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O pensamento filosófico jurídico medieval e a filosofia da justiça em Tomás de Aquino

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O pensamento filosófico jurídico medieval e a filosofia da justiça em Tomás de Aquino
A Idade Média, período que se caracterizou especialmente pela queda do Império Romano do Ocidente, em consequência das invasões dos bárbaros, é marcada pela expansão e solidificação do poder da Igreja, que atinge os vários níveis da sociedade europeia por mais de mil anos. 
Devido a essas invasões, as cidades entram em colapso e grande parte da população procura se refugiar no campo, em busca de proteção entre os suseranos (senhores feudais) nos feudos recém-criados, em cujos limites fortificados haveria mais segurança. 
Historicamente, a Idade Média tem início no século V e se estende até o século XV, sendo consideradas duas etapas temporais: a alta Idade Média, do ano 476 até o ano 1000, e a Baixa Idade Média, do século X até o século XV. Nessa época, houve enfraquecimento comercial, e a economia era essencialmente rural. Nos feudos, o senhor feudal, dono das terras, acumulava os poderes jurídico, político e econômico. 
No entanto, um poder maior tende a se sobrepor aos suseranos: a Igreja de Roma, que busca unificar seu domínio na Europa Ocidental. A expansão do cristianismo (a ferro e fogo) é responsável pela aglutinação dos interesses dos nobres europeus, devidamente investidos de poderes políticos pelos religiosos. 
Também nesse período foram criados os tribunais da Inquisição, pelo papa Gregório IX, por volta de 1233, para combater os “hereges”, os não cristãos, considerados uma ameaça para os cânones religiosos. Nesses tribunais, os acusados recebiam condenação sumária, sem que houvesse necessidade de comprovação de suas culpas. 
Portanto, o poder da Igreja vai abarcar a religião, a política, a economia e também o conhecimento científico e a filosofia. A partir de então, os rumos da investigação filosófica e das ciências estariam subordinados às esferas religiosas. Exceto por alguns “pecadores renitentes”, a religião cristã manteria seu domínio, tendo como fundamento as pretensas verdades reveladas por Deus.
Agostinho de Hipona
Agostinho de Hipona (354-430) foi um dos principais responsáveis pelo avanço da fé cristã, apoiando-se especialmente na filosofia platônica, da qual era grande conhecedor. Equiparando o mundo das ideias ao céu cristão e o mundo das sombras ao mundo terreno, Agostinho dá impulso teórico às ideias religiosas de seu tempo.
Tomás de Aquino
Dentre os religiosos que também se destacaram por sua base filosófica grega, destaca-se, já no século XIII, Tomás de Aquino (1225-1274), que assimilou completamente a filosofia de Aristóteles para cristianizar o pensamento aristotélico e adequá-lo à fé cristã.
Reconhecido como um dos principais pensadores cristãos da Idade Média, Tomás de Aquino nasceu em Roccasecca, ao sul do Lácio. Fez seus estudos em Nápoles, onde entrou em contato com a Ordem dos Dominicanos, o que o levou a optar por seguir a carreira religiosa, apesar da oposição da família. 
Em seus escritos, Tomás de Aquino ressalta um tema de grande discussão sobre a ligação entre razão e fé, considerando que a razão bem fundamentada é capaz de sedimentar a fé. Isso significa que, por intermédio da razão, é possível vislumbrar corretamente os dogmas religiosos: assim, a fé dependeria essencialmente da razão humana. Segundo Reale e Antiseri: 
“É preciso partir das verdades “racionais”, porque é a razão que nos une. Escreve santo Tomás: “é necessário recorrer à razão, à qual todos devem assentir”. É sobre essa base que se podem obter os primeiros resultados universais, porque racionais, com base nos quais se pode construir um discurso de aprofundamento de caráter teológico (1990, p. 555)”.
Em obra de grande impacto — Summa theologica — Tomás de Aquino consolida a junção de razão e fé, distinguindo ainda vários tipos de lei: lei eterna, lei natural, lei divina e lei humana. Para esse filósofo, a lei eterna procede de Deus e é perfeita, pois decorre da razão divina: é a vontade de Deus que governa suas criaturas e essa lei eterna envolve o universo inteiro. A lei natural se relaciona com os seres racionais, com base na natureza do homem; a lei divina se manifesta quando se observa a participação da lei eterna na moral humana; e a lei humana é criação dos homens, necessária para que se possa viver em sociedade. Para os historiadores da filosofia Reale e Antiseri:
“Tomás distingue três tipos de leis: a lex aeterna, a lex naturali e a lex humana. E acima delas coloca a lex divina, ou seja, a lei revelada por Deus. A lex aeterna é o plano racional de Deus, a ordem do universo inteiro, através da qual a sabedoria divina dirige todas as coisas para o seu fim [...]. Entretanto, há uma parte dessa lei eterna da qual, como criatura racional, o homem é partícipe. E tal partecipatio legis aeternae in ratioonali criatura se chama lei natural [...]. Estreitamente ligada à lex naturalis, Tomás coloca a lex humana. Trata-se da lei jurídica, isto é, o direito positivo, a lei feita pelo homem. E os homens, que são sociáveis por natureza, fazem as leis jurídicas para dissuadir os indivíduos do mal (1990, p. 567)”.
Desse modo, percebe-se claramente que a filosofia cristã de Tomás de Aquino sustentou a teologia como fundamento para os estudos filosóficos da época, a partir da consideração de que a razão verdadeira permite vislumbrar o caminho da fé cristã.

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