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IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA _____________________________________________________________________________________________ COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS Nota Técnica Setorial do Complexo Químico O conteúdo deste documento é de exclusiva responsabilidade da equipe técnica do Consórcio. Não representa a opinião do Governo Federal. Campinas, 1993 Documento elaborado pelo consultor José Maria F. J. da Silveira (IE/UNICAMP). A Comissão de Coordenação - formada por Luciano G. Coutinho (IE/UNICAMP), João Carlos Ferraz (IEI/UFRJ), Abílio dos Santos (FDC) e Pedro da Motta Veiga (FUNCEX) - considera que o conteúdo deste documento está coerente com o Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira (ECIB), incorpora contribuições obtidas nos workshops e servirá como subsídio para as Notas Técnicas Finais de síntese do Estudo. ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX CONSÓRCIO Comissão de Coordenação INSTITUTO DE ECONOMIA/UNICAMP INSTITUTO DE ECONOMIA INDUSTRIAL/UFRJ FUNDAÇÃO DOM CABRAL FUNDAÇÃO CENTRO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO EXTERIOR Instituições Associadas SCIENCE POLICY RESEARCH UNIT - SPRU/SUSSEX UNIVERSITY INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL - IEDI NÚCLEO DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA - NACIT/UFBA DEPARTAMENTO DE POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA - IG/UNICAMP INSTITUTO EQUATORIAL DE CULTURA CONTEMPORÂNEA Instituições Subcontratadas INSTITUTO BRASILEIRO DE OPINIÃO PÚBLICA E ESTATÍSTICA - IBOPE ERNST & YOUNG, SOTEC COOPERS & LYBRANDS BIEDERMANN, BORDASCH Instituição Gestora FUNDAÇÃO ECONOMIA DE CAMPINAS - FECAMP ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX EQUIPE DE COORDENAÇÃO TÉCNICA Coordenação Geral: Luciano G. Coutinho (UNICAMP-IE) João Carlos Ferraz (UFRJ-IEI) Coordenação Internacional: José Eduardo Cassiolato (SPRU) Coordenação Executiva: Ana Lucia Gonçalves da Silva (UNICAMP-IE) Maria Carolina Capistrano (UFRJ-IEI) Coord. Análise dos Fatores Sistêmicos: Mario Luiz Possas (UNICAMP-IE) Apoio Coord. Anál. Fatores Sistêmicos: Mariano F. Laplane (UNICAMP-IE) João E. M. P. Furtado (UNESP; UNICAMP-IE) Coordenação Análise da Indústria: Lia Haguenauer (UFRJ-IEI) David Kupfer (UFRJ-IEI) Apoio Coord. Análise da Indústria: Anibal Wanderley (UFRJ-IEI) Coordenação de Eventos: Gianna Sagázio (FDC) Contratado por: Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT COMISSÃO DE SUPERVISÃO O Estudo foi supervisionado por uma Comissão formada por: João Camilo Penna - Presidente Júlio Fusaro Mourão (BNDES) Lourival Carmo Monaco (FINEP) - Vice-Presidente Lauro Fiúza Júnior (CIC) Afonso Carlos Corrêa Fleury (USP) Mauro Marcondes Rodrigues (BNDES) Aílton Barcelos Fernandes (MICT) Nelson Back (UFSC) Aldo Sani (RIOCELL) Oskar Klingl (MCT) Antonio dos Santos Maciel Neto (MICT) Paulo Bastos Tigre (UFRJ) Eduardo Gondin de Vasconcellos (USP) Paulo Diedrichsen Villares (VILLARES) Frederico Reis de Araújo (MCT) Paulo de Tarso Paixão (DIEESE) Guilherme Emrich (BIOBRAS) Renato Kasinsky (COFAP) José Paulo Silveira (MCT) Wilson Suzigan (UNICAMP) ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX SUMÁRIO RESUMO EXECUTIVO ............................................................................................................ 1 APRESENTAÇÃO ................................................................................................................... 21 1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS DA INDÚSTRIA DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS....................................................................................................................... 22 1.1. Evolução Recente da Indústria Mundial ......................................................................... 23 1.2. Características Estruturais da Indústria Mundial ............................................................. 26 1.3. Estratégias Empresariais ................................................................................................ 35 1.4. Experiências Internacionais em Países Selecionados - Japão, Itália e Espanha................. 41 1.5. Conclusões .................................................................................................................... 46 2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS....................................................................................................................... 48 2.1. Evolução da Demanda por Defensivos ........................................................................... 48 2.2. Desempenho da Indústria............................................................................................... 52 2.3. Estratégias Empresariais ................................................................................................ 60 2.4. Influência dos Fatores Sistêmicos sobre o Desempenho da Indústria .............................. 66 2.5. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade.............................................................. 71 3. PROPOSIÇÕES DE POLÍTICAS......................................................................................... 74 3.1. Políticas de Reestruturação Setorial ............................................................................... 74 3.2. Políticas de Modernização Produtiva ............................................................................. 74 3.3. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos................................................................ 76 4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE......................................................................... 79 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 80 RELAÇÃO DE TABELAS E QUADROS ................................................................................ 81 ANEXO: PESQUISA DE CAMPO - ESTATÍSTICAS BÁSICAS PARA O SETOR................ 83 1 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX RESUMO EXECUTIVO 1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS DA COMPETITIVIDADE 1.1. Características Estruturais da Indústria de Defensivos Agrícolas A indústria de defensivos agrícolas cresceu com o processo de modernização da agricultura mundial ocorrido nos últimos 30 anos. Durante o auge desse processo, ocorrido entre 1970 e 1984, a indústria apresentou taxa média de crescimento anual, em dólares constantes, em torno de 10%. O segmento de herbicidas, o mais dinâmico, cresceu a 13,5% ao ano. Entre 1983 e 1987 o mercado cresceu, em média, 9,4% ao ano, com aumento da dispersão entre as taxas de crescimento dos distintos segmentos. Em termos de sua base técnica, a indústria de defensivos é caracterizada na atualidade como parte da indústria química fina. É uma indústria que comercializa moléculas complexas do ponto de vista de sua estrutura química, dotadas de alguma atividade praguicida, fungicida, herbicida ou reguladora de crescimento. Em termos de sua base de mercado, o fato de ser uma indústria voltada para a agricultura determina um processo de interação local entre produtor- usuário que reforça a importância do esforço de vendas e das redes de assistência técnica. Adicionalmente, é uma indústria que opera com estreita margem de tolerância, pois é produtora de moléculas tóxicas através de processos de alta periculosidade. Esta característica de per se é um limitante do número de produtoresaptos a operar neste mercado. Seguindo o padrão característico da indústria química fina, no estágio atual de desenvolvimento da indústria de defensivos agrícolas convivem três tipos de empresas, que se distinguem pelo conteúdo tecnológico das atividades realizadas: a empresa formuladora que adquire os insumos no mercado e realiza somente as etapas de mistura e embalagem; a empresa produtora de ingredientes ativos que, em geral, obtém as tecnologias de processo via cópia, licenciamento ou contratos de transferência de tecnologia; e as firmas geradoras de moléculas, que introduzem as inovações de produto como resultado de intensivos esforços de pesquisa e desenvolvimento de novos princípios ativos. O processo de geração de novas moléculas cria demandas de intermediários que são mais facilmente atendidas nos países dotados de indústria química altamente diversificada e com produtores capazes de operar os processos unitários com elevada eficência. Tal fato favorece a centralização espacial das plantas produtivas, igualmente típica da indústria química fina. 2 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX As possibilidades para diferenciação de produtos abertas tanto pela existência dos quatro sub-mercados, desdobrados em vários segmentos, quanto pela avaliação técnica agronômica (e também ambiental) do usuário geram estímulos para a dispersão de estações experimentais junto a grandes mercados e a instalação mundialmente distribuida das plantas formuladoras. A existência de um eficiente regime de apropriação tecnológica, através da propriedade intelectual ou do segredo industrial, é condição necessária, embora não suficiente, para a obtenção de lucros elevados na indústria. A proximidade da data de vencimento de patentes gera ações das empresas que vão desde a guerra de preços a reformulação das rotinas de investigação, visando redução de custo e busca de novas rotas eficientes de produção. Há, no entanto, um componente cumulativo relevante na definição do padrão de concorrência vigente na indústria mundial de defensivos agrícolas. Uma empresa que descubra uma molécula