dependente da chamada “personalidade da fratura”, um conjunto de características da fratura e do paciente que definem e diferenciam as situações clínicas umas das outras. - Entre os fatores que mais influenciam essa tomada de decisão, estão: o O padrão, o tipo da fratura e o grau de cominuição. o A localização anatômica. o O grau de lesões de partes moles e o tratamento inicial. o O grau de contaminação. o O estado geral do paciente. o O tempo de evolução desde o acidente. - A análise desses fatores permite afirmar que não existe um “implante” ou uma “técnica” universal capaz de adequar-se a todos os padrões de fraturas apresentados. Isso mostra que a decisão sobre qual método de estabilização deve ser utilizado baseia-se na análise minuciosa de cada caso associado ao conhecimento e à experiência do médico assistente, nas condições locais de trabalho e no suporte fornecido pelos trabalhos publicados na literatura. - O debridamento e limpeza seguido de fixação definitiva funciona bem para Gustilo I, Gustilo ll e Gustilo lllA. Não funciona bem para Gustilo lllB pois é necessário do enxerto ou retalho para o reparo deste tipo de lesão. Pode ser feito se há o serviço de cirurgia plástica disponível, mas isso é muito difícil de ocorrer no Brasil. - Fraturas de I a IIIa: pode fazer placa ou haste. Estabilização simples e definitiva. - Fraturas IIIb e IIIC: Simples e provisória, ou seja, fixador externo. Posteriormente faz-se uma placa ou haste. - Os fixadores externos, há muito, vêm sendo considerados o tratamento de escolha na estabilização das fraturas expostas graves da tíbia, com diversas publicações comprovando clinicamente sua eficácia. - É um método seguro e eficaz para a estabilização dos fragmentos, com as vantagens de serem versáteis, fáceis de aplicar e pouco traumáticos para a área já lesada, além de permitir acesso à ferida. - Nos casos considerados limítrofes, seu uso para estabilização temporária ou definitiva costuma ser a maneira mais segura e efetiva de manter sob controle a contaminação e as lesões de partes moles até sua cicatrização. - Várias “montagens” têm sido descritas, porém, hoje, os fixadores unilaterais com pinos de Schanz provaram clinicamente sua eficácia (e superioridade sobre os demais) em estabilizar a maioria das fraturas da tíbia até a consolidação. - A eliminação de montagens multiplanares facilitou muito as cirurgias posteriores de reconstrução, seja para cobertura cutânea ou para enxertia óssea, sem a necessidade de refazer a montagem. - O alto índice de retardo de consolidaçãoe pseudartrose inicialmente relacionados ao uso dos fixadores externos tem sido tema de estudo em diversos grandes centros de trauma. - Quando se decide pelo uso da fixação externa, é preciso ter em mente dois aspectos: a aceitação pelo paciente e a infecção no trajeto dos pinos, os quais estão bastante relacionados. - O cuidado adequado com a limpeza dos pinos evita complicações, por exemplo, pseudartrose. - Para evitar infecções graves, o cirurgião deve acompanhar com rigor a evolução do paciente e observar os orifícios de entrada dos pinos, além de fornecer constante orientação para o paciente. - A simples limpeza diária com sabão neutro e cobertura local é eficaz. O uso contínuo de substâncias irritativas deve ser evitado. - A análise criteriosa da literatura atual é observada também na prática diária, que tende à limitação do uso dos fixadores externos em casos selecionados, o que não significa abandoná-lo. Em muitos centros de trauma no Brasil, as dificuldades técnicas para a utilização de outros métodos, como a haste intramedular, fazem com que o fixador externo seja o tratamento de escolha para as fraturas complexas, de maneira bastante satisfatória se for bem aplicado. - Em vários trabalhos prospectivos, a comparação do fixador externo com a haste intramedular demonstrou melhores resultados com o último método. Como em diversos centros de trauma, o uso de fixador externo está reservado para casos graves de cominuição, perda óssea e/ou contaminação, em geral fraturas do tipo III de Gustilo, quando a haste intramedular é tecnicamente inviável – como nas lesões proximais ou distais – e em pacientes comprometidos de