Buscar

ferramentas para a coleta de dados Aula 06

Prévia do material em texto

É preciso não perder de vista as exigências colocadas a um trabalho 
acadêmico, quando se trata de utilizar métodos e técnicas que se distanciam 
do padrão frio das ciências positivas e seus experimentos de laboratório 
apoiados em linguagem matemática. Procurando destacar suas características 
essenciais, diria que um trabalho acadêmico deve ser claro e bem 
fundamentado. Fundamentação, neste caso, não pode vir apenas da coerência 
dos argumentos e da clareza das ideias, mas da contextualização desses 
argumentos e ideias em um debate atual entre pesquisadores de determinada 
área. Neste sentido nem sempre a clareza anda junto da boa fundamentação. 
Um escrito pode ser claro, sem ser bem fundamentado. 
Assim, não basta fazer afirmações claras, mas é necessário mostrar que elas 
se encaixam em um debate corrente dentro da área correspondente à 
pesquisa em desenvolvimento. Essa exigência é especialmente importante no 
contexto da pesquisa em ciências sociais, exatamente por elas 
frequentemente desdobrarem-se em condições metodológicos menos 
controladas que as pesquisas experimentais típicas das ciências ditas exatas 
ou naturais. 
Principalmente, nas ciências sociais abrimo-nos para o paradigma qualitativo 
(aulas 1 e 2) e com isso perdemos em precisão. Contudo, se não fizermos 
assim, pagamos um preço alto demais. Em nome da precisão científica e de 
uma busca de objetividade que, contudo, jamais será plena, ficamos 
frequentemente limitados a enunciados e formulações que parecem deixar de 
fora muito do que poderia e deveria estar sendo pesquisado. 
É isso que permite que hoje possamos derivar conclusões científicas a partir, 
por exemplo, de um estudo biográfico. Nesse tipo de estudo, procura-se 
derivar conclusões a partir de um estudo vertical que toma como objeto a 
vida de uma única pessoa. Parte-se do princípio de que o microuniverso 
constituído pela vida de uma única pessoa é atravessado pelas forças que 
fazem parte da vida social. Conforme foi visto em aulas anteriores, não há 
fronteira clara e muito menos rígida entre individual e social. Nossos eus 
individuais constituem-se a partir dos elementos sociais que nos cercam desde 
o início, nas diferentes esferas: família, escola, bairro, cidade, país, cultura 
ocidental. De cada uma dessas esferas partem forças simbólicas (valores, 
instituições), que influenciam a constituição de nossos eus, sempre únicos 
pela síntese que representam de todos estes elementos. 
Porém mesmo que se possa dizer coisas interessantes como estas sobre o 
método biográfico, o que legitima que nos arrisquemos em terreno tão pouco 
seguro quanto este, é nossa firme intenção de expor nossa questão, 
metodologia e conclusões a um debate entre nossos pares – pesquisadores de 
nossa área e áreas afins. Portanto visamos expor nossas ideias com clareza, 
mostrar que elas estão legitimadas pelo debate atual de nossa área e 
submete-las à discussão crítica com outros pesquisadores.

Continue navegando