de utilização generalizada, baixa toxicidade e com custo de produção aceitável (com um número não muito elevado de passos de síntese), consegue, em regimes de apropriabilidade adequados, crescer rapidamente e garantir, através de um continuado esforço de pesquisa, sua posição competitiva. Todavia, a transição de uma empresa de tipo formuladora, mesmo que com excelente penetração no mercado, para produtora de ingredientes ativos e, principalmente, daí a uma firma geradora de moléculas, que lhe habilitaria a auferir margens crescentes de lucro, é praticamente inédita. Trata-se, enfim, de uma indústria altamente concorrencial, onde as fontes de barreiras à entrada e os fatores condicionantes do sucesso competitivo estão além da simples capacitação para produzir, envolvendo intensamente os requisitos associados a capacidade para inovar, isto é, a capacidade da empresa de sustentar endogenamente elevado esforço de pesquisa. Todavia, o ritmo inovativo da indústria tem se mostrado irregular desde o final da década de setenta. Há indicações de que o período 1980-87 foi particularmente pobre em descobertas de novas moléculas. Uma pequena onda de novos lançamentos ocorreu no período 1987-92, colocando em relevo algumas empresas japonesas. Segundo Woodmac (1992), apenas 20% do crescimento do mercado ocorrido entre 1981 e 1991 foi devido à exploração de novas moléculas. Esse cenário de maturação tecnológica tem aberto espaço para a ocupação do mercado por parte dos produtos genéricos. O aumento da produção desses defensivos tem provocado alterações nas formas de concorrência usuais da indústria, uma vez que nos segmentos de mercado (grupos) onde existem produtos sem proteção de patentes, ganha destaque a concorrência em preços. Em muitos casos, a eficácia dos produtos genéricos é menor que a dos produtos patenteados, mas a economia nos custos agrícolas propiciada pelos menores preços os tornam competitivos. Há na atualidade países, como China e Índia, nos quais a participação dos genéricos no consumo total de defensivos supera a marca de 80%. 3 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX 1.2. Estratégias Empresariais O componente cumulativo acima mencionado faz com que a liderança estratégica na indústria de defensivos seja exercida pelas empresas inovadoras. Com raras exceções (a maior parte delas situadas no Japão), essas empresas são grandes corporações diversificadas do setor químico. Dentro deste grupo podem ser identificadas três estratégias básicas : . estratégia defensiva: atuação em vários segmentos do mercado, amparadas em processos de aquisição de firmas com ativos complementares (moléculas que reforcem pontos fracos da empresa); recurso ao licenciamento e uso de moléculas de terceiros; busca de economias de escala através de processos integrados centralizados; desenvolvimento de rotas alternativas para produção de produtos consagrados que leve a maior pureza em termos do princípio ativo e consequentemente a maior eficiência, com menor dano ambiental. Dado o poder financeiro das empresas que seguem essa orientação, são estratégias seguras, porém de menor lucratividade; . estratégia ofensiva: aposta em moléculas novas, altamente seletivas, voltadas para segmentos sofisticados da agricultura, com elevado valor unitário e produção altamente centralizada. Via de regra, a centralização estende-se até o processo de formulação. São estratégias de custo e risco alto e prêmio elevado; . estratégia de ruptura: voltadas para o desenvolvimento de produtos biotecnológicos, reguladores de crescimento e juvenóides. Embora não necessariamente muito custosa, é estratégia de elevadíssimo risco, cujo prêmio depende não só da obtenção de um forte efeito-substituição sobre os produtos convencionais, mas também da resolução de complicadas questões de propriedade intelectual. Empresas não-líderes têm se voltado, principalmente, para a produção de defensivos genéricos, ou seja, produtos não mais protegidos por patentes. Todavia, não se deve considerar o atributo da proteção patentária como único fator restritivo à difusão de inovações. Dados levantados por Frenkel et alli (1993) mostram claramente uma correlação negativa entre o número de produtores e o ano de lançamento do produto. Somente produtos com mais de 25 anos tinham um número de produtores mundiais superior a cinco. Na verdade, a adoção de estratégias eficientes de produção de genéricos requer competente acompanhamento tecnológico e comercial das oportunidades abertas no mercado mundial, além de capacitação produtiva e outros fatores competitivos. 4 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX 1.3. Fatores de Competitividade Um resumo dos fatores de competitividade é apresentado a seguir: . Fatores internos à empresa . capacidade de sustentar as rotinas de investigação, que incluem tanto o domínio de técnicas de screening quanto a disponibilidade de infra-estrutura laboratorial para realização das etapas de testes e exames necessários para registro; . manutenção de uma rede de estações experimentais nas grandes zonas agroclimáticas para identificação das potencialidades das moléculas; . capacitação produtiva na geração de intermediários; . embora de menor importância, merece registro a capacidade de adequar o produto às exigências do consumidor através de formulações adequadas. No entanto, uma empresa que reuna capacitação apenas neste último quesito ocupa espaços limitados de mercados (geralmente referentes a produtos genéricos), de menor rentabilidade. . Fatores estruturais . existência de uma indústria química diversificada: este é um fator limitante para a atuação das empresas produtoras de princípiosativos, uma vez que as condições de acesso aos intermediários e as economias de escala resultantes da atuação no mercado mundial reforçam a competitividade de países onde o complexo químico está fortemente implantado. . existência de mercado expressivo em quantidade e em variedade de modo a viabilizar a definição de um mix de produtos de elevada sinergia; . existência de um setor agrícola moderno e capacitado para o uso de defensivos agrícolas de crescente grau de sofisticação. . Fatores sistêmicos . tratamento conferido à remessa de lucros e à relação matriz/filial em geral; . estabilidade cambial, devido a sua importância para a definição de políticas de investimento por parte das grandes empresas internacionais; . regime tarifário flexível, que conceda um certo grau de proteção efetiva aos defensivos de uso difundido, e mantenha, ao mesmo tempo, tarifas zeradas para a importação de produtos novos; 5 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX . formas de incidência de impostos indiretos devido a natureza especializada das vendas; . fatores legais-regulatórios principalmente os relacionados ao registro e homologação de produtos e à propriedade intelectual e segredo industrial, uma vez que regimes de regulação pouco exigentes favorecem a maior competitividade de empresas com menor capacitação tecnológica; . do mesmo modo, rígidas exigências ambientais favorecem firmas que desenvolvam produtos mais seletivos, pouco persistentes e usados em menores quantidades. 6 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX 2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS 2.1. Diagnóstico da Competitividade . Desempenho A indústria brasileira de defensivos agricolas é fortemente internacionalizada. Mais de 75% do mercado brasileiro é atendido por empresas líderes mundiais. Com efeito, a comparação do lista das maiores empresas brasileiras, ordenadas segundo o faturamento em 1990, não apresenta diferenças significativas com relação ao ranking mundial. Diferenças significativas aparecem quando se analisa as pautas de produção das empresas e seu grau de adequação às características do mercado: no mercado brasileiro verifica-se maior presença de herbicidas e inseticidas em relação à composição média do mercado mundial. Os produtos genéricos ocupavam em 1989 cerca de 65% do mercado brasileiro em valor, segundo Frenkel et alii (1993). Em comparação a outros países de industrialização recente importantes para a indústria, esta cifra é baixa. India, China e Coréia apresentam cifras superiores. Entretanto é preciso esclarecer que o termo genérico indica apenas que a vida útil do produto é longa, fato que tende a ocorrer, principalmente, no segmento de herbicidas, onde as causas de perda de valor biológico são menos atuantes que em inseticidas e fungicidas. A extinção da patente não implica, automaticamente, fácil acesso a tecnologia e nem mesmo indica imediata commoditização dos produtos. Há casos em que mesmo sem a proteção das patentes o número de produtores permanece bastante reduzido. A agricultura brasileira exerce uma demanda muito heterogênea, na qual são pouco nítidas as relações de equivalência entre preço e qualidade. Um produto de melhor qualidade (por exemplo, com menor teor de resíduos tóxicos como dioxinas, nitrosaminas, etc.) tem que ser vendido ao mesmo preço daquele que não tem os mesmos padrões de pureza, o que significa estreitamento da margem para os fabricantes de produtos de maior qualidade. Tal problema afeta especialmente o segmento de genéricos. Do lado da oferta, há clara segmentação dos produtores. Embora o número de empresas nacionais que dividem os 25% restantes do mercado seja superior ao número de empresas líderes, apenas quatro delas detém individualmente parcela de mercado superior a 2% do total: Defensa, Nortox, Herbitécnica e Fersol. Além da atuação na área de formulação, estas quatro empresas mantém atividades produtivas ligadas a realização de sínteses