forma grave e com instabilidade hemodinâmica, os quais não se deseja exposição aos riscos de procedimentos com maior tempo cirúrgico. - Em muitos desses casos, o fixador age como estabilização temporária até que haja possibilidade de substituição por outro método mais estável, seguindo os conceitos do controle do prejuízo ortopédico. - Está bem estabelecido, após anos de pesquisa e prática clínica, que o tratamento ideal das fraturas intra-articulares envolve a redução anatômica da superfície articular, restaurando sua congruência, e também a instituição da mobilidade o mais precoce possível, conforme demonstram os trabalhos clássicos de Salter. - Tais conceitos adquirem importância ainda maior quando se trata de articulações que suportam o peso corporal, ou seja, localizadas nos membros inferiores. - O procedimento para alcançar esses objetivos é a osteossíntese estável das fraturas, princípios aplicáveis tanto às fraturas fechadas quanto às expostas. - As fraturas intra-articulares para as quais o tratamento conservador está indicado são aquelas que se apresentam anatomicamente reduzidas e estáveis, ou, ainda, em casos especiais de pacientes com paralisias ou problemas neurológicos graves. - O consenso existente entre todos aqueles envolvidos em cirurgia do trauma é de que a fixação interna imediata depende da experiência do cirurgião e de seus critérios ao analisar cada fratura. - A maioria das fraturas expostas intra-articulares é do tipo I. Nesses casos, a baixa energia recebida pelos tecidos contribui para um índice modesto de infecções, comparável com traumas fechados, permitindo a cirurgia imediata depois de cuidado adequado das lesões de partes moles. - Devido ao aumento na incidência de infecção nos graus II e III, uma análise minuciosa deve preceder a escolha da‐ técnica cirúrgica a ser empregada. Nos casos considerados limítrofes, a congruência articular pode ser restaurada e fixada apenas com o uso de parafusos interfragmentários, sem grandes descolamentos, evitando, assim, maior desvitalização óssea e de partes moles, deixando a fixação para um segundo tempo, quando ocorrer cicatrização das partes moles envolvidas. - Hoje, dá-se grande ênfase à fixação externa associada no mesmo segmento ou em uma ponte sobre a articulação, devido aos novos fixadores e ao aprimoramento da técnica e do instrumental disponível. Em ambos os casos, a solução pode ser temporária ou definitiva, mantendo-se o fixador até a consolidação da fratura se este permitir a mobilização da articulação. - Conforme já mencionado, a otimização dos resultados referentes às fraturas intra-articulares depende da mobilização precoce das articulações e da reabilitação muscular. - A pior opção, com resultados desastrosos, é quando se associam os riscos da fixação interna excessiva com as complicações de fixador externo não funcional. - Nos dias atuais, o desenvolvimento de novos fixadores auxilia no tratamento dessas lesões, como o aparelho de Ilizarov, ou seja, fixadores circulares com fios de menor diâmetro. Em certos casos, a montagem com anel e fios possibilita a estabilização de fragmentos metafisários sem dissecção excessiva e com melhores resultados em comparação com técnicas tradicionais. - O advento dos fixadores híbridos veio oferecer ainda mais vantagens, tornando os fixadores circulares mais fáceis de utilizar e evitando as frequentes complicações dos fios maleáveis na região diafisária da tíbia. - Ao contrário das fraturas expostas do tornozelo, que representam poucos problemas, as fraturas do pilão tibial são de difícil manuseio. A redução anatômica, sem desvitalização dos fragmentos com parafusos ou fios, associada à fixação externa, tem sido o tratamento de escolha dos diversos autores. Alguns utilizam a complementação com placa de suporte após a cicatrização das partes moles. A extensa dissecção para a colocação de placa primariamente é contraindicada por todos os autores, com aumento de infecções e consequências desastrosas. - De modo diferente do que ocorre na tíbia, a qualidade do invólucro de partes moles presente ao redor do fêmur constitui uma significativa defesa nos casos de fratura exposta. - A extensa vascularização em quase toda