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É preciso não perder de vista as exigências colocadas a um trabalho acadêmico, quando se trata de utilizar métodos e técnicas que se distanciam do padrão frio das ciências positivas e seus experimentos de laboratório apoiados em linguagem matemática. Procurando destacar suas características essenciais, diria que um trabalho acadêmico deve ser claro e bem fundamentado. Fundamentação, neste caso, não pode vir apenas da coerência dos argumentos e da clareza das ideias, mas da contextualização desses argumentos e ideias em um debate atual entre pesquisadores de determinada área. Neste sentido nem sempre a clareza anda junto da boa fundamentação. Um escrito pode ser claro, sem ser bem fundamentado. Assim, não basta fazer afirmações claras, mas é necessário mostrar que elas se encaixam em um debate corrente dentro da área correspondente à pesquisa em desenvolvimento. Essa exigência é especialmente importante no contexto da pesquisa em ciências sociais, exatamente por elas frequentemente desdobrarem-se em condições metodológicos menos controladas que as pesquisas experimentais típicas das ciências ditas exatas ou naturais. Principalmente, nas ciências sociais abrimo-nos para o paradigma qualitativo (aulas 1 e 2) e com isso perdemos em precisão. Contudo, se não fizermos assim, pagamos um preço alto demais. Em nome da precisão científica e de uma busca de objetividade que, contudo, jamais será plena, ficamos frequentemente limitados a enunciados e formulações que parecem deixar de fora muito do que poderia e deveria estar sendo pesquisado. É isso que permite que hoje possamos derivar conclusões científicas a partir, por exemplo, de um estudo biográfico. Nesse tipo de estudo, procura-se derivar conclusões a partir de um estudo vertical que toma como objeto a vida de uma única pessoa. Parte-se do princípio de que o microuniverso constituído pela vida de uma única pessoa é atravessado pelas forças que fazem parte da vida social. Conforme foi visto em aulas anteriores, não há fronteira clara e muito menos rígida entre individual e social. Nossos eus individuais constituem-se a partir dos elementos sociais que nos cercam desde o início, nas diferentes esferas: família, escola, bairro, cidade, país, cultura ocidental. De cada uma dessas esferas partem forças simbólicas (valores, instituições), que influenciam a constituição de nossos eus, sempre únicos pela síntese que representam de todos estes elementos. Porém mesmo que se possa dizer coisas interessantes como estas sobre o método biográfico, o que legitima que nos arrisquemos em terreno tão pouco seguro quanto este, é nossa firme intenção de expor nossa questão, metodologia e conclusões a um debate entre nossos pares – pesquisadores de nossa área e áreas afins. Portanto visamos expor nossas ideias com clareza, mostrar que elas estão legitimadas pelo debate atual de nossa área e submete-las à discussão crítica com outros pesquisadores.
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