químicas. Registre-se que Defensa e Nortox conseguiram entrar no reduzido grupo de produtores de defensivos não genéricos, através 7 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX do desenvolvimento de processos produtivos distintos dos explorados pelos detentores de patentes mundiais. A balança comercial do setor mantém-se historicamente deficitária. O pequeno significado das exportações brasileiras de produtos de quimica fina é tido como um componente estrutural que dificulta a elevação do coeficiente exportado de defensivos, que na indústria brasileira está abaixo de 10% e é centrado basicamente em herbicidas. Um aspecto central do desempenho da indústria brasileira de defensivos refere-se ao controle de preços a que foi submetida por um longo período. A fórmula de controle adotada no Brasil pautou-se pela definição dos índices de reajuste com base mais na variação da taxa de inflação do que na análise da evolução dos custos dos produtos. Esta prática levava a que o controle de preços atuasse como um instrumento de rigidez à baixa dos preços, mesmo em situações de grande rivalidade entre empresas. Pesquisas recentes mostraram que após a retirada do controle de preços, os preços em US$ FOB dos produtos importados vêm subindo. A ausência do controle de preços permitiu às empresas líderes estabelecer uma política de estabilidade ou de moderada elevação dos preços em dólar, em parte propiciada pela folga decorrente da redução tarifária ocorrida no setor. A retirada do controle de preços deu às empresas maior liberdade na fixação das margens que definem a política interna de remuneração do esforço de pesquisa. Explica em grande parte a elevação do ritmo do lançamento de novos produtos a partir de 1988, apesar da estagnação no mercado brasileiro. O quadro 1 a seguir apresenta uma comparação das estruturas de custos de produção de defensivos agrícolas no Brasil e nos EUA. Os maiores custos de capital, insumos e transportes incorridos pelo produtor brasileiro são os principais responsáveis pelos diferenciais verificados entre os dois países. Esses custos mais elevados são devidos, principalmente, a fatores estruturais e sistêmicos - escalas insuficientes, ociosidade, problemas de financiamento, etc.. - presentes no país. QUADRO 1 COMPARAÇÃO DE CUSTOS DE PRODUÇÃO DE DEFENSIVOS BRASIL X EUA Item de Custo Custo Razão Tendência Brasil/EUA Capital (deprec) maior problemas de finan- manter ciamento, escala e capacidade ociosa Insumos maior tarifa, escala e custo reduzir inter. petroquímica Energia menor menor intensidade reduzir de uso Mão-de-obra menor pouco especialização manter Transporte maior fretes marítimos reduzir Controle ambiental igual padrão similar manter 8 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX Do lado do segmento nacional da indústria, a situação do mercado de defensivos, mesmo no período de controle de preços, jamais estimulou as empresas a se verticalizarem, partindo de suas posições no mercado de defensivos formulados em direção a produção de princípios ativos. Ao contrário, ocorreram entradas de novas empresas nos segmentos finais, voltadas para a produção de defensivos genéricos. Desta forma, investimentos significativos foram direcionados para segmentos de mercados de forte concorrência em preços e, em conseqüência, de baixa rentabilidade. A tentativa de verticalização a frente empreendida pela holding petroquímica Norquisa - criar uma grande grupo nacional produtor de intermediários de química fina, com atuação nos mercados finais, farmacêutico, de aditivos, pigmentos, corantes e defensivos, através de variadas formas de associação empresarial - ainda não se concretizou. Percebeu-se ao longo do processo de implantação a importância dodomínio dos mercados finais, consumidores de significativa parcela dos intermediários produzidos. No caso específico do mercado de defensivos, tal iniciativa teve como principal obstáculo a capacidade das empresas líderes com atuação na ponta do mercado em substituir produtos, alterando drasticamente a demanda por intermediários. A rapidez da reação das líderes tornou muito difícil a transição para produtos de maior contéudo tecnológico. . Estratégias As diferenças com relação à intensidade dos esforços de P&D para geração de novas moléculas e à estrutura produtiva da indústria química, somadas aos fatores sistêmicos locais, que são desfavoráveis ao investimento, condicionam as empresas brasileiras a adotarem estratégias defensivas. Há uma tendência das firmas multinacionais aqui instaladas, e também das firmas nacionais, de privilegiarem cada vez mais os fatores organizacionais que resultem em maior eficiência no atendimento a distribuidores, cooperativas e agricultores. No caso das grandes empresas multinacionais, procura-se dar maior liberdade a cada área de negócio dentro de cada filial, utilizando os recursos de comunicação disponíveis na atualidade, para estreitar os laços com a mesma área na matriz. Com isto, consegue-se agilidade nas decisões de lançamento de produtos e maior eficiência no que se refere a compra de insumos. Argumenta-se que tais estruturas organizacionais dotadas de maior flexibilidade facilitam a transposição de práticas relacionadas a busca de maior eficiência global (que incluem os programas de qualidade total). No caso das empresas de pequeno porte, dotadas de estruturas produtivas leves e uma ágil rede de distribuição, observou-se que têm obtido sucesso em determinados segmentos do mercado. Contornam com essas vantagens os custos elevados de amortização de investimentos produtivos (inclusive investimentos em estoques), ainda que, como foi visto acima, tenham sua área de atuação limitada a produtos de menor rentabilidade. 9 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX Com relação à grupos empresariais nacionais externos ao setor de defensivos cabe registrar a indefinição ainda existente quanto a estratégia mais adequada de entrada no setor por parte das empresas interessadas. A experiência mais significativa partiu da tentativa de verticalização em direção à química fina empreendida por uma empresa petroquímica, através da criação da Nitroclor. Como já apontado, essa iniciativa esbarrou na reação das empresas líderes dos segmentos finais do mercado de defensivos que, rapidamente, substituiram produtos, restringindo o mercado da Nitroclor ao segmento de produtos genéricos, de baixa rentabilidade. A criação da Noragro, uma joint venture entre a Norquisa e uma empresa com larga penetração no mercado de insumos agrícolas (Agroceres), não logrou contornar esse problema, tendo a iniciativa obtido resultados bastante modestos. . Capacitação No segmento das empresas líderes, a capacitação tecnológica fundamental está localizada fora do país, fato que constitui a principal razão para a relativa inadequação da linha de produtos/moléculas às características do mercado local. No segmento dos produtores de capital nacional, a maioria das empresas é de pequeno porte e bastante especializada. É pequena a articulação com o setor químico a montante. Poucas empresas são integradas verticalmente e as escalas de produção são pequenas em relação ao padrão internacional. Os gastos em P&D situam-se em faixas muitíssimo inferiores às menores do mercado mundial e a capacidade destas empresas em identificar e negociar a aquisição de tecnologias de processo, com raras exceções, esbarra na incipiente qualificação de suas equipes técnicas. Em vista dessa lacuna de capacitação tecnológica, as empresas nacionais sempre se mostraram dependentes de apoio governamental. A crise atual da indústria tem mostrado casos de fusões defensivas, visando uma melhoria na competitividade das empresas nacionais que atuam em áreas que exigem elevado grau de capacitação tecnológica. No caso das empresas nacionais, o padrão de gestão da maioria das empresas, fortemente identificado com a administração familiar, implica obstáculos à realização destas fusões que, dada a existência de certa complementariedade de ativos, seriam desejáveis. Por outro lado, as grandes empresas multinacionais têm buscado incrementar a capacitação produtiva, através, principalmente, da adoção de programas de qualidade total, embora nem sempre identifiquem programas do tipo ISO-9000 como os mais adequados. A maioria das empresas líderes desenvolve programas próprios de qualidade, centrados em marketing e na relação produtor-usuário. 10 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX Com relação às instalações produtivas, algumas plantas, tanto de multinacionais como nacionais, são muito antigas pois não há sentido em reinvestir em plantas monoprodutoras de defensivos genéricos. Não há nenhuma evidência de que um ciclo de capital novo venha a elevar significativamente a produtividade das plantas, inclusive devido a problemas de escala. As exceções seriam os casos pontuais em que esforços de desenvolvimento de novas rotas mais eficientes do ponto de vista da pureza e da concentração de princípios ativos (principalmente em relação a isômeros) foram bem-sucedidos. 2.2. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade Os fatores que determinam oportunidades e obstáculos à competitividade da indústria de defensivos diferem conforme o foco da análise esteja voltado para empresas líderes ou empresas de menor porte. . Fatores internos à empresa No caso das empresas líderes, a competitividade está diretamente vinculada a sua capacidade em encontrar moléculas que, por um período de tempo adequado, apresentem uma relação custo-eficácia de grande atratividade na avaliação dos agricultores. Já no caso das firmas de menor porte, o condicionante da oportunidades é o estabelecimento de redes eficientes de distribuição e de contratos de importação de princípios ativos com firmas líderes que não estejam instaladas no Brasil (italianas e japonesas). A fragilidade da posição competiva das empresas de menor porte pode ser facilmente depreendida da análise feita acima. . Fatores estruturais Quanto aos fatores estruturais, as oportunidades estão relacionadas à elevada diversificação da agricultura brasileira. Seu aproveitamento, no entanto, exige competência das empresas em desenvolver produtos visando tornar o mercado menos dependente das culturas da soja, trigo, cana de açúcar, citros e arroz. As escalas produtivas no mercado brasileiro podem ser identificadas como um problema competitivo nos segmentos de genéricos e também nos segmentos onde os produtos cativos sejam substitutos próximos (por exemplo, no grupo dos piretróides). A despeito da complementariedade existente entre os ativos de várias das empresas que atuam no setor, o pequeno interesse por elas demonstrado em iniciativas de fusão ou associação de capitais torna improvável a supressão desse problema. 11 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX A prática dos agricultores de preservar os índices de participação dos defensivos no custo (em dólar) total de produção, juntamente com as limitações referentes às técnicas de aplicação de defensivos utilizadas, é o principal obstáculo à introdução de novos produtos. A grande dificuldade de difusão de inovações de produto, em particular nos segmentos onde os produtos genéricos são considerados eficientes pelos agricultores, se favorece a sobrevivência das empresas de menor porte, limita a modernização da indústria no país. . Fatores sistêmicos Os principais fatores sistêmicos que influenciam a competitividade da indústria dizem respeito às relações internacionais daeconomia brasileira. . regime de propriedade intelectual - a liberalidade do regime patentário brasileiro é considerada pelas empresas líderes um fator de desestímulo a investimentos em ampliação ou modernização de suas atividades no país. Essas empresas defendem a reconhecimento generalizado de patentes, incluindo não só os novos produtos como também aqueles já comercializados no país, os produtos em fase de teste ainda não registrados e os princípios ativos importados. O direito a requerer o depósito de patentes sem produção local e o reconhecimento de patentes de produtos já comercializados no mercado significa o bloqueio à estratégia de cópia adotada pelas empresas nacionais, ainda que o número de casos de sucesso tenha sido muito limitado. . regime tarifário - embora a atual política tarifária, ao postular uma redução geral das alíquotas para o setor, favoreça as pequenas empresas que se dirigem exclusivamente à importação de princípios ativos, penaliza as empresas interessadas na produção local. As empresas nacionais de maior porte, produtoras de princípios ativos, ressentem-se da ausência de um regime tarifário que considere a similaridade de uso, que justificasse, para efeito de taxação, a aplicação de tarifas ad valorem aos produtos técnicos novos. Se um produto novo tivesse a mesma função, do ponto de vista da eficácia agronômica, que um outro já produzido no país, seriam aplicadas tarifas em torno de 20% (inferiores às aplicadas nos produtos formulados). Já as empresas líderes sempre defenderam a ausência total de controle das importações (que há alguns anos atrás funcionava como barreira não tarifária, pela fixação de quotas de importações para cada empresa), a redução drástica das tarifas sobre intermediários e a isenção tarifária para produtos "novos". . exigências para o registro de produtos - para as empresas de menor porte, as exigências de testes locais, principalmente os de natureza ecotoxicológica, e a impossibilidade de utilizar dados de literatura, gerados pelas líderes, dificulta tanto a estratégia de verticalização quanto o estabelecimento de contratos com fornecedores de países que ainda não reconhecem patentes de produtos ou que se voltam para o mercado de commodities (Taiwan, Coréia do Sul, China e Israel). Interessa à essas empresas uma legislação que aceite os dados internacionais (me too) 12 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX como fonte para elaboração dos procedimentos de registro e re-registro de produtos. Para as empresas líderes, o estabelecimento de uma legislação semelhante a dos países desenvolvidos é considerado um fator positivo para a recuperação da rentabilidade, pois ainda que implique maiores custos de produção, significa o estabelecimento de barreiras à entrada para os fornecedores mundiais de genéricos. Ainda com relação a esse tema, os quatros anos (em média) requeridos para o registro de produtos novos no Brasil é muito elevado se comparado a outros países. Embora para alguns isso constitua um fator que contribui para a defasagem dos produtos brasileiros, nem sempre tal fato traz consequências sérias para o país, pois muitas vezes é desejável que o produto seja mais intensamente testado em outros países. 13 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX 3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS 3.1. Políticas de Reestruturação Setorial A natureza de pequena empresa independente, por vezes familiar (fortemente identificada com a pessoa de seu fundador) e a desproproção de tamanho em relação às concorrentes diretas, divisões agroquímicas de grande corporações químicas, torna qualquer política de reestruturação do segmento nacional muito difícil. Cabe lembrar que a reestruturação do setor petroquímico e o papel da Petroquisa ao final do processo de reestruturação poderão criar um cenário novo para o estabelecimento de políticas. No caso da formação de dois a cinco grandes grupos petroquímicos e de uma situação mais favorável, que os permita investir em química fina, sugere-se o caminho do licenciamento, para a produção local de novas moléculas, principalmente de grandes grupos japoneses, que hoje mantém uma taxa razoável de inovações em produtos, mas com reduzida penetração no mercado nacional. Apesar das dificuldades, pelas razões apresentadas anteriormente, seria desejável uma política de estímulo a fusões de algumas empresas nacionais, que pelo menos evitasse os vários momentos de disputa predatória por que têm passado a indústria nos últimos anos e que caso prossigam, podem comprometer a sobrevivência destas empresas. O fato de algumas dessas empresas estarem entre os poucas produtores mundiais de certos produtos (trifluralina e gliphosato, por exemplo) poderia, após um programa de fusões, abrir espaço para um maior incentivo às exportações, uma vez que o atual percentual exportado, como foi visto, não ultrapassa em nenhum caso, 10% do faturamento, contrastando com os resultados alcançado por firmas congêneres situadas em Israel, Itália e Taiwan. 3.2. Políticas de Modernização Produtiva O principal objetivo da política de modernização produtiva do setor deve ser a renovação da pauta de defensivos ofertados no país, em simultâneo com a sua adequação às necessidades da agricultura brasileira. Para essa finalidade, é importante a manutenção da produção de princípios ativos no país. O desenvolvimento realizado pelas empresas líderes no país mostra a importância da existência de produtores nacionais. Também a política de substituição de produtos pode levar ao encarecimento desnecessário de certos tratamentos. Frenkel et alii (1993) mostra que há segmentos de genéricos com um número reduzido de produtores mundiais, o que permite um ajuste do preço de importação em respostas a políticas adotadas internamente. Com isto cria-se 14 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX um espaço para o incentivo à produção local, que por limitações de ordem tecnológica, localiza-se no segmento de produtos sem a proteção de patentes. Todavia, não se deve aceitar o recurso da fixação de uma lista de produtos, uma vez que a própria natureza da interação entre princípio-ativo e o ambiente, determina a necessidade contínua de atualização dos produtos a serem incentivados. Um salto maior seria dado por atividades visando contornar as patentes de processo em vigência de alguns produtos não genéricos de enorme importância no mercado. Todavia, esta estratégia exigiria uma capacitação tecnológica e um parque industrial, que como mostram todas as evidências, não são encontrados no país. As formas de incentivo incluem o estímulo a arranjos empresariais nas empresas petroquímicas, visando a diversificação, incentivo a sua associação com empresas locais que tenham forte penetração no mercado e apoio financeiro (via BNDES e FINEP) para centros de atualização tecnológica, que desenvolvessem projetos visando maximizar os efeitos sinérgicos contidos na matriz de intermediários. Com relação à agricultura e à política agrícola, deve-se considerar prioritário o esforço de desenvolvimento de técnicas de controle integrado e de utilização do controle biológico. Os programas existentes têm mostrado resultados importantes, inclusive estabelecendo formas de controle mais econômicas, que ao resultarem em custos menores dos produtos químicos, podem contribuir para a difusão do seu uso. De modo geral, novas formas de aplicação devem ser incentivadas, visando aumentar a eficiência, principalmente no caso de produtos de ultrabaixos volumes. No entanto, é preocupante a situação da pesquisa agronômica pública, que cumpre importante papel na definição, geralmente em estreito contato com as empresas, das formas mais eficientes de aplicação e na realização de testes. Uma das razões da situação diferenciada (em termos de sofisticaçãodo mercado) do país em relação a outros países industrializados está na eficiência da rede de laboratórios públicos e recentemente, das cooperativas, na intensificação do contato produtor-usuário. O estabelecimento destas "pontes" não deve ser considerado tarefa exclusiva das empresas. A questão referente à qualidade das embalagens merece atenção, principalmente quanto aos procedimentos adotados após a utilização; por exemplo, uma política de incentivos à criação de centrais de recebimento de embalagens que aí passariam por formas de tratamento visando evitar a contaminação ambiental. A intensificação da fiscalização do comércio de defensivos formulados também é uma medida com forte feedback sobre a melhoria do armazenamento de produtos nos revendedores. A adoção de embalagens hidrossolúveis é ainda uma solução cara para os problemas apontados, que podem ser resolvidos com protocolos que conduzam adequadamente o relacionamento entre usuários e produtores. 