a extensão é de grande valia no tratamento. - Existe uma tendência mundial de usar osteossíntese nas fraturas expostas do fêmur com hastes intramedulares bloqueadas, com base na extensa experiência em fraturas fechadas. - As fraturas do tipo I podem ser fixadas imediatamente com essa técnica, e os resultados mantêm-se semelhantes àqueles das fraturas fechadas. - Apesar de a fresagem poder causar necrose do endósteo e, assim, aumentar o risco de infecção, isso não tem sido verificado na prática diária. A fresagem permite a inserção de hastes com maior diâmetro e mais fortes, diminuindo, assim, a probabilidade de fratura do material, sem aumentar a incidência de infecção. O consenso atual é que a fresagem seja mínima, o suficiente para permitir fixação adequada da haste no nível do istmo. - Nas fraturas dos tipos II e III, o risco de infecção aumenta um pouco com o uso da haste intramedular, que só é indicado para politraumatizados, quando os riscos são minimizados pelos efeitos da estabilização precoce. Em caso de associação entre fraturas do fêmur e da tíbia, a indicação da haste intramedular é reforçada. - Conforme já salientado, o envelope muscular ao redor do fêmur torna a fixação interna menos problemática, mas, ao mesmo tempo, faz o uso do fixador externo ser mais difícil e, em particular, trabalhoso. - Apesar disso, em determinadas fraturas, sobretudo naquelas com alto grau de contaminação, cominuição ou quando a cobertura muscular é problema, o uso dos fixadores externos é a melhor opção. - Nos dias atuais, os novos desenhos e o aperfeiçoamento dos fixadores têm permitido a utilização da montagem uniplanar com pinos tipo Schanz de maneira estável e eficaz. Seu uso se torna ainda mais eficiente em politraumatizados com múltiplas intervenções de outras especialidades, por poder ser executada em mesa cirúrgica comum, não necessitando de tração e de outros requisitos, como nas osteossínteses intramedulares. - Os fixadores do tipo AO, Ultra-X e Orthofix são os mais utilizados,apresentando excelentes resultados por conta da estabilidade alcançada e da grande versatilidade proporcionada. - Conforme discutido em relação à utilização nas fraturas expostas da tíbia, os fixadores externos nas fraturas expostas do fêmur estão ainda mais restritos. - Têm indicação como método temporário, seja pelas condições clínicas do paciente ou pelos locais da fratura, como em lesão vascular, na qual o reparo vascular deve ser o objetivo primário, e a fixação da fratura, rápida. Nessa situação, a troca por haste intramedular pode ser feita com segurança em um segundo tempo. - É fato constatado nos diversos centros de trauma no mundo que, além dos acidentes, a gravidade das lesões também está aumentando a cada ano. - Antigamente raras, as fraturas expostas na pelve estão se tornando cada vez mais frequentes nos grandes centros. - A causa mais comum de morte tardia em pacientes com fraturas expostas ou disjunções da pelve é a septicemia. - Qualquer fratura pélvica com lesão do intestino grosso (em qualquer segmento) ou feridas externas comunicantes, em especial no períneo, estão propensas à contaminação por material fecal. Nesses casos, a colostomia é indicada para diminuir o risco de complicações infecciosas. - A infecção instalada com subsequente abscesso retroperitoneal é catastrófica, e a incidência de óbito é extremamente alta após esse quadro. O debridamento cuidadoso daspartes moles, associado à correta estabilização óssea e à colostomia, é essencial para um bom prognóstico. - Assim como o fêmur, os ossos do antebraço e do braço têm excelente invólucro e vascularização. Devido ao fato de que as fraturas dos membros superiores em geral envolvem menos energia, o índice de complicações é bem menor. - Em situações de contaminação significativa ou perda de substância óssea, o uso do fixador está indicado como estabilização provisória ou, até mesmo, definitiva. - Os mesmos princípios devem ser aplicados às fraturas do úmero, embora alguns autores optem pelo tratamento funcional em casos de fraturas estáveis, cujos índices de consolidação são semelhantes. - Quando as fraturas são instáveis e/ou associadas a lesão vasculonervosa, a fixação imediata