15 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX 3.3. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos As principais recomendações de política relacionadas aos fatores sistêmicos referem-se, de um lado, ao controle de preços e à estrutura tarifária e, de outro, à questões regulatórias ligadas à proteção do meio-ambiente e ao registro de produtos. Sugere-se que órgãos como o DAP, do Ministério da Fazenda, exerça o acompanhamento dos preços praticados no setor e coiba os casos em que se comprove abusos de mercado resultante de práticas de colusão (identificáveis na análise dos dados de importação) e do poder de monopólio. Para isso é necessário que o órgão seja aparelhado de modo a ter acesso em rede a fontes de informações mundiais que permitam avaliar o comportamento dos preços FOB, principalmente de moléculas novas. Uma vez identificados movimentos de preços que revelem abuso de poder por parte de empresas líderes, as sanções poderiam, no limite, implicar a suspensão temporária das importações. A política tarifária não deve ser vista como instrumento fundamental para a atração de novos investimentos, porque implicaria taxar produtos novos, que normalmente são importados pelas empresas. Dado o momento internacional da indústria, onde a tônica tem sido a racionalização dos investimentos, investimentos em um determinado mercado nacional só são justificáveis após alguns anos de desenvolvimento do consumo através de importações. Somente se houvesse o claro desejo de produzir localmente um rol de defensivos essenciais caberia uma política seletiva através de tarifas gerais sobre produtos importados, com base no critério de similaridade. Tal política entraria em conflito com a diretriz do IBAMA de privilegiar o registro de produtos seletivos e de menor toxicidade. De todo modo, nos segmentos em que defensivos genéricos têm forte importância a questão tarifária ganha relevo. A política tarifária atual ainda não eliminou distorções graves referentes a certos intermediários, situação de difícil sustentação e que pode causar problemas graves inclusive no âmbito do Mercosul (pois desprotege genéricos que podem ser importados via Argentina ou Paraguai a tarifas reduzidas). É fundamental que se mantenha uma proteção em torno de 20 a 30% sobre a importação do produto formulado. A agenda de discussões referentes ao Mercosul deve envolver a harmonização da legislação ambiental dos países envolvidos. Argentina, Uruguai e Paraguai não possuem um código específico para o registro de defensivos. A aceitação pura e simples da legislação atual de cada um desses países resultaria em desencentivo à produção brasileira. Sugere-se que se busque, provisoriamente, implantar mecanismos compensatórios para as importações nos países do Mercosul e, se necessário, a certificação de origem desses produtos. 16 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX O segundo bloco de políticas refere-se às questões de caráter regulatório. Com relação ao meio-ambiente, o Brasil criou, a partir de 1989, uma legislação que é aceita por todos como rigorosa e atualizada. Entretanto, o aparelho estatal necessário à realização destas tarefas necessita ser incrementado. Sugere-se: a) maior qualificação e valorização dos técnicos do IBAMA, Ministério da Saúde e Agricultura envolvidos nas tarefas de registro. b) estímulo à capacitação laboratorial no país, para que testes relacionados ao efeito do produto no ambiente sejam adaptados realmente às condições locais. Deve-se buscar uma política de reequipamento e treinamento de pessoal que leve os laboratórios locais a adotar as boas práticas laboratoriais, fato que permitiria ao país gerar dados aceitos internacionalmente. Um aspecto da legislação sobre o qual ainda não há definição clara é quanto à regulamentação do período de experimentação de um produto, com a permissão de que sejam realizadas atividades de desenvolvimento de mercado durante o processo de obtenção de registro. Tal tema é polêmico, uma vez que acelera a introdução de novos produtos, o que nem sempre resulta em ganhos para o agricultor. A adaptação da legislação às condições locais, visando acelerar o processo de registro é coerente com o esforço de integração regional no âmbito do Mercosul. Também aqui é importante que se garanta a harmonização de políticas nos países envolvidos, inclusive para evitar que se instalem no Brasil bases produtoras de defensivos de qualidade inferior que, embora destinados à exportação para os países vizinhos, acabem também distribuído no mercado interno. A resolução de problemas sistêmicos relacionados a infra-estrutura (transporte) e o incentivo a programas de formação de mão-de-obra técnica-especializada nas regiões em que se concentram as plantas formuladoras (por exemplo, no Norte do Estado de São Paulo e Triângulo Mineiro) teriam um impacto positivo sobre o desempenho das empresas. Com relação ao treinamento de mão-de-obra, caberia o estabelecimento de gestões junto à associações de empresas e sindicatos visando a realização de programas de treinamento nessas regiões. A questão da propriedade intelectual é um divisor entre os agentes da indústria. O reconhecimento de patente sobre produtos reduz a margem de manobra das empresas nacionais. Tal situação se agrava na medida em que países que não reconheciam patentes de produtos terminaram por aderir aos sistemas legais preconizados pela WIPO, o que reduz as possibilidades de aquisição tecnológica de rotas distintas das patenteadas no país. A proposta aprovada recentemente pelo Congresso Nacional dá uma sobrevida às empresas locais que consigam desenvolver rotas alternativas para produtos ainda sobre a vigência de patentes: são cerca de dez produtos, que combinam a proteção patentária e eficiência produtiva, o que propicia elevadas 17 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX margens de rentabilidade. Este "rol" aumentou de 1989 para cá, pois as empresas líderes, apostando no reconhecimento retroativo de patentes de produtos no país, aumentaram o ritmo de introdução de novos defensivos. Alguns destes produtos terão uma sobrevida de mercado de cerca de 15 anos, o que mantém acesas - teoricamente, uma vez que existem outras dificuldades além da necessidade de contornar processos patenteados - as possibilidades para as firmas locais. 18 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX 3.4. Proposição de Políticas para Defensivos Agrícolas - Quadro Sinótico AGENTE/ATOR OBJETIVOS / AÇÕES DE POLÍTICA EXEC LEG EMP TRAB ASSOC ACAD 1. Reestruturação Setorial Objetivo: Aumentar a articulação com setor químico Ações: - estimular a verticalização de em- presas petroquímicas X X X X - incentivar empresas petroquímicas a licenciarem tecnologias de defen- sivosno exterior X X X Objetivo: Aumentar escalas e diversificação das empresas de defensivos Ações: - promover fusões entre empresas na- cionais "complementares" X X - incentivar exportações X X X 2. Modernização Produtiva Objetivo: Renovar a pauta de defensivos com adequação à agricultura brasileira Ações: - estímulo à produção de princípios ativos no país X - priorização de defensivos com pa- tentes prestes a expirar X X - aprimoramento das técnicas agríco- las de controle integrado X X X - intensificação da interação produ- tor-usuário X X Objetivo: Desenvolver tecnologias de processo para contornar patentes em vigor Ações: - incentivos à centros de pesquisa X X X - apoio a projetos de pesquisa coope- rativos X X X Objetivo: Melhoria de embalagens para evitar contaminação ambiental Ações: - criação de centrais de recebimento de embalagens X X X X - intensificação da fiscalização X 19 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX AGENTE/ATOR OBJETIVOS / AÇÕES DE POLÍTICA EXEC LEG EMP TRAB ASSOC ACAD 3. Fatores Sistêmicos Objetivo: Coibir abusos de preços Ação: - criação de órgãos responsáveis pelo acompanhamento dos preços interna- cionais e de importação X Objetivo: Adequar política tarifária Ações: - fixação de tarifas entre 20 a 30% sobre importações de genéricos X - implantação de mecanismos compensa- tórios para importações no âmbito do Mercosul X Objetivo: Implementar legislação ambiental es- pecífica Ações: - aumentar qualificação e valorização dos quadros técnicos envolvidos X X - estimular capacitação laboratorial em testes X X - definir regulamentação do período experimental X - assegurar a harmonização da legis- lação no Mercosul X Legendas: EXEC - Executivo LEG - Legislativo EMP - Empresas e Entidades Empresariais TRAB - Trabalhadores e Sindicatos ASSOC - Associações Civis ACAD - Academia Nota: Em caso de coluna em branco, leia-se "sem recomendação". 20 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX 4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE Sugere-se os seguintes indicadores de competitividade para a indústria de defensivos agrícolas: 1. Número de Produtos Protegidos (princípios ativos) por Patentes produzidos no país; 2. Grau de verticalização da produção - Participação dos intermediários no valor final do mercado; 3. Nível tarifário adotado na indústria de intermediários; 4. Tempo requerido para o registro de produtos. 21 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX APRESENTAÇÃO O presente documento apresenta a Nota Técnica Setorial da Indústria Petroquímica, um dos estudos que compõe o projeto "Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira", referente ao contrato entre a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), a Secretaria de Ciência e Tecnologia da Presidência da República (SCT-PR) e a Fundação Economia de Campinas (FECAMP), coordenado pelo Prof. Dr. Luciano G. Coutinho do Instituto de Economia da UNICAMP e pelo Prof. Dr. João Carlos Ferraz, do Instituto de Economia Industrial da UFRJ. O autor agradece as seguintes empresas, instituições e especilaistas que contribuiram para a elaboração do estudo: Ciba Geigy: Dr. Amaury Peloia, gerente de mercado; Basf: Dr. Kurt Klissmann, diretor de projetos; Herbitécnica: Dr. José A.Fontes, Diretor-Superintendente e sócio- proprietário; FMC: Dr. Geraldo Copello, Diretor de Divisão; Spicam: Dr. Julio Mishimura, Gerente de Marketing; ABIFINA: Dr. Leodonio Schoerder, vice-presidente; ANDEF/SINDAG: Dr. Mario Kashin e Almirante Yaperi Tupiassu; CTT-Ministério da Fazenda: Dr. Ricardo Isidoro; Ministério da Agricultura: Dr. Benjamim Martinez; Instituto Agronômico de Campinas: Pesq. Ana Maria Futino; Instituto de Economia Agrícola: Dr. Artur Ramos e Dr. Marimília Otani; Dr. Jacob Frenkel, UFRJ; Dr, Angelo Trappé, Unicamp; e Dr. David Hathway, Flacso/PTA-Assessoria. 22 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX 1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS DA INDÚSTRIA DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS A indústria de defensivos agrícolas apresenta uma inserção peculiar em dois complexos. Por um lado, é definida como indústria de química fina, uma vez que a maioria dos seus produtos apresentam as características de preço unitário elevado e produção descontínua (devido ao número elevado de passos de síntese para a obtenção do produto técnico) exigidas para tal. Por outro lado, envolve insumos para a agricultura, produtos adquirido segundo avaliações técnicas de profissionais da área, através de diversas formas de recomendação (contidas no receituário agronômico). Esta inserção faz com que as atividades de vendas especializadas sejam fundamentais para o desempenho global e também das empresas que concorrem no mercado. Como produtora de insumos para a agricultura, os defensivos se dividem segundo as funções básicas que irão desempenhar: inseticidas, fungicidas e herbicidas. O uso de produtos químicos como reguladores de crescimento vem se difundindo com velocidade e dadas as características dos produtos, seus efeitos complementares e substitutos com os praguicidas, são enquadrados no mesmo mercado. Há um segmento de produtos biológicos cuja difusão é limitado. A cada instante são ofertados no mercado mais de 100 produtos técnicos e mais de 400 marcas distintas de produtos, refletindo não só a multiplicidade de segmentos de mercado (devido às múltiplas de situações que demandam o uso de defensivos agrícolas) quanto a vocação para diversificação de produtos. Há um elo de ligação importante entre a estrutura produtiva e o mercado: a atividade inovadora, centrada principalmente na obtenção de novas moléculas e secundariamente na obtenção de novas formulações. A atividade de pesquisa não só configura o padrão tecnológico da indústria (submentendo a atividade industrial a suas exigências) como interage com o mercado através de mecanismos de retro-alimentação gerados por formas bem determinadas de relações entre usuários e produtores. Há uma forte hierarquia no fluxograma de atividades da indústria, em que a atividade de pesquisa aparece como determinante do padrão concorrencial da indústria, com claras consequências sobre a conformação de barreiras à entrada, sobre o desempenho das empresas e sobre o sucesso e fracasso de suas estratégias e das políticas adotadas para a indústria (e para a química fina) em cada país. Em seguida, vêm as atividades de distribuição, comercialização e markenting, amparadas nas possibilidades enormes de diferenciação de produtos devidas às características da indústria. Finalmente, as atividades de produção têm importância menor que as duas anteriores, mas seu domínio é condição necessária para entrada e sobrevivência na indústria, principalmente pela possibilidade de criação de vantagens competitivas e mesmo barreiras à entrada originadas da produção de intermediários cativos. Isto pode ser observado pelo elevado grau de verticalização das atividades das empresas líderes. 23 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX Finalmente, trata-se de uma indústria internacionalizada. As estratégias das empresas líderes são formuladas em nível mundial e mesmo empresas regionalmente localizadas definem suas prioridades como satélites, a partir do conhecimento das características do mercado global1. 1.1. Evolução Recente da Indústria Mundial O comportamento da indústria de pesticidas agrícolas demonstra expressivo crescimento no período 1970-87. O sub- período 1983-87, como aparece na tabela 1, apresentou taxas elevadas de crescimento anual, contrastando com o período 1980-84, em que a indústria cresceu em ritmo mais moderado. Os dados mais recentes avaliam queo mercado mundial superou em 1989 e 1990 os US$ 24 bilhões de dólares, número que não se manteve nos anos seguintes em função da crise dos países da CIS (antiga URSS), mas que está muito acima do nível de faturamento dos anos oitenta. Estes dados contrariam todas as previsões de estagnação e queda absoluta em valor do mercado de defensivos agrícolas, feitas no início dos anos oitenta. Entretanto, há claras indicações de que as taxas de crescimento anual tendem a ser próximas a zero, ou seja, o mercado deverá oscilar em torno de um patamar global de US$ 20 bilhões em termos reais (valores de 1990). Na análise da evolução das vendas, em volume de ingrediente ativo, por segmento de mercado - herbicidas, inseticidas e fungicidas -, ilustrada na tabela 1, alguns aspectos se destacam: o significativo crescimento do consumo de herbicidas no período 1970-1984, a boa performance dos fungicidas e a expressiva redução na taxa de crescimento do volume consumido de inseticidas e fungicidas no período 1980-19842. TABELA 1 TAXA DE CRESCIMENTO GEOMÉTRICO ANUAL DO MERCADO DE DEFENSIVOS Mundo Brasil Segmentos ____________________________ ____________________________ 1970-84 1980-84 1983-87 1972-84 1980-84 1983-87 Total nd. nd. 9.4 7.9 (11.6) 4.9 Herbicidas 13.5 5.5 10.9 17.1 (8.1) 1.5 Inseticidas 10.5 3.0 6.2 2.2 (16.2) 8.7 Fungicidas 9.5 3.0 7.2 6.3 (12.0) 8.9 Outros 12.0 18.5 (8.6) nd. nd. nd. Fonte: Ayers e Calderoni(1989); Assouline (1988) e Andef. apud Futino e Silveira. 1 Para um ótimo apanhado histórico, ver Byé (1990). 2 Como será analisado no capítulo 2, o mercado brasileiro tende a acompanhar os movimentos do mercado internacional, pelo menos quanto ao sentido das condições de segunda ordem. Isto fica claro no período 1980-84, quando o mercado internacional desacelera seu crescimento e as taxas no Brasil são negativas. 24 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX Um reduzido número de lavouras (trigo, frutas, milho, hortícolas, arroz, soja, beterraba açucareira e algodão) absorveu em torno de 65% das vendas totais de pesticidas no mundo ao longo dos anos oitenta (Paulino, 1993). Tal situação não tende a se alterar no futuro próximo. Essa dependência faz com que o mercado seja regionalmente sensível ao comportamento das safras. As tabelas 2 e 3 permitem visualizar tanto os grandes blocos de mercado quanto a diferença de importância dos sub-mercados para cada um deles. TABELA 2 PANORAMA DO MERCADO MUNDIAL DE DEFENSIVOS POR REGIÃO E SUB MERCADOS (em US$ milhões) Região 1987 1988 1989 1990 América do Norte 5400 5465 6905 6960 Europa Ocidental 5500 5445 5978 7449 Ásia* 4900 4315 4415 4796 América Latina 1700 1285 1246 1351 Resto do Mundo 3000 1692 5536 3904 Total 20500 18202 24080 26400 * Japão, Austrália e Sudeste Asiático. Fonte: Byé, 1990; Agrow, vários números e Wood Mac, 1992. Como pode ser observado, os três blocos principais têm aproximadamente a mesma dimensão e definem zonas de influência das matrizes das empresas líderes. Isto todavia, é mais claro no Sudeste Asiático, onde há um forte controle regional da distribuição, que força as empresas estrangeiras a associações com empresas locais, do que nos países dos blocos da CEE e Nafta. TABELA 3 PARTICIPAÇÃO DOS SUB-MERCADOS DA INDÚSTRIA DE DEFENSIVOS POR REGIÃO (1988) (em %) % da Participação dos Segmentos Região região ______________________________________________ Herbicidas Inseticidas Fungicidas Outros América do Norte 30,0 64,9 22,1 6,7 6,3 Europa Oc. 29,9 42,8 16,4 32,5 8,6 Ásia* 23,7 33,4 37,1 26,0 3,3 América Latina 7,1 49,8 32,9 14,7 2,4 Brasil 5,0 Total 90,7 43,7 22,6 18,8 5,4 * Japão, Austrália e Sudeste Asiático. Fonte: Byé, 1990; Futino e Silveira, 1991. Nesses dois últimos blocos, o processo de internacionalização da indústria química fez com que empresas norte-americanas passassem a disputar fatias de mercado na Europa e vice-versa. As características de processo inovativo favorecem a interpenetração regional das empresas líderes. 