tem indicação precisa. - Muitos autores se mostram favoráveis à fixação com placa, apresentando um pequeno índice de complicações. Hoje, novas hastes intramedulares estão em uso, mas ainda não há suporte que confirme os bons resultados inicialmente obtidos nas fraturas fechadas ou nas da tíbia e do fêmur. - Na área ortopédica, o número de fraturas produzidas por projétil de arma de fogo (PAF) tem aumentado a cada ano e de maneira assustadora. A tecnologia na produção das armas expande o poder de fogo e destruição, com consequências alarmantes, vistas nas gravidades dessas lesões. - Projéteis com baixa velocidade ocasionam menores lesões musculares e ósseas, mas aqueles com alta velocidade ou alta concentração de energia provocam lesões extensas tanto em partes moles quanto na estrutura óssea, que, muitas vezes, encontra-se pulverizada. - Os trabalhos com publicação recente reafirmam os conceitos iniciais que consideram as fraturas por PAF como qualquer outra fratura exposta. Portanto, devem ser adotados os protocolos de tratamento de acordo com suas características. - Essa categoria tem sido objeto de inúmeras publicações e sua importância é tal que, em suas clássicas publicações, Gustilo e colaboradores afirmam: “[...] as fraturas provocadas por PAF com alta energia são automaticamente classificadas como Grau III”. - Sempre entra para a classificação Gustilo lll, se é A, B ou C vai depender das demais características da lesão. Se houver só o ferimento de entrada/saída do projétil classifica-se como Gustilo lllA, com presença de lacerações classifica-se como lllB e com lesão vascular classifica-se como lllC. - Deve-se remover o projétil? Quando localizado em áreas de articulação é recomendável que se faça a extração da bala, pois o líquido sinovial proporciona metabolização do chumbo presente no projétil causando doença chamada Saturnismo/Plumbismo (intoxicação por chumbo). - Os recentes avanços obtidos com técnicas microcirúrgicas, tanto no campo vascular como no sistema nervoso periférico, associados às modernas técnicas de “reconstrução” óssea e aos métodos de fixação, como o de Ilizarov, permitiram “salvar” muitos membros que, há pouco tempo, estariam fadados à amputação. - A experiência conseguida em vários centros especializados na salvação desses membros “revascularizados” possibilita, hoje, uma avaliação cuidadosa e minuciosa dos resultados clínicos apresentados. Surpreendentes em alguns aspectos, vários trabalhos têm mostrado que, em alguns casos, a tentativa de salvação proporcionou aos pacientes resultados menos satisfatórios do que aqueles obtidos ou esperados com a amputação imediata. - Como distinguir as lesões que se classificam como recuperáveis ou viáveis daquelas que, pelo grau de gravidade e pela combinação de fatores, inevitavelmente evoluirão para amputação? O objetivo é evitar que a decisão de manter o membro inviável se arraste de modo indefinido, promovendo aumento significativo da morbidade e da mortalidade, altos custos hospitalares e trauma psicológico ao paciente. Porém, como decidir essa questão com margem de segurança aceitável? - Com o objetivo de responder a essas dúvidas, Helfet e colaboradores e Sanders e colaboradores criaram, em 1987, um sistema de classificação por pontos das lesões, denominado Mangled Extremity Severity Score (MESS), para ajudar na tomada de decisão. - Fraturas expostas da tíbia com lesão vascular - Lesão do nervo tibial posterior. - Lesão, esmagamento com mais de seis horas de isquemia “quente”. - Lesão extensa muscular sem condições de reconstrução. - Lesão associada a risco à vida que inviabiliza cirurgias externas. - Politrauma. - Idade. - Choque. - Sepse incontrolável. - Graves contraturas. - Áreas externas insensíveis. - Dor crônica. - Quando a prótese é melhor do que o membro. - Índice muito utilizado e com alta acurácia em predizer prognóstico em lesões mutilantes dos membros. Pondera lesão de partes moles, presença ou não de choque/hipotensão, componente isquêmico e faixa etária. - Pontuações acima de 7 pontos falam a favor de amputação do membro e abaixo disso preconiza-se pela preservação do membro lesado.
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