25 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX Há claras evidências, apresentadas na tabela 3, de que o padrão de segmentação dos mercados difere entre uma região e outra. Estas divisões refletem o tipo de agricultura predominante em cada grande região e condicionam o desenvolvimento da indústria e as estratégias das empresas (esses temas serão tratados à frente). Um elemento importante para a análise do desempenho global e de cada empresa da indústria de defensivos é a questão do ritmo inovativo. A Tabela 4 apresenta uma síntese do ocorrido com o lançamento de produtos desde os anos trinta. TABELA 4 LANÇAMENTO DE NOVOS PRODUTOS NA INDÚSTRIA DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS Sub Mercado Numero de Novos Produtos por década 1930-39 1940-49 1950-59 1960-69 1970-79 1981-91 Herbicidas 3 13 35 110 70 72 Fungicidas 16 14 20 50 42 45 Inseticidas 1 30 85 96 60 28 Total 20 57 140 256 172 145 Média anual 2 5.7 14 25.6 17.2 13.2 Fonte: Achilladelis et alii, 1987 & County Natwest WoodMac, junho 1992, Apud Paulino, 1993. A tabela 4 evidencia uma queda do ritmo de inovação em produtos nas décadas de setenta e oitenta. No entanto, esse resultado deve ser tomado com cuidado pois, como mostra Assouline (1990), são computados como inovações produtos que muitas vezes não foram bem sucedidos em seu lançamento. Mesmo assim, pode se perceber uma forte concentração das inovações nos herbicidas, que no último período representaram quase 50% dos lançamentos. A tabela 5 complementa a anterior, tratando com detalhe a questão para os últimos dez anos. A observação dos dados não só comprova a idéia de que as firmas de maior porte apresentam melhores resultados inovadores, como mostra que concentrou-se o maior esforço de P&D no segmento de herbicidas. TABELA 5 INTRODUÇÃO DE NOVOS PRODUTOS POR SUB-MERCADOS E SEGUNDO CLASSES DE TAMANHO DAS EMPRESAS DE DEFENSIVOS Faturamento (US$ milhões) Itens > 1000 250-1000 50-250 Nº de Empresas 10 12 14 Herbicidas 38 13 11 Inseticidas 14 15 9 Fungicidas 16 15 6 Outros 4 2 2 Total 72 45 28 Fonte: County N. Woodmac, junho 1992. 26 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX Tomando o ano de 1981 como base, Woodmac (1992) estimou em apenas 20% a contribuição dos produtos lançados posteriormente a esse ano nas vendas realizadas em 1991. Isto significa que em 10 anos, os novos produtos causaram a renovação de apenas 1/5 do mercado. Se forem computadas apenas as contribuições percentuais na parte refernte ao acréscimo de mercado, obtém-se um valor de 74,9%, sendo que no caso dos fungicidas, os novos produtos explicam 91,3% desta parcela. Em termos absolutos, a maior contribuição para o mercado vem dos herbicidas, algo em torno de US$ 2,3 bilhões. Sintetizando a análise do desempenho da indústria de defensivos agrícolas, tem-se: a) a indústria continuou a crescer na década de oitenta, ainda que a taxas menores que nas duas décadas anteriores; b) o esforço inovativo apresenta perda de dinamismo e está concentrado em alguns segmentos de mercado. Entretanto, ocorrem oscilações que dificultam uma análise definitiva sobre a maturidade da indústria. Por exemplo, no período 1987/91, o número de lançamentos por ano foi de 16 produtos novos/ano, quase o dobro do período anterior; c) ainda assim, confirma-se tanto na literatura quanto em entrevistas a visão de que maioria das grandes culturas encontra controle adequado em um dos mais de 200 princípios ativos disponíveis no mercado. A combinação entre um certo grau de maturidade da indústria e o custo crescente do lançamento de produtos gera uma tensão permanente entre estratégias baseadas no comportamento inovador e na defesa dos mercados existentes.1.2. Características Estruturais da Indústria Mundial São várias as características estruturais que condicionam as estratégias empresariais e a competitividade no setor de defensivos agrícolas. A primeira característica a merecer análise é a estrutura de custos de produção. A tabela 6 apresenta os componentes de custo da indústria de defensivos, em termos de sua participação relativa em cada dolar faturado. A parcela referente a P&D deve ser vista como o desmembramento da diferença entre margem bruta e margem líquida (um resíduo, que para muitas companhias chegou a 5% na década de oitenta e quase zero na atualidade, como atestaram algumas entrevistas). A tabela atesta a importância das atividades genericamente chamadas de P&D para o processo competitivo desta indústria e a reduzida importância dos itens relativos a capital e outros custos (incluindo mão-de-obra industrial). 27 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX TABELA 6 DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS CUSTOS E DOS GASTOS COM ATIVIDADES DE P&D NA INDÚSTRIA DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS Itens de Custos % das Itens de P&D % dos gas- Vendas tos em P&D Gerais 05- Sintese e Screening 28 Intermediários 30-40 Teste de campo 16 Depreciação. 02-05 Tox-met-ambiente 15 Marketing 10-15 Desenvol.prod. 13 Margem bruta 40-50 Desenvol.form. 7 Margem líquida 12-15 Registro 2 Outros(administ) 19 Fonte: Ayers & Calderoni, 1989. O processo produtivo industrial é típico da indústria química fina, ocorrendo em batelada na maioria das vezes e, em muitos casos, em plantas multi-propósito. De modo geral, as economias de escala, assim como os custos de saída de uma produção específica, não são importantes. Com raras exceções, plantas de fases finais de síntese, com faturamento esperado de US$ 10 a 20 milhões de dólares (variando com o ciclo de vida do produto) exigem investimentos da ordem de US$ 10 milhões. Há vantagens relacionadas a flexibilidade e ao baixo custo de saída, uma vez que partes da planta podem ser reaproveitadas3. A relação produto/emprego é bastante elevada. Uma divisão com faturamento de US$ 100 milhões conta com mais de 150 técnicos de nível superior, grande parte alocados em assistência técnica e vendas a consumidores (cerca de 4% do faturamento bruto). Quando uma empresa é bem sucedida na obtenção de uma molécula inovadora, o prêmio em margem de comercialização proporcionado pela inovação possibilita que o produto seja lançado com certa rentabilidade, mesmo que vendido em pequenas quantidades. Tal fato significa que há uma certa compatibilidade (com limites dados pelo mercado) entre a vantagem propiciada pela inovação e o ciclo de vida do produto. As empresas realizam o suprimento de matérias-primas para as sínteses de produtos técnicos através de uma composição entre intermediários próprios (cativos ou não) e aqueles adquiridos de outras empresas. Obviamente, quanto mais próxima das etapas finais, maior a tendência à produção própria do intermediário, principalmente pelo fato de que este não tem utilidade comercial fora da família de moléculas com composição química próxima. 3 Fato observado em entrevista. O investimento no herbicida Setoxidin, pela Basf exigiu bem menos que os US$ 20 milhões aplicados na planta do Bentazon (carro-chefe da empresa na década de oitenta), pelo reaproveitamento de uma planta anterior. O investimento no Imazaquim foi de US$ 3 milhões, mais US$ 9 milhões para a produção do ácido quinolidicarboxílico, principal intermediário, até então importado. Comparados aos mais de US$ 30 milhões de faturamento anual, só com o produto, é possível se visualizar a rapidez com que esta planta é amortizada. 28 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX A importância do domínio das etapas de produção industrial aumenta ao longo do ciclo de vida do produto, atingindo um ápice na fase anterior ao vencimento das patentes. Nesta fase do ciclo, que normalmente dura mais de 8 anos a empresa procura se apropriar de economias de escala e, principalmente, de integração industrial (escopo) que a permitem entrar na fase competitiva do ciclo com menor custo industrial. A idéia de que o domínio de certas rotas petroquímicas, e suas derivações à frente, seria um fator de competitividade tem pouca sustentação. Tal ligação, se fosse realmente forte, criaria um elevado grau de irreversibilidade para os grupos econômicos. Na maioria dos casos a descoberta de uma nova molécula condiciona, para trás, a busca de capacitação em intermediários. Mesmo intermediários de grande importância (por exemplo, o cloreto cianúrico, fundamental para uma das rotas das clorotriazinas) podem ser adquiridos de outras empresas. Tal fato poderia parecer contraditório com a caracterização da indústria de defensivos como integrada. A resposta é que o grau de integração para trás tem sua importância no padrão competitivo diminuída à medida que os insumos vão se tornando de uso difundido4. A decisão de integrar a produção também está relacionada ao estágio do ciclo de produto. Se uma empresa é proprietária de uma família de moléculas com excelente performance, o volume de mercado torna vantajoso integrar a atividade para trás. No início, quando o produto ainda está em desenvolvimento, a empresa pode contratar a produção de intermediários a partir de terceiros. A indústria mantém um fluxo contínuo em relação à composição de sua oferta de produtos. Com raras exceções, as empresas atuam com um número superior a 10 princípios ativos. Dado o ciclo de vida dos produtos, há sempre intensa atividade inovativa em produtos e também atividades que corresponderiam a processos de aprendizado, visando a otimização de processos produtivos e mesmo de busca de novas rotas, através de inovação em processos. Já a atividade de formulação é tipicamente multi-propósito e adiciona pouco valor ao produto final. Em certas situações uma empresa integrada pode decidir contratar uma empresa especializada em formulação ao invés de fazê-lo. Em outros casos, menos frequentes, o desenvolvimento de uma formulação adequada pode determinar maior eficiência na aplicação e redução de riscos ambientaias, tornando-se uma vantagem competitiva. Em suma, o ritmo de obtenção de novas moléculas bem sucedidas nos mercados é o principal elemento estrutural da indústria de defensivos. 4 Ayers & Calderoni (1989) dão vários exemplos de integração para trás, principalmente de empresas européias que adquiriram empresas especializadas em intermediários nos EUA : Bayer-Helena Chem; Ciba-Green Cross; Rhone Poulenc-May Baker ltda; ICI-parte da Stauffer. 29 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX Ele é mantido por um amplo e demorado conjunto de testes que permitem o afunilamento do processo de seleção por critérios de desempenho e adequação a exigências ambientais até se chegar a fase de registro. Inicia-se o processo com mais de 8.000 moléculas. Sucedem-se fases (de duração variada) em que há uma redução exponencial do número de substâncias pesquisadas e um aumento de atividades desempenhadas sobre cada molécula (apresentadas no lado direito da tabela 5). Após o screening básico, quando ainda restam, em geral, mais de uma centena de moléculas, são iniciados testes visando a caracterização do produtos em termos físico-químicos e toxicológicos, assim como a preparação das dados exigidos para o pedido de patentes. A fase em que cinco a oito produtos estão em avaliação corresponde a de definição do uso agronômico específico, que é feito descentralizadamente nas várias estações experimentais espalhadas por todo o mundo (o Brasil, por exemplo, é um importante centro experimental). É também a fase em que a empresa passaa buscar métodos econômicos de produção com maior intensidade e em que os estudos ambientais se intensificam. O detalhamento das atividades de P&D é importante para evidenciar a existência de rotinas bem definida de investigação por parte das empresas, e os elevados níveis de custos, riscos e incertezas nelas contidos. Também é fundamental a compreensão de que a continuidade deste ciclo qualifica a visão corrente, expressa em estudo SINDAG/ANDEF-1989, de que um produto leva 22 anos para atingir seu auge de mercado (14 anos de pesquisa, mais oito correspondente à fase de crescimento do produto no mercado), o que reduz drasticamente a eficiência dos processos de patenteamento (uma vez que o produto é patenteado antes de ser lançado no mercado). Tanto a empresa pode levar anos sem descobrir nenhum produto de impacto, como pode, a partir de um considerável esforço de P&D, obter famílias que resultem em sucessivos lançamentos bem sucedidos. Dentro de uma mesma família pode ocorrer diferenciação nos segmentos de mercado existentes, que aproveitam as características multi-facetadas do mercado consumidor (as diversas culturas agrícolas). O custo atual de um produto original é avaliado em US$ 150 a 200 milhões, o que condiciona seu lançamento a um mercado esperado de no mínimo US$ 50 milhões anuais. Assouline (1989) avalia em US$ 35-50 milhões o montante despendido pelas empresas para a obtenção de novos produtos. Trata-se de uma média que inclui moléculas derivadas da inovação primária5. Evidentemente, o sucesso no lançamento de uma inovação de produto passa pela seleção de mercado. Daí a importância das atividades de desenvolvimento do produto, de constituição de 5 Um exemplo facilita a localização do conceito de inovação primária aqui adotado. Por exemplo, o Imazaquim da Cyanamid é uma inovação primária e não o primeiro herbicida pré-emergente de folha larga para soja. O Quinclorac, da Basf também pode ser considerado desta forma.Já o Imazetapyr pertence à família do Imazaquim, independentemente de quem foi obtido primeiro. 30 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX uma rede de vendas, assistência técnica e de marketing. A importância das atividades de vendas (marketing, assitência técnica e distribuição) fica evidente a partir de duas práticas importantes: a comercialização de produtos de terceiros e a prática do licenciamento. A maioria das empresas opera com produtos de terceiros, em alguns casos visando complementar a linha de produtos, em outros para realizar misturas com produtos originários ou cuja marca é fortemente defendida pela empresa6. Há significativa variabilidade entre empresas no que se refere a porcentagem de produtos de terceiros no faturamento (chega a ultrapassar 40% em algumas empresas), mas sua prática confirma o ponto de que as empresas dão enorme importância ao atendimento aos usuários em suas estratégias. A forma com que usuários (cooperativas, grandes produtores e agricultores dispersos, que adquirem seus produtos em revendedores) se relacionam com a indústria de defensivos é analisada a seguir, iniciando pelo consumidor final, o agricultor. A manutenção da participação dos defensivos no custo global da cultura é uma regra prática que fornece tetos e fronteiras para a utilização de produtos mais caros. De modo geral, apenas os agricultores que enfrentam problemas graves se dispõem a arcar com maiores custos7. Já os revendedores operam em estreita ligação com os técnicos de vendas das empresas. Logo, depende da capacidade da empresa o sucesso em atender os usuários finais na solução de problemas a partir de seus produtos. O revendedor em alguns casos pode ser uma empresa especializada que representa a firma produtora e que opera a partir do seus conhecimentos das necessidades em sua área de atuação. Em geral as firmas utilizam este tipo de representação de forma limitada. As cooperativas, estas sim, podem ter um papel ativo na seleção dos mix de produtos fornecidos aos agricultores. No Brasil, por exemplo, elas revendem mais de 50% do valor faturado de defensivos. Em países como Japão (através de uma grande cooperativa, Zen-Noha) e Coréia do Sul, estabelecem um efetivo controle sobre a atuação de empresas estrangeiras, de forma a obrigar as empresas líderes a estabelecer acordos comerciais, licenciamentos ou mesmo joint-ventures com as empresas locais. Este é um ponto fundamental para o entendimento dos fatores condicionantes das políticas de incentivo à produção de países que não sediam matrizes de empresas líderes. 6 O que permitira incluir a indústria de defensivos como produtora de especialidades. Todavia, a capacidade de explorar efeitos sinérgicos entre produtos, através de misturas, é um elemento secundário no padrão competitivo da indústria, subordinado a sua principal característica de produtora de moléculas inovadoras. 7 O decisão da intensidade de gastos com defensivos também depende de sua posição em relação ao risco. Agricultores com maior aversão a risco aceitarão elevar a participação dos defensivos no custo de produção. 31 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX Quanto ao marketing propriamente dito (corresponde na tabela 6 à totalidade das atividades ligadas às vendas) envolve desde a escolha da marca do produto a ser registrada em cada país, a difusão por rádio e televisão (de importância variável segundo o país) e a propaganda direta, através de jornais locais, outdoors, de folhetos explicativos e principalmente pela técnica de extensão rural denominada dia de campo8. O número de marcas é mais do que o dobro do número de princípios ativos, em função da existência de diferentes misturas e formulações. A exploração da marca permite associar o produto à empresa, prolongando a proteção do mercado quando da existência de novos entrantes potenciais no segmento. O desenvolvimento de produtos é fortemente condicionado pelas características da agricultura de cada país e região em determinado momento. Em linhas gerais, o consumo de defensivos é função da área cultivada, do mix de culturas e de seus níveis tecnológicos. Considerando a heterogeneidade da agricultura um parâmetro, as oscilações de mercado dependem fundamentalmente das decisões de plantio. Estas definem o mercado global. Fatores que afetam a decisão sobre a extensão da área de plantio, via demanda derivada e efeito das mudanças técnicas, determinam o tamanho do mercado de defensivos. Pode-se estabelecer padrões amplos de "consumo" de defensivos a partir das características das agriculturas. Uma tentativa de estabelecer este padrões, feita por Byé (1990), é resumida a seguir: a) Um padrão extensivo, com ampla utilização de terra e capital, característicos dos EUA e a da região Centro-Sul do Brasil (e mais recentemente, a Centro-Oeste), tem importância fundamental para os mercados de herbicidas e inseticidas e pouco para o de fungicidas e reguladores de crescimento; b) A agricultura artificial de Holanda e Israel e mesmo a agricultura intensiva "de final de semana" do Japão e Itália seriam fundamentais para os fungicidas. Já o ainda iniciante mercado de reguladores de crescimento teria importância no padrão holandês. O uso de reguladores de crescimento tem aumentado tanto em fruticultura quanto em culturas extensivas ligadas a uma rígida programação agroindustrial, como a cana de açúcar. A regularidade da aplicação do produto varia de sub-mercado a sub-mercado e dentro de cada segmento. O sub-mercado de herbicidas cresceu nos anos oitenta em função da grande estabilidade de seus coeficientes técnicos nas diferentes lavouras. Em países de grande agricultura, 8 Trata-se de uma reunião de agricultores
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